Contratorpedeiros Classe Cannon

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o mundo testemunhava uma crescente instabilidade geopolítica que anunciava a iminência de um conflito global de proporções devastadoras. Na Europa, as ambições expansionistas da Alemanha nazista, sob a liderança de Adolf Hitler, manifestavam-se em ações como a anexação da Áustria em 1938 (Anschluss) e a ocupação dos Sudetos na Tchecoslováquia no mesmo ano, desafiando diretamente as disposições do Tratado de Versalhes de 1919. Essas ações, combinadas com a Política de Apaziguamento adotada por potências como a Grã-Bretanha e a França, revelavam a fragilidade dos esforços internacionais para manter a paz. No Extremo Oriente, o Império do Japão intensificava sua campanha imperialista, iniciada com a invasão da Manchúria em 1931 e ampliada pela guerra contra a China a partir de 1937. Esses eventos, aliados à incapacidade da Liga das Nações de conter tais agressões, sinalizavam que o mundo se encaminhava inexoravelmente para uma grande conflagração. Diante desse cenário, o governo dos Estados Unidos, sob a administração do presidente Franklin D. Roosevelt, reconheceu a necessidade urgente de fortalecer suas forças armadas. A partir de 1938, programas de modernização militar foram implementados, com foco na preparação para possíveis ameaças futuras. O poder naval, em particular, emergiu como uma prioridade estratégica, dado o papel crítico das rotas marítimas para o comércio global e a defesa nacional. A expansão da Marinha Imperial Japonesa, que na década de 1930 incorporou navios avançados como os porta-aviões Kaga e Akagi e encouraçados da classe Yamato, representava um desafio direto à supremacia naval das potências ocidentais no Pacífico. Na Europa, a Kriegsmarine alemã, apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, desenvolvia uma força significativa de submarinos (U-boats). Relatórios de inteligência britânicos de 1939 estimavam que a Alemanha operava cerca de 57 submarinos, um número que aumentaria para mais de 200 em 1941, com a introdução de modelos como o Tipo VII, amplamente utilizado na Batalha do Atlântico. Essa frota de submarinos representava uma ameaça direta às linhas de abastecimento marítimo da Grã-Bretanha, que dependia de importações de alimentos, combustíveis e matérias-primas provenientes principalmente dos Estados Unidos e do Canadá. A possibilidade de uma campanha coordenada de U-boats para interromper essas rotas vitais colocava em risco a sobrevivência britânica em um eventual conflito. A Marinha Real Italiana, sob o regime de Benito Mussolini, também contribuía para o cenário de tensão, desenvolvendo uma frota de submarinos que, embora menos numerosa que a alemã, ampliava as preocupações aliadas no Mediterrâneo. Esse contexto exigia uma resposta estratégica que combinasse eficiência operacional com a capacidade de expandir rapidamente as frotas navais. Na década de 1930, os contratorpedeiros (destroyers) eram peças centrais das estratégias navais, projetados para combinar alta velocidade e manobrabilidade na escolta de embarcações de maior porte, como encouraçados e porta-aviões, e na proteção de comboios contra ataques de submarinos e torpedeiros. Esse conceito culminou no desenvolvimento da Classe Fletcher, que, a partir de 1942, com a construção de 175 unidades, destacou-se por sua versatilidade em missões que incluíam combate antissubmarino, apoio a operações anfíbias e defesa antiaérea durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a necessidade de aumentar rapidamente o número de navios disponíveis, sem comprometer os recursos industriais e financeiros, levou os comandantes navais a buscar alternativas mais econômicas. A Marinha Real Britânica (Royal Navy) já havia implementado uma solução eficaz com as corvetas, navios menores e de baixo custo projetados para escolta de comboios mercantes. 

A Classe Flower, com cerca de 267 unidades construídas entre 1939 e 1945, tornou-se um pilar da Batalha do Atlântico, oferecendo proteção antiaérea e antissubmarino a um custo significativamente inferior ao dos contratorpedeiros. Embora menos armadas e mais lentas, as corvetas provaram ser eficazes em operações de escolta, inspirando outras marinhas aliadas, incluindo a dos Estados Unidos. Nesse contexto, os especialistas do corpo de engenharia naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) desenvolveram os contratorpedeiros de escolta (Destroyer Escorts), uma categoria de navios projetada para combinar eficiência operacional com custos reduzidos, liberando assim os contratorpedeiros para a proteção de comboios intercontinentais, ou ainda a compor os sistemas defensivos de frota de navios mais valiosos, como os porta-aviões. Essas embarcações foram concebidas para proteger comboios de navios mercantes em áreas litorâneas e reforçar os sistemas defensivos de frotas que incluíam navios estratégicos, como porta-aviões. Entre os modelos desenvolvidos, a Classe Cannon destacou-se por suas expectativas operacionais promissoras, tornando-se um pilar da estratégia naval americana durante a Segunda Guerra Mundial. Este conceito básico derivaria para o desenvolvimento e produção de diversos modelos de contratorpedeiros de escolta, se destacando a Classe Cannon, que apresentava excelentes expectativas operacionais. A fim de atender as demandas emergenciais, no final do ano de 1942, seria celebrado com os estaleiros Dravo Corporation Federal Shipbuilding & Drydock Company,  ambos situados em Newark, New Jersey, contratos envolvendo a aquisiçao de cento e dezesseis navios. Os navios desta classe seriam construídos com chapas de aço médio preto e decapado, de espessura variável de 1/8” até 2”, sistema de construção transversal, sendo longitudinal o travamento o principal, 171 cavernas transversais, dividido em 73 compartimentos estanques e um convés corrido. Possuía as seguintes características principais: 1512 toneladas de deslocamento normal; 1600 toneladas de deslocamento máximo 93,33 m de comprimento total; 90,0 m de comprimento entre perpendiculares; 11,14 m de boca máxima;3,60 m de calado máximo. Deveriam ser equipados com um sistema de propulsão diesel elétrica, distribuída por quatro praças de máquinas, a saber: dois motores diesel principais, General Motors, 16-278A, dois tempos, oito cilindro sem “V”, injeção sólida, 1700 hp de potência cada, 750 rpm, 3.400 hp de potência total, localizados um em cada praça.  Cada motor acionaria diretamente um gerador tipo D.C.2, excitação separada, corrente contínua (CC), 750 rpm, 1.200 kW, 525 volts, 2.290 amperes, que alimentavam quatro motores elétricos principais, dois para cada eixo, ligados em série, modelo D.C.814,5, corrente contínua, 600 rpm, 525 volts, 1.500 hp de potência cada, 3.000 hp de potência total. Em cada praça ficava localizado um motor elétrico e acionavam dois hélices de três pás; dois lemes compensados e conjugados com comando elétrico hidráulico automático, desempenhando 20,2 nós de velocidade máxima em emergência, 19,2 nós de velocidade máxima sustentável, 17 nós a toda força, 15 nós de velocidade padrão e 11 nós de velocidade econômica. 
O sistema de propulsão da Classe Cannon era baseado em uma configuração diesel-elétrica, projetada para garantir eficiência e confiabilidade. A propulsão era fornecida por quatro motores elétricos principais de corrente contínua, modelo QVDC-8145, fabricados pela Westinghouse, com excitação separada. Cada motor, com potência de 1.500 HP a 600 RPM, era disposto em pares por eixo, totalizando 3.000 HP, acionando duas hélices de três pás. Esses motores eram alimentados por dois dínamos principais por eixo, garantindo redundância e robustez operacional. A energia elétrica era gerada por quatro grupos de motores diesel-geradores General Motors, divididos em dois modelos: 8-268A (200 kW) e 3-268A (100 kW), que acionavam alternadores Westinghouse. O sistema de propulsão conferia ao navio um desempenho notável, com velocidades que variavam de 11 nós (econômica) a 20,2 nós (emergência). O raio de ação era igualmente impressionante: 13.000 milhas náuticas na velocidade econômica e 8.500 milhas náuticas na velocidade máxima sustentável, possibilitado por tanques com capacidade de 32 toneladas de óleo combustível diesel e 18 toneladas de óleo lubrificante. A Classe Cannon contava com um sistema de destilação de baixa pressão, capaz de produzir 4.000 galões de água potável por dia, com capacidade de atingir 5.000 galões em situações de emergência. Esse recurso era essencial para a autonomia das tripulações em longas missões de escolta. Os paióis de munição, projetados com ventilação em vez de refrigeração, garantiam a segurança e a acessibilidade do armamento, que incluía cargas de profundidade, torpedos e munições para canhões antiaéreos e de superfície. As comunicações eram um aspecto crítico para a coordenação das operações navais. A Classe Cannon era equipada com um conjunto avançado de equipamentos de rádio, incluindo: Transmissores: TBL-7, TDE e CRV 52093 (ondas curtas); Receptores: CRV 46068 (ondas ultracurtas), RBE-1, RAO-2, RAL-6, RAK-6 e RBO; Comunicações visuais: Dois holofotes de 12 polegadas, bandeiras, lâmpadas Aldis e escote na verga do mastro principal. Esses sistemas permitiam comunicações confiáveis com outras embarcações, bases terrestres e forças aéreas, essenciais para a coordenação de comboios e respostas a ameaças. A Classe Cannon incorporava tecnologias avançadas para detecção e navegação, cruciais para operações em ambientes hostis. Para o combate antissubmarino, os navios eram equipados com o sistema QCT-1, semelhante a um sonar, capaz de detectar submarinos inimigos submersos. Para alvos de superfície, utilizavam o Radar SL, fabricado pela Western Electric & Co., com alcance de 60 milhas náuticas. A detecção de alvos aéreos era realizada pelo Radar SA, produzido pela RCA Manufacturing Co., com alcance de 375 milhas náuticas. A identificação de alvos aliados era assegurada pelo sistema IFF (Identification Friend or Foe) modelo BL-5, complementado por um respondedor ABK-7. A navegação era suportada por uma agulha giroscópica mestre Arma MK X Mod. 0, localizada na Sala de Controle de Informações de Combate (PCI), com repetidoras distribuídas pelo navio. Outros instrumentos incluíam um calculador e traçador de derrota (CTD), duas agulhas magnéticas (um padrão no tijupá e outra de governo no passadiço), um radiogoniômetro DP13 e um ecobatímetro NJ-9, fabricado pela Submarine Signal Company, para medição de profundidade.

A manobrabilidade era assegurada por dois lemes compensados e conjugados, controlados por um sistema eletro-hidráulico automático, que proporcionava precisão em operações complexas. Para ancoragem, os navios dispunham de dois ferros tipo Dunn, sistema Hall, com 1.360 kg cada, talingados a duas amarras de sete quartéis, garantindo estabilidade em portos ou durante paradas estratégicas. Para garantir a segurança de suas tripulações em situações de emergência, os navios da Classe Cannon eram equipados com recursos robustos de salvamento. Cada embarcação dispunha de: Uma lancha motorizada a diesel, com capacidade para 24 homens; Quatro balsas de cortiça, capazes de acomodar até 100 homens; Cinco redes flutuantes, com capacidade total para 125 homens. Esses equipamentos asseguravam a evacuação segura da tripulação em caso de danos críticos, refletindo o compromisso da  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) com a preservação de vidas em operações de alto risco. A Classe Cannon foi projetada com um conjunto de armamentos balanceado para enfrentar ameaças aéreas, de superfície e submarinas. Cada navio era equipado com cinco canhões, distribuídos da seguinte forma: Bateria principal: Três canhões de 76,2 mm (3”/50), fabricados pela Michele PP & MFG Co., com alcance máximo de 12.200 jardas (aproximadamente 11.000 metros) e alcance eficaz de 4.000 jardas (aproximadamente 3.650 metros). Esses canhões eram ideais para engajar alvos de superfície e oferecer apoio antiaéreo moderado. Bateria secundária: Dois canhões de 40 mm, montados em reparo duplo, com alcance máximo de 11.000 jardas (aproximadamente 10.000 metros) e alcance eficaz de 2.800 jardas (aproximadamente 2.550 metros), voltados principalmente para defesa antiaérea. Metralhadoras antiaéreas: Oito metralhadoras Oerlikon de 20 mm, com alcance máximo de 4.800 jardas (aproximadamente 4.400 metros) e alcance eficaz de 2.000 jardas (aproximadamente 1.800 metros), amplamente utilizadas contra aeronaves de baixa altitude. Além disso, os navios contavam com um reparo aéreo triplo de tubos lança-torpedos, fabricado pela Nordberg Mfg-Co., projetado para lançar torpedos Bliss Lewitt de 21 polegadas (533 mm). Esse armamento conferia à Classe Cannon a capacidade de enfrentar uma ampla gama de ameaças, desde submarinos até aeronaves inimigas, garantindo sua eficácia em missões de escolta. O primeiro navio da Classe Cannon, o USS Cannon (DE-99), foi comissionado em 26 de setembro de 1943, marcando o início de uma série de embarcações que desempenhariam papéis vitais na Segunda Guerra Mundial. Os seis primeiros navios da classe — USS Cannon (DE-99), USS Christopher (DE-100), USS Alger (DE-101), USS Thomas (DE-102), USS Bostwick (DE-103) e USS Breeman (DE-104) — foram rapidamente alocados para operações no Oceano Atlântico, protegendo comboios mercantes em rotas cruciais entre os Estados Unidos e a Europa. Essas missões, executadas com notável bravura, foram essenciais para manter o fluxo de suprimentos vitais para os aliados, especialmente durante a intensificação da Batalha do Atlântico. Um destaque operacional foi a atuação do USS DE-189, que recebeu a prestigiosa Citação da Unidade Presidencial por sua campanha antissubmarino entre fevereiro e março de 1944, ao largo das Bermudas, no Caribe. Essa condecoração reconheceu a eficiência da Classe Cannon no combate aos U-boats alemães, que representavam uma ameaça constante aos comboios aliados.
Com o comissionamento de mais navios, a Classe Cannon foi distribuída tanto no Atlântico quanto no Pacífico, apoiando operações anfíbias e a proteção de frotas estratégicas. Em 1944, a classe foi incluída no programa Lend-Lease (Lei de Arrendamento e Empréstimo), uma iniciativa americana que fornecia equipamentos militares aos aliados. Nesse contexto, oito contratorpedeiros de escolta foram transferidos para a Marinha do Brasil, com o objetivo de reforçar a proteção de comboios mercantes que transportavam matérias-primas essenciais do Brasil para os Estados Unidos. Esses navios, redesignados pela Marinha Brasileira, desempenharam um papel significativo na defesa das rotas marítimas no Atlântico Sul, fortalecendo a cooperação entre as nações aliadas. . À medida que o conflito se aproximava do fim, a Classe Cannon continuou a demonstrar sua relevância, com seis navios comissionados diretamente para as Forças Francesas Livres, lideradas pelo General Charles de Gaulle, para apoiar as operações complementares à invasão da Normandia.  O último navio da Classe Cannon, o USS Sutton (DE-771), foi lançado ao mar em 6 de agosto de 1944. Nesse momento, a ameaça de submarinos inimigos havia diminuído significativamente, tanto no Oceano Atlântico quanto no Pacífico, devido à superioridade naval aliada e à redução da capacidade operacional da Kriegsmarine alemã e da Marinha Imperial Japonesa. Com base nesse cenário, a US Navy decidiu cancelar a construção dos 44 navios restantes da classe, encerrando a produção após a entrega de 72 unidades. Ao término da Segunda Guerra Mundial a grande maioria destes navios seria colocada na reserva da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Contudo, esses navios encontraram nova vida por meio do Programa de Defesa e Assistência Mútua (MDAP, Mutual Defense Assistance Program), instituído em 1949 para fortalecer as marinhas de nações aliadas durante a Guerra Fria. Sob esse programa, a Classe Cannon foi transferida para diversas forças navais ao redor do mundo, reforçando a cooperação militar internacional.  Em 1950 seis navios seriam cedidos a Marinha da Real da Holanda (RNN), quatro para a Marinha da República da China - Taiwan  (ROCN). Ao longo dos anos seguintes oito seriam transferidos a Marinha Nacional Francesa (Marine Nationale), dois para a Marinha da República da Coreia (ROK), quatro para a Marinha Helênica (ΠΝ), três para a Marinha Militar Italiana (Marina Militare), dois para a  Força de Autodefesa Marítima do Japão (JMSDF), três para a Marinha de Guerra do Peru (MGP), cinco para a  Marinha das Filipinas (PN), dois para a Armada Nacional do Uruguai e por fim um navio para a Marinha Real da Tailândia (RTN).  A maioria dos navios da Classe Cannon transferidos permaneceu em serviço ativo até a segunda metade da década de 1960, quando começaram a ser gradualmente desativados devido ao avanço tecnológico e à introdução de embarcações mais modernas. Nos Estados Unidos, os últimos navios ainda em reserva foram retirados da lista ativa em 1973 e posteriormente sucateados, marcando o fim de sua operação sob a bandeira americana. Notavelmente, a Classe Cannon demonstrou uma longevidade excepcional em algumas marinhas estrangeiras. Em 2018, a Marinha das Filipinas descomissionou o BRP Rajah Humabon (PS-11, ex-USS Atherton DE-169), um dos últimos navios da classe ainda em operação. Surpreendentemente, o HTMS Pin Klao (DE-413, ex-USS Hemminger DE-746), operado pela Marinha Real da Tailândia, permanece em serviço ativo até o presente, em 2025, destacando a durabilidade e a adaptabilidade do projeto da Classe Cannon

Emprego na Marinha do Brasil
No início da Segunda Guerra Mundial, a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão — tornou-se uma preocupação crescente para o governo dos Estados Unidos. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente com a possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias, Dacar (atual Senegal) e outras possessões na África Ocidental. Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação de territórios como a Indochina em 1940 e as Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável na indústria bélica para pneus, vedações e outros componentes. A costa nordeste brasileira, particularmente, adquiriu relevância estratégica devido à sua posição como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Essa localização favorecia o estabelecimento de bases aéreas e portos para o translado de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África, especialmente durante campanhas cruciais como a Operação Tocha (invasão aliada do Norte da África em novembro de 1942). Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, sob a liderança do presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos. Essa colaboração resultou em uma série de acordos estratégicos, com destaque para a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgada pelo Congresso americano em março de 1941. O programa tinha como objetivo fornecer apoio militar às nações aliadas, promovendo a modernização de suas forças armadas para enfrentar as potências do Eixo. No caso do Brasil, o acordo garantiu uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), destinada à aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e equipamentos navais. Na época, as Forças Armadas Brasileiras enfrentavam um estado de quase obsolescência, com equipamentos defasados e uma doutrina operacional militar inadequada para os desafios de um conflito global. Os recursos do Lend-Lease foram cruciais para reequipar e capacitar o Exército, a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil, permitindo que o país desempenhasse um papel ativo na defesa do continente americano e na proteção das rotas marítimas no Atlântico Sul. Um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial foi a campanha de guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare). Submarinos alemães, particularmente os U-boats da Kriegsmarine, intensificaram seus ataques contra a navegação civil no Atlântico Sul a partir de 1941, visando interromper o comércio exterior brasileiro, que transportava matérias-primas essenciais, Ascensão de 1942, após o Brasil declarar guerra à Alemanha, intensificou esses esforços, com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) liderando operações aeronavais para proteger os comboios mercantes. A partir do final de 1942, a Força Aérea Brasileira, equipada com aeronaves especializadas, como os bombardeiros Lockheed Hudson, assumiu uma parcela significativa dessas missões, realizando patrulhas costeiras e ataques a submarinos.

Nesta fase a  Marinha do Brasil enfrentava desafios significativos para contribuir com o esforço de guerra aliado, particularmente na campanha de guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare). A ameaça dos submarinos alemães (U-boats) e italianos no Atlântico Sul, intensificada após a entrada do Brasil no conflito em agosto de 1942, exigia uma frota naval moderna e equipada para proteger os comboios mercantes que transportavam matérias-primas essenciais, como látex, para os Estados Unidos. No entanto, a Marinha brasileira dispunha de recursos limitados, contando apenas com seis navios mineiros da Classe Carioca, construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras, entre as décadas de 1930 e 1940. Esses navios, reclassificados como corvetas após o início do conflito, estavam equipados com sensores e radares adequados para detecção de submarinos, mas seu armamento — um único canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas — era insuficiente para enfrentar os modernos U-boats da Kriegsmarine alemã e os submarinos italianos da Regia Marina. A obsolescência da frota brasileira, tanto em termos de equipamentos quanto de doutrina operacional, demandava uma modernização urgente para que o país pudesse desempenhar um papel efetivo na defesa do Atlântico Sul. Assim dentro dos termos de cooperação, seria determinada a transferência de navios pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo inclusos caça submarinos das Classes PC-461, SC-497 e por fim de oito contratorpedeiros de escolta da classe Cannon. A transferência dos contratorpedeiros de escolta da Classe Cannon representou um marco na modernização da Marinha do Brasil. Esses navios, projetados para missões de escolta costeira e combate antissubmarino, introduziram novos equipamentos, táticas e conceitos operacionais, tornando-se a espinha dorsal da esquadra brasileira durante o conflito. Equipados com sistemas de propulsão diesel-elétrica, que permitiam ajustes graduais de velocidade para acompanhar comboios, os navios da Classe Cannon eram extremamente manobráveis e versáteis, capazes de enfrentar submarinos tanto em operações submersas quanto na superfície. Seu armamento, que incluía canhões de 76,2 mm, metralhadoras antiaéreas Oerlikon de 20 mm e tubos lança-torpedos, conferia-lhes a capacidade de responder a ameaças aéreas, de superfície e submarinas. Em 1º de agosto de 1944, o Contratorpedeiro de Escolta Bertioga (Be-1), ex-USS Pennewill (DE-175), foi entregue à Marinha do Brasil em uma cerimônia realizada na Base Naval de Natal, Rio Grande do Norte, presidida pelo Vice-Almirante Jonas H. Ingram, comandante da Quarta Esquadra da US Navy. O navio foi oficialmente incorporado à Força Naval do Nordeste em 3 de agosto de 1944, por meio do Aviso Ministerial nº 1276, com sua Mostra de Armamento realizada no dia seguinte, 4 de agosto.  Entre 21 de agosto de 1944 e 18 de setembro de 1945, o Bertioga desempenhou um papel crucial em missões de escolta de comboios, operações de caça antissubmarino e apoio ao serviço aéreo de evacuação de tropas americanas provenientes da Europa. Durante esse período, o navio navegou impressionantes 211.977,4 milhas náuticas e permaneceu 921,5 dias no mar, demonstrando sua robustez e confiabilidade. Após o término do conflito, o Bertioga continuou em serviço ativo. Em 29 de dezembro de 1946, por meio do Aviso Ministerial nº 1918, o navio foi incorporado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros da Esquadra, ao lado de outros navios da Classe Cannon. A partir de 1º de janeiro de 1963, passou a integrar o 1º Esquadrão de Contratorpedeiros de Escolta (DivCTE 11). Sua carreira na Marinha do Brasil chegou ao fim em 7 de fevereiro de 1964, quando o Aviso Ministerial nº 219 determinou sua baixa do Serviço Ativo da Armada. A Mostra de Desarmamento foi realizada em 22 de julho de 1964, no Porto do Rio de Janeiro, encerrando quase 20 anos de serviço.
O Contratorpedeiro de Escolta Beberibe (Be-2), ex-USS Herzog (DE-178), foi o segundo navio da Marinha do Brasil a receber esse nome, em homenagem ao rio homônimo em Pernambuco. Construído pelo estaleiro Federal Shipbuilding & Drydock Co., em Newark, Nova Jersey, o Beberibe foi transferido por empréstimo à Marinha do Brasil em 1º de agosto de 1944, durante uma cerimônia realizada na Base Naval de Natal, Rio Grande do Norte. Na ocasião, o comando do navio foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Mário Pinto de Oliveira, que liderou a tripulação em suas primeiras missões. Incorporado à Força Naval do Nordeste, o Beberibe desempenhou missões de escolta de comboios e patrulha antissubmarino no Atlântico Sul até 18 de setembro de 1945, contribuindo para a proteção de rotas marítimas cruciais para o transporte de matérias-primas, como látex, destinadas ao esforço de guerra aliado. Com a reestruturação da Esquadra Brasileira pelo Decreto nº 8.273, de 4 de dezembro de 1945, o Beberibe foi designado para a 2ª Flotilha de Contratorpedeiros, ao lado de outros navios da Classe Bertioga. Em 20 de julho de 1953, o navio foi definitivamente transferido para o Brasil sob os termos do Programa de Assistência Mútua (MDAP, Mutual Defense Assistance Program), que visava fortalecer as marinhas de nações aliadas durante a Guerra Fria. Em 1955, com a padronização dos indicativos de casco da Marinha do Brasil, o Beberibe teve seu indicativo alterado para D-19. No início da década de 1960, foi reclassificado como Aviso Oceânico, com a remoção de seu armamento original, incluindo canhões de 76,2 mm e metralhadoras Oerlikon de 20 mm, e seu indicativo visual foi alterado para U-29. O navio permaneceu em operação até 1968, quando foi desativado e vendido para desmanche, encerrando quase 24 anos de serviço. O Contratorpedeiro de Escolta Bracuí (Be-3), ex-USS Reybold (DE-177), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a ostentar esse nome, em referência ao rio Bracuí, no estado do Rio de Janeiro. Também construído pelo estaleiro Federal Shipbuilding & Drydock Co., em Newark, Nova Jersey, o Bracuí foi transferido por empréstimo à Marinha do Brasil em 15 de agosto de 1944, na Base Naval de Natal. O comando inicial foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Alberto Jorge Carvalhal, que liderou o navio em suas missões durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como o Beberibe, o Bracuí foi integrado à Força Naval do Nordeste, participando de operações de escolta de comboios e patrulhas antissubmarino até o fim do conflito, em 18 de setembro de 1945. Com a reestruturação da Esquadra Brasileira pelo Decreto nº 8.273, de 4 de dezembro de 1945, o Bracuí foi alocado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros. Em 1955, seu indicativo de casco foi alterado para D-23, conforme a nova padronização da Marinha. No início da década de 1960, o navio foi reclassificado como Aviso Oceânico, com a remoção de seu armamento, e seu indicativo visual passou a ser U-23. O Bracuí permaneceu em serviço até 1972, quando foi desativado e vendido para desmanche, encerrando 28 anos de operação.

O Contratorpedeiro de Escolta Bauru (Be-4), ex-USS McAnn (DE-179), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a ostentar o nome em homenagem à progressista cidade de Bauru, no estado de São Paulo. Construído pelo estaleiro Federal Shipbuilding & Drydock Co., em Newark, Nova Jersey, o Bauru foi transferido por empréstimo à Marinha do Brasil em 15 de agosto de 1944, conforme o Aviso Ministerial nº 1326, durante uma cerimônia na Base Naval de Natal, Rio Grande do Norte. O comando foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Sylvio Borges de Souza Motta, que liderou a tripulação em suas primeiras operações. Incorporado à Força Naval do Nordeste em 3 de agosto de 1944, por meio do Aviso Ministerial nº 1276, o Bauru teve sua Mostra de Armamento realizada no dia seguinte, 4 de agosto. Durante a Segunda Guerra Mundial, o navio destacou-se em missões de caça antissubmarino, escolta de comboios e apoio ao serviço aéreo de evacuação de tropas aliadas provenientes da Europa, especialmente no período entre agosto de 1944 e 18 de setembro de 1945. Após o fim do conflito, com a dissolução da Força Naval do Nordeste, o Bauru foi integrado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros e, posteriormente, ao 2º Esquadrão de Contratorpedeiros. Em 5 de junho de 1964, o Bauru foi reclassificado como Aviso Oceânico e transferido para o Esquadrão de Avisos Oceânicos, recebendo o indicativo visual U-28. Ao longo de seus 37 anos, 6 meses e 16 dias de serviço ativo, o navio percorreu 295.428,9 milhas náuticas, totalizando 1.423 dias no mar. Diferentemente dos outros navios da Classe Bertioga, que foram desmanchados após suas baixas, o Bauru recebeu um destino singular: tornar-se o primeiro navio-museu do Brasil. Após uma reforma minuciosa para restaurar seu aspecto da Segunda Guerra Mundial, o Navio-Museu Bauru foi inaugurado em 21 de julho de 1982, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Em 20 de janeiro de 1996, passou a integrar o Espaço Cultural da Marinha, onde permanece até hoje, em 2025, como um símbolo vivo da história naval brasileira.  O Contratorpedeiro de Escolta Baependi (Be-5), ex-USS Cannon (DE-99), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a homenagear a cidade de Baependi, em Minas Gerais. Construído pelo estaleiro Dravo Corporation, em Wilmington, Delaware, o Baependi foi transferido por empréstimo e incorporado à Marinha do Brasil em 19 de dezembro de 1944, na Base Naval de Natal, recebendo o indicativo de casco Be-5. O comando inicial foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Raimundo da Costa, que liderou o navio em suas operações durante o final da Segunda Guerra Mundial. Integrado à Força Naval do Nordeste, o Baependi participou de missões de escolta e patrulha no Atlântico Sul. Após o término do conflito, o navio foi incorporado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros, conforme o Decreto nº 8.273, de 4 de dezembro de 1945. Em 1955, com a padronização dos indicativos de casco, seu indicativo foi alterado para D-23. Em 1963, o Baependi destacou-se durante a chamada Guerra da Lagosta, um conflito diplomático com a França envolvendo a pesca de lagostas na costa do Nordeste brasileiro, demonstrando sua versatilidade em operações de patrulhamento. Em 1965, o Baependi foi reclassificado como Aviso Oceânico, com a remoção de seu armamento original, incluindo canhões de 76,2 mm e metralhadoras Oerlikon de 20 mm, e seu indicativo visual foi alterado para U-27. O navio permaneceu em serviço até 1973, quando foi desativado e vendido para desmanche, encerrando quase 29 anos de operação.
O Contratorpedeiro de Escolta Benevente (Be-6), ex-USS Christopher (DE-100), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a ostentar o nome em homenagem ao rio Benevente, no Espírito Santo. Construído pelo estaleiro Dravo Corporation, em Wilmington, Delaware, o Benevente foi transferido por empréstimo e incorporado à Marinha do Brasil em 19 de dezembro de 1944, na Base Naval de Natal, Rio Grande do Norte, recebendo o indicativo de casco Be-6. O comando inicial foi assumido pelo Capitão-de-Corveta Jorge Campello Maurício de Abreu. Subordinado à Força Naval do Nordeste por meio do Aviso do Estado-Maior da Armada nº 1.896, de 19 de dezembro de 1944, o Benevente integrou a Força-Tarefa 27, participando de operações de escolta de comboios e apoio ao transporte aéreo durante a Segunda Guerra Mundial. Após a dissolução da Força Naval do Nordeste, o navio tornou-se uma unidade solta, subordinada diretamente ao Estado-Maior da Armada. Pelo Aviso Ministerial nº 1.918, de 29 de dezembro de 1945, foi incorporado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros. Em 7 de fevereiro de 1964, foi reclassificado como Aviso Oceânico, recebendo o indicativo visual U-30, conforme o Aviso Ministerial nº 221 e a Ordem do Dia nº 0008/64 do Comando em Chefe da Esquadra. Durante seus quase 30 anos de serviço, o Benevente percorreu 265.846 milhas náuticas e permaneceu 1.132 dias no mar, destacando-se em missões de escolta e apoio logístico durante a guerra. Sua baixa do serviço ativo ocorreu em 22 de dezembro de 1974, conforme o Aviso Ministerial nº 1.394, de 5 de novembro de 1974, com a Mostra de Desarmamento realizada na mesma data. O Contratorpedeiro de Escolta Babitonga (Be-7), ex-USS Alger (DE-101), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a homenagear a Baía de Babitonga, em Santa Catarina. Construído pelo estaleiro Dravo Corporation, em Wilmington, Delaware, teve sua quilha batida em 2 de janeiro de 1943 e foi lançado ao mar em 8 de julho de 1943. Transferido por empréstimo, o Babitonga foi incorporado à Marinha do Brasil em 10 de março de 1945, na Base Naval de Natal, por meio do Aviso Ministerial nº 503A, com sua Mostra de Armamento realizada em 13 de março de 1945. Inicialmente, recebeu o indicativo de casco Be-7, posteriormente alterado para D-16 em 1955, conforme a padronização dos indicativos da Marinha. Subordinado à Força Naval do Nordeste pelo Aviso Ministerial nº 507, de 12 de março de 1945, o Babitonga participou de operações de escolta de comboios e apoio a transporte aéreo no final da Segunda Guerra Mundial. Com a criação do Grupamento Naval do Sul, pelo Aviso Ministerial nº 2.106, de 8 de setembro de 1967, o navio foi a ele incorporado. Durante seu serviço, percorreu 265.846 milhas náuticas e acumulou 1.132 dias no mar. O Babitonga foi desativado em 22 de dezembro de 1974, conforme o Aviso Ministerial nº 1.394, com sua Mostra de Desarmamento realizada na mesma data, sendo posteriormente vendido para desmanche. O Contratorpedeiro de Escolta Bocaina (Be-8), ex-USS Marts (DE-174), foi o primeiro navio da Marinha do Brasil a ostentar o nome em homenagem à serra, rio e vila de Bocaina, no litoral de São Paulo. Construído pelo estaleiro Federal Shipbuilding & Drydock Co., em Newark, Nova Jersey, o Bocaina foi transferido por empréstimo e incorporado à Marinha do Brasil em 20 de março de 1945, na Base Naval de Natal, recebendo o indicativo de casco Be-8. Em 1955, seu indicativo foi alterado para D-22, conforme a padronização da Marinha. No início da década de 1960, o navio foi reclassificado como Aviso Oceânico, com a remoção de seu armamento, e seu indicativo visual passou a ser U-32. O Bocaina participou de missões de escolta e patrulha no Atlântico Sul durante o final da Segunda Guerra Mundial, contribuindo para a segurança do transporte de matérias-primas vitais. Permaneceu em serviço até o início de 1975, quando foi retirado do serviço ativo e alienado para desmanche, encerrando cerca de 30 anos de operação.

Em Escala.
Para representar o Contratorpedeiro de Escolta Bertioga (D-18 Bauru) no período pós-guerra, foi utilizado o kit da Revell na escala 1/249, uma escolha incomum, mas significativa para modelistas que buscam precisão histórica. Este kit, originalmente projetado para representar navios da Classe Cannon, foi adaptado para retratar o Bertioga em sua configuração após 1945, quando o navio foi integrado à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros e, posteriormente, ao 1º Esquadrão de Contratorpedeiros de Escolta (DivCTE 11) da Marinha do Brasil. Para refletir a configuração pós-guerra foram realizadas pequenas alterações em scratch na estrutura da ilha do navio. Essas modificações incluíram ajustes na superestrutura para representar as mudanças feitas pela Marinha do Brasil, como possíveis reconfigurações nos sistemas de radar, antenas de comunicação e layout do passadiço, que diferiam da configuração original. Os decais, produzidos sob encomenda pela Special Signs na escala 1/249, foram essenciais para garantir a autenticidade visual do modelo. 
No período pós-guerra, a Marinha do Brasil adotou um esquema de cores padrão para seus navios, incluindo o Bauru, que foi mantido até sua desativação em 1964. Esse padrão, baseado no sistema de cores Federal Standard (FS), refletia a necessidade de uniformidade estética e funcional, garantindo visibilidade, proteção contra intempéries e conformidade com as práticas navais internacionais da época. O esquema de cores incluía tons específicos para diferentes partes do navio, como casco, superestrutura e convés, projetados para combinar camuflagem residual de tempos de guerra com a estética de tempos de paz. Esse padrão foi aplicado ao Bauru a partir de sua incorporação à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros em 1945 e mantido durante sua reclassificação como Aviso Oceânico em 1964.





Bibliografia : 
- Cannon Class Destroyer Wikipedia - https://enacademic.com/dic.nsf/enwiki/2942971
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/

Northrop F-5E Tiger II

História e Desenvolvimento.
Na década de 1950, a aviação militar experimentava um período de avanços tecnológicos sem precedentes, impulsionado pela Guerra Fria e pela corrida armamentista entre as superpotências. Novas aeronaves de combate alcançavam velocidades, autonomias e capacidades de carga útil muito superiores às das gerações anteriores. Contudo, esses avanços vinham acompanhados de um aumento significativo nos custos de aquisição e operação, o que gerava preocupações tanto para os comandantes militares dos Estados Unidos quanto para os fabricantes de aeronaves. Estes temiam que cortes orçamentários, motivados pelas elevadas despesas, pudessem comprometer suas receitas e limitar a produção de novos modelos. Diante desse cenário, a Northrop Aircraft Corporation, uma das principais empresas aeroespaciais da época, tomou a iniciativa de buscar soluções inovadoras. Em 1956, a companhia formou uma equipe de desenvolvimento liderada por Edgar Schmued, vice-presidente de engenharia e renomado projetista responsável pelo icônico  North American P-51 Mustang, utilizado na Segunda Guerra Mundial, e pelo F-86 Sabre, amplamente empregado na Guerra da Coreia (1950 - 1953). A missão dessa equipe era clara: desenvolver uma aeronave de combate leve que combinasse alto desempenho, manobrabilidade aprimorada e confiabilidade, mas com custos de aquisição e operação significativamente inferiores aos dos caças da geração vigente. Além disso, a Northrop Aircraft Corporation reconheceu que as aeronaves de combate modernas, devido à sua complexidade e alto custo, não poderiam ser substituídas em curtos intervalos, como ocorria com os aviões movidos a pistão nas décadas anteriores. Assim, o projeto incorporou o conceito inovador de "potencial de crescimento projetado", visando garantir uma vida útil superior a vinte anos. Outro princípio fundamental foi o do "custo do ciclo de vida", que buscava otimizar os gastos ao longo de toda a operação da aeronave. Sob a liderança técnica de Welko Gasich, engenheiro-chefe do projeto, decidiu-se que os motores seriam integrados à fuselagem, uma configuração que maximizava o desempenho e a durabilidade. O projeto, oficialmente designado N-156, foi concebido para atender a uma concorrência recém-lançada pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). O objetivo era desenvolver um caça leve para operar em porta-aviões de escolta, já que as aeronaves então em uso nos porta-aviões convencionais excediam as capacidades de lançamento e armazenamento desses navios menores. A flexibilidade do N-156 também era um diferencial, pois o projeto foi planejado para atender não apenas às necessidades da aviação naval norte-americana, mas também a possíveis demandas futuras da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Entretanto, os planos da Northrop enfrentaram um revés quando a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) reavaliou sua estrutura naval, optando pela desativação dos porta-aviões de escolta. Essa decisão impactou diretamente a continuidade do projeto N-156 em sua configuração inicial, exigindo que a Northrop Aircraft Corporation reorientasse seus esforços para adaptar a aeronave a outros contextos operacionais.

O cancelamento da demanda da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para um caça leve destinado aos porta-aviões de escolta representou um significativo revés para a Northrop Aircraft Corporation. Essa decisão comprometeu diretamente os planos de produção em larga escala do projeto N-156, colocando em risco os investimentos realizados. Contudo, a diretoria da empresa demonstrou notável resiliência, optando por reorientar o projeto em duas vertentes distintas: o N-156F, um caça tático leve conhecido como “Tally-Ho”, e o N-156T, uma aeronave de treinamento avançado. O conceito do N-156T rapidamente conquistou o interesse da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que buscava um substituto para os jatos subsônicos Lockheed T-33, utilizados como treinadores. Após avaliações, o N-156T foi selecionado como o treinador padrão da USAF, sendo redesignado como T-38 Talon. O primeiro protótipo do YT-38 Talon realizou seu voo inaugural em 12 de junho de 1959, a partir da Base Aérea de Edwards, na Califórnia. Após um extenso programa de ensaios em voo, a aeronave foi aprovada para produção, resultando na fabricação de 1.158 unidades. As entregas começaram em 1960 e se estenderam até janeiro de 1972. A excelência do projeto foi comprovada ao longo das décadas por meio de sucessivos programas de modernização e retrofit, que mantiveram o T-38 Talon em serviço ativo na missão de treinamento avançado até os dias atuais. Prevê-se que essas aeronaves, que já ultrapassaram cinquenta anos de operação, sejam gradualmente substituídas a partir da segunda metade da década de 2020. Apesar do desinteresse inicial pela versão monoplace do N-156F, a Northrop decidiu, com recursos próprios, continuar seu desenvolvimento. Essa perseverança foi recompensada em um momento de mudanças nas diretivas geopolíticas dos Estados Unidos. No final da década de 1950, o Departamento de Estado (DoS) identificou a necessidade de uma aeronave de combate supersônica multifuncional, de baixo custo de aquisição e operação, destinada principalmente ao mercado de exportação. Essa iniciativa visava fortalecer o Programa de Assistência Militar (MAP – Military Assistance Program), por meio do qual os Estados Unidos forneciam equipamentos de defesa a nações aliadas, consolidando sua esfera de influência durante a Guerra Fria. Essa demanda culminou na criação do “Programa FX”, uma concorrência para a aquisição de aproximadamente 200 aeronaves, com previsão de financiamento para a construção de três protótipos para avaliação. Diversas empresas apresentaram propostas, mas foi o N-156F da Northrop que se destacou. O primeiro protótipo do N-156F realizou seu voo inaugural em 30 de julho de 1959, também na Base Aérea de Edwards. Após um rigoroso programa de avaliação comparativa contra os concorrentes, a aeronave foi declarada vencedora, marcando um marco significativo na história da Northrop Aircraft Corporation e consolidando o N-156F como um sucesso no cenário aeroespacial internacional.
No contexto da Guerra Fria, a Northrop Aircraft Corporation alcançou um marco significativo com o desenvolvimento do caça tático leve designado oficialmente como F-5A, batizado de Freedom Fighter (Combatente da Liberdade). O nome refletia seu propósito estratégico: equipar nações aliadas, especialmente países em desenvolvimento, com uma aeronave acessível e eficaz para garantir sua defesa aérea contra a ameaça do expansionismo soviético. O F-5A foi concebido como uma solução robusta e econômica, alinhada aos objetivos do Programa de Assistência Militar (MAP – Military Assistance Program) dos Estados Unidos, que visava fortalecer a influência geopolítica americana por meio do fornecimento de equipamentos militares. Em 26 de outubro de 1962, a Northrop celebrou a assinatura do primeiro contrato de produção para a fabricação de 200 unidades do F-5A. Ao longo dos anos, o Freedom Fighter tornou-se a principal aeronave de combate oferecida pelo MAP, sendo adotado pelas forças aéreas de nações como Filipinas, Irã, Etiópia, Noruega, Taiwan, Marrocos, Venezuela, Grécia, Turquia, Países Baixos, Coreia do Sul, Formosa e Espanha. Para atender à crescente demanda internacional, a Northrop firmou acordos de produção sob licença com empresas como a Canadair Ltd. (Canadá), Construcciones Aeronáuticas S.A. (CASA, Espanha) e Fokker (Países Baixos), ampliando a presença global do F-5. No final da década de 1960, com o objetivo de manter sua influência militar e política entre os aliados, o governo norte-americano começou a planejar um sucessor para a família F-5A/B. Em 1969, foi lançado o Processo IIFA (Improved International Fighter Aircraft), uma concorrência que convidou oito empresas a apresentarem propostas para uma nova aeronave de combate. Após uma rigorosa avaliação, a Northrop foi declarada vencedora com o modelo F-5A-2, uma evolução significativa do F-5A/B, redesignada como F-5E Tiger II. Esse novo caça foi projetado para superar o desempenho dos caças soviéticos Mikoyan-Gurevich MiG-21, atendendo às exigências de maior potência, manobrabilidade e capacidade de sobrevivência em cenários de combate. O primeiro protótipo do F-5E Tiger II realizou seu voo inaugural em 23 de agosto de 1972, na Base Aérea de Edwards, na Califórnia. Equipado com dois motores General Electric J85-21, que geravam até 5.000 libras de empuxo, o Tiger II apresentava uma fuselagem alongada e ampliada, permitindo maior capacidade de combustível e, consequentemente, maior autonomia. Suas asas foram redesenhadas com extensões de borda de ataque, aumentando a área alar e aprimorando a manobrabilidade. Para enfrentar ambientes hostis, o F-5E incorporava aviônicos avançados, destacando-se a inclusão do radar Emerson Electric AN/APQ-153 – uma inovação significativa, já que os modelos anteriores não possuíam radar. Além disso, o Tiger II podia ser customizado com sistemas de navegação inercial, equipamentos TACAN (Tactical Air Navigation) e contramedidas eletrônicas (ECM), atendendo às necessidades específicas de cada cliente.

Em 6 de abril de 1973, o 425º TFS Esquadrao de Treinamento Tático (Tactical Fighter Training) sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona, receberia o primeiro Northrop F-5E Tiger II de produção. Neste momento seria iniciado o programa de formação de equipes de voo e solo, e também a construção da doutrina operacional e de combate da nova aeronave. Posteriormente os caças bombardeiros Northrop F-5E Tiger II, começaram a ser despachados para o Sudeste Asiático, onde receberiam seu batismo de fogo no conflito do Vietnã, atuando como substitutos dos Northrop F-5A Freedon Fighter nas operações “Skoshi Tiger”, onde se mostrariam muito superiores em termos de performance. Dotando não só a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), mas também diversos esquadrões da Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Além desta nação, seguindo as diretrizes iniciais de seu desenvolvimento, o Northrop F-5E Tiger II, passou a ser oferecido em termos vantajosos através dos programas de ajuda militar,  uma série de países alinhados a política externa do governo norte-americano, recebendo contratos de exportação para Coreia do Sul, Irã, Chile, Brasil, México, Suíça, Malásia, Cingapura, Taiwan, Marrocos, Jordânia, Grécia, Tunísia, Arábia Saudita, Etiópia. Honduras, Indonésia, Quênia, Noruega, Sudão e Iêmen. Neste contexto o 425º TFS (Tactical Fighter Training) foi designado como o esquadrão responsável em ministrar o treinamento e transição para o Northrop F-5E Tiger II de todos os pilotos estrangeiros cujos países tivessem adquirido a aeronave. Desta unidade saíriam centenas de pilotos, que empregariam o pequeno caça bombardeiro em combates reais como na Guerra do Ogaden (entre Etiópia e Somália), e na Guerra Irã X Iraque (1980 - 1988). Durante este processo de formação, observou-se a excelente manobrabilidade da aeronave em combate aéreo, iniciando assim seu emprego em como aeronave especializada para o combate dissimilar (DACT), substituindo os treinadores avançados Northrop T-38 Talon até então em uso, que não eram totalmente adequados a esta missão. Aproximadamente setenta células novas de fábrica, que estavam destinadas a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF) foram absorvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que as destinou aos esquadrões de treinamentos “Agressores”  como os esquadrões 57th, 64th e  65th Esquadroes de Armas de Caça (Fighter Weapons Squadrons) que operavam junto à Base Aérea de Nellis no estado de Nevada.  Vale salientar que a aeronave também seria operada aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) sendo empregadas também no papel de “agressores” em unidades baseadas nas instalações do   Naval Air Station Key West na Florida. A produção do Northrop F-5E e F-5F Tiger II alcançou, até 1987, um total de 1.399 unidades, divididas entre a versão monoplace (F-5E) e a biplace (F-5F). 
Contudo, a partir do final da década de 1980, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) iniciou a substituição gradual do Tiger II pelo General Dynamics F-16 Fighting Falcon, um caça multifuncional de quarta geração que oferecia avanços tecnológicos significativos. Apesar da defasagem em relação às aeronaves mais modernas, o F-5E/F manteve sua relevância devido a características que continuavam a destacá-lo no cenário aeroespacial. O Tiger II apresentava uma combinação única de baixo custo operacional, alta manobrabilidade e uma assinatura radar reduzida, atributos que o tornavam competitivo mesmo em ambientes de combate dominados por caças de quarta geração. Essas qualidades incentivaram diversos operadores a investir em programas de modernização, com o objetivo de prolongar a vida útil das células e atualizar suas capacidades de combate. A Força Aérea da República de Singapura (RSAF) foi pioneira na implementação de um ambicioso programa de modernização para sua frota de F-5E/F. A iniciativa incluiu a integração de tecnologias avançadas. Os resultados foram extremamente positivos, revitalizando a frota de Singapura e demonstrando o potencial do F-5E/F como uma plataforma versátil e adaptável. O sucesso desse programa inspirou outras nações operadoras a seguirem caminhos semelhantes, implementando modernizações que incluíam novos aviônicos, sistemas de guerra eletrônica e armamentos avançados. Os programas de modernização garantiram que o F-5E/F Tiger II permanecesse operacional em diversas forças aéreas até o final da década de 2020, muito além de sua expectativa inicial de vida útil. Países como Brasil, Chile, Tailândia e Taiwan, entre outros, adotaram atualizações que mantiveram o Tiger II relevante em missões de defesa aérea, ataque leve e treinamento avançado. Nos Estados Unidos, o F-5E/F continuou a desempenhar um papel importante na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), especialmente na função de “Agressor”. Nesse papel, as aeronaves simulavam caças adversários em exercícios de treinamento, ajudando a preparar pilotos para enfrentar ameaças reais. Em 2015, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy),adquiriu células usadas do F-5E/F da Força Aérea Suíça (Schweizer Luftwaffe), reforçando sua frota de aeronaves “Agressor”.  O Northrop F-5E/F Tiger II é um testemunho da engenhosidade e da visão da Northrop Aircraft Corporation. Sua capacidade de adaptação, aliada a uma excelente relação custo-benefício, permitiu que a aeronave permanecesse em serviço por mais de cinco décadas em diversos contextos operacionais. Mesmo em um cenário dominado por caças de quinta geração, o Tiger II continuou a provar seu valor, seja como plataforma de combate em forças aéreas de menor orçamento, seja como ferramenta essencial em treinamentos táticos. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB) dispunha de um inventário superior a 1.500 aeronaves militares modernas, das quais a quase totalidade foi recebida a partir de 1942, no âmbito do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de capacidade ofensiva, a Força Aérea Brasileira (FAB) contava com um significativo número de aeronaves de primeira linha, incluindo os renomados caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt e Curtiss P-40 Warhawk, bem como as aeronaves de ataque Douglas A-20 Havoc e North American B-25 Mitchell. Essa combinação de vetores de combate, aliada a modelos destinados a transporte, patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), posicionava FAB como a segunda maior força aérea das Américas e a principal potência aérea do hemisfério sul. Contudo, o surgimento e a consolidação dos motores turbojato em uma nova geração de aeronaves militares rapidamente tornaram obsoletos os caças e bombardeiros de ataque equipados com motores a pistão. Adicionalmente, a substituição acelerada desses modelos por aeronaves a jato nas linhas de produção resultou em uma crescente escassez de peças de reposição no mercado internacional. Apesar das ambições do Ministério da Aeronáutica (MAer) em incorporar modernas aeronaves como os Republic F-84E Thunderjet ou North-American F-86F Sabre, este desejo não se concretizaria em virtude de restrições orçamentárias e de ordem geopolítica. Esta demanda seria atendida a partir de 1953  com a adoção de aeronaves menos capazes como os  Gloster F-8 Meteor e Lockheed F-80C Shooting Star. Esses vetores passaram a constituir o principal componente das unidades de primeira linha da Força Aérea Brasileira (FAB). Contudo no inicio da década de 1960, fadigas estruturais levariam a desativação precoce de todos os jatos ingleses, representando   um severo impacto na capacidade ofensiva e defensiva do país.  Desta maneira a  outrora pujante aviação de caça brasileira se convertera uma simples sombra do que era no começo da década, comprometendo completamente sua eficiência operacional. A situação foi agravada pelo fato de que os caças Lockheed F-80C Shooting Star, responsáveis pela defesa aérea das regiões Norte e Nordeste, começaram a exibir sérios problemas de manutenção, sinalizando a necessidade iminente de sua desativação. Assim no final do ano de 1965,  em resposta a este cenário problemático, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria uma série de estudos visando a análise e incorporação de novas aeronaves de caça.  Durante esse período, a aquisição de aeronaves de combate multifuncionais tornou-se uma prioridade estratégica para fortalecer a defesa aérea e integrar o recém-criado Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA). 

Inicialmente, o governo brasileiro considerou a aquisição dos McDonnell Douglas F-4 Phantom II, amplamente utilizados pelas forças armadas dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. Contudo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS) vetou essa escolha, argumentando que a introdução de um caça tão avançado poderia desequilibrar o poder aéreo na América do Sul. Diante dessa restrição, o Brasil voltou sua atenção para opções mais acessíveis, como os caças Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter. Esses aviões, concebidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (MAP) dos Estados Unidos, eram vistos como uma solução viável para substituir os obsoletos jatos ingleses Hawker Hunter, que equipavam a Força Aérea Brasileira (FAB). A intenção era adquirir pelo menos 12 unidades do F-5A/B para reforçar as capacidades do SISDACTA, que estava em fase de implementação. No entanto, limitações orçamentárias e a necessidade urgente de modernizar a aviação de transporte levaram ao cancelamento desse programa de aquisição, adiando a renovação da frota de caças. Como medida paliativa, no final de 1964, o Brasil firmou um acordo com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) para a cessão de células usadas do jato de treinamento Lockheed T-33A Thunderbird. Essas aeronaves foram convertidas e modernizadas para a versão de ataque ao solo AT-33A-20-LO, permitindo a retomada da operacionalidade da primeira linha de defesa aérea nas regiões Sudeste e Sul do país. Apesar de não serem caças supersônicos, os AT-33A ofereceram uma solução temporária para suprir as necessidades, enquanto a aquisição de aeronaves mais avançadas permanecia em estudo. A lacuna por um interceptador de alta performance só seria plenamente preenchida em 1972, com a chegada dos primeiros caças Dassault Mirage IIIEBR. No entanto, logo a substituição dos Lockheed AT-33A-20-LO, que ainda equipavam unidades como o 1º Grupo de Aviação de Caça e o 1º/14º Grupo de Aviação, tornou-se uma prioridade no início da década de 1970. Com uma provisão orçamentária mais robusta, o governo brasileiro lançou, em meados da década, uma concorrência internacional para a aquisição de pelo menos 30 aeronaves de combate multifuncionais. Essa iniciativa atraiu propostas de diversos fabricantes globais. Entre os modelos apresentados estavam Spect BAE Jaguar: Um caça-bombardeiro anglo-francês, conhecido por sua versatilidade em missões de ataque ao solo e reconhecimento. BAE Jump Jet Harrier MK-50: Um jato britânico de decolagem e pouso vertical (V/STOL), ideal para operações em bases improvisadas. Aermacchi MB-326K: Uma aeronave italiana de ataque leve, derivada de um treinador avançado, com baixo custo operacional. McDonnell Douglas A-4F Skyhawk: Um jato de ataque leve, amplamente utilizado, conhecido por sua robustez e confiabilidade. Northrop F-5E Tiger II: Uma evolução do F-5A, com motores mais potentes, aviônicos avançados e maior manobrabilidade, projetado para competir com caças soviéticos como o Mig-21.
Neste momento o Ministério da Aeronáutica (MAer) conduziu um rigoroso estudo comparativo entre as propostas apresentadas por fabricantes de diversos países. A escolha recaiu sobre o Northrop F-5E Tiger II, da Northrop Aircraft Corporation, uma aeronave que se destacava por sua versatilidade, manobrabilidade e compatibilidade com os requisitos operacionais e orçamentários do Brasil. Em abril de 1974, o governo brasileiro assinou um contrato de US$ 115 milhões com a Northrop Aircraft Corporation, formalizando a aquisição de 36 células monoplaces F-5E Tiger II e seis biplaces destinadas à conversão e treinamento de pilotos. As aeronaves F-5E foram configuradas com customizações específicas em aviônicos e sistemas de comunicação, atendendo às necessidades e as padronizações  da Força Aérea Brasileira (FAB). Para o treinamento, inicialmente, a versão biplace escolhida seria o F-5F, uma variante do Tiger II projetada para instrução avançada. No entanto, a versão F-5F ainda estava nos estágios finais de desenvolvimento, com previsão de entrada em serviço apenas no final de 1976, o que representava um atraso inaceitável para o cronograma de implementação, o que não poderia ser aceito por seus comandantes. Como solução, optou-se pela aquisição de seis unidades da versão biplace F-5B Freedom Fighter, desenvolvida anteriormente como aeronave de conversão operacional para os caças F-5A. Essa decisão permitiu que o programa de introdução dos novos caças prosseguisse sem comprometer os prazos estabelecidos . Com os detalhes finais do contrato acertados em maio de 1974, foi criada a Comissão de Fiscalização e Recebimento (COMFIREM), responsável por supervisionar a entrega e integração dos caças F-5E Tiger II e F-5B Freedom Fighter. A comissão foi estabelecida na Base Aérea de Palmdale, na Califórnia, pertencente à Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Durante seis meses, uma equipe de pilotos e técnicos brasileiros recebeu treinamento intensivo sob a orientação dos militares do 425º Esquadrão de Treinamento de Caça Tático (425º TFS), originalmente sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona. Esse período foi essencial para capacitar os militares brasileiros na operação e manutenção das novas aeronaves, garantindo a transição suave para o ambiente operacional no Brasil. O translado das aeronaves para o Brasil foi realizado em uma operação cuidadosamente planejada, batizada de Operação Tigre. As aeronaves foram divididas em 11 esquadrilhas, que percorreram uma rota complexa iniciada em Palmdale, na Califórnia. O trajeto incluiu escalas estratégicas em San Antonio (Texas) e Homestead (Flórida), nos Estados Unidos, seguidas por paradas em países da América Central e do Sul, como Porto Rico, Trinidad e Tobago e Suriname. No Brasil, as aeronaves passaram por Belém, Anápolis e Rio de Janeiro antes de serem distribuídas às unidades operacionais. A primeira entrega ocorreu em 6 de março de 1975, com a chegada das aeronaves F-5B Freedom Fighter. As unidades monoplaces F-5E Tiger II começaram a ser recebidas em junho do mesmo ano, com o processo de entrega concluído em fevereiro de 1976. 

Essa operação marcou um momento histórico para a Força Aérea Brasileira (FAB), consolidando a introdução de um caça supersônico moderno e versátil, capaz de atender às demandas de defesa aérea e ataque leve. Como a pista da Base Aérea de Santa Cruz (BASC) no Rio de Janeiro - RJ, estava passando por obras para prolongamento para poder operar os novos jatos supersônicos, as células já então incorporadas, passaram a operar a partir da Base Aérea do Galeão (BAGL) também no Rio de Janeiro, efetuando também missões de treinamentos nas cidades São Jose dos Campos e Guaratinguetá, no interior do estado de São Paulo.  A chegada dos caças Northrop F-5E Tiger II à Força Aérea Brasileira (FAB) em 1975 marcou um capítulo significativo na história da aviação militar do país. Essas aeronaves, designadas com as matrículas FAB 4820 a 4835, foram distribuídas estrategicamente entre duas unidades operacionais: o 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvC), sediado na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e o 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv – Esquadrão Pampa), localizado na Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul. Cada unidade recebeu 12 aeronaves, com o 1º GAvC alocando suas células aos esquadrões 1º/1º GAvC (Senta a Pua) e 2º/1º GAvC (Rompe Mato). A introdução do F-5E Tiger II representou um salto tecnológico para a Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo a substituição de aeronaves mais antigas, como os jatos de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante (uma versão licenciada do italiano Aermacchi MB-326) e os últimos Lockheed AT-33A Thunderbird, que já não atendiam às exigências de um cenário de defesa aérea em evolução.  Além tecnologia embarcada de caças de terceira geração, o  F-5E Tiger II  oferecia desempenho superior em velocidade, manobrabilidade e capacidade de combate, consolidando-se como um vetor moderno e versátil para missões de interceptação, ataque leve e defesa aérea. Sua capacidade de operar em velocidades supersônicas, aliada a aviônicos avançados, como o radar Emerson Electric AN/APQ-153, e por fim o emprego do misseis ar ar AIM-9B Sidewinder permitiu à Força Aérea Brasileira (FAB) maior precisão em operações de combate. Além disso, o F-5E foi a primeira aeronave na frota da Aeronáutica equipada com um sistema de reabastecimento em voo (REVO), uma capacidade estratégica que ampliava o alcance e a autonomia das missões. Em maio de 1976, a Força Aérea Brasileira (FAB) realizou sua primeira operação de reabastecimento em voo, um marco histórico para a aviação militar brasileira. A missão ocorreu sobre o litoral do Rio de Janeiro, envolvendo dois caças F-5E Tiger II do 1º GAvC (Senta a Pua), que foram reabastecidos por um Lockheed KC-130H Hercules. 
Seriam ainda recebidos, seis narizes fotográficos idênticos aos utilizados pelos Northrop RF-5E Tiger II de reconhecimento. Esses equipamentos, projetados para missões de reconhecimento aéreo, poderiam ser acoplados às aeronaves para capturar imagens de alta resolução. No entanto, a complexidade de configurar e operar esses narizes revelou-se um desafio logístico. Como resultado, seu uso pelas unidades de caça foi limitado e de curta duração. Em 28 de maio de 1982 no transcorrer da guerra das Falklands - Malvinas, durante a Operação Black Buck 6, um Avro Vulcan B.2, matrícula XM597, da RAF, partiu da Ilha de Ascensão para atacar instalações argentinas nas Malvinas. Após completar sua missão, a aeronave enfrentou problemas técnicos com sua sonda de reabastecimento em voo, o que a impediu de retornar à base. O SISDACTA detectou a aproximação do Vulcan, que voava a alta altitude (cerca de 40.000 pés) e sem identificação clara, o que acionou os protocolos de defesa aérea.  Dois caças F-5E Tiger II do 1º GAvC, decolaram em caráter de urgência para interceptar a aeronave não identificada, próximo ao litoral do Rio de Janeiro os pilotos brasileiros estabeleceram contato visual com o bombardeiro. Seguindo ordens do comando, os F-5E escoltaram a aeronave até o Galeão, mantendo uma formação tática para garantir a segurança da operação. O Vulcan pousou com segurança às 08:45 (horário local), com sua tripulação de cinco militares britânicos sendo recebida por autoridades brasileiras. Em meados da década de 1980 seria feita a aquisição de mais vinte e duas aeronaves, agora se tratando de células usadas, visando assim repor perdas ocasionadas por desgaste natural ou acidentes operacionais. O recebimento imediato, destas novas aeronaves possibilitou a concentração de todas as células originais do primeiro lote na Base Aérea de Santa Cruz dotando o 1º e 2º Grupo de Aviação de Caça, destinando as "novas" aeronaves ao 1º/14º Grupo de Aviação – Esquadrão Pampa, baseado na cidade Canoas no estado do Rio Grande do Sul.  Em 1997 os dois lotes dos caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, começaram a receber a integração para a operação com os modernos mísseis israelenses Rafael Python III em substituição aos já obsoletos AIM-9B Sidewinder,  devolvendo a aeronave uma capacidade adequada para emprego em missões de combate ar ar. Posteriormente  este processo abrangeu também a homologação para o emprego do míssil ar ar de fabricação nacional o Mectron MAA-1 Piranha. No final da década de 1990, a Força Aérea Brasileira iniciaria estudos visando a modernização de toda a sua frota de caças Northorp F-5E Tiger II, projeto este que seria conhecido como F-5BR. Com este programa sendo iniciado em 2003 pela Embraer S/A em parceria com a empresa israelense Elbit Systens, com as últimas células modernizadas entregues no início de 2013, possibilitando assim estender a vida útil das aeronaves até meados da década de 2020.

Em Escala.
Para representarmos o Northrop F-5E Tiger II matricula "FAB "4837"  pertencente ao 1º Grupo de Aviação de Caça, empregamos o antigo kit da Monogram, na escala 1/48,  que infelizmente apresenta suas linhas em alto-relevo, sendo na época a única opção disponível (hoje sem dúvida o novo modelo do fabricante AFV representa a melhor opção em termos de detalhamento e linhas em baixo relevo). Para representar com fidelidade a versão brasileira do F-5E, foram realizadas adaptações específicas no modelo, incluindo a adoção de uma barbatana dorsal, confeccionada em plasticard (folha de poliestireno) e integrada à fuselagem, por fim incluímos a sonda de reabastecimento em voo (peça em resina). A pintura e as marcações foram aplicadas utilizando decais do conjunto Set 48/03 da FCM Decals, uma marca reconhecida pela qualidade na reprodução de insígnias brasileiras.

O esquema de cores tático do tipo Southeast Asia, baseado no padrão Federal Standard (FS), foi aplicado a todos os caças Northrop F-5E Tiger II recebidos pela Força Aérea Brasileira (FAB) entre 1975 e 1976. Inspirado na padronização norte-americana utilizada durante a Guerra do Vietnã, esse esquema de pintura foi projetado para oferecer camuflagem eficaz em ambientes tropicais e florestais, combinando tons de verde, marrom e cinza para reduzir a visibilidade da aeronave em operações de baixa altitude. Essa pintura permaneceu inalterada até o início dos anos 2000, quando o programa de modernização para a variante F-5EM introduziu um novo esquema de cores, mais adequado às demandas operacionais contemporâneas.


      Bibliografia :
- Os Tiger Afiam suas Garras - Carlos Lorch - Revista Força Aérea Nº3 
- Northop F-5 Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Northrop_F-5
- Aeronaves Militares Brasileira 1916 – 2015 Jackson Flores Jr.
- História da Força Aérea Brasileia , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

M-3A1 White Scout Car

História e Desenvolvimento.
A White Motor Company foi fundada no ano de 1900 na cidade de Cleveland no estado de Ohio, tendo iniciado suas atividades com produção de carros de passeio, sendo seguido pelo lançamento de veículos comerciais leves, como picapes e caminhões. A montadora seria notabilizada também por derivar seu mix de produtos para outros segmentos, produzindo bicicletas, patins, tornos automáticos e máquinas de costura. Após o término da Primeira Guerra Mundial, a empresa decidiria encerrar a produção de automóveis, concentrando-se exclusivamente no segmento de caminhões leves e médio. Decisão esta que mostraria acertada pois nos anos seguintes, a empresa conquistaria 10% de participação em vendas de todos os caminhões fabricados nos Estados Unidos. Este sucesso lhe renderia recursos para ousar se arriscar no promissor mercado militar, que no início da década de 1930 face as tensões geopolíticas na Europa, começava a mostrar tendências de crescimento a curto e médio prazo. Estudos mais elaborados mostravam um potencial nicho de mercado no segmento de utilitários com tração integral, abordando uma aérea com menor concorrência do que a de caminhões convencionais de transporte. Com esta orientação a equipe de engenharia da empresa projetaria um veiculo de pequeno porte com 4X4 montado sobre a plataforma de uma picape civil da montadora, recebendo um sistema de blindagem leve, gerando proteção efetiva contra armas de baixo calibre. Este conceito seria apresentado em maio de 1934 ao Exército dos Estados Unidos (US Army), que demonstraria grande interesse por este veículo, encomendando a montadora um lote de setenta carros, que receberia a designação militar de  M-1 Scout Car. Seu uso operacional descortinaria uma serie de oportunidades de melhorias, que no ano seguinte se materializaria no modelo  M-2 Scout Car. Este novo utilitário apresentava um desing semelhante ao seu antecessor, porém apresentando dimensões maiores, pesando apropriadamente 3,95 toneladas, sendo alimentado por um motor a gasolina de 94 hp (70 kW), que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 80 km/h. Este novo modelo receberia um contrato para produção de vinte carros destinados ao exército.

A partir do ano de fins do ano 1937, ficava cada vez mais evidente que o aumento das tensões politicas motivadas pelos interesses expansionistas da Alemanha Nazista e do Império do Japão, poderiam  as principais potenciais mundiais a ingressarem em larga escala em um novo conflito de ordem mundial. Neste hipotético cenário o governo norte-americano decidiria promover em regime de urgência, uma série de estudos que culminaram na elaboração e execução de um amplo programa de modernização e reequipamento de suas forças armadas. Dentre as principais demandas a ser atendidas em âmbito deste programa estava a necessidade de se promover a consolidação do processo de motomecanizaçao do Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo a aquisição de milhares de veículos de transporte. Neste momento a diretoria da White Motor Company, vislumbraria uma grande oportunidade mercadológica. Assim fazendo uso de recursos próprios esta montadora iniciaria o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte médio com tração integral. Visando a agilidade no desenvolvimento e consequente redução de custos em processos e ferramental, a empresa utilizaria como base, a plataforma e o chassi da camionete civil White Indiana, adicionando a mesma uma estrutura blindada capaz de resistir a armas de baixo calibre. Este novo veículo seria concebido envolvendo o emprego do maior número possível de componentes  automotivos comerciais, concebendo assim ao veiculo um menor custo de aquisição e operação.  O primeiro protótipo designado como  M-2A1 Scout Car, seria apresentado ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em dezembro de 1937, gerando expectativas positivas de operação por parte dos oficiais avaliadores. Este movimento culminaria na  celebração de um contrato para a construção de um pequeno lote de carros para serem avaliados em um estruturado programa de testes de campo. Neste interim melhorias seriam implementadas ao utilitário resultando na versão de produção de série, que receberia a designação de M-3 Scout Car, com este carro estando equipado motor a gasolina Hercules JXD que lhe proporcionava 94 hp de potencia. Este modelo receberia um contrato inicial prevendo a aquisição de sessenta e quatro carros , que deveriam ser entregues em um curto espaço de tempo.
Atendendo ao cronograma previsto em contrato, os primeiros carros White M-3 Scout Car começariam a ser entregues em meados de 1938, com a  7ª  Brigada de Cavalaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), baseada no Forte de Santa Marta no estado do Texas. Este grupamento militar seria escolhido para inicialmente concentrar todos os veículos deste modelo, visando assim estabelecer a doutrina operacional e o consequente processo de aceitação final, a fim de se liberar a distribuição destes utilitários blindados a mais unidades militares mecanizadas. Durante este processo seriam identificadas uma variada gama de modificações e melhorias, que após apresentadas a equipe de engenharia da White Motor Company, culminariam na nova versão designada como M-3A1 Scout Car. As diferenças externas com a versão inicial, se baseavam no  alargamento do corpo frontal sobre os para-lamas, remoção da porta de acesso traseira, inclusão do sistema “unditching roller”  (rolo dianteiro) montado na frente do para-choque para auxiliar na transposição de terrenos íngremes, e por fim adoção de  um trilho na carroceria permitindo o deslocamento por toda carroceria para uma  metralhadora Browning calibre .30 refrigerada a água para autodefesa. Esta nova versão seria submetida novamente a testes campos, recebendo sua consequente homologação operacional, resultando em novo contrato para a aquisição de oitocentos carros, com seu cronograma de entrega as unidades do exército sendo estabelecido entre fevereiro e junho do ano de 1940. Em seguida um primeiro contrato seria celebrado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), com os primeiros carros sendo entregues em agosto do mesmo ano. Paralelamente seriam firmados também os primeiros contratos de exportação, sendo o primeiro realizado com o governo das Filipinas envolvendo cinquenta veículos.

Seu batismo de fogo ocorreria no dia 8 de dezembro de 1941, dez horas após o ataque a Pearl Harbor, quando as forças do  Exército Imperial Japonês invadiriam as Filipinas, com vários White M-3A1 Scout Car sendo empregados pelo  Exército Filipino (Philippine Constabulary) nos esforços de defesa deste arquipélago. Em serviço junto as forças militares norte-americanas os M-3A1 Scout Car veriam combate real durante a Operação Tocha, que  teve lugar em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Norte da África. Já seus primeiros embates no território europeu correriam a partir de julho de 1943, participando da invasão da Sicília na Itália, durante a Operação Husky.  Nestas duas campanhas os White M-3A1 Scout Car seriam empregados por unidades de cavalaria em tarefas de transporte, reconhecimento, triagem e como veículo de comando blindado. Seu perfil operacional confiável que privilegiava a agilidade e velocidade, rapidamente o tornariam popular entre suas equipes. Na campanha do Pacífico os White M-3A1s seriam empregados com restrições junto ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) devido principalmente ao terreno aeronoso ou de mangue das ilhas do pacifico , realizando missões administrativas e de transporte longe do front de combate. Em meados de 1943, relatórios preliminares de experiência em combate real, evidenciavam as falhas do projeto, entre elas a mais grave, que estava baseada no fato de que o veículo possuía sua parte superior aberta o que o tornava muito vulnerável os soldados a ataques aéreos ou emprego de granadas de mãos e coquetéis molotov. Com base nesta deficiência a partir desta das os White M-3A1 Scout Car começaram a ser gradativamente substituídos nas linhas de frente pelos novos carros blindados Ford M-8 Greyhound e M-20 Command Car, com o excedente destes carros sendo mantidos como veiculos destinados a tarefas de transporte e ligação distante do front de combate.
Os White M-3A1 Scout Car,  seriam largamente fornecidos as nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Leand & Lease Act Bill), entre estes China Nacionalista, Inglaterra, Brasil, Canadá e União Soviética (incluindo versões a diesel com motores Buda-Lanova). Durante o conflito , centenas destes utilitários seriam fornecidos também a forças militares não regulares de resistência, como as francesas, belgas, checoslovacas e polonesas. Após o término do conflito, uma grande quantidade deste modelo,  que foram retirados do serviço ativo das forças armadas norte-americanas, seriam exportados para a Austrália, Chile, Colômbia, República Dominicana (que operaria o modelo até o início da década de 1990), Líbano, Laos, Israel, México, Katanga, Noruega, Filipinas, Polônia, Vietnã do Sul, Iugoslávia e Venezuela. Os White M-3A1 Scout Car seriam empregados ainda em batalhas reais durante a Guerra da Coréia (1950 - 1953) e conflitos regionais como Guerra Árabe Israelense em 1948 (com versões modernizadas localmente), Primeira Guerra da Indochina e finalmente  na guerra da Argélia (1954-1962).

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país.  A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo  a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

Entre as maiores demandas das forças armadas brasileiras neste momento, estava a necessidade da implementação de uma real capacidade de mobilidade do tipo motomecanizada, principalmente  no Exército Brasileiro (lembrando que a força terrestre apresentava ainda predominância de característica hipomóvel), principalmente no que tange a veículos de porte médio com tração 4X4. Neste período, a representatividade neste segmento de veículos militares,  restringia-se a poucas unidades do carro alemão Vidal & Sohn Tempo G-1200, que estavam também obsoletos em termos de desempenho. Apesar da previsão de recebimento de grandes volumes de veículos militares utilitários  com tração 4X4,  como os Dodges dos modelos WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57, faltava ainda a ao Exército Brasileiro , a adoção de um veículo utilitário blindado sobre rodas.  Esta necessidade seria atendida em um dos contratos de fornecimento de material militar norte-americano, com a previsão para a cessão  de noventa veículos White M-3A1 Scout Car, um modelo de categoria até então inédita no país. O utilitário apresentava um chassi de camionete, com quatro rodas motrizes de tração permanente, sendo impulsionado por um motor a gasolina Hercules JXD, desenvolvendo cerca de 94 hp de potência. Sua carroceria era composta por uma estrutura blindada em aço que se estendia por toda a carroceria, e podia acomodar até oito soldados totalmente equipados. Dispunha ainda de uma capota removível em lona, para a proteção contra as intempéries, sendo montada sobre três arcos na carroceria (de fácil instalação). Seu para-brisa frontal era do tipo blindado, sendo fixado em um anteparo móvel de aço, visando assim o aumento da proteção aos infantes, criando, porém, limitações de visibilidade para o motorista e chefe do carro. Toda este sistema de blindagem provia proteção adequada contra armas de pequeno calibre, sendo indicados para operação na linha de frente. Para sua autodefesa estava equipado ainda com duas metralhadoras Browning calibre .50, que podiam ser disparadas de qualquer lado do veículo, fazendo uso de um sistema de trilhos existente ao redor do veículo.
As primeiras viaturas deste modelo seriam recebidas no porto do Rio de Janeiro entre agosto e novembro de 1942, totalizando cinquenta e um veículos iniciais, novos de fábrica. Após recebimento, adaptação e treinamento de motoristas e mecânicos,  os  novos White Motors M-3A1 Scout Car,  passariam a ser  distribuídos, sendo inicialmente direcionados as unidades de artilharia leve do campo, para compor as baterias de canhões anti-carro auto rebocados, devendo ser responsáveis por tracionar os recém recebidos canhões norte-americanos M-3 e M-3A1 de 37 mm, atuando também nestes mesmos grupamentos  em atividades de movimentação e transporte das respectivas guarnições do canhões  e munição. Durante toda a Segunda Guerra Mundial, este utilitários seriam extensivamente empregados em exercícios operacionais, se mantendo em prontidão para possível emprego real em combate. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, seria estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Curiosamente os White Motors M-3A1 Scout Car não seriam disponibilizados aos efetivos brasileiros em atuação no front de batalha italiano. Logo após o término do conflito em agosto de 1945, mais trinta e nove carros seriam recebidos compondo o contrato total compromissado anteriormente. Neste época, o Ministério da Guerra promoveria um  amplo programa de reorganização do Exército Brasileiro, envolvendo neste processo alteração na designação de seus principais meios e veículos, e neste contexto os White M-3A1 Scout Car seriam enquadrados como Viatura Blindada de Transporte Pessoal - VBTP.  Sua excelente capacidade de operar em terrenos adversos e transpor obstáculos,  poderia auxiliar em muito nas missões de apoio logístico, sendo assim distribuídas as unidades militares de cavalaria mecanizada, espalhadas por todo território nacional.

Já nesta nova missão, os White Motors M-3A1 Scout Car, por estarem em disponíveis relativamente em grande quantidade, passariam a ser  extensivamente empregados em grandes exercícios operacionais nas duas décadas seguintes, tendo destaque para a grande manobra da "Divisão Blindada", realizada durante o ano de 1968 no interior do estado do Rio de Janeiro. Apesar de não terem sido enviados a Itália para participação das forças brasileiras durante a guerra, os M-3A1 Scout Car seriam operados por militares brasileiros em um cenário de conflagração real, quando veículos antes pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seriam comodatados a ONU (Organização das Nações Unidas), para o empregos das Forças Multinacionais de Paz (UNEF - United Nations Emergency Force) no Egito. O Brasil participaria deste esforço, com vários contingentes de soldados brasileiros sendo enviados ao Oriente Médio para atuar como mediadores no conflito existente entre o Estado de Israel, o Egito, e seus vizinhos árabes a partir do ano de 1956 pela dominância de regiões do Canal de Suez. Estes veículos foram disponibilizados ao Exército Brasileiro nesta região a partir de 4 de fevereiro de 1957, quando os primeiros contingentes nacionais desembarcaram. Já em serviço, estes veículos blindados, foram empregados um amplo espectro missões envolvendo transporte, patrulha de fronteira, suporte a tarefas de limpeza de campos minados no deserto subjacente e de demarcação entre as forças árabes e israelenses. Neste contexto o White Motors M-3A1 Scout Car se tornaria um dos principais meios de transporte blindado leve dos efetivos multinacionais ali dispostos. Com o término da força tarefa e o retorno do ultimo contingente de soldados brasileiros em 1967, este carros seriam devolvidos ao comando da UNEF - SUEZ.
Em fins da década de 1960 os altos custos de manutenção e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de 20 anos), praticamente reduziram a frota dos veículos blindados meia lagarta dos modelos M-2, M-2A1, M-3, M-3A1, M-5 Half Track Car e M-3A1 Scout Car, a pouquíssimas unidades operacionais, debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro. Então a fim de se buscar uma solução de curto prazo que visasse restaurar a capacidade de mobilidade da Força Terrestre de forma adequada, levando ao estudo de alternativas, com os especialistas do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2), passando a conduzir estudos visando a repotencialização da frota dos meia lagarta brasileiros, tendo como principal objetivo atingir o maior nível de nacionalização possível. Apesar de existirem tabus dentro do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, foi decidido dar prosseguimento a esta pauta. Fazendo uso de um carro meia lagarta M-2 do primeiro lote, como protótipo, os trabalhos seriam rapidamente iniciados, com o objetivo crucial de proceder a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo Perkins 6357  de 6 cilindros com 142 hp de potência. Desta maneira em agosto de 1972, o primeiro protótipo repotenciado pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em conjunto com técnicos da Perkins S/A, foi oficialmente entregue a Diretoria de Moto Mecanização (DMM), a fim de ser submetido a exaustivos testes de campo. Após a finalização destes, o protótipo recebeu sua homologação, recebendo então a autorização para a implementação deste programa em todos os veículos desta família ainda em carga no Exército Brasileiro. Esta modernização permitiu a extensão de sua vida útil até o início da segunda metade da década de 1980, quando foram finalmente retirados da ativa e substituídos novo modelos.

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-3A1 Scout Car a serviço do Exército Brasileiro, durante sua participação na Crise do Canal de Suez, fizemos uso do excelente kit da Zvezda na escala 1/35, que apresenta bom nível de detalhamento e facilidade de montagem. Empregamos ainda, decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set UNEF- SUEZ.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), principalmente durante a operacionalização da missão internacional UNEF - SUEZ (United Nation Emergencial Forces). Em uso normal no país, estes veículos empregariam durante toda a sua carreira no Exército Brasileiro o padrão tático de pintura em verde oliva. 

Bibliografia :

- M-3A1 Scout Car  O primeiro 4X4 no EB - Expedito Carlos S. Bastos http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/arq/Art%2096.htm 
- Blindados No Brasil - Volume I - Expedito Carlos S. Bastos 
- M3 Scout Car - Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M3_Scout_Car
- Batalhão Suez - http://www.batalhaosuez.com.br/