Mercedes Benz Unimog Série U

História e Desenvolvimento.
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz revolucionaram a história da mobilidade ao desenvolverem, de forma simultânea, os primeiros automóveis motorizados funcionais. Suas contribuições pioneiras não se limitaram aos automóveis, abrangendo também a criação do primeiro ônibus, do primeiro caminhão movido a gasolina e do primeiro caminhão a diesel, marcos que transformaram a indústria automotiva global. Em abril de 1900, foi introduzido o motor “Daimler-Mercedes”, um propulsor simples, eficiente e de baixo custo, que viabilizou a produção em série dos primeiros veículos comerciais, consolidando a reputação de inovação da empresa. Durante a Primeira Guerra Mundial, a Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) desempenhou um papel crucial no esforço de guerra alemão, fabricando veículos, componentes e motores de aviação. Contudo, o fim do conflito mergulhou a Alemanha em uma grave crise econômica, impactando severamente as vendas de veículos novos. Nesse cenário desafiador, apenas empresas com solidez financeira conseguiram sobreviver. Para enfrentar a crise, a DMG e a Benz & Cie uniram forças em 1926, combinando administração e expertise tecnológica, padronizando projetos, processos produtivos e estratégias comerciais. Embora inicialmente mantivessem suas marcas distintas, a fusão culminou na criação da Daimler-Benz AG, que adotou a icônica estrela de três pontas como logotipo, desenhada por Gottlieb Daimler. Cada ponta simbolizava a adaptabilidade dos motores da empresa aos três modais de transporte: terra, ar e mar. Na década de 1930, a recuperação econômica da Alemanha, aliada às demandas do programa de rearmamento do governo, impulsionou significativamente as vendas da Daimler-Benz. A empresa expandiu seu portfólio, passando a produzir não apenas automóveis e caminhões, mas também motores aeronáuticos, embarcações e componentes mecânicos, tornando-se um dos principais fornecedores estratégicos do regime nazista. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as instalações industriais da Daimler-Benz, severamente danificadas por bombardeios, foram reconstruídas com o apoio de forças britânicas e norte-americanas, em um esforço para revitalizar a economia alemã. A reconstrução do país, devastado pelo conflito, gerou uma demanda crescente por veículos utilitários de diversos portes. Nesse contexto, a Daimler-Benz identificou uma oportunidade singular de mercado, consolidando sua posição como líder na produção de veículos, como os caminhões Mercedes-Benz MB L-319, que seria  oferecido em diversas configurações, incluindo caminhões de carga, furgões, chassis para ônibus e veículos especializados, o que o tornava extremamente versátil. O sucesso do MB L-319 no mercado Europeu deu origem à família de caminhões LP (Lastkraftwagen-Pulmann), que incluía modelos derivados com capacidades e configurações variadas, que  atenderiam às necessidades de transporte e logística de uma nação em recuperação.

Após o sucesso comercial de seus caminhões desenvolvidos na década de 1930, a Daimler-Benz AG obteve os recursos necessários para explorar novos segmentos de mercado, destacando-se a oportunidade no nicho de caminhões leves projetados para operar em qualquer terreno. No outono de 1945, Albert Friedrich, ex-chefe de design de motores de aeronaves da Daimler-Benz, idealizou um veículo robusto para uso agrícola, combinando características de trator e caminhão. Ele formou uma parceria com a Erhard und Söhne, uma empresa de siderurgia, para desenvolver o projeto. O objetivo era criar um veículo com tração nas quatro rodas, capaz de operar em terrenos difíceis, alcançar até 50 km/h (o dobro dos tratores da época) e suportar implementos agrícolas na dianteira e traseira, além de carregar cargas. Neste contexto o desenvolvimento do veículo incorporou tração traseira e tração dianteira comutável, com rodas de tamanho uniforme, permitindo maior velocidade em estradas em comparação aos tratores agrícolas convencionais. O design foi marcado por um chassi de escada flexível com saliências curtas, complementado por eixos de portal com tubo de torque central e links transversais. Essa configuração posicionava os pneus abaixo do centro do eixo, garantindo elevada distância do solo sem a necessidade de pneus de grandes dimensões, embora isso limitasse a capacidade de carga do veículo. A inovação no projeto permitiu um torque robusto, possibilitando um deslocamento angular do eixo de até 30°. Essa característica conferia aos pneus uma ampla gama de movimento vertical, permitindo ao veículo transpor terrenos extremamente irregulares, como pedregulhos de até um metro de altura, com conforto e estabilidade.  A largura de 1,27 m foi projetada para corresponder à distância entre fileiras de batatas, refletindo sua vocação agrícola. Nesse momento, nasceu o conceito do “Veículo de Aplicação Universal”, com o  primeiro protótipo, contudo ainda fazia uso de um  motor a gasolina, com 25 vc de potencia, uma vez que o motor a diesel estava em fase final de desenvolvimento. Em 1947, o motor diesel OM 636 da Daimler-Benz foi incorporado, e a produção em série começou em 1948 pela Boehringer, já que a Daimler-Benz estava inicialmente impedida pelos Aliados de produzir veículos off-road.  Em 20 de novembro do mesmo ano, seu nome comercial ‘Unimog” representando o acrônimo em alemão para "Universal-Motor-Gerät" que poderia ser interpretado em um contexto geral como dispositivo, máquina, instrumento, engrenagem e aparelho, criado por Hans Zabel foi oficialmente apresentado ao mercado durante a feira agrícola DLG em Frankfurt, onde o veículo recebeu 150 encomendas.
A produção em série do Veículo de Aplicação Universal, conhecido como Unimog, estava programada para iniciar em abril de 1947 na planta industrial da Boehringer Ingelheim na Alemanha . Essa decisão decorreu de dois fatores principais: a Erhard & Söhne GmbH, parceira no desenvolvimento, não possuía no momento a capacidade produtiva suficiente à época, e a Daimler-Benz AG enfrentava restrições impostas pelos Aliados no pós-guerra, que a impediam de fabricar veículos fora de estrada. Cumprindo o cronograma estabelecido, em maio de 1947, os primeiros Unimogs equipados com o confiável motor a diesel Daimler-Benz OM636 de 25 hp começaram a ser comercializados no mercado alemão. O Unimog rapidamente conquistou a confiança de agricultores, destacando-se por sua versatilidade e robustez em ambientes rurais. Suas qualidades excepcionais contribuíram significativamente para o aumento da produtividade agrícola na Alemanha, em um período crucial de reconstrução pós-guerra. Em 1951, com o fim das restrições aliadas, o Unimog passou a ostentar a estrela de três pontas da Mercedes-Benz, e a produção foi ampliada agora na planta de Gaggenau, e passaria ser incluso no portifólio de sua  rede de distribuição global. Essa transição permitiu a expansão da distribuição para mercados internacionais, impulsionando significativamente as vendas. Ao longo de sua primeira década, o Unimog passou por contínuas melhorias, evoluindo do modelo inicial Boehringer Unimog 70200, um caminhão agrícola com teto de lona, para versões mais sofisticadas. Em 1953, a série 401/402 introduziu opções de cabine fechada e aberta, produzidas pela Westfalia. Um marco nessa trajetória foi o lançamento da série S-404 em 1955, que introduziu uma maior distância entre eixos e um motor mais potente, ampliando sua versatilidade. Essa plataforma também serviu como base para a primeira variante militar moderna, projetada para reforçar sua capacidade de operação em terrenos desafiadores, característica essencial para aplicações militares.  Embora o Unimog não tenha sido concebido originalmente para fins militares, sua produção foi autorizada pelos Aliados sob a condição de que o veículo seria destinado exclusivamente a uso civil, especialmente agrícola. Essa restrição reflete o contexto do pós-guerra, mas não impediu que o Unimog se tornasse um ícone de inovação, combinando funcionalidade e adaptabilidade, e deixando um legado duradouro tanto no setor agrícola quanto, posteriormente, em aplicações militares. Em 1955, o Unimog S 404, projetado para uso militar, tornou-se um marco, com maior distância entre eixos e capacidade off-road excepcional. Esse modelo foi amplamente adotado por forças armadas, como as da Alemanha, França e Suíça, devido à sua robustez e versatilidade, permanecendo em produção até 1980. Durante esse período, o Unimog também ganhou melhorias, como motores mais potentes (de 25 cv para até 30 cv na série 411 em 1956) e transmissão sincronizada a partir de 1959. 

A partir de meados da década de 1950, o Unimog, originalmente concebido como um veículo agrícola versátil, começou a trilhar um novo caminho, consolidando-se como uma ferramenta indispensável no âmbito militar. Essa transição marcou um capítulo significativo na história desse ícone da engenharia automotiva, cuja robustez e adaptabilidade conquistaram a confiança de exércitos em todo o mundo. Em 1956, o Exército Suíço (Schweizer Armee) reconheceu o potencial do Unimog ao adquirir 44 unidades do modelo 70200, destinadas ao uso como tratores de engenharia de combate. O desempenho excepcional dessas máquinas em terrenos desafiadores impressionou as autoridades suíças, que, entusiasmadas, encomendaram mais de 500 unidades do modelo Unimog 2010. Esses veículos permaneceram em serviço até 1989, evidenciando a durabilidade e a confiabilidade que se tornariam sinônimos da marca Unimog. Na mesma década, durante o período de ocupação aliada na Alemanha pós-guerra, oficiais do Exército Francês (Armée de Terre) observaram de perto o desempenho operacional dos primeiros modelos do Unimog. Fascinados por sua versatilidade, os franceses conduziram estudos detalhados que culminaram, em 1957, na aquisição de mais de cem unidades dos modelos U-2010 e U-401. Esse contrato de exportação não apenas ampliou a presença do Unimog no mercado internacional, mas também chamou a atenção dos comandantes do Exército Alemão (Deutsches Heer). Por meio do comando das Forças Armadas (Bundeswehr), a Alemanha solicitou à Daimler-Benz o desenvolvimento de uma versão especificamente militarizada. O desafio era claro: criar um caminhão compacto, com capacidade de carga de 1,5 toneladas, capaz de transportar de 10 a 12 soldados totalmente equipados e atingir velocidades de até 90 km/h em terrenos regulares. Em resposta, a Daimler-Benz apresentou, em 1958, o Unimog 404, também conhecido como Unimog S. Após rigorosos testes de campo, o modelo foi aprovado e rapidamente se tornou um padrão entre os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Entre 1955 e 1980, mais de 60 mil caminhões Unimog foram entregues, consolidando o modelo como um marco em veículos militares. Em 1962, a introdução do Unimog 406 marcou o início de uma nova geração de veículos, composta pelos modelos 403, 406, 413, 416, 419, 421, 426 e 431. Disponíveis com três diferentes distâncias entre eixos (2.380 mm, 2.900 mm e 3.400 mm), esses modelos foram equipados com os confiáveis motores a diesel de injeção direta OM 314 e OM 352, com potências variando entre 54 DIN-PS (40 kW) e 110 DIN-PS (81 kW). As versões mais leves, 421 e 431, compartilharam a motorização e o design de chassi da série 411, enquanto adotavam a cabine da série 406, garantindo maior conforto e funcionalidade.
Em 1975, a Daimler-Benz apresentou o Unimog Série 425, marcando a estreia do primeiro modelo pesado da família. Com a introdução de uma cabine avançada – um elemento de design que permanece emblemático até os dias atuais –, o Unimog reforçou sua capacidade de atender às exigências de setores civis e militares com uma combinação única de inovação, robustez e versatilidade. Esse marco simbolizou o compromisso da Daimler-Benz em desenvolver um veículo que não apenas superasse desafios técnicos, mas também se adaptasse às demandas de um mundo em constante transformação, consolidando o Unimog como um ícone da engenharia automotiva. No entanto, a primeira metade da década de 1980 trouxe desafios significativos, com uma queda nas vendas que testou a resiliência da linha Unimog. Em resposta, a Daimler-Benz lançou o “Unimog-Program 1988”, uma iniciativa estratégica que introduziu as séries 407 (Leve) e 417 (Média), projetadas para substituir as variantes mais antigas derivadas do Unimog 406. Essas novas versões refletiram a determinação da montadora em manter a relevância do Unimog, adaptando-o às necessidades contemporâneas e assegurando sua competitividade no mercado global. Mesmo diante desses desafios comerciais, o Unimog continuou a desempenhar um papel vital em forças armadas ao redor do mundo, demonstrando sua extraordinária versatilidade. Utilizado em funções que incluíam transporte de tropas, tração de artilharia, ambulâncias, cisternas, combate a incêndios, abastecimento de combustível, unidades de socorro e centros de comando móveis equipados com sistemas avançados de comunicações militares ou guerra eletrônica, o Unimog provou ser uma ferramenta indispensável. Um exemplo notável é a versão 419, amplamente adotada pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) para operações de guerra eletrônica, destacando a capacidade do veículo de se adaptar às demandas mais exigentes. A relevância global do Unimog é evidenciada por sua adoção por forças armadas de países como Argentina, África do Sul, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Hungria, Irlanda, Indonésia, Portugal, Finlândia, Lituânia, Letônia, Nova Zelândia, Grécia, Chile, Bolívia, México, Mongólia, Paquistão, Turquia, Rodésia, Cingapura, Alemanha, França, Suíça, Suécia, Luxemburgo e China. A Argentina, em particular, destacou-se como pioneira ao fabricar o Unimog fora da Alemanha, com a produção realizada na planta da Mercedes-Benz Argentina S.A., em González Catán, nos arredores de Buenos Aires, até o final de 1968. Nas décadas de 1990 e 2000, o Unimog continuou a evoluir, com o desenvolvimento de novas versões que elevaram a produção total a mais de 300 mil unidades até 2022. Em 2003, a linha de montagem foi transferida para a moderna fábrica de Wörth am Rhein, na Alemanha, pertencente à Mercedes-Benz-LKW-Montagewerk. Essa mudança possibilitou a introdução de modelos atualizados, equipados com cabines redesenhadas e motores que atendem aos rigorosos padrões de emissões do programa Euro VI. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A história de colaboração entre a Mercedes-Benz do Brasil S/A e as Forças Armadas Brasileiras começou a ser escrita em maio de 1959, com a assinatura de um marco histórico: o primeiro contrato para o fornecimento de caminhões militarizados, modelos MB LP-321 e MB LP-331, equipados com tração 4x2 e 4x4. Esse acordo inicial abriu as portas para uma relação de confiança e sinergia que, ao longo das décadas, se estenderia ao Exército Brasileiro, à Marinha do Brasil e à Força Aérea Brasileira (FAB). Nos anos seguintes, mais de mil veículos foram entregues, atendendo às necessidades logísticas das três forças com notável eficiência e robustez, solidificando a reputação da Mercedes-Benz como parceira indispensável. Embora os modelos MB LP-321 e LP-331 com traçao 4X2 e 4X4 tenham desempenhado suas funções com competência, suas limitações operacionais, decorrentes de um projeto que já se tornava obsoleto, começaram a se manifestar no contexto militar. A ausência de opções nacionais que atendessem às demandas por veículos especializados, equipados com carrocerias específicas para tarefas como combate a incêndios ou operações táticas, levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a buscar soluções no mercado internacional de defesa. Esse movimento marcou o início de uma nova fase na modernização da frota da Força Aérea Brasileira (FAB), com o Unimog emergindo como protagonista. Em 1959, o comando de material do Ministério da Aeronáutica iniciou estudos para a aquisição de um lote de caminhões configurados como veículos bombeiros, destinados a substituir modelos obsoletos herdados da Segunda Guerra Mundial. Após uma análise detalhada das opções disponíveis no mercado nacional, ficou evidente que os veículos produzidos localmente não atendiam às especificações exigidas para operações em bases aéreas. Assim, a Força Aérea Brasileira (FAB) voltou sua atenção para fabricantes europeus, e a proposta da Mercedes-Benz AG destacou-se com o modelo Unimog Série S-404 na configuração bombeiro. As negociações culminaram na celebração de um contrato para o fornecimento de trinta caminhões Unimog S-404, com entregas iniciadas em meados de 1962. O desempenho excepcional desses veículos em operações reais logo conquistou elogios dos operadores, que reconheceram sua robustez, versatilidade e capacidade de atuar em condições adversas. Esse sucesso inicial abriu caminho para a aquisição de novos lotes nos anos seguintes, agora contemplando configurações adicionais, como Posto de Controle de Rádio, Posto de Radar e transporte de pessoal. Esta última versão foi especialmente destinada aos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica (BInfA), reforçando a capacidade operacional da Força Aérea Brasileira (FAB)  em missões táticas e de apoio. Durante a década de 1980, a FAB intensificou o uso do Unimog, adquirindo novos lotes nas versões bombeiro e de transporte geral. Esses veículos tornaram-se peças-chave em bases aéreas, onde sua capacidade de operar em terrenos difíceis e sua adaptabilidade a diferentes funções foram fundamentais. Os Unimogs permaneceram em serviço ativo até 2008, desempenhando papéis cruciais em operações logísticas, combate a incêndios e apoio às atividades de vigilância e segurança aérea.

O desempenho excepcional dos modelos Unimog S-400 e S-404, especialmente em terrenos fora de estrada, quando empregados pelos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica (BInfA), despertou o interesse do comando da Diretoria de Material do Exército Brasileiro. Essa confiança inicial pavimentou o caminho para a integração do Unimog às operações do Exército, marcando uma parceria duradoura com a Mercedes-Benz. Em 1967, após negociações conduzidas com agilidade e precisão, o Exército Brasileiro celebrou um contrato para a aquisição de vinte caminhões Unimog na configuração básica de transporte de carga e pessoal. Esses veículos foram entregues no início daquele ano e destinados ao 22º Batalhão Logístico Leve (2ª Cia L Mnt) – Batalhão Coronel Amadeu de Paula Castro, sediado em Barueri, São Paulo. A robustez e a capacidade off-road do Unimog rapidamente se provaram em operações, conquistando a confiança dos militares que dependiam de sua versatilidade para cumprir missões em terrenos desafiadores. O sucesso inicial levou à ampliação da frota. No ano seguinte, em 1968, mais quarenta caminhões Unimog foram incorporados, distribuídos entre batalhões de logística e infantaria do Exército. A performance excepcional desses veículos, capaz de operar em condições extremas, culminou na encomenda de novos lotes, agora destinados aos Grupos de Artilharia de Campanha de Selva (GAC Sl). Nessas unidades, os Unimogs assumiram a crucial tarefa de tracionar e transportar morteiros pesados de 120 mm, demonstrando sua capacidade de suportar cargas exigentes em ambientes como a Amazônia, onde a mobilidade é um desafio constante. Na década de 1980, o Unimog continuou a se destacar como peça-chave nas operações do Exército Brasileiro. Em 1980, mais oitenta unidades foram adquiridas para equipar os Grupamentos de Artilharia Leve de Campanha (GAC L). Nessas unidades, os Unimogs foram responsáveis por tracionar os modernos obuseiros leves Oto Melara M-56 de 105 mm, reforçando a capacidade de mobilidade e resposta rápida das forças de artilharia. A habilidade do Unimog de operar em terrenos acidentados e sua durabilidade sob condições intensas de uso solidificaram sua reputação como um veículo indispensável. Em 1992, o Exército Brasileiro deu um passo significativo rumo à modernização de suas comunicações com a implementação do Sistema Tático de Comunicações (SISTAC). Esse sistema, projetado para apoiar o comando e controle de tropas em operações, exigia veículos capazes de transportar shelters equipados com uma rede integrada de comunicação digital multisserviços. Esses shelters proporcionavam serviços de voz e dados, em claro e criptografados, além de interfaces com redes externas e sistemas de rádio convencionais. Para essa missão crítica, o Unimog 100L/38 foi selecionado, destacando-se por sua robustez e capacidade de operar em ambientes operacionais complexos. A partir de 1998, os Unimogs 100L/38 começaram a equipar o 1º Batalhão de Comunicações, localizado em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul. Durante a década de 1990, o modelo Unimog 1300L/38 tornou-se o mais comum da família em serviço no Exército Brasileiro, consolidando sua presença em diversas unidades devido à sua versatilidade e confiabilidade. Em 2010, um lote final de seis unidades foi incorporado ao 1º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva (GAC Sl), baseado em Marabá, Pará. 
No final da década de 1980, a Marinha do Brasil consolidou-se como o terceiro pilar das Forças Armadas Brasileiras a integrar a família Unimog em suas operações, marcando um capítulo significativo na história desse veículo icônico. Esse processo teve início com a abertura de uma concorrência destinada à aquisição de mais de cem caminhões leves com tração 4x4, projetados para atender às necessidades do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Entre as diversas propostas apresentadas, a da Mercedes-Benz AG destacou-se, refletindo a liderança global da montadora no segmento de veículos off-road. Em 1989, foi celebrado um contrato para o fornecimento de 148 caminhões Unimog, configurados em versões variadas para atender às demandas operacionais do CFN. Os modelos adquiridos incluíam Transporte Não Especializado (TNE), TNE com guincho, Transporte Especializado (TE) Frigorífica, Munk (guincho hidráulico), Cisterna Água, Cisterna Combustível e Especial Socorro. Todos compartilhavam a robusta plataforma do Unimog U2150, equipada com o confiável motor diesel MB OM 366 LA, de seis cilindros em linha, com injeção direta, turbocompressor e refrigeração a ar. Essa configuração garantia não apenas potência, mas também a durabilidade necessária para enfrentar os desafios impostos pelas operações dos Fuzileiros Navais. Em dezembro de 1999, o primeiro lote de 39 viaturas Unimog foi recebido, com as unidades restantes entregues em lotes subsequentes até 2003. Essas Viaturas Operativas 5 Toneladas 4x4 tornaram-se rapidamente indispensáveis, desempenhando papéis cruciais como meios de apoio ao combate e de serviços de suporte. Sua versatilidade conferiu mobilidade essencial aos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais, permitindo o transporte eficiente de tropas, equipamentos e suprimentos em terrenos variados, desde áreas urbanas até regiões de difícil acesso. A presença do Unimog no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) reforçou a capacidade operacional da Marinha, garantindo que os Fuzileiros Navais estivessem preparados para responder com agilidade e eficiência às mais diversas missões. A robustez do veículo, aliada à sua capacidade de operar em condições adversas, tornou-o um parceiro confiável para os militares que dependiam de sua performance em situações críticas. Um dos momentos mais marcantes da história do Unimog no CFN foi sua participação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), iniciada em 2004 sob a liderança da Organização das Nações Unidas (ONU). Após receberem no Brasil o esquema de pintura com marcações das forças de paz da ONU, cerca de 40 caminhões Unimog, nas configurações Transporte Não Especializado (TNE), Cisterna Água e Cisterna Combustível, foram enviados ao Haiti. Esses veículos destacaram-se pela sua capacidade de operar nas estreitas ruas da periferia de Porto Príncipe, onde seu porte compacto e tração 4x4 foram fundamentais para garantir mobilidade em um ambiente urbano desafiador. Os Unimogs alocados à MINUSTAH operaram em um sistema de rodízio, com veículos sendo enviados ao Brasil para manutenções de grande porte e substituições, garantindo a continuidade das operações. Sua performance em terreno haitiano recebeu elogios unânimes, destacando-se como um pilar logístico que apoiou as tropas brasileiras em suas missões de paz, desde o transporte de suprimentos até o fornecimento de água e combustível em áreas de conflito.

O desempenho excepcional dos caminhões Unimog U2150 e U1300L no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil consolidou a confiança na família Unimog como um pilar de mobilidade e suporte operacional. Em 2010, a Marinha efetivou a aquisição de 150 novos veículos, divididos entre os modelos Unimog 4000 e Unimog 2450L com tração 6x6, este último configurado como Veículo de Socorro sob Rodas. Essa aquisição reforçou a capacidade do CFN de responder com agilidade e eficiência às demandas de suas forças de deslocamento rápido, marcando mais um capítulo na história de parceria entre a Marinha e a Mercedes-Benz. As quatro viaturas Unimog 2450L destacaram-se por sua configuração avançada, equipadas com o moderno motor diesel MB OM 336 LA Turbo, de 240 hp, combinado a uma transmissão UG 3/65 completamente sincronizada, com oito marchas à frente e oito à ré. A suspensão independente nas seis rodas, eixos rígidos com versão pórtico (contramarcha de roda), bloqueadores diferenciais em todos os eixos, molas helicoidais e amortecedores garantiam desempenho excepcional em terrenos desafiadores. O sistema de acionamento dos eixos traseiros, com diferencial longitudinal, e do eixo dianteiro, com bloqueio longitudinal e transversal conectável em movimento, conferia versatilidade operacional única. Complementando essas características, as viaturas contavam com um sistema hidráulico de guincho e guindaste, integrados a uma carroceria metálica fabricada pela renomada Fahrzeugwerk Bernard Krone GmbH & Co., da Áustria, especializada na conversão de versões militares do Unimog. No Corpo de Fuzileiros Navais, os Unimogs, especialmente na configuração de Veículo de Socorro sob Rodas, tornaram-se fundamentais para o apoio às forças de deslocamento rápido. Sua missão principal era o resgate e a manutenção de viaturas em operações, garantindo a continuidade das missões em cenários exigentes. A robustez e a capacidade off-road desses veículos asseguraram um elevado índice de disponibilidade, permitindo que o CFN respondesse prontamente a qualquer eventualidade, desde operações em áreas urbanas até missões em terrenos acidentados, como os encontrados em regiões de fronteira ou na Amazônia. A aquisição dos Unimogs trouxe vantagens significativas para a logística do CFN, simplificando o transporte de equipamentos, o resgate de veículos avariados e o suporte às operações táticas. Para os Fuzileiros Navais, esses caminhões não eram apenas ferramentas, mas aliados confiáveis que fortaleciam a capacidade de projeção de força e a prontidão operacional, refletindo o compromisso da Marinha com a excelência em suas missões. Apesar do sucesso operacional, a natureza importada dos Unimogs trouxe desafios logísticos, particularmente relacionados à importação de peças de reposição de uso frequente. Atrasos nesses processos impactavam os índices de disponibilidade da frota, uma preocupação compartilhada pelas três Forças Armadas Brasileiras, que também operavam o Unimog naquele período.
Reconhecendo a necessidade de uma solução sustentável, em 2016, o Centro de Coordenação da Marinha (CCEMSP) lançou um programa inovador de nacionalização de componentes, em parceria com indústrias automotivas brasileiras. Um dos focos principais desse programa foi o sistema de freios, especificamente discos e pastilhas, que anteriormente dependiam do exclusivo padrão militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A produção nacional desses componentes trouxe benefícios significativos, reduzindo o tempo de aquisição, aumentando a flexibilidade logística e diminuindo os custos de manutenção. Essa iniciativa não apenas resolveu um gargalo crítico, mas também reforçou a autonomia do Brasil na manutenção de sua frota militar, garantindo maior prontidão operacional. O envelhecimento natural da frota de caminhões Unimog nas Forças Armadas Brasileiras, ao longo das décadas, trouxe desafios significativos para a manutenção da capacidade operacional no segmento de veículos especializados. A redução gradual da disponibilidade desses veículos, devido ao desgaste e à obsolescência, impactou a prontidão das forças, exigindo soluções inovadoras para atender às demandas logísticas e táticas. No início da década de 2010, o Exército Brasileiro e a Marinha do Brasil buscaram alternativas para mitigar esse problema, adotando medidas paliativas que incluíram a aquisição de caminhões militarizados produzidos nacionalmente pela Mercedes-Benz e pela Volkswagen. No Exército, essa transição resultou na desativação de grande parte da frota Unimog, com muitas unidades sendo leiloadas e adquiridas por colecionadores e entusiastas, que reconheceram o valor histórico e técnico desses veículos icônicos. Enquanto o Exército Brasileiro gradualmente substituiu seus Unimogs, a Marinha do Brasil optou por reforçar sua frota com uma nova aquisição, reafirmando a confiança na versatilidade e robustez da família Unimog. Em 24 de novembro de 2020, a Marinha formalizou um contrato com a Daimler Truck AG, da Alemanha, para a compra de 90 caminhões Unimog 5000, com entregas previstas em sete lotes, a serem concluídas até 2027. Cada lote foi acompanhado por peças sobressalentes, literatura técnica e programas de treinamento para os militares do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), garantindo a plena integração e manutenção das viaturas. Esses Unimogs, considerados o estado da arte em veículos militares, foram projetados para operar em qualquer terreno, com destaque para sua adequação às operações anfíbias, uma capacidade essencial para as missões do CFN. Os Unimogs 5000 adquiridos pela Marinha foram configurados em versões específicas para atender às diversas necessidades operacionais, incluindo transporte de tropas e material, cisternas de água e combustível, munk frigoríficas e basculantes. Sua robustez e capacidade off-road tornaram-nos aliados indispensáveis para as operações anfíbias, permitindo o transporte eficiente de suprimentos e pessoal em ambientes desafiadores, desde áreas urbanas até terrenos alagados ou acidentados. Em janeiro de 2022, as primeiras 12 viaturas foram recebidas, com cinco delas destinadas ao Sistema Integrado de Comando e Controle da Marinha do Brasil (SIC2MB). Essas unidades desempenham um papel crucial como plataformas para atividades de Guerra Eletrônica (GE) e de Comando e Controle (C2), integrando o programa estratégico ProAdsumus. Esse programa visa fortalecer a capacidade expedicionária da Marinha, ampliando as competências da Brigada Anfíbia, nucleada na Força de Fuzileiros da Esquadra, além de apoiar os Batalhões de Operações Ribeirinhas, os Grupamentos de Fuzileiros Navais e os Batalhões de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica. A presença dos Unimogs no SIC2MB reforça a capacidade da Marinha de coordenar operações complexas, garantindo comunicação segura e mobilidade tática em cenários exigentes. Embora a frota de Unimogs no Exército Brasileiro tenha sido reduzida, algumas unidades permanecem em operação, especialmente em missões especializadas onde sua versatilidade ainda é valorizada. 

Em Escala.
Para representarmos o Unimog U-1300L "CFN 34324886” fizemos uso do kit Revell na escala 1/35, modelo este de boa qualidade, onde somente apresentamos ressalva aos pneus que são em borracha e devem ser substituídos por similares em resina. Empregamos decais presentes no set " Forças Armadas Brasileiras" impressos pela Decals e Books em conjunto com decais produzidos pela Eletric Products, para assim compor este padrão de identificação representado no modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura dos veículos empregados nas missões das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), como este padrão sendo removido após o retorno dos veículos ao Brasil. Cada uma das três forças armadas brasileiras aplicou em sua frota de caminhões Unimogs, esquemas de pintura táticos idênticos aos utilizados em seus veículos de transporte.

Bibliografia : 

 - Unimog  - Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Unimog 

- Unimog - Alle Modelle Seit 1948 - Peter Schneider - Ed Motor Buch Verlag 

- Unimog no Corpo de Fuzileiros Navais - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/U2450L.pdf 

- PROADSUMUS - Marinha do Brasil adquire novas viaturas para o CFN - https://www.defesanet.com.br/ 

- Marinha recebe novos Unimog – Tecnologia & Defesa https://tecnodefesa.com.br/ 

Douglas A-20K e A-20C Havoc

História e Desenvolvimento.
A Douglas Aircraft Company foi fundada em 22 de julho de 1921 por Donald Wills Douglas, em Santa Monica, Califórnia, após a dissolução da Davis-Douglas Company. Desde sua criação, a empresa buscou estabelecer-se como uma referência na aviação, combinando inovação técnica com visão estratégica. Um dos primeiros marcos de sua trajetória ocorreu em 1923, com a participação no programa World Flight, uma iniciativa ambiciosa do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USASS) para realizar a primeira circum-navegação aérea do planeta. Para atender a essa demanda, a Douglas desenvolveu o Douglas World Cruiser (DWC), uma versão modificada do bombardeiro biplano Douglas DT, projetada pelo jovem engenheiro Jack Northrop, que marcava sua estreia como um dos principais talentos da empresa. Quatro aeronaves DWC foram encomendadas, com a última entregue em 11 de março de 1924. Apesar de desafios logísticos e acidentes durante a jornada, que começou em 6 de abril de 1924 e terminou em 28 de setembro do mesmo ano, o World Flight foi um sucesso, com duas das quatro aeronaves completando a volta ao mundo. Esse feito histórico, que cobriu aproximadamente 43.500 quilômetros em 175 dias, consolidou a reputação da Douglas, que adotou o lema First Around the World (Primeira Volta ao Mundo), reforçando sua posição como líder na aviação norte-americana. Nos anos seguintes, a Douglas Aircraft Company concentrou-se na produção de aeronaves militares, especializando-se em bombardeiros-torpedeiros para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Modelos como o T2D e o XT3D, desenvolvidos na década de 1920, atenderam às necessidades da US Navy para operações marítimas, destacando-se por sua robustez e confiabilidade. No final da década, a empresa expandiu seu portfólio para incluir aviões anfíbios, como o Douglas Dolphin, e mudou suas instalações para Clover Field, em Santa Monica, Califórnia, um local estratégico para testes e produção. Na década de 1930, a Douglas diversificou sua produção, desenvolvendo uma ampla gama de aeronaves, incluindo bombardeiros leves e médios, caças, transportes, aeronaves de reconhecimento e modelos experimentais. Em 1934, a empresa lançou o Douglas DC-2, um avião comercial bimotor que marcou sua entrada no mercado de transporte civil, ganhando reconhecimento por sua eficiência e segurança. Contudo, o maior sucesso veio em 1936 com o Douglas DC-3, uma aeronave de transporte que revolucionou a aviação comercial e militar. Sua versão militar, o C-47 Skytrain (conhecido como Dakota pelas forças britânicas), tornou-se um ícone da Segunda Guerra Mundial, utilizado em operações como o desembarque da Normandia em 1944 e o transporte de suprimentos na campanha do Pacífico. Com mais de 16.000 unidades produzidas, o DC-3/C-47 é amplamente considerado o avião de transporte mais significativo da história, devido à sua versatilidade, durabilidade e impacto global. O sucesso do DC-3 proporcionou à Douglas os recursos financeiros e a confiança para explorar novos nichos na aviação militar. No final da década de 1930, a empresa voltou sua atenção para o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade, capaz de transportar uma carga significativa de bombas e ágil o suficiente para evitar interceptações inimigas. Esse projeto, liderado pelos engenheiros Donald Douglas, Jack Northrop e Ed Heinemann, foi iniciado em 1936 e resultou no conceito do Model 7A, apresentado no primeiro trimestre de 1937.

No final da década de 1930, o cenário geopolítico global era marcado por crescentes tensões que prenunciavam a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A Guerra Civil Espanhola (1936–1939) serviu como um laboratório para táticas e tecnologias aéreas, revelando a superioridade de aeronaves como o Heinkel He 111 alemão e o Savoia-Marchetti SM.79 italiano. Relatórios de inteligência dos Estados Unidos, analisando essas campanhas, destacaram a necessidade de aeronaves de bombardeio médio com maior velocidade, alcance e capacidade de carga para competir com os avanços das potências do Eixo. Nesse contexto, a Douglas Aircraft Company, sob a liderança de Donald Douglas, Jack Northrop e Ed Heinemann, reavaliou o projeto do Model 7A, inicialmente concebido em 1936 como uma resposta a essas demandas, mas que não avançou além da fase conceitual devido às suas limitações frente às lições do conflito espanhol. Em 1938, o Model 7A deu lugar ao Model 7B, um projeto mais ambicioso que incorporava os requisitos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para uma concorrência lançada visando o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade. O Model 7B aproveitava as asas projetadas para o 7A, mas introduzia melhorias significativas: era uma aeronave de maiores dimensões, equipada com trem de pouso triciclo e dois motores a pistão de 1.100 HP cada, oferecendo um alcance de 2.000 milhas e capacidade para transportar até 2.000 libras (aproximadamente 907 kg) de bombas. O nariz da aeronave podia ser configurado com uma área transparente para o bombardeador ou equipado com oito metralhadoras fixas de calibre .50 para missões de metralhamento contra alvos terrestres, conferindo versatilidade operacional. O protótipo do Douglas Model 7B realizou seu primeiro voo em 26 de outubro de 1938, nas instalações da Douglas Aircraft Company, em Santa Monica, Califórnia. Apesar de suas especificações promissoras, o Model 7B não foi selecionado pelo USAAC, que optou por outros projetos, como o North American B-25 Mitchell, que entraria em serviço em 1941. No entanto, o destino do Model 7B mudou com o agravamento das tensões globais após a Crise de Munique, em setembro de 1938, quando a anexação dos Sudetos pela Alemanha nazista intensificou os temores de um conflito iminente na Europa. Países aliados, como a França, iniciaram programas acelerados de reaparelhamento de suas forças aéreas, buscando adquirir aeronaves modernas nos Estados Unidos. Nesse contexto, uma comissão militar francesa visitou os Estados Unidos em 1939 para avaliar armamentos, incluindo o Model 7B. Apesar da política de neutralidade americana, mantida até o ataque a Pearl Harbor em 1941, a comissão foi autorizada a inspecionar o protótipo. Em 23 de janeiro de 1939, durante um voo de demonstração pilotado por John C. Able, piloto de testes da Douglas, e com um oficial francês a bordo, o Model 7B sofreu um acidente fatal que resultou na destruição da aeronave e na morte de Able. A presença do oficial francês, que sobreviveu, desencadeou um escândalo diplomático, levantando questões sobre a neutralidade dos Estados Unidos e os riscos de testes com observadores estrangeiros.
Apesar  apesar de um trágico acidente durante um voo de demonstração em 23 de janeiro daquele ano, que resultou na destruição do protótipo e na morte do piloto de testes John C. Able. A encomenda inicial francesa de 100 unidades, posteriormente ampliada para 270, marcou o início da transformação do Model 7B no Douglas DB-7, uma aeronave que se tornaria um dos principais bombardeiros leves da Segunda Guerra Mundial. As especificações francesas exigiam modificações significativas para atender às necessidades operacionais da Força Aérea Francesa (Armée de l’Air). Essas alterações, supervisionadas por Ed Heinemann, incluíam maior alcance, maior capacidade de carga, blindagem reforçada, adaptação ao armamento francês e uma cabine de pilotagem configurada para padrões franceses, com controles no sistema métrico e manetes de potência operando em direção inversa ao padrão americano. Essas mudanças visavam tornar o DB-7 mais adequado às exigências do teatro europeu, onde a França enfrentava a crescente ameaça da Alemanha nazista.o pouco eficazes durante a Campanha da França. O Douglas DB-7 foi uma evolução significativa do Model 7B, projetado para combinar velocidade, manobrabilidade e capacidade de carga. As principais modificações incluíram: Fuselagem otimizada: A fuselagem foi redesenhada para ser mais profunda e estreita, reduzindo o arrasto aerodinâmico e permitindo maior capacidade de combustível, o que aumentou o alcance para cerca de 2.000 milhas. A área frontal reduzida também minimizava a vulnerabilidade a artilharia antiaérea durante missões de ataque ou metralhamento. Cabine de pilotagem tipo “caça”: A cabine foi projetada para acomodar apenas o piloto, com espaço limitado para a tripulação, composta por um bombardeador e um metralhador. Tentativas de incluir controles reduzidos para o metralhador operar a aeronave em caso de incapacitação do piloto foram testadas, mas abandonadas por sua ineficácia. Armamento: O nariz da aeronave apresentava uma área parcialmente transparente para o bombardeador, equipada com duas metralhadoras francesas Chatellerault de 7,5 mm em cada lado, operadas pelo piloto. Uma posição para o metralhador, com cobertura deslizante, foi instalada atrás das asas, equipada com uma metralhadora, e outra metralhadora foi posicionada no ventre da aeronave, abaixo dessa posição. Motores e trem de pouso: O DB-7 era equipado com dois motores Pratt & Whitney R-1830-SC3-G de 1.100 HP, montados em nacelas sob as asas, que permitiam um trem de pouso triciclo de altura adequada. As asas, montadas à meia-altura na fuselagem, contribuíam para a estabilidade e manobrabilidade. O protótipo do DB-7 realizou seu primeiro voo em meados de agosto de 1939, nas instalações da Douglas em El Segundo, Califórnia. O primeiro exemplar de série foi entregue em outubro do mesmo ano, marcando o início da carreira de uma aeronave que se destacaria por seu desempenho em combate.

A queda da França em junho de 1940, durante a Campanha da França, limitou a entrega dos DB-7 à Armée de l’Air, com apenas algumas unidades entrando em serviço antes da rendição francesa. As aeronaves restantes foram adquiridas pela Força Aérea Real Britânica (RAF), que enfrentava uma grave escassez de bombardeiros modernos após as perdas na campanha francesa, onde seus Fairey Battle e Bristol Blenheim se mostraram vulneráveis frente aos caças alemães, como o Messerschmitt Bf 109. Os DB-7 foram redesignados pela RAF como Boston I e Boston II, tornando-se peças-chave em operações no Norte da África, Europa e Mediterrâneo. A Douglas também desenvolveu o DB-7A, equipado com motores mais potentes Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, atendendo a uma encomenda francesa de 100 unidades. Embora poucas dessas aeronaves tenham chegado à França antes da derrota, elas foram amplamente utilizadas pela RAF e pelas Forças Francesas Livres, demonstrando versatilidade em missões de bombardeio, ataque ao solo e reconhecimento. A aquisição das aeronaves anteriormente destinadas à França traria, no entanto, vários problemas, seja pelo armamento diferente, seja pelo funcionamento diferente dos comandos e da instrumentação no sistema métrico a bordo da cabine de pilotagem, o que veio a causar acidentes. Assim os novos Douglas Boston I e II foram considerados inadequados para serem usados como bombardeiros e foram modificados para uso como aeronaves incursoras noturnas ou de caça noturna, sendo rebatizadas como Havoc I (Intruder) ou Havoc II (Nightfighter). Alguns Havoc I e Havoc II receberam a modificação “Turbinlite”, que consistia na instalação de um holofote no nariz da aeronave, com a qual ela deveria iluminar bombardeiros noturnos alemães, os quais seriam então abatidos por caças Hawker Hurricane, porém tal sistema teve pouco sucesso. Outra ideia mal-sucedida foi a instalação de minas aéreas presas a cabos, estendidos por aeronaves Havoc III ou Havoc I (Pandora); apenas um bombardeiro foi abatido dessa forma. Antes disso, o comando da Força Aérea Real (RAF) já estava impressionada com a aeronave da Douglas e havia adquirido 150 exemplares em fevereiro de 1940 e mais 150 aeronaves em abril do mesmo ano. As aeronaves adquiridas apresentavam um nariz modificado e incorporavam armamento britânico, vindo a serem denominadas DB-7B pela fábrica e Boston III localmente pelos militares britânicos. Alguns desses foram posteriormente equipados com quatro canhões de 20mm em um pacote instalado sob o ventre, e designados como Boston III Intruder. Em junho de 1939, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) procederia a aquisição de 63 aeronaves Douglas DB-7 que receberiam a designação militar de A-20. Este modelo estava equipado com dois motores Wright R-2600-7 e eram similares aos DB-7B britânicos, destas 60 aeronaves seriam convertidas em caças noturnos, P-70, equipadas com radar AI Mk. IV britânico e com quatro canhões de 20mm sob o ventre.
Seguiu-se então o A-20A, dotado de motores Wright R-2600-3, similar ao Boston III britânico; o A-20B, incorporando os motores Wright R-2600-11 e equipado com metralhadores Browning 12,7mm no nariz e para o metralhador, aproximadamente 665 dos quais foram enviados à União Soviética através do Acordo “Lend-Lease”; o A-20C utilizava motores Wright R-2600-23 e tinha tanques autoselantes e melhor blindagem – encomendado pelos britânicos, a grande maioria acabou sendo utilizado pelos soviéticos e alguns foram transferidos para o  Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) após o ataque a Pearl Harbor. O Douglas A-20D representaria uma versão leve que, aparentemente não passaria da fase de projeto. Já o A-20E nasceriam de modificações dos A-20A utilizados em treinamento e desenvolvimento. Já o único A-20F resultou da incorporação de torretas dorsal e ventral, acionadas por controle remoto, e um canhão de 37mm no nariz. A versão seguinte foi o A-20G Havoc, que passava a incorporar uma série de modificações, principalmente no tocante ao armamento. O nariz transparente seria substituído por um nariz sólido, dotado de quatro metralhadoras fixas de 12,7mm ou quatro canhões de 20mm – esses utilizados apenas nos 250 primeiros exemplares da versão; na parte inferior do nariz, foram instaladas mais duas metralhadoras 12,7mm. Os primeiros 750 exemplares produzidos (blocos A-20G-1, A-20G-5, A-20G-10 e A-20G-15) tinham uma metralhadora móvel de 12,7mm no dorso e uma 12,7mm ou 7,7mm no ventre; a partir do A-20G-20, foi instalada na posição dorsal uma torreta Martin, de controle elétrico, equipada com duas metralhadoras 12,7mm, bem como se padronizou a instalação de uma metralhadora do mesmo calibre na posição ventral. Foram instalados, ainda, dois cabides embaixo de cada asa, permitindo carregar quatro bombas de 500lb; descobriu-se também que era possível transportar 4.000lb de bombas internamente, ao invés dos 2.000lb até então utilizados. Essa foi a versão mais produzida, totalizando 2.850 exemplares entregues. O A-20J foi uma variante do A-20G, equipada com um nariz transparente, e que era utilizada como aeronave líder de bombardeio, em conjunto com os A-20G. Aproximadamente metade dos 450 exemplares produzidos foram transferidos para a União Soviética e Grã-Bretanha. A instalação de motores Wright R-2300-29 usando as fuselagens do A-20G e A-20J levou às versões A-20H e A-20K, sendo produzidos 412 e 413 exemplares dessas variantes, respectivamente. Esses foram os últimos A-20 a saírem da linha de produção, a qual encerrou-se em 1944. Durante a Segunda Guerra Mundial, os A-20, DB-7 e Boston foram utilizados em praticamente todos os teatros de operações, incluindo Noroeste Europeu, Leste Europeu, Mediterrâneo, Norte da África e Sudoeste do Pacífico, pelas forças aéreas da França – incluindo a França Colaboracionista, de 1940 a 1942, e as unidades da França Livre – Grã-Bretanha, União Soviética, Estados Unidos e Austrália.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942.  Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos do Lend-Lease foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats) da Kriegsmarine e italianos da Regia Marina, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. A modernização naval e aérea, impulsionada pelo programa, permitiu ao Brasil desempenhar um papel ativo na defesa do Atlântico Sul e na proteção das rotas marítimas aliadas. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global. 

Essa limitação comprometia a capacidade da Força Aérea Brasileira (FAB) de desenvolver uma força aérea eficiente, crucial para a defesa do extenso litoral brasileiro e para a proteção das rotas marítimas no Atlântico Sul. Com uma linha de crédito proporcionada pelo Estados Unidos, a partir de 1942 começariam a ser  recebeidos aeronaves de caça, patrulha, bombardeio e transporte, transformando sua capacidade operacional e alinhando-a com as necessidades do esforço de guerra aliado. A modernização da Força Aérea Brasileira (FAB) foi acompanhada por um esforço conjunto com os Estados Unidos por meio do United States Brazilian Air Training Unit (USBATU), um programa que trouxe equipes militares americanas para treinar pilotos brasileiros e implementar doutrinas operacionais modernas. Inicialmente, todas as aeronaves recebidas foram destinadas a missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare), protegendo comboios mercantes que transportavam matérias-primas, como látex, essenciais para a indústria bélica aliada. As principais aeronaves empregadas incluíam: Consolidated PBY-5 Catalina: Um hidroavião de longo alcance, ideal para patrulhas marítimas e detecção de submarinos. North American B-25 Mitchell: Um bombardeiro médio utilizado em missões de ataque e patrulha. Lockheed A-28A Hudson: Um avião de patrulha marítima e bombardeio leve, amplamente usado no Atlântico Sul. Lockheed-Vega PV-1 Ventura e PV-2 Harpoon: Aeronaves de patrulha marítima com capacidade para detecção e  ataques antissubmarino. Com o treinamento supervisionado pelo USBATU e a experiência adquirida em missões reais, a Força Aérea Brasileira (FAB) alcançou maturidade operacional na guerra antissubmarino, consolidando sua capacidade de proteger o litoral brasileiro e contribuir para a segurança das rotas marítimas aliadas. Com a consolidação das operações de patrulha e guerra antissubmarino, a Força Aérea Brasileira (FAB) buscou expandir suas capacidades para incluir missões de bombardeio terrestre, uma nova especialização que refletia sua crescente confiança e competência. Em agosto de 1944, por meio de um decreto ministerial, foram criados o 1º e o 2º Grupos de Bombardeio Leve (GBL), sediados, respectivamente, em Gravataí, no Rio Grande do Sul, e em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Essas unidades foram equipadas com 30 aeronaves Douglas A-20K Havoc, cedidas sob os termos do Lend-Lease Act. O Douglas A-20K Havoc, a versão mais avançada do bombardeiro leve desenvolvido pela Douglas Aircraft Company, incorporava melhorias baseadas em experiências de combate das versões anteriores (como o DB-7 e o A-20) em diversos teatros da Segunda Guerra Mundial, incluindo o Norte da África, a Europa e o Pacífico. Equipado com dois motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, o A-20K oferecia maior velocidade, alcance (cerca de 2.000 milhas) e capacidade de carga (até 2.000 libras de bombas). Sua configuração incluía um nariz com transparências para o bombardeador ou metralhadoras fixas de calibre .50 para missões de ataque ao solo, além de posições defensivas para metralhadores, tornando-o versátil para uma ampla gama de missões.
 A primeira aeronave Douglas A-20 a chegar ao Brasil, em 30 de julho de 1944, foi um modelo A-20C (conhecido como Boston Mk III pela Força Aérea Real Britânica – RAF), recebido no Campo de Marte, em São Paulo. Esta célula, com número de série 44-336 (c/n 23559) e matrícula FAB 6091, era uma aeronave usada, considerada “cansada de guerra” devido ao seu intenso emprego em operações pela RAF. Rematriculada pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) antes de sua transferência, ela foi destinada exclusivamente a tarefas de instrução em solo na Escola Técnica de Aviação (ETAv). Devido ao desgaste acumulado em combates anteriores, a aeronave não era adequada para operações de voo, sendo utilizada para treinamento de mecânicos e equipes de solo. Em 1947, foi transferida para o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP), onde continuou a servir no treinamento de equipes de manutenção até junho de 1955, quando foi desativada e sucateada. A chegada desta aeronave marcou o início da familiarização da Força Aérea Brasileira (FAB) com o modelo A-20, preparando o terreno para a introdução de unidades mais modernas.  A partir de junho de 1944, a FAB começou a receber aeronaves Douglas A-20K-10DO e A-20K-15DO, novas de fábrica, transladadas diretamente da planta da Douglas Aircraft Company em El Segundo, Califórnia, para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Essas versões representavam o ápice do desenvolvimento do A-20 Havoc, incorporando melhorias baseadas em experiências de combate em diversos teatros da Segunda Guerra Mundial, como maior alcance, capacidade de carga de até 2.000 libras de bombas e motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP. As aeronaves foram inicialmente concentradas em Santa Cruz para um curso intensivo de 60 dias, ministrado por oficiais da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), que capacitou pilotos e mecânicos brasileiros nas operações e manutenção do A-20. Após o treinamento, as aeronaves foram distribuídas aos 1º e 2º Grupos de Bombardeio Leve, iniciando atividades operacionais e táticas. O A-20K, com sua configuração versátil — incluindo um nariz com transparências para o bombardeador ou metralhadoras de calibre .50 para ataque ao solo, além de posições defensivas para metralhadores — era ideal para missões de bombardeio leve e apoio tático, embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha focado principalmente em treinamento devido ao estágio avançado do conflito. O perfil operacional arrojado do A-20K, combinado com a pouca experiência inicial dos tripulantes brasileiros, resultou em desafios significativos. Nos primeiros dois anos de operação (1944–1946), quatro aeronaves foram perdidas em acidentes: as de matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089. Esses incidentes, que envolveram perdas materiais e humanas, refletiram as dificuldades de adaptação a uma aeronave complexa e à falta de familiaridade com suas exigências operacionais.  No entanto, o perfil operacional arrojado do A-20, combinado com a inexperiência inicial dos tripulantes brasileiros, resultou em perdas significativas. Entre 1944 e meados de 1947, um terço das 30 aeronaves A-20 foi perdido em acidentes, deixando apenas 18 unidades em condições de voo.  Entre as perdas estavam as aeronaves de matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089, refletindo os desafios de operar uma aeronave complexa em um contexto de formação incipiente. 

Esses incidentes motivaram a reestruturação das operações do A-20 na FAB. Em 1947, o 1º GBL foi transferido de Gravataí para a Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos, para concentrar todas as aeronaves A-20 em uma única base. A operação conjunta dos dois grupos facilitou a manutenção e otimizou as operações, eliminando a distinção entre as unidades. Esse cenário culminou na fusão dos grupos, formalizada em 1º de abril de 1947, com a criação do 1º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv), conhecido como Esquadrão Poker. Essa nova unidade tornou-se a espinha dorsal das operações de bombardeio leve da FAB, consolidando sua doutrina operacional para missões de ataque tático. Por mais de cinco anos, entre 1947 e 1952, o Esquadrão Poker operou os Douglas A-20K-10DO e A-20K-15DO, versões avançadas do A-20 Havoc equipadas com motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, capazes de transportar até 2.000 libras de bombas e alcançar um alcance de aproximadamente 2.000 milhas. Essas aeronaves, entregues novas de fábrica a partir de junho de 1944 pela Douglas Aircraft Company, em El Segundo, Califórnia, foram fundamentais para o desenvolvimento de uma doutrina operacional robusta para missões de bombardeio tático e ataque ao solo. O treinamento intensivo, conduzido por oficiais da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, capacitou pilotos e mecânicos brasileiros, permitindo que o Esquadrão Poker alcançasse um alto nível de proficiência. As operações do A-20K fortaleceram a capacidade da FAB de realizar missões táticas, embora o fim da Segunda Guerra Mundial tenha reduzido a necessidade de operações de combate. A experiência adquirida durante esses anos lançou as bases para a evolução da aviação militar brasileira, preparando a FAB para novos desafios no contexto da Guerra Fria. A partir de 1952, a FAB iniciou um processo de modernização de seus meios de ataque, optando por retirar os Douglas A-20K das missões de bombardeio tático. Essa decisão abriu uma oportunidade para a transformação do Esquadrão Poker na primeira unidade especializada em reconhecimento tático do Brasil. Para atender a essa nova missão, 11 aeronaves A-20K foram convertidas em plataformas de reconhecimento, recebendo a designação R-20. O processo de conversão, realizado nas oficinas do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), envolveu mudanças significativas: Remoção de armamento e blindagem: Todo o armamento ofensivo, incluindo metralhadoras de calibre .50 e posições defensivas, foi retirado, assim como a blindagem, para reduzir o peso e otimizar o desempenho em missões de reconhecimento Instalação de câmeras fotográficas: O compartimento de bombas (bombay) foi adaptado para receber câmeras verticais Fairchild K-17B e K-17C, permitindo a captura de imagens aéreas para inteligência militar Reconfiguração da fuselagem: A posição das metralhadoras superiores foi convertida em um posto para o operador de rádio, equipado com sistemas de comunicação modernos. Atualização de instrumentos: Todos os sistemas de navegação foram modernizados para atender às exigências de missões de reconhecimento tático. Novo padrão de camuflagem: As aeronaves receberam uma pintura tática rajada em tons de castanho e verde, adequada para operações em ambientes variados. As 11 aeronaves convertidas foram batizadas com nomes de origem indígena, refletindo a identidade cultural brasileira: Aboim Ema, Calango, Jurunas, Trumais, Gavião, Paranagua, Bororos, Xavantes, Rio Preto, Suias e Kalapagos. 
A primeira missão especializada do Esquadrão Poker ocorreu em 10 de novembro de 1952, um marco histórico para a aviação de reconhecimento tático no Brasil. A partir dessa data, a  Força Aérea Brasileira (FAB) incorporou às suas capacidades as missões de reconhecimento fotográfico prévio e análise de fotos pós-ataque, essenciais para operações táticas e estratégicas. Em 1953, os Douglas R-20 passaram a realizar também missões de reconhecimento meteorológico, ampliando a versatilidade do esquadrão e contribuindo para a coleta de dados críticos para a segurança nacional durante a Guerra Fria. Apesar do sucesso inicial, a frota de Douglas R-20 enfrentou desafios significativos a partir de 1954. A disponibilidade operacional despencou devido à escassez crônica de peças de reposição, resultado do desgaste natural das aeronaves e da interrupção do suporte logístico após o fim do Lend-Lease Act. Além disso, dois acidentes fatais adicionais, somados às perdas anteriores (quatro aeronaves entre 1944 e 1946, com matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089), reduziram ainda mais a frota operacional. Em meados de 1947, apenas 18 das 30 aeronaves originais permaneciam em condições de voo, e, em 1954, a situação tornou-se insustentável, evidenciando a necessidade de substituição dos R-20 para preservar a capacidade operacional da  Força Aérea Brasileira (FAB).  Diante desse cenário, o comando da Aeronáutica decidiu incorporar novas aeronaves convertidas para reconhecimento tático, incluindo o North American RB-25J Mitchell e o Beechcraft RT-11. A partir de março de 1955, os Douglas R-20 passaram a dividir as missões de reconhecimento com esses novos vetores, uma transição que culminou na desativação das últimas missões do R-20 na primeira quinzena de outubro de 1955. As células remanescentes em condições de voo foram estocadas na Base Aérea de São Paulo (BASP), em Cumbica, Guarulhos. Duas aeronaves R-20, com matrículas FAB 6085 e FAB 6068, foram transferidas para funções educacionais. A FAB 6085 foi destinada à Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), enquanto a FAB 6068 foi enviada ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), ambas para uso em estudos e treinamento de manutenção por alunos dessas instituições. A aeronave FAB 6085, após anos exposta ao tempo em Guarulhos, foi restaurada e incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, onde permanece até hoje, em 2025, como um testemunho da história da FAB e da dedicação dos militares que operaram e mantiveram os Douglas R-20. O legado dos Douglas A-20 Havoc na FAB é multifacetado, abrangendo avanços operacionais, técnicos e culturais. Operacionalmente, o A-20 foi instrumental na transição da FAB de uma força focada em patrulhas marítimas para uma instituição capaz de realizar missões complexas de bombardeio tático e reconhecimento aéreo. A criação do Esquadrão Poker e sua especialização em reconhecimento tático em 1952 estabeleceram a Força Aérea Brasileira (FAB) como uma força aérea moderna, com capacidades estratégicas que fortaleceram a segurança nacional durante a Guerra Fria.

Em Escala.
Para representarmos o Douglas A-20K Havoc “FAB 6071“, fizemos uso do antigo kit produzido pela AMT na escala 1/48. Apesar do modelo original apresentar apenas versões A-20 G e A-20J, atualmente é o único kit que mais se aproxima do modelo empregado pela Força Aérea Brasileira, levando então a necessidade de procedermos pequenas mudanças superficiais no modelo. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals presentes no Set 48/03 para completar o conjunto.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa padrão de pintura tático da Força Aérea do Exército do Exército dos Estados Unidos (USAAF), com o qual as aeronaves foram recebidas em 1944. A partir do ano seguinte pequenas modificações inseridas neste esquema focando aspectos de identificação das aeronaves. Este padrão mantido até 1952, quando os "novos" R-20K adotaram no novo padrão de camuflagem tática, rajada em tons de castanho e verde.


Bibliografia :
- Douglas A-20 Havoc  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Douglas_A-20_Havoc
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr.
- A-20K o Devastador na FAB, Claudio Luchesi - Revista Asas Nº6
- Havoc – O Bombardeiro Douglas A-20 na FAB – Leandro Casella – Revista Força Aérea nº 97

Submarinos Classe Humaitá - Oberon

História e Desenvolvimento.
Durante a Segunda Guerra Mundial a Marinha Alemã (Kriegsmarine), faria uso com extremo êxito de diversas classes de submarinos, que muitas vezes superavam em desempenho e tecnologia seus similares aliados. Estes resultados influenciariam decisivamente os projetos de submarinos de todas as potências militares logo no período pós-guerra, com estes agregando muito de suas características básicas. A Marinha Real Britânica (Royal Navy) detentora de grande tradição naval logo se esforçaria no desenvolvimento de novas classes de submarinos que pudessem principalmente rivalizar com a nova geração de navios soviéticos. Entre os diversos submarinos construídos neste período, destacava-se a classe Porpoise, que teria seu projeto e principalmente  desing baseados no revolucionário Ubot Tipo XXI. Os submarinos da classe Porpoise eram maiores, mas mais curtos que seus antecessores da classe T e usavam uma liga aço muito melhorada conhecido como UXW. Seu desing aprimorado permitiria um mergulho muito mais profundo, proporcionando ainda autonomia prolongada em termos de dias de imersão, graças a sistemas de recirculação e limpeza de ar muito melhorados. Os primeiros barcos da classe Porpoise seriam lançados a partir de 1956 durante a ameaça crescente da frota de submarinos da União Soviética. Apesar de contar com apenas oito navios construídos e operacionais, seu excelente desempenho iria ajudar a equilibrar a balança do poder naval na Europa durante a primeira fase da Guerra Fria. Apesar destas características positivas, seu intensivo emprego durante missões reais de patrulha de longo curo, era notório que melhorias deveriam ser implementadas a médio prazo, com a finalidade de rivalizar as novas classes de submersíveis soviéticos. Para o atendimento desta demanda a partir de 1955, uma nova classe seria desenvolvida, sendo batizada como “Oberon”, tomando como base o projeto dos submarinos da classe Porpoise. Estes novos navios apresentavam as dimensões da classe anterior, com 89,9 metros de comprimento, 8,7 metros de boca e 5,48 metros de calado, incluindo pequenas alterações em seu desing visando favorecer a força e a furtividade do submarino. Em vez de aço UXW empregado na classe Porpoise, seu casco foi construído a partir de aço QT28, que era mais fácil de fabricar e mais forte. Em sua construção seriam empregados compostos de plástico reforçado com vidro para uso na construção do invólucro frontal, permitindo assim que o submarino mergulhasse mais fundo. 

Todo este projeto seria desenvolvido inaugurando o conceito de “one man control”, no qual apenas um homem manobrava a embarcação em rumo e profundidade, com controles semelhantes aos de um avião, sendo considerado neste contexto um dos projetos mais modernos de submarinos do tipo convencional do mundo. Esta nova classe de submarinos faria uso do sistema de propulsão diesel-elétrica, com baterias de chumbo-ácido, responsáveis por fornecer energia quando os motores não podiam ser empregados. Contava ainda com dois motores diesel V-16 Admiralty Standard Range (ASR1 16VMS), cada um operando um gerador elétrico de 1280 kW 880-V, fornecendo energia diretamente para os dois motores elétricos de 3.000 cavalos de potência de freio (2.200 kW), diretamente conectados a cada hélice, ou para carregar baterias. Os motores diesel só podiam ser operados com ventilação externa, mas isso poderia ser obtido na superfície ou quando rasamente submerso pelo uso de dois snorkels, que podiam ser levantados da barbatana, repetindo o ciclo de retirada para o ambiente externo dos gases de escape dos motores e renovação do ar fresco pela embarcação através do sistema de ventilação. Com seu principal emprego visava o combate antissubmarino, os navios desta nova classe seriam originalmente armados com oito tubos de torpedo de 533,4 mm, sendo seis tubos na proa e dois tubos curtos para defesa antissubmarino na popa. A carga padrão deveria compreender uma carga de vinte torpedos para os tubos dianteiros; uma mistura de armas do tipo Mark 24 Tigerfish e Mark 8, enquanto apenas os dois torpedos Mark 20S pré-carregados seriam transportados para os tubos de popa. Alternativamente minas poderiam ser transportadas em vez de torpedos, podendo prever até cinquenta minas dos tipos Mark 5 Stonefish ou Mark 6 Sea Urchin. Essa classe também dispunha de maior velocidade sob a água, maior autonomia e um sofisticado sistema digital com computadores Ferranti TIOS 24B para direção de tiro, além de um sonar mais avançado, num grande domo no alto da proa. Este era do modelo THORN EMI Type 197CA de média frequência, passivo/ativo para busca e ataque, e a suíte de sonar incluía o hidrofone lateral BAC Type 2007AA de baixa frequência, para busca, tornando-os especialmente adequados à luta antissubmarino. 
O projeto seria aprovado pelo almirantado inglês, levando em setembro de 1957 a celebração de um contrato para a construção de treze navios para a Marinha Real Britanica (Roya Navy), sua fabricação seria destinada aos estaleiros Chatham, Cammell Laird, Vickers-Armstrongs e Scotts Shipbuilding. O primeiro navio da classe Oberon, o HMS Orfeu seria comissionado em 1960, sendo seguido em 1961 pelo HMS Oberon. Os demais navios receberiam os nomes de HMS Ocelot, HMS Odin, HMS Olympus, HMS Onslaught, HMS Opossum, HMS Orófio, HMS Osiris, HMS Lontra, HMS Otus com o último navio, o HMS Onyx sendo comissionado em 1967. Em serviço ativo a Classe Oberon, se mostraria muito mais silenciosa que suas contrapartes norte-americanos, com esta característica levando estes navios a serem constantemente empregados em operações clandestinas, realizando vigilância e inserção de forças especiais na Europa, missões estas de ordem vital durante o auge na Guerra Fria. Mais tarde navios desta mesma classe, pertencentes as marinhas do Canadá e Australia, seriam empregados neste mesmo perfil de missão nas regiões do Oceano Pacífico Ártico, sudoeste da Asia e Mar do Japão. Em 1968, a Marinha Canadense se tornaria o primeiro cliente de exportação da Classe Oberon, com um contrato para o fornecimento de três navios, com estes diferindo do projeto original por contar com melhores sistemas de ar-condicionado, sendo customizados ao fazer o emprego no maior número possível de de componentes básicos produzidos localmente. Os submarinos Oberon canadenses seriam armados com torpedos norte-americanos, inicialmente o modelo Mark 37 e posteriormente Mark 48. Estes navios foram batizados como HMCS Ojibwa, HMCS Onondaga e HMCS Okanagan, e seriam incorporados respectivamente em 23 de setembro de 1965, 22 de junho de 1967 e 22 de junho de 1968. Em meados da década seguinte mais dois submarinos usados pertencentes a Marinha Real (Royal Navy) seriam adquiridos, mas nunca comissionados, com um destes sendo destinado a tarefas de treinamento estático na base naval de Halifax e outro sendo empregado em um processo de canibalização para obtenção de peças de reposição.  

A Marinha Real Australiana (RAN) se tornaria segundo cliente de exportação, com um contrato sendo firmado no ano 1965 envolvendo a construção de quatro submarinos. O primeiro batizado como HMSA Otway seria comissionado em 1968, e os demais como HMSA Fornos, HMSA Onslow, HMSA Orion, HMSA Otama e HMSA Oxley, que seriam incorporados até o final do ano de 1978. Estes submarinos australianos seriam equipados com sistemas e sonares de origem norte-americana (Sperry Micropuffs) e conjunto e ataque Krupp CSU3-41. Em termos de armamento faziam uso de torpedos norte-americanos Mark 48, podendo carregar até vinte e duas destas armas para os tubos da frente e seis dos quais foram pré-carregadas. Os submarinos australianos seriam posteriormente atualizados em termos de sistemas eletrônicos sendo capacitados para operar com os mísseis norte-americanos Harpoon antinavio. Assim em março de 1985, ao largo da ilha de Kauai, no Havaí, HMAS Fornos tornaria-se o segundo submarino convencional no mundo e o primeiro classe Oberon a lançar misseis subsuperfície, disparando mísseis Harpoon, com sucesso, acertando o alvo por cima do horizonte. Por conseguinte, a designação para o Oberons australianos mudariam de SS para SSG, classificando seu novo perfil operacional. Seria relatado que os submarinos australianos conduziram operações regulares com forças especiais, embora devido à sua capacidade limitada, estas fossem restritas a circunstâncias em que o barco pudesse emergir e geralmente fossem conduzidas à noite. Isso incluiu colocar mergulhadores sob o revestimento para maior movimento secreto ou desembarcar equipes de forças especiais usando caiaques ou barcos infláveis. O Chile se tornaria o terceiro operador da classe Oberon , incorporando entre os anos de 1976 e 1977, dois navios batizados como CNS Obrein e CNS Hyatt. Estes navios diferiam muito pouco dos modelos em uso pela Marinha Real (Roya Navy), e permaneceriam em serviço até 31 de dezembro de 2001 na Marinha do Chile, quando foram substituídos por submarinos franceses da classe Scòrpene (CNS O'Higgins e CNS Carrera).
No final da década de 1970, os submarinos da classe Oberon em serviço na Marinha Real Canadense seriam declarados obsoletos, e como ainda se encontravam em bom estado de conservação de cascos e grupo propulsor, seriam conduzidos estudos visando a implementação de um programa de modernização. Esta proposta seria aprovada em fevereiro de 1979, objetivando elevar estes navios a um patamar tecnológico satisfatório que os capacitasse a operar a serviço da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no monitoramento de submarinos soviéticos no Oceano Atlântico. Este processo denominado como Programa de Atualização Operacional de Submarinos (SOUP) seria desenvolvido para lidar com a capacidade operacional dos submarinos juntamente com um Acordo de Apoio Logístico (LSA) para aquisição de mais peças de reposição. Em termos de atualização seriam incorporados os sistemas de controle de fogo norte-americanos Singer Librascope Mark I digital, sonar de alcance passivo Sperry, periscópios, comunicações e sistemas de controle de incêndio, além da customização para operação com torpedos MK-48. Este seria o único programa realizado em todos os vinte e sete navios desta classe, estendendo a vida útil destes navios até o final da década de 1990, quando foram substituídos pelos submarinos britânicos da classe Upholder. Cabe o registro de que no ano de 1982 durante a Guerra das Falklands – Malvinas, o HMS Onyx operaria no arquipélago em conflagração, desembarcando membros o Special Boat Service (SBS - Serviço Especial de Barco). Todos os submarinos da classe Oberon da Marinha Real (Royak Navy), seriam retirados da ativa até o final da década de 1980, sendo substituídos pelos navios convencionais de propulsão diesel elétrico das classes  Upholder e  Collins.    

Emprego na Marinha do Brasil.
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, a Flotilha de Submersíveis se mantinha operacional a duras penas, contando apenas com quatro obsoletos submarinos italianos das classes Balila e Humaytá, que já apresentavam nenhuma efetividade operacional naquele momento. Este preocupante cenário perduraria até meados da década de 1950, quando seria decidido iniciar um processo de modernização da frota da frota da Marinha  do Brasil através da aquisição de submarinos usados oriundos da reserva da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Em fins da década de 1950, seriam recebidos dois submarinos usados da Classe Gato, o S15 Riachuelo (ex-USS Paddle - SS 263) e S14 Humaitá (ex-USS Muskallunge - SS 262). Estas incorporações trariam novo alento a Flotilha de Submersíveis, pois estes novos navios estavam equipados com o sistema eletrônico TDC - Target Data Computer (Computador de Dados do Alvo - Eletromecânico) Mk 3 Mod.5 e o relativamente moderno sonar passivo JP 1. E sua introdução representava um importante salto tecnológico, devolvendo uma mínima capacidade operacional a Esquadra.  Em 1963, a Flotilha de Submarinos passou a se chamar Força de Submarinos; sendo criada a “Escola de Submarinos” como organização militar autônoma na estrutura do Ministério da Marinha. Esforços para a ampliação da frota culminariam no ano de 1963 na transferência de duas unidades de submersíveis da classe “Balao” o Grande do Sul - S 11 e o  Bahia - S 12. A partir de 1972 a Força de Submarinos receberia um considerável reforço ao incorporar sete submarinos usados da Classe Guanabara (Guppy II/III) o  Guanabara – S10, ex-USS Dogfish – SS-350; Rio Grande do Sul – S11, ex-USS Grampus – SS-523; Bahia – S12, ex-USS Sea Leopard – SS-483; Rio de Janeiro – S13, ex-USS Odax – SS-484 e Ceará – S14, ex-USS Amberjack – SS-522. Os Guppy III recebidos foram o Goiás – S15, ex-USS Trumpetfish – SS-425 e Amazonas – S16, ex-USS Greenfish – SS-351. Os submarinos Classe Guanabara (Guppy II/III) representariam um grande avanço para a Força de Submarinos, já no campo tático e doutrinário. O Rio Grande do Sul (S11) seria o primeiro submarino a inaugurar no Brasil o emprego do esnorquel , por isso acabaria recebendo o título de “O Pioneiro”. 

Estes “novos” submarinos apesar de se mostrarem ainda relativamente eficientes no cumprimento de suas missões, eram navios construídos na década de 1940 e já presentavam claros sinais de desgaste de casco e defasagem tecnológica quando comparados aos submarinos de nova geração.  Esta demanda seria incluída no Programa de Reaparelhamento da Marinha do Brasil, que seria deflagrado e revisionado no final da década de 1960. Este ambicioso planejamento visava incorporar (e boa parte por construção local) dezenas de navios de diversos tipos, com destaque especial para os de escolta e , no caso mais específico, fragatas.  Neste escopo estava prevista também a aquisição de novos submarinos que seriam destinados, principalmente, à luta antissubmarino (ASW), um dos principais focos da Marinha Brasileira, que ambicionava se preparar minimamente para o enfretamento da hipotética ameaça representada pelos submarinos soviéticos. Diferente dos navios de superfície de construção mais simplificada que poderia ser realizada nos estaleiros brasileiros, esta opção seria descartada devido alta complexidade e falta de know how nacional neste segmento. Assim em 1968 dentro do Programa de Construção Naval, seria considerada a aquisição de submarinos novos, com estudos sendo conduzidos entre diversos construtores internacionais, com a escolha recaindo sobre uma proposta apresentada pelo estaleiro inglês Vickers Limited, que não impunha restrições para a venda de sistemas com tecnologias mais avançadas. Um acordo seria celebrado em 27 de agosto de 1969, envolvendo a aquisição submarinos da Classe Oberon, que nesta época eram considerados os mais modernos do tipo convencional do Mundo. Essa classe também dispunha de maior velocidade sob a água, maior autonomia e um sofisticado sistema digital com computadores Ferranti TIOS 24B para direção de tiro (marcando o advento da eletrônica embarcada nos nossos submarinos), além de um sonar mais avançado, num grande domo no alto da proa. Este era do modelo THORN EMI Type 197CA de média frequência, passivo/ativo para busca e ataque, e a suíte de sonar incluía o hidrofone lateral BAC Type 2007AA de baixa frequência, para busca, tornando-os especialmente adequados à luta antissubmarino. Dois navios desta classe seriam incialmente encomendados, com sua construção aprovada na revisão do Programa de Construção Naval de 1968, Aviso 1502 (confidencial) de 16/05/1968 MM. 
O primeiro deles, o S20 Humaitá, teve sua quilha batida no Vickers Limited, em Barrow-in-Furness, Lancashire em 3 de novembro de 1970 em cerimônia que contou com as presenças do Ministro da Marinha, Almirante-de-Esquadra Adalberto de Barros Nunes, do Chefe de Gabinete do MM, Contra-Almirante Elmar de Mattos Dias, do Adido Naval do Brasil em Londres e do Presidente da Comissão de Fiscalização e Recebimento de Submarinos na Inglaterra. Seria lançado ao mar em 5 de outubro de 1971, tendo como madrinha a Sra. Scylla Nogueira Medici, esposa do Presidente da República Emílio Garrastazu Medici, representada pela Sra. Maria Carolina de Barros Nunes. Foi submetido a Mostra de Armamento e incorporado à Armada em 18 de junho de 1973, pelo Aviso 0466 de 25/05/1973 do MM/EMA e OD 0034/73 de 18/06/73 do CEMA. Em 16 de outubro do mesmo ano, suspendeu de Barrow-in-Furness, iniciando a viagem inaugural com destino ao Brasil, fazendo escala em Portsmouth (Inglaterra), Lisboa (Portugal), Las Palmas (Ilhas Canárias), Dakar (Senegal), chegando em Recife-PE em 30 de novembro. A travessia Dakar-Recife, foi a primeira realizada, em imersão, por um submarino brasileiro, com a duração de doze dias e meio. Entre as décadas de 1970 e 1980 teve intensa participação em exercícios nacionais e internacionais como UNITAS XV, UNITAS XVI, READEX-I/77, READEX 78, UNITAS XIX, ASPIRANTEX 88/TROPICALEX I/88 e TEMPEREX-I/88. Em 1987 tornou-se recordista de dias em imersão, com 23 dias imersos, feitos durante a travessia Africa-Brasil. Esta participação se repetiria na mesma intensidade na década seguinte, com o navio em 1993 completando 20 anos de serviço, navegou mais de 14.000 horas em imersão e conquistou pela primeira vez Troféu Eficiência. Em 26 de abril de 1995, realizou encontro oceânico com uma aeronave C-115 Búfalo do 1º GTT, ao sul da Ilha Grande. Nesse exercício foi lançada de paraquedas uma equipe de Mergulhadores Especiais de Combate (MEC) composta de sete homens, que embarcou no submarino e, que posteriormente, foi realizar, com sucesso, um ataque simulado ao NSS Felinto Perry - K 11, que se achava fundeado em uma enseada na parte norte da Ilha Grande. Em 8 de abril de 1996, deu baixa do serviço ativo, tendo atingido as marcas 151.258.7 milhas navegadas, 1.193.5 dias de mar e 14.000 horas de imersão e lançou 173 torpedos. 

O Submarino Tonelero S21, teve sua construção aprovada na revisão do Programa de Construção Naval de 1968, Aviso 1502 (confidencial) de 16/05/1968 MM. Contrato assinado em 27 de agosto de 1969. Foi construído pelo estaleiro Vickers Limited, em Barrow-in-Furness, Lancashire. Teve sua quilha batida em 15 de novembro de 1971, oi lançado ao mar em 22 de novembro de 1972 em cerimônia que contou com a presença de dirigentes da Marinha do Brasil. Infelizmente em 2 de outubro de 1973 um incêndio assolou a embarcação, causando graves danos o que levaria a um atraso de pelo menos 4 anos no processo de construção do navio. Em 10 de dezembro de 1977, foi submetido a Mostra de Armamento e incorporado ao serviço ativo da Armada Brasileira, de acordo com o Aviso n.º 0900 de 04/11/1977 MM/EMA e OD 0019/77 de 10/12/77 do CEMA. Em 1º de novembro, o navio foi aceito pelo Encarregado do GFRSI, CMG Geraldo Baptista de Morais, e depois de incorporado, foi submetido à inspeção de eficiência nos moldes da Royal Navy (work-up), realizou corrida em raia acústica, desmagnetização e verificação do sistema de Direção de Tiro (weapons sea trials). Em 25 de julho de 1978, suspendeu de Barrow-in-Furness, iniciando a viagem inaugural com destino ao Brasil, estabelecendo a o recorde, na Marinha do Brasil, de permanência em imersão: 20 dias e meio de mar, 481 horas e 54 minutos, em 2.675.8 milhas navegadas. Durante as próximas duas décadas e meia participou ativamente de todos os exercícios navais de relevância da Marinha do Brasil. Em 1997 completou um período de reparos, onde teve substituído o sistema de sonar THORN EMI Type 187, pelo ATLAS CSU 90-61 que também foi integrado ao Sistema de Direção de Tiro (TIOS). O sonar Type 2004 permaneceu. Em 21 de junho de 2001 deu baixa do serviço ativo, pelo Aviso de 13/06/2001. Em seus 24 anos de serviço, atingindo as marcas de 168.368 milhas navegadas, sendo 80.636 em imersão, 1.286 dias de mar e 18.468 horas de imersão e foram lançados 154 torpedos. Até sua baixa era o submarino da Marinha do Brasil com maiores números de horas de imersão e dias de mar.
Em maio de 1972, seriam iniciadas conversações segundo o memorando 0048 de 24/05/72 do MM/DGMM, para a construção de uma terceira unidade da classe, o que seria provado mediante Emenda Contratual n.º 59 de 18 de agosto de 1972. O Submarino Riachuelo - S22 teve sua quilha batida em 26 de maio de 1973. Foi lançado em foi lançado em 6 de setembro de 1975, após de ter realizado as provas de mar foi incorporado a Armada Brasileira em 12 de março de 1977.Depois de Incorporado, foi submetido à inspeção de eficiência nos moldes da Royal Navy (work-up), realizou corrida em raia acústica, desmagnetização e verificação do sistema de Direção de Tiro (weapons sea trials). Em 28 de julho do ano seguinte, suspendeu de Barrow-in-Furness em 28 de julho, iniciando a viagem inaugural com destino ao Brasil. A exemplo dos demais navios da classe Humaitá (Oberon), o Riachuelo também se fez presente ao longo dos anos nos mais importantes exercícios navais realizados pela Marinha do Brasil como UNITAS XVIII, DRAGÃO XIII, Operação Anfíbia PISCES, ATLANTIS, UNITAS XIX, ASPIRANTEX/79, UNITAS XXI, FASEX II, ARRASTÃO X, UNITAS XXII, INOPINEX 81, DRAGÃO XVII, ASPIRANTEX/82, UNITAS XXVI, COSTEIREX-SE I, UNITAS XXVII, FRATERNO IX, CARIBE/88, FRATERNO XII, INTERPORTEX e ASPIRANTEX NORTE/94. Durante seu PMG, o Riachuelo recebeu as novas baterias de grande capacidade de fabricação nacional, produzidas pela empresa Saturnia Ltda, com tecnologia da alemã Varta, sendo o segundo submarino (primeiro da classe Humaitá) a recebê-las. Em 12 de novembro de 1997, deu baixa do Serviço Ativo da Armada, submetido a Mostra de Desarmamento e reclassificado, em cerimônia realizada na Base Almirante Castro e Silva (BACS), presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada. Em seus 20 anos e 8 meses de serviço, atingiu as marcas de 181.924 milhas navegadas, 1.283,5 dias de mar e 17.699 horas, 41 minutos de imersão e lançou 172 torpedos. Depois de sua baixa foi entregue ao Serviço de Documentação da Marinha (SDM), e foi reclassificado como Submarino Museu. Encontra-se atracado, em exposição no caís do Espaço Cultural da Marinha, próximo à Praça XV na cidade do Rio de Janeiro – Estado do Rio de Janeiro. 

Em Escala.
Para representarmos o submarino da classe Humaitá- Oberon S22 Riachuelo pertencente a Força de Submarinos da Marinha do Brasil, fizemos uso do kit em resina na escala 1/350 produzido pela OZ Mods. Não há a necessidade de se implementar qualquer alteração no modelo para se compor a embarcação construída sobre encomenda para o Brasil.  Fizemos uso de decais constantes no próprio kit, que permitem representar os três submersíveis brasileiros desta classe.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o único padrão de pintura empregado em todos nos submarinos da classe Humaitá - Oberon. Este esquema com pequena com variações na identificação dos navios seria utilizado em todos os submarinos desta classe até sua retirada do serviço ativo, entre os anos de 1996, 1997 e 2001. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors. 




Bibliografia : 

- Submarinos Classe Oberon - https://en.wikipedia.org/wiki/Oberon-class_submarine

- Cem anos da Força de Submarinos – Marinha do Brasil

- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br

- Os submarinos brasileiros, de 1914 até hoje – Alexandre Galante   https://www.naval.com.br