Grumman J4F-2 Widegon


Historia e Desenvolvimento.
O futuro engenheiro aeronáutico, Leroy R. Grumman nasceu em Nova York no ano de 1895 e concluiu sua graduação em engenharia mecânica pela Cornell University em 1926. Entusiasta da aviação, alistou-se subsequentemente na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), integrando a Reserva Naval. Durante esse período, foi reconhecido pelos seus superiores como um talento promissor, o que o levou a ser enviado à Universidade Columbia para se especializar em motores aeronáuticos. Após completar essa etapa de formação, foi designado para a Estação Naval de Miami, na Flórida, onde recebeu treinamento abrangente para atuar como instrutor de voo. Após sua qualificação, Leroy Grumman foi destacado a unidade, assumindo o papel de instrutor de voo para novos cadetes. Contudo, posteriormente, optou por abandonar essa função para se dedicar à pilotagem de bombardeiros na Aviação Naval. Seu desempenho excepcional em todas as atividades que foram confiadas testadas em uma indicação honrosa para ingressar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde cursou engenharia aeronáutica. Formado com distinção, passou a atuar como piloto de ensaios em voo, desempenhando a função de piloto de provas, passando a ensaiar  e testar novas aeronaves para a Aviação Naval. Em março de 1927, Leroy Grumman solicitou baixa do serviço militar e ingressou na Loening Aeronautical Engineering Corporation, uma empresa da indústria aeronáutica. Nesse novo ambiente, voltou a exercer a atividade de piloto de testes, com ênfase na linha de aeronaves anfíbias produzidas pela companhia, contribuindo também para o desenvolvimento desses projetos. Sua competência o levou a uma rápida ascensão dentro da organização: inicialmente foi promovido a gerente de fábrica e, em seguida, a gerente geral, assumindo responsabilidades diretas sobre o projeto de aeronaves. Ele ocupou essa posição até 1929, quando, às vésperas da Grande Depressão, quando a Loening Aeronautical Engineering foi adquirida pela Keystone Aircraft Company. A nova direção da empresa, buscando garantir suas perspectivas econômicas, implementou um amplo processo de reestruturação. Esse esforço culminou na decisão de encerrar as operações  da planta industrial em Manhattan, transferindo-as para Bristol, na Pensilvânia, como parte das medidas de adaptação ao novo contexto econômico. 

Relutante em deixar Long Island para permanecer trabalhando na Keystone Aircraft Company, Leroy R. Grumman se dedica a avaliar seu futuro profissional, considerando diversas possibilidades de carreira. Seu espírito empreendedor prevaleceu, liderando-o, em parceria com os colegas Jake Swirbul e William Schwendler, a renunciar às suas cargas na empresa e fundar, em 6 de dezembro de 1929, a Grumman Aeronautical Engineering Company. Inicialmente, a nova companhia concentrou suas atividades na realização de reparos e revisões gerais de aeronaves, com ênfase em modelos fabricados pela Loening Aeronautical Engineering. O primeiro contrato de prestação de serviços foi firmado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que operava neste momento uma frota significativa de aeronaves anfíbias. Os recursos gerados por essa atividade possibilitaram, a partir de 1931, que a empresa expandisse suas operações para o projeto e desenvolvimento de aeronaves destinadas a transporte, treinamento e combate, com foco em atender às demandas da aviação naval. Atendendo às necessidades da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que buscava incorporar aeronaves equipadas com trem de pouso retrátil, Leroy Grumman desenvolveu e patenteou, em 1932 (Registro nº 1.859.624), o inovador “Sistema de Trem de Pouso Retrátil para Aviões”. Essa tecnologia foi integrada ao seu primeiro projeto de aeronave de combate naval, o Grumman FF-1, financiado com recursos próprios da companhia. Após o voo bem sucedido do protótipo, as características inovadoras do modelo, especialmente o trem de pouso retrátil, atraíram a atenção das autoridades navais norte-americanas, resultando na assinatura do primeiro contrato de produção significativo da empresa. Esse marco foi seguido por outros contratos de grande porte, consolidando a Grumman Aircraft Engineering Corporation como principal fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) nas cinco décadas subsequentes. Além disso, Leroy Randle "Roy" Grumman foi responsável pela concepção e desenvolvimento do sistema “Sto-Wing”, uma solução revolucionária de desdobramento de asas que otimizou o armazenamento e o envolvimento de aeronaves em porta-aviões. Esse mecanismo foi implementado pela primeira vez na caça Grumman F4F Wildcat, reforçando o legado de inovação da empresa no campo da aviação naval.
Apesar de manter uma relação estreita com o comando da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Grumman Aircraft Engineering Corporation, em meados da década de 1930, decidiu direcionar parte de seus esforços para o mercado civil de aeronaves de transporte, motivada por uma tendência de melhoria no cenário econômico nacional. Nesse contexto, a empresa passou a desenvolver projetos inovadores ao setor comercial, especializando-se novamente nos segmentos de aviões anfíbios de pequeno porte, utilizando como base projetos militares previamente concebidos. Nesse mesmo período, a Grumman Aircraft foi procurada por um grupo de empresários influentes norte-americanos residentes em Long Island, entre os quais se destacou o magnata E. Roland Harriman. Esses clientes exigiram o desenvolvimento de uma comissão executiva anfíbia com alcance e autonomia suficientes para conectar Long Island à cidade de Nova York. Atendendo a esses requisitos e vislumbrando um mercado promissor, Leroy R. Grumman e sua equipe iniciaram o projeto que resultaria no Grumman G-21 Goose, um avião anfíbio de luxo voltado ao transporte executivo. O protótipo do Grumman G-21 Goose realizou seu primeiro voo em 29 de maio de 1937. A aeronave apresentava uma configuração monoplana de asa alta, com construção predominantemente metálica, exceto pela metade traseira da asa principal, superfícies de controle e abas, que eram revestidas de tecido. Equipado com dois motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp Junior, de nove cilindros e 450 cavalos de potência (340 kW), montados nas bordas de ataque das asas, o modelo contava ainda com uma fuselagem profunda que funcionava como casco naval e dispunha de um trem de pouso retrátil acionado manualmente. Após seu lançamento no mercado norte-americano, o Grumman G-21 Goose alcançou rápido sucesso comercial, impulsionado por sua concepção inovadora e por uma campanha de marketing que o posicionou como um “iate voador” voltado para um público exigente. As versões iniciais de produção tinham capacidade para dois a três passageiros e incluíam comodidades como um bar e um pequeno banheiro, sendo adquiridas principalmente por corporações e milionários de Manhattan. Paralelamente, algumas aeronaves desta família foram adquiridas por empresas de táxi aéreo. Nessas versões, seu interior foi configurado de maneira mais simples e funcional, simplificando os custos de aquisição e ampliando o acesso ao modelo por companhias do setor. Essa adaptação contribuiu significativamente para a popularização do Grumman G-21 Goose no mercado norte-americano.

O sucesso comercial da Grumman G-21 Goose chamou a atenção do setor militar, levando o comando da Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) a consultar a Grumman Aircraft Engineering Corporation sobre uma possível versão militarizada. Em resposta, a empresa apresentou a proposta do Grumman G-21B Goose, cuja principal distinção era a capacidade de incorporar uma artilharia Browning calibre .30, montada em uma bolha traseira, e de transportar até duas bombas de 45 kg. O protótipo dessa versão foi avaliado entre abril e maio de 1938, resultando na assinatura de um contrato para a aquisição de trinta unidades. Posteriormente, a Grumman Aircraft conquistou a sua primeira venda de exportação, fornecendo duas aeronaves para a Aviação Naval Portuguesa. Um segundo contrato internacional foi firmado com a Força Aérea Real Canadense (Royal Canadian Air Force), contemplando a entrega de vinte unidades. O desempenho notável do Grumman G-21B junto à Guarda Costeira incentivou o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a contratar, no início de 1939, a produção de dez aeronaves para missões de transporte e ligação, designadas como OA-9. Após 1941, mais unidades sessenta da variante Grumman OA-13A foram incorporadas ao serviço. Buscando atender à crescente demanda no mercado militar, a Grumman Aircraft deu início, em 1939, a estudos para o desenvolvimento de uma versão simplificada, de menor porte e custo reduzido, que pudesse ser produzida em larga escala com agilidade. Esse esforço culminou no Grumman G-44 Widgeon, cujo protótipo foi realizado seu primeiro voo em 22 de julho de 1940. Equipado com dois motores na linha Ranger L-4405, cada um com 200 cv, o modelo apresentava custos de aquisição e operação significativamente inferiores aos dos motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp do G-21 Goose. O G-44 Widgeon poderia ser armado com uma artilharia Browning calibre .30 e disparado de cabines subalares para até duas bombas ou cargas de profundidade de 50 kg. Embora ofereça potência e desempenho inferiores ao G-21B Goose, o baixo custo do Grumman Widgeon permitiu a ampliação do número de aeronaves em serviço, aumentando a cobertura de áreas de patrulha marítima e liberando modelos de maior capacidade para operações em alto-mar. Mais uma vez, a Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) tornou-se a primeira instituição militar a adotar o modelo, encomendando vinte e cinco unidades da versão Grumman J4F-1, destinadas a missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e busca e salvamento (SAR).
Estas aeronaves começariam a ser entregues em meados do ano de 1941, e com o aumento do tráfego de submarinos alemães e italianos próximos a costa dos Estados Unidos, começariam a ser extensamente empregados em missões de patrulha. Em  01 de agosto de 1942, um J4F-1 pertencente ao Esquadrão de Patrulha da Guarda Costeira 212, baseado em Houma, Louisiana , avistou e atacou um submarino U-166 alemão na costa do estado, seu comandante Henry White, relatou o afundamento do inimigo, sendo condecorado com a medalha Distinguished Flying Cross. Dentro do esforço de patrulha litorânea, pelo menos dez aeronaves do modelo J4F-1 seriam operadas pelo Patrulha Aérea Civil (Civil Air Patrol CAP), um esforço empreendido para suporte as operações militares durante a Segunda Guerra Mundial, com pilotos da reserva, atuando em missões patrulha antissubmarino e guerra, patrulhas de fronteira e serviços de correio. Dentre inúmeras surtidas, destaca-se uma realizada no dia 11 de julho de 1942, quando um Grumman G-44 Widgeon, armado com duas cargas de profundidade e tripulado pelo Capitão Johnny Haggins e pelo Major Wynant Farr, avistaram e atacaram um submarino alemão, resultando em seu afundamento. Neste mesmo período a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), passaria a operar a aeronaves, com sua variante recebendo a designação de Grumman J4F-2, se distinguindo visualmente do modelo anterior, por não apresentar uma escotilha de observação na seção dianteira da fuselagem. O modelo seria fornecido nos termos do programa Leand & Lease Act  & Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), para nações aliadas, com destaque para a Marinha Real Britânica (Royal Navy), onde receberiam o codinome de Gosling, sendo empregados em missões de patrulha e busca e salvamento durante ao conflito. Após o término da Segunda Guerra Mundial, seu fabricante desenvolveria uma nova versão para o mercado civil , que passaria a apresentar um novo desenho de casco e melhores acomodações para os passageiros. Seriam produzidas setenta e seis aeronaves deste modelo, com a última sendo entregue em 13 de janeiro de 1949. Outras quarenta e três células seriam produzidas sob licença na França pela empresa Societe Aero Navale. As aeronaves militares norte-americanas remanescentes seriam retiradas do serviço ativo no final da década de 1940, sendo transferidas a nações amigas como Cuba, Israel, Portugal, Uruguai, Nova Zelândia e Noruega. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Esta ameaça começaria a ser combatida pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) com o estabelecimento de bases de operação no litoral brasileiro, de onde seus esquadrões de patrulha começariam a operar.

Nesse período, realizaram os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, envolvendo não apenas forças norte-americanas, mas equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), que iniciaram suas primeiras missões desse tipo. Nesse contexto, surgiu a necessidade de empregar aeronaves anfíbias em operações de busca e salvamento, voltadas ao resgate de pilotos abatidos ou náufragos, resultando em naufrágios causados ​​por submarinos inimigos. No entanto, as poucas aeronaves anfíbias disponíveis no inventário da recém-criada arma aérea nacional, provenientes das décadas de 1920 e 1930, eram consideradas obsoletas e convenientes para operações em alto-mar. Embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha recebido recentemente aeronaves Consolidated PBY-5 e PBY-5A Catalina, estas foram priorizadas para missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) operando em missões de escolta de comboios. Diante disso, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicita ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) a cessão de aeronaves específicas para busca e salvamento. Em resposta, foi autorizada a transferência imediata nos termos do programa Lend-Lease Act,  de quatorze células novas do modelo Grumman J4F-2 Widgeon, originalmente destinadas à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Essas aeronaves foram transladas ao Brasil em voo a partir do segundo semestre de 1942, em pares, por tripulações norte-americanas. As duas últimas aeronaves chegaram à Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1943. Na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo foi inicialmente designado como Grumman UCF-4F2 Widgeon, recebeu matrículas de FAB 2001 a FAB 2014, com marcações visuais na cauda e no nariz registrar os registros "FAB 1" a "FAB 14". Concentradas na Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro, estas aeronaves foram objeto de um programa de treinamento e conversão ministradas por instrutores norte-americanos para militares da 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM), uma unidade derivada da antiga estrutura da Aviação Naval da Marinha do Brasil. Posteriormente, essa esquadrilha foi reorganizada, transformando-se no 2º Grupo da Unidade Volante, que passou a operar quatro Grumman J4F-2 Widgeon. As demais unidades foram distribuídas entre as Bases Aéreas de Belém, Florianópolis e Santa Cruz, bem como a Seção de Aviões de Comando, também localizada no Rio de Janeiro.
As quatorze aeronaves Grumman J4F-2 Widgeon foram recebidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) devidamente preparadas para o uso de pequenas bombas e cargas de profundidade em suas cabines subalares. Embora esses armamentos estivessem disponíveis nos pais da Força Aérea Brasileira (FAB) à época, poucas missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) foram realizadas com essas aeronaves, independentemente de serem armadas ou não. Durante o conflito, os registros oficiais indicam que o principal emprego dessas unidades ocorreu em missões de busca, salvamento, transporte e ligação. Ao longo de sua trajetória na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo obteve uma confiança negativa entre os pilotos, devido ao elevado número de incidentes e acidentes graves registrados. O primeiro evento desse tipo foi documentado em maio de 1945, quando uma aeronave de destaque da Base Aérea de Belém (BABE) realizou um pouso na pista principal sem que o piloto acionasse o trem de pouso, resultando em danos irreparáveis. A célula foi posteriormente declarada como perda total. Em novembro do mesmo ano, outra aeronave foi perdida em um acidente nas proximidades de Vigia de Nazaré, no estado do Pará. Os relatórios oficiais atribuíram o alto índice de sinistros às características de voo do Grumman UCF-4F2 Widgeon, especialmente seu elevado perfil de arfagem durante a corrida de amerissagem. Esse comportamento tornou-se uma operação particularmente arriscada nas mãos de pilotos inexperientes, fato evidenciado pelo maior número de incidentes registrados nessa fase do voo. Até o final da década de 1940, uma frota de quatro aeronaves sofreu sete perdas totais, todas decorrentes de acidentes operacionais. Esse cenário adverso levou à decisão de concentrar as aeronaves remanescentes em uma única localidade, com o objetivo de melhorar sua efetividade operacional e mitigar os riscos associados ao seu uso disperso. O último trimestre do ano de 1947 assistiria a algumas mudanças quanto à disposição dos Grumman J4-F2 Widegon na Força Aérea Brasileira, com as células remanescentes concentradas na Base Aérea do Galeão (BAGL), sendo transferidas para o recém-criado 1º Grupo de Transporte (1ºGT) baseado no Campo dos Afonsos. Porém posteriormente decidir-se-ia que maior parte destas células fossem alocadas junto a  Base Aérea de Belém (BABE) no estado do Pará, onde teriam por missão básica reforçar a esquadrilha de treinamento daquela organização.  Neste contexto seriam empregadas para aprimorar e ampliar o programa de treinamento para os futuros tripulantes dos Consolidated CA-10 Catalina, que passavam a ser mais intensamente utilizados no atendimento as demandas das linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) na região amazônica. Quando não  estavam sendo empregados neste processo de treinamento,  os Grumman J4F2 Widegon eram destacados para a realização de missões de ligação entre as unidades aéreas da regiao, atuando também secundariamente no atendimento de pequenas linhas de correio aéreo na bacia do rio Amazonas.
Em agosto de 1951, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) emitiu uma instrução oficial classificando o modelo Grumman J4F-2 Widgeon como totalmente obsoleto e recomendando sua desativação em curto prazo. Tal decisão não se mostrou inesperada, uma vez que, à época da publicação, a frota desse modelo havia sido reduzida a apenas três células em condições de voo. Em abril de 1952, um acidente durante um pouso realizado em uma amerissagem forçada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A aeronave submergiu, tornando seu resgate inviável. Pouco tempo depois, outro incidente grave foi registrado nas proximidades do Aeroclube de Bauru, no interior de São Paulo, culminando na perda total de uma célula pertencente à Esquadrilha de Adestramento da Base Aérea de Santa Cruz (BASC). A última aeronave em condições operacionais permaneceu em uso regular até meados de 1958, quando foi considerada economicamente inviável para operação. Nesse momento, foi recolhida ao Parque de Material de Aeronáutica dos Afonsos (PAMA AF), no Rio de Janeiro, onde aguardou uma decisão sobre o seu destino. Posteriormente, um boletim da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA) oficializou sua desativação, e a aeronave foi alienada para venda. Um operador civil adquiriu esse Grumman J4F-2 Widgeon para utilização como táxi aéreo, registrando-o com matrícula civil. Contudo, seu uso foi breve, pois estes registro de voo logo foi suspenso pela Diretoria de Aviação Civil (DAC) devido ao descumprimento de critérios documentais. Proibida de voar, a aeronave foi abandonada por seu proprietário no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo. Em 1976, após a conclusão de um processo jurídico, a célula foi reintegrada ao patrimônio da Força Aérea Brasileira (FAB). No ano seguinte, em 1977, uma diretiva foi emitida com o objetivo de preservar essa aeronave. Ela foi desmontada pela equipe do Parque de Manutenção Aeronáutica de São Paulo (PAMA SP) e transportada por via terrestre até a Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), a tripulação passou por um minucioso processo de restauração e foi colocada em exposição, sendo restaurada com o padrão de pintura original de sua entrega à Força Aérea Brasileira (FAB). Passou a ostentar a matrícula "FAB 14", representando o período em que serviu à 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM).

Em Escala.
Para a representação do Grumman J4F-2 Widgeon, registrado como “FAB 14”, foi selecionado o kit descontinuado da Classic Airframes na escala 1/48, reconhecido por seu elevado nível de detalhamento e pela inclusão de diversas peças em resina. Não são necessárias modificações para retratar a versão utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo a montagem direta do modelo conforme fornecido na caixa. Dada a ausência de um conjunto de decalques específicos para essa composição, foram usados ​​​​decais variados provenientes de conjuntos da FCM Decals, complementados pelos decalques exclusivos incluídos no kit.
O esquema de núcleos está em conformidade com o padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, corresponde ao padrão tático naval adotado pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aeronaves anfíbias durante a Segunda Guerra Mundial, com a adição exclusiva das marcas da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse padrão foi interrompido após realização da primeira revisão geral das células, momento em que as aeronaves passaram a ser pintadas integralmente em cor de metal natural, com o leme nas cores verde e amarelo e as marcações nacionais aplicadas.


Bibliografia :

- Grumman G-44 Widegon - Wikipedia -  http://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_G-44_Widgeon
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto

Fleet Aircraft PT-26 Cornell

História e Desenvolvimento.
A Fairchild Aviation Corporation, uma das mais representativas fabricantes aeronáuticas da História, seria fundada em 1924 pelo empreendedor Sherman Fairchild, (que ao longo de sua vida seria responsável pela abertura de setenta empresas), se estabelecendo inicialmente nas cidades de Farmingdale, e East Farmingdale em Nova York. Esta organização seria designada como a empresa-mãe dos muitos interesses da companhia no segmento aeronáutico ao longo dos anos vindouros. A companhia desenvolveria e construiria a primeira aeronave norte-americana a incluir uma cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada e sistema de trem de pouso hidráulico, o modelo Fairchild FC-1. Dando sequência a este processo de crescimento, outras empresas seriam adquiridas ou incorporadas a este grupo econômico, como a  Caminez Engine Company em 1925,  e em 1929 a Kreider-Reisner Aircraft Company de Hagerstown, baseada em Maryland. Atendendo a seu planejamento de expansão, em 1920 seria fundada sua primeira planta fora dos Estados Unidos, nascendo sua subsidiária canadense, a Fairchild Aircraft Ltd. instalada na  cidade de  Longueuil em Quebec, estas instalações seriam responsáveis pela produção de um grande número de aeronaves civis e militares até o início da década de 1950.  Além do modelo Fairchild FC-1 a empresa seria notabilizada após o lançamento do modelo Fairchild 71, que fora projetado especificadamente para o emprego em missões de fotografia aérea, superando assim as limitações dos modelos em uso, que eram incapazes de voar de maneira constante a uma altitude suficiente para o efetivo emprego nesta tarefa. Esta aeronave apresentava excelentes características de desempenho e capacidade de transporte, o que levaria a  se tornar um dos aviões mais populares da época, se notabilizando ainda por integrar a estrutura de aeronaves do contingente do famoso explorador Richard E. Byrd, em sua expedição  ao Polo Sul entre os anos de 1928 e 1929. Seu primeiro contrato governamental seria firmado em 1935, quando a empresa seria selecionada pelo ministério da agricultura dos Estado Unidos para o desenvolvimento de pesquisas baseadas em fotografias aéreas para rastrear e mapear a erosão do solo e seus efeitos. Neste mesmo período a empresa passaria a ser conhecida também como Fairchild Aircraft Manufacturing Company. 

Apesar de deter boa participação no mercado civil norte-americano principalmente no segmento de aeronaves de treinamento básico, sua participação no meio militar ainda era inexpressiva, se limitando apenas ao fornecimento de componentes básicos para outro fabricantes que produziam aeronaves militares para a marinha e o exército. Neste contexto a oportunidade perfeita se materializaria em fins da década de 1930,  com a efervescência do crescimento da importância arma aérea junto as forças armadas norte-americanas. Neste período o treinamento básico dos futuros pilotos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), era praticamente realizado fazendo uso somente dos biplanos Boeing PT-17 Stearman.  Aeronave esta que apesar de apresentar uma configuração antiquada, oferecia comandos dóceis e facilidade de pilotagem, não forçando assim os cadetes a desenvolver suas melhores habilidades em voo, o que futuramente lhes seriam exigidas quando da operação de modernas aeronaves de combate de grande desempenho.  Com a finalidade de sanar esta preocupante deficiência, em 1939 o comando da aviação Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), decidiria pela substituição dos seus já obsoletos biplanos de treinamento básico. Uma concorrência seria aberta em fins deste mesmo ano, prevendo o desenvolvimento de um monomotor monoplano de asa baixa, que deveria apresentar aos futuros pilotos, diversos níveis de aprendizagem, que permitissem assim forjar suas melhores habilidades de pilotagem. Obrigatoriamente a nova aeronave deveria ainda possuir obrigatoriamente baixos custos de manutenção e operação. Oito empresas de construção aeronáuticas norte-americanas responderiam a este chamando, apresentando dezoito propostas de modelos de aeronaves de treinamento, entre estes concorrentes, estava a Fairchild Aircraft Manufacturing Company, com seu modelo M-62. Esta aeronave fora desenvolvida com recursos próprios da companhia, com seus estudos preliminares sendo iniciados no ano de 1933, capitaneados pelo engenheiro chefe Armand Thiebolt, entre uma das primícias básicas estava o emprego de componentes mecânicos intercambiáveis já existentes no mercado e materiais não estratégicos. Seu primeiro protótipo já havia alçado voo em  15 de maio de 1939, propulsado por um motor Motor Fairchild Ranger L-440 com 175 cv de potência, a partir das instalações da empresa em Hagerstown, Maryland. 
Todos estes concorrentes seriam submetidos a um extensivo programa de avaliação comparativos e ensaios em voo, com a decisão final pendendo para a escolha do modelo M-62 da Fairchild Aircraft Manufacturing Company. Esta nova aeronave de dois lugares apresentava disposição dos assentos em tandem, com cockpit aberto, apresentando a moderna configuração monoplano de asa baixa cantiléver, com trem de pouso fixo e design do volante de cauda. Seu projeto de construção simples, porém robusta, incluía uma fuselagem composta por tubos de aço soldado coberto de tecido, com as demais aéreas da aeronave fazendo uso de compensados em madeira, com uma seção central revestida de compensado, painéis de asa externos e montagem da cauda. O emprego do motor em linha invertido Ranger L-440-3 de 175 HP, permitiria uma área frontal estreita, proporcionando ao aluno e instrutor uma excelente visibilidade, enquanto seu trem de pouso fixo e amplamente separado permitia um manuseio em solo sólido e estável facilitando o processo de treinamento em solo. Em 22 de setembro de 1939, seria celebrado o primeiro contrato entre a Fairchild Aircraft Manufacturing Company e o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) prevendo a compra de duzentas e setenta aeronaves. Devido ao alto emprego de madeira na estrutura da aeronave, este acordo envolvia a subcontratação de vinte e sete empresas ligadas a este tipo de manufatura como fábricas e lojas de móveis e uma fundição para os componentes metálicos. As primeiras células começariam a ser entregues a escola de aviação militar do Exército dos Estados Unidos (US Army) a partir de meados de 1940, onde receberia a designação milita de PT-19. Rapidamente o modelo conquistaria a simpatia de instrutores e alunos das organizações responsáveis pela formação dos novos pilotos, levando assim a intenção pela formalização de encomendas de mais aeronaves. No entanto o intensificar do conflito na Europa, e as ameaças do expansionismo japonês no sudeste asiático, urgenciando acelerar os processos de fortalecimento das forças armadas norte-americanas. Neste cenário o poder aéreo seria fundamental, o que aumentaria a necessidade de formação de mais pilotos militares, o que levaria em janeiro de 1941, a celebração de um contrato emergencial prevendo a produção de mais de três mil aeronaves na versão PT-19A, agora equipadas com o novo motor Ranger L-440-3 de 200 hp de potência. 

A capacidade industrial instalada da Fairchild Aircraft Manufacturing Company, não estava apta para o atendimento pleno do cronograma de entregas previsto, sendo decidido então licenciar a produção da aeronave para as empresas Howard Aircraft Corporation, St. Louis Aircraft Corporation, Aeronca Aircraft e pôr fim a empresa canadense Fleet Aircraft. A necessidade de se treinar os pilotos para voo por instrumentos, levaria a conversão de seis aeronaves na linha de produção incorporando uma cobertura do tipo capota, de lona, que podia ser puxada sobre a cabine da frente permitindo que o cadete realizasse o voo completamente às cegas e somente por instrumentos. Essa nova versão passaria a ser denominada PT-19B e seu desempenho satisfatório levaria a sua produção em série, junto Fairchild Aircraft Manufacturing Company e a Aeronca Aircraft, totalizando novecentas células. Quando a curva de produção das células superou a produção dos motores, a equipe de projeto da empresa desenvolveria a versão PT-23, que passava a ser equipada com um motor radial Continental R-670 de 220 hp. Ao todo seriam produzidos oitocentos e sessenta e nove PT-23 e duzentos e cinquenta do PT-23A (versão para treinamento por instrumentos), pelas linhas de montagem de todas as companhias originalmente envolvidas no programa de construção da família de aeronaves PT-19. Durante o ano de 1943, o Comando de Treinamento da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) receberia uma série de reclamações sobre problemas de durabilidade com as asas de compensado do PT-19 e do PT-23 quando expostos ao alto calor ou umidade das bases de treinamento localizadas no Texas e na Flórida. Como solução paliativa seriam substituídas as seções da asa de madeira após apenas dois a três meses de serviço ativo por causa da podridão da madeira e problemas de separação de camadas.   Neste mesmo período evoluiriam negociações junto ao governo canadense para a produção de uma versão customizada para o atendimento das demandas do Plano de Treinamento Aéreo da Comunidade Britânica (Commonwealth Air Training). Este programa de vital importância, visava formar e treinar milhares de pilotos que seriam essenciais nas futuras batalhas no continente europeu, a escolha por basear este processo no Canadá se dava pelo distanciamento do front de batalha e de riscos inerentes a uma zona de conflagração. 
No entanto as extremas condições climáticas do país poderiam impactar diretamente no processo de instrução a ser realizado junto ao  Fairchild PT-19, pelo fato da aeronave apresentar a cabine aberta, expondo o instrutor e aluno ao frio intenso. Como solução seria desenvolvida uma versão com cabine de pilotagem (cockpit) totalmente fechada, que tinha por finalidade proporcionar mais conforto para os tripulantes. A versão receberia de designação de PT-26 M-62A Cornell I e estava equipado com o motor em linha Ranger L-440-3 de 200 hp. Seu primeiro protótipo alçaria voo em julho de 1942, sendo logo liberado para produção em série sob licença nas instalações da Fleet Aircraft Limited, totalizando seiscentas e setenta células. Em seguida entraria em produção o PT-26A Cornell II, que passava a fazer uso do motor  Ranger L-440-7 de 200 hp, resultando em oitocentas e sete células entregues ao Plano de Treinamento Aéreo da Comunidade Britânica (Commonwealth Air Training). Por fim em 1943 seria introduzido o PT-26B Cornell III, que dispunha de pequenas melhorias em relação ao modelo anterior, sendo entregues duzentos e cinquenta aeronaves a  Força Aérea Real do Canadá (RCAF). Estas aeronaves se manteriam em serviço até meados da década seguinte, quando foram desativados e repassados para o emprego civil em escola de pilotagem e aeroclubes regionais. Comparado aos antigos treinadores biplanos anteriores, o Fairchild PT-19 e PT-26 podem ser considerados um divisor de águas, pois pela primeira vez no estágio de treinamento básico os cadetes tinham acesso a uma aeronave de bom desempenho em altas velocidades e o carregamento das asas aproximava-se mais do das aeronaves de combate, com as características de voo exigindo mais precisão e cuidado, resultando assim na formação das habilidades e melhor rendimento dos alunos.  A exemplo dos demais modelos da família, centenas de células dos Fairchild PT-26 Cornell se manteriam em voo pelo menos até o início da década de 1960, com muitos deles ainda mantidos em condições de voos por museus ou entusiastas ao redor do mundo.   

Emprego na Marinha do Brasil
No dia  12 de dezembro de 1956, o Governo Federal Brasileiro em conjunto com Ministério da Marinha, após uma série de negociações,   procederia formalmente a aquisição de um porta-aviões leve britânico classe Colossus, o HMS R-71 Vengeance. Este navio aeródromo com um deslocamento padrão de 19.900 toneladas era um veterano da Segunda Guerra Mundial, tendo atuado nos teatros de operações do Mediterrâneo e do Pacífico. Após o término do conflito, este navio seria arrendado à Marinha Real Australiana (Royal Australian Navy), pelo período compreendido entre o dia 13 de novembro de 1952 a 13 de agosto de 1955, sendo assim devolvido ao governo britânico e colocado à disposição para venda. Após sua aquisição pelo governo brasileiro, este porta aviões seria encaminhado em meados do ano de 1957, aos estaleiros da empresa holandesa Verolme United Shipyard, na cidade de Rotterdam, a fim de ser submetido a um extenso programa de modernização e atualização. Este navio, emergiria deste processo em dezembro de 1960, ostentando a adição de convés de voo em ângulo a 8,5°, catapulta e sistema de parada modernizados, novos elevadores, nova ilha, sistemas de operação e eletrônica e atualização de sistema defensivo. Neste contexto ainda não havia estudos reais sobre as opções de aeronaves de asas fixas e rotativas a serem adquiridas pela Aviação Naval, ou mesmo pela Força Aérea Brasileira (em função da prerrogativa da exclusividade de operação de aeronaves de asa fixas), para assim se compor o grupo aéreo do novo porta aviões brasileiro. Apesar disto,  a aquisição de um navio aeródromo reacenderia no Ministério da Marinha a intenção em recuperar sua Aviação Naval, criada originalmente em 23 de agosto de 1916 com o estabelecimento da Escola de Aviação Naval (EAvN), com suas instalações localizadas na Ilha do Rijo (na Baía de Guanabara). Assim mesmo antes do apagar das luzes do ano de 1959, o comando do Ministério da Marinha passaria a elucidar estudos e esforços visando criar um planejamento e bases plausíveis para a efetiva reativação de sua Aviação Naval, não só focando esforços no segmento de aeronaves de asas rotativas, como também na área de asas fixas.

Este ambicioso programa abordava não só a estruturação de sua organização, mas também as demandas relacionadas a composição de pessoal, treinamento formação, infraestrutura, equipamentos e aeronaves. Umas das prioridades dispostas neste documento, citava a necessidade de se dispor de um esquadrão de instrução dotado somente de aeronaves de asas fixas para promover sua independência neste importante processo.  Tal tarefa seria, no entanto, dificultada, pelas circunstâncias em que se deu o ressurgimento da Aviação Naval, pois em tese neste momento, sua existência feria o Decreto-lei de 20 de janeiro de 1941 que ao criar o Ministério da Aeronáutica (MAer), concedia a Força Aérea Brasileira a exclusividade na operação de aeronaves de asas fixas no pais. Este embate fez com que a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DaerM), passasse a descartar os fornecedores internacionais tradicionais de aeronaves evitando assim potencializar esta célula, passando a procurar soluções em fontes alternativas, buscando assim compras de oportunidade.  Estes esforços se dariam em duas frentes, uma no mercado internacional buscando aeronaves usadas genuinamente militares, e outra no próprio Brasil, visando adquirir aeronaves de treinamento básico a serem negociadas com operadores particulares, principalmente com usuários do Aeroclube do Brasil, na época sediado no Campo de Manguinhos no Rio de Janeiro (RJ). Nesta segunda frente de trabalhos os primeiros resultados seriam obtidos ainda no ano de 1961 com a aquisição de aeronaves dos modelos Taylorcraft BC-12D e CAP-4 Paulistinha. Estas aeronaves seriam destacadas para operar junto ao  Destacamento Especial de Aeronaves do CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval), porém não em missões de treinamento de pilotos, mas sim no adestramento do Curso de Observador Aéreo Naval (COAN), e também em tarefas adestramento do pessoal, de ligação e transporte em proveito do pessoal da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA). 
A busca por aeronaves de treinamento básico para a Aviação Naval da Marinha do Brasil persistiria, resultando em meados do ano de 1962 na aquisição de uma célula do modelo Fleet PT-26 M-62A Cornell I, que segundo relatos seria negociada junto a um particular no próprio Aeroclube do Brasil. Esta aeronave após ser recebida seria imediatamente entregue ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), para ser integrado ao acervo do Destacamento Especial de Aeronaves. Apesar de pertencer ao modelo inicial de produção, esta aeronave estava equipada com o sistema de radio empregado nas versões mais recentes desta aeronave. Neste momento está célula seria submetida a uma revisão básica, na qual receberia o segundo padrão de pintura a ser adotado pela Aviação Naval, bem como sua matrícula de "N708 - FV 607". Ao ser colocado inicialmente em operação começaria a apresentar anomalias em seu grupo propulsor, sendo suscetível a panes de pequena monta, desta maneira a célula seria submetida a uma completa revisão junto  a Oficina Geral da Aviação Naval (OGAvN). Neste momento em novembro de 1962,  seria emitido um relatório que dava conta de que o motor  Fairchild Ranger L-44 - 175 cv de seis cilindros em linha invertidos refrigerados a ar, daquela aeronave encontrava-se avariado, o que não tornava possível seu voo por tempo indeterminado. Este preocupante cenário retiraria de imediato o modelo do processo de instrução e formação de pilotos, tendo em vista que a segurança em voo era um dos parâmetros básicos e inegociáveis da doutrina do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). Esforços seriam realizados junto ao mercado civil na tentativa de obtenção de componentes críticos para a substituição em seu motor, porém este em muito diferia da grande maioria dos motores ainda em uso no Brasil, salientado que nesta época a frota de aeronaves civis em condições de voo dos modelos Fairchild M-62 PT-19A/B e PT-3FG que antes pertenceram a Força Aérea Brasileira já operava nos aeroclubes com grandes índices de indisponibilidade.  
Assim com base neste status, não existem indicações oficiais de que esse avião tenha registrado algum voo no transcorrer do ano de 1963, mas, em outubro de 1964, o  Fleet Aircraft PT-26 M-62A Cornell I, já figurava como parte do acervo do Destacamento de Aeronaves para Serviços Auxiliares da  Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BaeNSPA), onde deveria ser empregado em tarefas administrativas e de ligação. Porém naquele mesmo mês, um relatório do Estado-Maior da Armada informava que esta aeronave pertencia ao 1º Esquadrão de Aviões de Instrução do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN). Novamente não existem registros oficiais sobre a realização de voos durante o final de 1964 e o inicio do ano seguinte. Paralelamente a estes evento, a  crise institucional criada pela disputa entre os Ministérios da Aeronáutica e Marinha, pelo direito a operação de aeronaves de asas fixas se agravava dia a dia, com a solução sendo auferida em 26 janeiro de 1965,  mediante promulgação do decreto presidencial Nº 55.627, que que efetivamente extinguia a aviação naval de asas fixas da Marinha do Brasil. Em consequência dos artigos apresentados naquele instrumento,  seria definido que toda estrutura material e de pessoal deveriam ser incorporadas a Força Aérea Brasileira. Assim semanas mais tarde esta célula seria entregue a seus representantes, e as avaliações iniciais apontavam como uma aeronave obsoleta não sendo recomendada sua recuperação e operação, principalmente pelo seu modelo semelhante o  Fairchild M-62 PT-19A/B e PT-3FG, ter sido retirado do processo de instrução da Escola de Aeronáutica (EAer). Desta maneira esta aeronave não receberia nem a matricula da Força Aérea Brasileira, sendo repassado diretamente ao Departamento de Aviação Civil (DAC) a fim de ser doado para qualquer aeroclube que se habilitasse. No entanto não existem registros oficiais, e acredita-se que esta célula tenha sido logo em seguida sucateada, encerrando assim sua efêmera carreira militar no Brasil.

Em Escala. 
Para representarmos o Fleet PT-26 M-62A Cornell I, "N708" pertencente ao Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), fizemos uso do excelente kit em resina na escala 1/48 do fabricante Planet Models. Modelo este que apresenta facilidade de montagem e opções de detalhamentos interessantes. Como modificação incluímos apenas o radome da antena de rádio.  Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals, presentes em diversos sets deste fabricante. 

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura adotado pela Aviação Naval da Marinha Brasileira em suas aeronaves de asas fixas e asas rotativas a partir de fins da década de 1950. Este esquema seria mantido até a transferência da célula para a Força Aérea Brasileira no início do ano de 1965. 




Bibliografia : 

História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha- http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html 
-  Aeronaves Militares Brasileiras  1916 – 2015 Jackson Flores Jr 

-  Fairchild PT-19 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Fairchild_PT-19 

- Centenário da Diretoria de Aeronáutica da Marinha  

-  Fairchild PT-19 - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Fairchild_PT-19   



Avro 504K Roe e 504N Lince

História e Desenvolvimento.
Um dos primeiros construtores de aeronaves em série do mundo, a companhia A.V. Roe and Company seria fundada em 1 de janeiro de 1910 em Brownsfield Mill, Great Ancoats Street, Manchester, pelo engenheiro Alliott Verdon Roe e seu irmão Humphrey Verdon Roe. A contribuição de Humphrey seria principalmente de ordem financeira e organizacional; financiando-o a partir dos ganhos do negócio de teares da família e atuando como diretor administrativo até que ele se juntou à RFC em 1917. Antes de sua fundaçao como empresa, em 1908 seu primeiro aeroplano projetado e fabricado artesanalmente por  Alliot Vernon Roe, decolou dos campos de Manchester para a realização de seu primeiro voo. Podendo este modelo o Roe I Triplane, chamado The Bullseye, ser seguramente considerado como primeira aeronave de projeto 100% inglês da História aeronáutica. No momento do estabelecimento da empresa, um galpão seria alugado no Brooklands Flying Grounds para o qual Edwin Alliott movia as aeronaves acabadas, funcionando assim com uma loja, onde estes aeroplanos eram oferecidos a este novo mercado consumidor por apenas £450 libras esterlinas. As vendas começariam a evoluir e conjuntamente o projeto das aeronaves também, sendo que no final do ano de 1912, o negócio além de se provar viável em termos de retorno financeiro, se mostraria extremamente promissor a curto e médio prazo. No início do ano seguinte a empresa se se tornaria um negócio completamente autônomo e de grande lucratividade. Apesar do otimismo com a efervescência natural deste mercado, cada vez mais concorrentes chegavam a este segmento, oferecendo assim riscos ao potencial de crescimento da A.V Roe and Company.   A empresa também construiria a primeira aeronave do mundo com acomodação de tripulação fechada em 1912, o monoplano Tipo F e o biplano Avro Tipo G, no entanto sem progredir além do estágio de protótipo. O grande fator do impulso fundamental para desenvolvimento futuro da companhia, se daria com o o lançamento do modelo Avro E (ou Avro 500), que por apresentar excelente desempenho, lograria a A.V. Roe and Company a conquistar seu primeiro contrato militar em fins do ano  de 1913. Este processo envolveria a encomenda de dezoito células para Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps), que seriam destinados a operação junto aos Esquadrões de Treinamento de número 3º, 4º e 5º. Estas novas aeronaves dedicadas a tarefa de instrução primariam começariam a ser entregues no início do ano de 1914, sendo declaradas plenamente operacionais em março do mesmo ano. 

Já em operação os Avro E 500 conquistariam grande aceitação junto aos pilotos e instrutores do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), com seu projeto recebendo grandes elogios por parte do comando desta organização. Este cenário motivaria a direção da empresa e investir recursos próprios no desenvolvimento de uma versão aprimorada desta aeronave, com estes esforços culminando no modelo Avro 504. Apesar de baseado em seu antecessor, o projeto se mostrava muito promissor, levando a A.V Roe and Company a optar pela fabricação de dois protótipos em julho do mesmo ano. A primeira aeronave alçaria voo em 5 de setembro de 1913, bem a tempo de poder participar logo em seguida da Feira Aérea Internacional de Aviação de  Farnborough. Logo de imediato, o avançado desing da nova aeronave e sua performance em voo chamariam a atenção do comando das forças armadas britânicas, que imediatamente iniciariam junto a diretoria da empresa, tratativas para a aquisição desta promissora aeronave. Deste movimento seriam firmados os primeiros contratos de produção, envolvendo substanciais números de aeronaves, não só para o Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps), mas também Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service). Porém as demandas excediam em muito a capacidade produtiva da linha de fabricação existente naquele momento, levando a empresa a se mudar para novas e maiores instalações em Clifton Street, Miles Platting na cidade de Manchester. Esta seria, no entanto, uma medida paliativa tendo em vista o breve estrangulamento da capacidade de produção desta nova unidade fabril, levando a empresa a migrar para as instalações da Mather & Platt Works em Newton Heath. As primeiras aeronaves seriam declaradas operacionais a partir de março de 1914, passando a atuar em missões de treinamento e observação junto a suas forças armadas. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 28 de julho de 1914, iria alterar profundamente o destino da A.V. Roe & Company e do Avro Modelo 504, elevando o patamar operacional da aeronave a um nível jamais imaginado por seus desenvolvedores. Neste contexto de conflito, os Avro Modelo 504 assumiriam novas missões, passando a ser empregados em combate real na linha frente na Europa continental. 
Caberia ainda ao modelo, ser a primeira aeronave britânica abatida pelo fogo antiaéreo alemão em 14 de agosto de 1914, com um Avro 504 pertencente ao 5 Sqn RFC, sendo comandado na ocasião pelo 2º Tenente Vincent Waterfall e seu navegador Tenente Charles George Gordon Bayly.  Como destaque operacional podemos citar a missão de bombardeio as instalações alemães de produção e manutenção dos dirigíveis  Zeppelin em Friedrichshafen, nas margens do Lago de Constança, com três aeronaves do Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) partindo de Belfort  no nordeste da França, em 21 de novembro de 1914. Estes três Avro 504 carregavam quatro bombas de 20 libras (9 kg) cada, com uma sendo abatida próxima ao alvo, porém as demais conseguiram lançar suas cargas com êxito, resultando em  vários impactos diretos nos galpões do dirigível e a destruição da usina geradora de hidrogênio. Conforme o conflito ia ganhando intensidade e amplitude, a tecnologia aeronáutica avançava freneticamente, gerando uma nova geração de aeronaves de caça, bombardeio e observação mais avançadas, o que sobrepujaria o desempenho operacional dos Avro 504, tornando o ambiente de combate extremante desfavorável para o modelo.  Assim rapidamente esta aeronave logo seria relegada a missões de segunda linha, sendo retirada para servir principalmente junto aos esquadrões de treinamento na Inglaterra. Neste momento o estágio de produção da aeronave já atingia milhares de células entregues, dispostas nas versões Avro 503A á Avro 504J, com os motores evoluindo de 60 hp para 80 hp de potência. No inverno de 1917 e 1918, a alta demanda por aeronaves de caça no continente europeu, e a urgente necessidade de se substituir os já obsoletos interceptadores Vickers B-E2cs nos esquadrões de defesa doméstica, levaria o comando do Corpo Aéreo Real (Royal Flying Corps) a decidir pelo emprego de dezenas de células dos modelos Avro 504J e Avro 504K, que seriam então convertidos para execução missões de caça. Estas versões modificadas para um único assento de tripulante, estavam armadas com uma metralhadora leve Lewis .303 de calibre 7,62mm × 54 mm, montada acima da asa, além disto, nestas células seria padronizado a utilização de motores Gnome Monosoupape de 100hp de potência. Um total de duzentas e setenta células seriam modificadas para esta versão, passando a ser distribuídos a oito esquadrões de defesa doméstica, totalizando duzentas e setenta e quatro células convertidas.

Já em sua principal atribuição como aeronave de instrução primaria, o Avro Modelo 504, muito em face das suas dóceis características de voo e desempenho, acabaria por ser tornar o  “treinador padrão” britânico, permanecendo nesta atividade mesmo após o final da Primeira Guerra Mundial, operando agora a serviço da recém-criada Força Aérea Real (Royal Air Force). Devido ao grande número de aeronaves disponíveis consideradas como "excedentes de guerra", cerca de trezentos Avro 504 seriam transferidos para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil na Grã-Bretanha. Neste novo papel passariam a ser empregados em missões de treinamento de pilotos e tarefas de reboques de faixas publicitarias permanecendo em uso até pelo menos o início do ano de 1940. O serviço aéreo embrionário da União Soviética, formado logo após a Primeira Guerra Mundial, faria uso tanto das aeronaves originais quanto sua própria cópia, o  Avrushka " Little Avro", sendo empregados no treinamento primário, sendo geralmente alimentados por cópias russas do motor rotativo Gnome Monosoupape, com estas aeronaves se mantendo em serviço até o final da década de 1920. Durante este mesmo período um grande número de aeronaves seria vendido a China Nacionalista, embora representassem versões básicas de treinamento, eles participariam de batalhas regionais, atuando como bombardeiros com o piloto lançando granadas de mão e morteiros modificados. A partir de 1925 a A.V. Roe and Company apresentaria a proposta de um novo modelo, o Avro 504N, dois protótipos seriam produzidos para avaliação, um equipado com o motor Bristol Lucifer e outro pelo Armstrong-Siddeley Lynx.  Este último sendo selecionado pela Força Aérea Real (Royal Air Force) para substituir os Avro 504K, sendo encomendadas quinhentas e noventa e duas células, que seriam entregues entre os anos de 1925 e 1932, chegando a equipar cinco esquadrões de treinamento, sendo empregadas também como aeronaves de comunicação. Esta versão também seria exportada para uso militar na Bélgica, Brasil, Chile, Dinamarca, Grécia, Sião e África do Sul, com sua produção licenciada ocorrendo na Dinamarca, Bélgica, Canadá, e Japão. 
Os Avro 504N da Força Aérea Real (Royal Air Force) passariam a ser substituídos a partir de 1933 pelo novo treinador primário Avro Tutor, ao fim de 1935 restariam apenas sete células que seriam convertidas em aeronaves rebocadoras de alvos e planadores. Grande parte das aeronaves em bom estado de conservação seriam doados para escolas civis de pilotos, recebendo o registro civil, se mantendo em operação até o início da década de 1940. Ao todo foram produzidas entre os anos de 1914 e 1928 um total de onze mil quatrocentas e oitenta e quatro células, dispostas em vinte e nove versões. Além de serem montados em treze fábricas na Grã-bretanha, a aeronave seria ainda montada sob licença na Argentina, Bélgica, União Soviética, Japão, Canadá, Dinamarca, França, com versões customizadas desenvolvidas localmente como as japonesas Yokosuka K2Y1 e Yokosuka K2Y2, russas como U-1 (Uchebnyi – 1) e MU-1 (Morskoy Uchebnyi – 1), dinamarquesa Orlogsværftet Flyvemaskineværksted LB.I e australianas como598 Warregull e  599 Warregull II.  Sua versão a ser mais produzida, no entanto, seria o Avro 504K, modelo originalmente configurado como aeronave de treinamento de dois lugares, que apresentava como curiosidade a possibilidade de poder a ser equipado como uma vasta gama de motores em virtude da escassez de componentes durante a Primeira Guerra Mundial. Em termos de operadores militares o modelo esteve a serviço das forças armadas do Brasil, Argentina, Canada, Estônia, Finlândia, Grécia, Guatemala, Índia Britânica, Irã, Irlanda, Japão, Letônia, Malaia, México, Mongólia, Noruega, Peru, África do Sul, Sião, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia Uruguai e Estados Unidos. O modelo registraria sua marca na História aeronáutica internacional, por ser a primeira aeronave britânica a dispersar tropas em terra, bem como o primeiro avião britânico a fazer um bombardeio sobre a Alemanha, sendo também a primeira a ser derrubada por fogo antiaéreo inimigo. Seria eternizada por formar futuros ases do conflito, como Billy Bishop entre outros que apelidariam a aeronave como "palito de dente" na Força Aérea Real (Royal Air Force).   

Emprego na Marinha do Brasil.
O processo de formação de pilotos militares brasileiros tem sua origem em fevereiro de 1914, quando seria fundada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro a Escola de Escola Brasileira de Aviação, mediante uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia, com esta sendo responsável por fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares. Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua própria organização de treinamento e formação, a  Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Esse pioneirismo, fruto da visão de grandes chefes navais, como o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar, que, pautado no desempenho dessas plataformas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, adquiriria nossos primeiros aviões. Já em posse destas aeronaves, caberia ao Almirante Protógenes Pereira Guimarães (Patrono da Aviação Naval), a missão de preparar o pessoal e a doutrina de emprego aéreo na Marinha do Brasil. Quando do inicio das atividades desta organização militar, o primeiro dos três aerobotes Model F adquiridos do fabricante norte-americano Curtiss Aircraft Company,  já havia realizado seu primeiro voo operacional,  e os dois restantes estavam em final de montagem, ficando prontos em outubro do mesmo ano. Todos seriam montados na Carreira Tamandaré do antigo Arsenal de Marinha, na base do Morro de São Bento, próximo à antiga ponte para a Ilha das Cobras, local atualmente ocupado pelo rancho do 1° Distrito Naval.  Pouco tempo depois, a Escola de Aviação Naval - EAvN seria transferida para a Ilha das Enxadas, onde seriam construídos dois hangares para quatro aeronaves cada. Ao longo dos anos seguintes esta instituição com o apoio de instrutores norte-americanos, seguiria na missão de formar os primeiros aviadores navais da Marinha do Brasil. Neste contexto ficava cada vez mais claro a necessidade de não só ampliar o número de aeronaves, bem como adquirir modelos mais modernos para o emprego em diversos perfis de operação militar como observação, caça e bombardeio. Estes novos desafios exigiam modernização de meios e práticas,  assim, tendo em vista que muitos dos hidroaviões de treinamento da variada coleção da Escola de Aviação Naval - EAvN chegavam ao fim de sua vida útil, decidiria-se reduzir o número de tipos e sistematizar as práticas de instrução de voo. 

Seria adotado o chamado “Sistema Gosport”, introduzido pelo Real Serviço Aéreo Naval (Royal Naval Air Service) em 1916, que, dentre outras inovações, preconizava o emprego de aviões terrestres para treinamento inicial. Assim, uma delegação de oficiais Marinha do Brasil seria enviada a Inglaterra, para conhecer de perto este processo e os vetores empregados. Desta maneira se daria o primeiro contato de nossos oficiais com a aeronave Avro Modelo 504, modelo que então figurava como o treinador primário padrão deste racional e lógico sistema de treinamento.  No entanto a incorporação do primeiro exemplar na Aviação Naval da Marinha do Brasil, ocorreria de forma casual, pois com a enorme disponibilidade de material aeronáutico após o término da Primeira Guerra Mundial, diversos grupos empresariais deram início a organização de empresas de transporte aéreo para operação regional e internacional. Entre muitas, a corporação inglesa Handley Page Ltda decidiu por estabelecer uma empresa aérea para operação de transporte civil no Brasil. Depois de receber autorização do governo brasileiro para operar rotas entre as principais cidades brasileiras, a empresa transferiria quatro aeronaves para o país, entre as quais um Avro Modelo 504K. No entanto vida desta empresa seria efêmera, e após o encerramento de suas atividades, suas  aeronaves seriam doadas ao governo brasileiro, com este  modelo de treinamento sendo entregue em maio de 1920 a Marinha do Brasil. Esta aeronave receberia a matrícula de número “46”, e seria repassada então a Escola de Aviação Naval – EavN, não está claro se aquele Avro 504K foi recolhido a esta organização (que ainda se encontrava sediada na ilha das Enxadas e não dispunha de pista para operar aeronaves terrestres) para ser desmontado e armazenado ou se permaneceu em outro local. Neste mesmo período dentro dos esforços de ampliação da frota da Aviação Naval, seriam  disponibilizados recursos para adquirir mais quatro células usadas do modelo, estando estas equipadas com o  famoso motor rotativo Gnome Monosoupape, Ao chegaram no Brasil no final do primeiro semestre de 1921, os dois primeiros seriam montados no mês de agosto e encaminhados ao Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, onde iriam operar até a conclusão das obras da nova pista da Escola de Aviação Naval - EAvN na Ponta do Galeão. A perda de uma aeronave em um acidente levaria a Aviação Naval da Marinha do Brasil a proceder a montagem das duas células restantes entre novembro e dezembro de 1921. Esta dotação seria reforçada com a aquisição de mais doze células previstas em um contrato celebrado com a Curtiss Aeroplane Export Corporation em 23 de maio de 1922, tratava-se novamente de aeronaves usadas, que seriam entregues configuradas como novos motores radiais Le Rhone de 110 hp.   
Em fins de 1923, estas aeronaves já se encontravam operacionais junto a 3º Esquadrilha da Flotilha de Treinamento, totalizando assim dezesseis aeronaves, porém o índice de disponibilidade se mantinha muito baixo em função de pequenos acidentes de operação. Durante os conturbados episódios políticos que se seguiram durante ano de 1924, as atividades da Escola de Aviação Naval - EAvN seriam em muito reduzidas, com o ano e 1925 assistindo a queda de 50% no número de alunos diplomados. Neste período algumas vezes durante os momentos mais tensos do período revolucionário, algumas células deste modelo seriam armados com metralhadoras Lewis .303 de calibre 7,62 mm × 54 mm. Este quadro de instabilidade política levaria a severas restrições orçamentarias, que interromperiam o fluxo de peças de reposição e material de apoio, levando indisponibilidade de voo a índices alarmantes, sendo que em 1925 somente quatro células estavam aptas a operar com as demais armazenadas ou em manutenção. No ano seguinte mais uma aeronave seria recuperada pelo Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvNRJ) e apesar do quadro de penúria, três Avro 504K realizaram um reide entre a capital carioca e a cidade de Belo Horizonte, representando um feito para aquela época, infelizmente duas aeronaves foram perdidas nesta missão. Em fins do ano de 1927, a frota de aviões Avro 504K encontrava-se reduzida a apenas três exemplares disponíveis para voo, com os demais perdidos em acidente ou em processo de manutenção de grande monta. Assim com base na necessidade de se modernizar a frota de aeronaves de treinamento, a Diretoria Geral de Aeronáutica da Marinha examinou diversas propostas de fornecimento de mais células usadas do modelo Avro 504K junto ao governo britânico. No entanto figuravam entre estas propostas, um lote da variante mais moderna o Avro 504N/O, sendo negociado em janeiro de 1927 a compra de seis células novas de fábrica e um amplo pacote de peças de reposição. Estas novas aeronaves seriam recebidas e colocadas em condições de voo durante o primeiro semestre do ano de 1928, passando a dividir com os veteranos Avro 504K o processo de treinamento e formação de aviadores, com estes últimos passando a registrar uma quantidade de horas de voo inferior à média anterior. Esta acentuada utilização não seria livre de percalços, em julho somente três dias após da realização do primeiro voo do  Avro 504N/O, umas das células sofreria uma pane em seu motor e caiu nos limites  do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ. No mês seguinte outra aeronave faria um pouso forçado no mar. Ambas as células seriam resgatadas e levadas para reparo, com uma permanecendo naquele local por um prolongado período. 

Em consequência, o ano letivo de instrução em 1929 na Escola de Aviação Naval - EAvN seria iniciado somente com cinco aeronaves Avro 504N/O, dois dos quais equipados com flutuadores. Apesar de serem formados aviadores em 1929 e 1930, estas aeronaves seriam peças-chave no adestramento e na instrução do pessoal do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ e da Escola de Aviação Naval - EAvN. Neste mesmo período no objetivo de aumentar a vida útil das três últimas aeronaves Avro 504K que se encontravam em condições de voo, seria decido em maio de 1929, a implementação de um programa de modernização, tendo como foco principal a substituição do problemático motor rotativo por um novo radial fixo Armstrong Siddeley Lynx IVC. Este processo seria concluído até o mês de janeiro de 1930, curiosamente estas células foram adaptadas para o uso de flutuadores. Porém observou-se que este programa não atingiria os objetivos almejados, decidindo-se pela desativação das aeronaves, o que ocorreria após um voo de formatura da Escola de Aviação Naval - EAvN em junho de 1930, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval da Marinha do Brasil. Apesar do reduzido número de aviões como resultados de pequenos acidentes que exigiriam reparos, esse foram instrumentais na formação da maior turma diplomada, representada por sete oficiais que receberiam em 1931, o breve de aviador naval. O ano seguinte prometia ser igual ou mais intenso para os Avro 504K e Avro 504N/O Lince, e em julho seria iniciada a formação do que seria a maior turma de aviadores navais já diplomados desde o ano de 1916, acrescido ainda pela primeira turma dos aviadores da Reserva Naval Aérea da Marinha. No entanto, naquele mês, estouraria a Revolução Constitucionalista, e em sua esteira seriam suspensas praticamente todas as atividades aéreas de instrução. Neste momento estas aeronaves já não eram mais empregados na formação de aviadores navais, mas realizavam a igualmente importante tarefa de adestrar o pessoal do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ.  
O início das hostilidades faria com que a Aviação Naval reunisse todos os seus recursos de material e pessoal para o esforço de guerra, e entre as aeronaves convocadas estavam os Avro 504N/O Lince. Entre outras necessidades das forças legalistas encontrava-se o patrulhamento fluvial na região do pantanal, na tentativa de inibir qualquer atividade das forças Constitucionalistas.  Para dar apoio direto às unidades de superfície da Marinha do Brasil, em agosto dois Avro 504N/O receberiam metralhadoras Vickers .303 de calibre 7,62 mm × 54 mm e foram enviados à Base Naval de Ladário. Equipados com flutuadores, esses aviões regularmente realizavam missões de vigilância nos longos cursos fluviais da região, executando ainda o patrulhamento de fronteira. Ao término da Revolução Constitucionalista, estes dois aviões que se encontravam no Pantanal regressariam ao Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro - CAvN RJ e foram aparentemente recolhidas as Oficinas Gerais de Aviação Naval (OGAN) a fim de sofrerem uma revisão geral. Por sua vez, em setembro de 1932, um Avro 504N/O seria dado como pronto entregue após uma revisão completa. Porém essa aeronave teria uma vida efêmera, acidentando-se com perda total de material e infelizmente de pessoal em dezembro daquele mesmo ano. A partir de então, a historia dos Avro 504N/O torna-se nebulosa. Existem indicações de que os aviões que estiveram no Pantanal, junto com mais outra célula, permaneceriam nas  Oficinas Gerais de Aviação Naval (OGAN) e de lá não sairiam mais. O certo é que, em 1934, seria dada baixa aos Avro 504N/O Lince, encerrando, assim definitivamente, a carreira destas aeronaves no Brasil.

Em Escala.
Para representarmos o Avro 504K “A7” pertencente a  Aviação Naval, quando a serviço da Escola de Aviação Naval - EAvN,  empregamos o antigo kit da Airfix na escala 1/72, modelo de fácil montagem porém de baixo detalhamento, exigindo ainda confecção em scratch dos para-brisas. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presentes no antigo set 72/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Avro 504K da Aviação Naval, inicialmente as aeronaves foram recebidas em uma tonalidade de amarelo denominada "clear dope linen" com o FS 33695. Já os Avro 504N/O receberam padrões de pintura em metal natural com as marcações nacionais. 


Bibliografia :
- Avro 504 – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Avro_504
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- 100  anos da Aviação Naval - Marinha do Brasil & Fundação Getulio Vargas
- Asas sob os Mares , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html