Studebaker US6 G-630 (VTNE)


História e Desenvolvimento.
Fundada em 1852 na cidade de South Bend, Indiana, a Studebaker Brothers Manufacturing Company figura entre as mais antigas montadoras norte-americanas, marcando sua história com uma notável capacidade de adaptação e inovação. Inicialmente dedicada à produção de carroças, carruagens e, posteriormente, implementos ferroviários e vagões, a empresa encontrou terreno fértil para seu crescimento durante a expansão da malha ferroviária nos Estados Unidos no século XIX. Esse período de desenvolvimento consolidou sua reputação como uma referência em manufatura de qualidade. Em 1895, a pedido do genro de John M. Studebaker, a empresa deu um passo visionário ao iniciar estudos para o desenvolvimento de uma “carruagem sem cavalos”. Após análises, a Studebaker optou por focar em veículos elétricos, lançando a linha Studebaker Electric, produzida entre 1902 e 1911. Essa escolha refletia a ousadia da empresa em explorar tecnologias emergentes, embora os desafios técnicos da época limitassem o alcance dessa iniciativa. Paralelamente, a Studebaker firmou parcerias estratégicas com as empresas Garford, de Elyria, Ohio, e Everitt-Metzger-Flanders (E-M-F), de Detroit e Walkerville, Ontário, para a fabricação e distribuição de veículos movidos a gasolina. Em 1904, em colaboração com a Garford, a empresa passou a produzir automóveis a gasolina, marcando a transição para a Studebaker Automobile Company. Os anos seguintes foram desafiadores, com crises técnicas que demandaram esforços significativos para aprimorar os modelos e atender às expectativas do exigente mercado norte-americano. Contudo, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) representou um divisor de águas para a companhia. Durante o conflito, a Studebaker recebeu encomendas expressivas das forças armadas britânicas, incluindo 3.000 vagões de transporte, 20.000 conjuntos de arnês de artilharia, 60.000 selas de artilharia, ambulâncias e centenas de automóveis adquiridos por meio de seu escritório em Londres. Contratos com forças francesas e russas complementaram essas receitas, impulsionando a transformação da Studebaker em uma das líderes mundiais no setor automotivo. Em 1918, suas instalações industriais alcançaram a impressionante capacidade de produzir até 100.000 automóveis por ano, um feito notável para a época. Buscando diversificar sua gama de produtos, a empresa ingressou no segmento de caminhões em 1919, conquistando rapidamente uma posição sólida nesse mercado. A qualidade e a confiabilidade de seus veículos comerciais geraram maior lucratividade, consolidando a Studebaker como uma força inovadora e resiliente no cenário industrial. Sua trajetória reflete não apenas o empreendedorismo de seus fundadores, mas também a capacidade de se adaptar às demandas de um mundo em constante transformação.

A quebra da bolsa de valores de Wall Street, em outubro de 1929, marcou um período de adversidade sem precedentes para a indústria norte-americana. Poucos empresários estavam preparados para enfrentar as consequências devastadoras da crise econômica que se seguiu. A Studebaker Automobile Company, apesar de seu crescimento em produção e vendas até então, não escapou dos impactos do colapso do mercado. Em resposta, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento do Rockne, um automóvel compacto e acessível, projetado para atender a um público afetado pela crise. Contudo, as condições econômicas eram tão severas que mesmo veículos de baixo custo enfrentaram dificuldades de comercialização. Diante desse cenário, a Studebaker foi forçada a rever sua estratégia. Medidas como redução de salários e cortes de empregos foram implementadas, enquanto conflitos internos na diretoria culminaram na demissão do presidente Albert R. Erskine. A liderança foi assumida por executivos com uma abordagem mais conservadora, focada na contenção de custos. Essa reorientação estratégica começou a render frutos em meados de 1933, quando a empresa alcançou os primeiros sinais de recuperação econômica. Esse progresso permitiu a reativação de suas plantas industriais e o lançamento de novos modelos de automóveis, como o Champion, o Land Cruiser e o Starlight, que rapidamente conquistaram o mercado, consolidando a retomada da Studebaker como uma força competitiva no setor automotivo. No final de 1937, o agravamento das tensões geopolíticas, impulsionadas pelos interesses expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, sinalizava a iminência de um novo conflito global. Antecipando-se a esse cenário, o governo dos Estados Unidos lançou um programa urgente de modernização e reequipamento de suas forças armadas, com foco no aumento da mobilidade das tropas terrestres. Um dos principais objetivos era substituir os antigos caminhões militarizados com tração 4x2 e 4x4, produzidos por empresas como a Ford Motor Company e a General Motors Corporation, que estavam em uso desde o início da década de 1920 e já não atendiam às demandas de um exército moderno. Para atender a essa necessidade, o Exército dos Estados Unidos abriu uma concorrência nacional com o objetivo de desenvolver e produzir em larga escala um caminhão tático com tração 6x6, capaz de transportar 2,5 toneladas (2.238 kg) em terrenos adversos. Esse veículo deveria operar com eficiência em ambientes fora de estrada, garantindo maior versatilidade e robustez às operações militares. A iniciativa marcou um momento crucial na preparação dos EUA para os desafios de um conflito iminente, e a Studebaker, com sua expertise em manufatura e experiência prévia com contratos militares durante a Primeira Guerra Mundial, posicionou-se como uma candidata promissora para contribuir com esse esforço de modernização.
Em junho de 1939, em meio ao crescente clima de tensão na Europa devido às anexações territoriais promovidas pelo regime nazista, montadoras norte-americanas como a International Harvester Company, a Studebaker Automobile Company e a Yellow Coach Corporation (subsidiária da General Motors) apresentaram ao Exército dos Estados Unidos seus projetos técnicos e propostas comerciais para o desenvolvimento de caminhões táticos. O iminente risco de um conflito global levou o governo norte-americano, em agosto do mesmo ano, a aprovar todas as propostas submetidas, com a ressalva de que os maiores contratos de aquisição fossem direcionados à Yellow Coach Corporation, para a produção da família GMC CCKW, e à Studebaker Automobile Company, para a fabricação da linha US6 6x6. Essa decisão refletiu a urgência de modernizar as forças armadas dos EUA, garantindo veículos robustos e versáteis para atender às demandas de um cenário de guerra iminente. O Studebaker US6 6x6 foi projetado com foco em robustez e confiabilidade, características essenciais para operações em terrenos adversos e ambientes de combate. Sua concepção priorizava a facilidade de manutenção em campo, permitindo reparos sem a necessidade de uma infraestrutura técnica complexa. O veículo era equipado com o motor a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, que desenvolvia 86 hp (64 kW) a 2.800 rpm e 271 Nm de torque a 1.150 rpm. Esse motor, de configuração conservadora e taxa de compressão de 5,82, destacava-se pela confiabilidade e pela padronização com outros veículos militares, como os blindados meia-lagarta White M-3, o veículo leve Ford M-8 Greyhound e o M-20 Command Car. Essa comunalidade facilitava a logística de peças de reposição, um fator crítico para a eficiência operacional das forças mecanizadas norte-americanas. O chassi do US6 6x6, estruturado em formato de escada com três eixos, contava com um sistema de suspensão robusto, composto por molas semi-elípticas na dianteira e um sistema elíptico em tandem na traseira. Disponível em duas distâncias entre eixos, o caminhão era oferecido em configurações versáteis, incluindo versões basculante, carga seca e semi-reboque. Além disso, o modelo era produzido em duas variantes principais: uma com tração integral 6x6, ideal para operações fora de estrada, e outra com tração 6x4, voltada para uso rodoviário. As carrocerias abrangiam uma ampla gama de funções, como transporte de cargas e tropas, cisterna de água, tanque de combustível, veículo de socorro e basculante, garantindo flexibilidade para atender às diversas necessidades do Exército dos EUA. A aprovação do Studebaker US6 6x6 e sua subsequente produção em larga escala representaram um marco na preparação militar dos Estados Unidos. A colaboração entre a Studebaker e outras montadoras demonstrou o compromisso da indústria norte-americana em fortalecer as forças armadas, fornecendo veículos que combinaram inovação, durabilidade e praticidade.

Em um esforço para otimizar a produção e reduzir custos, os engenheiros da Studebaker Automobile Company optaram por incorporar ao Studebaker US6 6x6 a cabine de seu modelo civil com tração 4x4, já comercializado pela montadora. Essa decisão estratégica agilizou a fabricação em larga escala, aproveitando componentes existentes e garantindo eficiência nas linhas de montagem. Seguindo o exemplo dos caminhões GMC CCKW, foi planejada uma variante com cabine aberta, equipada com um sistema rebatível de lona (soft top), ideal para operações em climas mais amenos. Contudo, essa configuração não foi amplamente produzida, uma vez que o governo norte-americano priorizou o atendimento aos contratos do programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), especialmente com a União Soviética. As rigorosas condições climáticas do inverno soviético tornavam a cabine aberta inadequada, levando à preferência pela cabine civil convencional, mais robusta e apropriada para proteger os operadores em ambientes extremos. Apesar disso, cerca de 10.000 unidades do US6 com cabine aberta foram produzidas para as forças armadas dos Estados Unidos, principalmente para o Exército, sendo destinadas a teatros de operações com climas moderados, como o Norte da África e partes do Pacífico. Essas viaturas demonstraram a versatilidade do projeto, adaptando-se às necessidades específicas de diferentes frentes de combate. Os primeiros caminhões Studebaker US6 destinados à União Soviética foram transportados por navio até o Irã, percorrendo a seguir uma árdua jornada terrestre pelo Corredor Persa, uma rota estratégica que conectava o Golfo Pérsico à fronteira soviética. As primeiras unidades chegaram no outono de 1941, marcando o início de uma contribuição significativa ao esforço de guerra aliado. O US6 tornou-se o principal veículo pesado do Exército Vermelho, que se consolidou como o maior operador mundial do modelo. Sua versatilidade foi comprovada em diversas funções, incluindo transporte de tropas e cargas, reboque de peças de artilharia e até como base para os lançadores de foguetes não guiados Katyusha, que desempenharam um papel icônico na resistência soviética. Conhecido afetuosamente como “Studer” pelas tropas soviéticas, o US6 conquistou respeito por sua robustez, confiabilidade e facilidade de manutenção em condições adversas. Sua importância foi tamanha que o líder soviético Joseph Stalin reconheceu publicamente o impacto do veículo, enviando uma carta de agradecimento ao governo dos Estados Unidos e à Studebaker Automobile Company. Nela, Stalin destacou a relevância do US6 Studebaker na Grande Guerra Patriótica, enfatizando como os caminhões contribuíram para a vitória contra a Alemanha Nazista.
Entre 1940 e 1945, a produção do caminhão Studebaker US6 6x6 alcançou a impressionante marca de 219.882 unidades, distribuídas em treze versões com chassis e carrocerias especializadas, projetadas para atender às diversas demandas do Exército dos Estados Unidos e seus aliados. Desse total, 197.678 caminhões foram fabricados nas linhas de produção da Studebaker Automobile Company, em South Bend, Indiana, enquanto 22.204 unidades foram produzidas sob licença pela R.E. Olds Motor Car Company, em sua planta industrial em Lansing, Michigan. As versões licenciadas eram praticamente idênticas às fabricadas pela Studebaker, com a principal diferença sendo a ausência do gancho hidráulico frontal de carga, uma característica distintiva dos modelos originais. Embora o US6 tenha sido menos utilizado pelo Exército dos Estados Unidos em comparação com o modelo GMC CCKW 352-353, sua contribuição deixou uma marca indelével em operações estratégicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os caminhões US6 desempenharam um papel crucial na construção da Estrada da Birmânia (1939-1941), uma façanha logística que conectou a China à Índia e à Birmânia (atual Mianmar). Essa rodovia foi essencial para o transporte de suprimentos dos Aliados à resistência chinesa contra a ocupação japonesa, garantindo o fluxo de recursos vitais em um dos teatros de guerra mais desafiadores. Além disso, o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Corps of Engineers) empregou o US6 na construção da Estrada Alcan, na América do Norte, transportando equipamentos, suprimentos e pessoal para essa obra monumental, que conectou os Estados Unidos ao Alasca, fortalecendo a defesa do continente. Com o fim do conflito, os caminhões US6 começaram a ser desmobilizados do Exército dos Estados Unidos, sendo armazenados em grande quantidade para futura redistribuição. Por meio de programas de ajuda e cooperação militar, milhares dessas viaturas foram cedidas a nações aliadas, conhecidas como “nações amigas”. Em muitos desses países, os US6 permaneceram em serviço até o final da década de 1960, quando começaram a ser gradualmente substituídos por modelos mais modernos, como os REO M-34 e REO M-35, que incorporavam avanços tecnológicos e maior adequação às novas demandas militares. A longevidade do Studebaker US6 reflete não apenas a robustez de seu projeto, mas também o impacto duradouro de sua contribuição no esforço de guerra aliado. Sua presença em operações logísticas cruciais, como as Estradas da Birmânia e Alcan, e sua subsequente distribuição a nações aliadas ilustram o papel vital que a Studebaker desempenhou na construção de pontes – tanto literais quanto figurativas – entre nações em um período de desafios globais. O legado desses caminhões permanece como um símbolo de resiliência, colaboração e inovação industrial.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Esta possibilidade se clarificaria quando a França capitulou em junho de 1940, pois a partir deste momento a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, proporcionando um trampolim para uma provável invasão do continente. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável para o lançamento desta campanha, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão.  Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul, tornariam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral brasileiro se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, pois mais notadamente a cidade de Recife se postava como ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Desta maneira poderia ser estabelecido nesta localidade uma ponte para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário resultaria logo sem seguida um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, gerando uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil que estava sendo potencializada pelo comercio exterior com o Estados Unidos, transportando diariamente matérias primas para a indústria de guerra daquele país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmaria que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e possivelmente figurava entre seus planos uma participação mais destacada junto aos aliados envolvendo o emprego de tropas em algum importante teatro de operações  do conflito.   

Na década de 1940, durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro enfrentava um cenário de significativa obsolescência em seus armamentos e equipamentos. Entre suas maiores carências estava a escassez de caminhões militares com tração integral 4x4 e 6x6, essenciais para operações em terrenos variados e para atender às demandas logísticas de um conflito moderno. Os poucos veículos disponíveis eram, em sua maioria, caminhões civis leves adaptados para uso militar, como os modelos Chevrolet Gigante (Flatbed Truck), Chevrolet Tigre, Dodge T-203 e Ford V8. Esses eram complementados por um número limitado de veículos genuinamente militares, como os alemães Henschel & Son 6x6 e os americanos Thornycroft Tartar 6x4, insuficientes para suprir as necessidades operacionais. Nesse contexto, a adesão do Brasil ao programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo) representou um marco transformador. O programa previa a cessão de aproximadamente 4.000 caminhões militares, dos quais a maioria possuía tração 4x4, projetando assim uma respeitável frota a fim de atender às exigências de mobilidade e versatilidade das Forças Armadas Brasileiras. Dentre os veículos de maior porte, com tração 6x6, foram fornecidos 1.445 caminhões da família GMC CCKW dispostos em uma ampla gama de versões básicas e especializadas, como: Cisterna de Água: Para abastecimento em áreas remotas, Tanque de Combustível: Para suporte logístico de combustível;  Oficina Móvel: Para manutenção de equipamentos em campo;  Veículo de Socorro: Para recuperação de veículos avariados. Compressor de Ar, Telêmetro, Holofote, Guindaste e Cavalo Mecânico: Em virtude da priorização das linhas de produção da Studebaker Automobile Company para atender às urgentes demandas do Exército Vermelho da União Soviética no front oriental do conflito, a entrega dos caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, destinados ao Brasil no âmbito do programa Lend-Lease Act, foi iniciada apenas no primeiro bimestre de 1943. Esses veículos, essenciais para a modernização do Exército Brasileiro, começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro em lotes sucessivos, com o processo de recebimento estendendo-se até meados de 1945. Registros históricos indicam que a Força Terrestres recebeu entre 808 e 830 unidades, embora haja divergências nos números oficiais da época, refletindo os desafios de documentação em um período de intensas operações globais. Já portando as marcações nacionais estes seriam inicialmente distribuídos as unidades militares dispostas no Rio de Janeiro e São Paulo, com a missão primordial formar motoristas e pessoal de manutenção para a frota. 
Após a conclusão do processo de entrega, iniciado em 1943 e finalizado em meados de 1945, os caminhões Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4 começaram a ser distribuídos às unidades do Exército Brasileiro, com ênfase nas formações de infantaria motorizada espalhadas pelo território nacional. Designados oficialmente como VTNE Carga Emprego Geral 2½ Ton 6x4 Cabine Fechada, esses veículos foram, de forma gradual, alocados preferencialmente a grupamentos operando em regiões distantes das principais capitais estaduais. Essa decisão estratégica foi motivada pela capacidade do US6 G-630 de operar em áreas com infraestrutura limitada, uma característica essencial para atender às necessidades logísticas do interior do Brasil na década de 1940. O desempenho excepcional desses caminhões era impulsionado pelo robusto motor Hercules a gasolina, de seis cilindros em linha, quatro tempos e 5.240 cc, que entregava 95 cv a 2.400 rpm. Esse motor se destacava por sua capacidade de operar com gasolina de baixa qualidade, comum nas regiões mais remotas do país à época, reduzindo significativamente a incidência de problemas mecânicos em comparação com outros modelos em uso pelo Exército Brasileiro. Assim como observado na União Soviética, onde o US6 Studebaker se tornou um pilar do Exército Vermelho Soviético, os caminhões brasileiros demonstraram notável adaptabilidade à precária malha viária do interior do país. Com desempenho confiável em terrenos irregulares, o US6 G-630 alcançava uma velocidade máxima de 70 km/h e uma autonomia de até 400 km sem reabastecimento, características que o tornavam ideal para operações em áreas desafiadoras. A chegada dos Studebaker US6 G-630, em conjunto com os caminhões da família GMC CCKW 352 e 353 com tração integral 6x6, marcou uma transformação significativa no Exército Brasileiro. Até então, as unidades de logística e infantaria motorizada dependiam de caminhões militarizados obsoletos de pequena capidade de transporte e principalmente  insuficientes em números, como os Chevrolet 6000, 6500, G-617, Diamond T-614 e Citroën 1930, todos com tração 4x4 e limitações operacionais. A introdução desses novos veículos trouxe uma capacidade de motomecanização sem precedentes, ampliando consideravelmente a mobilidade e a eficiência das operações militares. Essa modernização não apenas fortaleceu a prontidão do Exército Brasileiro para enfrentar possíveis ameaças, mas também consolidou sua capacidade de atuar em um vasto território com condições adversas. Esta incorporação de uma variada gama de caminhões de transporte possibilitaria a modernização das doutrinas operacionais nas unidades de apoio e logística, se adequando a nova realidade da guerra altamente móvel que se apresentava no conflito europeu. 

Seriam empregados em missões de transporte de cargas, transporte de tropas, reboque de peças de artilharia e tração de sistemas de busca e orientação antiaérea. Ao todo o Exército Brasileiro seria equipado com tres versões distintas desta família como o    Studebaker G-630 US-6U3  6×4 (VTNE Carga Emprego Geral 1 ½ Ton EB-21), Studebaker G-630 US-6U4  6×6 (VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 6x6 cabine fechada/aberta EB-21) e VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ ton 4x4 EB-21. Com o término da Segunda Guerra Mundial, os caminhões Studebaker US6 G-630 continuaram a desempenhar suas funções no Exército Brasileiro com notável eficiência, contribuindo para as operações de logística e transporte em unidades de infantaria motorizada, especialmente em regiões remotas do país. No entanto, a partir de meados da década de 1960, essa frota começou a enfrentar desafios crescentes, marcados por elevados índices de indisponibilidade operacional. A principal causa era a dificuldade em obter peças de reposição para os motores a gasolina Hercules JXD de seis cilindros em linha, descontinuados há mais de duas décadas. Essa escassez também afetava os blindados leves Ford M-8 Greyhound, que utilizavam o mesmo grupo motriz, criando um problema compartilhado que impactava a prontidão da Força Terrestre. Este mesmo problema também era observado junto a frota de viaturas blindadas de transporte de pessoal meia lagarta M-2, M-3 e M-5 e neste sentido seriam conduzidos estudos visando a remotorização destas viaturas pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). Este processo se mostraria exitoso levando a esta mesma organização a implementar este processo junto a frota de blindados sobre rodas  Ford M-8 Greyhound, substituindo o motor original a gasolina Hercules JXD. por um motor diesel nacional Mercedes-Benz OM 321, de seis cilindros em linha e 121 cv a 2.800 rpm. Essa iniciativa demonstrou a capacidade técnica do Exército Brasileiro de adaptar seus equipamentos às limitações impostas pelo tempo. Por empregar o mesmo motor utilizado nos Studebaker US6 G-630, chegou a cogitar a implementação deste programa junto a uma parcela desta frota. Contudo, o Comando do Exército optou por não replicar esse programa de modernização na frota remanescente dos Studebaker US6 G-630. A decisão foi fundamentada em dois fatores principais: a tração 6x4 desses caminhões (que compunham a maior parcela deste modelo), considerada menos versátil para operações em terrenos adversos em comparação com os modelos 6x6, e o número reduzido de unidades ainda em operação, especialmente quando comparado à frota significativamente maior de caminhões GMC CCKW 352 e 353, recebidos em quantidades muito superiores durante a década de 1940. 
Em vez de investir na modernização dos US6 G-630, o Exército Brasileiro direcionou seus recursos para um programa de retífica e revisão dos motores de pelo menos 600 caminhões GMC CCKW. Esse esforço de manutenção permitiu que essas viaturas permanecessem em serviço ativo até o início da década de 1980, assegurando a continuidade das operações logísticas com maior eficiência e economia. A escolha refletiu uma abordagem pragmática, priorizando a frota mais numerosa e versátil, capaz de atender às demandas estratégicas do Exército Brasileiro por um período mais prolongado. Diante da decisão de priorizar a manutenção da frota de caminhões GMC CCKW, o Comando do Exército Brasileiro estabeleceu, na década de 1960, um processo gradual de desativação da frota de Studebaker US6 G-630 2½-Ton 6x4, que já apresentava sérias limitações devido à escassez de peças de reposição e à obsolescência de seus motores Hercules JXD. Esse processo marcou a transição para uma nova geração de veículos militares, com a substituição dos US6 G-630 pelos modernos REO M-34 e REO M-35, recebidos entre 1958 e 1965, e por caminhões militarizados de produção nacional, como os Mercedes-Benz L-1111, L-1113, L-1114, Chevrolet C-60, D-60 e Ford F-600. Esses novos modelos, mais adaptados às exigências contemporâneas, trouxeram maior confiabilidade e eficiência às operações logísticas do Exército. Os últimos Studebaker US6 G-630 permaneceram em serviço ativo até o final da década de 1960, sendo utilizados principalmente pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no Rio de Janeiro. Sua presença na AMAN, uma instituição central na formação de oficiais do Exército Brasileiro, simbolizou a resiliência desses veículos, que, apesar dos desafios, continuaram a cumprir suas missões até o limite de sua vida útil. Com a desativação definitiva, centenas de caminhões foram leiloados, destinados ao sucateamento para aproveitamento de matéria-prima, encerrando assim uma trajetória de serviço que marcou a modernização militar brasileira. Felizmente, a história dos Studebaker US6 G-630 não se perdeu completamente. Graças à dedicação de entusiastas, colecionadores e preservacionistas, alguns exemplares sobreviveram até os dias atuais, mantidos como relíquias de um período de transformação e colaboração internacional.

Em Escala.
Para representarmos o Studebaker G-630 US-6 fizemos uso do antigo kit da ICM na escala 1/35, modelo este de detalhamento médio e fácil montagem.  Como opção alternativa sugerimos o uso do  novo kit da Italeri na mesma escala. Para se compor a versão utilizada pelo Exército Brasileiro não é necessário proceder nenhuma mudança. Fizemos  uso de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set  "Exército Brasileiro  1942/1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, com os quais estes caminhões foram recebidos a partir de 1943. Seriam posteriormente aplicados apenas o escudo nacional e registros de matricula de frota, com este esquema sendo  mantido durante toda sua carreira operacional no Brasil.

Bibliografia :
- Studebaker US6 – Wikipedia -  https://en.wikipedia.org/wiki/Studebaker_US6
- FEB na Segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa Monteiro - Decals e Books
- Blindados no Brasil - Volume I, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976

P-95 Embraer EMB-111 Bandeirulha

História e Desenvolvimento. 
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira comprometeu-se com um ambicioso programa de integração nacional. Neste contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi mobilizada, com o intuito de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país.  Contudo, ao longo dos anos, o uso intensivo dessas aeronaves resultou em desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esta situação foi ainda mais exacerbada pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, evidenciando a necessidade premente de substituir integralmente a frota existente. Neste cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica uma proposta para o desenvolvimento de uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Os esforços para a concretização deste projeto começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, com o lançamento do programa IPD-6504. Sob a supervisão do engenheiro francês Max Holst, que havia projetado diversas aeronaves, incluindo o MH-1521 Broussard, utilizado pela Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), uma equipe dedicada foi formada para atender a essa demanda. O projeto envolvia o desenvolvimento de uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 metros de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A partir do início de 1967, após a elaboração dos cálculos e desenhos necessários, iniciou-se a construção de um mock-up em escala 1:1, com o corte e a moldagem dos painéis realizados manualmente sobre o modelo. Paralelamente, foram selecionados motores turbo-hélice Pratt & Whitney PT6A-20 de 550 shp cada, que garantiriam à aeronave o alcance dos patamares de desempenho desejados. O programa de desenvolvimento e construção se estendeu por três anos e quatro meses, totalizando cento e dez mil horas de trabalho e envolvendo diretamente cerca de trezentos colaboradores. O primeiro protótipo, designado YC-95 Bandeirante (nome dado em  honra aos desbravadores do Brasil, no século XVI), foi concluído no início de outubro de 1968 e preparado para seu primeiro voo. Os motores do Bandeirante funcionaram pela primeira vez no dia 17 de outubro, incrivelmente seis dias antes do primeiro voo. Vários testes de solo foram realizados exaustivamente pelos projetistas e pilotos, para garantir a confiabilidade dos sistemas, um trem de pouso foi danificado durante um taxiamento, mas consertado antes do dia previsto. O grande  momento histórico ocorreu na manhã do dia 22 do referido mês, quando o YC-95 decolou para seu voo de testes. Durante este voo inaugural, foi detectada uma instabilidade direcional na aeronave, que foi prontamente corrigida pela equipe técnica do CTA. 

Após a realização de ajustes menores, em 27 de outubro de 1968, o YC-95 Bandeirante, registrado sob a matrícula FAB 2130, foi oficialmente apresentado em uma cerimônia no aeroporto de São José dos Campos, São Paulo. A cerimônia contou com a presença de autoridades, representantes da imprensa e um público estimado em 15 mil pessoas. Sob os atentos olhares dos presentes, a aeronave decolou de uma pista não pavimentada, pilotada pelo Major Mariotto Ferreira e pelo Engenheiro Michel Cury, celebrando assim os anos de dedicação investidos no programa da aeronave brasileira. Em 1969, devido a divergências de opinião sobre a condução do desenvolvimento do projeto, o engenheiro francês Max Holste deixou a equipe. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Assim, o projeto IPD-6504 e seus dois protótipos foram transferidos para a nova empresa, recebendo a designação oficial de EMB-100 Bandeirante. Subsequentemente, iniciaram-se trabalhos focados na melhoria do projeto e no desenvolvimento da engenharia de processo para a futura produção em série da aeronave. Como resultado desse trabalho, foi criado um terceiro protótipo, que recebeu a matrícula PP-ZCN e realizou seu voo inaugural em 29 de junho de 1970. Apesar de seu bom desempenho durante os testes de voo, constatou-se que as condições e os parâmetros operacionais para os quais o projeto havia sido originalmente concebido haviam se modificado. Em particular, a capacidade de transporte de até oito passageiros se tornara insuficiente, pois o mercado passou a preferir modelos com capacidade para até doze passageiros. Essa mudança trazia desafios significativos para o sucesso do EMB-100 nos segmentos comercial nacional e internacional, levando a empresa a um processo de reformulação do projeto. Assim, nasceu o Embraer EMB-110, uma nova versão com maior porte, que atendia à nova demanda por transporte civil e cuja variante militar (C-95) poderia também carregar uma carga útil maior, incorporando avanços técnicos significativos. A partir das novas definições  de projeto estabelecidas, em novembro teve início a produção do primeiro exemplar pré-série da versão militar, designado como C-95, recebendo a matrícula FAB 2133.
Este modelo apresentava uma fuselagem alongada em relação aos primeiros protótipos, com 14,23 metros de comprimento, e passava a incorporar janelas retangulares em vez das ovais originais. Possuía também  um novo estabilizador vertical, naceles de motores redesenhadas e motores turboélices mais potentes do modelo Pratt & Whitney PT6A-27, cada um com 680 hp. O primeiro voo do C-95 FAB 2133 ocorreu em 9 de agosto de 1972, sendo imediatamente destinado a um extenso e detalhado programa de testes e ensaios em voo conduzido pela Força Aérea Brasileira. Posteriormente, a aeronave recebeu homologação operacional oficial do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) e de demais órgãos governamentais responsáveis pelo transporte aéreo. Nesse contexto, foi formalizado um contrato entre a Embraer S/A e o Ministério da Aeronáutica (MAer) para a aquisição de oitenta células, com as primeiras aeronaves previstas para entrega à Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973. Contudo, até o final de 1976, foram produzidas e incorporadas apenas cinquenta e cinco células. Embora tenha sido concebido inicialmente para fins militares, o Embraer C-95 Bandeirante demonstrou também um notável potencial civil. Assim, que foi lançado o modelo EMB-110C, que apresentava capacidade para até dezesseis passageiros o que despertaria o interesse de operadores regionais. O primeiro contrato comercial foi celebrado com a empresa Transbrasil S/A, que recebeu seu primeiro exemplar em abril de 1973, ostentado a matrícula PT-TBA. Em seguida, Vasp S/A, uma empresa estadual paulista de capital misto, tornou-se o segundo operador comercial do modelo, com esta variante atingindo a  produção total de trinta e quatro células. Devido ao seu projeto bem dimensionado para o o atendimento de trechos regionais com considerável desempenho, o EMB-110 Bandeirante rapidamente iniciaria seus primeiros passos no mercado internacional, conquistando vários contratos nos Estados Unidos. Em 1975, foi concretizada a primeira exportação de uma versão militar para a Força Aérea do Uruguai (FAU). Apenas dois anos depois, a companhia aérea francesa Air Littoral se tornou o primeiro cliente internacional da versão civil. Definidos todos os ajustes no projeto, finalmente em novembro 1971 seria iniciada a produção em série, com o primeiro voo da aeronave Embraer EMB-110 Bandeirante “pré-serie” com a matrícula militar C-95 “FAB 2133”, ocorrendo em 9 de agosto de 1972. Esta nova aeronave teve sua fuselagem alongada para 14,23 metros, ampliando assim como planejado a capacidade de transporte de oito para doze passageiros, e passava ao contrário das células dos  YC-95 iniciais a apresentar novas janelas retangulares, estabilizador vertical, naceles dos motores redesenhadas e novos motores turboélices Pratt & Whitney PT6A-27 com 680 hp. Finalizado o processo de ensaios e voo a empresa passaria a se dedicar a produção referente a encomenda de oitenta unidades destinadas a Força Aérea Brasileira, atendendo ao contrato celebrado em maio do ano anterior com o Ministério da Aeronáutica. 

As primeiras unidades de produção em série começaram a ser entregues a Força Aérea Brasileira a partir de fevereiro de 1973.  Apesar da origem militar o Embraer EMB-110 Bandeirante também demonstrava vocação civil, e sua primeira versão de transporte regional para doze passageiros, designada pelo fabricante como Embraer EMB-110C passou a conquistar seus primeiros clientes civis, entre eles a empresa regional Transbrasil que veio a receber em 11 de abril de 1973 sua primeira aeronave matriculada PT-TBA. O emprego operacional desta versão inicial, motivou a Embraer S/A a estudar novas modificações no projeto, visando assim melhorar o a performance do modelo tanto no requisito de desempenho, quanto em capacidade de carga.  O fruto deste estudo se concretizaria em 1975 no desenvolvimento da versão Embraer EMB 110K1 Bandeirante, que tinha como principal alvo mercado de transporte militar, esta aeronave teve sua fuselagem alongada em 0,87 cm, permitindo assim a inclusão de uma porta traseira de carga e uma porta extra para a tripulação e passageiros. Nos anos subsequentes, o Embraer EMB-110 consolidou-se como referência no mercado regional norte-americano, conquistando uma ampla base de clientes composta por empresas renomadas de transporte regional. Buscando diversificar seu portifólio, seria desenvolvida a  versão EMB-110E, derivando diretamente do EMB-110C, destinada ao mercado  de transporte executivo, com seu interior podendo ser customizado para seis ou oito passageiros; apesar de representar um grande diferencial, apenas quatro aeronaves seriam produzidas e comercializadas. Já versão a nova  EMB-110J representou um desenvolvimento do EMB-110E, dos quais foram produzidos apenas doze exemplares. O emprego operacional desta versão inicial, motivaria a equipe de projetos da  Embraer S/A a estudar novas modificações no projeto, visando assim melhorar o a performance do modelo tanto no requisito de desempenho, quanto em capacidade de carga. O fruto deste estudo se concretizaria em 1975 no desenvolvimento da versão EMB 110K1 Bandeirante, que tinha como principal objetivo o mercado de transporte militar (atendendo primordialmente uma demanda da Força Aérea Brasileira), esta aeronave teria sua fuselagem alongada em 0,87 cm, permitindo assim a inclusão de uma porta traseira de carga e uma porta extra para a tripulação e passageiros. Passaria a contar com o novo modelo mais potente do motor Pratt & Whitney PT6A-34 com 750 shp e aprimoramentos na avionica, trens de pouso e sistemas elétricos e de combustível. Esta nova versão receberia a designação de C-95A Bandeirante. Duas versões civis derivaram do modelo militar, sendo o EMB-110P1 para até dezenove passageiros ou carga e o EMB-110P2 para transporte exclusivo de até vinte e um passageiros, que ao invés da porta de carga, dispunha uma porta de serviço. 
Em fins da década de 1970, surgiria a versão militar EMB 110P1(K) que passou a ser conhecida como C-95B Bandeirante, tratava-se de um modelo com uma série de melhorias e aprimoramentos sobre seu modelo antecessor, entre estes destaca-se a adoção de uma porta de serviço de 1,42 X 0,63m, embutida na porta de carga, que podia ser aberta em voo para o lançamento de cargas ou paraquedistas. Dispondo de uma capacidade de transporte de carga de até 1.700 kg o Embraer C-95B Bandeirante se tornaria o esteio das unidades de transporte da Força Aérea Brasileira (FAB) que operariam o modelo. Neste mesmo período os Lockheed P-15 Neptune alocados junto ao 1º/7º Grupo de Aviação - Esquadrão “Orugan”, chegavam no limiar de suas vidas úteis, gerando assim a necessidade de uma substituição urgente, como sucessor natural despontava no mercado a opção do Lockheed P-3 Orion, porém infelizmente os altos custo de aquisição e operação tornavam esta opção proibitiva para a Força Aérea Brasileira (fab). Como alternativa viável do ponto de vista econômico, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicitou a Embraer S/A o desenvolvimento de uma aeronave de patrulha baseada na já consagrada plataforma do EMB-110 Bandeirante, que já contava com quase cento e sessenta células entregues a Força Aérea Brasileira e a diversos operadores civis. A proposta da empresa foi apresentada ao Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1975, com a designação de Embraer EMB-111A(A) Bandeirante Patrulha, basicamente as modificações incluíam a instalação de um radar de busca Eaton AN/APS-128 Super Searcher, em um nariz alongado construído em fibra de vidro, contava com uma nova suíte de comunicações, sistemas de navegação inercial Litton LN-33, piloto automático Bendix M-4 e um sistema de contramedidas eletrônicas Thomson CF. As asas eram reforçadas para permitiram a instalação de tanques suplementares de 318 litros cada nas pontas (os mesmos empregados nos jatos Embraer AT-26 Xavante), este reforço estrutural podia conceder a opção de se operar com quatro cabides subalares para o lançamento de foguetes não guiados HVAR de 127 mm ou SBAT-17 e casulos de foguetes de SBAT 70 mm de fabricação nacional. A aeronave ainda dispunha ainda de equipamentos na fuselagem para o lançamento de marcadores navais, granadas fumigenas e botes salva vidas infláveis. A exemplo dos demais aviões de patrulha naval, o modelo seria dotado ainda com um farol de busca de cinquenta milhões de candelas do tipo HIVA (High Intensyty Aircraft Searchlight) instalado no bordo de ataque da asa direita.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início dos anos 1970, a Aviação de Patrulha brasileira estava calcada em dois vetores: o Lockheed P-15 Netuno e o Grumman P-16 Tracker. Os P-15 estavam ingressando no final de sua vida operacional e, em poucos anos, seriam desativados. Ciente disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) buscou um substituto, definido em 1975 quando a Embraer apresentou seus planos para uma versão de patrulha naval do Bandeirante. Com base no projeto apresentado pela Embraer S/A, seriam aprofundados os estudos sobre a viabilidade da aeronave de transporte customizada para missões de esclarecimento marítimo e patrulha. Contudo inicialmente os relatórios  apresentavam uma série de ressalvas técnicas fundamentadas no conceito que o Embraer EMB-111 Bandeirante Patrulha , seria um vetor bem menos capaz de realizar as missões  que seu antecessor norte-americano,  o Lockheed P-15 Netuno. Entre estes se destacavam parâmetros de desempenho como alcance, autonomia, perfil de missão e capacidade de transporte de armamentos. Porém de acordo com a dotação orçamentária naquele momento do Ministério da Aeronáutica (MAer), seria decidido conceder  ao fabricante sinal verde para a produção do protótipo. O roll out da primeira aeronave produzida, ocorreu em 30 de junho de 1977, com seu primeiro voo ocorrendo em 01 de agosto do mesmo ano, nas instalações da Embraer S/A na cidade São José dos Campos. Imediatamente o modelo seria submetido a um amplo programa de ensaios e voo e aceitação, realizados em conjunto por oficiais da Força Área Brasileira (FAB) e técnicos do fabricante.  Após a implementação de pequenas modificações o projeto do Embraer P-95 foi aprovado para a produção em série, culminado esta decisão com a assinatura de contrato  para a aquisição de 12 células iniciais com este modelo recebendo a designação comercial de EMB-111A(A) . Estas aeronaves seriam destinadas a executar missões de patrulha naval, esclarecimento marítimo e ataque leve.  O primeiro P-95, ainda matriculado como 2260, foi recebido pela FAB em setembro de 1977 para testes de aceitação. A entrada em serviço ocorreu em 10 de abril de 1978, em Salvador, quando o Esquadrão Orungan recebeu seus três primeiros P-95 matriculados FAB 7050/54/55. Entre a desativação do  Lockheed P-15 e a chegada do P-95 Bandeirante Patrulha, o 1º/7º GAV empregou dois C-95 (2187/89) como aeronave de conversão operacional para o P-95. Ainda no ano de 1978, o 1º/7º GAV foi equipado com mais cinco P-95. Até dezembro de 1979 todos os P-95 já haviam sido entregues pela Embraer. Com a linha de voo cheia, foi possível emprestar três P-95 (7050/51/54/45/59) ao 2º/10º GAV entre o final de agosto de 1980 e novembro de 1981. Essas aeronaves cumpriram missões SAR no período que compreende a desativação dos S-16 Albatross, ocorrida em agosto de 1980, e a implantação dos SC-95B, a partir de abril de 1981. Além deles, a Embraer também “pegou emprestado” dois P-95. A primeira célula  o FAB 7060, que, antes da entrega, em junho de 1979, foi rematriculado PP-ZDM, passando a ser o demonstrador do EMB-111 na Feira Internacional de Le Bourget de 1979. No ano seguinte, o FAB 7053, foi emprestado pela Força Aérea Brasileira (FAB) à Embraer para a Feira Internacional de Farnboroug, realizada em setembro de 1980.

Embora, como mencionado anteriormente, o P-95 Bandeirante Patrulha não alcançasse o mesmo perfil operacional dos consagrados Lockheed P-15 Neptune, sua incorporação representou um marco significativo na modernização da aviação de patrulha marítima no Brasil. Esse avanço foi impulsionado, em grande parte, pelas capacidades do radar de busca marítima compacto Eaton (anteriormente Cutler-Hammer) AN/APS-128 Super Searcher, um equipamento de alta performance com alcance de 160 quilômetros, operando na faixa X e com taxa de varredura ajustável entre 15 e 60 rotações por minuto. Esse sistema se destacou por sua versatilidade, sendo utilizado em missões de vigilância costeira, busca e salvamento, navegação e apoio à elaboração de cartas meteorológicas. Notavelmente, o radar era capaz de detectar alvos de 150 m² a uma distância de até 100 quilômetros, mesmo em condições de mar agitado. Diferentemente de outros radares da época, o AN/APS-128 utilizava um display tipo televisão de 8x8 polegadas para exibir imagens, integrando-se de forma eficiente com sistemas de navegação inercial, Omega e outros instrumentos. A aeronave contava ainda com um conjunto avançado de equipamentos de comunicação e navegação, incluindo um transceptor Collins 618T-3B em HF/AM/SSB/CW, dois transceptores VHF Collins 618M-3, duas bússolas giromagnéticas Sperry C-14, dois receptores de ADF Bendix DFA-74A, dois receptores VOR/ILS/Marker Beacon Collins VIR-31A, um transponder de IFF Collins AN/APX-92, um VHF/DF Collins DF-301E, um rádio-altímetro Bendix ALA-51, um sistema de navegação inercial Litton LN-33 e um piloto automático Bendix M4-C. Esse conjunto representava um notável salto tecnológico em aviônica em comparação com o antecessor norte-americano, o P-15 Neptune. As antenas do sistema ADF estavam estrategicamente posicionadas, com duas localizadas na fuselagem e uma embutida na extensão da empenagem vertical. O cabo que conectava a cabine ao topo da empenagem funcionava como antena para comunicações em HF. A grande antena em forma de barbatana, situada na parte superior da fuselagem, era destinada às comunicações em VHF. Já as antenas do sistema VOR, apontando para trás, estavam instaladas em ambos os lados do topo da cauda, otimizando a funcionalidade de navegação da aeronave. Neste momento além de contar com a possibilidade de operar com foguetes não guiados como sistema de armas ofensivo, seus cabides subalares foram modificados pelo fabricante  para portar cargas de profundidade disponíveis nos paióis da Força Aérea Brasileira (FAB).  Durante esse período, toda a frota de Embraer P-95 Bandeirulha encontrava-se concentrada na Base Aérea de Salvador, com exceção de quatro aeronaves cedidas temporariamente ao 2º/10º Grupo de Aviação, Esquadrão Pelicano, entre os anos de 1980 e 1981. Essas unidades foram destinadas a missões de busca e salvamento, enquanto aguardava-se a chegada da versão especializada, o SC-95 Bandeirante SAR, projetada especificamente para esse tipo de operação.
Em 11 de setembro de 1981 a Portaria Reservada nº 298/GM3 criou a segunda unidade de P-95. O 2º/7º GAV foi ativado em 15 de fevereiro de 1982, na Base Aérea de Florianópolis, e recebeu quatro Bandeirulha (FAB 7053/55/57/61), que chegaram em 31 de janeiro, vindos de Salvador. No mesmo ano, dois P-95 da Força Aérea Brasileira (FAB) seriam transferidos ao Comando de Aviação Naval Argentino (CANA) por empréstimo para cumprir missões de esclarecimento marítimo durante a Guerra das Malvinas/Falklands. Os FAB 7058 (1º/7º GAV) e 7060 (2º/7º GAV) foram levados a São José dos Campos para serem configurados nas cores da Armada Argentina pela Embraer. Foram trasladados em 22 de maio de 1982 com as cores argentinas e matriculados 4-VM-1 e 4VM-2, respectivamente. Na Argentina foram rematriculados 2-P-201 (7058) e 2-P-202 (7060), operando na Escuadrilla Aeronaval de Exploración. Retornaram ao Brasil em 14 de julho de 1982 como PP-ZQT (7058) e PP-ZQV (7060) rumo à Embraer, que os reconfigurou e devolveu às suas unidades de origem. Dois acidentes ocorreram com o P-95. O primeiro com o FAB 7054, em 11 de julho de 1984, em Recife (PE), sem vítimas, e o segundo com o FAB 7053, em Mucuripe (CE), em 27 de junho de 1985, com quatro vítimas. Ambas caíram no mar, com perda total das aeronaves, que pertenciam ao 1º/7º GAV. Para repor perdas operacionais e modernizar a frota, o Ministério da Aeronáutica (MAer) celebrou , em dezembro de 1987 um contrato prevendo a aquisição de mais 10 células da aeronave.  A fim de atender a esta demanda a Embraer S/A  ofereceria a Força Aérea Brasileira (FAB)  uma versão melhorada que teria como base o Bandeirante C-95C que visualmente diferiria dos primeiros P-95 por possuir os estabilizadores horizontais com diedro de 10 graus, esta nova variante receberia a designação do fabricante de EMB-111A(C) e militar como P-95B. Em termos de sistemas esta nova versão representava uma nova classe de aeronave, o  radar AN/APS-128 Super Searcher foi substituído  por um moderno radar THORN EMI Super Searcher que fora lançado no mercado internacional em 1986. Este novo sistema apresentava a capacidade Track While Scan (TWS - acompanhando o alvo sem ter de interromper a buscar no restante do espaço aéreo), contava ainda com uma nova suíte avionica dispondo de sistemas Thomson-CSF DR 2000A Mk II /Dalia 1000A Mk II (MAGE - Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica), Collins EFIS-74, ADI-84, Piloto-automático APS-65 e o Sistema de navegação Omega Canadian Marconi CMA 771 Mk III. Designados como P-95B e matriculados de 7100 a 7109, eles foram distribuídos às unidades de Salvador e Florianópolis. A primeira entrega ocorreu em 6 de novembro de 1989 na sede da Embraer S/A, em São José dos Campos, quando o FAB 7101 foi recebido pelo 1º/7º GAV. O 2º/7º GAV recebeu o seu primeiro P-95B em janeiro de 1990. Até setembro de 1991, todos os P-95B já haviam sido entregues, tendo cada unidade recebido cinco exemplares.  

Em paralelo ao recebimento destas novas células, seria conduzido o retrofit dos P-95 originais, com processo sendo realizado pela área técnica da  TAM Linhas Aéreas S/A (que era um dos grandes operadores da versão civil). Neste processo tanto a fiação quanto as cambagens das aeronaves tiveram de ser refeita, resultando na instalação dos novos módulos aviônicos, sendo inseridos nas estantes internas pré-existentes nos P-95. A adoção do sistema de Guerra Eletrônica ESM Thomson-CSF (hoje Thales) DR2000/Dalia no modelo P-95B modificou o emprego da aeronave e deu um novo fôlego ao Bandeirulha, agora como plataforma ELINT/SIGINT (Electronic - Signals Intelligence – Monitoramento de emissões eletromagnéticas). Este programa representava o casamento das células dos P-95 com a moderna eletrônica embarcada P-95B, resultando na criação da versão P-95A.  O incremento na quantidade de aeronaves disponíveis para a Força Aérea Brasileira (FAB) culminou, em 27 de setembro de 1990, na ativação do 3º/7º Grupo de Aviação, conhecido como Esquadrão Netuno, sediado em Belém. Com a chegada dos mais avançados Embraer P-95B às bases de Salvador e Florianópolis, as aeronaves Embraer P-95A foram transferidas para Belém, fortalecendo significativamente a capacidade de patrulha marítima na região Norte do Brasil. Essa redistribuição estratégica ampliou a cobertura operacional e reforçou o compromisso da FAB com a segurança e vigilância de áreas críticas do território nacional. Posteriormente, em 1992, o 2º/1º Grupo de Aviação Embarcada (GAE) recebeu quatro aeronaves Embraer P-95A. Inicialmente, essas unidades foram destinadas a complementar os Grumman UP-16 e P-16 Tracker, com o objetivo de, futuramente, substituí-los. Com a desativação dos Grumman P-16 Tracker em dezembro de 1996, o 1º GAE passou a operar exclusivamente com os P-95A. Essa transição marcou um momento de renovação tecnológica, embora temporária, pois, em 31 de julho de 1998, a portaria R-452/GM3 determinou a desativação do 1º GAE e a criação do 4º/7º Grupo de Aviação, conhecido como Esquadrão Cardeal. Esta unidade permaneceu em operação até novembro de 2011, quando foi desativado. Sua última missão operacional ocorreu no dia 30 deste mesmo mês, sendo realizada pelo P-95B FAB 7057. Suas quatro aeronaves P-95A foram redistribuídas entre as demais unidades operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB), garantindo a continuidade do legado de patrulha marítima e o uso eficiente dos recursos disponíveis. O ano de 2011 também presenciou o fim da vida operacional dos P-95B em Salvador, com estas aeronaves sendo substituídas no  1º/7º GAV Esquadrão Orugan  pelo "novos" Lockheed P-3AM Orion, com a unidade recuperando a autonomia e capacidade ofensiva perdida desde a desativação dos P-15 (P2V-5) Netuno em 1976.
Em 30 de maio de 2011 teve o inicio a desativação dos P-95A, sendo o FAB 7050 sendo preservado no Museu Aeroespacial (Musal) em 02 de agosto de 2013, ostentando as cores do 4º/7º Grupo de Aviação. O último P-95A, FAB 7057, foi desativado em dezembro de 2014, quando operava junto ao 2/7º Grupo de Aviação.  A título de curiosidade, os P-95/A/B tiveram nomes de batismo de aves marinhas brasileiras. Herança dos P-15, os P-95 saíam da fábrica batizados. Os nomes foram usados até meados de 2005, quando a FAB retirou-os das aeronaves. Alguns nomes eram repetidos e nem sempre eram usados. Os nomes conhecidos são: 7050 - Gavião de Urua, depois Gaivota; 7051 - Ariramba, depois Pelicano; 7052 - Taiaçu; 7053 - Petrel; 7054 - Martin-pescador; 7055 - Talha-mar; 7056 - Albatroz; 7057 - Falcão Pescador, depois Martin-pescador; 7058 - Alca, depois Maguari; 7059 - Biguá; 7060 - Arapapá; 7061 - Alcatraz, depois Andorinha-do-mar; 7100 - Atobá; 7101 - Batuíra; 7102 - Cormorão; 7103 - Flamingo; 7104 - Fragata; 7105 - Guará; 7106 - Jaçanã; 7107 - Maguari, depois Alca; 7108 - Socó e 7109 - Tacha. Entre 2007 e 2008, o Comando da Aeronáutica (COMAER) deu início a estudos detalhados com o objetivo de modernizar parte de sua frota de aeronaves Embraer C-95 Bandeirante e P-95 Bandeirulha, buscando prolongar a vida útil dessas aeronaves por até duas décadas. Esse ambicioso programa não se limitava à revitalização estrutural, mas incluía uma completa renovação da suíte aviônica, com a introdução de um moderno painel glass cockpit, alinhando as aeronaves às exigências tecnológicas contemporâneas. A execução do projeto foi conduzida pelo Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA AF), com início em janeiro de 2012. Para a modernização da eletrônica embarcada, foi firmado um contrato de R$ 89,9 milhões com a empresa israelense AEL Sistemas, por meio de sua subsidiária brasileira, contemplando a atualização de 50 células. Inicialmente, o plano previa a modernização de doze aeronaves do modelo Embraer P-95. Contudo, em 2013, a decisão foi ajustada para modernizar apenas nove unidades do P-95B Bandeirulha. No ano seguinte, um acidente com a aeronave FAB 7107 reduziu esse número para oito unidades. O marco do primeiro voo da aeronave modernizada ocorreu em 18 de dezembro de 2013, seguido pela certificação em outubro de 2014. A primeira entrega foi realizada em 2015, destinada ao 2º/7º Grupo de Aviação (GAv). A principal inovação do programa foi a instalação do radar de abertura sintética Selex Seaspray 5000E (AESA - Active Electronically Scanned Array), acompanhado de avançados sistemas de navegação e comunicação. Essas melhorias reforçaram significativamente as capacidades operacionais da frota, garantindo maior eficiência e precisão em missões de patrulha marítima, busca e salvamento.

Em Escala.
Para a representação do Embraer P-95B Bandeirulha, identificado como "FAB 7106" pertencente ao 2º/7º Grupo de Aviação - Esquadrão Phoenix em uso durante a década de 1990, utilizamos o excepcional kit em resina na escala 1/72 produzido pela Liberty Quality Kits, fabricante artesanal reconhecido pela alta qualidade e precisão no acabamento de suas peças. Complementamos o modelo com decais originais, cuidadosamente confeccionados pela FCM Decais, garantindo autenticidade e fidelidade aos detalhes da aeronave real.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado nas aeronaves Embraer  P-95  Bandeirante Patrulha, sendo adotado a partir da década de 1980 pelos P-95A e P-95B. As células modernizadas designadas como Embraer P-95BM passaram a ostentar um novo padrão de cinza, empregando marcações de baixa visibilidade.

Bibliografia :
- Aviação Militar Brasileira 1916 – 2016 por Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Bandeirulha o Patrulheiro da Embraer – Alide http://www.alide.com.br/artigos/emb111/index.htm
- Os Cardeais 1º Grupo de Avião Embarcada e 4º/7º Grupo de Aviação - Mauro Lins de Barros - Editora Adler

Canhões Krupp 75 mm

História e Desenvolvimento.
Em 20 de novembro de 1811, Friedrich Krupp, junto com os irmãos Georg Karl Gottfried e Wilhelm Georg Ludwig von Kechel, fundou a Friedrich Krupp em Essen, inicialmente focada na produção de aço fundido inglês. As forjas de Essen, operadas por trabalhadores dedicados que enfrentavam o calor escaldante das fundições, produziam materiais de alta qualidade, estabelecendo as bases para a futura gigante industrial. Após a morte de Friedrich em 1826, seu filho Alfred Krupp assumiu a liderança por volta de 1830, com apenas 18 anos, e transformou a empresa em um colosso industrial. Sob sua visão, a Krupp desenvolveu inovações como o aro de roda inteiriço para trens, revolucionando as ferrovias globais e facilitando o transporte de tropas e suprimentos. A verdadeira transformação veio com a produção de canhões de aço fundido, um avanço técnico que superava os frágeis canhões de bronze da época. Esses canhões, testados em campos de batalha, ofereceram maior durabilidade e precisão, contribuindo para as vitórias prussianas contra a Áustria na Guerra Austro-Prussiana (1866) e contra a França na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Para os engenheiros da Krupp, cada canhão produzido era o resultado de longas horas de cálculos e testes, enquanto para os artilheiros prussianos, era uma ferramenta de confiança que mudava o curso das batalhas. A liderança da família Krupp consolidou a empresa como a principal fornecedora de armas do Império Alemão, exportando canhões para exércitos como o russo, o austríaco e, especialmente, o otomano durante a década de 1860. Em 1897, a Krupp lançou o canhão de campanha de 75 mm (Field Gun), um projeto revolucionário que serviu de base para uma família de canhões que marcaram os campos de batalha do século XX. Com alcance de até 8.500 metros e alta cadência de tiro, o canhão combinava mobilidade e potência, ideal para as táticas de guerra modernas.  Seu sucesso levou ao desenvolvimento do modelo Krupp 1903, lançado no mercado europeu com melhorias em estabilidade e precisão. O Exército Alemão (Reichswehr) adotou o canhão em grande escala, validando seu desempenho em exercícios rigorosos, onde artilheiros enfrentavam longas jornadas para calibrar as armas sob condições adversas. O desempenho do Krupp 1903 em exercícios do Reichswehr garantiu um grande contrato governamental na Alemanha, validando seu design e impulsionando seu sucesso comercial. A Krupp exportou o canhão para diversos países, consolidando sua liderança no mercado bélico.  O Krupp 75 mm Field Gun Modelo 1903 foi um canhão de campanha projetado como um "stock gun", ou seja, uma arma produzida em série para exportação, com adaptações mínimas para atender às necessidades de diferentes clientes, levando assim a adoção deste modelo por outras nações.

Seu primeiro grande cliente seria o Império Otomano que adquiriu 558 unidades do Krupp 1903, projetadas sob especificações turcas, com escudo de proteção e culatra de bloco deslizante horizontal. Estas centenas de peças de artilharia seriam extensamente utilizadas,  com destaque para oS eventos decorridos durante a Primeira Guerra dos Balcãs (1912-1913), quando 126 unidades otomanas adquiridas anteriormente foram capturadas pelo Exército Real Sérvio, que as reutilizou na Primeira Guerra Mundial, demonstrando a durabilidade do projeto. A Dinamarca e a Holanda incorporaram o canhão, com os holandeses adquirindo 120 unidades e os direitos de produção, e logo seriam modernizados com a adaptação de  rodas de aço e pneus pneumáticos, para serem tracionados por  por veículos automotores. Os canhoes destinados a Dinamarca seriam designados como  "03 L/30", sendo inclusive  usados nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial, compondo a  resistência  à invasão alemã em 1940. Em termos de usuários, o  caso mais notável foi a Romênia, que adquiriu 636 unidades, a maior importação de um único tipo de canhão em sua história. Localmente seriam designados como "Tunul de câmp Krupp, cal. 75 mm, md. 1904" e se diferenciavam por estarem equipados  com a mira Ghenea-Korodi, produzida nacionalmente, com este sistema se mostrando mais avançado e preciso que seu similar  original alemão. Esses canhões formaram a espinha dorsal da artilharia romena na Primeira Guerra Mundial, equipando todos os regimentos de artilharia das divisões de infantaria. Para os artilheiros romenos, operar o Krupp 1903 era uma tarefa de precisão e resistência. Em campos de batalha como os dos Cárpatos, enfrentavam lama, frio e combates intensos, carregando projéteis de 6,5 kg e ajustando a mira para atingir alvos a longas distâncias.  O atrito e as perdas em combate reduziriam em 1926 este acervo para apenas 321 peças, porém apesar de já ser considerado obsoleto, seriam mantidos em serviço ativo até o ano de 1942. A Bélgica adquiriu uma licença para produzir o Krupp 1903 na Fonderie Royale des Canons, sob a designação Canon de 7c5 M 1905 TR et TRA. Esses canhões foram usados nas duas guerras mundiais, com os alemães designando os capturados como 7.5 cm Feldkanone 235(b). O número exato de unidades produzidas não é detalhado, mas a licença sugere uma produção significativa. No Japão, o governo comprou os direitos do  Krupp 1903, desenvolvendo localmente  o canhão Tipo 38 de 75 mm, que foi amplamente utilizado pelo Exército Imperial do Japão  na guerra contra a China Nacionalista na década de 1930.
Na primeira década do século XX , quando a grande corrida armamentista europeia teve seu início em função  do intensificar das tensões geopolíticas, o governo belga fecharia um grande contrato para produção sob licença diretamente junto ao fabricante alemão, envolvendo mais especificamente uma versão aprimorada do  Krupp 7.5 cm Field Gun Modelo 1903. A nova arma de artilharia receberia a designação de Canon de 7c5 M 1905 TR et TRA e seria fabricada localmente pela Fonderie Royale des Canons (FRC). O "TR" (Traction Roulante) referia-se à versão tracionada por cavalos, enquanto o "TRA" (Traction Automobile) indicava uma modernização para tração motorizada, implementada na década de 1920. O canhão utilizava uma culatra de cunha horizontal deslizante e era equipado com um escudo de proteção, oferecendo maior segurança às tripulações.  Inicialmente os primeiros lotes apresentavam um baixo índice de conteúdo local, com este processo evoluindo até atingir um índice de nacionalização de quase 90% excetuando apenas o barril que ainda era produzido pela Friedrich Krupp AG.  Tratava-se de um projeto convencional para a época , fazendo uso de  um sistema de recolhimento de mola hidráulica e uma culatra horizontal do tipo bloco deslizante. A pistola pesava 1.070 kg quando utilizada, uma elevação de –8 ° a + 16 ° e poderia disparar um projétil de estilhaço de 6,5 kg a um alcance máximo impressionante de 8.000 metros. Em 1914, o Exército Belga (Armée belge) possuía dezoito brigadas de artilharia de campanha , e cada uma delas composta por três baterias de 75 mm, equipadas com o Modelo  Krupp 1905. A produção do Canon de 7c5 M 1905  na Bélgica não tem números exatos documentados, mas, considerando a capacidade industrial da FRC e o uso do canhão por divisões de infantaria belgas, estima-se que algumas centenas de unidades foram fabricadas, possivelmente entre 100 e 200, com base em práticas de produção licenciada da época. O Canon de 7c5 M 1905 foi amplamente utilizado pelo Exército Belga durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), apoiando divisões de infantaria em batalhas como a defesa de Antuérpia e a Frente Ocidental. Com uma cadência de 15 a 20 disparos por minuto e projéteis de 6,5 kg, o canhão oferecia suporte eficaz contra posições fortificadas e tropas inimigas. A maioria dessas armas acabaria sendo perdida durante o avanço inicial das forças armadas alemães. A parir deste momento o esteio da artilharia de campo da Bélgica passaria a ser composta por canhões de calibre de 75 mm produzidos na França. 

Neste momento a  equipe de projetos da Friedrich Krupp AG, sempre se dispunha livremente a customizar o desing de seus produtos destinados ao mercado de exportação, visando assim atender a necessidades especificadas de cada novo cliente. A exemplo podemos citar o Modelo 1908, que teve seu projeto fundamentalmente alterado para atender aos requisitos apresentados pelo Exército Imperial do Japão.  O Krupp 75 mm Modelo 1908 foi projetado como uma evolução do bem-sucedido Field Gun de 75 mm Modelo 1903, que alcançou exportações significativas para países como Romênia, Império Otomano e Holanda. A pedido do Exército Imperial do Japão, a equipe de projetos da Krupp realizou alterações substanciais para atender às especificações japonesas, demonstrando a flexibilidade que caracterizava a empresa. O Modelo 1908, designado como Type 38 no Japão após aquisição dos direitos de produção, apresentava um cano mais longo, com comprimento de 30 calibres (L/30, cerca de 2,25 metros), em comparação com os modelos anteriores, como o Krupp 1903. Essa modificação aumentava o alcance máximo para aproximadamente 9.000 metros, superando os 8.500 metros do Modelo 1903, embora tornasse o canhão ligeiramente mais pesado, com cerca de 1.100 kg. A carruagem de transporte foi completamente redesenhada, rompendo com o padrão da Krupp. Em vez da típica caixa aberta usada no Krupp 7.5 cm Gebirgskanone M.1904 (canhão de montanha), o Modelo 1908 adotou elementos tubulares, assemelhando-se a um grande diapasão no plano horizontal. A seção traseira da trilha, que suportava a pá de ancoragem, podia ser dobrada sobre os tubos dianteiros, facilitando o transporte em terrenos acidentados. Esse design inovador, inspirado em projetos da concorrente Ehrhardt Rheinmetall AG, conferia maior mobilidade e robustez, ideais para as operações do Exército Imperial Japonês em terrenos variados da Manchúria e da China. Na fábrica da Krupp em Essen, engenheiros e operários trabalhavam com precisão artesanal, moldando o aço em forjas escaldantes e testando cada componente para garantir durabilidade e desempenho.  Adquiridos as centenas pelo governo do Império do Japão, logo se tornaria  a espinha dorsal de sua artilharia de campanha. Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), o canhão foi amplamente utilizado, oferecendo suporte às divisões de infantaria com sua cadência de 15 a 20 disparos por minuto e projéteis de 6,5 kg. Sua mobilidade, garantida pela carruagem tubular, permitia deslocamentos rápidos em terrenos difíceis, enquanto o alcance ampliado era crucial para atingir posições fortificadas. Este modelo seria considerado para exportação há outros países mantendo o calibre 75mm L/30, se tornando um grande sucesso comercial na primeira década do século vinte. 
O Tratado de Versalhes impôs duras sanções à Alemanha, incluindo indenizações financeiras e limites rigorosos à produção industrial. Para a Friedrich Krupp AG, que havia se tornado sinônimo de armamentos desde as guerras prussianas de 1866 e 1870, as restrições foram particularmente severas: a empresa foi proibida de fabricar armas e munições, e a produção de aço foi limitada por cotas máximas. Essas medidas afetaram profundamente os trabalhadores de Essen, que, após anos moldando canhões em forjas escaldantes, enfrentaram a incerteza de um futuro sem a principal atividade da empresa. Para muitos, a transição foi um teste de adaptação, com famílias inteiras dependentes da Krupp para sua subsistência. Sob a liderança de Gustav Krupp, a empresa se reinventou, voltando-se para a produção de ferramentas, máquinas agrícolas e materiais para a indústria de base, como locomotivas e componentes ferroviários. Nas oficinas de Essen, operários que outrora forjavam canhões agora fabricavam arados e peças industriais, mantendo viva a tradição de precisão da Krupp. Esse período de paz forçada foi marcado por um espírito de resiliência, com engenheiros e técnicos buscando soluções inovadoras para sustentar a empresa em um cenário de restrições. A ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, consolidada em 1934, marcou o início de um ambicioso programa de rearmamento alemão, desafiando as restrições do Tratado de Versalhes. A Friedrich Krupp AG foi convocada a retomar sua produção bélica, reacendendo as forjas de Essen com um novo propósito. Para os trabalhadores, o retorno à fabricação de armas era tanto uma oportunidade de recuperação econômica quanto um lembrete do papel central da Krupp na história militar alemã. Engenheiros, muitos dos quais haviam preservado seus conhecimentos durante o período de restrições, voltaram a projetar canhões e munições, adaptando-se às demandas do regime nazista. Entre os projetos de destaque estava o Schwerer Gustav, um colossal canhão ferroviário de 800 mm, projetado para destruir fortificações massivas. No entanto, o volume de negócios da Krupp concentrou-se em peças de artilharia de médio e leve calibre, mais práticas para produção em massa e uso em campo. Os canhões de campanha de 75 mm, como os modelos Krupp 75 C-26 M e C-28 M, foram desenvolvidos para atender a essas necessidades, com designs simplificados que priorizavam eficiência e baixo custo. Equipados com rodas de madeira para tração animal, esses canhões combinavam mobilidade e robustez, pesando cerca de 1.000 kg e alcançando até 9.000 metros com projéteis de 6,5 kg.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A artilharia brasileira, enraizada nas lutas coloniais e consolidada após a Independência de 1822, é um pilar da história militar do país, marcada por momentos de bravura, inovação e resiliência. As origens da artilharia brasileira remontam ao período colonial, quando brasileiros se mobilizaram em conflitos como as Batalhas de Guararapes, enfrentando forças holandesas em Pernambuco com táticas rudimentares, mas corajosas. Após a Independência, em 1822, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma arma organizada, ganhando prestígio no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos anos de formação, a artilharia demandava treinamento completo na Academia Militar do Império, refletindo sua complexidade técnica. Os artilheiros, muitas vezes jovens oficiais, dedicavam-se a dominar cálculos balísticos e manobras táticas, forjando uma tradição de excelência que marcaria gerações. O auge desse período foi a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), onde a artilharia brasileira, sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, se destacou na Batalha de Tuiuti (1866), a maior batalha campal da América do Sul. Apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, a força brasileira, protegida por um fosso tático inovador, resistiu a ataques paraguaios com uma determinação eternizada na frase de Mallet: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. Nascido na França em 1801 e naturalizado brasileiro, Mallet comandou com destreza, sendo promovido a brigadeiro por mérito e agraciado com o título de Barão de Itapevi em 1878, ascendendo a marechal em 1885. Sua liderança transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional, inspirando gerações de artilheiros. A influência da Friedrich Krupp AG no Brasil começou em 1872, com a aquisição dos primeiros canhões de campanha de 75 mm, destinados aos Regimentos de Artilharia a Cavalo. Essas peças, fabricadas em Essen, Alemanha, representavam o auge da tecnologia bélica, superando os canhões franceses La Hitte, que até então equipavam o arsenal brasileiro. Na década de 1880, o Exército Imperial recebeu mais três dezenas de canhões Krupp 75 mm Modelo 1895, recomendados pelo Conde d’Eu, Comandante Geral da Artilharia e presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército. Como genro do Imperador Dom Pedro II, o Conde d’Eu desempenhava um papel central como conselheiro militar, defendendo a superioridade dos canhões alemães, que alcançavam até 12.000 metros, uma melhoria significativa em relação aos modelos anteriores. A adoção em larga escala dos canhões Krupp marcou uma virada na modernização do Exército Brasileiro, recuperando o potencial militar após anos de estagnação. Para os artilheiros, operar essas armas era um desafio que exigia precisão e treinamento. Em exercícios nos campos de treinamento do Rio de Janeiro, equipes de cinco a sete homens carregavam projéteis de 6,5 kg, ajustavam sistemas de mira e disparavam sob o calor carioca, fortalecendo a camaradagem. Ironicamente, os canhões recomendados pelo Conde d’Eu foram usados contra uma rebelião monarquista na Guerra de Canudos (1896-1897), onde provaram sua eficácia em combates reais, apesar das condições adversas do sertão baiano.

No início do século XX, o Exército Brasileiro enfrentava a obsolescência de seus armamentos e doutrinas, um legado das limitações técnicas evidenciadas desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) e confirmadas na Campanha de Canudos (1896-1897). Os canhões Krupp de 75 mm, adquiridos em 1872 e 1895, embora revolucionários em sua época, não acompanhavam os avanços tecnológicos, como os sistemas de recuo hidropneumático e a maior mobilidade exigidos pela guerra moderna. Sob a liderança visionária dos Marechais João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e, sobretudo, Hermes da Fonseca, com o apoio do Barão do Rio Branco, o Brasil empreendeu uma transformação profunda conhecida como Reforma Hermes (1900-1908). A Reforma Hermes envolveu a reestruturação organizacional do Exército, com a divisão do território nacional em 21 regiões para alistamento militar e 13 para inspeção, além da criação e regulamentação do Estado-Maior. Inspirado pelo Exército Prussiano, particularmente pelo modelo de Estado-Maior de Helmuth von Moltke, Hermes defendia publicamente a necessidade de elevar o Exército Brasileiro ao nível das forças germânicas, conhecidas por sua disciplina e tecnologia de ponta. A reforma também revisou o sistema de ensino militar, capacitando oficiais com formação técnica avançada, e priorizou a aquisição de armamentos modernos, especialmente da Alemanha, devido à ausência de uma indústria bélica nacional. Em agosto de 1908, Hermes da Fonseca realizou uma viagem à Alemanha, movido por sua admiração pelo Exército Prussiano e pelo desejo de adquirir conhecimentos técnico-profissionais e equipamentos de ponta. A visita resultou em contratos significativos com empresas alemãs, incluindo a Friedrich Krupp AG, que reforçaram a modernização do Exército Brasileiro. Esses acordos incluíram a aquisição de 400.000 fuzis Mauser de 7 mm para a infantaria, 10.000 lanças Ehrhardt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões para a cavalaria, refletindo a escala da renovação armamentista. Para a artilharia, a Krupp forneceu 27 baterias de canhões de campanha de 75 mm Modelo 1908, seis baterias de canhões de montanha de 75 mm e cinco baterias de obuses de 105 mm. Esses canhões, com sistemas de recuo hidropneumático e alcance de até 9.000 metros (75 mm) e 6.500 metros (105 mm), representavam o auge da tecnologia bélica. O Modelo 1908, já customizado para o Japão como Type 38, era conhecido por sua carruagem tubular, que aumentava a mobilidade, e por sua construção simplificada, ideal para produção em massa. Além disso, foram encomendados canhões Krupp de 305 mm, destinados às torres do Forte de Copacabana, em construção no Rio de Janeiro, então Capital Federal, para fortalecer a defesa costeira. Para os artilheiros brasileiros, operar essas novas armas era um desafio que exigia treinamento intensivo. Em campos de treinamento como os de Valença (RJ) e Rio Pardo (RS), equipes de cinco a sete homens ajustavam sistemas de mira, carregavam projéteis de 6,5 kg (75 mm) ou 15 kg (105 mm) e disparavam sob condições adversas.
Em fins do ano de 1909 seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro, um total de cento e setenta canhões  Krupp 75 mm C-26 e C-28 dos modelos 1908 e 1909, sendo logo colocados em imediatamente em serviço. Estas armas de calibre 75mm/L28 apresentavam um alcance de 6.000 metros, disparando projeteis de 5,5 kg (estilhaços 245 balas de 11 gramas) a uma velocidade de 490m/s. Sua guarnição era de nove homens, com o conjunto sendo geralmente tracionados por nove cavalos ou mulas, sua munição composta de 36 granadas era transportada em um um "carro de munição" também fabricado pela Friedrich Krupp AG. O canhão apresentava um peso total de 1.436 kg, o o carro de transporte de munição pesava 1.415 kg totalmente carregado e 792 kg quando vazio. A robustez da construção da arma e sua facilidade de operação e manutenção, agradaria muito os comandantes das unidades de artilharia de campanha. O primeiro emprego real dos novos canhões Krupp 75 mm ocorreria durante a Guerra do Contestado (1912 - 1916), em uma localidade situada entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esta região seria marcada por essas disputas em razão da presença de uma rica floresta e uma grande região dedicada à plantação de erva-mate. Este conflito teria como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado. Preocupados com a formação de rebeliões, os governos estadual e federal passaram a partir de 1912 a enviar expedições militares contra a população do Quadrado Santo, com unidades de artilharia de campanha sendo muito empregadas em ataques decisivos, com este conflito se estendendo pelo menos o mês de agosto de 1916.   Satisfeitos com os resultados do emprego desta família de canhões, o comando do Exército Brasileiro decidiria por adquirir mais armas de artilharia desta família, assim negociações bilaterais seriam conduzidas entre os governos brasileiro e a alemão. Em agosto de 1913, o seria celebrado um contrato junto a Friedrich Krupp AG, prevendo a aquisição imediata de duzentos canhões de campo de 75 mm, que deveriam ser entregues em até dez meses a partir da assinatura do acordo. A primeira remessa seria realizada dentro do cronograma previsto, pertencendo ao modelo Krupp C-28 1911, e apresentavam como diferença básica em relação à pistola Modelo 1909 ser representada pela maior espessura da culatra com o mecanismo semelhante ao modelo FK 96. Nesta mesma remessa seriam entregues também recebidos canhões de montanha Krupp de  Modelo 24 C14 de 75 mm.
No entanto em julho de 1914 ao eclodir da Primeira Guerra Mundial, pelo menos cento e oito peças destinadas ao contrato brasileiro se encontravam prontas nas instalações do fabricante na cidade de Essen. Porém estas seriam confiscadas arbitrariamente pelo governo alemão, e possivelmente seriam destinadas a equipar as divisões de artilharia no front oriental. Os registros do fabricante classificavam estas peças como pertencentes a versão  Feldkanonen C-30 de 75 mm, um modelo aprimorado, podendo ser este o motivo que levaria a esta decisão de confisco. Durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro se encontrava em uma situação complicada, pois este era um período sacudido por inúmeros conflitos de ordem regional espalhados no mundo. Olhando o cenário sul-americano, muitos países vizinhos ao Brasil dispunham de equipamentos bélicos superiores, chegando a preocupante definição que nosso país estava completamente despreparado para enfrentar possíveis ameaças externas. Para resolver esta deficiência em 1936 o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinou que uma comissão de compras, visitasse na Europa principalmente, vários fabricantes de armamentos, visando assim iniciar um processo de reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras.  Em atendimento a estas demandas, em 25 de março de 1938, seriam assinados diversos contratos com a empresas alemães como a Daimler Benz, Kraus Maffei, Fried Krupp AG. AG Matra Werke, Bussing-NAG, Henschel & Sohn, Car Zeiss e Eletroacoustic GmBh, resultando na compra de uma quantidade substancial de material militar. O fornecedor principal nesta fase, novamente, seria a Fried Krupp AG, se destacando pelo volume de negócios celebrados com esta, assim por este motivo este acordo passaria a ser conhecido como “O Grande Contrato Krupp. Em setembro de 1939 o início da Segunda Guerra Mundial implicaria em bloqueios nas rotas comerciais entre a Alemanha e os demais países, atrasando a entrega dos materiais pertencentes ao contrato brasileiro. O intensificar do conflito na Europa iria interromper de vez o fornecimento de materiais militares previstos neste contrato, com o restante do material estocado sendo absorvido pelas forças armadas alemães. Somente 64 canhões Krupp dos modelos C-26 e C-28 seriam recebidos, incluindo equipamentos de apoio e reboque de munição. Durante o conflito estas armas em conjuntos com outros modelos fabricados pela Fried Krupp AG seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Os canhões Krupp de 75 mm estiveram em ação em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século vinte incluindo as revoluções de 1930, a Constitucionalista de 1932, curiosamente os canhões de 75 mm Krupp (e também Schneider) foram empregados como arma orgânica dos seis trens blindados (TB) denominados TB-1 a TB-6, construídos na Oficinas Ferroviárias. Com a ampliação da motorização do exército, a partir de 1954 uma parte destes canhões mais novos, seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (RJ) e General Câmara (RS) recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a dotar vários Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) permanecendo em operação até a primeira metade da década de 1980.   

Em Escala:
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro  e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp 75 mm e demais peças de artilharia de origem alemã, se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Reichswehr) durante a década de 1910. Presume-se desta maneira  que as peças de artilharia pertencentes ao Exército Brasileiro neste período foram repintados neste esquema. Esta tonalidade de pintura representa também as peças preservadas atualmente em museus militares.


Bibliografia: 
- História Militar - http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/
- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Jr – Tecnologia & Defesa
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro
- Krupp Gun – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Krupp_gun
- Arquivos do Museu Militar do Comando Sul – Porto Alegre