História e Desenvolvimento.
A Douglas Aircraft Company foi fundada em 22 de julho de 1921 por Donald Wills Douglas, em Santa Monica, Califórnia, após a dissolução da Davis-Douglas Company. Desde sua criação, a empresa buscou estabelecer-se como uma referência na aviação, combinando inovação técnica com visão estratégica. Um dos primeiros marcos de sua trajetória ocorreu em 1923, com a participação no programa World Flight, uma iniciativa ambiciosa do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USASS) para realizar a primeira circum-navegação aérea do planeta. Para atender a essa demanda, a Douglas desenvolveu o Douglas World Cruiser (DWC), uma versão modificada do bombardeiro biplano Douglas DT, projetada pelo jovem engenheiro Jack Northrop, que marcava sua estreia como um dos principais talentos da empresa. Quatro aeronaves DWC foram encomendadas, com a última entregue em 11 de março de 1924. Apesar de desafios logísticos e acidentes durante a jornada, que começou em 6 de abril de 1924 e terminou em 28 de setembro do mesmo ano, o World Flight foi um sucesso, com duas das quatro aeronaves completando a volta ao mundo. Esse feito histórico, que cobriu aproximadamente 43.500 quilômetros em 175 dias, consolidou a reputação da Douglas, que adotou o lema First Around the World (Primeira Volta ao Mundo), reforçando sua posição como líder na aviação norte-americana. Nos anos seguintes, a Douglas Aircraft Company concentrou-se na produção de aeronaves militares, especializando-se em bombardeiros-torpedeiros para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Modelos como o T2D e o XT3D, desenvolvidos na década de 1920, atenderam às necessidades da US Navy para operações marítimas, destacando-se por sua robustez e confiabilidade. No final da década, a empresa expandiu seu portfólio para incluir aviões anfíbios, como o Douglas Dolphin, e mudou suas instalações para Clover Field, em Santa Monica, Califórnia, um local estratégico para testes e produção. Na década de 1930, a Douglas diversificou sua produção, desenvolvendo uma ampla gama de aeronaves, incluindo bombardeiros leves e médios, caças, transportes, aeronaves de reconhecimento e modelos experimentais. Em 1934, a empresa lançou o Douglas DC-2, um avião comercial bimotor que marcou sua entrada no mercado de transporte civil, ganhando reconhecimento por sua eficiência e segurança. Contudo, o maior sucesso veio em 1936 com o Douglas DC-3, uma aeronave de transporte que revolucionou a aviação comercial e militar. Sua versão militar, o C-47 Skytrain (conhecido como Dakota pelas forças britânicas), tornou-se um ícone da Segunda Guerra Mundial, utilizado em operações como o desembarque da Normandia em 1944 e o transporte de suprimentos na campanha do Pacífico. Com mais de 16.000 unidades produzidas, o DC-3/C-47 é amplamente considerado o avião de transporte mais significativo da história, devido à sua versatilidade, durabilidade e impacto global. O sucesso do DC-3 proporcionou à Douglas os recursos financeiros e a confiança para explorar novos nichos na aviação militar. No final da década de 1930, a empresa voltou sua atenção para o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade, capaz de transportar uma carga significativa de bombas e ágil o suficiente para evitar interceptações inimigas. Esse projeto, liderado pelos engenheiros Donald Douglas, Jack Northrop e Ed Heinemann, foi iniciado em 1936 e resultou no conceito do Model 7A, apresentado no primeiro trimestre de 1937.
No final da década de 1930, o cenário geopolítico global era marcado por crescentes tensões que prenunciavam a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A Guerra Civil Espanhola (1936–1939) serviu como um laboratório para táticas e tecnologias aéreas, revelando a superioridade de aeronaves como o Heinkel He 111 alemão e o Savoia-Marchetti SM.79 italiano. Relatórios de inteligência dos Estados Unidos, analisando essas campanhas, destacaram a necessidade de aeronaves de bombardeio médio com maior velocidade, alcance e capacidade de carga para competir com os avanços das potências do Eixo. Nesse contexto, a Douglas Aircraft Company, sob a liderança de Donald Douglas, Jack Northrop e Ed Heinemann, reavaliou o projeto do Model 7A, inicialmente concebido em 1936 como uma resposta a essas demandas, mas que não avançou além da fase conceitual devido às suas limitações frente às lições do conflito espanhol. Em 1938, o Model 7A deu lugar ao Model 7B, um projeto mais ambicioso que incorporava os requisitos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para uma concorrência lançada visando o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade. O Model 7B aproveitava as asas projetadas para o 7A, mas introduzia melhorias significativas: era uma aeronave de maiores dimensões, equipada com trem de pouso triciclo e dois motores a pistão de 1.100 HP cada, oferecendo um alcance de 2.000 milhas e capacidade para transportar até 2.000 libras (aproximadamente 907 kg) de bombas. O nariz da aeronave podia ser configurado com uma área transparente para o bombardeador ou equipado com oito metralhadoras fixas de calibre .50 para missões de metralhamento contra alvos terrestres, conferindo versatilidade operacional. O protótipo do Douglas Model 7B realizou seu primeiro voo em 26 de outubro de 1938, nas instalações da Douglas Aircraft Company, em Santa Monica, Califórnia. Apesar de suas especificações promissoras, o Model 7B não foi selecionado pelo USAAC, que optou por outros projetos, como o North American B-25 Mitchell, que entraria em serviço em 1941. No entanto, o destino do Model 7B mudou com o agravamento das tensões globais após a Crise de Munique, em setembro de 1938, quando a anexação dos Sudetos pela Alemanha nazista intensificou os temores de um conflito iminente na Europa. Países aliados, como a França, iniciaram programas acelerados de reaparelhamento de suas forças aéreas, buscando adquirir aeronaves modernas nos Estados Unidos. Nesse contexto, uma comissão militar francesa visitou os Estados Unidos em 1939 para avaliar armamentos, incluindo o Model 7B. Apesar da política de neutralidade americana, mantida até o ataque a Pearl Harbor em 1941, a comissão foi autorizada a inspecionar o protótipo. Em 23 de janeiro de 1939, durante um voo de demonstração pilotado por John C. Able, piloto de testes da Douglas, e com um oficial francês a bordo, o Model 7B sofreu um acidente fatal que resultou na destruição da aeronave e na morte de Able. A presença do oficial francês, que sobreviveu, desencadeou um escândalo diplomático, levantando questões sobre a neutralidade dos Estados Unidos e os riscos de testes com observadores estrangeiros.

Apesar apesar de um trágico acidente durante um voo de demonstração em 23 de janeiro daquele ano, que resultou na destruição do protótipo e na morte do piloto de testes John C. Able. A encomenda inicial francesa de 100 unidades, posteriormente ampliada para 270, marcou o início da transformação do Model 7B no Douglas DB-7, uma aeronave que se tornaria um dos principais bombardeiros leves da Segunda Guerra Mundial. As especificações francesas exigiam modificações significativas para atender às necessidades operacionais da Força Aérea Francesa (Armée de l’Air). Essas alterações, supervisionadas por Ed Heinemann, incluíam maior alcance, maior capacidade de carga, blindagem reforçada, adaptação ao armamento francês e uma cabine de pilotagem configurada para padrões franceses, com controles no sistema métrico e manetes de potência operando em direção inversa ao padrão americano. Essas mudanças visavam tornar o DB-7 mais adequado às exigências do teatro europeu, onde a França enfrentava a crescente ameaça da Alemanha nazista.o pouco eficazes durante a Campanha da França. O Douglas DB-7 foi uma evolução significativa do Model 7B, projetado para combinar velocidade, manobrabilidade e capacidade de carga. As principais modificações incluíram: Fuselagem otimizada: A fuselagem foi redesenhada para ser mais profunda e estreita, reduzindo o arrasto aerodinâmico e permitindo maior capacidade de combustível, o que aumentou o alcance para cerca de 2.000 milhas. A área frontal reduzida também minimizava a vulnerabilidade a artilharia antiaérea durante missões de ataque ou metralhamento. Cabine de pilotagem tipo “caça”: A cabine foi projetada para acomodar apenas o piloto, com espaço limitado para a tripulação, composta por um bombardeador e um metralhador. Tentativas de incluir controles reduzidos para o metralhador operar a aeronave em caso de incapacitação do piloto foram testadas, mas abandonadas por sua ineficácia. Armamento: O nariz da aeronave apresentava uma área parcialmente transparente para o bombardeador, equipada com duas metralhadoras francesas Chatellerault de 7,5 mm em cada lado, operadas pelo piloto. Uma posição para o metralhador, com cobertura deslizante, foi instalada atrás das asas, equipada com uma metralhadora, e outra metralhadora foi posicionada no ventre da aeronave, abaixo dessa posição. Motores e trem de pouso: O DB-7 era equipado com dois motores Pratt & Whitney R-1830-SC3-G de 1.100 HP, montados em nacelas sob as asas, que permitiam um trem de pouso triciclo de altura adequada. As asas, montadas à meia-altura na fuselagem, contribuíam para a estabilidade e manobrabilidade. O protótipo do DB-7 realizou seu primeiro voo em meados de agosto de 1939, nas instalações da Douglas em El Segundo, Califórnia. O primeiro exemplar de série foi entregue em outubro do mesmo ano, marcando o início da carreira de uma aeronave que se destacaria por seu desempenho em combate.
A queda da França em junho de 1940, durante a Campanha da França, limitou a entrega dos DB-7 à Armée de l’Air, com apenas algumas unidades entrando em serviço antes da rendição francesa. As aeronaves restantes foram adquiridas pela Força Aérea Real Britânica (RAF), que enfrentava uma grave escassez de bombardeiros modernos após as perdas na campanha francesa, onde seus Fairey Battle e Bristol Blenheim se mostraram vulneráveis frente aos caças alemães, como o Messerschmitt Bf 109. Os DB-7 foram redesignados pela RAF como Boston I e Boston II, tornando-se peças-chave em operações no Norte da África, Europa e Mediterrâneo. A Douglas também desenvolveu o DB-7A, equipado com motores mais potentes Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, atendendo a uma encomenda francesa de 100 unidades. Embora poucas dessas aeronaves tenham chegado à França antes da derrota, elas foram amplamente utilizadas pela RAF e pelas Forças Francesas Livres, demonstrando versatilidade em missões de bombardeio, ataque ao solo e reconhecimento. A aquisição das aeronaves anteriormente destinadas à França traria, no entanto, vários problemas, seja pelo armamento diferente, seja pelo funcionamento diferente dos comandos e da instrumentação no sistema métrico a bordo da cabine de pilotagem, o que veio a causar acidentes. Assim os novos Douglas Boston I e II foram considerados inadequados para serem usados como bombardeiros e foram modificados para uso como aeronaves incursoras noturnas ou de caça noturna, sendo rebatizadas como Havoc I (Intruder) ou Havoc II (Nightfighter). Alguns Havoc I e Havoc II receberam a modificação “Turbinlite”, que consistia na instalação de um holofote no nariz da aeronave, com a qual ela deveria iluminar bombardeiros noturnos alemães, os quais seriam então abatidos por caças Hawker Hurricane, porém tal sistema teve pouco sucesso. Outra ideia mal-sucedida foi a instalação de minas aéreas presas a cabos, estendidos por aeronaves Havoc III ou Havoc I (Pandora); apenas um bombardeiro foi abatido dessa forma. Antes disso, o comando da Força Aérea Real (RAF) já estava impressionada com a aeronave da Douglas e havia adquirido 150 exemplares em fevereiro de 1940 e mais 150 aeronaves em abril do mesmo ano. As aeronaves adquiridas apresentavam um nariz modificado e incorporavam armamento britânico, vindo a serem denominadas DB-7B pela fábrica e Boston III localmente pelos militares britânicos. Alguns desses foram posteriormente equipados com quatro canhões de 20mm em um pacote instalado sob o ventre, e designados como Boston III Intruder. Em junho de 1939, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) procederia a aquisição de 63 aeronaves Douglas DB-7 que receberiam a designação militar de A-20. Este modelo estava equipado com dois motores Wright R-2600-7 e eram similares aos DB-7B britânicos, destas 60 aeronaves seriam convertidas em caças noturnos, P-70, equipadas com radar AI Mk. IV britânico e com quatro canhões de 20mm sob o ventre.

Seguiu-se então o A-20A, dotado de motores Wright R-2600-3, similar ao Boston III britânico; o A-20B, incorporando os motores Wright R-2600-11 e equipado com metralhadores Browning 12,7mm no nariz e para o metralhador, aproximadamente 665 dos quais foram enviados à União Soviética através do Acordo “Lend-Lease”; o A-20C utilizava motores Wright R-2600-23 e tinha tanques autoselantes e melhor blindagem – encomendado pelos britânicos, a grande maioria acabou sendo utilizado pelos soviéticos e alguns foram transferidos para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) após o ataque a Pearl Harbor.
O Douglas A-20D representaria uma versão leve que, aparentemente não passaria da fase de projeto. Já o A-20E nasceriam de modificações dos A-20A utilizados em treinamento e desenvolvimento. Já o único A-20F resultou da incorporação de torretas dorsal e ventral, acionadas por controle remoto, e um canhão de 37mm no nariz. A versão seguinte foi o A-20G Havoc, que passava a incorporar uma série de modificações, principalmente no tocante ao armamento. O nariz transparente seria substituído por um nariz sólido, dotado de quatro metralhadoras fixas de 12,7mm ou quatro canhões de 20mm – esses utilizados apenas nos 250 primeiros exemplares da versão; na parte inferior do nariz, foram instaladas mais duas metralhadoras 12,7mm. Os primeiros 750 exemplares produzidos (blocos A-20G-1, A-20G-5, A-20G-10 e A-20G-15) tinham uma metralhadora móvel de 12,7mm no dorso e uma 12,7mm ou 7,7mm no ventre; a partir do A-20G-20, foi instalada na posição dorsal uma torreta Martin, de controle elétrico, equipada com duas metralhadoras 12,7mm, bem como se padronizou a instalação de uma metralhadora do mesmo calibre na posição ventral. Foram instalados, ainda, dois cabides embaixo de cada asa, permitindo carregar quatro bombas de 500lb; descobriu-se também que era possível transportar 4.000lb de bombas internamente, ao invés dos 2.000lb até então utilizados. Essa foi a versão mais produzida, totalizando 2.850 exemplares entregues. O A-20J foi uma variante do A-20G, equipada com um nariz transparente, e que era utilizada como aeronave líder de bombardeio, em conjunto com os A-20G. Aproximadamente metade dos 450 exemplares produzidos foram transferidos para a União Soviética e Grã-Bretanha. A instalação de motores Wright R-2300-29 usando as fuselagens do A-20G e A-20J levou às versões A-20H e A-20K, sendo produzidos 412 e 413 exemplares dessas variantes, respectivamente. Esses foram os últimos A-20 a saírem da linha de produção, a qual encerrou-se em 1944. Durante a Segunda Guerra Mundial, os A-20, DB-7 e Boston foram utilizados em praticamente todos os teatros de operações, incluindo Noroeste Europeu, Leste Europeu, Mediterrâneo, Norte da África e Sudoeste do Pacífico, pelas forças aéreas da França – incluindo a França Colaboracionista, de 1940 a 1942, e as unidades da França Livre – Grã-Bretanha, União Soviética, Estados Unidos e Austrália.Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942. Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos do Lend-Lease foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats) da Kriegsmarine e italianos da Regia Marina, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. A modernização naval e aérea, impulsionada pelo programa, permitiu ao Brasil desempenhar um papel ativo na defesa do Atlântico Sul e na proteção das rotas marítimas aliadas. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global.
Essa limitação comprometia a capacidade da Força Aérea Brasileira (FAB) de desenvolver uma força aérea eficiente, crucial para a defesa do extenso litoral brasileiro e para a proteção das rotas marítimas no Atlântico Sul. Com uma linha de crédito proporcionada pelo Estados Unidos, a partir de 1942 começariam a ser recebeidos aeronaves de caça, patrulha, bombardeio e transporte, transformando sua capacidade operacional e alinhando-a com as necessidades do esforço de guerra aliado. A modernização da Força Aérea Brasileira (FAB) foi acompanhada por um esforço conjunto com os Estados Unidos por meio do United States Brazilian Air Training Unit (USBATU), um programa que trouxe equipes militares americanas para treinar pilotos brasileiros e implementar doutrinas operacionais modernas. Inicialmente, todas as aeronaves recebidas foram destinadas a missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare), protegendo comboios mercantes que transportavam matérias-primas, como látex, essenciais para a indústria bélica aliada. As principais aeronaves empregadas incluíam: Consolidated PBY-5 Catalina: Um hidroavião de longo alcance, ideal para patrulhas marítimas e detecção de submarinos. North American B-25 Mitchell: Um bombardeiro médio utilizado em missões de ataque e patrulha. Lockheed A-28A Hudson: Um avião de patrulha marítima e bombardeio leve, amplamente usado no Atlântico Sul. Lockheed-Vega PV-1 Ventura e PV-2 Harpoon: Aeronaves de patrulha marítima com capacidade para detecção e ataques antissubmarino. Com o treinamento supervisionado pelo USBATU e a experiência adquirida em missões reais, a Força Aérea Brasileira (FAB) alcançou maturidade operacional na guerra antissubmarino, consolidando sua capacidade de proteger o litoral brasileiro e contribuir para a segurança das rotas marítimas aliadas. Com a consolidação das operações de patrulha e guerra antissubmarino, a Força Aérea Brasileira (FAB) buscou expandir suas capacidades para incluir missões de bombardeio terrestre, uma nova especialização que refletia sua crescente confiança e competência. Em agosto de 1944, por meio de um decreto ministerial, foram criados o 1º e o 2º Grupos de Bombardeio Leve (GBL), sediados, respectivamente, em Gravataí, no Rio Grande do Sul, e em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Essas unidades foram equipadas com 30 aeronaves Douglas A-20K Havoc, cedidas sob os termos do Lend-Lease Act. O Douglas A-20K Havoc, a versão mais avançada do bombardeiro leve desenvolvido pela Douglas Aircraft Company, incorporava melhorias baseadas em experiências de combate das versões anteriores (como o DB-7 e o A-20) em diversos teatros da Segunda Guerra Mundial, incluindo o Norte da África, a Europa e o Pacífico. Equipado com dois motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, o A-20K oferecia maior velocidade, alcance (cerca de 2.000 milhas) e capacidade de carga (até 2.000 libras de bombas). Sua configuração incluía um nariz com transparências para o bombardeador ou metralhadoras fixas de calibre .50 para missões de ataque ao solo, além de posições defensivas para metralhadores, tornando-o versátil para uma ampla gama de missões.

A primeira aeronave Douglas A-20 a chegar ao Brasil, em 30 de julho de 1944, foi um modelo A-20C (conhecido como Boston Mk III pela Força Aérea Real Britânica – RAF), recebido no Campo de Marte, em São Paulo. Esta célula, com número de série 44-336 (c/n 23559) e matrícula FAB 6091, era uma aeronave usada, considerada “cansada de guerra” devido ao seu intenso emprego em operações pela RAF. Rematriculada pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) antes de sua transferência, ela foi destinada exclusivamente a tarefas de instrução em solo na Escola Técnica de Aviação (ETAv). Devido ao desgaste acumulado em combates anteriores, a aeronave não era adequada para operações de voo, sendo utilizada para treinamento de mecânicos e equipes de solo. Em 1947, foi transferida para o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP), onde continuou a servir no treinamento de equipes de manutenção até junho de 1955, quando foi desativada e sucateada. A chegada desta aeronave marcou o início da familiarização da Força Aérea Brasileira (FAB) com o modelo A-20, preparando o terreno para a introdução de unidades mais modernas. A partir de junho de 1944, a FAB começou a receber aeronaves Douglas A-20K-10DO e A-20K-15DO, novas de fábrica, transladadas diretamente da planta da Douglas Aircraft Company em El Segundo, Califórnia, para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Essas versões representavam o ápice do desenvolvimento do A-20 Havoc, incorporando melhorias baseadas em experiências de combate em diversos teatros da Segunda Guerra Mundial, como maior alcance, capacidade de carga de até 2.000 libras de bombas e motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP. As aeronaves foram inicialmente concentradas em Santa Cruz para um curso intensivo de 60 dias, ministrado por oficiais da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), que capacitou pilotos e mecânicos brasileiros nas operações e manutenção do A-20. Após o treinamento, as aeronaves foram distribuídas aos 1º e 2º Grupos de Bombardeio Leve, iniciando atividades operacionais e táticas. O A-20K, com sua configuração versátil — incluindo um nariz com transparências para o bombardeador ou metralhadoras de calibre .50 para ataque ao solo, além de posições defensivas para metralhadores — era ideal para missões de bombardeio leve e apoio tático, embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha focado principalmente em treinamento devido ao estágio avançado do conflito. O perfil operacional arrojado do A-20K, combinado com a pouca experiência inicial dos tripulantes brasileiros, resultou em desafios significativos. Nos primeiros dois anos de operação (1944–1946), quatro aeronaves foram perdidas em acidentes: as de matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089. Esses incidentes, que envolveram perdas materiais e humanas, refletiram as dificuldades de adaptação a uma aeronave complexa e à falta de familiaridade com suas exigências operacionais. No entanto, o perfil operacional arrojado do A-20, combinado com a inexperiência inicial dos tripulantes brasileiros, resultou em perdas significativas. Entre 1944 e meados de 1947, um terço das 30 aeronaves A-20 foi perdido em acidentes, deixando apenas 18 unidades em condições de voo. Entre as perdas estavam as aeronaves de matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089, refletindo os desafios de operar uma aeronave complexa em um contexto de formação incipiente.
Esses incidentes motivaram a reestruturação das operações do A-20 na FAB. Em 1947, o 1º GBL foi transferido de Gravataí para a Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos, para concentrar todas as aeronaves A-20 em uma única base. A operação conjunta dos dois grupos facilitou a manutenção e otimizou as operações, eliminando a distinção entre as unidades. Esse cenário culminou na fusão dos grupos, formalizada em 1º de abril de 1947, com a criação do 1º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv), conhecido como Esquadrão Poker. Essa nova unidade tornou-se a espinha dorsal das operações de bombardeio leve da FAB, consolidando sua doutrina operacional para missões de ataque tático. Por mais de cinco anos, entre 1947 e 1952, o Esquadrão Poker operou os Douglas A-20K-10DO e A-20K-15DO, versões avançadas do A-20 Havoc equipadas com motores Wright R-2600-A5B de 1.600 HP, capazes de transportar até 2.000 libras de bombas e alcançar um alcance de aproximadamente 2.000 milhas. Essas aeronaves, entregues novas de fábrica a partir de junho de 1944 pela Douglas Aircraft Company, em El Segundo, Califórnia, foram fundamentais para o desenvolvimento de uma doutrina operacional robusta para missões de bombardeio tático e ataque ao solo. O treinamento intensivo, conduzido por oficiais da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, capacitou pilotos e mecânicos brasileiros, permitindo que o Esquadrão Poker alcançasse um alto nível de proficiência. As operações do A-20K fortaleceram a capacidade da FAB de realizar missões táticas, embora o fim da Segunda Guerra Mundial tenha reduzido a necessidade de operações de combate. A experiência adquirida durante esses anos lançou as bases para a evolução da aviação militar brasileira, preparando a FAB para novos desafios no contexto da Guerra Fria. A partir de 1952, a FAB iniciou um processo de modernização de seus meios de ataque, optando por retirar os Douglas A-20K das missões de bombardeio tático. Essa decisão abriu uma oportunidade para a transformação do Esquadrão Poker na primeira unidade especializada em reconhecimento tático do Brasil. Para atender a essa nova missão, 11 aeronaves A-20K foram convertidas em plataformas de reconhecimento, recebendo a designação R-20. O processo de conversão, realizado nas oficinas do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), envolveu mudanças significativas: Remoção de armamento e blindagem: Todo o armamento ofensivo, incluindo metralhadoras de calibre .50 e posições defensivas, foi retirado, assim como a blindagem, para reduzir o peso e otimizar o desempenho em missões de reconhecimento Instalação de câmeras fotográficas: O compartimento de bombas (bombay) foi adaptado para receber câmeras verticais Fairchild K-17B e K-17C, permitindo a captura de imagens aéreas para inteligência militar Reconfiguração da fuselagem: A posição das metralhadoras superiores foi convertida em um posto para o operador de rádio, equipado com sistemas de comunicação modernos. Atualização de instrumentos: Todos os sistemas de navegação foram modernizados para atender às exigências de missões de reconhecimento tático. Novo padrão de camuflagem: As aeronaves receberam uma pintura tática rajada em tons de castanho e verde, adequada para operações em ambientes variados. As 11 aeronaves convertidas foram batizadas com nomes de origem indígena, refletindo a identidade cultural brasileira: Aboim Ema, Calango, Jurunas, Trumais, Gavião, Paranagua, Bororos, Xavantes, Rio Preto, Suias e Kalapagos.
A primeira missão especializada do Esquadrão Poker ocorreu em 10 de novembro de 1952, um marco histórico para a aviação de reconhecimento tático no Brasil. A partir dessa data, a Força Aérea Brasileira (FAB) incorporou às suas capacidades as missões de reconhecimento fotográfico prévio e análise de fotos pós-ataque, essenciais para operações táticas e estratégicas. Em 1953, os Douglas R-20 passaram a realizar também missões de reconhecimento meteorológico, ampliando a versatilidade do esquadrão e contribuindo para a coleta de dados críticos para a segurança nacional durante a Guerra Fria. Apesar do sucesso inicial, a frota de Douglas R-20 enfrentou desafios significativos a partir de 1954. A disponibilidade operacional despencou devido à escassez crônica de peças de reposição, resultado do desgaste natural das aeronaves e da interrupção do suporte logístico após o fim do Lend-Lease Act. Além disso, dois acidentes fatais adicionais, somados às perdas anteriores (quatro aeronaves entre 1944 e 1946, com matrículas FAB 6079, 6075, 6081 e 6089), reduziram ainda mais a frota operacional. Em meados de 1947, apenas 18 das 30 aeronaves originais permaneciam em condições de voo, e, em 1954, a situação tornou-se insustentável, evidenciando a necessidade de substituição dos R-20 para preservar a capacidade operacional da Força Aérea Brasileira (FAB).
Diante desse cenário, o comando da Aeronáutica decidiu incorporar novas aeronaves convertidas para reconhecimento tático, incluindo o North American RB-25J Mitchell e o Beechcraft RT-11. A partir de março de 1955, os Douglas R-20 passaram a dividir as missões de reconhecimento com esses novos vetores, uma transição que culminou na desativação das últimas missões do R-20 na primeira quinzena de outubro de 1955. As células remanescentes em condições de voo foram estocadas na Base Aérea de São Paulo (BASP), em Cumbica, Guarulhos. Duas aeronaves R-20, com matrículas FAB 6085 e FAB 6068, foram transferidas para funções educacionais. A FAB 6085 foi destinada à Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), enquanto a FAB 6068 foi enviada ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), ambas para uso em estudos e treinamento de manutenção por alunos dessas instituições. A aeronave FAB 6085, após anos exposta ao tempo em Guarulhos, foi restaurada e incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, onde permanece até hoje, em 2025, como um testemunho da história da FAB e da dedicação dos militares que operaram e mantiveram os Douglas R-20. O legado dos Douglas A-20 Havoc na FAB é multifacetado, abrangendo avanços operacionais, técnicos e culturais. Operacionalmente, o A-20 foi instrumental na transição da FAB de uma força focada em patrulhas marítimas para uma instituição capaz de realizar missões complexas de bombardeio tático e reconhecimento aéreo. A criação do Esquadrão Poker e sua especialização em reconhecimento tático em 1952 estabeleceram a Força Aérea Brasileira (FAB) como uma força aérea moderna, com capacidades estratégicas que fortaleceram a segurança nacional durante a Guerra Fria.Em Escala.
Para representarmos o Douglas A-20K Havoc “FAB 6071“, fizemos uso do antigo kit produzido pela AMT na escala 1/48. Apesar do modelo original apresentar apenas versões A-20 G e A-20J, atualmente é o único kit que mais se aproxima do modelo empregado pela Força Aérea Brasileira, levando então a necessidade de procedermos pequenas mudanças superficiais no modelo. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals presentes no Set 48/03 para completar o conjunto.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa padrão de pintura tático da Força Aérea do Exército do Exército dos Estados Unidos (USAAF), com o qual as aeronaves foram recebidas em 1944. A partir do ano seguinte pequenas modificações inseridas neste esquema focando aspectos de identificação das aeronaves. Este padrão mantido até 1952, quando os "novos" R-20K adotaram no novo padrão de camuflagem tática, rajada em tons de castanho e verde.
Bibliografia :
- Douglas A-20 Havoc - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Douglas_A-20_Havoc
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr.
- A-20K o Devastador na FAB, Claudio Luchesi - Revista Asas Nº6
- Havoc – O Bombardeiro Douglas A-20 na FAB – Leandro Casella – Revista Força Aérea nº 97