Scania Série 100 Super 6x6 (VTTNE)


História e Desenvolvimento.
Fundada em 1891 na encantadora cidade de Malmö, no sul da Suécia, a Maskinfabriks AB Scania iniciou sua trajetória como uma empresa dedicada à fabricação de carruagens e vagões ferroviários. O nome "Scania", curiosamente, deriva da forma latina da província sueca de Skåne, região que serviu de berço para a companhia. Em 1896, a renomada fabricante inglesa de bicicletas Humber & Co estabeleceu uma unidade fabril na mesma província, também em Malmö. Quatro anos mais tarde, em 1900, as operações dessa empresa foram incorporadas pelo grupo empresarial da Scania. Com o objetivo de tornar sua marca mais acessível ao público, a companhia passou a estampar o nome "Scania" nas coroas das bicicletas que produzia, consolidando sua identidade no mercado. Em 1911, a Scania uniu forças com outra importante empresa sueca do setor automotivo, a Vagnsfabriks Aktiebolaget i Södertälje (VABIS), sediada em Södertälje, dando origem ao grupo Scania-Vabis. Inicialmente, a nova empresa concentrou-se na produção de caminhões e automóveis voltados para o mercado interno sueco. Contudo, com o início da Primeira Guerra Mundial, a Scania-Vabis expandiu suas atividades para o segmento militar, passando a fabricar caminhões, como o modelo CLC de 2 toneladas, além de tratores de artilharia com tração integral, destinados às Forças Armadas Suecas. Próximo ao fim do conflito, a empresa também passou a produzir ambulâncias, destacando-se o modelo Type III. A linha de produtos militares foi retomada com vigor em 1940, com a produção dos caminhões LB-350 e LB-38F.  Equipados com tração 4x4, esses modelos foram projetados com chassis robustos e versáteis, permitindo sua adaptação para diversas aplicações, como transporte de cargas, remoção de neve, postos de comando, socorro, transporte de tropas blindadas e até mesmo como base para ônibus militares. Tais características os tornavam ideais para atender às necessidades das Forças Armadas Suecas (Svenska Armén), especialmente em um contexto de mobilização defensiva durante a Segunda Guerra Mundial. Embora a Suécia tenha permanecido neutra durante o conflito, a produção desses caminhões reflete o esforço da Scania-Vabis em fortalecer a capacidade militar do país, preparando-o para possíveis cenários de defesa. Contudo, não há evidências específicas de que esses veículos tenham sido utilizados em combates diretos ou exportados para outros países beligerantes durante a guerra, dado o posicionamento neutro da Suécia. Após o término do conflito, em 1945, a Scania-Vabis redirecionou parte de sua produção militar para versões adaptadas de veículos civis, o que sugere que os LB-350 e LB-38F podem ter servido como base para modelos posteriores, como as séries L-36A e L-50, amplamente utilizadas pelo Exército Sueco (Svenska Armén) na década de 1960. Paralelamente, a Scania-Vabis já buscava expandir sua presença além do mercado europeu, estabelecendo parcerias comerciais em outros continentes, com destaque para os mercados americano e asiático. 

A história da Scania no Brasil teve início em 1949, com a importação dos primeiros caminhões da marca, representados pelo modelo L-65. Esse marco sinalizou o começo de uma trajetória duradoura e significativa da empresa no país. Com a chegada da década de 1950, o Brasil vivenciou um período de efervescência econômica, marcado pela abertura de diversas empresas nacionais destinadas a representar comercialmente fabricantes automotivos europeus e norte-americanos. Nesse contexto, em 1953, foi fundada na cidade de São Paulo a Distribuidora Vemag S.A., que inicialmente assumiu a representação e a montagem local de automóveis de passeio da norte-americana Studebaker Corporation. Pouco tempo depois, a Vemag firmou um importante acordo com a Scania-Vabis, tornando-se a representante oficial da linha de caminhões e ônibus da montadora sueca no Brasil. Em 1954, após a expansão de suas instalações industriais no bairro do Ipiranga, em São Paulo, a Vemag passou a montar veículos no sistema CKD (Completely Knocked Down), no qual os componentes chegavam completamente desmontados para serem assemblados localmente. Nesse período, a empresa conseguiu produzir 159 caminhões do modelo L-75, alcançando um índice de nacionalização de 35% até 1955. Ainda naquele ano, antes mesmo da criação de um programa federal voltado para o fortalecimento da indústria automotiva, a Vemag deu um passo pioneiro ao iniciar a nacionalização de componentes, especialmente das cabines, aproveitando sua posição como detentora da maior estamparia do país na época. Em 1956, o governo brasileiro lançou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), um programa que oferecia incentivos fiscais e benefícios para empresas que se estabelecessem no país, com o objetivo de consolidar um parque industrial automotivo nacional. Inspirada por essa iniciativa, a Scania-Vabis decidiu instalar sua primeira planta fabril fora da Suécia, escolhendo o Brasil como destino. Para viabilizar essa operação, foi firmada uma parceria estratégica com a Vemag – Veículos e Máquinas Agrícolas S.A., na qual a empresa brasileira detinha uma significativa participação acionária. Dessa união nasceu a Scania-Vabis do Brasil S.A. – Motores Diesel, uma empresa dedicada à produção de motores a diesel, enquanto a Vemag assumia a responsabilidade pela fabricação dos demais componentes, montagem dos veículos, distribuição e assistência técnica. Essa colaboração marcou um momento histórico, pois a fábrica brasileira tornou-se a primeira unidade industrial da Scania fora de seu país de origem. Em abril de 1958, o primeiro modelo produzido localmente, o caminhão L-71, chegou ao mercado com um impressionante índice de nacionalização de 65%, consolidando a presença da Scania no Brasil e sua contribuição para o desenvolvimento da indústria automotiva nacional.
No início de sua trajetória, os primeiros caminhões produzidos refletiam o design e as especificações dos modelos importados. Contudo, ao final de 1958, uma significativa atualização foi implementada, resultando na renomeação do modelo para Scania L-75. Além de receber uma nova grade, para-lamas e capô redesenhados, o veículo foi equipado com um moderno motor de 10.260 cm³ com injeção direta, capaz de entregar 165 cavalos de potência e um torque de 63 m.kgf, destacando-se como o maior entre os caminhões fabricados no Brasil à época. Mantendo as duas opções de distância entre eixos, o L-75 teve sua capacidade de carga ampliada para 9,9 toneladas. O novo modelo contava com uma caixa de cinco marchas com reduzida (sendo a primeira marcha não sincronizada), eixo traseiro de dupla redução, freios pneumáticos, rodas raiadas e um exclusivo sistema de bloqueio pneumático do diferencial. A cabine, por sua vez, permaneceu inalterada. Em maio de 1959, foi inaugurada uma nova fábrica de motores na cidade de São Paulo, situada próxima às instalações da Vemag S/A. Esses motores, com blocos fundidos pela empresa paulista Cofap S/A, alcançavam um índice de nacionalização de 63%, embora o virabrequim e o eixo de comando de válvulas ainda fossem importados. Impulsionada pela excelente receptividade de seus veículos, que se destacavam por sua modernidade em relação aos concorrentes, e enfrentando limitações na capacidade produtiva da fábrica da Vemag S/A, a empresa sueca optou, em 1960, por se desvincular de sua parceira brasileira. Assim, assumiu integralmente a produção e comercialização de seus veículos, alterando sua razão social para Scania-Vabis do Brasil S.A. – Veículos e Motores. A Vemag S/A manteve, por um período limitado, uma participação minoritária na nova estrutura. No início de 1959, foi lançado o primeiro chassi e plataforma de ônibus da marca, o B-75, que se destacou por sua potência, estabilidade e baixo nível de ruído, conquistando grande aceitação no mercado. Embora equipado com motor dianteiro, suspensão convencional por feixe de molas e compartilhando a mecânica do caminhão (exceto pelas duplas reduções na caixa e no diferencial), o B-75 apresentava um chassi baixo, projetado especialmente para o transporte de passageiros. Esse diferencial conferia um nível de conforto até então inédito na indústria brasileira. A popularidade dos ônibus Scania-Vabis ganhou ainda mais força a partir de 1961, quando a Viação Cometa S/A  passou a adquiri-los em substituição aos renomados ônibus  General Motors Coach importados. Até 1994, a empresa acumulou mais de quatro mil unidades Scania, consolidando-se como a maior frotista mundial da marca.

Em 1960, impulsionada pelas metas de nacionalização impostas pelo governo brasileiro e pela necessidade de ampliar sua capacidade produtiva, a Scania tomou a decisão estratégica de construir sua própria fábrica em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. Com isso, assumiu integralmente a produção e comercialização de seus veículos, encerrando a parceria com a Vemag S/A. Inaugurada oficialmente em 8 de dezembro de 1962, essa unidade tornou-se a primeira planta completa da Scania fora do continente europeu, representando um marco histórico para a empresa e consolidando sua presença no mercado brasileiro. Em dezembro de 1962, toda a linha de produção da Scania-Vabis do Brasil S.A. foi transferida para as modernas e amplas instalações de São Bernardo do Campo. Nesse período, o índice de nacionalização dos veículos já alcançava impressionantes 92% em peso, embora as cabines continuassem a ser estampadas e montadas pela Vemag. No final de 1963, os modelos de caminhões e ônibus, agora denominados L-76 e B-76, receberam atualizações significativas, incluindo uma nova caixa de marchas e melhorias em desempenho, com torque elevado para 76 m.kgf e potência de 195 cavalos. Esteticamente, os veículos permaneceram inalterados. Nos anos subsequentes, a Scania continuou a aprimorar seus caminhões, introduzindo novas versões e inovações técnicas. Em 1964, duas variantes com três eixos foram incorporadas à linha: o modelo LS, equipado com um terceiro eixo de apoio, e o LT, com configuração 6×4. Em 1965, a empresa introduziu um filtro de ar centrífugo de maior capacidade, montado externamente, além de um novo câmbio sincronizado de cinco marchas com redutor, acionado pneumaticamente por um botão na alavanca de mudanças. No ano seguinte, em 1966, a direção hidráulica passou a ser oferecida como item de série nos chassis de ônibus e como opcional nos caminhões, enquanto os ônibus receberam um duplo circuito de freios, elevando os padrões de segurança. Ainda em 1966, durante o V Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, a Scania apresentou uma nova cabine, disponível nas versões normal e leito. Mais ampla e com design de linhas retas, a cabine contava com para-brisa, portas e janelas maiores, vigias nas colunas traseiras e retrovisores externos ampliados. A grade, o capô e os para-lamas mantiveram o desenho original. Internamente, o painel de instrumentos foi redesenhado, incorporando um conta-giros e estofamento na parte superior, enquanto o isolamento termoacústico foi aprimorado. Uma prática caixa de ferramentas foi adicionada sob o banco do passageiro, reforçando a funcionalidade. Paralelamente, o índice de nacionalização dos veículos continuou a crescer, atingindo 95% com o início da usinagem local de virabrequins e eixos de comando de válvulas. Nesse ponto, a caixa de marchas, ainda importada da matriz sueca, permanecia como o principal componente não nacionalizado.
No VI Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, realizando no ano 1968, seria lançado o caminhão L-110 (também nas versões LS e LT), também conhecido como L-110 Super, foi um caminhão pesado produzido pela Scania-Vabis entre 1968 e 1974, pertencente à série "0" da marca, que marcou a transição para um novo sistema de nomenclatura baseado no deslocamento do motor (11 litros) e na geração do veículo. Fabricado no Brasil, em São Bernardo do Campo, o L-110 foi um marco na história da Scania no país, sendo amplamente utilizado em operações de transporte rodoviário e reconhecido por sua robustez e inovação para a época. Apresentava  o Motor diesel de 6 cilindros em linha, com 11.000 cm³ (11 litros) com 203 cv (cavalos) a 2.200 rpm (versão naturalmente aspirada) ou 256 cv com turboalimentação (L-110 Super). O motor utilizava injeção direta e, a partir de 1961, a Scania ofereceu a opção de turbo-diesel, elevando significativamente o desempenho. Estava disponível em três opções de entre eixos : LB-110: Versão 4x2 (tração simples, duas rodas traseiras). LBS-110: Versão 6x2 com eixo de apoio (tração simples, eixo traseiro adicional elevável).  LT-110: Versão 6x4 com tração tandem (duas rodas traseiras motrizes). Apresentaria ainda chassi: reforçado, projetado para operações pesadas, com opções de diferentes alturas e configurações modulares e suspensão dianteira e traseira com feixes de molas (suspensão a ar não era padrão na época). No final de 1969, por razões estratégicas de posicionamento no mercado global, a matriz sueca optou por simplificar a identidade da marca, reduzindo o nome Scania-Vabis para simplesmente Scania, uma mudança adotada em escala mundial. No ano seguinte, a empresa uniu forças com a Saab AB, renomada fabricante sueca de automóveis e aeronaves, formando a Saab-Scania AB. No Brasil, a subsidiária passou a ser conhecida como Saab-Scania do Brasil S.A. – Veículos e Motores. Essa parceria, que fortaleceu a sinergia entre as empresas, perdurou até 1995, quando foi desfeita. Esse período marcou uma fase de notável crescimento para a operação brasileira da Scania. A subsidiária expandiu sua presença tanto no mercado interno quanto no externo, alcançando a notável façanha de exportar blocos de motor e bombas de óleo para a própria matriz sueca. Em 1971, a produção atingiu a marca de 1.115 veículos, superando pela primeira vez de forma consistente o patamar de mil unidades – feito que, até então, só havia sido alcançado em 1963 e 1966. A trajetória ascendente continuou, com um crescimento expressivo de 36,8% na produção em 1972. Em 1976, a fábrica de São Bernardo Oculus atingiu 4.571 unidades produzidas, embora fatores conjunturais do país, como instabilidades econômicas, adiassem a superação da barreira de 5.000 veículos para 1986. Esse cenário de expansão trouxe um marco histórico em 1975, quando a filial brasileira superou, pela primeira vez, as vendas da matriz sueca. Esse feito, inicialmente excepcional, tornou-se cada vez mais frequente nas décadas seguintes, consolidando a operação brasileira como um pilar estratégico para a Scania global. A combinação de inovação, qualidade e adaptação às demandas do mercado brasileiro posicionou a empresa como referência no setor de veículos pesados, com reflexos que ecoam até os dias atuais.

Emprego na Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro vivenciou um notável avanço em sua capacidade de mobilização, impulsionado pela aquisição de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos por meio da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). Esses veículos, essenciais para as operações logísticas da época, fortaleceram significativamente a prontidão da Força Terrestre. Contudo, ao final da década de 1950, a frota enfrentava sérios desafios que comprometiam sua operacionalidade. Dois fatores principais contribuíam para essa situação: o desgaste natural, decorrente do uso intensivo durante e após o conflito, e a crescente dificuldade na obtenção de peças de reposição, uma vez que os modelos, como o GMC CCKW e o Studebaker US6G, haviam sido descontinuados nos Estados Unidos há mais de uma década. Essa conjuntura gerava preocupação no comando do Exército Brasileiro, que reconhecia a urgência de soluções para restaurar a eficiência logística da Força. Diante desse cenário, foram minuciosamente avaliadas alternativas para modernizar a frota. A possibilidade de repotencializar os caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foi cuidadosamente estudada, mas, após análise, não recebeu recomendação para implementação, devido aos elevados custos e à obsolescência tecnológica dos modelos. Em contrapartida, a adoção de caminhões comerciais adaptados para uso militar emergiu como uma solução prática e viável. Essa estratégia permitia otimizar a frota existente ao direcionar os veículos militares com tração 6x6, ainda em melhores condições, para missões táticas e estratégicas em terrenos fora de estrada, enquanto os caminhões comerciais assumiam funções de apoio, como o transporte de cargas leves. Essa abordagem, já utilizada desde a década de 1930 com veículos comerciais de pequeno porte, destacava-se pelo baixo custo de aquisição, operação e manutenção, alinhando-se às restrições orçamentárias da Força Terrestre. Para atender à demanda por caminhões médios, o Ministério do Exército optou por veículos produzidos pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa pivotal no fortalecimento da indústria automotiva brasileira. No final da década de 1960, o processo de renovação da frota do Exército Brasileiro avançava a passos largos, com a aquisição de um grande número de veículos fabricados por diversas montadoras nacionais. Essa iniciativa atendia de forma satisfatória às necessidades orçamentárias, oferecendo veículos de baixo custo e manutenção acessível. Contudo, embora essa renovação suprisse as demandas básicas de transporte, beneficiando não apenas o Exército, mas também as demais Forças Armadas Brasileiras, permanecia evidente a necessidade de dotar a Força Terrestre com uma frota significativa de caminhões pesados com tração 6x6, projetados especificamente para operações militares e capazes de atuar com eficácia em ambientes fora de estrada. Neste contexto restava a dúvida se a indústria nacional seria capaz de produzir um veículo militar desta natureza, devendo atender aos rígidos padrões operacionais, mantendo ainda um valor de aquisição aceitável. Este questionamento começaria a cair por terra em 1966, com a introdução em serviço dos novos modelos MB L-1111 L-1113 L-1114, com tração integral 4X4 produzidos pela Mercedes Benz do Brasil, sendo este o primeiro caminhão “militarizado” a contemplar significativos reforços estruturais no chassi e na cabine, com adoção de carroceira militar, para-choques reforçados e instalação de gancho hidráulico na traseira para reboque com capacidade máxima de 21.650 kg de carga na carroceria. 

Seu sucesso operacional em ambientes fora de estrada, clarificaria o real potencial da indústria nacional em conceber e produzir veículos militares com tração integral de transporte de médio e grande porte.  Na década de 1970, a empresa paulista Engesa S/A (Engenheiros Especializados S/A) consolidava sua reputação no setor automotivo, destacando-se pela excelência no desenvolvimento de suspensões e sistemas de tração integral (4x4 e 6x6) voltados para operações em ambientes fora de estrada. Esse expertise chamou a atenção do comando do Exército Brasileiro, que reconheceu o potencial da Engesa para atender à crescente demanda por veículos militares robustos e adaptados às necessidades operacionais da Força Terrestre. Nesse contexto, no final de 1970, o Ministério do Exército lançou uma consulta às principais montadoras nacionais, buscando o desenvolvimento de um caminhão pesado de perfil genuinamente militar, equipado com tração integral 6x6. Apenas duas empresas responderam ao chamado: a Mercedes-Benz do Brasil e a Saab-Scania do Brasil S.A., ambas com portfólios que já incluíam veículos dessa categoria. Em maio de 1971, a equipe de projetos da Saab-Scania do Brasil apresentou ao Exército um protótipo militarizado baseado no modelo Scania LT-110 6x6, incorporando o avançado sistema de tração total e a suspensão tipo Boomerang desenvolvidos pela Engesa S/A. O veículo contava com um eixo dianteiro tracionado e uma transmissão traseira do tipo “bogie” (MG-HD4/12 G-10), com eixos traseiros equipados com diferencial bloqueável. O conjunto era complementado por uma carroceria militar especialmente projetada. Caso aprovado, o caminhão teria como missão principal tracionar peças de artilharia de grande porte, como os obuseiros M-114 de 155 mm, de origem norte-americana, e os Vickers Armstrong de 152,4 mm, de fabricação inglesa. Secundariamente, o veículo seria empregado no transporte de cargas pesadas, com destaque para o apoio aos Batalhões de Engenharia de Construção (BEC). Em parceria com a Engesa S/A, a Saab-Scania produziu dois protótipos, que foram submetidos a rigorosos testes no final de 1971. Esses veículos foram avaliados em cenários comparativos contra os protótipos Mercedes-Benz Engesa MB LG-1519 e MB LG-1819. Apesar do desempenho notável do modelo Scania, os caminhões da Mercedes-Benz saíram vitoriosos nessa concorrência, sendo selecionados para atender às necessidades do Exército Brasileiro. Apesar do resultado adverso na concorrência anterior, a Saab-Scania do Brasil S.A. manteve-se determinada em seu objetivo de se consolidar como fornecedora das Forças Armadas Brasileiras. Essa ambição foi reforçada ainda em 1971 com o lançamento do chassi Scania B-110, o primeiro da marca equipado com suspensão pneumática. Essa inovação, aliada à reconhecida potência e robustez do modelo, representou um avanço significativo, posicionando a Scania como referência em tecnologia automotiva no segmento de veículos pesados. 
Naquele momento, o Exército Brasileiro enfrentava a necessidade de renovar e ampliar sua frota de caminhões do tipo cavalo mecânico, classificados pela Força Terrestre como Trator sob Rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral (VTTNE). A frota existente era composta por um número limitado de veículos norte-americanos, como os Diamond T-980, Corbitt-White G-512 modelo 50SD6 e Pacific M-26/M-25 Dragon Wagon (este último retirado de serviço em 1970), além de modelos nacionais produzidos pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), como o FNM D-11000. A expansão da frota visava atender à crescente demanda dos Regimentos de Carros de Combate (RCC) e Batalhões de Infantaria Blindada (BiB), que necessitavam de veículos robustos para o transporte rodoviário de longa distância dos blindados, VBTP M-113 e carros de combate  M-3 Stuart e M-41 Walker Bulldog, amplamente utilizados pelo Exército Brasileiro. Nesse contexto, a Saab-Scania do Brasil apresentou um protótipo militarizado do cavalo mecânico Scania Engesa 110 Super 6x6, com capacidade para 17 toneladas. O veículo incorporava o avançado sistema de suspensão tipo Boomerang desenvolvido pela Engesa S/A, garantindo maior desempenho em operações fora de estrada. Como diferencial, o protótipo incluía um guincho hidráulico posicionado atrás da cabine, inspirado nos caminhões militares norte-americanos Pacific M-26 e M-25 Dragon Wagon. Esse sistema era complementado por correntes, cabos de reboque, polias hidráulicas de 10 e 20 toneladas e outros acessórios projetados para a recuperação de veículos blindados leves e médios em campo. O protótipo foi submetido a testes pelo Exército Brasileiro, recebendo elogios de oficiais pela sua versatilidade e desempenho. No entanto, a customização para uso complementar como veículo de socorro fora de estrada elevava significativamente os custos de produção, tornando-o inviável para aquisição em larga escala. Diante disso, a proposta foi descartada, e a demanda do Exército voltou a se concentrar na aquisição de um cavalo mecânico voltado exclusivamente para transporte rodoviário, priorizando eficiência e viabilidade econômica. Em 1972, o Exército Brasileiro deu inicio a  sua parceria com a Saab-Scania do Brasil S.A. ao adquirir os primeiros sessenta caminhões "cavalo mecânico"  Scania 110 Super 6x6. Estavam equipados com um motor a diesel, 6 cilindros em linha, com 11.000 cm³, apresentando uma potencia de até 256 cv a 2.200 rpm (turboalimentado) com um torque aproximadamente  de 96 m.kgf (708 lb.ft.) a 1.500 rpm. Possuia uma caixa de transmissão sincronizada, com 5 marchas e redutor (10 velocidades com splitter opcional), acionada pneumaticamente para maior facilidade de uso. Sua tração integral 6x6, com eixo dianteiro tracionado e transmissão traseira tipo “bogie” (MG-HD4/12 G-10), equipada com diferenciais bloqueáveis para operações fora de estrada. 

Seu chassi era reforçado e foi projetado para suportar cargas pesadas e operações exigentes, com configuração modular para atender às necessidades militares. Sua suspensão pneumática tipo Boomerang, foi desenvolvida em parceria com a Engesa S/A, garantindo maior estabilidade e capacidade de operação em terrenos irregulares. Desta maneira tinha capacidade de até 17 toneladas, com possibilidade de tracionar veículos blindados de até 20 toneladas em operações rodoviárias. Complementando o pacote de militarização receberiam para-choques reforçados para maior resistência em condições adversas,  guincho Hidráulico: Instalado atrás da cabine, com capacidade de tração de até 20 toneladas, inspirado nos caminhões militares norte-americanos Pacific M-26/M-25 Dragon Wagon. Incluía correntes, cabos de reboque e polias hidráulicas de 10 e 20 toneladas para recuperação de veículos blindados leves e médios. Imediatamente, os novos caminhões foram destinados aos Regimentos de Carros de Combate (RCC), onde passaram a desempenhar um papel crucial no transporte rodoviário de blindados.  Ainda naquele ano, esses novos Tratores sob Rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral (VTTNE) foram também empregados na mobilização dos recém adquiridos obuseiros autopropulsados M-108, que passaram a integrar os Grupos de Artilharia de Campanha Autopropulsado (GACAp). O desempenho excepcional desses caminhões no Exército Brasileiro incentivou a Saab-Scania do Brasil a buscar novas oportunidades junto às Forças Armadas. Em 1976, a empresa apresentou à Marinha do Brasil uma proposta para fornecer o mesmo modelo Scania 110 Super 6x6 ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que iniciava a incorporação de seus primeiros veículos blindados, como os nacionais Engesa EE-11 Urutu e EE-9 Cascavel. Contudo, a escolha da Marinha recaiu sobre o cavalo mecânico Mercedes-Benz 1924-42 com tração 4x2, militarizado com a adoção de uma quinta roda, atendendo às suas necessidades específicas. Em 1978, o Ministério do Exército celebrou um novo contrato com a Saab-Scania do Brasil S.A. – Veículos e Motores para a aquisição de mais vinte caminhões Scania 110 Super 6x6. A partir de 1980, esses veículos passaram a tracionar modernos semirreboques militares fabricados pela empresa paulista Biselli Viaturas e Equipamentos Especiais S/A. Construídas inteiramente em aço com piso reforçado, essas pranchas rodoviárias foram projetadas para transportar veículos blindados de até 20 toneladas, como os novos Bernardini X1A e X1A2, ou até dois blindados de transporte de tropas M-113 APC. Essa aquisição representou um marco significativo para o Exército Brasileiro, possibilitando a aposentadoria dos tratores FNM D-11000 da missão de transporte de blindados e fortalecendo a capacidade logística da Força Terrestre com uma frota mais moderna e eficiente. Nos anos subsequentes, a parceria entre o Exército Brasileiro e a Saab-Scania se consolidou por meio de novos contratos, que incorporaram à frota uma ampla gama de modelos militarizados da montadora sueca, todos na configuração de cavalo mecânico. 

Entre esses modelos destacaram-se o Scania 75 (Motor Scania D-10 6 cil 165 cv Diesel) VE Guindaste Villares P&H 425-TC 6x6 1972, VE Guindaste Villares P84 6x6 1974, VE Socorro Pesado de Rodas 6x6 testes 1972) CS Bat. de Eng. e Construção, VTE Cisterna Combustível 35.000L 6x6, VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 17 Ton 6x4 / 6x6 1972, VTTNE Trator s/Rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral carroceria aberta 1975 e VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 30Ton 4X2 1973. Scania 111 “Jacaré” 1971 a 1976 (Motor Scania DS-11 202/274 cv diesel) L-111/38 - VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 30/40 Ton 4x2 1971, VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 30/40 Ton 4x2 1978 Scania 112 (Motor Scania 303/305 cv diesel). T-112H VTNE Furgão Carga Emprego Geral 25 Ton 6x2 1984(recebido por doação/cessão). T-112H/HW 1989 a 1991 VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Hospital de Campanha, VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 35 Ton 4x2 1990/94/95/96 VTNE Furgão Carga Emprego Geral 25 Ton 4x2 1984. Scania 113 (Motor Scania Diesel) L-113/08 VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral Ton 4x2 Semi reboque tanque de combustível 25.0000L óleo diesel EB-30. T-113H VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 35 Ton 4x2 1994/96/97, VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral Ton 4x2 Semi reboque tanque de combustivel 25.0000L diesel CM Bat. de Eng. e Construção -Scania 114 1999 a 2005 (Motor Scania DSC-11-74 turbo 6 cil 322 cv) - Scania 115 (Motor Scania DS-11 202/274 cv Diesel) L- 115/38 VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 40 Ton 6x4 1971 EB-30 . Scania R-124 (Motor Scania Diesel) VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 57 ton 6X2 2004. Scania T-124 GA4X2-NZ360 1998 a 2005 (Motor Scania DSC-12-02 turbo intercooler 6 cil 360 cv diesel VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 66 Ton 4x2 2000/2003.  Scania LK-141 (Motor Scania V8 375 cv diesel) VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral Ton 1996. - Scania 142 T-142HS 1987 a 1989 (motor Scania V8 DSC14 400 cv diesel) VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 30 Ton 4X2. T-142EW 1989 a 1991 (Motor Scania 411 cv) VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 6x4 1987. Scania 340 (Motor Scania Diesel 340 cv diesel) VTE Betoneira 8x8 . Scania DS11R Ap Cl 1 Verolme (Motor Scania DS-11R Diesel) VE Combate a Incêndio 5 ½ Ton 4x4 1976/89. Esses veículos foram amplamente utilizados não apenas no transporte de blindados, mas também em funções logísticas nos Batalhões de Suprimento (BSUP), tracionando carretas frigoríficas e de transporte de cargas, atendendo às demandas operacionais com versatilidade e confiabilidade. Nesse mesmo período, a Força Aérea Brasileira (FAB) também reconheceu a qualidade dos caminhões Scania, adquirindo pelo menos cinco cavalos mecânicos para uso nos Parques de Manutenção da Aeronáutica (PAMA). A partir da década de 1990, a hegemonia da Scania no fornecimento de caminhões do tipo cavalo mecânico para o Exército Brasileiro começou a ser desafiada com a entrada da Volvo do Brasil S/A, especialmente com o modelo NL 12 360. Esses veículos passaram a dividir as tarefas de transporte de blindados e cargas com outros modelos, como os Mercedes-Benz AXOR 3344 e 2644, Ford Cargo 1933 e, de maneira mais expressiva, o Iveco Stralis 410 NR. 

Em Escala.
Para representarmos Trator sob rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral (VTTNE) - Scania 110 Super 6x6 17 toneladas empregado pelo Exército Brasileiro, fizemos uso do excelente kit artesanal em metal e plástico injetado, produzido pela Fusaro Trucks na escala 1/43. Para adequarmos o modelo a versão militarmos procedemos a inclusão do sistema de guincho e mecânico e filtro de ar complementar, e completamos o conjunto com uma carreta semi reboque confeccionada em scratch. Fizemos uso de decais produzidos pela Decal & Books, presentes no set especial “Forças Armadas do Brasil 1983 – 2002”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático camuflado em dois tons, empregado na maioria dos veículos em uso no Exército Brasileiro a partir do ano de 1983. Anteriormente estes veículos ostentavam o padrão anterior da Força Terrestre, totalmente em verde oliva, a exemplo do esquema tático norte-americano utilizado durante Segunda Guerra Mundial. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia :
- Scania Vabis do Brasil  Lexicar - http://www.lexicarbrasil.com.br/scania/ 
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes 
- Exército Brasileiro - http://www.exercito.gov.br 



GMC Duwk 353 & Camanf Bisseli


História e Desenvolvimento.
A General Motors Corporation, uma das maiores e mais renomadas montadoras de veículos em escala global, foi fundada em 16 de setembro de 1908 por William C. Durant, um bem-sucedido empresário do setor de carruagens. A companhia teve início na cidade de Flint, no estado de Michigan, como um modesto empreendimento voltado para o emergente mercado automotivo. Rapidamente, o negócio prosperou e, em sua trajetória de expansão, incorporou empresas de prestígio, como a Buick Company e, posteriormente, a Oldsmobile Company, ambas reconhecidas pela confiança e respeito no mercado norte-americano. Nos anos seguintes, a General Motors ampliou seu portfólio com a aquisição de outras marcas, destacando-se a Cadillac Motor Car Division, símbolo de luxo e sofisticação, que passou a operar em conjunto com a recém-criada Pontiac, uma marca premium da companhia. Contudo, o ritmo acelerado de crescimento trouxe desafios, incluindo divergências frequentes entre William Durant e os demais acionistas, o que culminou em sua saída da empresa. Em 1911, movido por sua vocação empreendedora, Durant fundou, em parceria com o mecânico e piloto suíço Louis Chevrolet, a Chevrolet Motor Company of Michigan. No mesmo ano, foi lançada a marca GMC, dedicada à produção e comercialização de caminhonetes e caminhões leves. Paralelamente às fusões e aquisições, a General Motors passou a explorar oportunidades no mercado internacional. Em maio de 1918, a companhia estabeleceu sua primeira operação comercial no Canadá, uma iniciativa que obteve resultados positivos e incentivou a abertura de filiais em diversos outros países. Em 1919, a empresa incorporou a Frigidaire Company, tradicional fabricante de refrigeradores, marcando sua entrada em um setor não automotivo, como parte de sua estratégia de expansão global. A partir da década de 1920, a General Motors passou a desempenhar um papel significativo no setor militar, fornecendo grandes quantidades de caminhões com tração integral às Forças Armadas dos Estados Unidos. Modelos como o Chevrolet G-506 e G-621, com trações 4x4 e 6x2, destacaram-se nesse contexto. Na década seguinte, a evolução tecnológica no setor automotivo levou o Exército dos Estados Unidos a iniciar um amplo processo de modernização de suas forças motomecanizadas. Esse plano incluiu a aquisição em larga escala de uma nova família de caminhões com tração 6x6, destinada a substituir ou complementar modelos em uso, como os Chevrolet G-506, G-621, Dodge e Ford G-540. Em meados da década de 1930, o agravamento das tensões internacionais, impulsionado pelas políticas expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, gerou um estado de alerta nas autoridades norte-americanas. Apesar das restrições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, firmado em 1918, tornou-se evidente que o país estava comprometido com um amplo processo de rearmamento, com ênfase no desenvolvimento de uma capacidade motomecanizada eficaz. 

Esse esforço visava conferir às forças terrestres alemãs uma mobilidade excepcional, materializada no inovador conceito de "Guerra Relâmpago" (Blitzkrieg), que logo se tornaria conhecido mundialmente.  Diante dessas percepções geopolíticas, os comandantes militares dos Estados Unidos reconheceram a necessidade urgente de fortalecer suas forças armadas, sendo a motomecanização um dos pilares centrais dessa estratégia. Nesse contexto, em julho de 1939, foi lançada uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caminhão com tração integral 6x6, que deveria atender a requisitos específicos, incluindo uma área de carga útil de 3,7 metros e capacidade de transporte de até 2.268 kg. Diversas montadoras, como Ford Motors, General Motors, Studebaker Corporation, Corbitt Automobile, REO Motors, Federal Motors, Biederman Motors e Kenworth Motors, apresentaram propostas, que foram minuciosamente avaliadas por uma equipe técnica do Corpo de Armas do Exército dos Estados Unidos (United States Army Ordnance Corps). Após a análise, apenas os projetos da Ford Motors e da General Motors foram considerados promissores, dado o histórico consolidado dessas empresas na produção de caminhões militarizados para as forças armadas norte-americanas. A concorrência foi concluída em janeiro de 1940, com a proposta da General Motors sendo declarada vencedora. O modelo apresentado baseava-se no GMC ACKWX 353 6x6, desenvolvido em 1939 para o Exército Francês (Armée de Terre). Diferentemente de seu antecessor, o novo modelo incorporava a cabine do caminhão comercial Chevrolet G-506 e apresentava extensas modificações e aprimoramentos na plataforma original, de modo a atender integralmente aos parâmetros estabelecidos na concorrência. No início da Segunda Guerra Mundial, as conquistas territoriais do Eixo destacaram a necessidade de operações anfíbias para a retomada de territórios. A logística de suporte às forças invasoras tornou-se essencial, demandando veículos capazes de operar em ambientes aquáticos e terrestres. O caminhão anfíbio foi projetado para ser lançado de navios de desembarque, transportando cargas e pessoal até as praias, eliminando a dependência de portos improvisados. Sua estrutura em forma de barco e tração 6x6 permitiam mobilidade em águas agitadas e terrenos acidentados. Iniciado em 1941, o projeto foi coordenado pelo Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional e pelo Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, com liderança dos engenheiros Roderick Stephens Jr., Dennis Puleston (Sparkman & Stephens, Inc.) e Frank W. Speir (MIT). O veículo foi baseado no chassi do caminhão General Motors AFKWX, um modelo cab-over-engine de 2,5 toneladas com tração 6x6. Um casco estanque e uma hélice foram adicionados para garantir funcionalidade anfíbia, mantendo a compatibilidade com peças de reposição de plataformas existentes. A concepção do caminhão anfíbio respondeu à necessidade de agilidade logística, permitindo o rápido reabastecimento das linhas de frente e reforçando a capacidade operacional das forças aliadas em cenários de desembarque.
A concepção do caminhão anfíbio respondeu à necessidade de agilidade logística, permitindo o rápido reabastecimento das linhas de frente e reforçando a capacidade operacional das forças aliadas em cenários de desembarque junto as praias. Estaria equipado com um motor a gasolina GMC Model 269 de seis cilindros em linha de 5,4 (270 L), acoplado a uma transmissão overdrive de cinco velocidades, que acionava uma caixa de transferência para a hélice e, em seguida, uma caixa de transferência de duas velocidades para acionar os eixos. A hélice e o eixo dianteiro eram selecionáveis a partir de sua caixa de transferência. O primeiro protótipo seria completado no início do ano seguinte, recebendo o codinome militar de DUWK, sendo a letra D referente ao ano de 1942, U de utilitário, K de veículo sobre rodas e a letra W referente a seus dois eixos de hélice. Em seguida seria disponibilizado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aplicação em um programa de testes, porém apesar de promissores resultados este programa seria inicialmente rejeitado pelos oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). No entanto este conceito seria superado em um evento, quando uma lancha de patrulha da Guarda Costeira dos Estados Unidos, encalharia em um balcão de areia nas cercanias de Provincetown, no estado de Massachusetts. Neste momento um protótipo deste modelo estava próximo a esta área, e mesmos os ventos de até 60 nós (110 km/h) chuva e ondas pesadas que impediam que as embarcações convencionais resgatassem os sete homens, não limitariam que este novo veículo executasse esta tarefa com êxito. Este inusitado evento derrubaria toda e qualquer oposição militar ao emprego do caminhão anfíbio GMC 353 Duwk, com este programa recebendo sinal verde para continuidade. Assim seu projeto final de produção seria aperfeiçoado pela equipe de engenharia da Yellow Truck & Coach em Pontiac, Michigan. Entre os refinamentos seria incorporado um sistema de bomba de porão de alta capacidade, que manteria a tona o veículo, se o casco fino fosse rompido por furos de até 2 polegadas (51 mm) de diâmetro. Seria também o primeiro caminhão militar a dispor de um sistema de controle de pressão dos pneus, sendo operado remotamente pelo motorista, permitindo assim a para adaptação dos pneus em ambientes de terrenos diversos, como de areia, para desembarque nas praias, estradas de terra e estradas pavimentadas. Os primeiros contratos de fornecimento seriam celebrados em regime emergencial, com sua produção sendo destinada principalmente as fábricas da General Motors Corporation, tendo em vista que neste momento as linhas da Yellow Truck and Coach Corporation estava praticamente ocupadas pela produção dos caminhões GMC CCKW 352 e CCKW 353. As primeiras entregas seriam priorizadas ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC) para futuro emprego no teatro de operações do Pacífico, com os lotes subsequentes sendo destinados ao Exército dos Estados Unidos (US Army).

Seu batismo de fogo ocorreria em de agosto de 1942, quando do inicio da Campanha de Guadalcanal.  Durante a invasão de 7 de agosto de 1942, os DUKWs ainda estavam em fase de teste e produção, com um número limitado disponível. No entanto, a partir de setembro de 1942, pequenos contingentes de DUKWs foram empregados para transportar suprimentos, como munições, alimentos e combustível, das praias para as posições aliadas, especialmente em torno do Campo Henderson. Sua capacidade de operar em águas rasas e praias rochosas foi crucial, dado que as condições do terreno dificultavam o uso de veículos convencionais. Os DUKWs foram usados para manter o fluxo de suprimentos em um ambiente onde os japoneses frequentemente bombardeavam as praias e os navios de apoio. Com capacidade de carga de até 2.268 kg (5.000 libras) ou 25 soldados equipados, o DUKW permitia o transporte rápido de recursos essenciais, como suprimentos médicos e peças de artilharia, diretamente dos navios para depósitos improvisados. Além do transporte de carga, os DUKWs ocasionalmente serviram como plataformas improvisadas para evacuação de feridos e até como suporte para operações de reconhecimento costeiro, aproveitando sua mobilidade anfíbia. Sua bomba de porão de alta capacidade, capaz de lidar com perfurações de até 51 mm no casco, garantiu operação contínua mesmo em condições adversas. Neste mesmo teatro de operações, os GMC Duwks seriam empregados em travessias de áreas de recifes de corais como Saipan e Guam, com seus pneus e cascos não sendo afetados por estas formações naturais.  Os caminhões anfíbios GMC DUKW, desempenharam um papel crucial durante a invasão da Sicília, codinome Operação Husky, realizada entre 9 de julho e 17 de agosto de 1943. Esta operação marcou a estreia do DUKW no teatro de operações europeu, sendo um dos primeiros usos em larga escala de veículos anfíbios em uma invasão aliada. Durante os primeiros três dias da invasão, os DUKWs foram amplamente utilizados para desembarcar tropas, veículos e suprimentos nas praias da Sicília, particularmente nas áreas de Gela, Licata e Scoglitti, onde o Sétimo Exército concentrou seus esforços. O sucesso dos DUKWs na Sicília foi tão significativo que o General Dwight D. Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas, descreveu o veículo como "um dos equipamentos mais valiosos produzidos pelos Estados Unidos durante a guerra". O General George S. Patton também utilizou cerca de 1.000 DUKWs em uma missão de reabastecimento durante a campanha, destacando sua versatilidade. O comandante aliado General Harold Alexander afirmou que "o DUKW revolucionou o problema de manutenção nas praias", facilitando o suporte logístico às tropas em avanço. Além de seu uso logístico, os DUKWs foram empregados em diversas funções, como plataformas de artilharia e veículos de evacuação médica, demonstrando sua versatilidade. Sua capacidade de operar sob fogo inimigo e em condições adversas contribuiu para o rápido estabelecimento de cabeças de praia, permitindo que o Sétimo Exército avançasse para Palermo em 22 de julho, cortando as forças italianas na metade oeste da ilha.
No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), foram fornecidos 2.000 caminhões anfíbios GMC DUKW ao Reino Unido e 535 à Austrália. Esses veículos foram amplamente utilizados durante a segunda onda de desembarques nas praias da Normandia, na Operação Overlord, em junho de 1944, e posteriormente na Operação Dragoon, no sul da França, em 15 de agosto do mesmo ano. Nessas operações, o DUKW demonstrou notável navegabilidade, cruzando o Canal da Mancha com eficiência. Posteriormente, participou de operações cruciais, incluindo a Batalha do Escalda, a Operação Veritable e a Operação Plunder. Nessas campanhas, as cabeças de ponte anfíbias eram extremamente vulneráveis a contra-ataques inimigos, e o risco de esgotamento de munições pelas unidades desembarcadas era iminente. Nesse contexto, o DUKW desempenhou um papel indispensável, transportando suprimentos dos navios para terra e realizando a evacuação médica de feridos das praias para navios-hospital. Próximo ao fim do conflito, os DUKWs foram utilizados pela 10ª Divisão de Montanha do Exército dos Estados Unidos na travessia do Lago de Garda, na Itália. Durante essa operação, um veículo afundou na travessia de Torbole sul Garda para Riva del Garda, na noite de 30 de abril de 1945. Até o final de 1945, as plantas industriais da Yellow Truck and Coach Co. (posteriormente GMC Truck and Coach Division após 1943), Pontiac West e Chevrolet Division da General Motors Corporation produziram um total de 21.147 unidades do DUKW. Após a Segunda Guerra Mundial, um número reduzido permaneceu em serviço nos Estados Unidos, Reino Unido, França e Austrália, enquanto a maioria foi armazenada para descarte ou reciclagem de materiais. Em 1946, uma quantidade significativa foi transferida para a França, sendo empregada pelas Troupes de Marine em tarefas de transporte nos territórios ultramarinos franceses. Com o início da Guerra da Coreia (1950-1953), pelo menos 400 DUKWs foram reativados. O 1º Grupo de Treinamento de Substituição de Transporte foi responsável pelo treinamento das tripulações, e os veículos foram extensivamente utilizados para transporte de suprimentos durante a Batalha do Perímetro de Pusan e nos desembarques anfíbios em Incheon. O Reino Unido empregou seus DUKWs durante a Emergência Malaia (1948-1960) e, posteriormente, realocou alguns para Bornéu durante o Confronto Indonésia-Malásia (1962-1966). Na França, os DUKWs foram utilizados durante a Primeira Guerra da Indochina (1946-1954). Na década de 1970, alguns receberam novos cascos, permanecendo em serviço até sua aposentadoria final em 1982. Notavelmente, cinco DUKWs foram mantidos em condições operacionais pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha Real Britânica (Royal Marines) até 2012.

Emprego na Marinha do Brasil
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A capitulação da França em junho de 1940 intensificou essas inquietações, uma vez que a ocupação nazista de territórios franceses, como as Ilhas Canárias, Dacar e outras colônias, poderia viabilizar a criação de bases operacionais próximas às Américas. Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão pelo Eixo, sobretudo devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também integrava os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul posicionaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, item crítico para a indústria bélica. Esse contexto precipitou uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordos de cooperação. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), cujo objetivo primordial era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Por meio desse acordo, o Brasil obteve uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões para a aquisição de equipamentos bélicos, incluindo armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Nesse contexto, a Marinha do Brasil foi contemplada com um significativo aporte de meios navais, embora o foco estivesse predominantemente voltado para operações de guerra antissubmarino (ASW). Essa priorização, no entanto, limitou o desenvolvimento de outras capacidades navais, especialmente aquelas relacionadas ao combate anfíbio. A estrutura para operações anfíbias, embora representasse uma aspiração de longa data no comando da Marinha Brasileira, não recebeu a mesma atenção em termos de navios e equipamentos específicos para missões diversificadas. O interesse em desenvolver essa capacidade tornou-se ainda mais evidente ao final do conflito, em agosto de 1945, quando a importância das operações anfíbias foi amplamente reconhecida. Assim logo no ano seguinte, no âmbito da Marinha do Brasil, seriam dados os primeiros passos no processo de constituição de uma força de combate anfíbia nos moldes do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), que obtivera amplo sucesso em operações de desembarque durante o conflito nos teatros de operações da África, Europa e Pacífico.  Estas campanhas serviriam ao propósito de estudo e apresentação de uma doutrina de guerra anfíbia que, em breve, passaria a servir de farol para a criação de uma força terrestre, que estava prestes a ser gerida. 

A criação de uma força anfíbia inspirada no modelo do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC) demandava transformações significativas nos paradigmas do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Naquela época, os preceitos doutrinários da força de infantaria do CFN derivavam, em grande parte, do aprendizado obtido em cursos de aperfeiçoamento de oficiais realizados no Exército Brasileiro. Além disso, o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) carecia dos meios necessários para executar operações de desembarque anfíbio, incluindo não apenas veículos terrestres com características anfíbias, mas, sobretudo, navios e embarcações de desembarque essenciais para tais missões. A significativa contribuição brasileira ao esforço de guerra aliado durante a Segunda Guerra Mundial fortaleceu os laços com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), possibilitando os primeiros programas de intercâmbio. Nesse contexto, grupos de oficiais brasileiros foram enviados aos Estados Unidos para participar de cursos e estágios, onde absorveram a doutrina operacional de guerra anfíbia empregada pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). Ao retornarem ao Brasil, esses militares, imbuídos de novos conhecimentos, assumiram o papel de instrutores, atuando como multiplicadores nas escolas de formação da Marinha do Brasil e promovendo um ambiente propício às mudanças necessárias. Contudo, a implementação prática desses ensinamentos enfrentava obstáculos, exigindo o uso improvisado dos limitados meios de desembarque disponíveis à época. Na década de 1950, a consolidação de uma estrutura de combate anfíbio tornou-se uma prioridade estratégica. Os primeiros passos foram dados com a aprovação de uma nova regulamentação para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que representou uma profunda reorientação doutrinária, preparando a força para alcançar plena capacidade operativa, com ênfase em operações anfíbias. Essa regulamentação instituiu a Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), embora não determinasse o início imediato das operações, mas apenas sua necessidade futura. A partir de meados da década, a Marinha do Brasil recebeu os primeiros navios especializados em transporte de tropas e materiais, incluindo o G-20 Custódio de Mello, G-16 Barroso Pereira, G-21 Ary Parreiras e G-22 Soares Dutra, além de embarcações de desembarque de pessoal, material e viaturas (EDVP e EDVM). Esses meios navais estabeleceram as bases para a realização de operações anfíbias em larga escala.
Nesse período, foram adquiridos os primeiros veículos destinados a operações de desembarque anfíbio, incluindo os jipes M-38A1, M-38A1C, Willys CJ-5 (nacionais militarizados) e utilitários leves Dodge M-37, que passariam a operar a partir das Embarcações de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM). Iniciaram-se os primeiros ciclos de adestramento, focados em desembarques de baixa complexidade, envolvendo tropas, veículos leves, peças de artilharia e cargas. Dentre esses exercícios, destacam-se a Operação Brisa, realizada em outubro de 1959, e a Operação Corvina, em novembro do mesmo ano, ocasião em que foi ativado, pela primeira vez, o Destacamento de Praia. Em setembro de 1960, a Operação Arfagem marcou outro avanço no treinamento anfíbio. Paralelamente a esses exercícios, as unidades da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) participaram de manobras interaliadas, que proporcionaram aos oficiais e praças maior conhecimento e experiência em guerra anfíbia moderna. Essas atividades fortaleceram a capacidade de projeção militar do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), criando as condições operacionais necessárias para a realização de operações de maior envergadura. Assim, no início de 1964, foi conduzida, no litoral do estado do Espírito Santo, a primeira edição da série de Operações Dragão. Essa operação envolveu o desembarque de uma tropa percussora helitransportada a partir do porta-aviões ligeiro A-11 Minas Gerais, seguida pela projeção terrestre, em um período de dez horas (incluindo a movimentação navio-terra por superfície), de 800 militares, 20 viaturas leves M-38A1 e M-37 e quatro obuseiros M-3A3 de 105 mm na cabeça de praia. Esses exercícios evidenciaram a necessidade de veículos anfíbios sobre esteiras, capazes de projetar tropas ou cargas diretamente nas praias e transportá-las para a linha de frente após o estabelecimento da cabeça de ponte. No mercado de defesa da época, destacavam-se os veículos ranfibios norte-americanos LVTP-5 (veículo de desembarque de pessoal) e os blindados de transporte de tropas FMC M-113 (com menor capacidade anfíbia). Contudo, apesar de serem modelos aspiracionais, seus custos de aquisição excediam as possibilidades orçamentárias da Marinha do Brasil. Diante disso, no final da década de 1960, começaram a ser avaliadas opções alternativas de "compras de oportunidade" de material bélico que se adequassem aos recursos financeiros disponíveis. Essa análise culminou na consideração da aquisição de caminhões anfíbios GMC 353 DUKW, que, embora oriundos da década de 1940, ainda estavam disponíveis em grande quantidade e relativo estado de conservação  no mercado internacional.

Dentre as opções existentes, chamaria a atenção a uma proposta apresentada em 1972, pelo governo francês, para o fornecimento de um lote de caminhões anfíbios deste modelo. A Marinha Nacional Francesa (Marine Nationale) após o término da Segunda Guerra Mundial ser tornara o segundo maior operador dos caminhões GMC Duwk, dispondo ainda neste período de uma grande quantidade destes veículos em sua frota. As as tratativas comerciais serem finalizadas, uma comitiva de oficiais brasileiros seria enviada a base naval de Angoulême, sede do 1º Regimento de Infantaria de Fuzileiros Navais (1º RIMa), para proceder a escolha de trinta e quatro caminhões deste modelo, tomando como critério o estado de conservação. Neste meio tempo seria negociado junto a empresa brasileira Novatração Artefatos de Borracha Ltda, um contrato para revitalização e revisão destes veículos, com esta empresa passando a alugar instalações de manutenção no porto de Antuérpia localizado em Flandres na Bélgica. Este processo seria conduzido com pleno êxito, com os trinta e quatro caminhões sendo então despachados por via naval ao Brasil e dezembro do ano de 1973. Após seu recebimento e incorporação junto a frota do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, os caminhões GMC Dukw, receberiam a designação de Caminhão Anfíbio - CAMANF. Após a realização do treinamento de seus condutores e equipes de manutenção estes veículos seriam destacados para operação do  Batalhão de Blindados do Corpo de Fuzileiros Navais, sediado no Rio de Janeiro. Com a adoção deste caminhão, seria possível enfim implementar completamente a doutrina de desembarque anfíbio, empregando os GMC Duwk da mesma maneira, que foram operados nas grandes campanhas durante a Segunda Guerra Mundial, realizando o reabastecimento rápido de suprimentos e munição para as tropas nas cabeças de ponte. Sua excelente capacidade de transporte de carga (incluindo até um jipe leve) ou de até cinquenta e nove soldados totalmente equipados, seriam de extrema importância na consolidação da doutrina de operações de transporte e desembarque de tropas das forças anfíbias. Ao longo dos anos seguintes os GMC Duwk participariam ativamente de exercícios operacionais de grande escala, como as operações Dragão.  Apesar desta boa performance operacional, estes veículos haviam sido produzidos há mais de trinta anos e já apresentavam o peso da idade, com este fator agravado por problemas no fluxo de peças de reposição do motor a gasolina GMC 270. Esta combinação de fatores passaria a gerar altos índices de indisponibilidade da pequena frota existente. Inicialmente no ano de 1975, pensou-se em aplicar um processo de revitalização e remotorização da frota existente (a exemplo do que foi realizado pelo Exército Brasileiros com com os caminhões GMC CCKW e Studebaker).  Porém posteriormente aferiu-se que o estado de conservação da grande maioria dos GMC Duwk era precário, levantando-se assim dúvidas sobre a viabilidade econômica de um tal programa. 
Nesse contexto, surgiu a iniciativa de desenvolver um veículo anfíbio nacional, inspirado em esforços semelhantes realizados na União Soviética durante a década de 1950. Para atender a essa demanda estratégica, o Ministério da Marinha passou a consultar empresas nacionais. A companhia paulista Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda. respondeu a esse programa, celebrando um contrato para o desenvolvimento de uma nova viatura anfíbia. O acordo previa a produção de 25 caminhões anfíbios e a reforma de quatro GMC DUKWs em melhores condições de conservação. O chassi selecionado foi o do caminhão nacional Ford F-7000 6x6, que passou por modificações e reforços estruturais. A carroceria, inspirada no design do GMC DUKW, era composta inteiramente de aço laminado a frio, com uma proa reforçada, tração nas seis rodas e pneus PPB à prova de balas, modelo 900x20 de rodagem simples. O veículo incorporava um sistema de inflação e desinflação dos pneus, adaptável a diferentes terrenos, que armazenava ar em um reservatório de alta pressão e o distribuía por tubos de cobre às laterais do veículo, onde mangueiras com conectores para enchimento dos pneus eram fixadas em suportes próximos à tomada de ar. O modelo era equipado com um motor nacional Detroit Diesel 4-53N de 145 cv, acoplado a uma transmissão manual Clark Equipment. Um eixo de transmissão adicional conectava a transmissão à caixa de transferência da hélice, atravessando o veículo até a hélice posicionada na traseira, em configuração semelhante à do DUKW original. Esse conjunto mecânico e o casco foram projetados para atingir uma velocidade máxima de 72 km/h em terra e 14 km/h na água, com autonomia de 480 km em terra ou 18 horas em água. O veículo possuía um peso de 13.500 kg e capacidade de carga de 5 toneladas em terra ou águas calmas, reduzida a 2,5 toneladas em águas agitadas. Para autodefesa, podia ser equipado com uma metralhadora Browning M-2HB calibre .50 (12,7 mm). Embora os protótipos tenham apresentado resultados promissores durante os testes, o modelo, conhecido como Biselli CAMANF (Caminhão Anfíbio), não foi produzido em larga escala. Apenas cinco unidades foram concluídas, que, ainda assim, prestaram serviços relevantes ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. A decisão de não prosseguir com a produção em massa foi motivada pela priorização de recursos para a aquisição de veículos anfíbios mais modernos e com maior proteção blindada, como o Engesa EE-11 Urutu e os M-113A1 ACAV, cujo recebimento teve início em 1976. Os últimos Biselli CAMANFs foram retirados do serviço ativo no final de 1988, com uma unidade preservada no Quartel do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, como parte do acervo histórico.

Em Escala.
Para representarmos o GMC Duwk   "CFN 2343319",  pertencente ao Batalhão de Blindados do Corpo de Fuzileiros Navais, utilizamos a nova edição do kit da Italeri na escala 1/35, sendo este modelo de ótima qualidade e nível de detalhamento. Para completarmos o conjunto fizemos uso de itens de carga em resina produzidos pela Eletric Products. Empregamos decais confeccionados pela Decals e Books, pertencentes ao set "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão empregando em todos as unidades dos modelos GMC Duwk e Bisseli CAMANF operadas pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, desde o seu recebimento até sua desativação em fins da década de 1980. Como principal diferença visual entre os modelos, o CAMANF apresentava a logomarca da Biselli em alto relevo aplicada na parte frontal do casco.  

Bibliografia :
- CAMANF – Um americano naturalizado brasileiro - http://nivelandoaengenharia.com.br/
- DUWK Caminhão Anfíbio do CFN - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/DUKW.pdf

Jeep Ford G.P.A (VTrOp Anfibio)

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas. As iniciativas para conceber esse novo utilitário envolveram colaboração estreita entre militares e a indústria automotiva, mas enfrentaram desafios técnicos e orçamentários. O conceito definitivo começou a tomar forma no início de 1932, sob a liderança do Coronel Robert G. Howie, comandante da 7ª Companhia de Tanques, sediada em Fort Snelling, Minnesota. Como defensor fervoroso da motomecanização total da Força Terrestre, Howie possuía uma visão clara das necessidades operacionais em um novo espectro de combate. Sua experiência prática e compreensão estratégica foram fundamentais para o avanço do projeto. Sob sua supervisão, o primeiro protótipo funcional foi construído nas oficinas do Fort Sam Houston, no Texas. Submetido a rigorosos testes de campo, o veículo demonstrou resultados promissores, comprovando sua capacidade de operar em terrenos difíceis e atender às exigências táticas. Esses testes reforçaram a confiança do comando do Exército na viabilidade do conceito, levando à decisão de alocar recursos para a produção de um lote pré-série de setenta veículos. Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. Conhecida por sua agilidade na fabricação de veículos leves, a Bantam entregou os primeiros utilitários a partir de meados de 1938, destinando-os ao Quartel-General do Departamento do Exército, localizado no Fort Holabird, em Baltimore, Maryland. Com uma frota inicial à disposição, o Exército ampliou a abrangência de seu programa de testes, avaliando o desempenho dos veículos em diversos terrenos e condições operacionais. Esse processo foi crucial não apenas para validar o projeto, mas também para iniciar a formatação de uma doutrina de emprego operacional para utilitários leves 4x4. Esses testes estabeleceram as bases para o desenvolvimento do que viria a ser o Jeep, um ícone militar que revolucionaria a mobilidade tática na Segunda Guerra Mundial.

No âmbito de um abrangente programa de testes de campo conduzido no final da década de 1930, o Exército dos Estados Unidos (US Army) verificou que o novo veículo utilitário leve com tração integral 4x4 apresentava um potencial excepcional para ampliar a mobilidade da Força Terrestre. Capaz de operar com eficácia em uma ampla gama de ambientes fora de estrada (off-road), o veículo demonstrou versatilidade em diversas tarefas, superando obstáculos naturais e garantindo o transporte eficiente de até quatro soldados totalmente equipados. Esses resultados consolidaram a convicção do comando do Exército de que o utilitário representava um avanço estratégico crucial para a mecanização das forças armadas, levando à decisão de adotá-lo em larga escala. Com base nos testes bem-sucedidos,  lançou-se, em 1940, uma concorrência formal para a produção em série do veículo utilitário leve 4x4. O processo foi estruturado com rigor, envolvendo a emissão de convites a mais de cem empresas da indústria automotiva norte-americana. As participantes deveriam apresentar propostas técnicas e comerciais detalhadas, acompanhadas de protótipos funcionais que atendessem às especificações. A concorrência visava assegurar que o veículo final combinasse robustez, confiabilidade e capacidade de manufatura em larga escala, alinhando-se às necessidades operacionais . O aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul, impulsionado pela ascensão da Alemanha Nazista e do Império do Japão, alterou drasticamente o contexto da concorrência. A iminência de um conflito global tornou evidente a necessidade urgente de reequipar as forças armadas norte-americanas para enfrentar potenciais ameaças. Em resposta o comando do Exército revisou o cronograma original, estabelecendo um prazo excepcionalmente curto de 49 dias para a apresentação de protótipos funcionais. Essa exigência refletia a pressão para acelerar o processo, mas também impôs desafios significativos às empresas concorrentes. Das mais de cem empresas convidadas, apenas três aceitaram o desafio de desenvolver um protótipo dentro do prazo estipulado: a Ford Motor Company, a American Bantam Car Company e a Willys-Overland Company. A American Bantam, uma pequena montadora da Pensilvânia com experiência em veículos leves, foi a única a cumprir o prazo, entregando um protótipo funcional em setembro de 1940. Denominado Bantam Reconnaissance Car (BRC), o veículo foi submetido a testes comparativos rigorosos, demonstrando desempenho excepcional em mobilidade, resistência e adequação às especificações militares. Embora o protótipo da Bantam tivesse obtido êxito nos testes, o comando do Exército, ciente da necessidade emergencial de produção em grande escala, optou por aprovar também as propostas da Ford e da Willys-Overland. Essa decisão foi motivada pela capacidade industrial limitada da Bantam, que não poderia atender sozinha à demanda militar em tempo hábil. Os testes comparativos entre os protótipos resultaram em melhorias significativas no projeto original, incorporando sugestões das três montadoras. O modelo pré-série, designado como Bantam BRC, apresentou um design traseiro que remetia estilisticamente aos padrões automotivos da década de 1930, mas com características técnicas otimizadas para operações militares, incluindo tração 4x4, suspensão robusta e capacidade de carga de ¼ de tonelada.
Apesar da aprovação inicial dos protótipos apresentados pela American Bantam Car Company, Ford Motor Company e Willys-Overland Company, persistiam incertezas quanto aos projetos da Ford e da Willys. Para esclarecer essas questões, o Exército dos Estados Unidos (US Army) organizou uma nova fase de testes de campo, realizada entre 27 de setembro e 16 de outubro de 1940, nos campos de prova do Quartel-General do Departamento do Exército. Durante esses testes, o modelo Bantam BRC destacou-se novamente, impressionando engenheiros e militares, este desempenho levou o Exército a reconsiderar a ideia inicial de produzir três modelos distintos, favorecendo, em princípio, o projeto da Bantam. Em 31 de março de 1941, seria firmado um contrato com a American Bantam Car Company para a produção de 1.500 veículos BRC 40. Contudo, era evidente que a Bantam não possuía a capacidade industrial nem a estabilidade financeira necessárias para atender, em larga escala, aos contratos subsequentes exigidos pelo cronograma. Para superar as limitações da Bantam e garantir a produção em massa do veículo utilitário, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos (The War Department) tomou uma decisão controversa: ceder o projeto e as plantas originais do BRC 40 às montadoras Ford Motor Company e Willys-Overland Company. Essa medida permitiu que ambas as empresas desenvolvessem suas próprias versões do veículo, incorporando melhorias baseadas no protótipo da Bantam. Em agosto de 1941, o Exército assinou um novo contrato com a Willys-Overland Company para a produção de 16.000 veículos, designados pela montadora como MA Quad (posteriormente evoluindo para o modelo MB). A Willys foi escolhida por sua capacidade de produção e pelo aprimoramento do projeto, que incluía o motor Willys Go-Devil, mais potente e confiável. Nos meses seguintes, novos contratos foram firmados, mas a Ford Motor Company emergiu como a principal fornecedora, recebendo, até o final de 1945, as maiores encomendas de produção. O modelo fabricado pela Ford foi oficialmente designado como Ford GPW (General Purpose Willys, ou veículo de uso geral), compartilhando componentes e design com o Willys MB, mas produzido em escala massiva nas fábricas da Ford. No Exército dos Estados Unidos, os primeiros condutores do veículo começaram a referi-lo popularmente pelo acrônimo "GP", derivado de General Purpose (propósito geral), que, na pronúncia em inglês, soava como "Jeep". Essa denominação ganhou força entre os soldados, tornando-se sinônimo de agilidade e versatilidade. Curiosamente, a palavra "jeep" também era associada a Eugene the Jeep, um personagem fictício das tiras de quadrinhos do marinheiro Popeye, criado na década de 1930. Eugene, o animal de estimação de Olivia Palito, era conhecido por sua força extraordinária e habilidades mágicas, como caminhar por paredes e tetos. Conforme as montadoras aceleravam o processo de fabricação, mais e mais unidades militares norte-americanas passavam a integrar o modelo em suas frotas. Neste mesmo período, a “Comissão de Defesa Nacional de Defesa e Pesquisa” do Exército dos Estados Unidos (US Army), começaria a analisar as possibilidades de múltiplo emprego da plataforma original que se encontrava em produção em massa. 

O sucesso do Jeep Willys MB e Ford GPW, utilitários leves 4x4 que revolucionaram a mobilidade terrestre, inspirou o desenvolvimento de uma versão anfíbia que combinasse a agilidade do Jeep com a capacidade de navegar em águas abertas. O objetivo era criar um veículo leve, designado como QMC-4 1/4 Ton Truck Light Amphibian, para transportar soldados e suprimentos de navios em alto-mar até a costa, atravessar praias e operar em terra firme, apoiando operações como as planejadas para a invasão da Europa e do Pacífico. O projeto foi influenciado pelo êxito do DUKW, um caminhão anfíbio de 2½ toneladas projetado por Roderick Stephens Jr., da Sparkman & Stephens, que demonstrou eficácia em desembarques. O Jeep GPA buscava replicar essa funcionalidade em uma escala menor, com peso alvo de 1.200 kg, mantendo a versatilidade e a compatibilidade com componentes do Jeep padrão.  Em março de 1941, o U.S. Motor Transport Board, em colaboração com o National Defense Research Committee (NDRC), lançou o programa para desenvolver o veículo anfíbio leve. Roderick Stephens Jr. foi contratado para projetar o casco, que se assemelhava a uma versão miniaturizada do DUKW, incorporando uma hélice traseira acionada por tomada de força, um leme para direção na água e um casco estanque em forma de "banheira". O desenvolvimento foi conduzido em uma competição entre duas empresas: a Ford Motor Company e a Marmon-Herrington, especializada em veículos com tração nas quatro rodas. Marmon-Herrington: Apresentou um protótipo com casco monobloco, construído por soldagem de chapas de aço, semelhante a um veículo blindado, o que resultava em maior peso. Ford Motor Company: Optou por um chassi robusto com estrutura interna, ao qual foram soldadas chapas de aço automotivo padrão, reduzindo o peso em cerca de 180 kg em comparação com o concorrente. A Ford priorizou a reutilização de componentes do Jeep Ford GPW, incluindo motor, transmissão, eixos e suspensão, para minimizar custos e facilitar a produção em massa. Os protótipos foram submetidos a testes iniciais em 1942, focando em desempenho anfíbio, mobilidade terrestre e compatibilidade logística. O design da Ford, mais leve e alinhado com a infraestrutura de produção existente, foi selecionado para avançar, recebendo a designação Ford GPA (Government, 80-inch wheelbase, Amphibious). O Ford GPA, identificado pelo número de catálogo G504, foi projetado para integrar a mobilidade do Jeep com funcionalidades anfíbias. Suas especificações incluíam Chassi e Casco: Baseado no chassi do Jeep GPW, com um casco estanque de aço soldado, em formato de "banheira", para flutuação. O peso final foi de aproximadamente 1.600 kg, excedendo os 1.200 kg especificados, devido aos sistemas anfíbios. Motor: Willys L-head, 4 cilindros, 134 polegadas cúbicas, produzindo cerca de 60 hp, com carburador adaptado para operação em ambientes úmidos. Transmissão: Manual de 3 velocidades, com caixa de transferência de 2 velocidades, permitindo tração 4x4 em terra. Sistemas Anfíbios: Hélice traseira acionada por tomada de força, leme para direção na água, bomba de porão para remoção de água infiltrada e guincho de cabo.
O painel de controle do Jeep Ford GPA diferia do modelo original, por contar com os comandos para as operações de tração alternada (4X2 ou 4X4), tipo de condução Oi-range - Lo-range, controle de leme e hélice de impulso.  O carro ainda dispunha de um sistema de guincho elétrico para tração e ancora para operação fluvial. As primeiras unidades de série começariam a ser entregues as forças armadas norte-americanas a partir de meados de 1942.  Porém ao contrário dos caminhões anfíbios, o Ford GPA não apresentaria uma boa performance quando em uso real, sendo alvo de severas críticas de seus usuários. O principal fator deste perfil operacional inadequado estava baseado em seu peso total de 1.600 kg, que havia extrapolado em 400 kg o peso do projeto original, não havendo nenhuma compensação no aumento do tamanho do carro. Como consequência sua capacidade de transporte de carga ficava muito prejudicada quando no modo de condução anfíbio, mais notadamente em águas agitadas, levando ao risco de afundamento. Estas características comprometeriam uma das suas principais missões, que era a de apoiar o desembarque anfíbio de soldados entre os navios de transporte de tropas e as praias. Estas observações seriam comprovadas durante os desembarques na Sicília em setembro de 1943, onde sua função era transportar suprimentos e pessoal de navios de desembarque até a costa, mas a instabilidade em ondas de praia e a dificuldade de transição água-terra levaram a incidentes, incluindo alagamentos e perdas de veículos. Ficaria claro também que o veículo apresentava deficiências de condução em terra, ficando frequentemente atolado devido ao seu peso de deslocamento.  Durante a Operação Overlord (Dia D, junho de 1944), o uso do GPA foi mínimo, restrito a tarefas logísticas em rios e canais após os desembarques iniciais.  No Pacífico, o GPA foi empregado em operações insulares, como nas Ilhas Aleutas e em campanhas nas Ilhas Salomão e Nova Guiné (1943). Sua capacidade de atravessar rios e lagoas foi valorizada em terrenos pantanosos, mas a vulnerabilidade a ondas oceânicas limitou seu uso em desembarques em alto-mar. Em algumas missões, o GPA serviu para reconhecimento costeiro e transporte de suprimentos em águas interiores, mas sua performaO Ford GPA foi impopular entre os soldados, que o apelidaram de "Seep" (uma contração de Sea+Jeep, mas também aludindo à sua tendência a "vazar" água) e "Jeep in a bathtub" (Jeep na banheira). Essas falhas levaram a um uso operacional restrito, com muitas unidades relegadas a funções secundárias ou armazenadas em depósitos. Sua produçao seria descontinuada e março de 1943, contabilizando apenas 12.778 unidades entregues. Grande parte deste total  seria direcionado as nações aliadas dentro dos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), com a União Soviética recebendo o maior volume destes veículos. Logo após o término do conflito, os soviéticos produziriam versão local denominada GAZ 46 MAV, que acabaria sendo exportada a vários países alinhados ao bloco socialista durante as décadas de 1940 e 1950. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Os contratos inicialmente celebrados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army). Existindo ainda relatos de alguns modelos raríssimos, como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizando assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando veículos usados para exportação. O advento do recebimento desta grande frota de veículos utilitários leves com tração integral 4X4, contribuiria em muito no  no processo de implantação da motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos com tração integral de viaturas com estas características  se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. No inicio do ano de 1943 entre os recebimentos normais de veiculos que estavam ocorrendo no porto do Rio de Janeiro, seriam disponibilizados treze viaturas anfíbias do modelo Jeep Ford G.P.A, representado o primeiro veiculo deste tipo a entrar em serviço no Exército Brasileiro.
Os Jeeps Ford G.P.A., veículos anfíbios de tração 4x4, foram inicialmente destinados às unidades operacionais sediadas na capital federal do Brasil. Essa concentração visava à experimentação e ao desenvolvimento de uma doutrina operacional, considerando que se tratava de uma inovação tecnológica para o Exército Brasileiro. Registros indicam que, nos anos subsequentes, esses veículos utilitários foram redistribuídos para o interior do país, com ênfase em regiões caracterizadas por grande presença de rios ou propensas a alagamentos sazonais, como o Pantanal, onde sua capacidade anfíbia era particularmente vantajosa. Em 13 de agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma unidade composta por aproximadamente 25.000 militares, estruturada para operar em alinhamento com os padrões do Exército dos Estados Unidos, que priorizavam alta mobilidade. A FEB incluía quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para missões de ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, uma companhia de comunicações, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia militar e, simbolicamente, uma banda de música. Para atender às exigências de mobilidade, a FEB foi equipada com uma frota significativa de veículos, incluindo 660 utilitários leves com tração integral 4x4. Dentre esses, destacavam-se cinco Jeeps anfíbios Ford G.P.A., entregues nas instalações do 5º Exército dos Estados Unidos, em Tarquinia, na Itália. Muitos desses veículos, tanto leves quanto médios, já haviam sido intensamente utilizados em campanhas militares na Sicília e no Norte da África, sendo considerados “veteranos de guerra”. A cessão de veículos usados, frequentemente em precário estado de conservação, ao Brasil refletia a priorização de recursos pelos Estados Unidos, que destinavam equipamentos novos e de primeira linha para a invasão da França, durante a Operação Overlord, em junho de 1944, no conhecido “Dia D”. Nesse cenário, oficiais norte-americanos ministraram treinamentos especializados aos motoristas e mecânicos brasileiros. Além das instruções básicas, o programa abrangia técnicas específicas de condução em terra e na água, bem como os princípios de manutenção preventiva e corretiva, garantindo que os militares brasileiros dominassem o uso e a conservação dos Jeeps Ford G.P.A. em condições operacionais diversas.

Após o batismo de fogo das tropas brasileiras em 14 de setembro de 1944, os Jeeps Ford G.P.A. demonstraram sua relevância nos combates iniciais nas proximidades da cidade de Pisa, na Itália. Esses veículos anfíbios foram amplamente utilizados pelas unidades de infantaria motorizada e de reconhecimento, desempenhando papéis cruciais em patrulhas de exploração e reconhecimento. Sua capacidade de operar tanto em terra quanto na água revelou-se essencial para a transposição de rios e lagos, especialmente em um contexto no qual a infraestrutura rodoviária italiana havia sido severamente comprometida por intensas campanhas de bombardeios aliados, resultando na destruição de inúmeras pontes e vias. Depois do término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, os Jeeps Ford G.P.A., juntamente com outros veículos, armamentos e equipamentos fornecidos ao Exército Brasileiro pelos norte-americanos no âmbito do programa Lend-Lease Act, foram entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army), na cidade de Roma. Nesse local, os veículos em melhores condições de conservação foram selecionados, armazenados e posteriormente transportados por via naval ao Brasil. Ao chegarem, essas unidades se integraram à frota de veículos da mesma classe já em operação no país desde 1942, sendo distribuídas às unidades operativas do Exército Brasileiro. Ainda em 1945, o Brasil recebeu um lote adicional de 68 Jeeps Ford G.P.A novos de fábrica (provalmente armazenados após o fim de sua produção), também provenientes do programa Lend-Lease. Esses “novos” veículos, apesar de muitas vezes serem unidades recondicionadas, foram incorporados ao serviço ativo e alocados principalmente aos Regimentos de Cavalaria Mecanizados. Nessas unidades, os G.P.A.s foram empregados em missões de reconhecimento e transporte, desempenhando papéis essenciais nos anos subsequentes. O Jeep Ford GPA seria também empregado pela Marinha do Brasil, com esta demanda sendo proporcionada pelo evoluir da doutrina operacional de guerra anfíbia, que fora estabelecida com a criação da  Força de Fuzileiros de Esquadra (FEE). A partir de meados da década de 1950 , a Marinha do Brasil recebeu os primeiros navios especializados em transporte de tropas e materiais, incluindo o G-20 Custódio de Mello, G-16 Barroso Pereira, G-21 Ary Parreiras e G-22 Soares Dutra, além de embarcações de desembarque de pessoal, material e viaturas (EDVP e EDVM). Esses meios navais estabeleceram as bases para a realização de operações anfíbias em larga escala. Assim a  fim de se buscar a plena capacidade operativa, com base na sistemática empregada pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), seria decidido a incorporação de veículos anfíbios que ampliassem a capacidade de movimentação de cargas após os primeiros desembarques.  
Com um orçamento militar restrito, o Brasil negociou, no início da década de 1960, a aquisição de um lote de caminhões anfíbios GMC DUKW provenientes dos estoques das Forças de Fuzileiros Navais Franceses (Troupes de Marine). Esses veículos foram recebidos no início de 1960, marcando um esforço para fortalecer as capacidades anfíbias das Forças Armadas brasileiras. Paralelamente, o adido naval brasileiro em Washington, D.C., conduziu tratativas com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) para a obtenção de novos veículos e equipamentos. Essas negociações culminaram na cessão de 18 Jeeps Ford G.P.A., no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Após sua chegada, os veículos foram revisados e distribuídos ao Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf), onde receberam a designação oficial de “Jipanf” (Jipe Anfíbio). Nos anos subsequentes, os Jeeps Ford G.P.A. desempenharam um papel central tanto no Exército Brasileiro quanto no Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, contribuindo significativamente para a formulação e consolidação das doutrinas de operações anfíbias. Esse desenvolvimento foi fundamentado na experiência prática adquirida com o uso desses veículos pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália, onde demonstraram sua versatilidade em operações reais. Entretanto, como ocorreu com a maioria dos veículos militares recebidos entre as décadas de 1940 e 1950, o uso contínuo, a obsolescência natural e os desafios no fornecimento de peças de reposição impactaram severamente a operacionalidade dos Jeeps Ford G.P.A. Em meados de 1967, o Exército Brasileiro determinou a desativação desse modelo, transferindo um número significativo de unidades à Marinha do Brasil para desmanche e aproveitamento de componentes essenciais. O Corpo de Fuzileiros Navais, por sua vez, manteve os G.P.A. em serviço até 1982, preservando uma unidade que permanece em uso até os dias atuais como viatura cerimonial do Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf). Alguns exemplares anteriormente pertencentes ao Exército Brasileiro foram preservados para a posteridade. Um exemplo notável é o Jeep Ford G.P.A. mantido no acervo do Museu de Armas, Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo, localizado em Bebedouro, no interior de São Paulo. Outras unidades encontram-se em museus militares ou em coleções particulares, testemunhando a importância histórica desses veículos para as Forças Armadas brasileiras.

Em Escala.
Para representarmos o jipe anfíbio Ford G.P.A "EB23-164“ pertencente ao 2° Regimento de Cavalaria Mecanizado (2º RC Mec) , empregamos o excelente kit da Tamiya na escala 1/35. Modelo este de fácil montagem e excelente nível de detalhamento. Complementamos o conjunto com decais confeccionados pelo fabricante Eletric Products, presentes no Set "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982 ".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) em todos os veículos utilizados no teatro europeu durante a Segunda Guerra Mundial, com os quais estes modelos foram recebidos a partir de 1943. Já em uso no país receberiam apenas as marcações e matrículas nacionais, mantendo este padrão até sua desativação. Os Jipes Anfíbios “Jipanf” pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil empregariam o mesmo padrão durante seu tempo de serviço, a exceção do veículo cerimonial preservado que recebeu uma pintura no padrão cinza naval. 


Bibliografia: - Jeep Willis MB - http://www.willysmb.com.br/ - FEB na Segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa Monteiro - Ford GPA - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Ford_GPA - Exército Brasileiro - http://www.exercito.gov.br