Jeep Willys M-38 (VTNE-VTE CSR)

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas.  Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. No final da década de 1930, a Bantam Car Company, sediada em Butler, Pensilvânia, produziu os primeiros setenta veículos utilitários leves com tração nas quatro rodas, que dariam origem à icônica família Jeep, reconhecida como uma das mais célebres linhas de veículos militares da história. Esses primeiros modelos, utilizados inicialmente pelas forças de infantaria do Exército dos Estados Unidos, destacaram-se por sua excepcional mobilidade, desempenhando com êxito uma ampla variedade de missões operacionais. Esse desempenho motivou a decisão de adotar o veículo em larga escala nas Forças Armadas norte-americanas, levando à abertura de um processo licitatório para o desenvolvimento de uma versão aprimorada, destinada à produção em grande quantidade. Em 1941, após um processo de avaliação e contratação marcado por debates, a produção do Jeep foi iniciada nas fábricas da American Bantam Company, Ford Motor Company e Willys-Overland Company. As primeiras unidades começaram a ser entregues ao Exército a partir de março de 1942. Os soldados, encantados com a versatilidade do veículo, passaram a chamá-lo de “GP” (sigla para General Purpose, ou “Propósito Geral”), cuja pronúncia em inglês lembrava a palavra “jeep”. Curiosamente, o termo “jeep” também evocava um personagem querido da cultura popular: Eugene, o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye, nos quadrinhos e desenhos animados dos anos 1930. Eugene era conhecido por seus poderes extraordinários, como superforça e a habilidade de caminhar por paredes e tetos. Inspirados por essa associação, os militares começaram a chamar seus veículos de “Jeep”, uma alusão às suas capacidades impressionantes. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (“Ei, ele é um verdadeiro Jeep!”) tornou-se comum para descrever pessoas com habilidades físicas notáveis, consolidando o nome como um símbolo de robustez e versatilidade. 

Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 produzidas pela Willys Overland Co. e cerca de 280.000 entregues pela Ford Motors Company. O modelo seria ainda um dos principais expoentes do Programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União Soviética, além de milhares mais para os países aliados.  O término da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945, levaria a uma desmobilização quase que imediata dos esforços de produção industrial militar dos Estados Unidos. Desta maneira, todas as indústrias de defesa norte-americanas, seriam profundamente afetadas por cancelamentos nos contratos de produção. Entre estas empresas estava a Willys Overland Company, que neste momento dedicava quase que a totalidade das linhas de produção e ferramental para a produção da família Jeep. No final da década de 1940, a Willys-Overland Company, reconhecendo a necessidade de reorientar estrategicamente seu portfólio automotivo, voltou suas atenções para o mercado civil. Essa mudança foi impulsionada por uma significativa vantagem de marketing: a Ford Motor Company, sua concorrente, estava judicialmente impedida de utilizar a marca “Jeep”. Assim, a empresa consolidou sua posição ao capitalizar a popularidade do nome que se tornara sinônimo de robustez e versatilidade. Assim a Willys-Overland lançou as bases para a versão civil de seu icônico veículo militar, o Willys MB, dando origem ao Willys CJ-2 (Civil Jeep). Foram produzidos quarenta exemplares pré-série, mas a fabricação em escala industrial teve início apenas em julho de 1945, com o modelo aprimorado CJ-2A. Embora baseado no design do Willys MB, o CJ-2A foi adaptado para o uso civil, com modificações significativas na carroceria e na construção. Equipado com o confiável motor Willys Go-Devil de quatro cilindros, o modelo apresentava carburador e sistema de ignição distintos, além de eliminar características exclusivamente militares, garantindo maior apelo ao público não militar. Em 1949, a montadora introduziu o CJ-3A, que permaneceu em produção até 1953, quando foi substituído pelo CJ-3B. O CJ-3A era movido pelo motor L-134 Go-Devil de 60 cv (45 kW; 61 cv), combinado com uma transmissão T-90, caixa de transferência Dana 18, eixo dianteiro Dana 25 e eixo traseiro Dana 41 ou 44. Esse modelo consolidou a reputação da Willys no mercado civil, oferecendo durabilidade e desempenho em diversas condições.  No final da década de 1940, os Jeeps da Segunda Guerra Mundial (MB e GPW) ainda estavam em uso, mas apresentavam sinais de obsolescência. O Exército americano precisava de um veículo que mantivesse a versatilidade e capacidade off-road dos modelos anteriores, mas com melhorias em durabilidade, capacidade de carga e operação em ambientes extremos, como rios profundos e terrenos lamacentos. A Willys, com sua experiência na produção do MB, foi escolhida para desenvolver esse novo modelo, aproveitando a base do Jeep civil CJ-3A, lançado em 1948, mas com modificações significativas para atender às especificações militares. Este programa envolveria a militarização do modelo civil porém envolvendo também características estruturais dimensionadas as demandas específicas do Exército dos Estados Unidos (US Army), nascendo assim o projeto do jipe M-38.
A adequação as demandas resultarias na seguintes alterações e inovações:  Chassi e Suspensão Reforçados - O M-38 possuía um chassi mais robusto que o CJ-3A, com placas de reforço marcadas com a letra "M" para maior resistência. A suspensão também foi aprimorada para suportar maior peso e melhorar a estabilidade em terrenos acidentados. -  Eixos mais robustos: o dianteiro (Dana 25, totalmente flutuante) era sustentado pelos cubos das rodas, aumentando a capacidade de carga, enquanto o traseiro (Dana 44, semi-flutuante) oferecia maior durabilidade. Sistema Elétrico de 24 Volts - Uma das maiores mudanças foi a adoção de um sistema elétrico à prova d'água de 24 volts (usando duas baterias de 12 volts em série), em vez do sistema de 6 volts do MB. Isso garantia maior confiabilidade em condições úmidas e durante travessias de rios. Capacidade de Travessia de Água - O M-38 foi projetado para operações em ambientes alagados, com um sistema de ventilação selado para motor, transmissão, caixa de transferência, sistema de combustível e freios. Um snorkel elevado para entrada de ar no carburador permitia vadeação em águas profundas, uma exigência crítica dos militares norte-americanos. Motor e Transmissão - O motor era o "Go-Devil" L-head de 4 cilindros e 2,2 litros, produzindo 60 cavalos (ligeiramente menos potente que o desejado, o que levou ao desenvolvimento do M- 38A1 com um motor mais forte). Apesar disso, o motor foi adaptado com carburador aprimorado e ignição blindada para maior confiabilidade. A transmissão era a T-90 manual de 3 marchas, com uma caixa de transferência Dana 18, permitindo tração 4x4 temporária e marcha reduzida para maior torque em terrenos difíceis. O utilitário apresentaria ainda as seguintes dimensões e desempenho :  Comprimento: 3,38 m; largura: 1,57 m; altura: 1,88 m (com capota); distância entre eixos: 2,03 m. Peso: cerca de 1.247 kg (vazio) e 1.791 kg (bruto). Velocidade máxima: aproximadamente 97 km/h; autonomia: até 480 km com tanque cheio. Capacidade off-road: excelente, com ângulos de ataque (46°), saída (29°) e vão livre do solo de 23,5 cm. Por fim o projeto receberia modificações em seu desing externo como :  Faróis maiores, salientes e protegidos por grades de arame, em vez dos faróis embutidos do MB, para facilitar manutenção e melhorar a iluminação. A grade frontal tinha 7 fendas de ventilação (em vez de 9 do MB) devido ao tamanho dos faróis. O para-brisa podia ser rebatido para facilitar disparos, e o veículo incluía ganchos de reboque (pintle hook) e manilhas de elevação na dianteira e traseira. Ferramentas "pioneiras" (machado e pá) foram realocadas para o lado do passageiro, diferentemente do MB. Pneus militares 6.50x16 NDT e jantes "tubeless" ofereciam maior resistência e aderência. O pneu sobressalente e um galão de combustível de 18,9 litros eram montados na traseira, com suportes específicosO modelo não dispunha de um degrau externo (incluído no CJ-3A), para melhorar a distância ao solo facilitando o embarque. 

Entre os acessórios previstos incluíam-se guinchos hidráulicos Ramsey (com um peso líquido de 2.745 libras), equipamentos para vadear depressões e sistema de respiração especial para permitir a passagem de vales em riachos. Alguns jipes Willys M-38 seriam configurados especialmente para operações nivelamento leve de solo (sendo esta considerada uma versão raríssima) com lâminas controladas hidraulicamente. Os modelos destinados a operar em áreas de clima extremo de inverno incluíam um gabinete rígido (carroceria e capota), todo em metal. O painel de instrumentos do Willys M-38 era um exercício de simplicidade, assim como seus antecessores. Os instrumentos estavam agrupados no centro com iluminação externa, com as placas de dados à direita e um porta-luvas na extrema direita.  Os primeiros carros pré-série seriam extensamente avaliados junto ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland), sendo logo homologados para uso operacional.  Em janeiro de 1951 seria celebrado um primeiro contrato para cinco mil veículos que passariam a ser entregues no segundo semestre do mesmo ano. Este seriam implantados no principal teatro de operações durante a Guerra da Coreia (1950-1953) sendo empregados pelo Exércitos dos Estados Unidos (US Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (US Marine Corps). Mais contratos seriam firmados logo em seguida, com o modelo ficando conhecido também na Europa pela utilização por unidades militares norte-americanas na então Alemanha Ocidental. Aproximadamente dois mil e trezentos jipes M-38, seriam fabricados pela Ford Motors do Canadá para as Forças Armadas Canadenses a partir do ano de 1952, sendo localmente designados como jipe M38-CDN. Um grande número seria produzido para o mercado de exportação atendendo a contratos da Suíça, França, Holanda (M-38 NEKAF) e Bélgica. Neste meio tempo a pedido do comando do Exércitos dos Estados Unidos (US Army), já se encontrava em desenvolvimento uma nova versao deste utilitário, com este projeto culminando em fevereiro de 1952 no lançamento do MD  M-38A1 Truck, Utility G-758. Este seria o primeiro jipe a apresentar uma carroceria significativamente reestilizada, imediatamente reconhecível por seu capô arredondado e para-lamas, servindo de base para o novo modelo comercial CJ-5 produzido initerruptamente por três décadas entre os anos de 1954-1983. Seria também o modelo a fazer uso do novo motor Willys Hurricane F-Head 134 de quatro cilindros em linha, e por este apresentar um perfil mais alto, levaria a necessidade de redesenho de sua carroceria, principalmente na parte frontal.  A produção em série do Jeep Willys M-38A1, uma evolução do modelo M-38, teve início em meados de 1952, com os primeiros veículos sendo entregues às forças armadas dos Estados Unidos. Esses veículos eram frequentemente equipados com acessórios especializados, como a metralhadora Browning M2 calibre .50 ou sistemas de rádio com suportes para antenas, atendendo às necessidades operacionais de comunicação e combate.
Um marco significativo foi a celebração de um contrato de grande porte com o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). Para atender às especificações da Marinha, os M-38A1 foram customizados com proteção reforçada contra corrosão, essencial para operações em ambientes navais, e chassi adaptado com suportes robustos que permitiam a instalação de anéis de elevação para transporte aéreo. Essa versatilidade tornou o veículo ideal para missões em cenários variados. Além do mercado interno norte-americano, o M-38A1 alcançou relevância internacional por meio de acordos de licenciamento para montagem em outros países. No Canadá, foi produzido como M-38A1CDN; na Holanda, como M-38 DAF YA-054; e na Coreia do Sul, como os modelos Kia KM410 e Keohwa M-5GA1. Essa expansão global reflete a confiabilidade e adaptabilidade do projeto. Em 1953, foi introduzida a variante M-38A1C, conhecida como “canhoeira”, equipada com um canhão sem recuo M-40A1 de 106 mm. Acoplado a esse sistema, um fuzil semiautomático M-8C calibre .50, com cartucho 22 mm mais curto que o padrão da metralhadora .50, era utilizado para alinhamento prévio do tiro, garantindo maior precisão ao disparar o projétil de 106 mm. Essa configuração demonstrou notável eficiência em combates táticos. Outra inovação foi a conversão de dezenas de M-38A1 para integrar o sistema de armas nucleares táticas Davy Crockett. Esse sistema utilizava canhões sem recuo de grande diâmetro, como o M-28 de 120 mm ou o M-29 de 155 mm, capazes de disparar projéteis M-388 com ogivas nucleares Mk-54. Com alcance efetivo entre 2 e 4 km, dependendo do canhão, o sistema foi denominado "Battle Group Atomic Delivery System" e alocado principalmente em unidades aerotransportadas, destacando a versatilidade estratégica do M-38A1. Para atender às necessidades médicas em campo, foi desenvolvida a versão M-170 Frontline Ambulance, com distância entre eixos aumentada em 51 cm. Esse chassi, que mais tarde inspiraria o Jeep civil CJ-6, permitia transportar até seis passageiros sentados ou três pacientes em macas, sendo essencial para evacuações médicas em zonas de combate. Entre 1950 e 1971, foram produzidos mais de 140.000 veículos das variantes M-38, M-38A1 e M-170, consolidando sua importância nas forças armadas dos EUA. A partir de 1960, o M-38A1 começou a ser gradualmente substituído pelo Ford M-151 MUTT. Milhares de unidades foram então armazenadas e, posteriormente, incluídas em programas de assistência militar coordenados pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Nesse contexto, os modelos M-38, M-38A1 e M-38A1C foram fornecidos às forças armadas de diversos países, incluindo Bangladesh, Brasil, Chade, Cuba, Croácia, Egito, El Salvador, Guatemala, Israel, Irã, Jordânia, Katanga, Laos, Líbano, Líbia, Mianmar, Nicarágua, Paquistão, Portugal, Congo, Rodésia, Suíça e Turquia.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A história da adoção de veículos utilitários leves com tração integral 4x4, popularmente conhecidos como jipes, pelas Forças Armadas Brasileiras remonta a 1942, no contexto da Segunda Guerra Mundial e da adesão do Brasil ao programa norte-americano Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Esse acordo bilateral possibilitou a transferência de cerca de dois mil jipes ao Brasil, sem padronização de fabricante ou modelo. Não há registros precisos que indiquem a proporção de veículos fornecidos pela Ford Motor Company ou pela Willys-Overland Company. Contudo, sabe-se que os primeiros lotes, compostos por veículos novos e usados oriundos da frota e da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos, começaram a chegar ao país a partir de março de 1942. Desses, 655 foram destinados diretamente à Itália para equipar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que desempenhou um papel crucial no teatro de operações europeu. A experiência operacional adquirida pelo Exército Brasileiro com o uso desses jipes em um cenário de guerra foi de valor inestimável. Esses veículos robustos e versáteis moldaram a doutrina motomecanizada da Força Terrestre, influenciando suas estratégias nas décadas subsequentes. Durante os anos 1940 e 1950, a frota de jipes, complementada por outros meios de transporte, conferiu às Forças Armadas Brasileiras, especialmente ao Exército, uma capacidade operacional sem precedentes. A mobilidade proporcionada por esses veículos fortaleceu as operações de infantaria, garantindo maior agilidade e eficiência em diversos contextos táticos. Com o passar do tempo, no entanto, o desgaste operacional e a obsolescência natural dos jipes começaram a comprometer sua disponibilidade. A falta de manutenção adequada, aliada à dificuldade de obtenção de peças de reposição — especialmente para modelos cuja produção já havia sido descontinuada —, resultou em um aumento significativo de veículos inoperantes. Diante desse desafio, que afetava particularmente o Exército Brasileiro, o governo federal passou a considerar a aquisição de um novo lote de jipes diretamente de fabricantes, como os modelos Willys M-38 ou Ford M-151 Mutt, sucessores naturais dos veteranos Ford GPW e Willys MB. Essa iniciativa visava substituir as viaturas mais desgastadas, renovando parte considerável da frota. Entretanto, essa alternativa foi descartada em favor de uma oferta vantajosa do governo dos Estados Unidos, que disponibilizou um expressivo lote de jipes Willys MB armazenados como reserva estratégica e classificados como material excedente de guerra. Essa decisão permitiu ao Brasil atender às suas necessidades operacionais de forma econômica, mantendo a funcionalidade de sua frota de veículos utilitários leves.

No contexto dos programas de assistência militar firmados entre o Brasil e os Estados Unidos, o Exército Brasileiro recebeu, a partir da década de 1950, um significativo número de jipes Willys MB, em excelente estado de conservação. Essa cessão, realizada sob os termos do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos de 1952, representou um alívio imediato para a frota combalida da Força Terrestre, que enfrentava desafios com a obsolescência e o desgaste de seus veículos utilitários leves, como os jipes Ford GPW e Willys MB. A chegada desses novos veículos restaurou parcialmente a capacidade de mobilidade em operações de campo, essencial para as missões táticas do Exército. Entretanto, essa medida foi encarada como uma solução temporária. O rápido desgaste dos jipes mais antigos exigia, a curto e médio prazo, a formulação de um plano abrangente para a renovação completa da frota. Inicialmente, a aquisição de viaturas militares novas foi descartada devido a restrições orçamentárias. Como alternativa, o governo brasileiro optou por incorporar jipes civis fabricados localmente pela Willys-Overland do Brasil, complementados por pequenos lotes de modelos militares usados, adquiridos como compras de oportunidade no mercado internacional. Nesse cenário, foram iniciadas negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, aproveitando os termos do Acordo Militar de 1952. Contudo, a demanda brasileira não pôde ser imediatamente atendida, pois o Exército norte-americano estava recebendo os primeiros lotes do jipe Ford-Kaiser M-151 Mutt, o que limitava a disponibilidade de jipes Willys M-38 para cessão. Somente a partir de meados de 1956 os primeiros M-38 começaram a ser entregues ao Brasil, acompanhados de uma expressiva remessa de equipamentos militares, incluindo carros de combate, caminhões, peças de artilharia e armamentos de infantaria. Em julho de 1956, desembarcaram no porto do Rio de Janeiro 90 jipes do modelo M-38A1 e 20 da variante canhoneira M-38A1C. O Willys M-38 apresentava avanços significativos em relação ao seu antecessor, o Willys MB, como o motor Hurricane F-Head, mais potente, maior robustez estrutural e adaptações específicas para operações militares, incluindo maior capacidade de carga e resistência em terrenos adversos. Esses “novos” jipes foram distribuídos às unidades operacionais do Exército Brasileiro, substituindo os veículos mais antigos e desgastados. No âmbito da Força Terrestre, esses jipes foram classificados como Viatura de Transporte Não Especializado 4x4 (VTNE), marcando o início de um movimento de recuperação da capacidade de mobilidade da força. Essa renovação, embora parcial, foi um marco importante na modernização da frota do Exército Brasileiro, reforçando sua prontidão operacional e consolidando a relevância dos jipes como ferramentas indispensáveis em operações táticas. 
A incorporação dos jipes Willys M-38 pelo Exército Brasileiro representou um marco significativo na modernização de suas capacidades militares, ainda que condicionada pelos desafios logísticos e orçamentários da década de 1950. Contudo, a grande inovação veio com a introdução da variante “canhoneira” M-38A1C, equipada com o canhão sem recuo M-40 Recoilless Rifle de 106 mm. Essa versão marcou a estreia desse tipo de armamento de artilharia na Força Terrestre, ampliando sua capacidade de fogo e mobilidade em operações táticas. Esta arma apresentava um alcance de até 1.350 metros contra alvos blindados e até 6.800 metros com munição de alto explosivo (HE), podendo ainda fazer uso de munições HEAT (High-Explosive Anti-Tank), para combate a blindados, HE (High-Explosive) para alvos de infantaria e fortificações leves e pôr fim do tipo APERS (Anti-Personnel), com efeito de fragmentação contra tropas. Apesar de fazer uso do processo manual, sua cadência de tiro de cerca podia ser de até 5 disparos por minuto, dependendo da equipe, proporcionando a Força Terrestre uma nova capacidade efetiva. O Willys M-38A1C distinguia-se visualmente por características únicas. Seu para-brisa, dividido em duas partes, incluía um suporte central para fixação do canhão quando não estava em uso, o que impedia o rebatimento do vidro, permitindo apenas a movimentação do quadro inteiro. O veículo não possuía tampa traseira e contava com dois pequenos assentos posicionados sobre os paralamas traseiros, destinados aos artilheiros. No assoalho traseiro, um suporte específico acomodava os obuses do canhão. Além disso, o jipe era equipado com uma pá e um machado fixados nas laterais, um de cada lado, enquanto o estepe e o galão de combustível foram reposicionados para o lado direito do veículo. Em termos mecânicos, a principal inovação do M-38A1C residia em seu sistema de suspensão reforçado, que combinava molas helicoidais sobre os feixes de mola, uma em cada lado. Essa modificação era essencial para suportar o forte recuo gerado pelo disparo do canhão sem recuo M-40 de 106 mm, garantindo maior estabilidade e segurança durante as operações. A agilidade operacional desse sistema de armas, montado sobre o jipe, aliada à sua excepcional mobilidade em diferentes tipos de terreno, tornava o M-38A1C particularmente adequado aos conflitos da época, nos quais a rapidez e a versatilidade eram fatores decisivos. No Exército Brasileiro, os jipes Willys M-38A1C “Canhoneiros” receberam a designação oficial de Viatura de Transporte Especializado (VTE) CSR (Canhão Sem Recuo) 1/4 tonelada 4x4, com o código de matrícula de frota “EB22”. Esses veículos foram rapidamente integrados às unidades operacionais, desempenhando um papel crucial na modernização da Força Terrestre e reforçando sua capacidade de resposta em cenários táticos variados. A introdução do M-38A1C não apenas simbolizou o compromisso com a atualização tecnológica, mas também destacou a adaptação do Exército Brasileiro às exigências de um contexto militar em constante evolução. 
Anteriormente em 1950, seria aprovada uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que caracteriza uma profunda mudança de orientação, preparando assim o corpo para plena capacidade operativa com ênfase em operações anfíbias, criando  a Força de Fuzileiros de Esquadra ou FFE. No entanto este regulamento não determinava o início das operações, e sim apenas previa sua necessidade, pois neste momento ainda faltava a Marinha do Brasil os meios para a implementação desta nova doutrina. Nos anos seguintes seriam incorporados os primeiros navios de transporte de tropas e desembarque de veículos e carros de combate. Faltava agora a incorporação de veículos que permitissem o emprego em operações de desembarque anfíbio, a solução se daria em 1958 quando do recebimento de cinquenta jipes divididos entre os modelos Willys M-38A1 e M-38A1C, com estes veículos usados sendo oriundos dos estoques de reserva do Exército dos Estados Unidos (US Army). O advento da introdução desta arma iria trazer a Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE) novas capacidades ofensivas e defensivas, proporcionando uma capacidade de projeção de força em operações de desembarque anfíbio. Entre os anos de 1957 e 1959, mais duzentos jipes Willys dos modelos M-38A1 e M-38A1C seriam recebidos nos termos de programas de ajuda militar norte-americanos, com sua totalidade representando veículos usados, muitos dos quais com baixa quilometragem e excelente estado de conservação que recentemente haviam sido substituídos pelos novos modelos Ford – Kaiser M-151A1 e M-151A1C. Nos anos seguintes mais jipes Willys M-38A1 seriam recebidos e distribuídos ao Exército Brasileiro e ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. O jipe Willys M-38A1, seria empregado pelo Exército Brasileiro em um cenário de conflagração real, quando da participação das tropas pertencentes ao Batalhão Suez quem compunham a Força de Emergência das Nações Unidas - UNEF (United Nations Emergency Force). Estes veículos eram pertencentes a Organização das Nações Unidas (ONU), e seriam comodatados aos países participantes. Entre os anos de 1956 e 1957 estas viaturas atenderam operacionalmente aos vinte contingentes brasileiros participantes desta missão, operando desde missões de reconhecimento patrulha. Estes utilitários participariam nos esforços de minimização do número de   confrontos entre os lados egípcio e israelense. A partir do ano de 1959 a necessidade de substituição da frota remanescente de jipes Ford GPW e Willys MB, levaria o comando do Exército Brasileiro a derivar para a adoção de utilitários militarizados dos modelos Willys CJ-2, CJ-3, CJ-4 e CJ-5, incluindo neste contexto uma versão do jipe canhoneiro.  Nos anos seguintes a incorporação de constante lotes destas viaturas nacionais militarizadas deflagariam no Exército Brasileiro um gradual processo de desativação dos Willys M-38A1 e M-38AC, com os últimos sendo baixados no ano de 1984. Este processo se repetiria no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), com modelos M-38A1 sendo suplantados pelos novos Willys CJ-5 e os M-38A1C pelos modelos canhoneiros dos Willys CJ-5 e Toyota Xingu, com os últimos sendo retirados de serviço somente  no ano de 1989. 

Em Escala.
Para representarmos o Jipe Willys M-38A1C  "Canhoneiro” pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), fizemos uso do antigo kit produzido pela Skybow na escala 1/35. Para se compor a versão utilizada pelas Forças Armadas Brasileiras, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado diretamente da caixa. Fizemos uso de decais produzidos pela Decal & Books , presentes no set especial “Forças Armadas do Brasil 1983 – 2002”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos diversos padrões de camuflagem  tática aplicadas aos veículos pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) durante as décadas de 1970 e 1970. Tanto os veículos da Marinha do Brasil, quanto os do Exército Brasileiro foram recibos nas cores do Exército dos Estados Unidos (US Army). Durante sua carreira no país, diversos padrões de pintura foram aplicados. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 

Bibliografia : 

- O Jeep Militar no Brasil - http://jeepguerreiro.blogspot.com/ 

- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br   

- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133. 

- Jeep Willys M-38 Wikipidia  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB 

- Primeiro Jeep Nacional https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/willys-jeep-universal-ford-jeep-cj-5/ 

M-40 Canhão Sem Recuo 106 mm

Origem e Desenvolvimento.
O conceito de armas sem recuo teve origem no século XIX, com o objetivo de mitigar o recuo de armamentos pesados, eliminando a necessidade de suportes robustos ou plataformas fixas. Contudo, naquela época, as limitações tecnológicas impediam a criação de sistemas práticos e eficientes. Foi apenas no início do século XX que engenheiros começaram a explorar soluções inovadoras, utilizando os gases propelentes para contrabalançar o recuo. Um marco significativo nesse desenvolvimento foi o canhão Davis, idealizado pelo comandante Cleland Davis, da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 1910. Sua proposta consistia em um sistema que utilizava um contrapeso — seja uma massa inerte ou gases — expelido em direção oposta ao projétil, reduzindo significativamente o recuo. O primeiro protótipo funcional foi concluído em setembro de 1912, distinguindo-se por uma retroabertura que permitia a saída dos gases gerados pelo disparo, eliminando o movimento de recuo característico dos canhões convencionais. O sistema baseava-se em duas armas de mesmo calibre interligadas, uma delas carregada com bolas de chumbo e graxa, equivalentes em peso ao projétil da outra. Essa configuração conferia ao equipamento maior leveza em comparação aos canhões tradicionais de pequeno calibre, permitindo seu uso com maior mobilidade, seja por tropas a pé ou em veículos utilitários rudimentares. Apesar de sua inovação, o conceito não obteve ampla adoção na época, devido a restrições tecnológicas e à falta de interesse militar. Durante a Primeira Guerra Mundial, o canhão Davis foi utilizado de forma limitada, inicialmente projetado como arma anticarro, mas experimentalmente empregado pelos britânicos em papéis anti-zeppelin e antissubmarino. A partir de 1923, a União Soviética desenvolveu o Canhão de Reação Dinâmica (DRP, ou Dinamo Reaktivna Pushka), um sistema semelhante ao modelo norte-americano. Durante a década de 1930, diversos protótipos foram produzidos e testados, com calibres variando de 37 mm a 305 mm. As versões de menor calibre foram instaladas em aeronaves, como os bombardeiros leves Grigorovich IZ e Tupolev I-12, demonstrando a versatilidade do conceito. Paralelamente, a Alemanha também explorou o princípio de ação e reação de Newton. Engenheiros como Carl Puff desenvolveram projetos que utilizavam tubos de Venturi para direcionar os gases propelentes para trás, neutralizando o recuo. No campo da artilharia militar, o canhão sem recuo de maior notoriedade durante a década de 1930 foi desenvolvido pelo engenheiro russo Leonid Kurchevsky, em 1935. 

Utilizando o calibre de 76 mm, esse modelo teve seu batismo de fogo na Guerra de Inverno (1939-1940), também conhecida como Guerra Soviético-Finlandesa. Montados em caminhões de médio porte, esses canhões demonstraram sua versatilidade em operações móveis. Durante o conflito, duas unidades foram capturadas pelas forças finlandesas e posteriormente entregues a observadores do Exército Alemão (Wehrmacht), evidenciando o interesse internacional por essa tecnologia. A Alemanha nazista destacou-se como pioneira no desenvolvimento prático de canhões sem recuo. Ainda na década de 1930, a empresa Rheinmetall-Borsig projetou modelos operacionais, como o 7,5 cm Leichtgeschütz 40 (LG 40). Esses canhões utilizavam um tubo de Venturi para direcionar os gases propelentes pela culatra, reduzindo o recuo e permitindo seu uso por infantaria ou tropas aerotransportadas. O LG 40 foi empregado com sucesso por paraquedistas alemães (Fallschirmjäger) em operações como a invasão de Creta, em 1941, demonstrando sua eficácia em cenários de alta mobilidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército dos Estados Unidos também adotou canhões sem recuo, como os modelos M-18 (57 mm) e M-20 (75 mm), empregados principalmente como armas anticarro nas fases finais do conflito. Contudo, esses modelos não receberam avanços tecnológicos significativos durante o período. Paralelamente, o desenvolvimento de armamentos portáteis, como os lança-granadas foguetes alemães Panzerschreck e Panzerfaust — amplamente utilizados em operações aerotransportadas — e a Bazooka norte-americana, concentrou os esforços de inovação em artilharia leve. Próximo ao fim da guerra, os Estados Unidos iniciaram o desenvolvimento de um novo canhão sem recuo, o M-27, de calibre 105 mm, projetado para enfrentar as blindagens mais avançadas dos tanques alemães. No entanto, com a rendição da Alemanha em maio de 1945, o projeto foi interrompido devido a cortes orçamentários na defesa. A retomada do investimento militar norte-americano veio em 1949, impulsionada pelas tensões com o bloco soviético e a intensificação dos conflitos na Península Coreana. Com o início da Guerra da Coreia, em junho de 1950, a produção do M-27 foi acelerada. As primeiras unidades entraram em combate em outubro do mesmo ano, mas enfrentaram sérios problemas de confiabilidade, peso excessivo e dificuldades na montagem, mira e disparo. Como resultado, os veteranos M-18 e M-20 foram preferidos pelas tropas em relação ao novo modelo de maior calibre, que não correspondeu às expectativas em condições reais de combate. Apesar dos contratempos enfrentados pelo canhão sem recuo M-27 durante a Guerra da Coreia (1950-1953), o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) permaneceu confiante no potencial de uma arma de maior calibre aliada à mobilidade. 
Assim, determinou que a equipe técnica do Watervliet Arsenal desenvolvesse melhorias para o projeto do M-27. Esse empenho culminou na criação do canhão sem recuo M-40, com calibre de 106 mm, que representou um marco em termos de design e funcionalidade. O M-40 foi projetado com um tubo longo e equipado com um rifle semiautomático M-8C de calibre .50, montado acima do cano principal, cuja função era aprimorar a precisão do sistema de mira. O mecanismo de elevação e disparo era acionado por uma roldana central, que também operava a arma. O conjunto era sustentado por um tripé, designado M-79, dotado de uma roda de rodízio na perna frontal e uma roda de deslocamento central. Quando a roda de travamento era ativada, o rifle ficava fixo em rotação, permitindo apenas movimentos laterais controlados pela roda de deslocamento. Desenvolvido exclusivamente para tiro direto, o M-40 era acompanhado de equipamentos de mira, incluindo o rifle apontador M-8, que garantia maior exatidão nos disparos. A simplicidade do sistema conferia ao M-40 um peso reduzido, possibilitando seu transporte em veículos leves, içamento por helicópteros de primeira geração e até mesmo lançamento por paraquedas. As primeiras unidades foram entregues para avaliação no final de 1954 e homologadas para uso operacional em dezembro do mesmo ano. Em janeiro de 1957, foi firmado o primeiro contrato de produção, com entregas iniciais ao Exército dos Estados Unidos em maio de 1957. Posteriormente, o Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) encomendou duzentas unidades do modelo M-40A1C, que entraram em serviço ativo a partir de abril de 1958, consolidando o M-40 como um recurso estratégico em operações militares. Ao ser integrado às unidades do Exército dos Estados Unidos, o M-40 de 106 mm assumiu um papel central como uma das principais armas antitanque e anticarro. Utilizava munições do tipo 105 × 607 mm M-344A1 HEAT (High-Explosive Anti-Tank), projetadas para perfurar blindagens. Além disso, o canhão era capaz de disparar projéteis M-466A1 HEP (High-Explosive Plastic), M-598A1 HEAP (High-Explosive Anti-Personal) e Canister. Para o papel antipessoal, destacava-se a munição M-581 APERST (Antipersonnel-Tracer Flechette Round), que oferecia eficácia contra tropas em campo aberto. Essa versatilidade reforçou a relevância do M-40 como uma ferramenta tática de grande valor no cenário militar da época. Embora a munição do canhão sem recuo M-40 fosse oficialmente classificada como calibre 106 mm, na realidade, pertencia ao calibre 105 mm. Essa designação foi adotada para evitar a utilização de munições incompatíveis desenvolvidas anteriormente para o canhão M-27.  Um dos destaques do M-40 era a munição M-344A1 HEAT, fabricada originalmente nos Estados Unidos, capaz de penetrar mais de 400 mm de blindagem. Posteriormente, versões aprimoradas dessa munição, produzidas na Áustria e na Suécia, alcançaram a capacidade de perfurar mais de 700 mm de blindagem, demonstrando avanços significativos na tecnologia de armamentos anticarro. 
O M-40 foi projetado para oferecer alta mobilidade, sendo tracionado manualmente por tropas de paraquedistas ou montado em diversos veículos. Inicialmente, foi instalado em jipes como o Ford-Kaiser M-151A1/C Mutt e o Willys M-38A1C. Mais tarde, passou a ser integrado a veículos blindados de transporte de tropas, como o M-113, e às Mulas Mecânicas M-274. Uma variante notável, conhecida como “Ontos”, foi desenvolvida com nada menos que seis canhões M-40 instalados em um veículo blindado sobre esteiras, ampliando sua capacidade de fogo em operações táticas. Nos países ocidentais de primeiro mundo, o M-40 foi amplamente empregado como arma anticarro durante as décadas de 1950 e 1960. Contudo, o avanço da tecnologia de mísseis guiados, mais precisos e eficazes, levou à sua substituição gradual. No Exército dos Estados Unidos (US Army), o M-40 foi completamente desativado em 1970, sendo substituído pelo míssil BGM-71 TOW, que oferecia maior alcance e letalidade. Após sua desativação, um grande lote de canhões M-40 foi mantido em reserva estratégica, refletindo sua relevância histórica e o reconhecimento de seu papel em conflitos anteriores. Os canhões sem recuo M-40 lograriam também grande sucesso no mercado internacional, com milhares de peças sendo exportadas para as forças armadas de  Angola, Austrália, Áustria, África do Sul, Bahrein, Bangladesh,  Bolívia, Brasil, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Canada, Chad, Chile, China, Colômbia, Congo, Coreia do Sul, Republica Dominicana, Dinamarca , Egito, Equador, El Salvador, Estônia, Espanha, Emirados Árabes, França, Filipinas, Gabão, Guatemala, Grécia, Haiti, Honduras, Holanda, Índia, Ira, Iraque, Israel, Itália, Japão, Laos, Líbano, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malásia, Mauritânia, México, Marrocos , Mianmar, Nova Zelândia, Nicarágua , Nigéria, Noruega, Paquistão, Peru, Portugal , Rodésia, Singapura, Somália, Sri Lanka, Sudão, Suriname, Suíça, Suriname, Síria, Taiwan, Tunísia, Turquia, Uruguai , Venezuela e Zimbábue. Além da produção local nos Estados Unidos, os canhões sem recuo M-40 106 mm, seriam fabricados na Áustria, China, Índia, Irã, Paquistão, Coréia do Sul e Espanha. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra do Vietnã, porém estes canhões teriam destacada participação em diversos conflitos regionais ao longo do século passado, como a Guerra Ira x Iraque, Guerra Indo Paquistanesa, Guerra Civil Líbanesa e a Guerra Civil na Somália, atuando principalmente como arma de apoio da infantaria e também em combates contra veículos blindados ligeiros. Apesar de estarem operando há quase setenta anos, em muitas nações os M-40 106 mm, seguem desempenhando suas funções, devendo permanecer em serviço pelo menos por mais vinte anos.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras. 
A modernização da artilharia de campanha do Exército Brasileiro teve início durante a Segunda Guerra Mundial, um momento pivotal que marcou a evolução de sua capacidade militar. Ao alinhar-se ao esforço de guerra dos Aliados, o Brasil tornou-se signatário do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) dos Estados Unidos, obtendo um crédito de US$ 100 milhões. Esse recurso possibilitou a aquisição de equipamentos modernos, beneficiando significativamente o segmento de artilharia. Entre os armamentos recebidos, destacam-se os obuseiros M-1 Howitzer de 105 mm e M-2 Howitzer de 155 mm, além de canhões anticarro e antitanque leves, como os modelos M-1 de 57 mm e M-3 e M-3A1 de 37 mm. Esse processo de modernização foi complementado por um esforço consistente de formação doutrinária. O treinamento inicial foi conduzido por especialistas do Exército dos Estados Unidos (US Army), que compartilharam conhecimentos técnicos e táticos fundamentais. Esses ensinamentos ganharam relevância prática durante a campanha da Itália, com a criação, no âmbito da Força Expedicionária Brasileira (FEB), da Companhia de Canhões Antitanque. Embora não haja registros concretos ou fotográficos que comprovem o uso desses canhões em combates reais, especula-se que foram amplamente utilizados nos treinamentos ministrados por militares do V Exército dos Estados Unidos, experientes no manejo do canhão M-1 de 57 mm. Esse treinamento enfatizou a doutrina operacional e as técnicas de emprego contra blindados, capacitando os pracinhas brasileiros para os desafios do front italiano. Uma hipótese complementar sugere que o front italiano não era prioritário para os Aliados, o que pode ter restringido o acesso a armamentos mais avançados, como os canhões sem recuo M-18 de 57 mm e M-20 de 75 mm, amplamente utilizados em outros teatros de operações, como França, Bélgica, Países Baixos e Alemanha. O conhecimento adquirido na Itália foi disseminado às demais unidades do Exército Brasileiro após o retorno da Força Expedicionária Brasileira (FEB), fortalecendo a capacidade operacional do país. No início da década de 1960, o Brasil recebeu um novo lote de canhões M-1 de 57 mm, provenientes de unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos, cuidadosamente armazenados desde sua desativação no final dos anos 1950. Essa cessão, realizada no âmbito do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, incluiu um expressivo estoque de munições de 57 mm, permitindo equipar não apenas os Regimentos de Infantaria (RI) e as Companhias de Canhões Anticarros (CCAC), mas também alguns Esquadrões de Reconhecimento Motorizado (Esqd Rec Mec). Esse reforço representou um passo importante na consolidação da capacidade antitanque do Exército Brasileiro, ainda que os equipamentos recebidos já fossem considerados obsoletos para os padrões da época.

Consciente da obsolescência dos canhões anticarro e antitanque em uso, como os modelos M-1 de 57 mm e M-3 e M-3A1 de 37 mm, o comando do Exército Brasileiro iniciou, na década de 1950, estudos para promover um novo ciclo de modernização no segmento de artilharia. O objetivo era alinhar a Força Terrestre às inovações tecnológicas da época, garantindo maior eficácia operacional. Esses esforços culminaram em um relatório que recomendava a aquisição de um grande lote de canhões sem recuo M-40 Recoilless Rifle de 106 mm, considerados sucessores naturais dos modelos anteriores. As negociações para a obtenção dessas armas foram conduzidas junto ao governo norte-americano, sob os termos do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952. Esse acordo possibilitou a cessão, em condições vantajosas, de diversos equipamentos militares, incluindo carros de combate, veículos utilitários, caminhões, armas portáteis, canhões convencionais e, de forma destacada, os primeiros canhões sem recuo M-40 de 106 mm. Em 1956, o Exército Brasileiro recebeu o primeiro lote desses canhões, acompanhado de um número limitado de jipes canhoneiros Willys M-38A1C. Essas armas foram imediatamente integradas, sendo inicialmente destinadas aos Batalhões de Infantaria Blindada (BIB), onde contribuíram significativamente para a evolução da doutrina operacional da Força Terrestre. O sucesso operacional do M-40 incentivou o comando do Exército Brasileiro a pleitear, junto ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a aquisição de um novo lote dessas armas. A solicitação foi atendida a partir de 1959, garantindo o fornecimento contínuo. Contudo, esse novo pacote não incluía os jipes Willys M-38A1C, o que demandou a busca por uma plataforma alternativa para operação em campo. Nesse contexto, a Willys Overland do Brasil, que já fornecia jipes civis “militarizados” às Forças Armadas, foi encarregada de desenvolver uma versão do jipe canhoneiro baseada no modelo Willys CJ-5. Esses veículos começaram a ser entregues a partir de 1962, permitindo a expansão do uso dos canhões M-40 para novas unidades operacionais do Exército. A primeira experiência de emprego dos canhões M-40 em um cenário de potencial conflito ocorreu no segundo semestre de 1965, quando um contingente de soldados e oficiais brasileiros integrou a Força Interamericana de Paz. Essa força multinacional, constituída pelos Estados Unidos em parceria com a Organização dos Estados Americanos (OEA) na República Dominicana, contou também com a participação de militares de Honduras, Paraguai, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. A presença brasileira nesse contexto marcou um momento significativo, demonstrando a capacidade operacional do Exército e a relevância dos canhões sem recuo M-40 em operações internacionais.
No contexto da Força Interamericana de Paz (IAPF), estabelecida na República Dominicana em 1965, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos assumiu a responsabilidade de fornecer suprimentos e equipamentos às nações participantes. Para o Exército Brasileiro, esse apoio incluiu a cessão de oitenta e oito jipes, se dividindo entre os  modelos Ford Kaiser M-151A1 e M-151A1C, este último equipado com o canhão sem recuo M-40 de 106 mm. Sob a orientação de oficiais norte-americanos, os militares brasileiros receberam treinamento abrangente, abrangendo a operação e a manutenção básica desse sistema de armas. Os veículos foram entregues às tropas brasileiras em 25 de maio de 1965, coincidindo com o desembarque do primeiro contingente no país caribenho. Com o término da intervenção da Força Interamericana de Paz (IAPF), em 21 de setembro de 1966, os jipes e os canhões M-40 foram doados ao Brasil, sendo transportados por navios da Marinha do Brasil junto ao último contingente de militares brasileiros. No final da década de 1960, por meio do Military Assistance Program (MAP) – Programa de Assistência Militar –, o Exército Brasileiro intensificou sua modernização, recebendo um expressivo lote de veículos, armamentos e munições. Entre esses equipamentos, destacaram-se cinquenta canhões sem recuo M-40A1 de 106 mm, provenientes das reservas estratégicas do Exército dos Estados Unidos (US Army). Para atender à crescente demanda por esses sistemas de armas, o Exército Brasileiro negociou com o Watervliet Arsenal os direitos do projeto para a produção sob licença no Brasil. Esse processo resultou em um acordo para a fabricação local dos canhões, conduzida pela Hydroar S/A Indústria Metalúrgica em parceria com o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Com um número significativo de canhões M-40 e M-40A1 de 106 mm disponíveis em seus arsenais, o Exército Brasileiro ampliou a  distribuição deste tipo de armamento, equipando mais Batalhões de Infantaria Blindada (BIB) e Batalhões de Infantaria Paraquedista (BIPQDT). Cada grupamento passou a contar com uma dotação de quatro peças, fortalecendo a capacidade anticarro da Força Terrestre. Essa modernização representou um avanço significativo, consolidando o papel do M-40 como um componente essencial na doutrina operacional brasileira durante a década de 1960.

Em 1958, o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil passou a incorporar os canhões sem recuo M-40 e M-40A1 de 106 mm, por meio da aquisição de um lote inicial de jipes Willys M-38A1C, obtidos através do Programa de Assistencia Militar - MAP (Military Assistance Program ). A introdução dessas armas marcou um avanço significativo para a Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), conferindo novas capacidades ofensivas e defensivas, especialmente em operações de desembarque anfíbio, onde a projeção de força era essencial. Tanto no Exército Brasileiro quanto no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), os canhões M-40 e M-40A1 operavam com uma ampla variedade de munições, incluindo os tipos M-344 e M-344A1 HEAT (projetados para combate anticarro, antipessoal, contra edificações e fortificações) e M-581 APERST (munição antipessoal com flechettes, que liberava centenas de dardos metálicos para saturação em área). Essas características tornavam os canhões extremamente versáteis, capazes de enfrentar diferentes alvos em variados cenários operacionais. Apesar de sua facilidade de manuseio, alta cadência de tiro, poder de impacto e confiabilidade em campo, os canhões sem recuo apresentavam uma desvantagem significativa: o elevado estampido do disparo e a grande quantidade de fumaça gerada pelo escape dos gases propelentes, que denunciavam facilmente a posição do atirador ao inimigo. Essa característica exigia cuidados táticos adicionais para minimizar a vulnerabilidade das tropas. No Exército Brasileiro e no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), os M-40 e M-40A1 eram frequentemente operados a bordo de veículos utilitários leves, como os jipes Willys M-38A1C, WOB CJ4, CJ-5, Ford Kaiser M-151A1C e Toyota Xingu, recebendo a designação operacional de VTE CSR 1/4 ton 4x4 (Viatura de Transporte Especializado - Canhão sem Recuo). Além disso, foram temporariamente montados em blindados de transporte de tropas VBTP M-113 e submetidos a testes em versões modificadas do utilitário nacional Gurgel X-15. Nesse contexto, os canhões eram empregados em operações contra veículos leves e em missões de apoio à infantaria, demonstrando sua versatilidade e valor tático. A integração dos M-40 e M-40A1 ao arsenal brasileiro representou um marco na modernização da artilharia, fortalecendo a capacidade operacional tanto do Exército Brasileiro quanto do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Sua utilização em veículos leves e blindados ampliou a mobilidade e a flexibilidade das tropas, consolidando esses canhões como elementos fundamentais na doutrina militar brasileira durante as décadas de 1950, 1960 e  1970.
Na década de 1980, o Ministério do Exército brasileiro, atento às tendências globais de modernização militar, iniciou estudos para substituir os canhões sem recuo M-40 e M-40A1 de 106 mm por mísseis anticarro e antitanque mais avançados. Essa iniciativa refletia a busca por maior precisão e letalidade, seguindo o exemplo de outras nações que já haviam adotado tecnologias de mísseis guiados. Diversas opções foram avaliadas, incluindo a produção sob licença de sistemas como o TOW (fabricado pela Hughes, Estados Unidos), o Bill (Bofors, Suécia) e o Missile Anticarro della Fanteria (MAF), desenvolvido pela italiana Oto Melara em parceria com a brasileira Engesa S/A. Nesse contexto, ganhou destaque o Programa Nacional do Sistema de Armas Míssil Superfície-Superfície Anticarro MSS 1.2 AC, que passou a ser priorizado. Lançado oficialmente em 1986, o programa resultou na criação da Órbita Sistemas Aeroespaciais S.A., sediada em São José dos Campos, com participação acionária de 40% da Engesa S/A, 40% da Embraer S/A e 20% divididos entre a Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL), Esca Ltda e Parcom Ltda. O míssil, batizado MSS-1.2 LEO em homenagem ao então Ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, representava uma aposta na capacidade tecnológica nacional. Contudo, o cenário político-econômico da década de 1990 impôs desafios significativos, resultando em atrasos consideráveis no desenvolvimento do projeto. Como solução temporária, o Exército Brasileiro optou pela aquisição dos canhões sem recuo portáteis Carl Gustav de 84 mm, que também foram adotados pelo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Essa medida permitiu a operação conjunta dos M-40 e M-40A1 de 106 mm com os Carl Gustav de 84 mm e os lança-rojões AT-4, mantendo a capacidade antitanque das forças brasileiras. Essa configuração perdurou até 2010, quando o Exército Brasileiro decidiu iniciar o processo de desativação dos canhões M-40 e M-40A1. A desativação foi formalizada pela Portaria Nº 64-EME, de 5 de julho de 2011, encerrando oficialmente o uso desses sistemas no Exército. No mesmo período, o CFN também desativou essas armas, marcando o fim de uma trajetória de quase cinco décadas de serviço. A substituição dos M-40 e M-40A1 por sistemas mais modernos, como o MSS-1.2 LEO e, posteriormente, mísseis como o Spike (de origem israelense), refletiu a necessidade de adaptar as Forças Armadas brasileiras às exigências de conflitos contemporâneos, priorizando maior precisão, alcance e mobilidade. Esse processo de transição consolidou um capítulo importante na história da artilharia brasileira, destacando o compromisso com a modernização e a soberania tecnológica.

Em Escala.
Para recriar com fidelidade o canhão sem recuo M-40A1 de 106 mm, utilizado tanto pelo Exército Brasileiro quanto pelo Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil, recomendamos o uso do kit na escala 1/35 da AFV Club. Este modelo destaca-se pela excepcional qualidade e riqueza de detalhes, atendendo às expectativas de modelistas que buscam precisão histórica e estética. Para representar a versão empregada pelas forças brasileiras, não são necessárias modificações adicionais, bastando seguir cuidadosamente as instruções fornecidas no manual do kit.

O padrão de pintura utilizado nos canhões sem recuo M-40A1 de 106 mm pelas Forças Armadas Brasileiras, incluindo o Exército Brasileiro e o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil, foi consistentemente aplicado desde a chegada das primeiras unidades em 1956 até sua desativação, em 2011. Este esquema de cores, baseado no padrão Federal Standard (FS), permaneceu inalterado ao longo de décadas,


Bibliografia: 
- M-40 Recoilless Rifle  - Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M40_recoilless_rifle
- O Brasil e a Rep Dominicana  Bruno P . Vilella http://www.uff.br
- MSS 1A2  https://www.forte.jor.br/2018/09/01/brasil-leva-mais-de-30-anos-para-desenvolver-missil-anticarro

Dodge M-37, M-43 & M-56 (VE-TNE)

História e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares , culminando na assinatura de um contrato para a produção de 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers).Ao longo de 1940, a Dodge Motor Company consolidou sua relevância  ao produzir mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4x4, pertencentes à série Dodge WC de ½ tonelada. Esses novos caminhões  substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, também pertencentes à série original G-505, no arsenal do Exército dos Estados Unidos (US Army). Entre o final de 1940 e o início de 1942, a Dodge, em colaboração com a Fargo Motor Car Company, produziu um total de 82.000 veículos de ½ tonelada com tração 4x4. 
Os modelos Dodge WC-1 e WC-50, pertencentes à classe de ½ tonelada, destacavam-se pela impressionante intercambialidade de 80% de seus componentes com os subsequentes modelos de ¾ tonelada, uma característica que simplificava a manutenção e otimizava a logística em campo, mesmo nas condições mais desafiadoras da Segunda Guerra Mundial. Em 1942, a Dodge aprimorou sua linha de caminhões, organizando-a em duas categorias principais: o modelo G-502, de ¾ tonelada, com tração integral 4x4 e chassi mais curto, ideal para missões táticas, e o G-507, de ½ tonelada, com tração 6x6, projetado para o transporte de carga e tropas. Até 1945, aproximadamente 535.000 veículos de todos os modelos da família WC foram produzidos, estabelecendo um recorde notável para veículos dessa categoria. Esse êxito foi impulsionado pela excepcional resistência em campo e pelo custo-benefício de construção e operação, consolidando a Dodge como um pilar essencial do esforço logístico aliado. O fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, trouxe uma desmobilização quase imediata da indústria militar norte-americana, impactando profundamente as empresas de defesa com o cancelamento de contratos de produção. A Dodge Motors Company, que havia dedicado quase a totalidade de suas linhas de produção à fabricação da família WC, enfrentou a necessidade de uma reorientação estratégica para sobreviver no novo cenário pós-guerra. Com visão e determinação, a diretoria da empresa voltou seus esforços para o mercado civil, enxergando na adaptação dos projetos militares uma oportunidade promissora. Utilizando o ferramental existente e os projetos originais da família WC, a Dodge buscou reduzir custos e acelerar o desenvolvimento de uma nova linha de utilitários, mantendo a essência de robustez que caracterizava seus veículos militares. Após a conclusão do último contrato militar, com a entrega das unidades remanescentes do Dodge WC-52, a empresa direcionou seus recursos para esse ambicioso projeto ao longo de 1946. Em março de 1947, o primeiro protótipo conceitual foi finalizado, marcando o início de uma nova fase. Entre 1948 e 1949, cinco protótipos adicionais foram apresentados, incluindo uma versão com potencial aplicação militar. Até maio de 1950, as configurações civil e militar foram definidas, e, em 14 de dezembro do mesmo ano, o primeiro veículo piloto do lote de pré-produção deixou a linha de montagem da Warren Truck Assembly, em Michigan. O novo utilitário, projetado para o mercado comercial, incorporava diversos componentes da família militar WC, como o motor Dodge T-245, um seis cilindros de 78 hp derivado do Chrysler Straight-6 da década de 1930, e uma transmissão mecânica de quatro marchas. Como principal inovação, apresentava um chassi de picape comercial (modelo WDX), que substituiu o conjunto militar original, simplificando a produção e reduzindo custos. 

Em janeiro de 1951, a Dodge Motors Company iniciou a produção em série de seu novo utilitário comercial com tração integral 4x4, que rapidamente conquistou uma fatia expressiva do mercado civil graças à sua durabilidade, versatilidade e a herança confiável dos modelos militares da família WC. Esse sucesso refletia a capacidade da Dodge de adaptar sua expertise militar às demandas do mercado pós-guerra, oferecendo veículos robustos que atendiam às necessidades de trabalho em condições desafiadoras. Paralelamente, o Exército dos Estados Unidos (US Army), ciente do envelhecimento da frota de Dodge WC-51 e WC-52 Beep, em serviço desde o início da década de 1940, deu início a estudos preliminares para a aquisição de um novo utilitário de porte médio, visando a modernização gradual de sua capacidade logística. Antes mesmo da abertura de uma concorrência formal, a Dodge apresentou a versão militar de seu novo utilitário, o Dodge M-37, uma evolução direta dos modelos WC. A escolha do M-37 foi natural, pois ele compartilhava similaridades significativas com seus antecessores em termos de manutenção e peças de reposição, garantindo continuidade e eficiência logística. Em abril de 1951, foi celebrado o primeiro contrato de produção, contemplando um modelo equipado com o confiável motor a diesel Dodge T-245, de 78 hp, acoplado a uma caixa de mudanças manual Model 88950 4x2. Esse conjunto motriz conferia ao M-37 uma velocidade máxima de 89 km/h e uma autonomia de 362 km, superando o desempenho dos antigos WC-51 e WC-52, e reforçando sua adequação às demandas operacionais modernas. Ainda em 1951, o Exército dos Estados Unidos (US Army) recebeu 11.000 unidades do M-37, que imediatamente começaram a substituir as viaturas mais antigas. O batismo de fogo do modelo ocorreu durante a Guerra da Coreia (1950–1953), com as primeiras unidades enviadas à península coreana em maio de 1952. Operando ao lado dos Dodge WC-51 e WC-52, o M-37 demonstrou sua robustez e versatilidade em condições de combate, consolidando sua importância estratégica. A demanda gerada por novos contratos com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) manteve as linhas de produção da Dodge em plena atividade, resultando na fabricação de mais 52.000 viaturas até meados de 1954. Além da versão básica de picape, a Dodge desenvolveu modelos especializados para atender a diversas necessidades militares, incluindo o M-42 Carro de Comando, M-43 Ambulância, M-56 Oficina, M-B2 Bombeiro e R-2 Veículo de Resgate de Aeroporto. Em 1958, o projeto original passou por estudos de aprimoramento mecânico e modificações de design, culminando no lançamento do M-37B1. Essa nova versão foi empregada nas fases iniciais da Guerra do Vietnã, servindo tanto o Exército dos Estados Unidos quanto o Exército da República do Vietnã (ARV), demonstrando sua capacidade de adaptação a novos cenários de conflito. Até o final de 1968, foram produzidas mais 47.000 viaturas, abrangendo modelos como o M-37B1, M-201V41 Veículo de Manutenção Telefônica, M-283 Veículo de Carga (LWB), M-596 Veículo de Transporte de Peróxido de Hidrogênio (projeto Redstone) e V-126 Plataforma Móvel para o Sistema de Radar AN/MPX-7.
Além disso, três modelos experimentais — XM-152, XM-708 e XM-711 — foram desenvolvidos para a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), destacando a versatilidade da plataforma M-37.  Entre 1951 e 1955, aproximadamente 4.500 veículos da família Dodge M-37 foram montados sob licença no Canadá, recebendo a designação M-37CDN e o apelido local de “Power Wagon”. Essas viaturas, produzidas principalmente nas versões de transporte básico e ambulância, refletiam a robustez e a versatilidade que caracterizavam a linha original. Parte desses veículos, após anos de uso pelas forças canadenses, foi transferida para as forças armadas da Grécia e de Israel, onde continuaram a servir com distinção por longos períodos, demonstrando a durabilidade e a confiabilidade que tornaram o M-37 um marco na história militar. A partir de 1968, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a substituição dos modelos Dodge M-37 e M-37B1 pelo novo utilitário Kaiser Jeep M-715, projetado com uma capacidade nominal de carga superior, de 1¼ tonelada. Apesar dessa vantagem, o M-715, baseado em veículos comerciais adaptados para uso militar (Commercial Off-The-Shelf – COTS), foi inicialmente percebido pelos usuários como menos potente e mais frágil em comparação com os robustos caminhões táticos Dodge M-37. Essa transição gerou um excedente significativo de veículos M-37 em bom estado de conservação, que, após serem retirados do serviço ativo nos Estados Unidos, foram redistribuídos a nações aliadas por meio de programas de assistência militar patrocinados pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Países como Argentina, França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Israel e Suíça receberam essas viaturas, que se tornaram instrumentos valiosos em suas forças armadas. Além disso, os Dodge M-37 foram empregados em diversos conflitos regionais, incluindo a Guerra Civil no Camboja, a Revolução na Nicarágua, a Guerra Civil em El Salvador e a Guerra Civil na Guatemala, onde sua resistência e capacidade de operar em condições adversas continuaram a fazer a diferença. Até o final da década de 1990, centenas desses veículos ainda permaneciam em operação militar ao redor do mundo, um testemunho de sua engenhosidade e longevidade. O Dodge M-37 não foi apenas um utilitário militar; ele simbolizou a resiliência e a adaptabilidade das forças armadas que o utilizaram, bem como o espírito de cooperação internacional que marcou os esforços de assistência militar no pós-guerra. Sua presença em campos de batalha e operações logísticas por quase meio século reflete um legado de serviço e inovação, perpetuando a memória dos homens e mulheres que confiaram nesses veículos para cumprir suas missões com coragem e dedicação.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No alvorecer da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a contemplar com profunda preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França, em 1940, intensificou essas inquietações, ao expor o risco de bases nazistas serem estabelecidas em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias ou Dacar. Nesse contexto, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável e estratégico para uma potencial ofensiva, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava na mira das ambições expansionistas alemãs. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex, matéria-prima indispensável para a produção de borracha, essencial à indústria bélica aliada. A relevância estratégica do Brasil foi ainda mais acentuada pela posição privilegiada de seu litoral nordeste, ideal para a instalação de bases aéreas e portos militares. Essa região, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, tornou-se uma ponte logística vital para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no norte da África. Diante desse cenário, intensificou-se uma aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, culminando na adesão do país ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Esse acordo garantiu ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de equipamentos bélicos modernos, incluindo armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, marcando um passo decisivo na modernização das Forças Armadas Brasileiras. A partir do final de 1941, o Brasil começou a receber um expressivo volume de equipamentos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro, principal beneficiário desse aporte, experimentou uma transformação significativa em suas capacidades operacionais. Entre os veículos fornecidos, destacaram-se os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, cuja entrega teve início no final de 1942. Esses foram seguidos por outros modelos da família WC, incluindo os carros de comando WC-53, WC-56 e WC-57, a ambulância WC-54, e os utilitários WC-62 e WC-63. Quase todos os lotes destinados ao Brasil eram compostos por veículos novos, recém-fabricados pelas linhas de produção da Dodge Motors Company e da Fargo Motor Car Company, garantindo qualidade e confiabilidade. A incorporação desses utilitários representou um marco na doutrina operacional da Força Terrestre brasileira. Os Dodge WC-51, WC-52, WC-53, WC-54, WC-56, WC-57, WC-62 e WC-63 substituíram uma frota obsoleta de veículos civis, inadequadamente adaptados para uso militar, e um pequeno número de modelos importados, como os Vidal & Sohn Tempo-Werk G1200, de origem alemã, adquiridos em 1938, mas insuficientes para equipar uma unidade mecanizada. A chegada desses modernos utilitários com tração 4x4 não apenas elevou a capacidade logística e operacional do Exército, mas também simbolizou o compromisso do Brasil em alinhar-se aos esforços aliados, fortalecendo sua defesa contra as ameaças do Eixo e preparando o terreno para sua participação ativa no conflito.

Para equipar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que combateu heroicamente na campanha italiana durante a Segunda Guerra Mundial, foram destinadas 148 unidades do Dodge WC-51 e 30 unidades do Dodge WC-52, veículos essenciais para a mobilidade e logística das tropas em terrenos desafiadores. Registros históricos indicam que pelo menos três WC-51 foram cedidos à Força Aérea Brasileira (FAB), onde desempenharam funções cruciais no transporte de pilotos e cargas, apoiando as missões do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) e da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO). Até meados de 1945, as Forças Armadas Brasileiras receberam um total de 954 viaturas desses modelos, consolidando sua relevância operacional. No período pós-guerra, essas viaturas, carinhosamente apelidadas de “Dodge Japão” pelos militares brasileiros, foram distribuídas gradualmente a diversas unidades espalhadas pelo território nacional. Por muitos anos, prestaram serviços inestimáveis ao Exército Brasileiro, à FAB e à Marinha do Brasil, destacando-se por sua robustez e versatilidade em tarefas administrativas, logísticas e operacionais. Esses veículos não apenas facilitaram a modernização das Forças Armadas, mas também se tornaram símbolos da resiliência dos “pracinhas” que os operaram. Entretanto, a partir de meados da década de 1950, a frota de Dodge WC-51 e WC-52 começou a apresentar um preocupante declínio em sua disponibilidade operacional. A principal causa era a dificuldade em obter peças de reposição no mercado internacional, uma vez que a produção desses modelos havia sido descontinuada pela Dodge Motors Company em 1946. Esse cenário, que se agravava ano após ano, gerou grande inquietação no comando do Exército Brasileiro, comprometendo a mobilidade e a eficácia da Força Terrestre. Diante disso, iniciaram-se estudos para encontrar soluções de curto prazo que atendessem a essa demanda crítica, compartilhada também pela FAB e pela Marinha. A primeira alternativa considerada foi a aquisição de viaturas novas da família sucessora, composta pelos modelos Dodge M-37, M-43 e M-43 (M-615), projetados para substituir os antigos WC. Contudo, essa opção revelou-se economicamente inviável, pois a substituição de cerca de 1.300 viaturas — incluindo os modelos WC-51, WC-52, WC-53, WC-54, WC-56 e WC-57 — exigiria um investimento que ultrapassava a dotação orçamentária do Ministério do Exército destinada à renovação da frota. A mesma limitação financeira afetava os outros ramos das Forças Armadas, que enfrentavam desafios semelhantes. Nesse contexto, duas estratégias foram avaliadas: a repotenciação de parte da frota existente e a aquisição de veículos militarizados produzidos pela nascente indústria automotiva nacional. A primeira alternativa foi conduzida pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, que estudou a substituição dos motores a gasolina Dodge T-214 por modelos a diesel fabricados no Brasil. Apesar do potencial dessa iniciativa, o projeto não avançou além da fase de protótipo devido a limitações técnicas e logísticas. Como medida paliativa, optou-se pela retífica dos motores originais a gasolina, um esforço que abrangeu uma parcela significativa da frota dos WC-51, WC-52, além de algumas dezenas de WC-56 e WC-57. Essa solução, embora temporária, permitiu que esses veículos continuassem a servir com dedicação, prolongando seu legado de serviço às Forças Armadas Brasileiras
Na década de 1960, a Willys Overland do Brasil (WOB) já se consolidara como uma das principais montadoras do país, desempenhando um papel estratégico como fornecedora de veículos militares para o Exército Brasileiro. Com base na robusta plataforma do Rural Willys, foram desenvolvidas versões militarizadas, destacando-se a Camioneta Militar Jeep Willys 3/4 ton 4x4. Esses veículos foram adaptados para atender a uma ampla gama de missões, com grande parte da frota equipada com suportes para metralhadoras de 12,7 mm ou 7,62 mm, garantindo capacidade de resposta em operações táticas. Variantes especializadas incluíam plataformas para canhões sem recuo M-40A1 de 106 mm e lançadores de foguetes não guiados (versão M-106), ampliando a versatilidade da frota. A introdução desses modelos, a partir de 1962, foi um marco na recuperação da capacidade operacional da Força Terrestre, que enfrentava desafios devido ao envelhecimento de sua frota. Contudo, por serem veículos civis adaptados para uso militar, os Willys não possuíam a mesma robustez e resistência dos antigos Dodge WC-51 e WC-52, deixando uma lacuna em termos de desempenho em condições extremas. Esse cenário motivou o Ministério do Exército a buscar soluções mais abrangentes para a renovação de seus meios, recorrendo aos termos do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos (MAP). A partir de 1964, negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos resultaram em um amplo acordo para a aquisição de um pacote significativo de equipamentos militares, incluindo carros de combate, blindados de transporte de tropas, veículos leves e caminhões. Esses recursos foram destinados a modernizar não apenas o Exército Brasileiro, mas também a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil, fortalecendo a capacidade logística e operacional das Forças Armadas. Entre os veículos cedidos ao Brasil, destacava-se uma grande quantidade de utilitários com tração integral 4x4 da família Dodge M-37, incluindo a versão básica, o M-56 (carro de manutenção de telecomunicações) e a ambulância M-43 (M-615). Esses veículos, conhecidos por sua durabilidade e versatilidade, representaram um avanço significativo na substituição das antigas viaturas Dodge WC, atendendo às demandas de mobilidade e suporte em operações críticas. A chegada dos Willys militarizados e dos novos Dodge M-37 simbolizou o esforço incansável do Brasil em modernizar suas Forças Armadas, superando limitações orçamentárias e tecnológicas. A partir de abril de 1966, começariam a ser recebidos no porto do Rio de Janeiro – RJ os primeiros lotes, logo aferia-se que grande parte da frota se encontrava me excelente estado de conservação oriundos dos estoques de reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos (US Army). 

A chegada dos utilitários Dodge M-37, M-56 e M-43 ao Brasil, no âmbito do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos (MAP), marcou um capítulo significativo na modernização das Forças Armadas Brasileiras a partir de meados da década de 1960. Esses veículos, cuidadosamente descarregados nos portos brasileiros, eram imediatamente organizados por destino, refletindo um planejamento estratégico para atender às necessidades dos três ramos das Forças Armadas: o Exército Brasileiro, a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil. O Exército, como principal beneficiário, recebeu a maior quantidade dessas viaturas, que foram prontamente distribuídas a unidades de infantaria e médicas ainda equipadas com os veteranos Dodge WC-51, WC-52 e WC-54 Ambulância, cuja operacionalidade estava comprometida pela escassez de peças de reposição. A escolha dos Dodge M-37 foi motivada, em grande parte, pelo alto índice de intercambialidade de componentes com os modelos WC, uma característica que assegurava maior eficiência na manutenção e maximizava a disponibilidade operacional. No Exército Brasileiro, essas viaturas receberam designações específicas que refletiam suas funções: Viatura de Transporte de Pessoal Comando 3/4 ton 4x4 (M-37), Viatura Especializada Comunicações 3/4 ton 4x4 (M-56), Viatura Especializada Ambulância 3/4 ton 4x4 (M-43) e Viatura de Transporte Não Especializado 3/4 ton 4x4 (M-37). Equipados com o confiável motor Dodge T-245, um seis cilindros a gasolina de 78 hp, acoplado a uma transmissão manual Model 88950 de quatro marchas, esses veículos alcançavam uma velocidade máxima de 89 km/h e ofereciam uma autonomia de 362 km. Comparados aos seus antecessores, os M-37 destacavam-se por um desempenho superior, maior capacidade de carga (¾ tonelada) e um design otimizado para operações táticas, tornando-se ferramentas indispensáveis para a Força Terrestre. No dia a dia, seja em operações rotineiras ou em exercícios militares, os Dodge M-37 rapidamente demonstraram suas qualidades excepcionais, superando em muitos aspectos os modelos WC. Sua robustez em terrenos acidentados, aliada à versatilidade em funções como transporte de tropas, suporte logístico e evacuação médica, consolidou sua reputação entre os militares brasileiros. Curiosamente, embora relatos orais sugiram a presença de unidades do M-37 equipadas com o guincho hidráulico Braden LU-4 PTO, registros fotográficos da época não confirmam sua existência no Brasil, deixando essa questão como um intrigante mistério histórico. A Força Aérea Brasileira também se beneficiou desses veículos, recebendo pelo menos dez M-37 e cinco M-43 no mesmo acordo de fornecimento. Essas viaturas foram destinadas a bases aéreas, comandos regionais e hospitais da Aeronáutica, onde desempenharam funções orgânicas, como transporte de pessoal, equipamentos e atendimento médico. Sua confiabilidade e capacidade de operar em diferentes condições reforçaram a eficiência logística da Força Aérea Brasileira (FAB)  complementando o esforço de modernização das Forças Armadas.
A partir de 1968, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) recebeu pelo menos três dezenas de utilitários Dodge M-37, marcando um avanço significativo na capacidade de mobilidade dos batalhões de infantaria da Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE). Esses veículos, equipados com tração integral 4x4 e o confiável motor Dodge T-245 de 78 hp, ofereceram robustez e versatilidade, permitindo aos fuzileiros navais operar em terrenos desafiadores com maior eficiência. A introdução dos M-37 representou um salto qualitativo, substituindo viaturas mais antigas e reforçando a prontidão do CFN para missões anfíbias e terrestres. Em 1971, a Marinha do Brasil incorporou o navio de desembarque de carros de combate NDCC Garcia D’Avila (G-28), um navio da classe LST 511–1152 adquirido dos Estados Unidos. Essa embarcação foi a primeira da esquadra brasileira capaz de realizar desembarques diretos de veículos sobre rodas nas praias, ampliando o papel operacional dos Dodge M-37 em missões anfíbias. Essa capacidade foi colocada à prova em abril de 1974, durante a Operação Dragão IX, um exercício militar que simulou um desembarque em um teatro de operações fictício. Nesse cenário, os M-37, transportados pelo NDCC Garcia D’Avila, demonstraram sua eficácia ao desembarcar rapidamente e operar em condições adversas, consolidando sua importância para as operações anfíbias do CFN. Os Dodge M-37 permaneceram em serviço no Corpo de Fuzileiros Navais até meados da década de 1980, quando foram gradualmente substituídos pela versão militarizada do Toyota Bandeirante, um veículo nacional que refletia o crescente investimento na indústria automotiva brasileira. Mesmo com sua desativação, os M-37 deixaram um legado de confiabilidade e versatilidade, fortalecendo a capacidade operacional do CFN em um período de modernização. No Exército Brasileiro, os Dodge M-37, carinhosamente apelidados de “Pata Choca” pela tropa, tornaram-se ícones de robustez e dedicação. Utilizados intensivamente nas décadas de 1970 e 1980, esses veículos desempenharam papéis variados, desde o transporte de pessoal e suprimentos até o apoio logístico em exercícios militares e operações de patrulhamento. As variantes M-43 (M-615), destinadas a funções de ambulância, e M-56, voltadas para manutenção de telecomunicações, foram as primeiras a serem retiradas do serviço ativo, substituídas por viaturas nacionais que atendiam às novas demandas operacionais. De maneira notável, no final da década de 1980, os Dodge M-37 ganharam uma sobrevida no Exército Brasileiro por meio de um programa de repotenciação. Algumas dezenas de viaturas foram equipadas com o motor diesel Perkins OM4236 (Q20B), de fabricação nacional, acoplado a uma caixa de mudanças Clark com cinco marchas à frente e uma à ré. Essa modernização, realizada com engenhosidade pelas equipes técnicas do Exército, estendeu a vida útil desses veículos até meados da década de 1990, quando foram finalmente substituídos pelos modernos Engesa EE-34. 

Em Escala.
Para representarmos o Dodge M-37 pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), empregamos o kit da Roden na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão com o guincho mecânico frontal. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals e Books presentes no set " Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o último padrão de pintura tático empregado nos veículos leves e médios do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Inicialmente estes, bem como as viaturas destinadas as demais Forças Armadas, seriam recebidas no esquema padrão do Exército dos Estados Unidos (US Army). Ao longo dos anos seguintes os Dodge M-37, M-43 e M-56  em serviço no Exército Brasileiro e na Força Aérea Brasileira receberiam padrões distintos de pintura e marcações.

Bibliografia : 
- Dodge M-37  – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947
- Revista da FFE – Edição Comemorativa de aniversário da Força de Fuzileiros da Esquadra