JN-4D Curtiss Jenny

História e Desenvolvimento.
A aviação no início do século XX era um campo emergente, impulsionado por experimentos que buscavam superar os desafios técnicos do voo controlado. O voo inaugural dos Irmãos Wright, em 17 de dezembro de 1903, em Kitty Hawk, Carolina do Norte, marcou um divisor de águas, inspirando inventores em todo o mundo. Entre eles, Glenn Hammond Curtiss, nascido em 21 de maio de 1878, em Hammondsport, Nova York, destacou-se como uma figura central. Inicialmente reconhecido por sua expertise em motocicletas e motores de combustão interna, este emprendedor identificou na aviação um mercado promissor após o sucesso dos Wright. Assim Glenn Hammond Curtiss começou a desenvolver motores aeronáuticos leves em 1904, inicialmente voltados para dirigíveis. Em julho daquele ano, seu motor V-twin de 9 HP, originalmente projetado para motocicletas, foi adaptado para propulsionar o dirigível California Arrow. Este voo bem-sucedido marcou o primeiro dirigível de êxito na América do Norte, consolidando a reputação de Glenn Hammond Curtiss como um inovador em motores leves e confiáveis. Em 1907, Curtiss uniu-se à Aerial Experiment Association (AEA), uma organização fundada por Alexander Graham Bell em Baddeck, Nova Escócia, com o objetivo de avançar a pesquisa aeronáutica. A AEA foi instrumental no desenvolvimento inicial de aeronaves, e Curtiss desempenhou um papel fundamental. Entre 1908 e 1910, a associação projetou e construiu quatro aeronaves experimentais, com destaque para o June Bug, que realizou um voo público de 1,6 km em 4 de julho de 1908, em Hammondsport, conquistando o troféu Scientific American por ser o primeiro voo público de mais de 1 km nos Estados Unidos. O terceiro modelo da AEA, conhecido como Silver Dart, foi inteiramente projetado por Curtiss e voou pela primeira vez em 23 de fevereiro de 1909, no Canadá, marcando outro marco na aviação norte-americana. A experiência adquirida na AEA, combinada com a expertise de Curtiss em motores e design aeronáutico, levou à fundação da Curtiss Aeroplane Company em 1909, em Hammondsport, Nova York. Em 1916, a empresa foi reestruturada e renomeada como Curtiss Airplane and Motor Company, com sua sede transferida para Buffalo, Nova York, para atender à crescente demanda por aeronaves e motores. A empresa concentrou-se inicialmente na produção de hidroaviões e aviões de treinamento, capitalizando a habilidade de Curtiss em desenvolver motores leves e confiáveis, que eram altamente valorizados na aviação incipiente. Em 8 de junho de 1911, Glenn Curtiss recebeu a licença de piloto nº 1 do Aero Club of America, uma distinção honorífica atribuída devido à emissão das licenças em ordem alfabética, refletindo seu status como um dos primeiros aviadores certificados nos Estados Unidos.

Anteriormente em 14 de novembro de 1910, o piloto de testes e demonstração da Curtiss Airplane and Motor Company, Eugene Ely, decolou de uma plataforma de voo improvisada que fora montada no convés dianteiro do cruzador USS Birmingham (CL-2), este evento bem-sucedido marcaria o início de significativo relacionamento entre esta empresa e a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), simbiose esta que se manteria por décadas. Em dezembro do mesmo sob supervisão do próprio Glenn Hammond Curtiss, um centro de treinamento de pilotos militares seria montado para assim criar o berço da aviação militar dos Estados Unidos. Novos avanços seriam introduzidos pela empresa como a primeira aeronave anfíbia e a primeira aeronave capacitada para pousos e decolagens em navios de superfície. Em meados desta década a empresa começou a produzir aeronaves biplanos destinadas a missões de treinamento a fim de fazer parte a grande demanda para a formação de pilotos para a Marinha dos Estados Unidos  (US Navy) e a Seção de Aviação do Signal Corps do Exército (ASSC). Até 1913, a maioria das aeronaves militares americanas eram do tipo "pusher" (hélice traseira), mas acidentes frequentes levaram o Exército dos Estados Unidos (US Army) a condenar esse design em fevereiro de 1914, priorizando modelos "tractor" para maior segurança e desempenho. Nesse contexto, Curtiss contratou o engenheiro britânico Benjamin Douglas Thomas (ex-Sopwith Aviation), que trouxe expertise em designs europeus para criar o Model J, atendendo à demanda por aeronaves de treinamento robustas. O desenvolvimento do Curtiss Model J iniciou-se no final de 1913, com Thomas liderando o projeto sob a supervisão de Curtiss. O foco era criar um biplano tractor militar, incorporando avanços como estrutura de madeira reforçada, asas desiguais (superior mais longa) e motor frontal para melhor estabilidade e visibilidade. Paralelamente, Curtiss desenvolveu o Model N, e os dois projetos foram avaliados pelo Exército dos EUA em 1914. O Model J destacou-se por sua velocidade e manobrabilidade, alcançando 85 mph (137 km/h) em testes iniciais, tornando-o o avião mais rápido dos Estados Unidos na época. O design inicial era como uma aeronave terrestre, mas foi adaptado para hidroavião com flutuadores, demonstrando a versatilidade da plataforma. Apenas duas unidades foram construídas: uma para testes do Exército dos Estados Unidos (US Army) e outra para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy). O primeiro voo do Curtiss Model J ocorreu na primavera de 1914, especificamente em 10 de maio de 1914, em Hammondsport, Nova York, pilotado pelo próprio Glenn Curtiss. Os testes demonstraram excelente desempenho em voos sobre água e terra, com o Model J superando concorrentes em velocidade e estabilidade.
Em julho de 1914, a Seção de Aviação do Signal Corps do Exército (ASSC) encomendou protótipos adicionais, mas preferiu fundir características do Model J e N, resultando no Curtiss JN (sigla para "J" de Model J e "N" de Model N), devido à complementaridade dos designs. A Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também testou uma unidade como hidroavião, destacando sua potencialidade para operações navais. O primeiro modelo receberia a designação de JN-2, com seu protótipo alçando voo no início de 1915, seu programa de testes identificaria problemas de estabilidade e controle, levando a ajustes no design. Introduzido em 1916, o JN-3 equipado com um motor mais potente, incorporou melhorias como asas reforçadas e controles mais precisos, sendo testado pelo Exército dos EUA e usado pelo 1º Esquadrão Aero em missões na fronteira com o México em missões de observação aérea durante a Expedição Pancho Villa (1916). A versão Curtiss JN-3 seria extremamente elogiada pelos instrutores, pilotos e equipe de manutenção das forças armadas norte-americanas com estas características positivas não passando desapercebidas por outros países com interesse na implantação de uma moderna arma aérea. Em 1916 o comando do Corpo Aéreo Real - RFC (Royal Flying Corps) solicitou uma consulta a Curtiss Airplane and Motor Company, para a aquisição de uma aeronave de treinamento básico, a este pedido somou-se o interesse da Seção de Aviação do Signal Corps do Exército (ASSC),  para a adoção de mais aeronaves que deveriam incorporar algumas melhorias técnicas. Assim a união destas duas demandas resultaria no nascimento da versão Curtiss JN-4, esta nova aeronave diferia dos modelos anteriores por contar com uma estrutura mais leve, introdução de ailerons em ambas as asas, um leme maior, novos formatos nas asas, estabilizadores e elevadores. O novo avião passava a ser equipado com o motor OX-5 V8 de 90 hp que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 121 km/h e um teto de serviço de 2.000 metros, representado assim um desempenho muito superior quando comparado a seus antecessores. O primeiro voo do JN-4 ocorreu no final de 1916, em Hammondsport, Nova York, com pilotos de teste da Curtiss avaliando estabilidade e desempenho. Seriam conduzidos testes de voo  em 1916-1917 em campos de treinamento, como North Island, San Diego. O JN-4 demonstrou confiabilidade e facilidade de manutenção, superando concorrentes como os Standard J-1. As variantes iniciais (JN-4A e JN-4B) ajustaram a envergadura das asas e a configuração do trem de pouso para maior estabilidade 

A produção em massa do JN-4 começou em 1916, com a Curtiss fabricando a maioria das unidades em sua planta em Buffalo, Nova York. Além de receber grandes encomendas por parte das forças armadas norte-americanas e britânicas o modelo passaria a ser produzido localmente no Canadá para atendimento as demandas internas, com este modelo recebendo a designação de Curtiss JN-4 "Canuck". Até o final da guerra, em 1918, foram produzidas cerca de 6.813 unidades, incluindo as variantes JN-4A, JN-4B, JN-4C, JN-4D e JN-4H. Outras empresas, como a Springfield Aircraft Corporation, fabricaram unidades sob licença para atender à demanda. A produção foi impulsionada pela entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, com o JN-4 equipando campos de treinamento em seu país de origem e no Canadá, onde serviriam ao Corpo Aéreo Real - RFC (Royal Flying Corps) . O Curtiss JN-4 foi provavelmente o mais famoso avião norte americano a participar da Primeira Guerra Mundial, sendo amplamente utilizado durante o conflito para treinar pilotos no estágio primário, detendo a marca de ter participado da formação de mais de 95% dos cadetes da Marinha dos Estados Unidos (US navy) e do Exército dos Estados Unidos (US Army) naquele período. Já os britânicos empregariam os  Curtiss JN-4 e JN4- Canuck em conjunto com os Avro 504s no processo de formação de seus pilotos militares principalmente nas unidades de treinamento pertencente a  escola de aviação em Ontario no Canadá.  Embora originalmente desenvolvido e empregado ostensivamente como um avião de treinamento, o Curtiss JN-4 Jenny seria extensivamente modificado enquanto estava em serviço para assumir funções adicionais para o emprego em missões especializadas. Devido à sua estrutura robusta, mas de fácil adaptação, seu perfil podia ser modificado, permitindo assim a adoção esquis ao invés do trem de pouso convencional, os Curtiss JN-4 canadenses podiam ser operados o ano todo, mesmo em condições climáticas adversas. Sua versatilidade de customização permitiria ainda a aeronave ser tornar o primeiro avião  militar a ser empregado em missões de remoção aeromédica, com a instalação de uma maca na parte posterior ao assento do piloto. Nesta configuração os Curtiss JN-4 possibilitaram o salvamento de inúmeras vidas de soltados nos campos da Europa durante a Primeira Guerra Mundial. Poucas aeronaves seriam ainda equipadas com porta bombas leves sob a fuselagem ou metralhadoras para autodefesa, porém nenhuma destas células teve registro de atuação em combate. 
Após o término da Primeira Guerra Mundial em novembro de 1918, o Curtiss JN-4 "Jenny" continuou em serviço militar em vários países, incluindo os Estados Unidos, Canadá e nações aliadas, servindo principalmente como aeronave de treinamento, reconhecimento e utilitária. Sua robustez e simplicidade permitiram uma transição suave para operações pós-conflito, com milhares de unidades excedentes vendidas para usos civis e militares. Após a guerra, milhares de JN-4 foram vendidos como excedentes por preços tão baixos quanto US$ 50, impulsionando a aviação civil. Essas aeronaves foram usadas em shows aéreos (barnstorming), transporte de correio (como o U.S. Air Mail Service, iniciado em 1918) e voos recreativos, popularizando a aviação e dando origem as as primeiras companhias aéreas.  No entanto, um marco histórico particular destaca-se: o JN-4 é creditado como a primeira aeronave a executar com sucesso um ataque de bombardeio de mergulho, ocorrido no início de 1919 durante a intervenção militar dos Estados Unidos no Haiti. A missão  comandada pelo Tenente Lawson H. Sanderson do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), ocorreu durante uma operação contra insurgentes haitianos, onde Sanderson identificou um alvo (possivelmente uma posição fortificada ou agrupamento de cacos) e decidiu experimentar uma técnica inovadora: mergulhar diretamente sobre o objetivo para aumentar a precisão do bombardeio. Esta missão não apenas demonstrou o potencial tático da aeronave, mas também influenciou o desenvolvimento pioneiro de técnicas de bombardeio de mergulho a partir de 1920, visando fornecer apoio aéreo eficiente à infantaria.  Neste mesmo período o avançar da tecnologia aeronáutica logo tornaria o Curtiss JN-4 obsoleto, passando a ser destacado para operação em atividades de segunda linha nas forças armadas norte americanas, com muitas delas sendo retiradas do serviço ativo e armazenadas. Com um grande número de aeronaves em bom estado existente em sua frota, o modelo passou a ser cedido em condições econômicas favoráveis a nações como Brasil, Argentina, Cuba e China Nacionalista. Ao todo foram produzidas 6.813 células até fins do ano de 1920.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Assim como o brasileiro Alberto Santos Dumont é reconhecido mundialmente por seu voo pioneiro em 1906, com o 14-Bis, o primeiro "engenho" mais pesado que o ar a realizar um voo documentado, a Marinha do Brasil desempenhou um papel fundamental na implantação e consolidação da aviação militar no país. Apenas cinco anos após o voo histórico de Santos Dumont, a Marinha do Brasil demonstrou uma visão prospectiva ao reconhecer o potencial estratégico das aeronaves no campo militar. Em 1911, dois eventos significativos marcaram o início desse interesse: Primeiro Piloto Militar Brasileiro: Em 29 de abril de 1911, o Tenente da Marinha Jorge Henrique Moller tornou-se o primeiro militar brasileiro a receber o "brevet" de piloto, obtido na França. Sua qualificação representou um passo pioneiro na formação de uma geração de aviadores militares no Brasil. Fundação do Aeroclube Brasileiro: Em 14 de outubro de 1911, foi criado o Aeroclube Brasileiro, uma instituição que fomentou o interesse pela aviação no país, servindo como um ponto de convergência para entusiastas e futuros pilotos, incluindo militares. Esses eventos refletem o comprometimento precoce da Marinha em explorar as possibilidades da aviação, em um momento em que a tecnologia aeronáutica ainda era incipiente e sua aplicação militar estava apenas começando a ser compreendida. O marco oficial do nascimento da Aviação Naval Brasileira ocorreu em 23 de agosto de 1916, quando o Presidente Wenceslau Braz assinou o Decreto nº 12.155, criando a Escola de Aviação Naval (EAvN). Essa instituição, a primeira escola militar de aviação do Brasil, tornou-se o berço da aviação militar brasileira e um símbolo do pioneirismo da Marinha do Brasil. Inicialmente instalada no antigo Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro, a Escola de Aviação Naval (EAvN) foi posteriormente transferida para a Ilha das Enxadas, onde suas operações foram expandidas. A criação da Escola de Aviação Naval (EAvN) representou um passo audacioso para o Brasil, que buscava alinhar-se às potências mundiais no desenvolvimento de capacidades aéreas militares. A escola foi projetada para formar pilotos e técnicos, além de estabelecer as bases para o uso estratégico de aeronaves em operações navais e de defesa. Neste momento a  Escola de Aviação Naval (EAvN) realizou os primeiros voos de longa distância, conhecidos como "raids", entre o Rio de Janeiro e Angra dos Reis, e entre o Rio de Janeiro e Campos. Esses voos demonstraram a viabilidade do uso de aeronaves para conectar cidades e reforçar a presença militar. 

Caberia ainda a Escola de Aviação Naval (EAvN) ser  responsável pelo transporte da primeira mala aérea civil e da primeira mala aérea militar, marcando o início do uso de aeronaves para comunicações logísticas no Brasil.  Eventos especiais também seriam registrados como o  primeiro voo de Santos Dumont, como passageiro, em uma aeronave militar brasileira; primeiro voo de um Presidente da República em uma aeronave militar brasileira. Em 26 de outubro de 1917, o presidente Wenceslau Braz declarou guerra à Alemanha, alinhando o Brasil com a Tríplice Entente (França, Reino Unido e Rússia), neste momento a participação brasileira no conflito mundial se limitaria a formação da Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material (Missão Ache). A comissão brasileira  chegou à França em janeiro de 1918, sendo integrada ao Exército Francês sob o comando do marechal Ferdinand Foch, comandante supremo das forças aliadas. Os oficiais brasileiros foram distribuídos em diferentes unidades, participando ativamente da Ofensiva dos Cem Dias (agosto a novembro de 1918), uma série de operações. Neste pacote de missões, se destacaria a participação de aviadores navais brasileiros em operações reais de patrulha, durante a Primeira Guerra Mundial, integrando o 10° Grupo de Operações de Guerra  do Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps). Apesar do pioneirismo da Marinha do Brasil na criação da Aviação Naval, com a fundação da Escola de Aviação Naval (EAvN) em 1916, os primeiros anos dessa força foram marcados por uma crônica escassez de recursos financeiros e materiais. Essas limitações inibiram o desenvolvimento natural da Aviação Naval, restringindo sua capacidade de expandir operações e modernizar suas estruturas. Neste mesmo momento, a Força Pública Paulista (FPP), atual Polícia Militar do Estado de São Paulo, adquiriu nos Estados Unidos cinco células usadas da versão JN-4D Curtiss Jenny para sua Esquadrilha de Aviação (formada em 1919), que receberiam as matrículas de Nº 101 a Nº 104. Existem, no entanto, poucos registros sobre a operação destas aeronaves. Em 1921, o Estado-Maior da Armada lançou o Projeto da Organização Aérea do Litoral, uma iniciativa ambiciosa destinada a dotar a Aviação Naval de unidades operacionais modernas e bem equipadas. Esse projeto foi acompanhado de recursos financeiros essenciais, que viabilizaram a aquisição de aeronaves específicas para missões de caça, patrulha e reconhecimento. Neste intuito  o Ministério da Marinha, iniciou no exterior buscas do tipo de "compras de oportunidade" de modelos que pudessem atender a estas demandas. 
Um dos focos desta tarefa seria o de incrementar a dotação de aeronaves de instrução a disposição da Escola de Aviação Naval (EAvN), sendo um momento propício tendo em vista que o mercado internacional fora inundado recente por milhares de aeronaves de treinamento retiradas do serviço ativos das forças armadas aliadas logo após o término da Primeira Guerra Mundial. Neste momento o serviço de aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), se encontrava em processo de introdução das  novas aeronaves de treinamento Consolidated PT-3, passando assim a desativar uma quantidade significativa de aeronaves Curtiss JN-4 Jenny.  Além de serem ofertadas a custos excelentes, estas células apresentavam ainda menos mais meio ciclo de vida das células disponível, representando assim uma verdadeira "compra de oportunidade". Desta maneira após tratativas governamentais seria acerta a aquisição de quatro aeronaves pertencentes a versão,  JN-4D, que representava o modelo mais evoluído tecnicamente e de maior êxito da família Curtiss Jenny, sendo construídas 4.175 aeronaves até o encerramento da linha de produção. As células foram selecionadas em bases norte-americanas (como Maryland) por sua condição, desmontadas e enviadas ao Brasil por via naval. Os quatro Curtiss JN-4D  Jenny foram recebidos no porto do Rio de Janeiro em junho de 1926, ainda ostentando esquema de cores e a numeração serial padrão da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Assim que descarregadas seriam transportadas por caminhões até o Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ), onde seriam remontadas e  matriculadas inicialmente como 01 a 04, receberam seriais nacionais 421 a 424 e marcações da Marinha, incluindo cocares brasileiros. O Curtiss JN-4D brasileiro realizaria  seu primeiro voo no dia  7 de agosto de 1926, sendo em seguida incorporadas a frota da Escola de Aviação Naval (EAvN), onde passariam a servir junto a Flotilha de Instrução da Esquadra Terreste, ao lado de modelos como o Avro 504K e o Curtiss N-9H. Apesar de nominalmente, aumentarem a frota de aviões a disposição da Escola de Aviação Naval (EAvN), os "novos" quatro Curtiss Jenny JN-4D foram pouco empregados durante o ano de instrução de pilotos navais de 1926, não se tem registro oficial sobre quais os fatores que levaria a esta limitação operacional, seja ela baseada em fatores técnicos ou ainda de formação de pessoas específico para operação e manutenção. 

Está limitada folha operacional, não isentaria as aeronaves de incidentes, sendo que no mesmo ano entre os meses de setembro e novembro, dois acidentes de pequena monta afligiram a disponibilidade dessas aeronaves a metade, com duas destas aeronaves sendo desmontadas parcialmente para a recuperação da condição de voo. Neste mesmo ano seriam adquiridos pela Força Pública Paulista (FPP), mais oito aeronaves desta mesma versão, sendo recebidas no Porto de Santos e transportados até o Campo de Marte na cidade de Sao Paulo, onde após remontadas receberiam as matrículas de Nº 107 a Nº 114, com algumas destes aviões recebendo nomes de batismo como Tenente Chantre, Borba Gato, Paes Leme, Raposo II, Manoel Preto entre outros. De volta a frota da Aviação Naval da Marinha do Brasil, o ano de 1927 não apresentaria significativo aumento no emprego dos aviões, junto a 3ª Esquadrilha da Flotilha de Instrução da Esquadra Terrestre, que muito raramente registravam mais do que quinze surtidas mensais no primeiro semestre. De fato, os voos daqueles quatro Curtiss JN-4D Jenny neste ano totalizariam apenas 319 surtidas de instrução, conquanto o número reduzido de alunos matriculados na Escola de Aviação Naval (EAvN), naquele ano em específico explique, em parte a fraca utilização em missões de treinamento que se deu a estas aeronaves norte-americanas. Existem ainda indicações que apesar das aeronaves possuírem ainda disponíveis meio ciclos de voo operacional nos registros técnicos, problemas de ordem estrutural começaram a ser observados quando de seu uso no Brasil, com este fator provavelmente influenciado consideravelmente nos índices de disponibilidade. Reduzida a três aeronaves, em face de um acidente que causou a perda total de uma célula em agosto de 1927, a frota de Curtiss JN-4D voou intermitentemente nos primeiros meses de 1928, executando, sobretudo, poucos voos de adestramento em prol da Flotilha de Instrução da Esquadra Terrestre. Esta curta extensão operacional somente seria obtida pelo uso de peças de reposição de uso comum estocadas,  que originalmente pertenciam aos hidroaviões Curtiss N-9H empregadas pela Aviação Naval entre os anos de 1919 até 1926. No começo do segundo semestre de 1928, havia somente duas células disponíveis em condições de voo, com esta situação sendo o reflexo natural de acidentes e rupturas nos estoques de peças de reposição. Neste momento novas aeronaves de treinamento inglesas passavam a ser incorporadas a Aviação Naval da Marinha do Brasil, levando a decisão por parte do comando para se proceder a desativação dos últimos Curtiss JN-4D Jenny no fim de 1928, encerrando a utilização efêmera e pouco profícua desses aviões na instrução de voo dos pilotos em curso na Escola de Aviação Naval (EAvN). 
Ao contrário do limitado histórico operacional dos Curtiss JN-4D da Aviação Naval da Marinha do Brasil, as aeronaves pertencentes a Força Pública Paulista (FPP), teriam grande emprego ao logo de sua carreira. As aeronaves foram baseadas no Campo de Marte, em São Paulo, que se tornaria o principal aeródromo da região (atual Aeroporto de São Paulo/Campo de Marte). Operadas pela Esquadrilha de Aviação da FPP, sob o comando do Grupo Misto de Aviação, os JN-4D foram empregados em três funções principais: treinamento de pilotos, reconhecimento aéreo e apoio tático em conflitos internos. Durante a Revolução de 1926 (Divisão Revolucionária em Goiás, os JN-4D realizaram missões de reconhecimento e lançamento de panfletos de propaganda contra forças rebeldes em Goiás, apoiando operações da Força Pública Paulista (FPP) e do governo federal. Em 1930, durante o movimento que levou à deposição do presidente Washington Luís e à ascensão de Getúlio Vargas, os JN-4D foram usados em patrulhas aéreas e transporte de mensagens, apoiando as forças paulistas em um contexto de divisão política. A Revolução Constitucionalista de 1932, se tornaria conflito mais significativo para a aviação da Força Pública Paulista (FPP), quando São Paulo se insurgiu contra o governo federal de Vargas. Os Curtiss JN-4D realizaram missões de reconhecimento, bombardeio leve (com adaptações para carregar pequenas bombas) e apoio logístico. Apesar de sua natural obsolescência, estas aeronaves contribuíram em operações como a tentativa de romper o bloqueio naval no porto de Santos, operando nesta missão em conjunto com outros aviões, como os Curtiss A-3B D-12 Falcon adquiridos para o conflito. Após o término da Revolução Constitucionalista de 1932, as aeronaves remanescentes da Força Pública Paulista (FPP) foram desativadas devido à obsolescência e ao desgaste. Algumas foram doadas a operadores civis, destacando-se a transferência de uma unidade à aviadora pioneira Anésia Pinheiro Machado, a segunda mulher brasileira a obter brevê (1928) e a primeira a realizar voo solo no país. Ela utilizou o JN-4D para demonstrações aéreas e treinamento, contribuindo para a popularização da aviação civil no Brasil. O Curtiss JN-4D "Jenny" na Força Pública Paulista representou um marco na aviação militar brasileira, sendo um dos primeiros aviões operados de forma sistemática em conflitos internos. Sua participação em eventos como as revoluções de 1926, 1930 e 1932 demonstra a versatilidade do modelo, apesar de suas limitações técnicas. 

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss JN-4D " 423 " da Aviação Naval da Marinha do Brasil, empregamos a única opção disponível em kit na escala 1/48 para este modelo, pertencente a Lindberg, fabricante que, apesar de ter fama de produtos de baixo nível de qualidade e detalhamento, conseguiu nos surpreender positivamente. Não há necessidade de se implementar quaisquer alterações para representar a versão empregada pela aviação naval. Fizemos uso de decais oriundos diversos sets da FCM Decais para finalizarmos o modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves de treinamento da marinha americana com a adoção dos cocares e marcações padrão da Aviação Naval da Marinha do Brasil, esquema este que perdurou durante toda a carreira do modelo no Brasil. Já as aeronaves empregadas pela Força Pública Paulista (FPP), fizeram uso de pelo menos três esquemas distintos de pintura e identificação.


Bibliografia :
- Curtiss JN-4 Jenny – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Curtiss_JN-4
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015 – Jackson Flores Jr
- Aviação Militar Brasileira 1916 - 1984 - Francisco C. Pereira Netto
- Curtiss JN-4D Jenny no Brasil, por Aparecido Camazano Alamino – Revista Asas

S-70A Black Hawk HM-2

História e Desenvolvimento
Fundada em 23 de maio 1923 a Sikorsky Aero Engineering Corporation, se tornaria a empresa pioneira no desenvolvimento e produção de aeronaves de asas rotativas, com o gênio Igor Sikorsky sendo responsável pelo primeiro modelo operacional o Sikorsky R-4, que realizaria suas primeiras missões ainda durante as fases finais da Segunda Guerra Mundial, sendo empregado com sucesso nos teatros de operações da China-Birmânia-Índia e Pacífico Sul. O projeto conceitual do Sikorsky R-4, passaria a nortear o desenvolvimento da maioria dos novos modelos de aeronaves de asas rotativas desenvolvidas a seguir. A partir da década de 1950 a empresa voltaria a figurar como um dos principais fornecedores de aeronaves de asas rotativas para as forças armadas norte-americanas com seus modelos Sikorsky S-55 e S-58, empregados em uma série de tarefas operando desde o transporte até guerra antissubmarino (ASW). No entanto seu grande trunfo comercial fututo começaria a tomar forma durante o início da década de 1960, quando os helicópteros da família Bell UH-1 começaram a ser empregados maciçamente no conflito do Vietnã, chegando a envolver mais 3.000 células do modelo em todo o conflito, equipando todas as forças armadas norte-americanas. Esta operação em larga escala iria gerar uma nova doutrina de operação de aeronaves de asas rotativas que foram empregues em missões de evacuação aero médica, busca e salvamento, assalto aéreo, transporte de tropas, apoio aéreo aproximado, comando e controle e transporte de cargas. Apesar do excelente desempenho da família Bell UH-1 Iroquis, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) identificaria a necessidade de uma nova, aeronave desta categoria deveria ser implementada, sendo mais apta a sobreviver em operação nos campos de batalha. Assim no final da mesma década seriam criados estudos que envolveriam as características e especificações técnicas e de desempenho para o desenvolvimento de uma nova aeronave de asas rotativas de porte médio, destinada a tarefas de transporte de tropas, Combat SAR (busca e salvamento), assalto aéreo e ligação. Este programa recebeu o codinome de “UTTAS” (Utility Tatical Transport Aircraft System – Sistema de Aeronave de Tático Utilitário e Transporte), seu ambicioso objetivo era o de desenvolver uma aeronave superior, que substituísse a médio e longo prazo os helicópteros da família Bell UH-1, que até então representavam o esteio da frota da força de aeronaves de asas rotativas das forças armadas norte-americanas.  

Entre os principais requisitos exigidos pelo programa UTTAS (Utility Tatical Transport Aircraft System) estava aquele que apregoava uma aeronave com dois motores turbo eixo, permitindo assim uma maior capacidade de sobrevivência da célula e do grupo motriz em cenários de conflagração, podendo suportar danos em combate, levando assim a necessidade de criação de um novo motor turbo eixo para atender a estas demandas, processo este  que culminaria no exitoso projeto do conjunto General Electric T700.  Os demais parâmetros deste programa como confiabilidade operacional, sobrevivência em ambientes de combate e custos de ciclo de vida reduzidos, iriam resultar em recursos inovadores para aeronaves de asas rotativas até então. Entre estes os motores com desempenho otimizado para operação e altas temperaturas ou altas altitudes, design modular de conjuntos de componentes críticos, caixas de transmissão secas; subsistemas redundantes (hidráulicos, elétricos e de vôo) com alta tolerância a impactos de balística; blindagem para tripulantes e tropas, entre outros melhoramentos incorporados no programa da futura aeronave. Ainda que este helicóptero apresentasse dimensões superiores aos Bell UH-1D/H, deveria ainda possibilitar ser transportado a bordo de um Lockheed C-130 Hércules. Este processo capitaneado então pelo comando do Exército Americano (US Army), teve o início oficial em janeiro de 1972 com o lançamento do RFP (Request for Proposal – Pedido de Proposta). Diversas empresas nacionais manifestariam interesse no programa, que previa a aquisição de um suntuoso lote de células a curto e médio prazo. Análises detalhadas destas propostas levariam a definição de dois candidatos finalistas, sendo estes representados pelo Sikorsky YUH-60A e Boeing-Vertol YUH-61A. Estas duas empresas receberiam um contrato de financiamento para a construção de protótipos de avaliação, com primeiro voo do modelo Sikorsky Aircraft ocorrendo em 17 de outubro de 1974, sendo seguido um mês depois pelo seu concorrente. Logo na sequência mais dois protótipos de cada modelo seriam produzidos a fim de serem submetidos a um extenso programa de avaliação e testes em voo. Este programa seria dividido em um estágio preliminar com início previsto em novembro de 1975, e uma fase final programada para o mês de março do ano seguinte. Em uma detalhada análise comparativa a aeronave da Sikorsky Aircraft venceu seu concorrente o Boeing-Vertol YUH-61A, em quase todos os parâmetros exigidos.
Desta maneira o Sikorsky YUH-60A seria declarado como vencedor do programa UTTAS (Utility Tatical Transport Aircraft System), recebendo assim em dezembro de 1976 um primeiro contrato de produção de sessenta aeronaves para o Exército Americano (US Army). As primeiras entregas as unidades de treinamento e conversão do agora designado Sikorsky UH-60A Black Hawk (nomeado em homenagem ao líder de guerra nativo-americano), ocorreram a partir de outubro de 1978, com o modelo sendo classificado como operacional a partir de junho do ano seguinte. Sua missão operacional era o de substituir o Bell UH-1H como aeronave de transporte tático de tropas, podendo nesta configuração transportar até onze soldados totalmente equipados. O bom desempenho operacional levaria ao desenvolvimento do UH-60C destinada a atuar como aeronave especializada em missões de comando e controle. Em 1980, trinta células seriam convertidas para o emprego em “Operações Especiais”, sendo equipados aviônicos adicionais, sistemas de visão e navegação noturna, sistema de visão infravermelha (FLIR), tanques de combustível suplementares e armamento defensivos e ofensivo na forma de duas metralhadoras rotativas do tipo Minugun M-134 de 7,62 mm, com estas aeronaves sendo exclusivamente direcionadas ao 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais (160TH SOAR). Em 1988 seria a vez do desenvolvimento do MH-60K Black Hawk, primeira versão equipada com sonda para reabastecimento em voo, radar de terreno AN/APQ-174B, passando a ser equipado com os motores T700-GE-701C. O aumento no peso bruto da aeronave nestas versões especializadas levaria o comando do Exército Americano (US Army) a solicitar melhorias no projeto para a manutenção dos parâmetros de desempenho original. Esta demanda levaria a atualização dos motores T700-GE-701C, adoção de uma caixa de câmbio mais robusta (ambos desenvolvidos para o SH-60B Seahawk). Esta alteração no grupo motopropulsor permitiu aumentar sua capacidade de elevação externa passando para 450 kg e 4.100 kg, um fator importante foi a incorporação de um novo sistema de controle de vôo automático (AFCS) que facilitava o controle de voo devido aos motores mais potentes que passavam a exigir mais atenção na condução da aeronave.

Esta nova versão receberia a designação militar de UH-60L Black Hawk, com sua produção em série sendo iniciada em 1989, com as primeiras aeronaves entrando em serviço ativo em meados do ano seguinte. Paralelamente a Sikorsky Aircraft Co. seria contratada para promover a atualização da frota remanescente de helicópteros UH-60A Black Hawk para este novo padrão. Durante os anos seguintes esta família de aeronaves foi se tornando o esteio da força de helicópteros das forças armadas norte-americanas, sendo desenvolvidas novas versões especializadas como o EH-60L (sistemas de missão), UH-60Q - HH-60L (evacuação aero médica), MH-60L (operações especiais), MH-60L DAP (armado com misseis Hellfire e Stinger) e UH-60A RASCAL (versão laboratório para a NASA). No entanto no em fins da década de 1990 vislumbrou-se a necessidade de promover a renovação da frota a médio prazo, principalmente focando na substituição das primeiras células a entrar em serviço, cujo ciclo de vida já completava quase vinte anos, desta maneira definiu pelo desenvolvimento de uma nova versão atualizada da aeronave. Esta demanda seria atendida no ano de 2001 com a aprovação do programa UH-60M, esta nova aeronave estaria equipada como novos motores General Eletric T700-GE-701D, aviônica e sistemas de controle de voo, comunicação e navegação de última geração. Em fevereiro de 2005 o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, aprovou a produção de um pequeno lote da nova variante para fins de ensaios e avaliação, com as primeiras 22 células sendo entregues a partir de julho do mesmo ano. Este programa de testes culminaria na assinatura de um contrato para a aquisição de 1.227 células, que pelo cronograma deveriam ser entregues até o final do ano de 2007. Em março de 2009, um novo contrato no valor de US$ 1,3 bilhão, seria assinado para produção de mais 102 aeronaves configuradas para missões especializadas, com este recebendo um aditivo em 2014 para mais 100 aeronaves customizadas.
O Sikorsky UH-60 Black Hawk, teria seu batismo de fogo, durante a invasão de Granada no Caribe em 1983, sendo novamente empregados no continente na invasão do Panamá em 1989. Durante a primeira Guerra do Golfo em 1991, o UH-60 Black Hawk participaria da maior missão de assalto aéreo com helicópteros realizada pela aviação do Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo mais de trezentas aeronaves de asas rotativas. O modelo teria destacada atuação na crise de Mogadíscio, na Somália em 1993, onde duas aeronaves foram abatidas por açao de lança foguetes – RPGs das forças somalis. Atualmente as linhas de produção Sikorsky Aircraft Corporation, continuam em plena atividade, acumulando mais de quatro mil e novecentas células entregues até fins do ano de 2022, dispostas em mais de trinta versoes (muitas destas especializadas).  Grande parte destas aeronaves se mantem em serviço militar nos Estados Unidos, República do Afeganistão, Áustria, Austrália, Bahrain, Brasil, Brunei, Chile, China, Colômbia, Egito, Albânia, Eslováquia, Israel, Japão, Jordânia, Malásia, México, Marrocos, Lituânia, Coreia do Sul, Filipinas, Polônia, Portugal, Arábia Saudita, Suécia, Taiwan, Tailândia, Tunísia, Turquia, Ucrania e Emirados Árabes. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A origem da Aviação Militar do Exército Brasileiro tem como cenário, os campos de batalha de Humaitá e Curupaiti, na Guerra da Tríplice Aliança em 1867, onde balões foram empregados na observação das linhas inimigas. Após a guerra, foi criado o Serviço de Aerostação Militar, cujas atividades balonísticas se desenvolveram por mais quarenta e sete anos. Em 1913, foi criada a Escola Brasileira de Aviação (EsBAv) no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro (RJ), em 1931 marcaria o inicio das atividades do Correio Aéreo Militar, organização esta que em conjunto com Correio Aéreo Naval, trariam não só repercussões profundas na evolução da aviação militar, mas também na integração do país. Em 20 de janeiro de 1941 seria criado o Ministério da Aeronáutica (MAer), atribuindo-se à Força Aérea Brasileira a exclusividade da realização de estudos, serviços ou trabalhos relativos à atividade aérea nacional, marcando assim o encerramento da chamada “Primeira Fase da Aviação do Exército Brasileiro”. Os conflitos ocorridos após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, denotariam a importância das forças terrestres em contar com o fundamental apoio de aeronaves de asas rotativas, seja para missões de transportes, assalto aéreo ou apoio aproximado. Esta realidade seria percebida também pelo comando do Exército Brasileiro, que em seu audacioso plano de modernização da força nacional denominado FT-90 (Força Terrestre 90), enfatizaria a necessidade de se implantar uma aviação própria de asas rotativas, com isso, propiciar um maior poder, mobilidade e flexibilidade à Força Terrestre. Este programa culminaria em 1986, na criação da Diretoria de Material de Aviação do Exército (DMAvEx) e do 1º Batalhão de Aviação do Exército (1º BAvEx). Fisicamente, a Aviação Militar do Exército passaria a tomar forma, com a instalação desta nova unidade na cidade de Taubaté no interior do estado de São Paulo, em janeiro de 1988. Inicialmente a Aviação do Exército passaria a ser equipada com aeronaves HB 350 L1,  AS 550 A2 Fennec e SA-65 K Pantera fornecidas pelo consórcio franco-brasileiro Aeroespatiale – Helibras.

Durante os anos seguintes o Exército Brasileiro viria a consolidar sua doutrina operacional no emprego de aeronaves de asas rotativas, logrando êxito em suas atividades, preparando assim sua força para saltos mais ousados. Em 10 de março de 1995 o Brasil passaria a participar da Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP), iniciativa de paz multinacional criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que tinha por objetivo solucionar o conflito fronteiriço entre o Equador e Peru, que ocorria no vale do Cenepa e na Cordilheira do Condor. Esta iniciativa seria capitaneada pela Organização das Nações Unidas (ONU), e visava ampliar a capacidade regional de resolução de conflitos com autonomia, rompendo com a tradição da região em resolver os rotineiros conflitos através de arbitragem externa (como a Corte Internacional de Justiça, Organização das Nações Unidas - ONU, Vaticano ou outros países extracontinentais). Seria determinado o deslocamento de um destacamento de quase duas centenas de militares brasileiros que em conjunto com oficiais das forças armadas argentinas, chilenas e norte-americanas, atuariam como observadores, oficiais e equipe de apoio. Esta demanda deveria ainda incluir um grupo aéreo multinacional formado por aeronaves de asa fixa e asas rotativas para poder suportar as atividades deste grupo de observadores. Nesta época, a Aviação do Exército Brasileiro era composta por helicópteros Helibras - Aeropastiale HB 350 L1 (HA-1) Esquilo, AS 550 A2 Fennec (HA-1) e SA-65 K Pantera (HM-1), aeronaves de pequeno e médio porte que não era indicados necessariamente para o cumprimento das missões que deveriam ser executadas por este grupo aéreo multinacional, que contaria ainda com uma aeronave de transporte Cessna C-98 Caravan da Força Aérea Brasileira.
Por atuar na coordenação geral desta missão, criar-se-ia a possibilidade inédita de incorporação  de quatro aeronaves Sikorsky S-70A-36 Black Hawk, fazendo uso dos termos do programa FMS Vendas Militares (Foreign Military Sales), com esta demanda sendo autorizada pelo Congresso Americano e Departamento de Defesa em julho de 1997. Após a formalização da venda, uma comitiva de oficiais do Exército Brasileiro seria enviada a cidade de Stratford, Connecticut, sede da Sikorsky Aircraft Corporation, para realização  do curso de pilotagem e manutenção básicas das aeronaves S-70A Black Hawk. Após a finalização deste programa, em novembro de 1997, os militares brasileiros, entre eles dez pilotos, transladariam os quatro Sikorsky S-70A Black Hawk, agora designados pela Aviação do Exército Brasileiro como HM-2 (Helicóptero de Manobra 2), para a sede do Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP), na região de Patuca no Equador. Os Sikorsky S-70A Black Hawk vieram com o padrão de pintura tático do Exercito dos Estados Unidos (US Army), verde oliva escuro, e receberam faixas brancas, aplicadas em três pontos na fuselagem, e a inscrição MOMEP nas portas principais, para identificar mais visivelmente a aeronave como a serviço da ONU (Organização das Nações Unidas). Estas aeronaves matriculadas como HM-2 “EB 3001 a 3004” passariam a apoiar diretamente as ações da Coordenação Geral, bem como todas as atividades daquela força tarefa na região, incluindo fiscalização de dos pontos de fronteiras e da zona desmilitarizada, patrulha de fronteira, apoio logístico a pelotões e pontos de observadores. Além das missões em proveito da missão os HM-2 realizariam diversas surtidas humanitárias, transportando civis a hospitais, resgatando feridos e prestando importando apoio médico em áreas de risco.

Talvez a missão que mais sintetize a participação no Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP) tenha ocorrido no dia 9 de agosto de 1998 no vale do Cenipa, quando o HM-2 Black Hawk “EB 3004” realizou uma evacuação aeromédica noturna de um soldado equatoriano que havia pisado em uma mina terrestre. Esta missão que poderia ser considerada como difícil e perigosa, seria realizada em um terreno acidentado, a uma altitude de 7 mil pés (2.133 metros), e só pode ser efetivada como pleno êxito,  graças as qualidades da aeronave. Neste momento o grande diferencial seria proporcionado pela excelente capacidade operacional da tripulação, aliada ao  emprego do sistema de óculos de visão noturna (NVG) modelo Litton ANVIS-6. No entanto esta mesma célula, sofreria um acidente em 13 de setembro de 1988, quando a aeronave ficou parcialmente destruída, deixando uma vítima fatal e cinco feridos. Após ser resgatada do local do acidente, este HM-2 Black Hawk seria enviada aos Estados Unidos,  para procedimento de recuperação nas instalações de Sikorsky Aircraft Corporation na cidade  Stratford, no estado de  Connecticut, em novembro do mesmo ano. Rapidamente a mesma aeronave seria  recolocada em plenas condições de voo, voltando posteriormente a operar normalmente. Com o fim da Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP) em 30 de junho de 1999, os quatro Sikorsky HM-2 Black Hawk seriam transladados para o Brasil em agosto do mesmo ano. Passariam assim a  integrar o 4º Esquadrão de Aviação do Exército (4º Esquad AvEx) baseado no Aeroporto de Ponta Pelada em Manaus no estado do Amazonas. Neste novo cenário seriam encarregados de realizar  as missões de emprego geral, transporte de tropas, busca e salvamento (SAR), evacuação aero médica (EVAM) e apoio às operações especiais e às forças terrestres.
Coube ainda ao Sikorsky S-70A Black Hawk, ser o primeiro vetor da aviação do Exército Brasileiro a dispor de capacidade de operação noturna, através do emprego de óculos de visão noturna (NVG) do modelo Litton Anvis-6, permitindo assim a operação diuturnamente, concedendo uma nova dimensão a Aviação do Exército em termos de disponibilidade operacional. Posteriormente este sistema seria atualizado com a adoção dos novos óculos Litton  Anvis-9, neste mesmo processo também seria instalado um sistema de radar meteorológico melhorando assim suas condições de navegação no ambiente amazônico. Visando ampliar também seu raio operacional em missões mais longas o modelo passaria a ser equipado com até quatro tanques suplementares externos de combustível.  Os HM-2 Blackhawk seguem operando intensamente se adaptando perfeitamente ao ambiente da floresta amazônica, tendo destaca participação durante a operação Yanomani em 2023 quando suas aeronaves foram empregadas em tarefas de transporte logístico entre as diversas comunidades indígenas no estado de Roraima.  Apesar da extensa folha de serviços estas aeronaves já se encontram em operação há quase trinta anos, recaindo sobre as células o degaste operacional e consequente obsolescência, devido principalmente ao seu cockpit analógico, estando cada vez mais caros de serem operados devido à escassez de peças de reposição.  Neste intuito foram iniciadas negociações envolvendo a aquisição de até doze células, que devem começar a ser entregues a partir de 2025. Também está sendo discutida a possibilidade de a frota ter a provisão para receber armamentos e cumprir missões de ataque, tendo assim um uso dual. Os exemplares desativados serão desmontados e as peças em condições de uso serão usadas para manter o restante da frota em serviço.

Em Escala: 
Para representarmos o Sikorsky S-70 HM-2 Black Hawk  "EB 2004", empregamos um antigo kit da Minicraft  na escala 1/48, que apresenta um versão semelhante a empregada no Exército Brasileiro, não necessitando assim de nenhuma modificação. Apenas para melhor detalharmos o modelo, incluímos as duas metralhadoras laterais FN MAG 58M calibre 7.62 mm oriundas de outro modelo. Fizemos uso de decais produzidos pela FCM  Decais  que estão presentes no Set 48/13.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático das aeronaves de asas rotativas dos Exército dos Estados Unidos (US Army) , inicialmente as mesmas receberam faixas brancas, aplicadas em três pontos da fuselagem e a inscrição MOMEP (Missão de Observadores Militares Peru Equador). Posteriormente após o regresso ao Brasil estas marcações foram suprimidas, mantendo até os dias atuais o primeiro esquema de pintura.

Bibliografia : 

 

- Sikorsky UH-60 Blackhawk, Wikipedia -http://en.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_UH-60_Black_Hawk  

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores 

- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html 

- Nas Asas da Aviação do Exército, Claudio Lucchesi e Roger Pascoal - Revista Asas  nº 15  

- Novos Black Hawk para o Exército Brasileiro - https://www.infodefensa.com 

KDF Type 166 Schwimmwagen

História e Desenvolvimento.
No início da década de 1930, a indústria automotiva alemã depois de longa recuperação após termino da Primeira Guerra Mundial, estava plenamente reestabelecida, ocorre, porém, que equivocadamente as montadoras tinham seu portfólio voltado exclusivamente para o mercado de carros de luxo. Neste período o país atravessa uma grande crise econômica e grande parte da população ainda buscava meios de subsistência, e com raríssimas exceções o alemão comum raramente podia comprar algo além de uma motocicleta básica, e neste contexto a proporção é que havia apenas um carro para cerca de cinquenta habitantes no país. A ascensão ao poder do chanceler Adolf Hitler do partido nazista alemão, iria mudar este cenário completamente, pois seu plano governamental estava focado na recuperação econômica da Alemanha, através de programa de fomento da indústria metal mecânica nacional, e mais importante do que desenvolver o parque industrial era o fortalecimento da economia, levando assim a necessidade de produtos acessíveis ao povo alemão, criando assim um círculo virtuoso na saúde financeira do país. Ciente da grande importância da indústria automotiva em sua política econômica, o chanceler alemão propôs a sua equipe de governo, o desenvolvimento de um carro popular de baixo custo que fosse acessível a maioria da população. Este projeto receberia a denominação oficial de “Volkswagen” (carro do povo), e seu desenvolvimento seria capitaneado pelo renomado engenheiro Ferdinand Porsche. Segundo os parâmetros governamentais exigidos, o novo veículo deveria poder transportar dois adultos e três crianças a 100 km / h, com um consumo médio de apenas 7 litros a cada 100 km rodados, seu motor deveria ser refrigerado a ar para assim operar normalmente no rigoroso inferno alemão. Seu projeto conceitual e de ferramental deveria ser o mais simples possível, possibilitando um baixo preço de aquisição, não devendo superar os $990 Reichsmark (marcos alemães). Como nesta época o salário médio de um operário alemão não superava os $130 Reichsmark, a aquisição do “Volkswagen” (carro do povo), seria facilitada ao consumidor através de um programa de poupança do governo, que recebeu o nome de “Sparkarte” (caderneta de descontos), no qual o carro seria financiado a módicas prestações. O projeto inicial foi apresentado ao chanceler alemão em 17 de janeiro de 1937, porém necessidades de melhoria no projeto estenderiam seu desenvolvimento até o início do ano seguinte, com os primeiros carros de pré produção sendo concluídos apenas no início do ano de 1939, com previsão de que as linhas de produção da Deutsche Arbeitsfront (Frente Trabalhista Alemã) pudessem funcionar a plena capacidade no segundo semestre do ano de 1940.

No entanto, neste mesmo ano os planos de expansão territorial do chanceler alemão, levariam a uma eminente eclosão de uma guerra na Europa, e este planejamento determinaria que todos os recursos industriais até então disponíveis fossem destinados ao esforço de guerra alemão. Assim as linhas de produção da Deutsche Arbeitsfront, ou popularmente agora conhecidas como Volkswagen que até então eram grande instrumento de propaganda da capacidade tecnológica alemã, foram rapidamente integradas a máquina de guerra alemã. A produção em série do carro popular foi interrompida após fabricação de poucas unidades, com as linhas de produção sendo destinadas agora a fabricação e de motores e componentes para veículos militares. Embora Adolf Hitler tenha discutido com Ferdinand Porsche a possibilidade de aplicação militar do Volkswagen em abril de 1937, só em janeiro de 1938 oficiais do alto escalão do Terceiro Reich se aproximaram formalmente do engenheiro, para solicitar o desenvolvimento de um veiculo de transporte militar leve e de baixo custo, que poderia ser operado de forma confiável tanto na estrada quanto fora dela, mesmo nas condições mais extremas de clima, devendo transportar até quatro soldados equipados. O novo veículo deveria ser de fácil construção para pode ser produzido e larga escala, e fonte não oficiais citavam, que o carro fora projetado com uma baixa expectativa de vida útil, sendo mais assim viável proceder a troca por outro novo do que proceder grandes reparos ou manutenções preventivas. Estas exigências resultariam em um veículo extremamente leve, possibilitando assim que leve que dois ou três soldados podiam levanta-lo para trocar um pneu, sem ajuda do macaco. Sua carroceria era composta com chapas fina de aço apresentando relevos estampados para manter a estrutura com carro com suficiente integridade visando suportar os movimentos de torção dos chassis em operações em um ambiente fora de estrada, tipo de terreno este que seria fartamente enfrentado no futuro teatro de operações do Leste Europeu que era desprovido de uma estrutura rodoviária satisfatória.
A equipe do engenheiro Ferdinand Porsche começou a trabalhar no projeto imediatamente, partindo do projeto original do “Volkswagen” (carro do povo) com a aplicação de ligeiras mudanças visando sua militarização, o primeiro protótipo seria apresentado ao comando do Exército Alemão (Wermatch) apenas um mês após a solicitação do pedido de desenvolvimento. Este carro seria submetido a um detalhando programa de testes de campos, que evidenciaram que os reforços estruturais aplicados no chassis original não eram suficientes para suportar as tensões recebidas durante o emprego em terrenos adversos, inviabilizando assim sua utilização militar. A fim de garantir a integridade estrutural e desempenho mínimo aceitável em ambientes fora de estrada (Off Road), do pequeno veículo com tração 4X2, a Porsche envolveria a empresa Trutz, uma experiente construtora de carrocerias militares, com o objetivo de atender a especificação original que previa para o carro um peso máximo de 550 kg vazio e 950 kg quando carregado. Destas alterações emergiria a versão de avaliação final, designada como Type 62, que passaria a ser submetida aos primeiros testes de campo pelo Exército Alemão (Wehrmacht), a partir de novembro de 1938. Apesar de não dispor de um sistema de tração nas quatro rodas, o veículo mostrou-se muito competente em manobrar seu caminho sobre terrenos acidentados, mesmo em uma comparação direta com versões semelhantes com este tipo de tração já em uso nas forças armadas daquele país, a presença um sistema de diferencial autoblocante produzido pela ZF aliada ao baixo peso do carro compensavam a falta da tração 4X4. Assim aprovado nos testes, um lote de pré-produção com  novas melhorias implementadas foi contratado, com um grande número de veículos sendo entregues a tempo de participarem dos combates ocorridos quando da invasão da Polônia a partir de setembro de 1939. A experiência em um cenario real de combate levaria a modificações e melhorias no projeto, incluindo entre estas a redução da velocidade mínima de 8km/h para 4km/h, permitindo assim o acompanhamento de soldados em marcha a pé. Modificações seriam aplicadas visando a melhoria na capacidade de atuação em ambiente fora de estrada (off road), incluindo a montagem de novos eixos com cubos de redução de engrenagem, que resultaria em um melhor torque, adoção de novos amortecedores reforçados, rodas de 16 polegadas e por fim um e um diferencial de deslizamento limitado, bem como inúmeras pequenas modificações, completaram a especificação. Para refletir as mudanças, o veículo foi rebatizado de Type 82.

A produção em grande escala do Type 82, agora batizado como Kubelwagen (uma abreviação de  Kübelsitzwagen - "carro de balde") teve início na planta da Volkswagen em fevereiro de 1940, com sua produção sendo gradativamente estendida a outras linhas de montagem espalhadas pelo pais durante o conflito, pertencentes a Tatra, Mercedes Benz e Opel. Basicamente o chassis, motor, transmissão e suspensão eram fabricados pela unidade industrial da  Stadt des KdF-Wagens (Volkswagen), na cidade Wolfsburg, com a carroceria em aço estampado sendo produzida pela Ambi Budd Presswerke (ABP) em Berlin. Durante todo seu período de produção continua, os Type 82 Kubelwagen foram produzidos sem nenhuma alteração drástica no projeto, sofrendo apenas pequenas modificações, a maioria eliminando partes desnecessárias e reforçando algumas, que se mostraram desiguais para a tarefa. Vislumbrando novos potenciais para a plataforma original e baseado em relatos colhidos em campo na invasão da Polônia, o brilhante designer Erwin Komenda, membro da equipe de Ferdinand Porsche, iniciou a pedido da Wehrmacht (Exército Alemao) desenvolvimento de uma versão anfíbia de fácil operação, onde, para se  fazer a transição do meio terrestre para o aquático bastava apenas o motorista manualmente abaixar o conjunto da hélice que ficava sobre o capo do motor traseiro quando nesta posição através de um sistema de acoplamento simples o eixo do virabrequim transferia a este conjunto todo o esforço motriz. A navegação era proporcionada pela operação do próprio volante, empregando as rodas dianteiras como leme. O primeiro protótipo designado como Type 128 Schwimmwagen (carro nadador) ficou pronto em 21 de setembro de 1940, foi baseado na versão original do Kubelwagen , recebendo um chassi alongado através de processo de soldagem e amortecedores reforçados, testes operacionais, no entanto apresentaram inúmeras deficiências graves. Entre estas baixo nível de rigidez e torção que ocasionavam quebras constantes na suspensão dianteira, como este nível de falha na podia ser aceito em um veículo anfíbio todo o projeto teve de ser revisto gerando assim uma nova versão a KDF Type 166 Schwimmwagen que passaria a ser equipado também com um novo motor mais potente (VW 1.13) que logo seria também padronizado para os demais modelo da família Kubelwagen , que após exaustivos testes  foi aceita pelo alto comando alemão , autorizando assim sua construção em série.
A produção desde novo modelo utilitário anfíbio foi destinada à fábrica da Volkswagen em Fallersleben / Stadt des KdF-Wagens e as linhas de montagem da Porsche na cidade de Stuttgart, com a estrutura monobloco (ou melhor cascos) produzidos pela companhia Ambi Budd em Berlim, que despacha os kits para as duas instalações fabris. Um total de 15.584 unidades do KDF Schwimmwagen de várias versões seriam produzidos entre os anos de 1941 e 1944, sendo 14.276 em Fallersleben e 1.308 carros na fábrica da Porsche em Stuttgart. Estas cifras tornariam o KDF Schwimmwagen carro anfíbio mais produzido em massa na história. Foram empregados pelo Exército Alemão (Wehrmacht) e pela Força Aérea Alemã (Luftwaffe) em todos os fronts de batalha da Segunda Guerra Mundial, obtendo excelente desempenho operacional nas condições mais adversas de campo. Estima se que atualmente existem apenas 163 veículos conservados, sendo que somente 13 em condições operacionais, sendo um deles mantido por um entusiasta e colecionador brasileiro.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Esta somatória de fatores exporia o país aos ataques do Eixo, através de campanha de torpedeamento de navios da marinha mercante brasileiras por submarinos alemães e italianos, levando a declaração formal de guerra aos países agressores em 22 de agosto de 1942. Isto culminaria da adesão do país ao programa de Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), ss termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e em um possível futuro front de batalha no teatro de operações Europeu que poderia envolver o envio de tropas brasileiras. Conforme o país se preparava para esta contenta através do recebimento de equipamentos e treinamento doutrinário moderno militar, em todo o mundo o conflito avançava rapidamente, ambos os lados estudavam detalhadamente as características de armas e equipamentos capturados ou abandonados em combate. A ideia básica por traz destes programas, era o não só identificar pontos fracos ou fortes destes equipamentos, mas também analisar possíveis avanços tecnológicos que poderiam ser incorporados em regime de engelharia reversa a seus próprios meios bélicos. E neste contexto o Exército Brasileiro também receberia grande parte dos relatórios de inteligência aliados referentes ao material bélico inimigo.

Junto as forças americanas mais notadamente junto ao corpo de paraquedistas do Exército Americano (US Army), centenas veículos do modelo Type 82 Kübelwagen, capturados em combate ou simplesmente encontrados após terem sido abandonados pelas tropas alemães em retirada, foram postos em condições plenas de serviço operacional por equipes de manutenção daquele exército, fazendo uso das informações contidas no manual técnico TM E9-803.  Devido a seu design único, estes carros recuperados foram totalmente repintados no padrão tático do Exército Americano (US Army) visando assim evitar serem confundidos com veículos inimigos pelas tropas aliadas. Aos veículos encontrados ou capturados na Europa se somaram muitos outros trazidos do norte da África que foram capturados após a derrota da divisão África Korps, do Exército Alemão (Wehrmacht), assim aos poucos os Type 82 Kübelwagen passaram a fazer parte do dia a dia das tropas aliadas. Com a invasão maciça da Europa pelas forças aliadas, e a pressão soviética no front leste levaram ao exército alemão a iniciar um processo e retirada, muitas vezes abandonando muitos equipamentos em campo. Nesta fase final do conflito a Força Expedicionária Brasileira se fazia presente no teatro italiano de operações desde meados de setembro de 1944 e iniciava sua campanha contra o exército alemão. Dispondo de treinamento ministrado exército americano e um vasto parque de material bélico fornecido nos termos do Leand & Lease Act Bill, as forças militares brasileiras logo entram em combate, tendo seu batismo de fogo ocorrido no dia 16 de setembro de 1944, quando o 6º Regimento de Infantaria efetuou o primeiro disparo de canhão e iniciou a campanha brasileira na Itália.
Em fins de 1944 a Itália já enfrentava mais de um ano da invasão das forças aliadas, que se iniciaram pelos desembarques na costa da Sicília e Salerno incialmente. Os grandes embates em terra contra os exércitos alemães e italianos, e as campanhas de bombardeio aéreo afetaram drasticamente infraestrutura de estradas e pontes do país, sendo fundamental o emprego de veículos anfíbios na transposição de rios e curso d’água. Quando do início da campanha da Força Expedicionária Brasileira na Itália, uma das constatações observadas era a dificuldade de mobilidade principalmente nas missões de reconhecimento avançado terrestre e transporte leve, tudo isto devido a infraestrutura de ponte e viadutos completamente destruída pelos combates que antecederam a chegada de nossos efetivos. Apesar de ter sido bem equipada em termos de veículos leves, médios e pesados, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) recebeu apenas 5 unidades do anfíbio Ford Jeep GPA (tendo em vista a alta demanda deste tipo de veículo no tetro de operações da França, Holanda, Belgica e Alemanha), uma quantidade completamente desproporcional quando comparado ao total de 985 jeeps convencionais fornecidos. A carência de mais veículos anfíbios, dificultava as missões de reconhecimento avançado e apesar de serem solicitados mais unidade do Ford Jeep Gpa, os mesmos nunca foram entregues. Em meados de setembro de 1944 as tropas brasileiras já se encontravam em plena atividade participando de vários combates exaustivos, desde Diecimo, passando por Piano della Rocca; Borgo a Mozzano, Ghivizzano, Coreglia, Galliciano, Barga até Fornace di Baga. Neste contexto as forças alemãs da 148ª Divisão alemã, e parte de uma Divisão Panzer, 90º D.B estavam em retirada em alta velocidade para a linha Gótica, descartando neste processo todo qualquer material e equipamento que não fosse essencial.

Assim entre os dias 25 e 27 de setembro os efetivos de infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e encontraram abandonado ao longo de uma estrada secundaria nas proximidades da cidade de Fornace di Baga, um exemplar de um Type 166 Schwimmwagen. Aparentemente o mesmo fora ali deixado por pane seca, tendo em vista que a escassez de combustível havia se tornado crônica junto as unidades do Exército Alemão (Wehrmacht). Após ser abastecido verificou-se que não havia problemas mecânicos ou estruturais aparentes, pois seu motor estava girando normalmente com demais funções normais, assim foi decidido encaminhar o veículo para o corpo de mecânicos de manutenção. Desta maneira uma pequena revisão em âmbito de campo foi feita, verificando principalmente os sistemas elétricos e de freios, com o veículo sendo liberado para ajunto a força mecanizada do contingente brasileiro, visando assim tentar amenizar levemente a falta de veículos leves anfíbios.  A necessidade de ter o mesmo em operação rapidamente o impediu de receber uma nova pintura no padrão tático norte americano, com Type 166 Schwimmwagen "brasileiro", recebendo apenas marcações de identificação de serial e unidade  em branco (relatos extra oficiais informam que o veículo deveria ter anteriormente pertencido a unidade do Afrika Korps, tendo em vista que a base original de sua camuflagem era do tipo emprego no deserto pelo Exército Alemão). Não existem muitos registros ou muitas fotografias de época sobre a operação deste modelo pelo Exército Brasileiro no front Italiano, mas acredita-se que devido sua robustez natural e facilidade de manutenção, o valente anfíbio alemão se manteve em operação continua durante o restante da campanha da Itália. A 2 de maio, ao cessarem as hostilidades na Itália com a capitulação do último corpo de Exército germânico, a divisão brasileira ocupava a cidade de Alessandria desde 30 de abril, e estabelecia ligação com o Exército francês em Susa, próximo à fronteira franco-italiana. Após este dia ficou determinado o retorno das tropas da Força Expedicionária Brasileira ao Brasil, e juntamente com o corpo de pessoal todo o equipamento militar em bom estado empregado seria despachado em navios de carga de volta ao Brasil. Quanto ao destino final do Type 166 Schwimmwagen, acredita-se que o mesmo foi descartado juntamente com outros veículos e materiais considerados sem valor militar.
No início da década de 1960, talvez pudesse ser mais fácil lançar um foguete para a Lua do que obter um VW Schwimmwagen da II Guerra Mundial em boas condições de uso. Apenas cerca de 15.000 exemplares deste anfíbio foram fabricados entre 1943 e 1944. A estimativa era que havia quase 60 deles na Europa naqueles tempos, 30 deles na República Federal da Alemanha, como era chamada a Alemanha Ocidental. Porém curiosamente dois destes raros carros anfíbios acabariam por chegar ao Brasil pelas mãos de um imigrante alemão chamado Dieter Schnur, com esta pitoresca história  publicada no caderno de Bremen (cidade portuária no norte da Alemanha) do jornal Weser-Kurier de 20 de fevereiro de 1961, sobre a viagem do Dieter Schnur com sua noiva e seu VW Schwimmwagen para o Brasil. No dia 17 de fevereiro de 1961, os estivadores do galpão 1 do Europahafen (Porto Europa — uma das docas do porto de Bremen), não acreditaram em seus olhos quando um Schwimmwagen da antiga Wehrmacht (Exército do III Reich), com equipamento e insígnias de guerra, novinho em folha, suspenso por uma travessa, flutuou no ar e desapareceu por um alçapão do convés na popa do navio cargueiro “Santa Isabel”. Um segundo exemplar montado com peças coletadas em toda a Europa seria ainda enviado também por Dieter Schnur anos mais tarde. Um destes ainda existe e plenamente operacional e restaurado no padrão de cores originais do Africa Korps, que  participa ativamente  de diversos eventos automotivos no país.

Em Escala.
Para representarmos o Type 166 Schwimmwagen "Brasileiro" empregamos o kit da Tamiya na escala 1/35, modelo de fácil montagem, porém com carência de detalhamentos. Não há necessidade de se proceder nenhuma alteração para compormos o veículo empregado pelas tropas brasileiras. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como   complemento do livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército Alemão (Wehrmacht) na Europa naquele período, com a alusão ao possível emprego anterior durante a campanha no norte da África, com este esquema sendo informado no manual de pintura do kit do fabricante.

Bibliografia: 

- "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro
- Volkswagen Schwimmwagen - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Volkswagen_Schwimmwagen
Dois “Schwimmwagen” para o Brasil - https://autoentusiastas.com.br/
- VW Type 166 - http://www.gieldaklasykow.pl/volkswagen-typ-166-schwimmwagen-1944-niemcy/