L-118 Light Gun AR 105 mm

História e Desenvolvimento.
Durante as fases iniciais da Segunda Guerra Mundial, os regimentos de artilharia de campanha do Exército Real Britânico (Royal Army) dependiam amplamente de peças de médio calibre produzidas pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF). Entre os equipamentos utilizados, destacavam-se os canhões QF 6 Pounder de 57 mm, QF 4 Pounder de 84 mm e QF 25 Pounder de 87,6 mm, que desempenharam papéis cruciais nos campos de batalha. A partir de março de 1941, a implementação do programa norte-americano de assistência militar, conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), trouxe um reforço significativo às forças britânicas. Por meio desse programa, o Reino Unido recebeu milhares de obuseiros norte-americanos M-2 AR de 105 mm e M-1 Howitzer de 155 mm, provenientes dos Estados Unidos, que aumentaram a eficácia da artilharia de campanha britânica, permitindo maior poder de fogo e mobilidade no enfrentamento das forças do Eixo. No final da década de 1950, com o avanço da tecnologia militar e a necessidade de modernização, o Exército Real (Royal Army), em conjunto com o Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines), lançou um programa para substituir os antigos canhões nacionais de 75 mm, 87,6 mm e morteiros de 110 mm por um novo obuseiro leve. O objetivo era dotar os regimentos de artilharia de um sistema mais moderno, versátil e adequado às demandas operacionais contemporâneas. Para alcançar esse objetivo, foram conduzidos estudos detalhados, avaliando tanto o desenvolvimento de novas armas de artilharia quanto a aquisição de sistemas já em uso por outras nações. A decisão final favoreceu a segunda opção, priorizando a implementação rápida para atender às necessidades urgentes das forças britânicas. Após uma análise minuciosa de diversas alternativas, a escolha recaiu sobre o obuseiro de campanha Oto Melara Mod 56, projetado e desenvolvido pela empresa italiana Oto Melara para atender às exigências do Exército Italiano (Esercito Italiano), com foco em unidades de artilharia de montanha. O Mod 56 destacou-se por seu design leve, com peso reduzido que facilitava o transporte aéreo por helicópteros, como o Westland Wessex HC.2, e o reboque por veículos leves com tração integral, como o Land Rover Defender. Essas características tornavam o obuseiro ideal para operações em terrenos desafiadores, alinhando-se perfeitamente às demandas britânicas por mobilidade e versatilidade. As negociações com a Oto Melara foram iniciadas rapidamente, culminando na assinatura de um contrato para a aquisição de menos de quinhentas unidades do Mod 56, customizadas para utilizar a munição norte-americana M-1, designada no Reino Unido como "105 mm How". Essa adaptação garantiu compatibilidade com os estoques de munição já disponíveis, facilitando a logística e a integração do novo obuseiro às operações britânicas.

A introdução do obuseiro Oto Melara Mod 56, designado localmente pelo Exército Real Britânico (Royal Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) como L-5 105 mm, marcou um passo significativo na modernização da artilharia britânica. As primeiras unidades foram declaradas operacionais em meados de 1961, com um cronograma de entrega que se estenderia por 48 meses. Esse sistema, projetado originalmente para unidades de artilharia de montanha do Exército Italiano, destacou-se por sua leveza e mobilidade, permitindo o transporte por helicópteros Westland Wessex HC.2 e o reboque por veículos leves, como o Land Rover Defender. Contudo, após dois anos de emprego operacional, foram identificadas limitações críticas que comprometeram sua eficácia em cenários de combate reais. As principais deficiências do L-5 incluíam seu alcance limitado, que o tornava vulnerável ao fogo de contra-bateria, e uma taxa de disparo insuficiente, com tempo de resposta inadequado. Esses fatores reduziam a letalidade do obuseiro, impactando diretamente a capacidade das forças britânicas de responder a ameaças dinâmicas no campo de batalha. Reconhecendo a necessidade de superar essas limitações, o Estado-Maior do Reino Unido emitiu, em 1965, um requerimento para o desenvolvimento de um novo sistema de artilharia de calibre 105 mm, designado L-118 Light Gun. Esse documento estabelecia requisitos rigorosos, incluindo um peso máximo de 1.600 kg, capacidade de operação em 360º, resistência à submersão em água por até 30 minutos com disparo imediato após a exposição, e compatibilidade com transporte aéreo pelos novos helicópteros Boeing CH-47 Chinook e aeronaves Hawker Siddeley HS 780 Andover. Em termos de munição, o L-118 deveria ser capaz de utilizar projéteis britânicos Fd Mk 1 e Fd Mk 2 de 105 mm, além da munição norte-americana M-1 (designada “105 mm How”) para treinamento. Contudo, em 1964, uma decisão estratégica permitiu a criação de uma variante, a L-119, projetada para operar exclusivamente com a munição padrão norte-americana US 1935 (M-1), garantindo maior interoperabilidade com aliados e estoques existentes. Com os requisitos definidos, diversas propostas foram apresentadas em 1965, e o melhor estudo conceitual foi selecionado como base para o desenvolvimento do L-118. A responsabilidade pelo projeto final foi atribuída ao Centro Real de Pesquisa e Desenvolvimento de Armamentos (RARDE), localizado em Fort Halstead, na região de Kent, no sul da Inglaterra. Os primeiros protótipos do L-118 Light Gun foram concluídos em meados de 1968 e submetidos a testes práticos de campo. Os resultados iniciais, embora promissores, indicaram a necessidade de revisões no projeto, pois a estrutura original não atendia plenamente aos índices de robustez exigidos para operações militares intensas.O desenvolvimento do obuseiro L-118 Light Gun, conduzido pelo Centro Real de Pesquisa e Desenvolvimento de Armamentos (Royal Armament Research and Development Establishment – RARDE), em Fort Halstead, Inglaterra, representou um marco na modernização da artilharia britânica. Para superar as limitações identificadas nos protótipos iniciais, o RARDE implementou reforços estruturais na base do L-118, resultando em um peso final de 1.858 kg (4.096 lb). Apesar desse aumento, o compromisso com a mobilidade e a eficácia foi rigorosamente mantido, garantindo que o obuseiro atendesse às exigências operacionais do Exército Real (Royal Army) e do Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) em cenários militares diversos. O projeto culminou na conclusão dos primeiros protótipos em janeiro de 1974, que foram submetidos a um rigoroso programa de testes práticos de campo e disparo operacional. O L-118 destacou-se por características inovadoras, incluindo uma culatra de bloco deslizante vertical com mecanismo de disparo elétrico, integrada a uma plataforma transversal com trilha de caixa, em vez da tradicional trilha dividida. O sistema de recuo hidropneumático assegurava estabilidade durante o disparo, enquanto o uso de aço de alta qualidade no carro e no cano contribuía para manter o peso relativamente leve, considerando o porte da arma. A estreita distância entre eixos facilitava a mobilidade, embora limitasse o giro da peça a 180º para desdobramento completo. Para contornar essa restrição, o L-118 foi equipado com um cubo de desmontagem em um dos lados, permitindo que a roda fosse removida para girar a arma com agilidade. Esse procedimento, executado por uma equipe de artilharia bem treinada, podia ser concluído em apenas 30 segundos, demonstrando a praticidade do projeto. Em operações de transporte, o obuseiro podia ser tracionado desdobrado a velocidades de até 64 km/h. Para deslocamentos de longa distância ou em terrenos acidentados, o cano era invertido e fixado à extremidade da trilha, garantindo maior segurança e eficiência. Após extensos testes, o L-118 Light Gun recebeu sua aprovação técnica, com a homologação para produção em série emitida em maio de 1975. A fabricação foi iniciada em junho do mesmo ano pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF), com as primeiras entregas aos regimentos de artilharia de campanha do Exército Real em abril de 1976, seguidas por entregas ao Corpo de Fuzileiros Reais em setembro. Esses primeiros lotes foram equipados com visores L7 ou L7A1, que incorporavam uma escala de elevação integral e iluminação interna alimentada por fontes de luz Trilux, permitindo operações precisas de fogo indireto, mesmo em condições de baixa visibilidade. Além disso, o L-118 oferecia a opção de um telescópio de fogo direto com intensificação de imagem para uso noturno, ampliando sua versatilidade em cenários operacionais.

Embora o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm apresentasse um peso final de 1.858 kg, superior ao de seus antecessores, o que o impedia de ser transportado pelos helicópteros Westland Wessex HC.2, sua introdução coincidiu com a modernização das forças armadas britânicas. A chegada de helicópteros de maior capacidade, como o Westland Puma HC Mk 1 e o Westland WS-61 Sea King, permitiu o transporte aéreo eficiente do L-118, garantindo sua mobilidade em operações táticas. No modal terrestre, o obuseiro foi tracionado pelo Land Rover 101 Forward Control, um veículo projetado originalmente para transportar lançadores de mísseis terra-ar Rapier, mas perfeitamente adaptado às necessidades do L-118 devido à sua robustez e capacidade em terrenos variados. Ao longo das décadas seguintes, o L-118 Light Gun consolidou-se como o pilar da artilharia de campanha britânica na faixa de calibre 105 mm, destacando-se pela combinação de leveza, precisão e versatilidade. Seu batismo de fogo ocorreu durante a Guerra das Malvinas (1982), um marco em sua história operacional. Durante a campanha para retomar as ilhas, cinco baterias, totalizando 30 obuseiros, foram intensivamente empregadas após o desembarque das forças britânicas. Nas fases finais do conflito, durante o cerco à capital, Port Stanley, cada L-118 disparou até 400 projéteis por dia, utilizando a “carga super”, um sistema propulsor mais potente que ampliava o alcance e a eficácia da arma. Essa performance excepcional foi decisiva para o sucesso da campanha terrestre, contribuindo significativamente para a vitória britânica. O desempenho notável do L-118 nas Malvinas elevou sua reputação internacional, atraindo a atenção de forças armadas ao redor do mundo. O obuseiro foi adotado por nações como Bahrein, Benim, Bósnia-Herzegovina, Botsuana, Brasil, Irlanda, Quênia, Maláui, Marrocos, Nepal, Nova Zelândia, Omã, Portugal, Espanha, Tailândia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Austrália, Holanda e Suíça. Um marco significativo foi a assinatura de um contrato para sua produção em série nos Estados Unidos, onde a variante M-119 passou a equipar o Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps). Posteriormente, um acordo semelhante foi firmado com a Austrália para a produção da variante L-119, reforçando a presença global do obuseiro. A produção do L-118 Light Gun foi conduzida pelas Fábricas de Artilharia Real (Royal Ordnance Factories – ROF) até sua descontinuação em 1987, com mais de 1.500 unidades entregues. Sua longevidade e ampla adoção refletem o sucesso de seu projeto, que equilibrou inovação tecnológica com praticidade operacional. O L-118 não apenas modernizou a artilharia britânica, mas também deixou um legado duradouro, sendo reconhecido como um dos obuseiros mais eficazes e confiáveis de sua categoria.
O desempenho excepcional da família de obuseiros L-118 e L-119 Light Gun, demonstrado em conflitos como a Guerra das Malvinas, consolidou sua posição como um dos sistemas de artilharia mais confiáveis e versáteis do mundo. Para assegurar sua relevância em cenários militares modernos, esses obuseiros foram submetidos a sucessivos programas de modernização e extensão de vida, combinando avanços tecnológicos com a robustez que marcou sua trajetória. Esses esforços refletem o compromisso das forças armadas britânicas e aliadas em manter a eficácia operacional de suas unidades de artilharia, adaptando-as às demandas de um ambiente de combate em constante evolução. No início da década de 1990, o Exército Real (Royal Army) e o Corpo de Fuzileiros Reais (Royal Marines) implementaram uma importante atualização nos obuseiros L-118, incorporando o Dispositivo de Medição de Velocidade de Focinho (MVMD), um radar e sua respectiva fonte de alimentação. Essa modernização aprimorou a precisão dos disparos, permitindo ajustes mais rápidos e eficazes em condições de campo. Em 1999, um novo programa substituiu as miras ópticas tradicionais pelo Sistema de Apontamento de Artilharia LINAPS (Artillery Pointing System), montado acima do cano. Equipado com giroscópios a laser de três anéis, o LINAPS determinava com precisão o azimute, o ângulo de elevação e a inclinação do canhão. Além disso, integrava recursos de navegação e auto-levantamento por meio de um sistema de posicionamento global (GPS) e medição inercial de direção e distância, elevando a eficiência operacional a níveis sem precedentes. Em 2007, outro programa de modernização foi implementado, focado na redução do peso total do L-118 e no aprimoramento de componentes críticos. A substituição de partes de aço por ligas de titânio resultou em maior durabilidade e mobilidade, mantendo a robustez necessária para operações em terrenos desafiadores. Em 2010, com o objetivo de atender às exigências das operações no Afeganistão, foram introduzidas novas miras de tiro direto com capacidade de visão noturna e alcance estendido. Essas miras foram complementadas por uma Unidade de Controle de Disparo (LCDU) com tela sensível ao toque ampliada, integrada ao sistema de transferência de dados eletrônicos FC-BISA, padrão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Essa integração facilitou a coordenação de fogo direto em cenários complexos, reforçando a interoperabilidade com forças aliadas. Paralelamente, os obuseiros em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army), designados M-119, passaram por um processo de modernização a partir de 2013, resultando na variante M-119A3. Essa versão incorporou um sistema de controle de fogo digital e uma unidade de navegação inercial auxiliada por GPS, utilizando software derivado do obuseiro M-777A2. Essas melhorias aumentaram a precisão e a rapidez de resposta, garantindo que o M-119A3 permanecesse relevante em operações modernas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A modernização da artilharia de campanha do Exército Brasileiro teve início durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil se alinhou ao esforço de guerra aliado, marcando um ponto de inflexão em sua história militar. Como signatário do programa norte-americano Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), o país obteve um crédito de US$ 100 milhões, que viabilizou a aquisição de equipamentos modernos, incluindo veículos, embarcações, aeronaves e uma ampla gama de sistemas de armas. Esse apoio permitiu a substituição de canhões de campanha franceses, alemães e britânicos, que até então equipavam as unidades de primeira linha do Exército Brasileiro, por peças de artilharia mais avançadas, com calibres variando de 37 mm a 305 mm. Entre os equipamentos recebidos, destacaram-se os obuseiros M-1 Howitzer 105 mm e M-2 Howitzer 155 mm, que representaram um salto tecnológico e operacional para a artilharia brasileira. Esses sistemas substituíram armamentos obsoletos, cuja eficácia era questionável em cenários modernos de combate terrestre. A introdução dessas peças marcou uma nova era para a força terrestre, proporcionando maior poder de fogo e precisão às operações. A consolidação desse avanço também envolveu um robusto processo de formação doutrinária. O treinamento inicial foi conduzido por especialistas do Exército dos Estados Unidos (US Army), que compartilharam conhecimentos técnicos e táticos. Esse aprendizado foi solidificado no calor da batalha, durante a campanha da Itália (1944-1945), onde a Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB) desempenhou um papel crucial. Composta por quatro batalhões de obuseiros (Grupos de Obuses), sendo três equipados com 12 obuseiros M-2 105 mm cada e um quarto batalhão com 12 obuseiros M-1 155 mm, a artilharia da FEB demonstrou sua eficácia em apoio às operações aliadas, contribuindo significativamente para o sucesso no front italiano. A partir da segunda metade da década de 1960, o fortalecimento da artilharia brasileira foi ampliado por meio do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos. Esse programa possibilitou a entrega de novos lotes de obuseiros, incluindo os modelos M-2 e M-2A1 AR 105 mm, M-102 AR 105 mm e M-1 AR 155 mm, destinados não apenas ao Exército Brasileiro, mas também ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Apesar desses avanços, a renovação com peças mais modernas foi limitada. Entre 1967 e 1968, o Exército Brasileiro recebeu apenas 19 obuseiros atualizados do modelo M-102 AR 105 mm Howitzer, um número modesto diante das necessidades de modernização. Com o objetivo de otimizar o uso desses novos equipamentos, decidiu-se concentrar as 19 unidades do M-102 no 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado em Bagé, no Rio Grande do Sul. Essa decisão estratégica reforçou a capacidade de artilharia na região, consolidando o papel do 25º GAC como uma unidade de referência no Exército Brasileiro.

No início da década de 1980, tornou-se evidente a necessidade de renovação do arsenal de artilharia do Exército Brasileiro, especialmente no que diz respeito aos obuseiros de 105 mm. Os veteranos M-101AR (M-2 e M-2A1), em operação há mais de quatro décadas, continuavam a desempenhar suas funções graças a um meticuloso trabalho de manutenção e modernização conduzido pelos Arsenais de Guerra. A produção local de peças de reposição e a implementação de atualizações técnicas garantiam sua disponibilidade operacional. Contudo, apesar da robustez, esses obuseiros não atendiam mais às exigências do combate moderno, particularmente em termos de alcance e amplitude de campo de tiro, essenciais para enfrentar os desafios de um cenário militar em rápida evolução. Para atender a essa demanda crítica, o comando do Exército Brasileiro iniciou estudos detalhados com o objetivo de adquirir um novo obuseiro de campanha de 105 mm. O processo previa a incorporação de até 50 peças, destinadas a substituir os M-101AR mais desgastados e reforçar o inventário dos Grupos de Artilharia de Campanha Leve, Grupos de Artilharia de Campanha Paraquedista e Brigadas de Infantaria. Diversas opções foram avaliadas, incluindo sistemas de origem francesa, italiana, britânica e norte-americana. Após uma análise rigorosa, a escolha recaiu sobre o L-118 Light Gun 105 mm, fabricado pela Royal Ordnance Factories (ROF) do Reino Unido, que se destacou pela melhor relação custo-benefício, aliada a uma linha de financiamento vantajosa. Em abril de 1982, foi assinado um contrato entre o Ministério do Exército e a ROF, prevendo a aquisição de 40 obuseiros L-118 Light Gun novos de fábrica. O pacote incluía o reparo L17 A1, a boca de fogo L-19 A1, componentes de reposição, munição específica e bocas de fogo intercambiáveis L-20 A1, que permitiam converter o L-118 na variante L-119 Light Gun, compatível com a munição padrão norte-americana M-1. Essa flexibilidade assegurava interoperabilidade com estoques existentes e aliados, reforçando a versatilidade do sistema. Os obuseiros foram entregues equipados com um Sistema de Pontaria Direta, composto por uma luneta para tiro direto, graduada para o uso de granadas anticarro (HESH) e munições explosivas HE L31A3, eficazes contra diversos tipos de alvos. O sistema também incluía uma luneta de pontaria noturna, específica para granadas anticarro, além de alças e massa de mira para uso em caso de falha da luneta cotovelo. Para alvos estáticos a longa distância, uma luneta panorâmica foi incorporada, garantindo precisão em cenários operacionais complexos. Esse conjunto de pontaria reforçava a capacidade do L-118 de operar em condições variadas, desde combates diurnos até operações noturnas ou em alvos distantes.
A introdução do obuseiro L-118 Light Gun 105 mm no Exército Brasileiro marcou um avanço significativo na modernização de sua artilharia de campanha, trazendo maior precisão, alcance e versatilidade às operações terrestres. Equipado para operar com uma ampla gama de munições, o L-118 utilizava granadas dos tipos Explosiva (HE L31A3), Fumígena de Cobertura (SMK BE L45A2), Fumígena de Sinalização (MARKER RED L37A2 e MARKER ORANGE L38A2), Iluminativa (ILUM BE L43A2), de Exercício (PRAC FLASH RO38-05A1) e Anticarro (HESH L42). Essas munições, inicialmente importadas, passaram a ser produzidas localmente, garantindo maior autonomia logística e sustentabilidade para as forças brasileiras. Embora compatível com munições de mesmo calibre dos obuseiros M-101AR 105 mm (M-2 e M-2A1), o L-118 se destacava por seu cano mais longo, que otimizava a queima do propelente, resultando em um alcance balístico superior de 17,2 km. Esse incremento representava um salto em relação aos antecessores, ampliando significativamente a capacidade de atingir alvos distantes. O sistema de recuo hidropneumático, combinado com uma culatra deslizante vertical, facilitava a operação, conferindo maior eficiência e rapidez no campo de batalha. Projetado como um obuseiro autotracionado, o L-118 era operado por uma guarnição composta por oito militares: o Chefe de Peça (CP), Cabo Apontador e Atirador (C1), Soldado Carregador (C2), Soldado Municiador (C3), Soldado Municiador-Chefe (C4), Soldado Municiador (C5), Soldado Municiador-Chefe (C6) e o Motorista (Mot). Contudo, em situações de necessidade, uma equipe reduzida de quatro militares bem treinados era capaz de operar a peça, alcançando uma cadência de até oito disparos por minuto, demonstrando a versatilidade e a eficiência do sistema. As primeiras unidades do L-118 Light Gun chegaram ao porto do Rio de Janeiro no início de 1985, sendo inicialmente destinadas à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Esse período foi dedicado ao desenvolvimento da doutrina operacional e à elaboração do Manual de Campanha “Serviço da Peça do Obuseiro L118”, um documento essencial para padronizar o uso do obuseiro nas unidades de artilharia. Após essa fase, as 40 peças adquiridas foram distribuídas entre diversas unidades estratégicas do Exército Brasileiro, incluindo o 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), o 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista (8º GAC Pqdt), o 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva (10º GAC Sl), o 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve – Aeromóvel (20º GAC L – Amv), o 26º Grupo de Artilharia de Campanha (26º GAC) e o 32º Grupo de Artilharia de Campanha (32º GAC). Cada bateria era composta por quatro obuseiros, geralmente tracionados por caminhões Mercedes-Benz LAK 1418 – VTNE (Viatura de Transporte Não Especializada), que garantiam mobilidade em diferentes terrenos.

Ao longo das décadas, o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm consolidou-se como um pilar essencial da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, destacando-se por sua versatilidade, mobilidade e eficácia operacional. Essas qualidades levaram a Marinha do Brasil a reconhecer o potencial do sistema, resultando, em 1995, na aquisição de 18 unidades do L-118 junto à Royal Ordnance Factories (ROF). Essas peças foram destinadas ao Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais (BtlArtFuzNav), subordinado à Divisão Anfíbia, com a missão de prestar apoio de fogo cerrado e contínuo aos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais. O L-118 demonstrou capacidade de concentrar fogo em áreas específicas, transferir disparos rapidamente entre alvos sem reposicionamento, lançar cortinas de fumaça, iluminar áreas estratégicas e atingir posições desenfiadas, neutralizando forças ou instalações inimigas com precisão. Tanto no Exército Brasileiro quanto no Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), o L-118 destacou-se por sua excepcional mobilidade, sendo frequentemente transportado por helicópteros ou aeronaves, o que permitiu sua operação em diversos terrenos e regiões do território nacional, da Amazônia às áreas urbanas. Essa capacidade de projeção rápida reforçou o papel do obuseiro como um ativo estratégico, capaz de responder às demandas de cenários operacionais complexos. A partir do final da década de 2010, o comando do Exército Brasileiro identificou a necessidade de modernizar os obuseiros L-118 para garantir sua plena operacionalidade. Estudos iniciais, conduzidos pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), focaram na recuperação do sistema de freio recuperador, que apresentava problemas de estanqueidade, mistura de fluidos e desgaste acentuado, impactando o desempenho e a disponibilidade da frota. Para enfrentar esses desafios, o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) desenvolveu uma solução inovadora, utilizando materiais de última geração, como ligas de teflon, poliuretano e aço inoxidável. Essa configuração moderna, testada e validada, assegurou alto desempenho com desgaste mínimo, prolongando significativamente os períodos de disponibilidade sem a necessidade de substituição frequente de componentes. Paralelamente, foi concluída a avaliação dos discos de embreagem do mecanismo de elevação do L-118 Light Gun 105 mm , que foram nacionalizados, bem como a validação da primeira versão do conjunto de vedação para o sistema de freio recuperador, produzido no Brasil pela Vedabrás Indústria e Comércio Ltda. Essas iniciativas representaram um marco na autonomia tecnológica do Exército Brasileiro, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecendo a capacidade de manutenção local.
Em dezembro de 2020, o Exército Brasileiro começou a receber as primeiras unidades do obuseiro L-118 Light Gun 105 mm recuperadas, um marco significativo na extensão da vida útil dessas peças de artilharia. Esse processo, conduzido pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), foi o primeiro passo para atualizar a capacidade operativa do L-118, garantindo sua relevância até sua provável substituição no final da década de 2020. A recuperação incluiu melhorias críticas, como a modernização do sistema de freio recuperador, utilizando materiais avançados como ligas de teflon, poliuretano e aço inoxidável, que asseguraram maior durabilidade e desempenho, minimizando falhas e prolongando os períodos de disponibilidade. O próximo passo no processo de modernização envolveu a atualização dos Sistemas de Pontaria Direta, com uma solução inovadora desenvolvida pela estatal brasileira Imbel S/A. Essa solução baseou-se no Módulo Gênesis, um sistema computadorizado de direção e coordenação de tiro no nível de brigada, projetado para substituir métodos tradicionais e atender às necessidades de apoio de fogo das armas de Infantaria, Cavalaria e Artilharia. Equipado com tecnologia apropriada para operações em campanha, o Gênesis proporcionava maior precisão e rapidez no processamento das missões de tiro, permitindo ao comandante intervir no combate com munições e volumes de fogo adequados no momento oportuno. Sua arquitetura flexível e modular possibilitava a redistribuição de módulos conforme as exigências táticas, centralizando o controle de todas as unidades de tiro sob sua responsabilidade. Essa inovação fortaleceu a capacidade de apoio de fogo contínuo e preciso, consolidando a artilharia brasileira como um ativo estratégico em cenários de combate modernos. Paralelamente, o Exército Brasileiro iniciou estudos para a substituição gradual de seus obuseiros, incluindo os L-118 Light Gun, os M-101AR (M-2 e M-2A1) e os M-56 Oto Melara. Um dos planos em consideração envolve a aquisição de até 86 unidades do obuseiro norte-americano M-119A2 105 mm, provenientes dos estoques do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD), por meio do programa Foreign Military Sales (FMS). Esse projeto está inserido no Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC), parte integrante do Programa Estratégico do Exército Obtenção da Capacidade Operacional Plena (Prg EE OCOP). O objetivo principal é atender às demandas do combate moderno, priorizando mobilidade tática e maior eficiência operacional, especialmente para substituir os M-101AR, que já contam com 75 anos de uso, e, futuramente, os L-118 e M-56.

Em Escala.
Para recriar o obuseiro L-118 Light Gun 105 mm, peça icônica da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, foi utilizado o excepcional kit impresso em 3D produzido pela fabricante nacional 3D Scale Models, na escala 1/35. Este modelo destaca-se pela facilidade de montagem e pelo elevado nível de detalhamento, refletindo com precisão as características do L-118 em operação nas unidades brasileiras, como os Grupos de Artilharia de Campanha Leve, Paraquedista e de Selva. A representação da versão empregada pelo Exército Brasileiro não exige modificações adicionais, permitindo que o kit seja montado diretamente da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura tático em dois tons, aplicado aos obuseiros quando de seu recebimento durante a década de 1980. Este esquema seria alterados após a implementação do programa de recuperação e atualização realizado pelo  Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Este sendo muito semelhante ao empregado nas peças pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.


Bibliografia: 

- L118 Light Gun 105 mm - https://www.no-regime.com/ru-pt/wiki/L118_light_gun
- 25º Grupo de Artilharia de Campanha - http://www.25gac.eb.mil.br/
- Sistema Gênesis GEN-3004 - https://www.imbel.gov.br/index.php/comunicacoes-eletronica-e-sistemas 
- Obuseiro M119A2 para o Brasil? - https://tecnodefesa.com.br/obuseiro-m119a2-para-o-brasil/
- Recuperação de obuseiros de 105mm - Paulo Roberto Bastos Jr. www.tecnodefesa.com.br 

Caça Submarinos Classe PC-461

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o mundo assistia ao crescente agravamento das tensões geopolíticas, prenunciando a iminência de um conflito de escala global. Na Europa, as ambições expansionistas da Alemanha nazista, liderada por Adolf Hitler, manifestavam-se em violações sucessivas do Tratado de Versalhes (1919), como a remilitarização da Renânia em 1936 e a anexação da Áustria em 1938 (Anschluss). Paralelamente, na Ásia, o Império do Japão intensificava sua política imperialista, com a invasão da Manchúria em 1931 e a escalada da Segunda Guerra Sino-Japonesa a partir de 1937. Esses acontecimentos sinalizavam claramente que o mundo se encaminhava para uma conflagração de proporções devastadoras, que viria a ser a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Diante desse cenário, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Franklin D. Roosevelt, reconheceu a necessidade urgente de fortalecer sua capacidade militar para enfrentar potenciais ameaças. A partir de 1938, foram implementados diversos programas de modernização das forças armadas, com ênfase na preparação para conflitos futuros. Um dos pilares dessas iniciativas foi o fortalecimento do poder naval, essencial para a projeção de força em um mundo cada vez mais instável. O poder naval tornou-se uma prioridade estratégica, especialmente em razão do crescimento da armada imperial japonesa, que, na década de 1930, modernizou sua frota com navios de guerra avançados, como os encouraçados da classe Yamato. Além disso, as marinhas italiana e alemã investiam significativamente em forças submarinas. Apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, que restringia o rearmamento alemão, a Kriegsmarine (Marinha Alemã) expandia rapidamente sua frota de submarinos (U-Boote). Relatórios de inteligência britânicos, compartilhados com os aliados, indicavam que, em 1939, a Alemanha já possuía cerca de 57 submarinos operacionais, número que cresceria para mais de 100 no início da guerra. Essa força representava uma ameaça direta às linhas de abastecimento marítimo, especialmente para a Grã-Bretanha, que dependia de importações estratégicas, como petróleo, alimentos e matérias-primas, provenientes majoritariamente dos Estados Unidos. A possibilidade de uma campanha coordenada de submarinos alemães, utilizando táticas de "matilha" (Rudeltaktik), poderia paralisar o comércio marítimo britânico, comprometendo sua capacidade de sustentar o esforço de guerra. Em 1938, estimativas apontavam que cerca de 60% das importações britânicas cruzavam o Atlântico, tornando a proteção dos comboios mercantes uma questão de sobrevivência nacional. A resposta mais imediata para essa ameaça seria a construção de uma frota robusta de navios especializados em escolta de comboios e guerra antissubmarino (ASW), como contratorpedeiros (destroyers) e fragatas. No entanto, um programa dessa magnitude exigiria investimentos vultosos, estimados em centenas de milhões de dólares – um desafio significativo em um contexto de recuperação econômica pós-Grande Depressão. Para se ter uma ideia, o orçamento de defesa dos EUA em 1938 era de aproximadamente US$ 1 bilhão, com a Marinha recebendo cerca de um terço desse montante. A alocação de recursos para um programa de construção naval em larga escala poderia comprometer outras áreas críticas do esforço de rearmamento.

Assim, tornou-se essencial buscar soluções mais econômicas que permitissem expandir rapidamente a capacidade de defesa naval. Uma alternativa promissora foi o reaparecimento dos “Submarine Chasers” (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte, ágeis e de baixo custo, que haviam desempenhado um papel crucial durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Durante esse conflito, os Submarine Chasers da classe SC-1, com deslocamento de cerca de 85 toneladas e armados com cargas de profundidade, foram empregados com sucesso contra submarinos alemães no Atlântico. Em 1918, aproximadamente 440 unidades dessas embarcações estavam em operação, demonstrando sua viabilidade como solução tática. Curiosamente após o término da Primeira Guerra Mundial em 1918, a percepção predominante entre estrategistas navais era de que os “Submarine Chasers” (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte especializadas em guerra antissubmarino (ASW), poderiam tornar-se obsoletos na década seguinte. Essa visão decorria do avanço tecnológico dos submarinos, que, na década de 1920, começaram a ser projetados para operações em mar aberto, com maior autonomia e capacidade ofensiva. No entanto, analistas navais vislumbraram que essas embarcações menores ainda poderiam desempenhar um papel crucial em missões costeiras, liberando navios de maior porte, como contratorpedeiros (destroyers), para operações em alto-mar. Essa divisão estratégica ampliava a capacidade de dissuasão antissubmarino das frotas aliadas, especialmente em um contexto de crescentes tensões globais. Com o agravamento das tensões internacionais no final da década de 1930, impulsionado pelas expansões da Kriegsmarine alemã e da armada imperial japonesa, a US Navy reconheceu a necessidade de modernizar sua frota antissubmarino. A construção de grandes navios, como contratorpedeiros e fragatas, era financeiramente inviável em larga escala, o que levou à busca por alternativas mais acessíveis. Nesse contexto, em março de 1940, foi instituído o Experimental Small Craft Program, conduzido pela equipe técnica da Defoe Shipbuilding Company, localizada em Bay City, Michigan. Esse programa teve como objetivo desenvolver uma nova geração de Submarine Chasers que combinasse baixo custo de construção e operação com alta eficiência, permitindo sua produção em massa para reforçar a frota naval norte-americana. O programa resultou na criação de dois protótipos experimentais, classificados como PC-451 e PC-452, que foram submetidos a avaliações comparativas. Após testes rigorosos, a US Navy aprovou a versão final, designada como classe PC-461, que se tornou um marco na guerra antissubmarino. As embarcações da classe PC-461 apresentavam as seguintes especificações técnicas: Deslocamento: 280 toneladas (padrão) e 450 toneladas (carregado). Dimensões: 52,73 metros de comprimento, 7,01 metros de boca e 3,04 metros de calado. Propulsão: Dois motores diesel General Motors Model 16-258S de 16 cilindros, cada um gerando 2.000 bhp, acoplados a dois eixos com hélices de três pás. Essa configuração proporcionava uma velocidade máxima de 20 nós e um alcance de 3.000 milhas náuticas a uma velocidade de cruzeiro de 12 nós. Armamento: 1 canhão naval de 3 polegadas (76,2 mm/50); 1 canhão Bofors L/60 de 40 mm em reparo Mk 3; 2 metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos Mk 4; 2 lançadores óctuplos de bombas granada antissubmarino (Mousetrap Mk 20) na proa; 2 calhas de cargas de profundidade Mk 3; 2 lançadores laterais tipo K Mk 6 para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9. Essa combinação de armamentos conferia às embarcações da classe PC-461 uma capacidade robusta para enfrentar submarinos, mantendo a agilidade necessária para operações costeiras e de escolta de comboios.
A classe PC-461 de Submarine Chasers (caçadores de submarinos) representou um marco significativo na modernização naval dos Estados Unidos às vésperas da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Diferentemente de seus antecessores utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914–1918), que dependiam de detecção visual para localizar submarinos, as embarcações da classe PC-461 incorporavam avanços tecnológicos que aumentavam sua eficácia em operações antissubmarino (ASW). Equipadas com radar de vigilância de superfície, do tipo SF ou SL, e um sonar de casco de última geração, essas embarcações podiam detectar ameaças submersas com maior precisão, mesmo em condições adversas. Esses sistemas, aliados a uma tripulação composta por cinco oficiais e sessenta praças, permitiam uma operação eficiente dos armamentos e sistemas de bordo, otimizando o desempenho em missões costeiras e de escolta. Projetada para atender às especificações do Experimental Small Craft Program iniciado em março de 1940, a classe PC-461 foi desenvolvida com foco na economia e na escalabilidade. Cada unidade tinha um custo de produção de aproximadamente US$ 1,7 milhão (valor da época, equivalente a cerca de US$ 35 milhões em 2025, ajustado pela inflação), tornando-a uma solução financeiramente viável para produção em massa. Esse baixo custo foi crucial para atender às demandas dos Estados Unidos e de seus aliados, especialmente no âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgado em março de 1941. Essa legislação permitiu o fornecimento de equipamentos militares a nações aliadas, como a Grã-Bretanha, que enfrentavam a ameaça iminente dos submarinos alemães (U-Boote) no Atlântico. Os primeiros 46 navios da classe PC-461, construídos pelos estaleiros da Defoe Boat and Motor Works Company em Bay City, Michigan, receberam a designação de exportação PC-471. A maioria dessas embarcações foi transferida diretamente para a Marinha Real Britânica (Royal Navy), que as empregou no Mar do Norte. Essa transferência estratégica permitiu que os contratorpedeiros britânicos fossem redirecionados para a proteção de comboios em alto-mar, enquanto os Submarine Chasers assumiam a responsabilidade pela segurança de portos e águas costeiras. Essa divisão de papéis foi essencial para conter a campanha de guerra submarina alemã, que, entre 1940 e 1943, afundou mais de 2.700 navios mercantes aliados, segundo estimativas históricas. A versatilidade e o baixo custo da classe PC-461 transformaram-na em um componente estratégico do esforço de guerra aliado. Para atender à crescente demanda por embarcações antissubmarino, a US Navy firmou contratos para a construção de 400 navios dessa classe. Além da Defoe Shipbuilding Company, a produção foi licenciada para a Luders Marine Construction Company, em Stamford, Connecticut, garantindo o cumprimento do cronograma de entregas. O primeiro navio da classe PC-461 foi lançado ao mar em maio de 1941, marcando o início de uma produção acelerada para enfrentar a ameaça dos submarinos alemães e japoneses. Até outubro de 1944, 343 embarcações haviam sido concluídas, um feito notável que reflete a eficiência dos estaleiros americanos e a prioridade dada à guerra antissubmarino. No entanto, nesse período, a maré da guerra havia mudado. 

A intensificação das operações aliadas, combinada com avanços táticos e tecnológicos, como o uso de sonares mais avançados e a decodificação das comunicações alemãs pelo projeto Ultra, reduziu significativamente a ameaça dos U-Boots. Em 1943, por exemplo, as perdas de submarinos alemães superaram a produção, com mais de 240 U-Boots destruídos, segundo registros históricos. Diante desse cenário, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) decidiu cancelar a construção dos 60 navios restantes do contrato original, considerando que a capacidade antissubmarino existente era suficiente para garantir a segurança das rotas marítimas. A decisão refletiu a avaliação estratégica de que os recursos poderiam ser redirecionados para outras prioridades do esforço de guerra, como a construção de porta-aviões e navios de desembarque para as campanhas no Pacífico. Naturalmente seu batismo de fogo se daria com os PC-471 da Marinha Real Britânica (Royal Navy), com os primeiros embates contra submarinos alemães sendo registrados em julho de 1941, no entanto ao longo da Segunda Guerra Mundial seriam empregados em todos os fronts de batalha naval, atuando destacadamente no Pacífico, Atlântico, Caribe e Mediterrâneo. Seu escopo operacional envolvia desde missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e escoltas finais de comboio, estas, no entanto na realidade não representavam missões empolgantes ou gloriosas, objetivas e de curta duração, como aconteciam rotineiramente com os aviões aeronavais de guerra antissubmarino (ASW), os quais recebiam informes precisos para ataque aos navios inimigos que apresentavam riscos aos comboios. Assim a vida dos tripulantes de um “Submarine Chaser”, pelo contrário, era monótona e cansativa, prolongando-se por dias seguidos, patrulhando aéreas próximas as rotas de comboios, sem muitas a ocorrência de embates diretos com os submarinos alemães e italianos. A vitória da missão estava, justamente, em nada de anormal acontecer aos comboios por eles apoiados, com os navios mercantes chegando, com as suas valiosas cargas, ilesos aos seus destinos. As tripulações dos navios da classe PC-461 eram compostas geralmente por gente jovem, pois os tripulantes mais velhos não poderiam resistir à dura rotina e vida de bordo.  Podemos dizer, sem receio de errar, que os homens que tripulavam esses navios, se não eram, tornaram-se verdadeiros marinheiros, como exemplo citamos sua operação de condução, onde os seus dois eixos acoplados hidraulicamente aos motores principais davam ao navio, ao fim de 30 segundos, inicialmente a velocidade de 7 nós, indo depois até 18 nós. Assim o  fato de se levar algum tempo para o acoplamento e arrancar já nos 7 nós, quando se dava a partida no forte motor diesel, perturbava os manobristas de renome, dificultando as atracações e outras manobras. Apesar destas características era um ótimo navio no mar, apesar de baixo, e os seus dois lemes faziam o navio girar muito rapidamente, condição necessária à caça do insidioso inimigo, o submarino alemão. Os caça submarinos da classe PC-461 eram navios excelentes: dificilmente os engenheiros navais poderiam conceber um barco tão completo e, ao mesmo tempo, tão compacto. 
Durante o conflito, a classe PC-461 demonstrou notável flexibilidade. Vinte e quatro unidades foram convertidas em canhoneiras de patrulha motorizadas (Patrol Gunboat, Motor – PGM), equipadas para missões de apoio a operações costeiras. Outras 35 foram transformadas em embarcações de controle anfíbio (Patrol Craft, Control – PCC), desempenhando funções de coordenação durante operações de desembarque. Além disso, 18 navios foram convertidos em varredoras de minas da classe Adroit (AM), mas seu desempenho nessa função foi considerado insatisfatório, levando à reconversão para a configuração original de Submarine Chaser. Essas adaptações refletem a capacidade da Marinha dos Estados Unidos (US Navy)  de ajustar rapidamente suas estratégias às demandas do teatro de guerra. Os registros oficiais da US Navy creditam à classe PC-461 o afundamento do submarino alemão U-166 em julho de 1942, no Golfo do México, uma vitória significativa na Batalha do Atlântico. No entanto, o site da Patrol Craft Sailors Association sugere que navios dessa classe podem ter contribuído para o afundamento ou neutralização de até seis submarinos alemães e japoneses, embora tais números careçam de confirmação unânime em registros históricos. Um momento emblemático do emprego da classe PC-461 ocorreu durante a Operação Overlord, o desembarque aliado na Normandia em 6 de junho de 1944 (Dia D). Diversos navios da classe foram utilizados em missões de apoio, incluindo escolta de comboios e patrulhamento costeiro. Entre eles, o USS PC-1264 destacou-se por sua singularidade histórica: foi uma das duas únicas embarcações da US Navy durante a Segunda Guerra Mundial a operar com uma tripulação majoritariamente afro-americana, um marco significativo em um período de segregação racial nas forças armadas dos Estados Unidos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, muitos navios da classe PC-461 foram retirados do serviço ativo ou colocados em esquadrões de reserva. No entanto, um número considerável foi transferido para nações aliadas sob o Mutual Defense Assistance Program (MDAP), instituído em 1949 para fortalecer a capacidade militar de países alinhados com os Estados Unidos durante a Guerra Fria. Essas transferências ampliaram o alcance global da classe PC-461, que passou a servir em marinhas de diversas regiões do mundo. Marinha da República da Coreia (ROK): Um dos principais beneficiários do MDAP, a Coreia do Sul recebeu várias embarcações da classe PC-461. O USS PC-823, renomeado ROKS Baekdusan (PC-701), teve um papel crucial na Batalha do Estreito da Coreia, um confronto naval ocorrido em 25 de junho de 1950, no primeiro dia da Guerra da Coreia (1950–1953). Durante essa batalha, o ROKS Baekdusan afundou um navio norte-coreano, contribuindo para a defesa inicial do território sul-coreano. Marinha Portuguesa: Em 1949, seis navios foram transferidos para Portugal sob o MDAP, recebendo as seguintes designações: USS PC-812 (NRP Maio), USS PC-811 (NRP Madeira), USS PC-1257 (NRP Santiago), USS PC-809 (NRP Sal), USS PC-1256 (NRP São Tomé) e USS PC-1259 (NRP São Vicente). Esses navios foram empregados em missões de patrulhamento e segurança costeira. Marinha da Indonésia: Entre 1958 e 1960, cinco embarcações foram cedidas à Indonésia no âmbito do Mutual Assistance Program: USS PC-1141 (KRI Tjakalang), USS PC-1183 (KRI Tenggiri), USS PC-581 (KRI Torani), USS PC-580 (KRI Hiu) e USS PC-787 (KRI Alu-Alu). Essas embarcações fortaleceram a capacidade naval indonésia durante um período de tensões regionais. Outras Marinhas: Diversos outros países receberam navios da classe PC-461 no pós-guerra, incluindo França, Camboja, Brasil, Uruguai, Noruega, Grécia, Holanda, China, Bolívia, Israel, Cuba, Nigéria, Vietnã do Sul e Filipinas. Essas transferências refletem o papel estratégico dos Submarine Chasers na consolidação de alianças militares durante os primeiros anos da Guerra Fria.

Emprego na Marinha do Brasil.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão. Essa ameaça tornou-se ainda mais palpável após a capitulação da França em junho de 1940, quando a Alemanha Nazista passou a controlar territórios estratégicos, como as Ilhas Canárias e a cidade de Dacar, no Senegal, então uma colônia francesa. Esses locais poderiam servir como bases operacionais para incursões militares no continente americano, especialmente na América do Sul. Nesse contexto, o Brasil emergiu como um alvo potencial devido à sua proximidade geográfica com a África Ocidental, que figurava nos planos expansionistas alemães delineados no início da década de 1940. Além da ameaça estratégica, o Brasil destacou-se como um fornecedor crucial de matérias-primas para os Aliados. Após as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, que interromperam o acesso aliado às plantações de borracha na Malásia e nas Índias Orientais Holandesas, o Brasil tornou-se o principal exportador de látex, matéria-prima essencial para a produção de borracha. Em 1942, o Brasil respondia por cerca de 90% do fornecimento de borracha natural para os Estados Unidos, um insumo vital para a fabricação de pneus, vedações e outros componentes da indústria bélica. A posição geográfica do litoral brasileiro, particularmente a região Nordeste, revelou-se de imenso valor estratégico. A cidade de Recife, no Pernambuco, situada a aproximadamente 2.000 quilômetros de Dacar, era o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Essa localização tornava Recife um ponto ideal para a construção de bases aéreas e portos militares, que poderiam servir como uma ponte logística para o transporte de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. A Base Aérea de Parnamirim, em Natal, conhecida como “Trampolim da Vitória”, tornou-se um dos principais centros de operações aéreas dos Aliados no Atlântico Sul, com mais de 15.000 voos realizados entre 1942 e 1945 para apoiar as campanhas aliadas. A possibilidade de uma ofensiva do Eixo no Brasil, somada à importância econômica e logística do país, intensificou a necessidade de cooperação militar com os Estados Unidos. A ameaça dos submarinos alemães (U-Boote), que entre 1941 e 1943 afundaram mais de 30 navios mercantes brasileiros, prejudicava diretamente o comércio exterior do Brasil com os Estados Unidos, especialmente o transporte de matérias-primas como látex, minério de ferro e manganês. Esses ataques, que resultaram na perda de cerca de 1.000 vidas brasileiras, reforçaram a urgência de medidas defensivas. Diante desse cenário, o governo brasileiro, sob a liderança de Getúlio Vargas, aprofundou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos. Um marco dessa parceria foi a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgado pelos EUA em março de 1941. Esse programa destinava-se a fornecer assistência militar a nações aliadas, e o Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a se beneficiar. Em 1942, o Brasil recebeu uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em 2025, ajustado pela inflação) para a aquisição de equipamentos militares, incluindo armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate.

Esses recursos foram fundamentais para modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, até então, operavam com equipamentos obsoletos. A Marinha do Brasil, por exemplo, adquiriu navios de patrulha e corvetas, enquanto a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu aeronaves como o caça Curtiss P-36 Hawk e o bombardeiro leve Douglas A-20 Havoc. Além disso, o Exército Brasileiro foi equipado com tanques leves M-3 Stuart, que fortaleceram sua capacidade de defesa costeira. Esses investimentos permitiram ao Brasil proteger suas águas territoriais contra a ameaça dos U-Boots e garantir a segurança das rotas marítimas que conectavam o país aos mercados aliados. No contexto da campanha de guerra antissubmarino (ASW), esta representava um dos maiores desafios para as forças aliadas, especialmente no Atlântico Sul, onde submarinos alemães (U-Boots) e italianos ameaçavam as rotas marítimas vitais para o transporte de matérias-primas, como o látex brasileiro, essencial para a indústria bélica dos Estados Unidos. Inicialmente, as operações aeronavais antissubmarino no Brasil eram conduzidas por grupos de combate da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). A partir do final de 1942, com a entrega de aeronaves especializadas por meio do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), a Força Aérea Brasileira (FAB) assumiu uma parcela significativa dessas missões, utilizando aviões como o Consolidated PBY Catalina, que realizaram mais de 1.500 patrulhas no Atlântico Sul entre 1942 e 1945. Contudo, para consolidar a defesa costeira, era imprescindível fortalecer o braço naval da Marinha do Brasil, que, até então, carecia de embarcações adequadas para o combate antissubmarino. No início do envolvimento brasileiro no conflito, após a declaração de guerra ao Eixo em agosto de 1942, a Marinha do Brasil contava com uma frota limitada para operações antissubmarino. Seus únicos navios dedicados a essa função eram seis navios mineiros da classe Carioca, construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras, entre 1938 e 1940. Reclassificados como corvetas após a entrada do Brasil na guerra, essas embarcações possuíam sensores e radares rudimentares para detecção de submarinos, mas seu armamento – um canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas – era inadequado para enfrentar os modernos submarinos alemães e italianos, como o U-507, responsável pelo afundamento de cinco navios brasileiros em agosto de 1942, que precipitou a entrada do Brasil no conflito. A insuficiência dessas embarcações evidenciava a necessidade urgente de modernizar a frota brasileira, especialmente para proteger o litoral nordestino, um ponto estratégico devido à proximidade com a África e à presença de bases aliadas, como a Base Naval de Natal. A solução veio por meio da cooperação militar com os Estados Unidos, consolidada pelo Lend-Lease Act. No âmbito do Lend-Lease Act, os Estados Unidos transferiram para a Marinha do Brasil oito Submarine Chasers da classe PC-461, que receberam a denominação de classe Guaporé. Essas embarcações, projetadas para operações antissubmarino, eram equipadas com radar de vigilância de superfície (tipo SF ou SL), sonar de casco e um armamento robusto, incluindo um canhão naval de 3 polegadas (76,2 mm), um canhão Bofors de 40 mm, metralhadoras Oerlikon de 20 mm e lançadores de cargas de profundidade. Seu baixo custo de produção – cerca de US$ 1,7 milhão por unidade (equivalente a aproximadamente US$ 35 milhões em 2025, ajustado pela inflação) – e sua capacidade de operar com uma tripulação de 65 homens tornavam-nas ideais para as necessidades brasileiras.
Entre os navios transferidos, destacaram-se o G-1 Guaporé (ex-USS PC-544) e o G-2 Gurupi (ex-USS PC-547), ambos construídos pelo estaleiro Defoe Boat and Motor Works em Bay City, Michigan. O USS PC-544 foi lançado ao mar em 30 de abril de 1942 e incorporado à US Navy em 5 de junho do mesmo ano. Após a entrada do Brasil na guerra, essas embarcações foram transferidas em uma cerimônia oficial realizada na Base Naval de Natal, no Rio Grande do Norte, em 24 de setembro de 1942. Em 5 de outubro de 1942, pelo Aviso nº 1661, os navios passaram a integrar a Força Naval do Nordeste (FNNE), criada para substituir a Divisão de Cruzadores e coordenar as operações navais no Atlântico Sul. O G-1 Guaporé realizou sua primeira missão operacional em 23 de julho de 1943, quando detectou um contato submarino positivo por sonar na posição geográfica de latitude 00º28' S e longitude 45º54' W, lançando cargas de profundidade em uma tentativa de neutralizar a ameaça. Embora não haja confirmação oficial do afundamento de um submarino nessa ação, o episódio demonstra a relevância da classe Guaporé na proteção das águas territoriais brasileiras. O G-1 Guaporé serviu à Marinha do Brasil por mais de 15 anos, navegando 113.869 milhas náuticas e acumulando 427 dias de mar. Sua baixa do serviço ativo foi formalizada pelo Aviso Ministerial nº 0025, de 4 de janeiro de 1958, sendo transferido ao Exército Brasileiro em 5 de fevereiro de 1958 para utilização como transporte de munições. O G-2 Gurupi após o termino do conflito seguiria participando de  exercícios de guerra e tática anti-submarina, operando em conjunto com navios da armada e aeronaves da Força Aérea Brasileira. Em 1955 com a nova padronização dos indicativos de casco da Marinha do Brasil, teve seu indicativo alterado para CS 2. Em abril de 1959 daria baixa do serviço ativo e foi para desmanche. Já o  Guaíba (ex-USS PC-604) foi construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company, localizado em Stamford, Connecticut. Lançado ao mar em 24 de outubro de 1942, o navio foi incorporado à Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 9 de março de 1943. Em 11 de junho do mesmo ano , o navio foi transferido para a Marinha do Brasil em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida, onde passou a integrar a classe Guaporé com a designação G-3 Guaíba. O comando foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Aluísio Galvão Antunes, um oficial experiente que liderou a embarcação em suas missões no Atlântico Sul.  A exemplo dos dois primeiros navios desta classe, participaria de inúmeras missões de escolta mista (norte-americana/brasileira) a comboios nos trajetos principalmente nos de Recife / Salvador, Salvador / Recife, Recife / Trinadad, Trinadad / Recife,  sendo também regularmente empregado em outras rotas de comboio costeiro no país. No ano de 1952 seria  retirado do serviço ativo e vendido como sucata para desmanche. 

O quarto navio da classe PC-461 o caça submarino, o Gurupá (G-4), ex-USS PC-605, foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio Gurupá, localizado no estado do Pará. Construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company em Stamford, Connecticut, o navio foi lançado ao mar em 19 de novembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 28 de maio de 1943. Neste mesmo ano o, o navio foi transferido para a Marinha do Brasil em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida, sob o comando do Capitão-de-Corveta Hélio Ramos de Azevedo Leite. Integrado à Força Naval do Nordeste (FNNE), criada em outubro de 1942, o Gurupá foi amplamente empregado na campanha do Atlântico Sul, participando da escolta de numerosos comboios em rotas estratégicas longo do litoral nordeste do Brasil. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o Gurupá permaneceu em serviço, realizando operações de patrulhamento e treinamento até ser retirado do serviço ativo em 1952. Sua desativação marcou o fim de uma década de contribuições para a segurança marítima brasileira, em um período em que a Marinha do Brasil buscava consolidar sua modernização. O quinto navio da classe o  Guajará (G-5), ex-USS PC-607, foi o terceiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem à Baía do Guajará, localizada no estado do Pará, formada pelo braço sul do Rio Amazonas e pelos rios Capim e Guama. Também construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company em Stamford, Connecticut, o navio foi lançado em 11 de fevereiro de 1943 e incorporado à US Navy em 27 de agosto de 1943. Como os demais navios da classe PC-461, o Guajará estava equipado com tecnologias avançadas para a época, incluindo radar, sonar e um armamento versátil, ideal para operações antissubmarino. Transferido para a Marinha do Brasil em 19 de outubro de 1943, em cerimônia realizada em Miami, Flórida, o Guajará passou ao comando do Capitão-de-Corveta Dário Camillo Monteiro. Integrado à Força Naval do Nordeste, o navio participou de missões de escolta e patrulhamento costeiro, protegendo comboios marítimos contra a ameaça dos submarinos alemães, que entre 1942 e 1943 afundaram mais de 30 navios mercantes brasileiros, resultando na perda de cerca de 1.000 vidas. A presença do Guajará nas rotas do Atlântico Sul foi essencial para garantir a continuidade do comércio exterior brasileiro, especialmente o transporte de matérias-primas estratégicas para os Estados Unidos. O Guajará permaneceu em operação até meados de 1959, quando foi retirado do serviço ativo. Sua longa carreira, que se estendeu por mais de 15 anos, reflete a durabilidade e a versatilidade das embarcações da classe PC-461, que continuaram a servir a Marinha do Brasil mesmo após o fim do conflito.
O sexto navio caça submarino desta classe o Goiana - G 6 (ex-USS PC 554), foi o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio e a cidade homônimas no Estado de Pernambuco. O Goiana seria construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York, sendo lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 15 de setembro de 1942. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em 29 de outubro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Geossens Marques.  Em 13 de dezembro de 1951, deu baixa do serviço ativo, sendo submetido a Mostra de Armamento em cumprimento ao Aviso n.º 2632 de 15/10/51 e vendido para desmonte. O sétimo navio da classe o caça submarino Grajaú - G 7 (ex-USS PC 1236), foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a um riacho homônimo do antigo Distrito Federal. O Grajaú foi construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York. Seria lançado em 31 de agosto de 1943 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) 15 de novembro, e transferido a Marinha do Brasil no mesmo dia, em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Antônio Augusto Cardoso de Gastão.  Em 11 de abril de 1959 , deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 0847. Por fim o Caça Submarino Graúna - G 8  (ex-USS PC 561), seria o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a essa ave negra de nossa fauna. O Graúna foi construído pelo estaleiro Jeffersonville Boat and Machine Company, em Jeffersonville, Indiana, seria lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 11 de julho do mesmo ano. Seria incorporado a Marinha do Brasil em 30 de novembro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Leite Soares Júnior. Esta embarcação operaria na  Marinha do Brasil até 15 de outubro, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632.  Além de suas missões de escolta, o Guajará destacou-se em uma operação humanitária de resgate, consolidando sua importância na história naval brasileira. Em 21 de julho de 1944, enquanto em serviço ativo, o Guajará (G-5), sob o comando do Capitão-de-Corveta Dário Camillo Monteiro, integrava o Grupo de Escolta do comboio JT-18, ao lado do Jutaí (CS-52), outro navio da Marinha do Brasil. Durante a missão, às 09h30, a aproximadamente 12 milhas náuticas a nordeste de Recife, Pernambuco, a Corveta Camaquã (C-6), uma embarcação da classe Carioca, afundou devido às severas condições climáticas. A Camaquã, originalmente um navio mineiro reclassificado como corveta, não possuía a robustez necessária para enfrentar tempestades intensas, o que resultou em seu naufrágio e na perda de 33 tripulantes, um dos episódios mais trágicos da Marinha do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. O Guajará, junto com o Jutaí, desempenhou um papel crucial no socorro aos náufragos da Camaquã. Operando em condições adversas, as tripulações desses navios mobilizaram esforços para resgatar os sobreviventes, demonstrando coragem e profissionalismo. A ação humanitária destacou a versatilidade do Guajará, que, além de suas funções primárias de combate antissubmarino, provou ser capaz de responder a emergências marítimas com eficácia.  Em 19 de abril de 1950 , retornou a custodia do Governo dos Estados Unidos, através do Departamento de Estado e acabou sendo transferido em definitivo para o Brasil. Em 15 de outubro de 1951, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632. 

Em Escala.
Para representarmos o Caça Submarinos da Classe PC-461 Gurupi G2 da Marinha do Brasil, quando a serviço da  Força Naval do Nordeste (FNNE),  fizemos uso de um kit em resina produzido pela empresa francesa L Arsenal na escala 1/350. Este modelo pode ser montado diretamente da caixa tendo em vista que este modelo é muito semelhante aos navios empregados no Brasil. Fizemos uso de decais confeccionados sob encomenda pela Decal Sings.
Apesar da maioria dos Caças Submarinos da Classe PC-461 da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) fazerem uso camuflagens táticas, os registros fotográficos de época apontam que os navios destinados a Marinha do Brasil, foram recebidos no padrão básico de pintura naval. Este esquema de pintura ao longo dos anos se manteria inalterado até o ano de 1959, havendo apenas a alteração na identificação visual dos mesmos. 


Bibliografia : 
- PC-461 Class Submarine Chaser Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/PC-461-class_submarine_chaser
- A Vida nos Caça-Ferro – Poder Naval https://www.naval.com.br/ngb/G/CS-na-IIGM.htm
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/

Cessna UC-78 e UC-78B Bobcat


História e Desenvolvimento. 
O início de uma grande trajetória que culminaria na criação da Cessna Aircraft Company, teve seu início no mês de junho do ano de 1911, quando Clyde Vernon Cessna, um fazendeiro e entusiasta aeronáutico, residente na cidade de Rago, no estado do Kansas, construiria artesanalmente sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a empreender um voo  sobre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Este sucesso logo o motivaria a montar uma estrutura destinada a produção de aeronaves, montando uma pequena oficina na de Enid, no estado de Oklahoma, com esta decisão sendo tomada pela existência de vastas salinas, tornando este local propicio para os futuros testes de voo. Todos os seus projetos apresentariam uma concepção básica biplano, fazendo uso de estruturas em madeira, com suas asas e fuselagem sendo recobertos por tecido. Visando ampliar seu empreendimento, no qual se vislumbrava grande potencial, Clyde Vernon Cessna, iniciaria uma prospecção junto aos bancos em sua região no intuito conseguir empréstimos, porém infelizmente não lograria êxito. Desta maneira procuraria alternativas, se mudando para a cidade de Wichita no Kansas, onde se aproximaria de Walter H. Beech e Lloyd Stearman, iniciando uma nova empresa no ano de 1924, que resultaria na criação da  Travel Air Manufacturing. Ele teria destacada participação na criação de aeronaves promissoras, como os biplanos Travel Air 2000, Travel Air 5000 e Travel Air 500. Discordâncias internas levariam Clyde V Cessna a deixar a companhia, porém seu espírito empreendedor logo afloraria novamente, e em 7 de setembro de 1927, fundaria em sociedade com Victor H. Roos, a Cessna-Roos Aircraft Company. No entanto esta composição se mostraria efêmera, com seu sócio se retirando da empresa em 22 de dezembro de 1927, e a empresa seria renomeada como Cessna Aircraft Corporation. Buscando se estabelecer no mercado de forma solida, sua direção iniciaria o desenvolvimento de um ousado projeto, que receberia a designação de Cessna DC-6, com seu primeiro protótipo alçando voo em 14 de maio de 1929. A nova aeronave receberia sua certificação de aeronavegabilidade no em 29 de outubro, mesmo dia da “quebra” da Bolsa de Valores, movimento este que deflagaria um dos piores períodos da economia norte-americana e mundial.  Neste contexto, a linha de aeronaves da família “CR” representaria a principal razão pela qual a empresa foi capaz de se manter durante a Grande Depressão, apesar de um declínio catastrófico nas vendas de aeronaves. Este caótico cenário levaria Clyde V. Cessna a deixar a direção da empresa, porém em junho de 1933 um fato inusitado iria mudar o destino da empresa, este seria caracterizado quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3 venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria, trazendo notoriedade a marca Cessna.   

Neste momento os sobrinhos de Clyde V. Cessna,  Dwane Wallace e Dwight Wallace, se antevendo a consolidação do sucesso comercial da marca, procederiam a aquisição da companhia, trazendo assim um novo ciclo transformaria o negócio da família.  Nos anos seguintes, a economia norte-americana passaria a apresentar sinais de melhora, com a empresa implementando uma ampla pesquisa de mercado no objetivo para se identificar potenciais nichos no mercado aeronáutico. Este processo logo nortearia a companhia a focar  no desenvolvimento de aeronaves de pequeno porte para transporte, com capacidades máximas de quatro a seis passageiros. Sua aplicação se daria tanto para o mercado civil quanto militar, e neste último sendo destinado a missões de transporte de carga leve e passageiros, ligação e treinamento básico multi motor. Com estas definições o projeto seria iniciado em fins do ano de 1937 e apresentava uma aeronave de porte pequeno, monoplano em cantilever, trem de pouso principal retrátil e equipado com dois motores radiais Jacobs L-4MB de 225 cv, e hélices de passo fixo de metal do modelo Curtiss Reed. Possuía ainda asas constituídas de madeira laminada com cavernas de madeira compensada, sendo dotado ainda de um inédito sistema de ignição projetado pela Delco Automotive Company, que já era presente no segmento automotivo e por fim os flapes que eram acionados eletricamente. Seu principal diferencial era o de apresentar uma relação de custo-benefício de aquisição e operação inferior ao seu principal concorrente o Beechcraft Model 18, que naquele momento detinha ampla liderança no mercado civil norte-americano.  O modelo receberia a designação de Cessna T-50, e seu primeiro protótipo alçaria voo em  26 marco de 1939, sendo logo submetido a um intensivo programa de ensaios em voo que visam sua homologação oficial para emprego no mercado civil.  Sua certificação  de aeronavegabiliTC 722, seria concedida em 24 de março de 1940, levando ao início de sua produção em série, que seria suportada por uma excelente campanha de marketing e vendas, que passaria a despertar a curiosidade de diversos operadores comerciais e particulares. 
Desta maneira estes esforços logo seriam recompensados, resultando nos primeiros contratos de produção, e posteriormente o  inicio das operações em empresas de transporte aéreo regional, não só comprovariam as expectativas positivas da aeronave, como também as superariam, passando a chamar a atenção de grandes empresas de transporte, principalmente devido a sua excelente relação de custo benefício, o que logo se traduziria em novos contratos de produção. Visando manter esta curva de vendas ascendente e se aproximar ainda mais da participação de mercado do  Beechcraft Model 18,  no início do ano de 1940, a empresa desenvolveria a primeira versão da aeronave apresentando uma estrutura metálica mesclada com poucos componentes em madeira e novas hélices Hamilton Standard 2B-20-213 acionadas hidraulicamente, de velocidade constante. No final deste mesmo ano, junto ao governo norte-americano ficava cada dia claro que a entrada do país no conflito europeu era apenas uma questão de tempo, e desta maneira suas forças armadas deveriam se preparar principalmente no que a formação de pessoal especializado, entre estes pilotos, navegadores e tripulantes de bombardeiros. A fim de se atender a esta demanda, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) demonstraria a necessidade de se dispor de uma grande frota de aeronaves para treinamento multi motores. Neste contexto as excepcionais qualidades em voo do Cessna T-50,  a qualificariam como potencial treinador militar para esta especialidade de formação. Duas aeronaves da versão padrão seriam cedidas pelo fabricante para o emprego em um programa de avaliação,  com este processo resultando em uma série de mudanças e melhorias no projeto original, que seriam prontamente atendidas. Entres as modificações aplicadas se destacavam a adoção de   janelas do teto do cockpit, motores Lycoming R-680-09 mais potentes de 290 cv (220 kW) e rádios militares. Um primeiro contrato seria celebrado envolvendo a aquisição de  trinta e três aeronaves, que receberiam a designação de AT-8 e deveriam ser entregues as unidades de treinamento a partir de dezembro de 1940, onde após seu processo de implantação seriam inclusos no programa de formação de pilotos.

Em operação os Cessna AT-8 apresentariam excelente desempenho, levando o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em fins de 1941 a contratar a produção de quatrocentos e cinquenta novas aeronaves. Este novo lote receberia a designação de Cessna AT-17A, que receberiam janelas adicionais do cockpit, hélices em metal e motores radiais Jacobs R-755-9 de 245 cv (183 kW), e seria destinado a suprir a crescente demanda na formação de pilotos para a força de bombardeio estratégico.  Em seguida mais duzentas e vinte e três aeronaves seriam incorporadas. Em 1942, a agora renomeada Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) adotaria o modelo como aeronave de transporte leve pessoal, assinando uma compra de mais quatrocentas e sessenta e cinco aeronaves, que voltariam a ser equipadas com hélices em madeira e peso total reduzido.  Novas versões de treinamento seriam desenvolvidas como o AT-17C que contava com um elaborado sistema de rádio (sessenta aeronaves entregues), e posteriormente os os modelos  AT-17D, AT-17E, AT-17F e AT-17G que apresentavam entre si pequenas diferenças e melhorias no projeto. Em 1943, as células destinadas as missões de transporte leve pessoal seriam redesignadas como  C-78, com a Cessna Aircraft Corporation recebendo um contrato para a produção de mais de mil e trezentas células, que seriam entregues até fins de 1944. Dezessete Cessna T-50 civis seriam incorporados a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), recebendo a designação de UC-78A. Em seguida seria celebrado um novo contrato do modelo UC-78B que passava a contar com hélices de passo variável, com este termo englobando mil e oitocentas e seis células. Em fins de 1944, cento e trinta e um AT-17 seriam convertidos para o padrão UC-78C, e sendo também produzidas cento e noventa e seis novas células. Ainda no final de 1942, sessenta e sete aeronaves do modelo UC-78, seriam transferidas para a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde receberiam a designação de CCI-1. Operando inicialmente nos Estados Unidos, os Cessna AT-17, UC-78 também seriam empregados pelas Forças Armadas Norte-Americanas em  todos os fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo o carinhoso apelido de "Bamboo Bomber".
Em setembro de 1940, a Força Aérea Real Canadense (RCAF -  Royal Canadian Air Force), se tornaria o primeiro cliente de exportação do Cessna T-50, adquirindo cento e oitenta aeronaves que receberiam a designação local de Crane Mk.I. Este modelo estava equipado com hélices de madeira de passo fixo Hartzell, defletores de cabeça de cilindro removíveis e aquecedores de óleo, com a primeira aeronave sendo entregue em 04 de novembro do mesmo ano. Em 1941 seria assinado um contrato para a produção sob licença de seiscentas e quarenta células, que deveriam entregues até fins de 1943, estas aeronaves seriam destinadas a tarefas de transporte leve e treinamento junto ao Plano de Treinamento Aéreo da Commonwealth Britânica. Em 1942 mais cento e oitenta células do modelo Cessna AT-17A seriam cedidas a Força Aérea Real Canadense (RCAF) em regime de comodato, recebendo a designação de Crane Mk.IA.  Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de aeronaves desta família seriam inclusos como item do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), passando a operar junto as forças armadas da França Livre, China Nacionalista e Brasil. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944 seriam produzidas cinco mil quatrocentas e vinte e duas células dispostas em vinte versões, após o conflito uma grande parte destas aeronaves seria desmobilizada. Um kit de conversão para o modelo civil T-50 seria desenvolvido com centenas de células sendo compradas por pequenas companhias aéreas, operadores de fretamento e pilotos privados. Em setembro de 1947 quando da formação da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), poucos Cessnas AT-17 e UC-78 ainda estavam em serviço, com o modelo sendo declarado como obsoleto em 1949, sendo desativado logo em seguida. Uma grande quantidade de aeronaves seria doada as nações alinhadas ao interesses geopolíticos norte-americanos, dentro do escopo de programa de ajuda militar, sendo cedidos ao  Peru, Costa Rica, Etiópia, Guatemala, Polônia, França, Haiti, Nicarágua e Iêmen. Muitas destas aeronaves militares e e civis se manteriam em operação normal até o início da década de 1970. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. 

A recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização neste momento, pois dispunha em sua frota um grande número aeronaves já obsoletas, carecendo principalmente de modelos de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade esta fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Além da carência apresentada no processo formação básica, a Aeronáutica não dispunha de programas específicos destinados ao emprego em missões especializadas em aeronaves multimotoras, contando para este fim com apenas algumas aeronaves do bimotor alemão  Focke-Wulf FW-58 Weihe. E mesmo o uso desta aeronave em treinamentos reduziria em muito a capacidade brasileira em realizar compor o imediato esforço de guerra nacional, direcionado principalmente as atividades relacionadas a busca e destruição de submarinos do Eixo, que até então representavam uma grave ameaça a navegação militar e civil nas costas do mar territorial brasileiro. Em atendimento a estas demandas o plano de intercambio operacional entre a Força Aérea Brasileira e a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), previa a estruturação dos meios materiais e doutrinários para a formação de pilotos, navegadores e bombardeadores, com a finalidade de prover os efetivos necessários para a realização das missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim o treinamento em aeronaves multimotores seria fundamental, para a capacitação de seus tripulantes, sendo entregues inicialmente em meados de 1942 seis treinadores do modelo  Beechcraft AT-7-BH. Neste contexto estavam previstos também o recebimento de trinta e nove bimotores Cessna UC-78, equipados com os motores Jacobs R-755-9 L-4 de 245 hp. O primeiro lote composto por dezenove células novas de fábricas, seriam entregues na base aérea de San Antonio Field no estado do Texas em dezembro de 1943, sendo transladados em voo para o Rio de Janeiro por cadetes da reserva e oficiais da Força Aérea Brasileira.  Até março do ano seguinte já eram trinta aeronaves recebidas e transladadas até o Brasil que se encontravam disponíveis, e de imediato vinte destas seriam transferidas a Escola de Aeronáutica (EAer) baseada no Campo dos Afonsos na cidade do  Rio de Janeiro.   Por sua vez, os Quartéis Generais das 2 º e 4 º Zonas Aéreas receberiam duas aeronaves UC-78 cada um, enquanto o Quartel General da 3º Zona Aérea receberia uma célula, as demais aeronaves seriam entregues a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA), sendo destinadas ao emprego em missões de ligação e transporte leve, operando também em apoio as missões do Correio Aéreo Nacional (CAN). 
No que tange aos Cessna UC-78 destinados a Escola de Aeronáutica (EAer), estes passariam a desenvolver as tarefas de treinamento avançado, apresentando aos cadetes do terceiro ano as particularidades do voo multimotor. Este programa envolveria tarefas dedicadas de voo noturno, voo em grupo, deslocamentos de curta, média e longa distância em um programa com uma carga aproximada de cento e trinta horas de voo.  Este aprendizado visava preparar a adaptação das equipagens ao perfil de voo que encontrariam nas aeronaves de primeira linha entre eles os Douglas A-20 Havoc, Norh American B-25 Mitchel, Douglas C-47 e Lockheed PV1 Ventura.   Já as aeronaves destinadas a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA) e aos quarteis generais anteriormente citados seriam utilizados prioritariamente em missões de transporte de pessoal, com emprego secundário em linhas curtas do  Correio Aéreo Nacional (CAN). No entanto esta organização inicial não perduraria por muito tempo, pois em fevereiro de 1945 a Força Aérea Brasileira viria a receber um segundo lote de células usadas do modelo UC-78B, que seriam concentrados também no Campo dos Afonsos para cumprirem missões de treinamento na Escola de Aeronáutica (EAer). As ressalvas sobre esta distribuição, ficariam por conta de um exemplar trazido isoladamente e destinado a Escola Técnica de Aviação (ETAv) e dois Cessna UC-78 distribuídos ao 1º Grupo de Transporte e colocados à disposição da comissão encarregada da implantação da Fábrica Nacional de Motores (FNM). Por fim transitoriamente, os últimos Cessna UC-78 permaneceriam em poder da Seção de Aviões de Comando, embora alguns tenham sido colocados a disposição da Diretoria de Aviação Civil (DAC). Neste período a Força Aérea Brasileira, se tornaria o terceiro maior operador militar das aeronaves da família Cessna T-50 - UC-78 Bobcat no contexto global, porém curiosamente em nosso país este modelo teriam uma passagem quando em serviço. Assim que encerrada a Segunda Guerra Mundial, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), determinaria que as células remanescentes ainda lotadas na Escola de Aeronáutica (EAer), passassem a ser gradativamente transferidas as bases aéreas do Galeão, Natal, Salvador, Porto Alegre, Santa Cruz, Santos e Florianópolis (destacamentos) Nestas novas localidades passariam a atuar como aeronaves orgânicas, desempenhando uma série de tarefas administrativas e de transporte, sendo ainda ocasionalmente empregadas em proveito de linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN).   
Porém logo os anos seguintes assistiriam a rápida erosão da frota, nem sempre como consequência de algum acidente aeronáutico, mas principalmente em função da  concepção  estrutural de seu projeto. Assim por mais robusta que fosse,  por mais robusto que fosse, o extenso uso de madeira em sua estrutura faria com que a aeronave estivesse particularmente vulnerável as condições ambientais diversas existentes em todo território nacional, principalmente em áreas de alta umidade. Esta exposição prolongada nestas condições levaria a condenação de diversas células para voo pelo parque apoiador, com esta decisão sendo tomada pela identificação de grande incidência de apodrecimento do madeirame das asas e da fuselagem.  Antes de serem descartadas estas aeronaves seriam canibalizadas para a retirada de de componentes mecânicos, elétricos e hidráulicos,  visando assim manter o máximo de disponibilidade de voo da frota residual em serviço. Neste contexto apesar da redução da frota estas aeronaves se manteriam em serviço normalmente, aumentando inclusive a frequência de inspeções estruturais.  Em outubro de 1956 dentro do programa de reorganização da Força Aérea Brasileira, o boletim ministerial de número 93/52 da Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) determinava que as células remanescentes fossem redesignadas como Cessna T-17.  Neste momento haviam somente dezoito aeronaves em condição de voo, que receberiam as  matriculas de FAB 1800 a FAB 1818, porém novamente ao ingressarem no calendário de  revisão em âmbito de parque, este numero seria novamente reduzido devido a problemas de ordem estrutural. No segundo semestre de 1957 restavam apenas onze células em condições de voo , numero reduzido este que passaria a inviabilizar sua operação funcional, levando a realização de estudos sobre o futuro do modelo na Aeronáutica.  Em 17 de novembro de 1957, seriam emitido o Boletim 17/57, que determinada que todas as aeronaves remanescentes deveriam deixar o serviço ativo imediatamente, e suas células e  estoques de peças de reposição deveriam ser transferidos ao Núcleo do Parque de Aeronáutica de Porto Alegre (NuPqAer). Em uma segunda etapa, as aeronaves em melhor estado de conservação seriam revisadas e colocadas em condições de voo para serem repassadas ao Departamento de Aviação Civil (DAC), para posterior distribuição a diversos aeroclubes.  Somente seria mantido em carga, o Cessna T-17 FAB 1805, que permaneceria em  uso pela Escolta Técnica de Aviação (ETAv) até 1960 para fins de instrução em solo. Infelizmente nenhuma aeronave seria preservada, no entanto em 1989, uma célula seria adquirida junto ao acervo do “Mid-Atlantic Air Museum” (Estados Unidos da América), sendo permutado por uma  aeronave North American N.A.159 (T-28A). Após restauração esta aeronave receberia a matricula de FAB 2022 e seria inclusa no acervo de exposição do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro.

Em Escala.
Para representarmos o Cessna UC-78 Bobcat " FAB 2720 ", empregamos o kit da Czech Model na escala 1/48 , modelo este que vem recheado com peças em resina para detalhamento e sets de photo-etched da Squadron , proporcionando um nível de detalhamento interno muito bom. Como não existe um set de decais específico para a versão brasileira, fizemos uso de peças oriundas de diversos sets da FCM Decals. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado nas aeronaves recebidas entre 1943 e 1944, sendo idêntica ao utilizado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) durante a Segunda Guerra Mundial. As últimas unidades em operação a partir de 1947 receberiam a pintura em metal natural, mantendo este novo padrão até sua desativação em fins do ano de 1957.




Bibliografia :

- Cessna T-50 Bobcat – Brid do Ar Clovis de Athayde Boher – Revista Força Aérea Nº 94
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr