KDF Type 82 Kubelwagen na 1º ELO

História e Desenvolvimento.
No inicio da década de 1930, a indústria automotiva alemã depois de longa recuperação após termino da Primeira Guerra Mundial, estava plenamente reestabelecida, ocorre, porém, que equivocadamente as montadoras tinham seu portfólio voltado exclusivamente para o mercado de carros de luxo. Neste período o país atravessa uma grande crise econômica e grande parte da população ainda buscava meios de subsistência, e com raríssimas exceções o alemão comum raramente podia comprar algo além de uma motocicleta básica, e neste contexto a proporção é que havia apenas um carro para cerca de cinquenta habitantes no país. A ascensão ao poder do chanceler Adolf Hitler do partido nazista alemão, iria mudar este cenário completamente, pois seu plano governamental estava focado na recuperação econômica da Alemanha, através de programa de fomento da indústria metal mecânica nacional, e mais importante do que desenvolver o parque industrial era o fortalecimento da economia, levando assim a necessidade de produtos acessíveis ao povo alemão, criando assim um círculo virtuoso na saúde financeira do país. Ciente da grande importância da indústria automotiva em sua política econômica, o chanceler alemão propôs a sua equipe de governo, o desenvolvimento de um carro popular de baixo custo que fosse acessível a maioria da população. Este projeto receberia a denominação oficial de “Volkswagen” (carro do povo), e seu desenvolvimento seria capitaneado pelo renomado engenheiro Ferdinand Porsche. Segundo os parâmetros governamentais exigidos, o novo veiculo deveria poder transportar dois adultos e três crianças a 100 km / h, com um consumo médio de apenas 7 litros a cada 100 km rodados, seu motor deveria ser refrigerado a ar para assim operar normalmente no rigoroso inferno alemão. Seu projeto conceitual e de ferramental deveria ser o mais simples possível, possibilitando um baixo preço de aquisição, não devendo superar os $990 Reichsmark (marcos alemães). Como nesta época o salário médio de um operário alemão não superava os $130 Reichsmark, a aquisição do “Volkswagen” (carro do povo), seria facilitada ao consumidor através de um programa de poupança do governo, que recebeu o nome de “Sparkarte” (caderneta de descontos), no qual o carro seria financiado a módicas prestações. O projeto inicial foi apresentado ao chanceler alemão em 17 de janeiro de 1937, porém necessidades de melhoria no projeto estenderiam seu desenvolvimento até o inicio do ano seguinte, com os primeiros carros de pré produção sendo concluídos apenas no inicio do ano de 1939, com previsão  de que as linhas de produção da Deutsche Arbeitsfront (Frente Trabalhista Alemã) pudessem funcionar a plena capacidade no segundo semestre do ano de 1940.

No entanto, neste mesmo ano os planos de expansão territorial do chanceler alemão, levariam a uma eminente eclosão de uma guerra na Europa, e este planejamento determinaria que todos os recursos industriais até então disponíveis fossem destinados ao esforço de guerra alemão. Assim as linhas de produção da Deutsche Arbeitsfront, ou popularmente agora conhecidas como Volkswagen que até então eram grande instrumento de propaganda da capacidade tecnológica alemã, foram rapidamente integradas a máquina de guerra alemã. A produção em série do carro popular foi interrompida após fabricação de poucas unidades, com as linhas de produção sendo destinadas agora a fabricação e de motores e componentes para veículos militares. Embora Adolf Hitler tenha discutido com Ferdinand Porsche a possibilidade de aplicação militar do Volkswagen em abril de 1937, só em janeiro de 1938 oficiais do alto escalão do Terceiro Reich se aproximaram formalmente do engenheiro, para solicitar o desenvolvimento de um veiculo de transporte militar leve e de baixo custo, que poderia ser operado de forma confiável tanto na estrada quanto fora dela, mesmo nas condições mais extremas de clima, devendo transportar até quatro soldados equipados. O novo veículo deveria ser de fácil construção para pode ser produzido e larga escala, e fonte não oficiais citavam, que o carro fora projetado com uma baixa expectativa de vida útil, sendo mais assim viável proceder a troca por outro novo do que proceder grandes reparos ou manutenções preventivas. Estas exigências resultariam em um veículo extremamente leve, possibilitando assim que leve que dois ou três soldados podiam levanta-lo para trocar um pneu, sem ajuda do macaco. Sua carroceria era composta com chapas fina de aço apresentando relevos estampados para manter a estrutura com carro com suficiente integridade visando suportar os movimentos de torção dos chassis em operações em um ambiente fora de estrada, tipo de terreno este que seria fartamente enfrentado no futuro teatro de operações do Leste Europeu que era desprovido de uma estrutura rodoviária satisfatória.
A equipe do engenheiro Ferdinand Porsche começou a trabalhar no projeto imediatamente, partindo do projeto original do “Volkswagen” (carro do povo) com a aplicação de ligeiras mudanças visando sua militarização, o primeiro protótipo seria apresentado ao comando do Exército Alemão (Wermatch) apenas um mês após a solicitação do pedido de desenvolvimento. Este carro seria submetido a um detalhando programa de testes de campos, que evidenciaram que os reforços estruturais aplicados no chassis original não eram suficientes para suportar as tensões recebidas durante o emprego em terrenos adversos, inviabilizando assim sua utilização militar. A fim de garantir a integridade estrutural e desempenho mínimo aceitável em ambientes fora de estrada (Off Road), do pequeno veículo com tração 4X2, a Porsche envolveria a empresa Trutz, uma experiente construtora de carrocerias militares, com o objetivo de atender a especificação original que previa para o carro um peso máximo de 550 kg vazio e 950 kg quando carregado. Destas alterações emergiria a versão de avaliação final, designada como Type 62, que passaria a ser submetida aos primeiros testes de campo pelo Exército Alemão (Wermatch), a partir de novembro de 1938. Apesar de não dispor de um sistema de tração nas quatro rodas, o veículo mostrou-se muito competente em manobrar seu caminho sobre terrenos acidentados, mesmo em uma comparação direta com versões semelhantes com este tipo de tração já em uso nas forças armadas daquele país, a presença um sistema de diferencial autoblocante produzido pela ZF aliada ao baixo peso do carro compensavam a falta da tração 4X4. Assim aprovado nos testes, um lote de pré-produção com  novas melhorias implementadas foi contratado, com um grande número de veículos sendo entregues a tempo de participarem dos combates ocorridos quando da invasão da Polônia a partir de setembro de 1939. A experiência em um cenario real de combate levaria a modificações e melhorias no projeto, incluindo entre estas a redução da velocidade mínima de 8km/h para 4km/h, permitindo assim o acompanhamento de soldados em marcha a pé. Modificações seriam aplicadas visando a melhoria na capacidade de atuação em ambiente fora de estrada (off road), incluindo a montagem de novos eixos com cubos de redução de engrenagem, que resultaria em um melhor torque, adoção de novos amortecedores reforçados, rodas de 16 polegadas e por fim um e um diferencial de deslizamento limitado, bem como inúmeras pequenas modificações, completaram a especificação. Para refletir as mudanças, o veículo foi rebatizado de Type 82.

A produção em grande escala do Type 82, agora batizado como Kubelwagen (uma abreviação de  Kübelsitzwagen - "carro de balde") teve inicio na planta da Volkswagen em fevereiro de 1940, com sua produção sendo gradativamente estendida a outras linhas de montagem espalhadas pelo pais durante o conflito, pertencentes a Tatra, Mercedes Benz e Opel. Basicamente o chassis, motor, transmissão e suspensão eram fabricados pela unidade industrial da  Stadt des KdF-Wagens (Volkswagen), na cidade Wolfsburg, com a carroceria em aço estampado sendo produzida pela Ambi Budd Presswerke (ABP) em Berlin. Durante todo seu período de produção continua, os Type 82 Kubelwagen foram produzidos sem nenhuma alteração drástica no projeto, sofrendo apenas pequenas modificações, a maioria eliminando partes desnecessárias e reforçando algumas, que se mostraram desiguais para a tarefa. A única alteração significativa seria implementada a partir de março de 1941, quando o veículo passou a contar com o motor mais potente Volkswagen Boxter VW 1.3 com maior potencia e torque que grupo propulsor anterior que fora desenvolvido para a versão anfíbia o Type 166 Schwimmwagen. A produção em larga escala possibilitou equipar as unidades de campo em todos os fronts de atuação, possibilitando testar o modelo em todas as situações deste o gelo e neve no inverno europeu até o calor escaldante do deserto no norte da África.  Os resultados seriam extremante positivos em todos os fronts de batalha, surpreendendo até mesmos aqueles oficiais mais céticos, que inicialmente eram contra o desenvolvimento de um veículo de tração nas duas rodas.. O mais notável é que graças a sua parte inferior do chassi ser lisa e plana, o Kübelwagen se se impulsionava como um trenó motorizado, quando suas rodas afundavam na areia, na neve ou na lama, permitindo que ele acompanhasse os veículos com notável tenacidade. Além disso, o motor refrigerado a ar mostrou-se altamente tolerante com climas quentes e frios, e era menos vulnerável a balas devido à ausência de um radiador. Para começar sob condições de inverno, era necessário um combustível inicial especialmente volátil, contido em um pequeno tanque de combustível auxiliar.
Diversas versões seriam testadas e algumas realmente produzidas em série como o Type 82/1 Rádio, Type 82/2 Sirencar (carro sirene), Type 82/3 Carro de batedor simulado, Type 82/5 picape, Type 82/6 "Tropenwagen" com carroceria de de Fusca e corpo de van box, Type 82/7 Carro de comando, Type 82/8 com carroceria feita em madeira para economizar em escassos recursos siderúrgicos e por fim o Type 87 "Kommandeurwagen, com carroceria de Fusca, equipado com paralamas mais largos para pneus off-road Kronprinz de maior diâmetro  , roda sobressalente montado sob capô (acompanhado de uma lata de gás, uma tomada, um pequeno kit de ferramentas e uma pá). Alguns foram fornecidos a oficiais de alto escalão, que poderiam empurrar praticamente qualquer tipo de terreno com eles, a produção desta versão atingiria 667 carros. Apesar da maciça campanha de bombardeio aliado as fabricas da Volkswagen os Type 82 se mantiverem em produção até os últimos dias antes a rendição alemã, sendo produzidos ao todo 50.435 unidades. Muito depois do fim da guerra, a Volkswagen ressuscitou o design básico de Kübelwagen com o modelo Type 181 em 1969, sendo este veículo, desenvolvido para as Forças Armadas Federais alemãs e mais tarde também produzido para o mercado civil. Embora semelhante em aparência e design, quase nenhuma peça foi intercambiável com o Type 82.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Esta somatória de fatores exporia o país aos ataques do Eixo, através de campanha de torpedeamento de navios da marinha mercante brasileiras por submarinos alemães e italianos, levando a declaração formal de guerra aos países agressores em 22 de agosto de 1942. Isto culminaria da adesão do país ao programa de Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), ss termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e em um possível futuro front de batalha no teatro de operações Europeu que poderia envolver o envio de tropas brasileiras. Conforme o país se preparava para esta contenta através do recebimento de equipamentos e treinamento doutrinário moderno militar, em todo o mundo o conflito avançava rapidamente, ambos os lados estudavam detalhadamente as características de armas e equipamentos capturados ou abandonados em combate. A ideia básica por traz destes programas, era o não só identificar pontos fracos ou fortes destes equipamentos, mas também analisar possíveis avanços tecnológicos que poderiam ser incorporados em regime de engelharia reversa a seus próprios meios bélicos. E neste contexto o Exército Brasileiro também receberia grande parte dos relatórios de inteligência aliados referentes ao material bélico inimigo.

Em novembro de 1943 devido as características peculiares de projeto e motorização do pequeno utilitário alemão, os militares americanos realizaram um programa de testes em vários carros Type 82 Kübelwagen que haviam sido capturados nas batalhas travadas no Norte da África. Este processo de avaliação foi realizado no Campo de Provas do Exército Americano (US Army) em de Aberdeen (Maryland) e resultou em janeiro de 1944 na publicação do Manual Técnico do Departamento de Guerra TM E9-803.  Este documento seria distribuído as tropas norte americanas envolvidas na operação Overlord ( Dia D – Invasao da Europa) que desembarcaria nas praias francesas em 6 de junho do mesmo ano, está açao tinha por objetivo fornecer conhecimento técnico básico aos militares que por ventura poderiam se deparar em campo com estes veículos abandonados, possivelmente por falta de combustível ou devido a pequenos problemas técnicos, e com a ajuda deste manual, poderiam ser colocados em operação como veículos adicionais tão necessários ao deslocamento, principalmente por unidades de paraquedistas. Este manual técnico era tão completo que incluía uma variada gama de informações técnicas para manutenção de campo, além de maneiras de lidar com temperaturas muito baixas. Paralelamente um programa semelhante de avaliação havia sido conduzido na Grã-Bretanha por engenheiros da Humber Car Company, que fazendo uso de um Type 82 Kübelwagen que, também capturado no norte da África após a derrota das tropas de Erwin Rommel, seria dissecado totalmente para esta análise, curiosamente o relatório britânico, foi extremamente desfavorável e desdenhoso sobre o potencial do veículo , e por isso o Type 82 não seria empregado pelas forças britânicas, nos mesmos moldes dos norte-americanos.
Junto as forças americanas mais notadamente junto ao corpo de paraquedistas do Exército Americano (US Army), centenas veículos do modelo Type 82 Kübelwagen, capturados em combate ou simplesmente encontrados após terem sido abandonados pelas tropas alemães em retirada, foram postos em condições plenas de serviço operacional por equipes de manutenção daquele exército, fazendo uso das informações contidas no manual técnico TM E9-803.  Devido a seu desing único, estes carros recuperados foram totalmente repintados no padrão tático do Exército Americano (US Army) visando assim evitar serem confundidos com veículos inimigos pelas tropas aliadas. Aos veículos encontrados ou capturados na Europa se somaram muitos outros trazidos do norte da África que foram capturados após a derrota da divisão Africa Korps, do Exército Alemão (Wermatch), assim aos poucos os Type 82 Kübelwagen passaram a fazer parte do dia a dia das tropas aliadas. Neste mesmo período as primeiras tropas brasileiras começam a chegar no teatro de operações Italiano, perfazendo parte do esforço de guerra do Brasil junto aos aliados na Segunda Guerra Mundial. Além de um contingente de 25.000 do Exército Brasileiro que compunham a Força Expedicionária Brasileira (FEB), foram enviadas a Itália centenas de militares da Força Aérea Brasileira (FAB) que atuariam em duas unidades áreas, uma dedicada a missões de caça e bombardeio e outra a denominada como 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), que fora ativada em 20 de julho de 1944 com o objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em missões de observação de alvos e regulagem de tiro de artilharia. Curiosamente esta unidade seria a operadora do único Type 82 Kubelwagen “Brasileiro”

A história do emprego do Kubelwagen Type 82 pelas forças militares brasileiras tem início em fins de 1944, quando o  Aspirante-Aviador Joel Clapp, piloto de Piper Cub L-4 pertencente a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação da FAB encontrou na base área de San Giorgio (Pistoia) um exemplar do modelo que havia sido capturado por soltados do Exército Americano (US Army) durante a campanha no Norte da África em meados 1943, e  fora trazido até a Itália como troféu de guerra juntamente com outros equipamentos e veículos alemães. Impressionado com o estilo pouco habitual do Kubelwagen quando comparados aos jeeps norte-americanos empregados pela 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), Joel decidiu solicitar ao comandante americano da base área que lhe cedesse o carro para o uso da unidade, o que prontamente lhe foi negado. Entretanto após muita insistência por parte do brasileiro, o oficial da Força Aérea Americana (USAF) no melhor espirito de colaboração com seus novos aliados, decidiu ceder o Kubelwagen Type 82 para emprego como viatura de transporte daquela unidade da Força Aérea Brasileira. De acordo com relatos não oficiais, o Type 82 Kubelwagen já havia sido anteriormente pintado no mesmo padrão dos demais veículos de transporte americano (provavelmente na cor verde oliva ou olive drab), e por isso receberia apenas retoques na pintura incluindo o mesmo emblema nacional aplicado as aeronaves Piper L-4H da ELO (círculo branco com a estrela da FAB ao centro) e a identificação da unidade em branco na traseira com a pintura de uma bandeira do Brasil. Quando da realização de missões externas a base para o transporte dos pilotos as cidades vizinhas, o motorista amarrava uma bandeira brasileira de tecido na frente do veículo, para evitar acidentes frequentes que ocorriam com veículos alemães ou italianos capturados que podiam ser erroneamente alvo de fogo amigo, por isso a veemente necessidade de se identificar como um veículo capturado em uso pelos aliados. 
O veículo apresentava sérios problemas no sistema de freio e a ausência de peças de reposição alemãs não permitia que este defeito fosse solucionado por completo, sendo que muitas vezes era necessário chocar a lateral do carro contra edificações, fazendo o assim reduzir a velocidade por atrito. Estas situações emergenciais trouxeram muitos amassados em sua lataria, lhe rendendo assim o apelido de “Caroço”. Adorado por todos os pilotos e mecânicos da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação da FAB, o Kubelwagen “Caroço” esteve presente em toda a campanha da Itália, acompanhando o deslocamento da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), entre as cidades de  Suviama, Porreta Terme, Montechio Emiglia, Piacenza, Portalbera e finalmente Bergamo, com o termino das hostilidades na Europa o mesmo foi abandonado na Itália  juntamente com demais equipamentos considerados em mau estado ou obsoletos.
Em Escala.
Para representarmos o Type 82 Kubelwagem "Brasileiro" empregamos o kit da Tamiya na escala 1/35, modelo de fácil montagem, porém com carência de detalhamentos. Para se representar a versão empregada pela 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), não há necessidade de se proceder nenhuma alteração. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como  complemento do livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro, adicionamos também uma bandeira brasileira em tecido para cobrir o estepe localizado da parte frontal.


Bibliografia :

- Livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro
Volkswagen Kübelwagen - Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Volkswagen_K%C3%BCbelwagen
- Um jipe chamado Caroço: o Kübelwagen dos brasileiros na Itália - EXTRA

Embraer EMB-312 AT-27 Tucano


História e Desenvolvimento.
No início da década de 1960, a Força Aérea Brasileira estava comprometida com um ambicioso programa de integração nacional. Nesse contexto, quase toda a sua frota de aeronaves Douglas C-47 e Beechcraft C-45 foi empregada, com o objetivo de expandir não apenas as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), mas também de realizar missões de assistência logística e médica nas regiões mais remotas do país. Entretanto, com o passar dos anos e o uso intensivo, essas aeronaves começaram a apresentar desgastes estruturais significativos, o que impactou diretamente nos índices de indisponibilidade da frota. Esse problema foi agravado pelas dificuldades na obtenção de peças de reposição, sinalizando a necessidade urgente de substituir integralmente essa frota. Nesse cenário, o Coronel Ozires Silva apresentou ao comando da Aeronáutica a proposta de desenvolver uma aeronave bimotora nacional de médio porte. Seus esforços começaram a tomar forma em junho de 1965, em colaboração com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos, SP, quando foi lançado o projeto IPD-6504. Este projeto envolvia uma aeronave bimotora de asa baixa, com estrutura metálica, medindo 12,74 m de comprimento, janelas em formato de bolha e capacidade para oito passageiros. A construção do primeiro protótipo foi iniciado em 1967, utilizando motores turboélice Pratt & Whitney PT6A-20, cada um com potência de 550 shp. A aeronave recebeu a designação oficial de YC-95 e foi batizada de "Bandeirante". O protótipo realizou seu primeiro voo em 22 de outubro de 1968 e, após leves ajustes no projeto da aeronave, foi oficialmente apresentado na semana seguinte em uma cerimonia no aeroporto de São José dos Campos (SP), sob a observação de autoridades, imprensa e de um público de 15 mil pessoas. Nesse mesmo ano, o Coronel Ozires Silva e sua equipe iniciaram esforços para buscar parcerias no setor privado nacional para a produção em série da nova aeronave. Apesar das muitas negativas enfrentadas, o Coronel não se deixou desanimar; uma grande oportunidade surgiu durante um encontro inesperado com o presidente Artur da Costa Silva, no qual ele conseguiu convencê-lo a investir no projeto de produção em série. Esse esforço resultou na criação de uma empresa estatal de capital misto, estabelecida na cidade de São José dos Campos, São Paulo, com sua fundação ocorrendo em 19 de agosto de 1969. A nova empresa recebeu o nome de Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), tendo o Coronel Ozires Silva como seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1986. Em 29 de junho de 1970, seu terceiro protótipo  alçou voo, e após modificações surgiria sua versão inicial de produção, o EMB-110, que, em sua versão civil, para até 12 passageiros, e uma maior capacidade de carga presente  no modelo militar C-95.

O Embraer EMB-110 Bandeirante, graças ao seu design conceitual cuidadosamente alinhado às necessidades do mercado-alvo, alcançou rapidamente sucesso comercial, conquistando os primeiros contratos de exportação. A companhia francesa de transporte regional Air Littoral foi seu cliente inaugural. Em 1975, a Embraer celebrou seu primeiro contrato militar com o governo do Uruguai e, no mesmo ano, o EMB-110 consolidou-se no mercado civil norte-americano, tornando-se uma referência no segmento de aviação regional. O êxito comercial do Bandeirante gerou recursos financeiros e avanços tecnológicos que permitiram à estatal brasileira a investir no desenvolvimento de novas aeronaves com maior capacidade e desempenho. Nesse contexto, foi concebido o Embraer EMB-121 Xingu, a primeira aeronave executiva pressurizada da empresa. Embora o Xingu não tenha replicado o sucesso comercial do Bandeirante, sua produção elevou significativamente o conhecimento técnico e a expertise da Embraer. Paralelamente, o Ministério da Aeronáutica (MAer) buscava soluções para otimizar o processo de formação de pilotos militares, que, à época, era estruturado em três fases: treinamento básico com aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, treinamento intermediário com Neiva T-25 Universal e treinamento avançado com jatos Cessna T-37C. Contudo, a operação do Cessna T-37C enfrentava desafios significativos, incluindo altos custos operacionais e problemas crônicos de disponibilidade devido à escassez de peças de reposição, o que comprometia sua eficiência. Diante dessas dificuldades, a Academia da Força Aérea (AFA) iniciou a substituição gradual dos jatos Cessna T-37C pelo Neiva T-25 Universal no treinamento avançado. Embora economicamente viável, essa solução revelou-se inadequada, pois o Neiva T-25 Universal (e suas propostas de atualização) apresentava desempenho significativamente inferior ao necessário para atender aos padrões de formação avançada. Esse cenário foi agravado na mesma década com a introdução no Brasil de aeronaves de alta performance, como os caças franceses Marcel Dassault Mirage IIIEBR F-103E e os norte-americanos Northrop F-5E Tiger II, que demandavam  desde as fases iniciais um treinamento mais sofisticado e qualificado para seus pilotos. A conjugação desses fatores levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a buscar alternativas para atender a essa demanda crescente. Tal necessidade não passou despercebida pela Embraer, que identificou uma oportunidade estratégica para desenvolver soluções que atendessem aos requisitos da Força Aérea Brasileira.
Diante da identificação de uma oportunidade de mercado, a Embraer S/A iniciou estudos para desenvolver uma aeronave voltada ao treinamento militar, atendendo às demandas do Ministério da Aeronáutica (MAer). Na época, as opções disponíveis incluíam aeronaves a jato ou aviões de propulsão convencional equipados com motores turboélice. A análise técnica e econômica apontou que a motorização turboélice oferecia uma melhor relação custo-benefício, especialmente em um contexto de crise internacional do petróleo, que elevava significativamente os custos de combustível e, consequentemente, o custo por hora de voo de treinamento. Em 1977, a Embraer apresentou ao Ministério da Aeronáutica a proposta inicial do EMB-312, uma aeronave projetada especificamente para treinamento militar. A proposta gerou grande interesse, culminando na formalização de um acordo de desenvolvimento em dezembro de 1978. O programa foi oficialmente iniciado em janeiro de 1979, com uma grande equipe de técnicos sendo coordenados pelo talentoso engenheiro húngaro radicado no Brasil, Joseph Kovacks,  marcando assim o início de uma nova fase no portfólio da empresa. Durante 1979, o projeto ganhou forma com a realização de testes aerodinâmicos utilizando modelos em escala radiocontrolados. Ainda no mesmo ano, foi construído um modelo em escala real, equipado com um cockpit funcional para avaliação dos instrumentos de voo. Esses ensaios permitiram a definição dos parâmetros fundamentais do projeto, estabelecendo as bases para a construção do primeiro protótipo. Em março de 1980, a Embraer concluiu a construção do primeiro protótipo, designado YT-27 e registrado com a matrícula FAB 1300. A aeronave foi oficialmente apresentada em uma cerimônia de rollout no dia 19 de agosto de 1980, coincidindo com as comemorações dos 11 anos da Embraer. Na mesma data, o YT-27 realizou seu primeiro voo oficial, marcando um marco significativo no programa. O segundo protótipo, que incorporava melhorias em relação ao primeiro, incluindo a capacidade de portar armamentos, realizou seu primeiro voo em 10 de dezembro de 1980. Infelizmente, essa aeronave foi perdida em agosto de 1982 durante um voo de teste, embora os pilotos tenham conseguido ejetar-se em segurança. Um terceiro protótipo, registrado com a matrícula civil PP-ZDK, voou pela primeira vez em 16 de agosto de 1982. Este protótipo destacou-se por sua estreia internacional no Farnborough Airshow, na Inglaterra, em setembro de 1982, poucos dias após seu primeiro voo. Para realizar a travessia do Atlântico, a aeronave utilizou tanques suplementares de combustível e realizou escalas técnicas.

O Embraer EMB-312 Tucano, designado T-27, destacou-se como uma aeronave de treinamento avançada, incorporando inovações que estabeleceram novos padrões globais para o segmento. Desenvolvido desde sua concepção como um treinador turboélice, o Tucano combinava características operacionais típicas de jatos, oferecendo desempenho superior e eficiência econômica. O EMB-312 introduziu uma configuração de assentos em tandem escalonados, com o instrutor posicionado em um assento mais elevado que o do aluno. Essa disposição eliminava obstruções no eixo longitudinal da aeronave, proporcionando ao instrutor visão frontal desimpedida. Além de reduzir a área frontal da aeronave, essa configuração facilitava a adaptação do cadete ao ambiente operacional de aeronaves de caça. O Tucano foi pioneiro ao incorporar assentos ejetáveis em uma aeronave de treinamento turboélice, um avanço significativo em segurança para a época. Os tripulantes eram protegidos por uma capota transparente de plexiglass, moldada em peça única para evitar distorções óticas, garantindo visibilidade excepcional. Projetado para ser estável em baixas velocidades e altamente manobrável, o EMB-312 atendia às exigências de uma aeronave de treinamento avançado. Sua capacidade de operar com eficiência em diversas condições de voo reforçava sua adequação à formação de pilotos. Além de sua função primária como treinador, o Tucano possuía quatro pontos duros nas asas para cargas externas, permitindo seu uso em missões de treinamento armado, apoio aéreo e ataque ao solo. Essa versatilidade ampliava seu valor operacional. O primeiro protótipo, registrado como YT-27 com a matrícula FAB 1300, foi oficialmente apresentado em 19 de agosto de 1980, durante a cerimônia de rollout em São José dos Campos - SP, que marcou os 11 anos da Embraer. Na mesma data, a aeronave realizou seu primeiro voo, demonstrando desempenho promissor e atraindo atenção internacional. A combinação de desempenho excepcional e baixo custo operacional do EMB-312 logo despertou interesse global, Honduras e Egito foram os primeiros países a encomendar a aeronave. No Egito, o EMB-312 Tucano foi produzido sob licença  pela Arab Organization for Industrialization (AOI), especificamente por meio de sua divisão de aviação, a Helwan Aircraft Factory, uma entidade estatal egípcia responsável por projetos industriais e de defesa, e a produção do Tucano foi parte de um acordo para atender às necessidades da Força Aérea Egípcia e para exportação ao Iraque.
A produção sob licença do EMB-312 Tucano no Egito, realizada pela Arab Organization for Industrialization (AOI) por meio da Helwan Aircraft Factory, representou a primeira iniciativa da Embraer na montagem de aeronaves fora do Brasil. Esse projeto, voltado para atender às demandas da Força Aérea Egípcia e do Iraque, fortaleceu a presença da empresa no mercado internacional de aviação militar, demonstrando sua capacidade de transferência tecnológica e adaptação às exigências de clientes estrangeiros. Em resposta a uma concorrência internacional lançada pela Real Força Aérea Britânica (Royal Air Force) para a aquisição de uma nova aeronave de treinamento básico, a Embraer firmou uma parceria estratégica com a empresa irlandesa Short Brothers PLC. A partir do projeto original do EMB-312, foram implementadas modificações e melhorias, resultando no protótipo do Shorts Tucano TMk1. Este modelo venceu a concorrência, consolidando a reputação internacional da Embraer e levando à abertura de uma terceira linha de produção na Irlanda do Norte. Essa conquista marcou um momento pivotal na projeção global da empresa. Em 1991, a Embraer celebrou outro marco significativo com a assinatura de um contrato para o fornecimento de 80 aeronaves da versão EMB-312F à Força Aérea Francesa (Armée de l’Air). As entregas tiveram início em 1994, reforçando a presença da empresa em mercados europeus exigentes e destacando a versatilidade e confiabilidade do Tucano. A produção em série do EMB-312 Tucano foi encerrada em 1996, com um total de 624 aeronaves entregues para 17 países: Angola, Argentina, Brasil, Colômbia, Egito, França, Honduras, Irã, Iraque, Quênia, Kuwait, Mauritânia, Moçambique, Paraguai, Peru, Reino Unido e Venezuela. Muitas dessas aeronaves permanecem em operação, beneficiando-se de processos contínuos de modernização que garantem sua relevância e funcionalidade por décadas. O Embraer EMB-312 Tucano destacou-se por combinar inovação técnica, versatilidade operacional e competitividade econômica. Suas características pioneiras, como a configuração em tandem escalonada, assentos ejetáveis e capacidade multifuncional, estabeleceram novos padrões para aeronaves de treinamento avançado. A rápida aceitação do Tucano no mercado global e sua longevidade operacional reforçaram a reputação da Embraer como uma referência na indústria aeroespacial, consolidando sua posição como líder em soluções de aviação militar e de treinamento.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O Embraer EMB-312 T-27 Tucano foi desenvolvido com o objetivo de substituir o Cessna T-37C na missão de treinamento avançado da Academia da Força Aérea (AFA), além de promover a incorporação de novas tecnologias de materiais e processos produtivos na indústria aeroespacial brasileira. Este documento detalha o contrato de aquisição, a entrega inicial das aeronaves e o processo de integração do Tucano na AFA. Em outubro de 1980, o Ministério da Aeronáutica (MAer) formalizou um contrato com a Embraer S/A para a aquisição de 118 aeronaves EMB-312 T-27 Tucano, com a opção de compra de adicional 50 aeronaves no futuro. Este acordo, de significativa envergadura, proporcionou à Embraer o financiamento estatal necessário para estabelecer uma linha de produção dedicada ao modelo em São José dos Campos, no interior do estado de São Paulo. A iniciativa fortaleceu a infraestrutura industrial da empresa e consolidou sua capacidade de atender às demandas da Força Aérea Brasileira (FAB). As primeiras oito aeronaves EMB-312 T-27 Tucano destinadas ao Ministério da Aeronáutica (MAer) foram oficialmente entregues em 29 de setembro de 1983, em cerimônia realizada nas instalações da Embraer em São José dos Campos. As aeronaves, matriculadas de FAB 1303 a FAB 1310, receberam uma pintura branca com faixas laranja e matrículas visíveis na fuselagem, inaugurando um novo esquema para aeronaves de instrução.  Após a entrega, foram transferidas em voo para a Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga, também no interior de São Paulo. Na AFA, as aeronaves iniciaram um processo de aceitação técnica e operacional, acompanhado do treinamento de instrutores e multiplicadores. As oito unidades foram alocadas ao 1º Esquadrão de Instrução Aérea (1º EIA), marcando o início da transição para o uso do T-27 Tucano no estágio de treinamento avançado. Com a chegada do T-27, as aeronaves Neiva T-25 Universal, até então utilizadas pelo 1º EIA, foram redistribuídas para o 2º Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA). Esse movimento possibilitou o início da desativação gradual dos treinadores básicos Aerotec T-23 Uirapuru, alinhando a frota da AFA às novas exigências de formação. Nos meses seguintes, a AFA recebeu unidades adicionais do EMB-312, o que permitiu a formação de uma frota suficiente para suportar o treinamento avançado dos cadetes do quarto ano. Essa expansão consolidou o Tucano como a principal plataforma de instrução avançada, aprimorando a qualidade e a eficiência do processo de formação de pilotos.

A partir de 1º de julho de 1984, a  Academia da Força Aérea (AFA) iniciou a operação com o turboélice EMB-312 T-27 Tucano, resultando em impactos imediatos na qualidade do treinamento avançado. A aeronave oferecia desempenho superior em comparação ao Neiva T-25 Universal, combinando alta performance de voo com a capacidade de permitir a correção de erros comuns cometidos por cadetes em formação. Uma das principais inovações do T-27 foi a adoção da configuração de assentos em tandem, em substituição aos assentos lado a lado do Neiva T-25 Universal Com o aluno posicionado no assento frontal e o instrutor atrás, a visibilidade do cadete simulava a experiência de voar sozinho, promovendo maior proatividade, confiança, iniciativa e capacidade de julgamento. Essa configuração expunha os alunos a situações que exigiam independência na tomada de decisões críticas, qualidades essenciais para pilotos de aviação de caça. O T-27 destacou-se por suas características técnicas avançadas, incluindo: Autonomia de voo: Até quatro horas e meia com tanque interno. Manobrabilidade: Excelente desempenho em baixas altitudes. Robustez e confiabilidade: Comandos precisos e ampla margem de manobra. Versatilidade: Capacidade de operar em diversas condições climáticas. Visibilidade: Cockpit com ampla visibilidade, favorecendo o treinamento. Esses atributos tornaram o T-27 Tucano uma plataforma ideal para o treinamento avançado, aprimorando a didática e a eficácia do processo de formação de pilotos.  O Neiva T-27l não apenas apresentava uma performance superior em relação ao seu antecessor, mas também melhora a didática do treinamento de pilotos. Anteriormente, os pilotos voavam em um arranjo de assentos lado a lado, onde os instrutores se situavam ao lado dos alunos. Com a nova configuração em tandem, em que o instrutor ocupa o assento traseiro, a percepção do aluno, sentado à frente, é a de estar voando sozinho. Essa alteração demanda uma postura de maior proatividade, autoconfiança, iniciativa e capacidade de julgamento, expondo o aluno a situações que requerem autonomia na tomada de decisões críticas, uma qualidade essencial para os pilotos da aviação de caça. Esse novo cenário contribuiu significativamente para a futura adaptação dos aviadores ao jato de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante, durante o curso de formação de pilotos líderes da Aviação de Caça, no 1º/4º Grupo de Aviação – Esquadrão “Pacau”. 
Além disso, os conceitos doutrinários do projeto buscavam incorporar características fundamentais para uma aeronave de treinamento básico, como estabilidade em baixas velocidades e alta manobrabilidade. A satisfação dessas demandas resulta em uma aeronave com boas perspectivas de emprego em missões de apoio aéreo aproximado e contra-insurgência (COIN). Esta oportunidade sempre foi considerada pela equipe de projetos da Embraer, que desde o inicio do projeto considerou o emprego de sistemas de armas em sua aeronave, possibilitando assim a aeronaves a portar até 1.000 kg de carga útil em quatro pontos duros nas asas. Atentos a este potencial o comando da Força Aérea Brasileira considerou deste o inicio do desenvolvimento da aeronave o emprego em missões de treinamento armado, apoio aéreo e ataque ao solo. Visando materializar esta opção, tratativas foram feitas junto a Embraer para a aquisição de uma versão customizada para o emprego junto a  2º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação) visando assim substituir as antigas aeronaves em uso naquela unidade. A nova versão receberia a designação de AT-27 (posteriormente A-27), e estava dotada com um visor de tiro fabricado nacionalmente pela empresa paulista DF Vasconcelos S/A, contando com provisão para o emprego de casulos de metralhadoras MAG calibre 7,62 mm, lançadores foguetes SBAT-70/7 e bombas de emprego geral, em quatro pontos fixos sob as asas. A introdução em serviço junto esta unidade proporcionou um grande aumento na capacidade operacional da  2º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação), com a aeronave sendo empregada ativamente missões de treinamento de grande porte, registrando ainda missões de emprego real como aquelas destinadas a repelir na década de 1990 ataques de guerrilheiros colombianos as unidades do Exército Brasileiro, na fronteira Brasil - Colômbia. O êxito da operação da aeronave junto a 2º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação), determinaria a introdução do Embraer AT-27 Tucano junto a unidades de combate de primeira linha como o 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) baseado na cidade de Anápolis – GO, 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvC) Esquadrão Jambock e  1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv) Esquadrão Pampa, onde este modelo de aeronave devido a seu baixo custo operacional seria operado para manter a constante proficiência em voo dos pilotos das aeronaves de alta performance como os franceses Marcel Dassault Mirage IIIEBR - F-103E e norte-americanos Northrop F-5E Tiger II. O Embraer AT-27 Tucano também teve grande aceitação nos países sul-americanos, onde operou com destaque em missões de treinamento e de patrulha do espaço aéreo, sendo importante ferramenta de combate ao narcotráfico neste cenário regional. Já na Força Aérea Brasileira o Embraer AT-27 Tucano seria ainda empregado em missões de ataque a solo e treinamento armado pelo 1º/5º Grupo de Aviação (1º/5º GAv) Esquadrão Rumba a partir de 1994, quanto esta unidade trocou seus bimotores C-95 Bandeirante pela nova aeronave, e após um período de dois anos, foi declarado como Esquadrão de Ataque. 

Nesta unidade os Embraer AT-27 Tucano foram empregados não só em missões de ataque a solo, mas também na formação e adestramento dos demais pilotos que irão fazer uso futuro da aeronave em novas unidades aéreas de caça e ataque. Esta estratégia compunha o planejamento estratégico do programa do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), Este projeto visava atender a um antigo anseio das forças armadas, cujo desejo era a presença das forças armadas brasileiras na Amazônia, com a finalidade de fazer frente às manifestações de líderes internacionais contra os direitos do povo brasileiro sobre esta região. Este programa englobava a construção de uma ampla infraestrutura de apoio à vigilância aérea e comunicação na região amazônica. Como parte do projeto SIVAM, foi construída a infraestrutura necessária para suportar a fixação de enormes antenas de radar, sistemas de comunicação, bem como de modernas aparelhagens eletrônicas. No entanto uma parte fundamental deste programa previa a criação a de um braço armado para a execução de missões de patrulha, interceptação e ataque a solo. Desta maneira foi determinado que o “braço armado” do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) seria composto por três unidades aéreas de caça e ataque que seriam equipadas com os Embraer A-27 Tucano, sendo  1º/3º Grupo de Aviação (1º/3º GAv) Esquadrão Escorpião com base na cidade de Boa Vista (RR) e o 2º/3º Grupo de Aviação (2º/3º GAv) Esquadrão Grifo com base na cidade de Porto Velho (RO) que seriam designados como como guardiões da fronteira norte, e por fim o 3º/3º Grupo de Aviação (3º/3º GAv) Esquadrão Flecha que seria ativado em 11 de fevereiro de 2004 na Base Aérea de Campo Grande no estado do Mato Grosso do Sul. Esta nova unidade aérea tinha por objetivo cobrir uma importante área geográfica que até então estava abrangida pelo sistema de vigilância, mas não dispunha de uma unidade operacional para assim possíveis tráfegos ilícitos nesta região. O Esquadrão Flecha herdaria as aeronaves Embraer AT-27 Tucano que pertenciam a recém extinta 2º Esquadrilha de Ligação e Observação e também pilotos e equipe de apoio e manutenção, estando imediatamente apta a realizar as missões a ele destinados. A eles foi atribuída a complexa missão de prover a vigilância do espaço aéreo amazônico, cumprindo as tarefas operacionais de superioridade aérea, interdição, reconhecimento armado, ligação e observação, apoio aéreo aproximado e controle aéreo avançado. Cada unidade foi dotada inicialmente de oito células do modelo para a realização de suas importantes atividades. Durante anos estas três unidades, tiveram destacada participação nas missões de proteção do espaço aéreo nacional nestas importantes regiões sendo empregas em diversas missões reais, inclusive de interceptação de aeronaves do narcotráfico. Ao todo a Força Aérea Brasileira viria a operar 50 células desta variante voltada a missões de contra insurgência e apoio leve aproximado. 
Toda a experiência obtida neste período veio a contribuir no desenvolvimento do Embraer A-29 Super Tucano, sendo este considerado o sucessor natural do Embraer  A-27 - AT-27 Tucano. A unidade escolhida para ser a pioneira da implementação da nova aeronave  foi o 2º/5º Grupo de Aviação (2º/5º GAv) Esquadrão Joker, que passou a formar toda a doutrina operacional do modelo e a conversão dos pilotos. A partir de 2005 os Embraer AT-27 Tucano começaram a ser substituídos pelos novos Embraer A-29 Super Tucano no 1º/3º Grupo de Aviação (1º/3º GAv) Esquadrão Escorpião, 2º/3º Grupo de Aviação (2º/3º GAv) Esquadrão Grifo e o 3º/3º Grupo de Aviação (3º/3º GAv) Esquadrão Flecha, com este processo perdurando até fins do ano de 2008. Paralelamente as demais unidades operadoras do Embraer AT-27 Tucano acompanharam este processo retirando as aeronaves do serviço ativo até o ano de 2010. Todas estas células foram então Parque de Material de Aeronáutica de Lagoa Santa (PAMALS), onde as aeronaves em melhores estado foram revisadas repintadas e encaminhadas a Academia da Força Aérea (AFA), com as demais células sendo estocadas, encerrando assim a carreira da versão de ataque leve do Embraer Tucano na Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Embraer AT-27 Tucano “FAB 1447 " empregamos o kit em resina produzido pela GIIC na escala 1/48, única opção existente no mercado na época desta montagem, atualmente dispomos de um modelo injetado de melhor qualidade. Fizemos uso de decais presentes no set do T-27 Tucano da De Lima Kits & Dumont Replicas Artesanais para apresentar uma célula operada pelo 1º/3º Grupo de Aviação Esquadrão Escorpião.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura tático aplicado as aeronaves AT-27 empregadas pelas as unidades anteriormente descritas. Nos primeiros anos de operação algumas células foram pintadas no esquema americano de camuflagem tática empregado no Vietnã, sendo posteriormente padronizadas. Vale citar que identificamos aeronaves com a designação A-27, AT-27 e também T-27, sendo estas últimas células pertencentes originalmente a Academia da Força Aérea (AFA), que foram transferidas para o emprego nas unidade do 3º Grupo de Aviação (3º GAv).

Bibliografia :
- Centro Histórico Embraer – T-27 Tucano - http://www.centrohistoricoembraer.com.br
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Guardiões da Fronteira – Eduardo Baruffi Valente – Revista Força Aérea Nº 14
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Morane Saulnier MS-760 Paris no Brasil

História e Desenvolvimento
A empresa construtora de aeronaves francesa Aéroplanes Morane-Saulnier, seria fundada no dia 10 de outubro 1911 pelos empresários Raymond Victor Gabriel Jules Saulnier, Robert Morane e Léon Morane. Todos seus fundadores já possuíam ligação com o meio aeronáutico em atuações anteriores, o que facilitaria a criação e o desenvolvimento da empresa. A primeira aeronave produzida pela nova companhia seria o MS Modelo A, uma versão melhorada de um monoplano fabricado pela antiga empresa de Morane, também conhecida por Morane-Borel. Com esse aeroplano, o piloto esportivo francês Jules Védrines venceria a corrida Paris-Madrid em 26 de maio de 1911. A primeira aeronave a ser totalmente desenvolvida nesta nova estrutura empresarial seria o Morane-Saulnier "Modelo L", detentora de um respeitável desempenho, este modelo de caça de combate teria largo emprego no início da Primeira Guerra Mundial, se tornando o primeiro sucesso comercial da companhia. A equipe técnica da Aéroplanes Morane-Saulnier, trabalharia em conjunto com o engenheiro Roland Garros, no desenvolvimento de um sistema de tiro sincronizado, que permitisse assim disparar uma metralhadora através da hélice. Inicialmente o mecanismo não funcionou bem e muitas vezes a arma causava danos às hélices, entretanto, com a posterior adaptação de uma proteção metálica, o sistema mostrou-se satisfatório, ocasionando uma significativa vantagem nos combates aéreos. A empresa produziu diversos modelos com base nessa concepção, porém em 1915 este conceito de desing se mostraria obsoleto, quando comparado ao desenvolvimento de novos biplanos destinados a missões de caça e bombardeio. Porém o projeto sobreviveria ao término do conflito com o lançamento do modelo Morane-Saulnier L-MS Parasol, um aperfeiçoamento do Modelo L com as asas movidas para cima da fuselagem; o que permitia uma maior visibilidade do piloto. No final da década de 1920 e início da década de 1930, foram desenvolvidas e produzidas diversas aeronaves de combate; tais como a Parasol MS-230 e a MS-315, mas todas eram limitadas no desempenho e foram relegadas para a função de treinamento.

A necessidade de se modernizar toda a sua linha de aeronaves, ocorreria em conjunto com o aumento das tensões políticas na Europa a partir do final da primeira metade da década de 1930, levando a empresa a focar seus investimentos no segmento militar. Estes esforços estavam alinhados ao timing e as necessidades da Força Aérea Francesa (Armée de L´Air), que em meados do ano de 1934 emitiria um requisito para o desenvolvimento e aquisição de uma nova aeronave de caça monoplano de alta performance. Em atendimento a esta demanda a empresa apresentaria o primeiro protótipo do modelo designado como Morane-Saulnier MS.405, com está sendo a primeira aeronave produzida pela empresa na configuração monoplano a contar com asa baixa, cockpit fechado e trem de pouso retrátil. Os ensaios de voo se mostrariam extremamente promissores, e após a implementação de pequenas melhorias o modelo receberia a designação oficial de MS.406, recebendo o primeiro contrato de produção em larga escala para a Força Aérea Francesa (Armée de L´Air). As primeiras células de um contrato inicial de seiscentas aeronaves foram entregues no início do ano de 1939, e representaram um salto qualitativo em termos de capacidade de combate desta força militar, com novos contratos sendo celebrados em seguida, resultando em mais de mil aeronaves entregues. Apesar de ser uma aeronave moderna e alto desempenho para os padrões franceses, o modelo seria facilmente sobrepujado pelos excelentes caças alemães Messerschmitt Bf 109E, e durante os primeiros dias da Batalha da França, mais de quatrocentos Morane-Saulnier MS.406 seriam abatidos em combate, com pelo menos mais cem destes sendo destruídos em solo durante os primeiros bombardeiros alemães. As células restantes seriam deliberadamente destruídas pelo pessoal militar francês em solo, para evitar que os caças caíssem nas mãos inimigas intactas. Durante a ocupação alemã as instalações fabris da empresa seriam empregadas para a produção de aeronaves e componentes destinados a máquina de guerra nazista. Após o término do conflito a empresa voltaria ao controle das famílias Morane e Saulnier , passando a desenvolver e produzir em sua maioria aeronaves de civis de treinamento, entres este o de maior notoriedade comercial o modelo MS. Rallye STOL de quatro lugares, semiacrobático.
No início da década de 1950 grande parte das forças áreas ao redor do mundo já estavam equipadas com aeronaves de combate a jato, e este cenário se repetia na França, onde a Força Aérea Francesa (Armée de L´Air) se ressentia da falta de uma aeronave de treinamento a reação junto a Escola do Ar (Ecole de I´Air). Pois o salto tecnológico existente entre as aeronaves de treinamento a hélice com motor a pistão e os modernos jatos de caça e ataque, além de ser onerosa, causava toda sorte e dificuldade de adaptação dos cadetes devido a enorme diferença de performance entre os tipos. Assim a fim de atender a esta importante demanda seria aberta em 1952 uma concorrência nacional visando a adoção de uma moderna aeronave de treinamento avançado e conversão operacional, com capacidade secundária de ataque a solo movida a reação. Duas propostas seriam apresentadas ao Ministério da Defesa Frances, visando não só atender as necessidades da Força Aérea Francesa (Armée de L´Air), bem como da Aviação Naval da Marinha (Aeronavale), com a Aéroplanes Morane-Saulnier oferecendo o projeto da aeronave MS-755 Fleuret e Avions Potez com seu modelo CM-170 Fouga Magister. O primeiro protótipo com registro de teste francês F-ZWRS da aeronave produzida pela Morane-Saulnier alçaria voo em 29 de julho de 1953. A aeronave monoplano apresentava um moderno desing de cantilever médio baixo lado a lado com uma cauda “T”, sendo motorizado com dois turbo jatos Turbomeca Marboré II. Esta aeronave seria posteriormente submetida a um amplo programa de ensaios de voo comparativo com seu concorrente da Avions Potez., infelizmente para a  Morane-Saulnier o CM-170 Fouga Magister seria declarado vencedor desta concorrência, passando a equipar as forças armadas daquele país como o principal vetor de treinamento avançado e conversão, logrando também grande sucesso internacional. Em março de 1954 o único Morane-Saulnier MS.755 seria desmontado e enviado para Estação da Força Aérea de Begumpet, na Índia, para testes de clima tropical e adequação de treinadores com a Força Aérea Indiana (IAF), sendo posteriormente montado e colocado em condições de voo, causando excelentes impressões por pare dos oficiais daquela arma área, quanto ao possível desempenho da aeronave em missões de treinamento e conversão de pilotos.

Apesar do contratempo causado pela perda desta concorrência governamental, as características básicas do Morane-Saulnier MS-755 Fleuret eram suficientemente promissoras com este sentimento reforçado pelas impressões extremamente positivas emitidas pela Força Aérea Indiana (IAF). Este cenário incentivaria a diretoria da Aéroplanes Morane-Saulnier a dar sequência no desenvolvimento do modelo., visando capacitá-lo para possível atuação no mercado de aeronaves executivas de transporte.  Sob a gestão do renomado engenheiro René Gauthier, o projeto original do MS-755 Fleuret seria alterado e melhorado, visando assim conceder a nova aeronave a capacidade de operar a contento em missões de ligação e transporte leve. As principais alterações estavam baseadas na adoção de uma nova secção dianteira na fuselagem e de uma nacele totalmente redesenhada com a substituição do cockpit com dois assentos lado a lado por outro que abrigava quatro assentos em duas fileiras. Curiosamente o novo projeto agora designado como MS-760 Paris manteria além das excelentes características de voo de seu antecessor, a opção de instalação de armamentos possibilitando também seu possível emprego como treinador militar. O protótipo registrado F-WGVO (F-BGVO), realizou seu voo inaugural em 26 de junho de 1954, os excelentes resultados obtidos no programa de ensaios em voo chamariam a atenção tanto da Força Aérea Francesa (Armée de L´Air) como da Aviação Naval da Marinha (Aeronavale), que buscavam uma aeronave de transporte leve e ligação para a substituição das antigas aeronaves a hélice Nord Noralpha e Nord Norécrin.  Um contrato então seria celebrado junto a estas duas forças armadas, englobando a aquisição de cinquenta células configuradas tanto para missões de ligação quanto para instrução de voo por instrumentos. Os primeiros exemplares de produção ficaram prontos em fevereiro de 1958 e logo foi efetuada a entrega dos primeiros jatos Paris a Aviação Naval da Marinha (Aeronavale). Neste mesmo período a Aéroplanes Morane Saunier identificou o potencial de exportação do Morane-Saulnier MS-760, quer como aeronave destinada ao emergente mercado de aviões executivos, quer como aeronave de instrução para os mercados civis ou militares.
No entanto, diversos fatores conspirariam contra o sucesso do Morane-Saulnier MS-760 Paris no mercado civil, entre estes o lançamento de aeronaves executivas mais modernas, que acabariam ofuscando a aeronave francesa, com suas exportações militares se resumindo apenas ao Brasil e Argentina. Mesmo assim a empresa ainda continuaria os estudos para o desenvolvimento de uma nova versão, e assim em 24 de fevereiro de 1964 alçava voo o MS.760C Paris III, uma nova versão dotada de motores mais potentes e capacidade para seis passageiros, porém o modelo não passaria da fase de protótipo, sendo a produção da família descontinuada em 1967, totalizando apenas duzentas e dezenove exemplares entregues. Entre todos os operadores, podemos destacar a Força Aérea Argentina que operou quarenta e oito células, sendo que dos quais trinta e seis seriam produzidos sob licença em Córdoba pela FMA (Fabrica Militar de Aviones), que inclusive foram empregados em missões reais de combate durante a Revolta Naval Argentina em 1963, sendo utilizados em missões de bombardeio a bases rebeldes, resultando na destruição de várias aeronaves no chão. As últimas células deixaram o serviço ativo na Fuerza Aérea Argentina somente em 2009 após quarenta e oito anos de utilização.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No processo de modernização dos meios da Força Aérea Brasileira em curso na segunda metade da década de 1950, existia a necessidade de se dispor de uma aeronave que atendesse melhor a execução dos serviços de ligação entre as sedes das distintas zonas aéreas e seus comandos, bem como entre essas e a futura capital do país, Brasília localizada no centro oeste do país. Além disso, o Grupo de Transporte Especial (GTE), sentia falta e uma aeronave veloz de pequeno porte para cumprir um dos segmentos de sua atribuição, que era o de transporte de autoridades do governo, com tarefa até então executada pelos já obsoletos aviões a hélice Beechcraft C-45. Com base nestas demandas o Ministério da Aeronáutica, deu início à busca de uma aeronave que proporcionasse maior conforto eficiência e velocidade. No início de 1959, o primeiro protótipo do Morane Saulnier MS-760, já elevado para a versão Paris I, estava envolvido um esforço comercial, realizando uma grande turnê pelos países da América do Sul, e durante a apresentação realizada no Brasil, os oficiais da Força Aérea Brasileira envolvidos neste processo, ficaram impressionados com as características de desempenho do jato biorreator francês. Negociações seriam conduzidas entre o Ministério da Aeronáutica (MAer) e o fabricante, resultando em um contrato para a aquisição de trinta células novas de fábrica configuradas na versão de transporte executivo. As primeiras duas células seriam recebidas desmontadas em fins do mesmo ano, com as demais respeitando um cronograma contratual de duas aeronaves por mês. Com a designação militar C-41 os trinta MS-760 Paris, seriam montados sob a supervisão do fabricante, um a um nas instalações do atual Parque de Material Aeronáutico do Galeão (PqAerGl) no Rio de Janeiro, um trabalho que só foi encerrado no primeiro trimestre de 1961. Após a conclusão do processo de aceitação e treinamento de equipes, os primeiro oito C-41 Paris (ou “Parizinhos” , como rapidamente passaram a ser conhecidos) seriam entregues ao Grupo de Transporte Especial (GTE). As aeronaves seguintes seriam distribuídas a Escola de Aeronáutica (EAer), ao Quartel General da 3º Zona Aérea (QG 3º ZA), a Base Aérea de Belém (BABE), a Base Aérea de Canoas (BACO), a Base Aérea de Recife (BARF) e ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), além de exemplares adicionais para o Grupo de Transporte Especial (GTE). No que se diz respeito aos aviões entregues as bases aéreas e ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP) no Campo de Marte, eles efetivamente seriam colocados a disposição a disposição dos quarteis generais das zonas aéreas em que se encontravam sediados. 

Finalmente na distribuição inicialmente dada aos C-41 Paris, algumas aeronaves seriam colocadas à disposição de grandes comandos e diretorias da Força Aérea Brasileira, com a Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA), o Comando Aerotático Naval e o Comando Aerotático Terrestre. No entanto esta distribuição seria efêmera, e no final de 1961 um estudo elaborado pelo Estado Maior da Aeronáutica (EMAer) decidiria pela concentração dos C-41 Paris na Escola de Aeronáutica (EAer), na Base Aérea de Natal, e no Quartel General da 3º Zona Aérea. Fora considerações operacionais, esta decisão se deveu as pronunciadas necessidades de manutenção da aeronave, que exigia uma ágil linha logistica entre seu parque de apoio e as unidades, responsabilidade esta atribuída ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF). No caso das aeronaves que se destinavam a Base Aérea de Natal, sua ida para o 5º Grupo de Aviação (5º GAv) visava atender uma transitória falta de aviões Douglas B-26B e B-26C Invader naquela unidade, para colaborar com a instrução os aspirantes a aviador. Porém a ausência do emprego de armamentos tornava a aeronave pouca adequada para a formação completa dos cadetes. Em resposta a esta deficiência a equipe de manutenção da Base Aérea de Natal, instalaria cabides subalares para o emprego de bombas de instrução, esta configuração seria possível pois o MS-760 dispunha originalmente desta capacidade. Ademais, esta medida objetivava habilitar para o voo em aeronaves a jato os pilotos mais antigos daquela unidade. Por sua vez as aeronaves lotadas na Escola de Aeronáutica (EAer) desempenhariam o papel de plataforma de adestramento para os oficiais instrutores daquela organização que já dispunham de experiência em aeronaves a jato, bem como dar formação aqueles que não estavam habilitados em voo em aviões com aquele tipo de propulsão.  Finalmente, a exemplo dos C-41 Paris que serviam junto ao Quartel General da 3º Zona Aérea, muitas destas aeronaves ainda se encontravam a disposição de distintos comandos e diretorias que na época se encontravam sediados no Rio de Janeiro.
No que tange as aeronaves entregues ao Grupo de Transporte Especial (GTE), estas permaneceriam em operação nesta unidade por um período bastante breve, pois aferiu se que a autonomia e o alcance do Morane Saulnier C-41 Paris eram menores do que os almejados para o transporte de autoridades, principalmente entre a nova capital federal Brasília (DF) e as cidades de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). Neste contexto elencava-se as peculiaridades no gerenciamento dos sistemas de navegação da aeronave, o que determinava a necessidade de um copiloto, reduzindo assim a capacidade de transporte da aeronave. Porém, o golpe de misericórdia, no que se diz respeito a missão de transporte de autoridades, ocorreria de forma bem visível, quando um C-41 Paris “FAB 2930” que transportava o deputado federal Gilberto de Menezes Cortes, caiu nas vizinhanças da cidade de Nova Lima no estado de Minas Gerais, em 30 de outubro de 1962, durante um voo entre o Rio de Janeiro e Brasília, resultando na morte daquele deputado e de dois tripulantes. Um dos principais fatores que determinaram a queda da aeronave, seria o apagamento dos dois motores do avião. De fato, os Morane Saulnier C-41 Paris não dispunham de um sistema antigelo posicionado ao longo da borda de ataque das asas e da entrada de ar dos motores, em consequência, ao ingressar em zonas propícias a formação de gelo, uma ou ambas as entradas de ar dos motores ganhavam espessas camadas de gelo, que, em seguida eram ingeridas e invariavelmente resultavam no flame out doe motores turbojatos Marboré IIC. Para agravar o quadro, o próprio sistema elétrico da aeronave tornava difícil o reacendimento do grupo motopropulsor, visto que somente o motor direito dispunha de gerador para esta operação. Como resultado deste acidente, já a partir de 1963, os Morane Saulnier C-41 Paris passaram a ser concentrados agora no Quartel General da 3º Zona Aérea e na Escola de Aeronáutica (EAer), respectivamente baseados no aeroporto Santos Dumont e no Campo dos Afonsos.

Muitos dos Morane Saulnier C-41 Paris, pertencentes a estas duas unidades seriam colocadas à disposição de diversos comandos e diretorias, e alguns destes exemplares pertencentes a Escola de Aeronáutica (EAer) continuariam a servir como plataforma de adestramento para instrutores daquele estabelecimento de ensino aeronáutico. A partir de 1964 o Destacamento Precursor da Escola de Aeronáutica - (DPEAer) (embrião da futura Academia da Força Aérea), passaria também a contar com um reduzido número de aeronaves deste modelo para emprego em missões de ligação e transporte. A partir do ano de 1968 as células remanescentes começariam a ser armazenadas junto ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) no Rio de Janeiro, com a possível finalidade de revenda a operadores internacionais. Destas, vinte e cinco aeronaves Morane Saulnier C-41 Paris em melhor estado de conservação que portavam as matrículas FAB 2910, 2912, 2913, 2915 a 2921, 2924, 2927 a 2929, 2931 e 2933 a 2939,  seriam revisadas e preparadas para venda. Este processo se concretizaria em uma oportunidade de negociação junto a empresa francesa Sud Aviation, envolvendo a aquisição de sete aeronaves novas de fábrica do modelo Fouga CM-170 Magister, que seriam empregadas futuramente como aeronaves de demonstração junto a Esquadrilha da Fumaça (EDA) em substituição aos antigos North American T-6 Texan. As aeronaves Morane Saulnier MS-760 Paris antes pertencentes a Força Área Brasileira, seriam então nesta negociação revendidas pela empresa a Força Aérea Francesa (Armée de L´Air) onde permaneceram em operação e missões de treinamento e ligação até o início do ano de 1997.
No entanto este não seria o último capítulo da história dos Morane Saulnier MS-760 Paris na Força Aérea Brasileira, pois em julho de 1969 a Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA) determinaria a transferência de duas aeronaves C-41 Paris para o Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) - Esquadrilha da Fumaça, para a tarefa de apoio aos deslocamentos daquela unidade. De fato, aquela unidade aérea seria a última operadora da Força Aérea Brasileira a empregar este pequeno jato francês. Destas células, a segunda receberia um esquema de pintura chamativo, a semelhança dos utilizados nos aviões de demonstração T-24 Fouga Magister. Nesta tarefa o jato de transporte executivo francês permaneceria em serviço até meados do ano de 1974 como aeronave de apoio da Esquadrilha da Fumaça. Após sua desativação, uma destas célula seria incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (Musal) no Rio de Janeiro. Curiosamente muitas das aeronaves Morane Saulnier MS-760 que anteriormente pertenceram a Força Aérea Brasileira, continuam voando mundo fora em mãos de operadores e colecionadores particulares, especialmente nos Estados Unidos.

Em Escala.
Para representarmos o Morane Saulnier MS-760 Paris C-41 "FAB 2916" durante seu emprego pelo Grupo de Transporte Especial (GTE) fizemos uso do antigo kit produzido pela Aero File na escala 1/72. O modelo disponível reproduz a versão utilizada pela Força Aérea Brasileira não sendo necessário promover nenhuma alteração. Fizemos uso decais fornecidos junto com o kit,  impressos pelo próprio fabricante.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura que foi empregado pelas aeronaves C-41 Paris quando do seu recebimento para emprego no Grupo de Transporte Especial (GTE), variações foram aplicadas em sua carreira operacional, incluindo a adição de marcações de alta visibilidade e um esquema semelhante ao aplicado nas aeronaves Fouga Magister  T-24 da Esquadrilha da Fumaça.


Bibliografia : 
Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr
História da Força Aérea Brasileira por:  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
Morane Saulnier MS-760 Paris-  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Morane-Saulnier_MS.760_Paris

Volkswagen Kombi Picape Militar

História e Desenvolvimento.
O projeto do utilitário leve com tração 4X2 mais famoso, do mundo nasceria na cidade de  Wolfsburg, na Alemanha, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, os termos do acordo de Postdam rezavam que as indenizações as nações aliadas seriam pagas mediante a reconstrução da economia alemã, garantindo assim recursos para que isto concretizasse de forma sustentável. Grade parte do parque fabril da montadora alemã se encontrava parcialmente destruída após os bombardeios de abril de 1945, e após a rendição estas instalações foram capturadas pelos americanos e posteriormente entregues aos britânicos, em cuja zona de ocupação a cidade e a fábrica foram destinadas. As operações de produção da Volkswagen foram colocadas sob o controle de Hirst, nascido em Saddleworth, então um governador militar civil com as forças de ocupação. Trabalhos de reconstrução das fabricas foram iniciados, e já no ano de 1946 a produção seria parcialmente retomada tendo com único produto o modelo VW Sedan. O processo de reconstrução do país demandaria um grande mercado de veículos utilitários de todos os portes, e a empresa vislumbrou neste cenário uma grande oportunidade de negócios. Curiosamente a ideia ou conceito por traz da icônica “Volkswagen Kombi” ou Kombinationsfahrzeug  ("veículo combinado" em alemão), surgiria como fruto da ideia do importador holandês Ben Pon que rabiscou em sua agenda de trabalhos, esboços se um veículo utilitário do tipo perua baseado sobre o chassi do VW Sedan. Esta ideia seria adotada pela diretoria da montadora de imediato, que partiu para construção de um primeiro protótipo, que basicamente apresentava uma pequena cabine montada sobre o motor na parte traseira e uma plataforma de carga na parte frontal, com óbvias simplificações de produção e redução de custos. Testes de campo identificaram uma série de problemas de resistência e fadiga quando do transporte de cargas, inviabilizando o conceito no qual o veículo fora concebido. Neste ponto a empresa partiu para o desenvolvimento de um novo desenho de chassis que suportasse o peso previsto da carga, a solução passaria pela adoção de uma moderna estrutura monobloco, paralelamente uma equipe de projetos da Faculdade Técnica de Braunschweig se empenhava no estudo do desing do veículo, que apesar de ainda apresentar forma pouco convencional, demonstraria uma aerodinâmica melhor que a dos protótipos iniciais com frente reta. Este processo culminaria e um série de alterações no projeto, resultando na versão final em fins do ano de 1949, com o primeiro carro de produção em série ganhando as ruas na Alemanha em março do ano seguinte.

Durante a década de 1950 as vendas continuariam em franca expansão na Europa com um processo de exportação em franco crescimento também, porém no início da década seguinte com o passar do tempo a Kombi já demonstrava algum sinal de “cansaço” em seu visual. Em 1960, a área de desenvolvimento da Volkswagen na Alemanha iniciou o projeto EA114 (Entwicklungsauftrag Nr 114 – em tradução livre, Ordem de Desenvolvimento nº 114), cujo objetivo era desenvolver uma nova geração para a Kombi. Iniciado, o projeto atingiu rapidamente o estágio de protótipo. Entretanto, a avaliação do presidente-executivo Heinrich “Heinz” Nordhoff, responsável também pelo desenvolvimento da primeira geração da Kombi, era de que o modelo em produção teria ainda algum fôlego pela frente. Diante disso, solicitou nesse mesmo ano que o projeto EA114 fosse suspenso temporariamente, só retornado à pauta no final de 1964 com meta planejada para lançamento em três anos, o que acabou ocorrendo em agosto de 1967, já como modelo 1968. Com o lançamento do novo modelo, conhecido como T2, onde “T” significa Transporter, como a Kombi era também conhecida, e “2” significando a segunda geração, veio também a mudança de nome para as versões topo de linha. Até então conhecidas como Micro Bus para o modelo Standard de passageiros e Micro Bus de Luxe, para o modelo mais luxuoso, passou a ser chamada Clipper para modelo Standard e Clipper L, para o modelo de Luxo. Não havia dúvida que a segunda geração da Kombi era uma evolução do modelo original. Mais atualizado tecnicamente, com um novo motor mais potente de 1.600 cm³, e maior estabilidade, trazia ainda uma aparência mais atraente, proporcionando um melhor espaço interno e mais conforto para o motorista. Poucos meses após o lançamento do modelo Clipper, mais precisamente em 12 de abril de 1968, falecia aos 69 anos Heinz Nordhoff, o principal responsável pelo desenvolvimento das duas primeiras gerações da Kombi, causando grande comoção entre os funcionários da Volkswagen, assim como entre a população de Wolfsburg, que formou grandes filas nas ruas da cidade a fim de acompanhar o cortejo fúnebre. Antes disto o corpo foi velado numa das alas da fábrica, onde recebeu as homenagens das dezenas de milhares de funcionários da Volkswagen, e depois passou por suas ruas internas. O esquife foi transportado por uma Kombi Clipper picape, com teto cortado, de acabamento luxuoso, preparada especialmente para a ocasião, que foi seguida por um cortejo de carros pretos.
Após algum tempo modelo T2 no mercado, a Volkswagen percebeu que seu modelo topo de linha, a Clipper L, posteriormente chamada VW Micro Bus de Luxe novamente, perdeu muito o charme do modelo anterior que possuía pintura em duas cores, com o segundo tom pouco acima da linha de cintura, e fazendo um “V” na dianteira. Possuía também várias janelas laterais e pequenas janelas tipo claraboias no teto, junto a um imenso teto solar de lona de correr. Já no novo modelo o segundo tom de cor restringia-se somente à pintura do teto no limite das calhas, as janelas laterais eram panorâmicas e não possuía mais as pequenas janelas tipo claraboia no teto. O teto solar era menor e de chapa, logo acabava ficando mais difícil distingui-la dos modelos inferiores. Diante disso, em 1971, a Volkswagen modificou a pintura do seu modelo topo de linha, estendendo o segundo tom de cor até um pouco acima da linha de cintura assim como era no modelo T1. Também foram introduzidos freios a disco nas rodas dianteiras. E assim, a nova geração T2 seguiu em evolução. Para 1972, ano que marcou o pico da produção total considerando todos os modelos, foram introduzidas algumas modificações, ficando o destaque para as novas lanternas traseiras, maiores e com a luz de ré integrada. As entradas de ar nas colunas traseiras ficaram maiores em função da adoção, como opcional, de um novo motor de 1.700 cm³, assim como a tampa do motor que também ficou maior.  Em função da adoção de novos pneus radiais, o formato dos arcos das rodas dianteiras foi modificado. Novas calotas e rodas mais largas já haviam sido introduzidas ao longo de 1971, assim como freios a disco nas rodas dianteiras. Em 1973, foram introduzidas modificações visando melhorar a segurança. A Kombi ganhou novos para-choques de perfil reto e novos indicadores de direção dianteiros que subiram da parte frontal inferior para as laterais da tomada de ar dianteira, ficando mais visíveis. O emblema “VW” também foi modificado, tendo o diâmetro reduzido. Foi também disponibilizada a opção de transmissão automática. demanda pela segunda geração da Kombi era tamanha que a fábrica de Hannover foi apoiada pela fábrica de Emden desde dezembro de 1967, ou seja, quatro meses após o início da produção. Durante o seu primeiro ano completo de produção, 1968, 228.290 Kombis T2 foram produzidas na Alemanha, superando por uma margem considerável o melhor ano de produção da primeira geração, a T1.

Em fevereiro de 1968, poucos meses após o lançamento da segunda geração, a produção da Kombi alcançou a marca de 2.000.000 de veículos produzidos, tendo o presidente Heinz Nordhoff participado da cerimônia comemorativa realizada na fábrica da Volkswagen dois meses antes de sua morte. A segunda geração da Kombi alemã foi reconhecidamente um grande sucesso, pois a marca de 3.000.000 de veículos produzidos foi alcançada apenas três anos e meio após a marca anterior, em setembro de 1971, e a marca de 4.000.000 alcançada em julho de 1975. A demanda pela segunda geração da Kombi era tamanha que a fábrica de Hannover foi apoiada pela fábrica de Emden desde dezembro de 1967, ou seja, quatro meses após o início da produção. Durante o seu primeiro ano completo de produção, 1968, 228.290 Kombis T2 foram produzidas na Alemanha, superando por uma margem considerável o melhor ano de produção da primeira geração, a T1. Na Europa (e na maior parte do mundo) a Kombi (conhecida como "Transporter", "Type 2", "Kombi" ou mesmo "Combi") foi produzida em sua forma tradicional até final dos anos 1970, quando deu lugar a um utilitário de tração dianteira e motor refrigerado a água, que chegou a ser importado para o Brasil sob os nomes "Eurovan" e "Transporter". Curiosamente, foi o único modelo derivado do Fusca a evoluir além do motor boxer refrigerado a ar (isso excluindo o VW Gol, que possuía apenas o motor em comum). No Brasil A carroceria se manteve basicamente a mesma do modelo original, sendo que a versão vendida entre 1976 e 1996 era uma amálgama entre as "gerações" 1 e 2 da Kombi alemã, única no mundo (como basicamente toda a linha "a ar" da Volkswagen do Brasil). A versão pós 97 na verdade é praticamente o mesmo modelo produzido na Alemanha entre 1972 e 1979 (T2b, Clipper), com porta lateral corrediça, tampa do porta malas mais larga, redução do número de janelas laterais para três em cada lado, além de teto mais elevado, única alteração verdadeiramente "original" feita nessa ocasião.
Apesar de ser descontinuada na Europa face a evolução da tecnologia no segmento de utilitários leves, o modelo ainda podia atender a contento os cenários mercadológicos de países emergentes, onde o principal diferencial se resumia no custo de aquisição e manutenção. No Brasil um dos principais mercados da Volkswagen Kombi, as vendas se mantinham em curva ascendente durante as décadas de 1980 e 1990, neste período apenas pequenas atualizações de ordem cosmética foram implementas nos veículos produzidos no Brasil. No início do novo século as vendas começaram a apresentar uma grande tendência de declínio apontando a necessidade de adequação do produto aos novos tempos. No ano de 2005 seria implementada a mais drástica mudança na VW Kombi, com a adoção de motorização refrigerada a água de e painel de instrumentos semelhante aos automóveis "de entrada" da marca (Gol e Fox). A mudança de motorização, para se adequar aos novos padrões brasileiros de emissões de gases carbônicos, selou, de forma discreta, o fim do motor boxer refrigerado a ar no Brasil. Embora altamente popular no mercado Brasileiro (ainda registrando uma média de vendas de 60.000 unidades ano), as novas legislações de segurança veicular do pais que a partir de 01 de janeiro de 2014, passariam a incluir a obrigatoriedade da adoção de sistemas de freios e ABS e sistema de air bags, fez com que o modelo tivesse sua produção enfim descontinuada no Brasil.  Ao todo foram entregues mais de 1,5 milhão de unidades em 56 anos  de produção da família Volkswagen Kombi no país.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras 
A longeva trajetória da família da Volkswagen Kombi no Brasil, tem início em 1949 quando as empresas Chrysler norte-americana e a Volkswagen alemã firmaram acordo segundo o qual a primeira autorizava suas concessionárias a comercializarem a marca alemã fora dos EUA. Como consequência, naquele mesmo ano a Companhia Distribuidora Geral Brasmotor que já fazia parte da rede de distribuidores da montadora norte americana, adicionalmente assumiu a representação brasileira da Volkswagen em um momento em que a empresa alemã mal começa a despontar no mercado mundial. Em 1951 os primeiros seis VW Sedan ou “Fuscas” nacionais foram montados na planta de São Bernardo. Visando ampliar o portfólio da montadora alemã, a diretoria da Brasmotor resolveu importar um pequeno lote do utilitário VW Kombi. A rápida aceitação grande aceitação do modelo pelo mercado comercial levou a empresa a decidir pela montagem do veículo no país. Os veículos seriam recebidos desmontados na forma de “kits” no sistema popularmente conhecido como “CKD" (Completely Knocked Down), passando a ser montados manualmente nas instalações da empresa no município de São Bernardo do Campo (SP). . Em 1952 chegava a versão picape. Além de ótima área de carga, tinha um compartimento para volumes menores entre a caçamba e o piso inferior. Para todos os tipos de carroceria, o motor era o mesmo de 1.131 cm3, com potência de 25 cv a 3.300 rpm e taxa de compressão de 5,8:1. Os resultamos comerciais logo despertariam a atenção da matriz da montadora alemã, que vislumbraram o enorme potencial do mercado consumidor brasileiro, este cenário levaria a decisão em se estabelecer uma planta industrial no país. Esta decisão se materializaria a partir de março de 1953, em associação ao grupo brasileiro Monteiro Aranha (com 20% do capital), a Volkswagen inaugurou linha de fabricação própria no país, em um galpão alugado no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP), iniciando a montagem de Kombis e Sedans 1200 com componentes importados e apenas 12 operários. Em cinco anos, 2.820 veículos seriam ali construídos, dos quais 552 Kombis, com 25% de conteúdo nacional em peso (20% em valor). Entre os itens de fornecimento local estavam: baterias, pneus, todos os artigos de borracha, vidros, bancos, revestimento interno, material plástico, escapamento e silencioso, frisos decorativos, calotas e toda a fiação elétrica.

Em 1956, antes mesmo da criação do GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística, a empresa alemã iniciou a construção de um complexo industrial junto à via Anchieta, em São Bernardo do Campo – o primeiro fora da Alemanha, onde seriam instaladas as maiores prensas da América do Sul. De lá sairia, em setembro de 1957, o primeiro Volkswagen de produção nacional, a Kombi de passageiros, já com mais de 50% de nacionalização (motor e câmbio eram ainda importados). Como todos os modelos que viriam nos anos seguintes, possuía motor traseiro refrigerado a ar (com bloco fundido em liga leve, quatro cilindros contrapostos e radiador de óleo) e suspensão por barras de torção nas quatro rodas, independentes na dianteira e com semi-eixos oscilantes na traseira. A caixa era de quatro marchas (1ª não sincronizada), os freios a tambor e a direção mecânica. O aproveitamento de espaço era total: três bancos, com nove lugares, acessíveis pelas três portas (duas à frente e uma dupla na lateral direita). Os bancos podiam ser facilmente retirados (eram fixados por borboletas), abrindo 4,8 m³ de espaço para carga (810 kg, ou 925 kg no furgão), que também podia ser alcançado pela ampla tampa de abertura vertical localizada na traseira. O pneu de reserva foi magistralmente escondido por detrás do encosto do assento dianteiro. O carro dispunha de larga prateleira porta-objetos sob o painel e sistema de circulação de ar quente e frio. Estes produtos rapidamente elevariam a Volkswagen do Brasil  S/A ao posto de líder em vendas no mercado nacional automotivo. Neste mesmo período o Exército Brasileiro dispunha em sua frota, um elevado número de veículos leves de transporte de origem norte americana, que eram fruto dos fornecimentos nos termos do acordo Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) durante a Segunda Guerra Mundial. 
Apesar de atender a contento há mais de quinze anos as missões básicas de transporte leve, esta frota sem mostrava envelhecida e apresentava ainda altas taxas de indisponibilidade muito em virtude de problemas na obtenção de peças de reposição importadas, análise preliminares deste cenário indicavam a clara necessidade de substituição de grande parte desta frota de utilitários. Parte da solução para a renovação da frota poderia ser fornecida pela própria indústria automobilística nacional, esta decisão ajudaria a fomentar este segmento bem como possibilitaria a aquisição de um grande número de veículos, devido ao baixo custo de aquisição local. Dentre as montadoras existentes foram selecionados modelos produzidos pelas empresas Willys Overland do Brasil S/A e pela Volkswagen do Brasil S/A. Desta última seriam adquiridos veículos do modelo VW Kombi, com as primeiras entregas ocorrendo em meados do ano de 1961. As primeiras unidades fornecidas da VW Kombi, foram da versão tipo furgão com seis portas, dispostas duas versões: Luxo e Standard para emprego em missões de transporte de pessoal. Este modelo já apresentava a nova caixa de câmbio toda sincronizada e a relação da caixa de redução, melhorando em muito o modal de condução, curiosamente esta versão já atingia um índice de nacionalização atingia 95% de seus componentes. Em operação junto as unidades da ativa como veículos urbanos as VW Kombi receberam a designação de Viatura Administrativa de Transporte – “VTR ADM TNE” com os registros recebendo o prefixo “EB-51”. Na sequência desta aquisição tanto a Marinha quanto a Força Aérea Brasileira passaram a adotar a Kombi nas mesmas versões a partir do ano de 1962. No ano seguinte a Volkswagen do Brasil, introduziu em seu portfólio comercial a versão picape da VW Kombi, este novo modelo estava dotado com novo e mais potente motor boxter VW 1500,  que conseguia desenvolver até 52 cv de potencia á 4.600 rpm. 

Este aumento de potência melhoraria em muito o desempenho do veículo, e logo após chegar as concessionárias as vendas disparariam, como esta nova versão sendo oferecida com a opção de carroceria de madeira ou de aço.  A Volkswagen Kombi picape logo chamaria a atenção das três Forças Armadas Brasileiras, que passaram a encomendar sucessivos lotes para o emprego em suas unidades operacionais espalhadas por todo o país, com principal tarefa de transporte leve de carga. Neste mesmo período o Exército Brasileiro era um dos principais participantes das forças de paz multinacionais das Nações Unidas durante a operação UNEF - SUEZ (United Nations Emergency Force), mantendo um grande contingente de tropas, veículos e equipamentos em proveito dos esforços de manutenção de estado de paz entre israelenses e árabes na região do canal de Suez. Inicialmente as tropas brasileiras baseadas no deserto do Sinai – Egito, faziam usos de diversos tipos veículos de transporte de carga e pessoal, como caminhões ingleses Bedford, brasileiros FNM D-11000 e veículos norte-americanos M3 Scout Car, porém vislumbrou-se a necessidade de utilitários de pequeno porte. Neste contexto o Ministério do Exército optou por fazer uso de uma pequena quantidade de Volkswagen Kombis, na versão picape, que já estavam em uso em suas forças regulares no país. A opção pela adoção deste veículo como solução para o transporte leve de cargas e pessoal nesta missão se deu muito pelo tipo do ambiente operacional, pois além de ter uma reputação confiável e robusta, a VW Kombi se mostraria muito eficiente no cumprimento de suas missões, pois seu  motor do tipo “boxter” com sistema de refrigeração a ar garantia emprego constante em missões de longa duração, não se enquadrando então nas limitações impostas aos veículos leves refrigerados à água, que sempre super aqueciam nas estradas devido ao calor. Estes utilitários então foram adquiridos novos de fábrica, portando como customização uma cobertura de lona da caçamba do tipo militar, receberam o padrão de pintura uniforme em branco portando as marcações padrão de campo das forças de paz da ONU da operação UNEF-SUEZ. Os carros foram transportados em navios da Marinha do Brasil, chegando neste teatro de operações em meados do ano de 1964, ficando a disposição dos efetivos brasileiros do Batalhão Suez até fins de 1967, executando tarefas de transporte de suprimentos entre os postos avançados espalhados pelo deserto.
Em operação junto as unidades da ativa como veículos urbanos as VW Kombi receberam a designação de Viatura Administrativa de Transporte – “VTR ADM TNE” com os registros recebendo o prefixo “EB-51”. Na sequência desta aquisição tanto a Marinha quanto a Força Aérea Brasileira passaram a adotar a Kombi nas mesmas versões a partir de 1962. Durante anos estes veículos se mantiveram em plena atividade com mais aquisições periódicas, a partir de 1975 Kombi ganhou uma ganhava nova frente e tornava-se quase idêntico à alemã modelo Clipper, com amplo para-brisa sem divisões e novamente mais unidades da versão picape seriam compradas pelas três forças armadas. Em 1978 a Volkswagen Kombi recebia novos reforços estruturais e, transmissão e juntas homocinéticas passando a ser equipado com um novo motor VW 1.6 desenvolvendo potência de 50 cv. Ao longo da década de 1990 o projeto já apresentava a obsolescência perante os novos veículos utilitários produzidos no Brasil, porém sua excelente relação de custo benefício sustentaria novas aquisições pelas três forças armadas nos próximos anos. Acredita-se que as ultimas unidades em serviço no Exército Brasileiro, Marinha do Brasil e na Força Aérea Brasileira devem se manter em operação até meados da década de 2020

Em Escala.
Para representarmos a Volkswagen Kombi picape modelo 1963, em serviço junto ao "Batalhão Suez", fizemos uso de um modelo em Die Cast na escala 1/32 produzido pela RMZ City.  Como a miniatura original representa a versão furgão,  foi necessário realizar a conversão em scratch para o modelo picape, procedendo o corte da cabine, construção do piso da caçamba, laterais e armação do suporte da lona. Detalhamento final da carga foi feito com utensílios e equipamentos em resina, Eletric Products, o mesmo fabricante dos decais  na escala 1/35 do set “Suez - 1957 / 1967".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os veículos participantes da  multinacional da ONU "UNEF-SUEZ", com as Volkswagen Kombi do Exército Brasileiro portando este esquema até seu retorno ao Brasil em 1967. Já os veículos em uso no país seguiram o padrão de camuflagem verde oliva até os dias atuais. Já os carros em uso pela Marinha do Brasil e Força Aérea Brasileira adotaram padrões diferentes de pintura e marcações. 

Bibliografia : 
- Volkswagen Type 2 Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Volkswagen_Type_2
- Volkswagen do Brasil – www.volkswagen.com.br
- Kombi Cliper Brasileira: T2 OU T1,5? - www.autoentusiastas.com.br/2016/09/kombi-clipper-brasileira-t15-parte-1/
Batalhão Suez - http://www.batalhaosuez.com.br/