Na Europa, durante a segunda metade da década de 1930, o processo de rearmamento conduzido pelo governo nacional-socialista encontrava-se em plena expansão. Além da produção acelerada de armamentos, o Alto Comando Alemão passou a dedicar atenção especial ao desenvolvimento de novas doutrinas militares, concebidas para integrar avanço tecnológico, rapidez operacional e atuação conjunta entre forças terrestres e aéreas. Esse movimento resultaria na formulação do conceito de Guerra Relâmpago (Blitzkrieg), cujo êxito dependia de uma combinação de velocidade, mobilidade, poder de fogo, blindagem eficiente e coordenação tática superior. Os carros de combate alemães, concebidos nesse contexto, foram projetados para superar amplamente os modelos existentes no cenário internacional. Tal desenvolvimento ocorreu apesar das severas limitações impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (1919), que restringia a produção de armamentos e o tamanho de suas forças militares. Ainda assim, por meio de programas secretos e iniciativas de cooperação com outros países, o regime nazista avançou rapidamente na modernização de sua força blindada. Do outro lado do Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos acompanhava atentamente esses avanços. Os relatórios enviados ao Departamento de Guerra e ao comando do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) alertavam para a crescente superioridade dos novos carros de combate alemães, que superariam com facilidade os modelos norte-americanos então em serviço. Tal constatação evidenciava a urgência de modernizar a frota de blindados, composta majoritariamente pelos já obsoletos M-1 e M-2, incapazes de enfrentar, em condições de equilíbrio, as forças blindadas da Alemanha ou do Japão, que igualmente desenvolvia modernos veículos de combate. Diante desse cenário, em abril de 1939 foi iniciado um amplo programa de estudos voltado ao desenvolvimento de novos carros de combate, capazes de atender às demandas impostas por um conflito de escala global que já se mostrava iminente. O objetivo central consistia em projetar veículos modernos, robustos e aptos a operar em cenários de combate manobrados, respondendo aos desafios impostos pelos avanços tecnológicos europeus e asiáticos. Como desdobramento dessa iniciativa, em julho de 1940 o Exército dos Estados Unidos lançou o programa de desenvolvimento do carro de combate leve M-3 Light Tank. A condução do projeto ficou a cargo das equipes do Corpo de Material Bélico do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediadas em Fort Lee, Virgínia, que imediatamente iniciaram os trabalhos conceituais. Os parâmetros iniciais estabelecidos previam a adoção do novo canhão M-22 de 37 mm, considerado adequado para o enfrentamento dos blindados adversários da época, além de uma blindagem projetada para resistir ao impacto de munições anticarro de calibre equivalente ao de sua arma principal.
O acréscimo de peso decorrente da blindagem definida no projeto exigiu a adoção de um sistema de suspensão substancialmente distinto daquele empregado no M-2 Light Tank. Para garantir melhor distribuição da massa total do veículo, optou-se por incorporar uma polia tensora traseira de maior diâmetro, ampliando a área de contato das lagartas com o solo e melhorando a estabilidade em terrenos irregulares. Paralelamente, o desenvolvimento de uma nova torre tornou-se necessário para acomodar o canhão M-22 de 37 mm. Essa torre, inicialmente construída com chapas soldadas e rebitadas em formato octogonal, possuía capacidade de giro de 360°. Em versões posteriores, foi substituída por um modelo mais robusto, confeccionado a partir de uma única peça laminada moldada, oferecendo maior resistência estrutural. O veículo foi projetado para operar com uma tripulação reduzida de quatro homens — motorista, comandante, municiador e auxiliar — refletindo a tendência da época de simplificar a operação de carros de combate leves. Nos primeiros lotes produzidos, acumulava-se ao comandante a função de artilheiro, dada a limitação do conjunto periscópico e da ergonomia interna. Entretanto, nas variantes mais recentes, com a introdução de novos dispositivos ópticos, a posição do comandante foi realocada para o lado direito da torre, passando ele a desempenhar também a função de municiador. Os testes de campo, embora satisfatórios sob determinados aspectos, suscitaram críticas entre especialistas do Exército norte-americano. Alguns analistas apontavam que a blindagem relativamente delgada proporcionava proteção limitada contra munições anticarro modernas, enquanto outros questionavam a eficácia do canhão de 37 mm diante das blindagens cada vez mais espessas dos carros de combate alemães de última geração. Apesar dessas ressalvas, a conjuntura internacional e a necessidade urgente de reequipar tanto o Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) quanto seus aliados pressionaram pela imediata produção em larga escala do novo modelo. Nesse contexto estratégico, o Reino Unido foi priorizado no recebimento das primeiras unidades, destinadas ao teatro de operações do Norte da África. Ali, o carro de combate recebeu seu batismo de fogo, desempenhando papel relevante no reforço provisório das debilitadas forças blindadas britânicas. Embora suas limitações fossem evidentes, o M-3 Light Tank contribuiu significativamente para manter a resistência aliada até que a capacidade industrial norte-americana pudesse prover substitutos mais avançados. Os primeiros combates envolvendo unidades norte-americanas ocorreram em 8 de dezembro de 1941, durante os confrontos que se seguiram à invasão japonesa das Filipinas, onde o desempenho do veículo foi condicionado pelas dificuldades logísticas e pela superioridade material das forças japonesas naquele teatro de operações.

A partir de 1943, as limitações inerentes ao projeto — sobretudo no que se refere à blindagem e ao poder de fogo tornaram evidente a necessidade de sua substituição nas linhas de frente. Esse processo foi iniciado em 1944, com a introdução do M-24 Chaffee, um carro de combate leve mais moderno, dotado de canhão de 75 mm e projetado para atender às exigências de um campo de batalha cada vez mais mecanizado e letal. Apesar do término da Segunda Guerra Mundial em 1945, a trajetória operacional dos carros de combate leves M-3 e M-5 Stuart não se encerrou naquele momento. Após sua retirada gradual do serviço ativo no Exército dos Estados Unidos (U.S. Army), essas viaturas passaram a ser classificadas como “excedente militar”, integrando os amplos programas de assistência e ajuda externa promovidos pelo governo norte-americano no contexto da Guerra Fria. Como parte dessa iniciativa estratégica, milhares de unidades foram cedidas a mais de trinta países aliados ou cuja cooperação os Estados Unidos buscavam consolidar. Nessa nova fase de utilização, os Stuart voltariam a participar de conflitos reais, desempenhando papel relevante em diversos teatros de operações. Entre esses conflitos destacam-se a Guerra Civil Chinesa (1946 - 1949), Guerra da Indochina (1946 - 1954), nas primeiras fases das Guerras Indo-Paquistanesas e por fim durante a Guerra de Independência de Angola (Guerra de Ultramar). Embora tecnologicamente ultrapassados já ao final da década de 1950, os M-3 e M-5 Stuart conservaram características altamente valorizadas, como simplicidade mecânica, robustez estrutural, facilidade de operação e baixo custo de manutenção. Esses atributos permitiram que diversos países desenvolvessem programas de modernização e revitalização, prolongando a vida útil desses veículos por décadas. Entre esses esforços, destacaram-se especialmente os projetos implementados pelas Forças de Defesa de Israel (Israel Defense Forces – IDF), que se tornariam referência internacional e exerceriam influência direta sobre estudos posteriores realizados no Brasil. No final da década de 1960, o Exército Brasileiro possuía uma expressiva frota de carros de combate leves M-3 e M-3A1 Stuart, totalizando mais de quatrocentos exemplares. Contudo, a maior parte desses veículos já se encontrava fora de serviço. A principal dificuldade residia na obtenção de peças de reposição — particularmente para os motores a gasolina Continental AOS-895A3 e Guiberson T-1020A cujo custo elevado e escassez inviabilizavam a manutenção regular da frota. Embora muitos desses blindados permanecessem estocados como reserva estratégica, o cenário caminhava para sua desativação definitiva e posterior alienação como sucata.
Nesse contexto, em 1969, o 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (1º BCCL), sediado na cidade do Rio de Janeiro, recebeu a visita de uma delegação israelense. O objetivo dos representantes da IDF era adquirir plataformas blindadas antigas para posterior conversão em veículos utilitários sobre lagartas, conforme práticas já consolidadas em Israel. Essa iniciativa despertou o interesse do comandante da unidade, Coronel Oscar de Abreu Paiva, que percebeu o potencial dos M-3 e M-3A1 brasileiros para funções especializadas. Os militares israelenses reforçaram essa percepção ao expor os resultados positivos dos programas de adaptação e modernização conduzidos em sua própria força terrestre, abrindo caminho para reflexões mais profundas e estudos subsequentes. Neste momento o Exército Brasileiro apontava a necessidade de uma renovação de sua frota de carros de combate e veículos em geral, com o atendimento desta demanda ser cerceada principalmente falta de recursos. Desta maneira neste momento surgiriam as primeiras iniciativas visando estudos para a implementação de programas de modernização da frota de M-3 e M-3A1 Stuart. Os primeiros resultados práticos seriam obtidos pelo Parque Regional de Motomecanizacão de Santa Maria (PqRMnt/3) no Rio Grande do Sul. Esta organização estava profundamente comprometida nos esforços do “Plano Impere” , programa este que visava recuperar diversos veículos de combate e transporte pertencentes ao III Exército. Os primeiros exemplos do emprego da plataforma destes carros de combate leves resultariam na criação de um trator de artilharia ou rebocador e no primeiro protótipo da Viatura de Combate Antiaérea. Apesar desta tímida iniciativa, um grande impulso neste sentido seria motivado pelos resultados positivos obtidos pelo Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo (PqRMM/2) no processo de remotorização de carros blindados como os Ford M-8 Greyhound e meia lagarta White M-2/M-3/M-5. Desta maneira logo em seguida o Ministério do Exército criaria o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB). O principal objetivo desta organização era o de desenvolver uma nova família de blindados leves tendo por base a plataforma e componentes vitais dos antigos M-3 e M-3A1 Stuart. Um dos pontos de partida deste processo se baseava na substituição do motor original a gasolina por um novo conjunto de produção nacional a diesel, elencando como opção de análises modelos de motores produzidos nacionalmente pela MWM Motores S/A , Deutz do Brasil S/A e Scania Vabis do Brasil S/A. A instalação destes novos motores demandaria alterações na estrutura do veículo, que tiveram de ser alongados com chapas de aço SAE 5150 fornecido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Com esta mudança seria necessário efetuar a troca da suspensão original do M-3 Stuart em virtude da diferença de altura do solo proporcionada. Como solução seria empregado o sistema utilizado originalmente no trator de artilharia M-4 de 18 toneladas, que era maior e mais larga.

Seriam então completados três protótipos, que seriam exaustivamente testados em ensaios comparativos, com o modelo com o motor Deutz apresentando a melhor performance, no entanto logo esta empresa encerraria suas operações no Brasil, com a escolha recaindo sobre o motor produzido pela Scania Vabis do Brasil S/A que apresentava uma potência nominal de 250 cv. Ao ser definido seu grupo propulsor a diesel, as atenções se voltariam ao desing do modelo, neste quesito suas principais deficiências estavam baseadas em suas linhas retas e planos verticais da carcaça que impunham fragilidade a sua blindagem original. Também pesavam negativamente sua elevada pressão sobre o solo em função de suas lagartas estreitas e principalmente seu baixo poder de fogo da munição do canhão de 37mm. Assim realizaram-se estudos envolvendo uma total reformulação da carcaça do veículo, abrangendo muito além da simples substituição do motor, como previsto inicialmente. Os resultados destes trabalhos indicavam a necessidade de uma reformulação total, com um novo desenho da carcaça com aproveitamento das partes traseira e frontal, suportando principalmente a instalação do novo motor a diesel, com modificações especiais de cárter e turbina. Como dito, incluindo a adaptação de um novo sistema de suspensão que permitisse o uso de lagartas mais largas adequadas a equalizar sobre o terreno o peso superior do veículo. Como maior destaque se encontrava o desenvolvimento de uma nova torre que pudesse abrigar um canhão de calibre 90 mm. Estes trabalhos tiveram início em 28 de junho de 1973, com autorização do DPET (Diretoria Pesquisa de Ensino Técnico) e apoio da Diretoria de Motomecanização, que positivamente estava comprometida com o novo projeto. O primeiro protótipo funcional seria completado em dois meses nas instalações da Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda, com este processo sendo diretamente supervisionado pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo. Este veículo seria submetido a um intenso programa de testes de campo na cidade de Peruíbe no litoral de São Paulo, operando em percursos em estradas de terra e asfalto, continuamente dia e noite, parando apenas para substituição de motorista e abastecimento. Inicialmente este protótipo estaria equipado com uma torre produzida pela Engesa S/A, com está sendo substituída posteriormente por uma nova projetada pela Bernardini S/A, que receberia a designação inicial de B-90, em seguida, B-90 A1 (nos de série). Neste conjunto seria adaptado o canhão francês DEFA D-921A 90 F1 90 mm (3,54 pol), que poderia ainda fazer uso de munição HEAT, HESH e APFSDS. Esta torre era construída totalmente em aço especial com uma polegada de espessura, resistente a tiros de metralhadoras calibre .50 a pelo menos 200 metros de distância.
Emprego no Exército Brasileiro.
Os trabalhos de avaliação, testes e aperfeiçoamentos do projeto avançaram conforme o cronograma originalmente estabelecido. O primeiro protótipo foi apresentado ao público durante o desfile de 7 de setembro de 1973, em Brasília, no Distrito Federal, ocasião em que teve a honra de abrir a participação das forças motorizadas. Nesta demonstração, o veículo foi comandado pelo então Diretor de Motomecanização do Exército Brasileiro, simbolizando a importância estratégica atribuída ao programa no contexto da modernização da força terrestre. Após os ajustes finais e a validação dos resultados obtidos nos testes iniciais, a versão definitiva do projeto foi oficialmente aprovada, o que possibilitou a celebração dos contratos de produção com as empresas Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda. e Bernardini S/A Indústria e Comércio. O acordo inicial previa a fabricação de cinquenta e três viaturas, com possibilidade de ampliação para até cento e treze unidades, de acordo com aditivo contratual. O modelo recebeu a designação de Viatura Blindada de Combate – Carro de Combate MB-1, marcando o início do mais ambicioso programa brasileiro de conversão e modernização de carros de combate até então. Seu processo de produção seria dividido fases, com a primeira envolvendo o recebimento dos M-3 e M-3A1 Stuart pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, que seria responsável pode proceder a desmontagem do veículo. A seguir as carcaças seriam entregues a empresa Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda, nesta etapa seriam recuperadas a caixa de mudança e o sistema de transmissão original. Paralelamente seriam iniciados os trabalhos de transformação da carcaça, envolvendo principalmente o aumento no comprimento para a instalação do motor a diesel Scania DS-11 e caixa de transmissão. Nesta fase seria feito também o processo de rebaixamento da silhueta, e por fim seriam instalados acessórios, toda a parte elétrica e as lagartas produzidas pela Novatração. O veículo saia rodando e seguiria para as instalações da Bernardini S/A, onde seria realizada instalação da a torre e o canhão. Em um espaço reservado nestas instalações, os técnicos do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) procediam a instalação do armamento secundário e do equipamento de comunicações. Por fim seriam conduzidos testes em estrada na ordem de 200 a 300 km e testes de armas secundárias e principal, devendo ser disparados seis tiros com o canhão de baixa pressão de 90 mm.. No entanto o cronograma original previsto pela Diretoria de Motomecanização enfrentaria uma série de atrasos, entre a assinatura do contrato em dezembro de 1973 e a entrega dos primeiros veículos pré-série seriam transcorridos mais de vinte e sete meses, com estes sendo disponibilizados entre os meses de março e abril de 1976.
Os atrasos verificados no cronograma de produção decorreram de um conjunto de fatores inter-relacionados. Entre eles, destacam-se a proibição inicial de importação de componentes críticos, que dificultou o abastecimento industrial; deficiências nos processos de engenharia de projeto, ainda em fase de amadurecimento no setor nacional de blindados; e problemas administrativos e financeiros envolvendo a Bernardini S/A, que resultaram em interrupções no fluxo de peças e na alocação de recursos. Soma-se a isso o desvio de atenção e capacidade produtiva para o desenvolvimento das variantes subsequentes do programa, notadamente os modelos X-1A1 e X-1A2, o que contribuiu de maneira significativa para dilatar os prazos originalmente estipulados. Durante esse período, foram concluídos dezessete carros classificados como pré-série, os quais foram incorporados ao 4º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB). Em serviço, essas viaturas apresentaram uma variedade de problemas técnicos e operacionais de menor complexidade, circunstâncias que exigiram seu retorno ao fabricante para as correções necessárias, todas posteriormente solucionadas. A segunda série de produção, composta por dezesseis veículos, teve quatorze unidades entregues em abril de 1979 ao 6º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB). As duas viaturas remanescentes foram destinadas à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e à Escola de Material Bélico, para fins de instrução. Embora não haja documentação detalhada essa fase, registros oficiais indicam que estes foram os últimos carros produzidos na versão inicial, cuja designação oficial foi alterada para CCL-MB-1 Pioneiro X1. O programa representou a primeira incursão significativa da indústria brasileira no desenvolvimento de blindados sobre lagartas. Diferentemente do êxito alcançado anteriormente com veículos sobre rodas, o projeto enfrentou limitações técnicas e estruturais que geraram críticas — muitas delas severas — tanto no âmbito militar quanto industrial. Ainda assim, o esforço proporcionou um importante acúmulo de conhecimento, servindo como referência para iniciativas posteriores e contribuindo para a formação de uma base técnico-industrial de defesa mais sólida. No ambiente operacional dos Regimentos de Cavalaria Blindada, os CCL-MB-1 Pioneiro X1 foram empregados de maneira intensa. Inicialmente, mantiveram índices aceitáveis de disponibilidade, amparados por um conjunto mecânico robusto e de manutenção relativamente simples. Os problemas mais frequentes estavam associados a falhas técnicas de baixa complexidade e rápida solução. Entretanto, o ciclo operacional das viaturas foi gradualmente reduzido, sobretudo em função da insuficiência de manutenção preventiva, o que levou ao desgaste prematuro de componentes essenciais. Essa situação foi agravada pela ausência de manuais técnicos adequados, documentos que deveriam ter sido elaborados e fornecidos pelo fabricante juntamente com os veículos, dificultando o estabelecimento de procedimentos padronizados de manutenção no âmbito militar.
Nos anos subsequentes, começaram a ser registradas falhas de maior gravidade nos CCL-MB-1 Pioneiro X1, posteriormente classificadas como problemas crônicos. Entre as ocorrências mais recorrentes, destacavam-se a ruptura da embreagem, considerada deficiente por empregar apenas um disco; a quebra frequente das molas volutas, herdadas dos tratores M-4 e de modelos nacionais semelhantes; e o trincamento do garfo da polia tensora, provocado pelo peso elevado da própria roda tensora, que submetia esse componente a esforços excessivos durante deslocamentos em alta velocidade sobre terrenos acidentados. Apesar dessas limitações, avançaram paralelamente os estudos para o desenvolvimento de uma família de veículos especializados, todos baseados na plataforma do Pioneiro X1. Nesse esforço, foram concebidos e produzidos: XLP-10, veículo lançador de pontes (quatro protótipos); XLF-40, veículo lançador de foguetes (um protótipo); XCS, veículo porta-morteiro (um protótipo). Também foram estudadas, ainda que apenas em nível conceitual, as versões de carro de engenharia do tipo buldôzer e carro destruidor de minas, que não avançaram para fases de prototipagem. Em julho de 1978, um relatório da 4ª Subchefia do Estado-Maior do Exército recomendou a interrupção da produção do X-1 Pioneiro, sugerindo que os remanescentes M-3 e M-3A1 Stuart fossem convertidos para o então novo modelo X-1A, então em testes, bem como para suas variantes especiais — porta-morteiro, antiaérea, lança-ponte e lança-foguete. A degradação da frota tornou-se evidente ao longo da década de 1980. Em fevereiro de 1983, oito veículos encontravam-se fora de operação; ao final do mesmo ano, apenas dois dos trinta e quatro CCL-MB-1 originalmente destinados ao 4º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) permaneciam operacionais. O cenário começou a ser parcialmente revertido em junho de 1984, com o retorno ao sistema de lubrificação a óleo, o que permitiu o reparo e a reintegração de vinte e três viaturas ao serviço. Inicialmente, estava prevista a produção, pela Bernardini S/A, de cinquenta e oito novos conjuntos de marchas destinados a corrigir essas falhas estruturais. No entanto, os custos elevados inviabilizaram essa solução. Além dos braços oscilantes, que continuaram a apresentar rachaduras, o próprio casco dos veículos passou a trincar na região de montagem dos bogies, fenômeno decorrente do suporte inadequado das suspensões ao peso adicional adquirido pelas modificações implementadas. A partir de 1988, os CCL-MB-1 Pioneiro X1 passaram a ser gradualmente substituídos pelos Bernardini M-41C Caxias, marcando o início de sua retirada definitiva. O último exemplar foi oficialmente desativado em julho de 1994, encerrando um ciclo que, apesar de marcado por dificuldades técnicas, representou uma etapa importante no desenvolvimento da indústria brasileira de blindados e no processo de modernização da força terrestre. A partir das lições obtidas com o desenvolvimento e a operação do X-1 Pioneiro, o novo X-1A1 incorporou modificações estruturais e mecânicas significativas, refletindo o amadurecimento do esforço nacional de engenharia de blindados. Entre as alterações mais relevantes, destacou-se a adoção de um sistema de suspensão redesenhado, composto por três bogies, em substituição aos dois utilizados no X-1 original, além da incorporação de uma polia tensora independente. Essa configuração proporcionou uma pressão sobre o solo de 0,53 kg/cm², aumentando sensivelmente a capacidade de adaptação ao terreno, facilitando a transposição de fossos e oferecendo maior durabilidade e resistência — parâmetros superiores, inclusive, aos de sistemas equivalentes empregados no exterior. A carcaça também passou por alterações importantes, sendo alongada em 20 centímetros, o que possibilitou a redistribuição interna dos componentes, o reposicionamento da saída de emergência e, sobretudo, o aumento do espaço destinado ao anel da torre. Com isso, tornou-se possível integrar uma nova torre com rolamento ampliado para 1,60 metro, dotada de giro hidráulico. Suas dimensões superiores garantiam maior conforto à tripulação e ampliavam a capacidade interna de armazenamento de munição. A torre permitiu ainda a instalação de um segundo rádio, com respectiva antena, e de uma escotilha giratória para o chefe de carro, preparada para o emprego de uma metralhadora antiaérea. O modelo incorporou também melhorias no posto de condução, dentre as quais o acionamento hidráulico das alavancas de controle das lagartas, reduzindo consideravelmente o esforço físico exigido do motorista e conferindo maior precisão operacional. Completado o protótipo, o veículo foi entregue ao Exército Brasileiro, sendo submetido a um amplo programa de testes e avaliações entre 1977 e 1978. O desempenho do X-1A1 forneceu subsídios para um projeto mais ambicioso, o X-15, que buscava desenvolver um carro de combate de maior porte. Contudo, restrições orçamentárias acabaram por inviabilizar essa iniciativa, redirecionando o foco para a plataforma já existente. Nesse novo contexto, visava-se criar um veículo intermediário e de menor custo, destinado principalmente a atividades de adestramento, preservando assim a vida útil da frota de carros de combate médios M-41 Walker Bulldog. Foi nesse processo que surgiu o X-1A2, batizado de “Carcará”, amplamente considerado o primeiro carro de combate sobre lagartas integralmente concebido no Brasil. Sua carcaça foi totalmente redesenhada, suprimindo o espaço destinado ao auxiliar do motorista, o que permitiu a aplicação de um conjunto de blindagem frontal com desempenho balístico muito superior ao dos modelos predecessores, além de conferir ao veículo um perfil externo mais moderno. Entre as inovações mecânicas, destacou-se a substituição da caixa de transmissão original por uma Allison CD-500 Cross-Drive, com três marchas à frente (em versões alta e baixa) e uma à ré. O veículo passou a ser impulsionado por um motor Saab-Scania diesel de 300 cv, adequado ao peso ampliado, agora em torno de 19 toneladas, garantindo autonomia operacional aproximada de 580 quilômetros. No campo da proteção, o X-1A2 recebeu um sistema de controle e detecção de incêndios desenvolvido pela D.F. Vasconcelos S/A, que representava um avanço expressivo em termos de segurança e sobrevivência em combate, aproximando o veículo dos padrões internacionais da época.

O modelo manteve a torre empregada em seu antecessor, mas passou a contar com um sistema de giro hidráulico, o que representou um avanço significativo em termos de precisão e conforto operacional. O veículo continuou equipado com o canhão EC-90 de 90 mm, o mesmo utilizado nos veículos de reconhecimento EE-9 Cascavel. Essa padronização de armamento reforçava o esforço do Exército Brasileiro em racionalizar a logística e simplificar a cadeia de suprimentos. Em paralelo, o X-1A2 passou a incorporar um índice mais elevado de nacionalização de componentes, aspecto que correspondia diretamente aos interesses estratégicos do Exército naquele período. O objetivo institucional era reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros especialmente em um contexto de instabilidade política global e restrições econômicas internas e consolidar uma capacidade industrial autônoma na produção e manutenção de veículos blindados. Submetido a extensos testes de campo, o X-1A2 foi homologado para emprego operacional pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB). A partir dessa aprovação, celebrou-se contrato com a Bernardini S/A para a produção inicial de vinte e quatro unidades, divididas em dois lotes. O primeiro, composto por dez carros, foi entregue ao 6º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) em meados de 1981, onde substituiu os últimos carros M-4 Sherman ainda em uso na Força Terrestre.Entretanto, a operação em ambiente real revelou falhas recorrentes no X-1A2. Entre elas, destacou-se um vazamento crônico no selo mecânico do conversor de torque, além de elevado índice de quebras no sistema de manches de direção. Embora tais problemas fossem tecnicamente corrigíveis, o panorama orçamentário e estratégico do Exército à época determinou que quase todos os recursos disponíveis fossem direcionados ao ambicioso programa de modernização dos carros de combate médios M-41 Walker Bulldog, posteriormente convertidos no modelo M-41C Caxias.O segundo lote, entregue em 1984, teve destino curioso: as viaturas foram armazenadas no próprio 6º RCB e nunca chegaram a ser ativadas operacionalmente. O modelo permaneceria em serviço até 1994, quando foi definitivamente substituído pelos M-41C. Do ponto de vista histórico, o desenvolvimento das famílias X-1 e X-1A2 pode ser objeto de debate, sobretudo considerando que o veículo sobre rodas Engesa EE-9 Cascavel apresentava, sob vários aspectos, capacidades similares e em certos pontos superiores às viaturas derivadas do M-3 Stuart. Contudo, essa comparação não reflete o propósito estratégico que orientava o programa. Em termos operacionais, a série X-1 desempenhou um papel transitório, porém essencial: prolongou a vida útil da frota de M-3 Stuart e manteve a capacidade de instrução e prontidão das unidades blindadas até que os programas de modernização do M-41 fossem efetivamente implementados.
Em Escala.
Para representarmos o Bernardini CCL-MB-1 Pioneiro X1 “EB11-232” utilizamos como ponto de partida kit da Academy na escala 1/35, desenvolvendo em scracth todo o chassi, canhão e torre. Fizemos uso de fotos de referência e desenhos, buscando a maior proximidade possível com o veículo real. Empregamos decais confeccionados Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados em todos os carros de combate leve (CCL) X-1 , X-1A1 e X-1A2 operados pelo Exército Brasileiro até 1983, sendo que após este ano alguns carros de combate receberam o padrão de camuflagem tático em dois tons adotado pelos Engesa EE-9 Cascavel e Bernardini M-41C Caxias, mantendo este esquema até a sua desativação em julho do ano de 1994.
Bibliografia :
- O Stuart no Brasil – Helio Higuchi, Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M3 Stuart Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Stuart
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos
- CCL X1 Pioneiro - CCL X1 Pioneiro - Tank Encyclopedia (tanks-encyclopedia.com)





