M-1 Antitanque (57 mm)

História e Desenvolvimento.
No início da década de 1930, as unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) contavam com metralhadoras de calibre .50 (12,7 mm) como suas armas de maior potência. Embora estudos já estivessem em andamento para desenvolver uma arma de maior calibre, capaz de neutralizar veículos automotores e carros blindados contudo, os estudos iniciais eram embrionários e enfrentavam resistência de oficiais de alta patente, que viam o desenvolvimento de novas armas como uma prioridade secundária. A necessidade de conter custos levou os militares a priorizar a análise de peças de artilharia de calibres semelhantes disponíveis no mercado, evitando o desenvolvimento de novos projetos do zero. Entre os modelos avaliados, destacou-se um canhão alemão, que serviu de inspiração para o desenvolvimento, a partir de 1938, do primeiro canhão antitanque americano, o M-3 37 mm. Esta classificada como "leve" apresentava um peso de  de aproximadamente 414 kg, o que facilitava seu transporte por equipes de infantaria ou veículos leves. Ele utilizava munições perfurantes (AP) e explosivas (HE), com uma cadência de tiro de cerca de 20 disparos por minuto. Sua mobilidade e facilidade de operação eram pontos fortes, mas o alcance efetivo, limitado a cerca de 500 metros contra alvos blindados.  Essa arma representou um avanço significativo para o Exército dos Estados Unidos (US Army), sendo projetada para enfrentar as ameaças emergentes de veículos blindados.   O M-3 37 mm recebeu seu batismo de fogo em dezembro de 1941, durante a defesa das Filipinas contra o Exército do Império do Japão. Nesse cenário, o canhão demonstrou sua eficácia contra alvos pouco blindados, como veículos automotores e posições de infantaria japonesas. Seu desempenho foi particularmente notável na Campanha de Guadalcanal (1942), onde foi amplamente utilizado contra a infantaria inimiga e os carros de combate japoneses, cuja blindagem leve era facilmente penetrada pelos projéteis de 37 mm. Essas operações iniciais renderam elogios ao M-3, destacando sua mobilidade e facilidade de operação em terrenos desafiadores.  O verdadeiro teste do M-3 37 mm veio durante a Campanha do Norte da África (1942-1943), onde enfrentou os modernos carros de combate alemães, como os Panzer III e IV. Nesse teatro de operações, o canhão revelou suas limitações críticas: seu calibre de 37 mm era insuficiente para penetrar a blindagem mais robusta dos tanques alemães. Relatórios de inteligência elaborados após a desastrosa Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, indicaram que os projéteis do M-3 mal causavam danos significativos aos blindados da Wehrmacht, sendo descritos como incapazes de "arranhar" os tanques inimigos. As análises iniciais geraram debates entre os oficiais americanos, com explicações que variavam entre a obsolescência do equipamento, táticas inadequadas ou falta de experiência das equipes. Estudos mais detalhados, no entanto, concluíram que o M-3 era intrinsecamente inadequado para enfrentar as novas ameaças blindadas, destacando a necessidade urgente de substituí-lo por um canhão de maior calibre e potência.

A constatação das limitações do canhão antitanque M-3 37 mm durante a Campanha do Norte da África, especialmente após a Batalha de Kasserine em 1943, levou o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) a priorizar a substituição dessa arma por sistemas de maior calibre e potência. A incapacidade do M-3 de enfrentar os modernos tanques alemães, como os Panzer III e IV, revelou a urgência de adaptar a artilharia antitanque às rápidas evoluções tecnológicas do campo de batalha na Segunda Guerra Mundial. A trajetória do M-3, marcada por sucessos iniciais contra blindagens leves no Pacífico, ilustra os desafios enfrentados pelos militares norte-americanos em acompanhar o ritmo das inovações militares, impulsionando o desenvolvimento de canhões como o M-1 57 mm e o M-5 76 mm. Paralelamente, do outro lado do Atlântico, o Exército Real Britânico (Royal Army) enfrentava desafios semelhantes. No início de 1940, o comando britânico reconheceu a obsolescência do canhão antitanque QF 2 Pounder 40 mm, cuja ineficácia foi evidente nos primeiros meses da Campanha da França, quando confrontado com os avançados carros de combate alemães. Diante dessa realidade, foi emitida uma demanda urgente aos arsenais britânicos para o desenvolvimento de uma nova arma antitanque capaz de superar essas limitações. O Woolwich Arsenal, renomado por sua expertise na produção de artilharia, foi selecionado para liderar o projeto. A escolha do calibre 57 mm foi estratégica, baseada na experiência da instituição na fabricação de peças semelhantes no final do século XIX. Esse know-how, combinado com o ferramental existente, permitiu eliminar etapas no processo de desenvolvimento, acelerando a concepção do novo canhão, que seria designado QF 6 Pounder 57 mm. A fase de projeto foi finalizada em meados de 1940, mas o desenvolvimento do reparo de transporte enfrentou atrasos, sendo concluído apenas em fevereiro de 1941, o que impactou o cronograma original. A situação foi agravada pelos eventos da queda da França e da evacuação das praias de Dunquerque, durante a Operação Dynamo (1940). Nesse processo, a Força Expedicionária Britânica (British Expeditionary Force – BEF) perdeu grande parte de seus equipamentos e armamentos, incluindo canhões antitanque. Com a ameaça iminente de uma invasão alemã e a escassez de armas disponíveis, o comando britânico tomou a decisão pragmática de priorizar a produção em massa do QF 2 Pounder 40 mm, uma arma já em uso, que não exigia treinamento adicional ou adaptação das tropas. Essa escolha, motivada por questões de produtividade e urgência, adiou a fabricação do QF 6 Pounder. A produção do QF 6 Pounder 57 mm foi iniciada em novembro de 1941, com sua entrada em serviço operacional a partir de maio de 1942. Apesar dos atrasos, o canhão provou ser um avanço significativo, oferecendo maior poder de penetração e eficácia contra os blindados alemães em comparação com seu antecessor. Sua introdução no campo de batalha marcou um momento crucial na modernização da artilharia antitanque britânica, contribuindo para o esforço aliado em teatros como o Norte da África.
O canhão antitanque QF 6 Pounder 57 mm, desenvolvido pelo Exército Real Britânico (Royal Army), enfrentou seu batismo de fogo durante a Batalha de Gazala, entre 26 de maio e 21 de junho de 1942, no deserto do Norte da África. Nesse confronto, as forças aliadas, equipadas com o QF 6 Pounder, enfrentaram as divisões blindadas alemãs e italianas sob o comando do General Erwin Rommel. Apesar do desempenho notável do canhão, que demonstrou eficácia contra os tanques do Eixo, a batalha culminou em uma vitória das forças adversárias. Contudo, os relatórios detalhados do uso do QF 6 Pounder confirmaram sua superioridade em relação aos canhões antitanque anteriores, como o QF 2 Pounder 40 mm, destacando sua capacidade de penetração e versatilidade no campo de batalha. A performance do QF 6 Pounder chamou a atenção do Exército dos Estados Unidos (US Army), que buscava urgentemente substituir o obsoleto M-3 37 mm, cuja ineficácia contra os tanques alemães Panzer III e IV foi evidenciada na Campanha do Norte da África. Reconhecendo o potencial do canhão britânico, os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido celebraram um acordo para a produção sob licença do QF 6 Pounder, designado nos EUA como M-1 Gun 57 mm. A variante escolhida foi baseada no modelo QF 6 Mark II, e dois exemplares foram enviados ao Watervliet Arsenal para a confecção de gabaritos e ferramental, permitindo a adaptação do projeto às capacidades industriais americanas. A alta demanda pelo M-1 57 mm levou à decisão de expandir a produção para o Rock Island Arsenal, com as primeiras unidades entregues a partir de outubro de 1942. Para atender às especificidades operacionais americanas, foram desenvolvidas variantes: o M-1A1, equipado com pneus e rodas do tipo US Combat, e o M-1A2, que incorporava a prática britânica de travessia livre, permitindo que a tripulação ajustasse a direção do canhão manualmente, empurrando e puxando a culatra, em vez de depender exclusivamente de engrenagens. Contudo, visando otimizar a produtividade em meio às pressões da guerra, a partir da primavera de 1943, o foco industrial foi direcionado à produção da versão padrão M-1. Cerca de dois terços da produção do M-1 foram destinados às divisões do US Army baseadas na Inglaterra, garantindo alta disponibilidade para a planejada invasão da França em 1944, um marco crucial na campanha aliada na Europa Ocidental. O restante da produção foi alocado ao programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), que forneceu apoio militar aos aliados. A maior parte dessas peças foi entregue às forças britânicas, reforçando sua artilharia antitanque, enquanto um pequeno volume foi cedido à União Soviética, para uso pelo Exército Vermelho em sua luta contra as forças do Eixo.

A adoção do QF 6 Pounder e sua produção como M-1 57 mm ilustram a colaboração estreita entre os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, unindo esforços para superar as limitações tecnológicas e táticas diante de um inimigo formidável. A transição do M-3 37 mm para o M-1 57 mm, inspirada no sucesso do QF 6 Pounder, reflete a determinação dos militares americanos e britânicos em adaptar suas capacidades ao ritmo acelerado da guerra. O M-1 57 mm, com sua maior potência e versatilidade, tornou-se um pilar da artilharia antitanque aliada, contribuindo significativamente para o esforço de guerra e deixando um legado de inovação e resiliência na história militar. Como registrado anteriormente, os canhões M-1 Gun e QF6 Pounder apresentaria resultados extremamente positivos, sendo capaz de penetrar qualquer blindagem dos veículos alemães e italianos. Em sua ação mais célebre, os canhões de QF 6 Pounder do 2º Batalhão, a Brigada de Fuzileiros (juntamente com parte da Artilharia Real de Bateria Antitanque 239), destruiriam mais de quinze tanques inimigos na ação em 'Snipe' durante a Segundo Batalha de El Alamein. Com estes resultados se repetindo posteriormente durante as fases iniciais da invasão da Itália. No entanto ao longo do ano seguinte, os alemães introduziram projetos muito mais pesados e fortemente blindados de carros de combate, especialmente os tanques Tiger I e o Panther, contra os quais a munição de 57 mm se mostraria ineficaz quando empregada contra sua blindagem frontal. Desta maneira as forças aliadas passariam a empregas táticas de engajamento lateral e traseiro, com os canhões QF6 Pounder sendo responsáveis pelos primeiros carros de combate Tiger destruídos no norte da África. A partir de maio de 1944 este cenário começaria a mudar, com os carros de combate alemães de nova geração passando a ser vítimas com a introdução de munições mais sofisticadas como o Armor-Piercing Composite Rigid - APCR (munição perfurante de blindagem), Armor-Piercing e Discarding Sabot - APDS. Próximo a implementação da operação Overlord os canhões M-1 Gun 57 mm se encontravam disponíveis em grande número na Europa, e de acordo Tabela de Organização e Equipamentos (TO&E) de 26 de maio de 1943, uma Companhia Regimental Antitanque, passava a incluir nove canhões de 57 mm e cada batalhão dispunha de um pelotão antitanque com três canhões, totalizando dezoito armas destas por regimento. Em meados de 1944, o M-1 57 mm já representava o equipamento padrão das forças norte-americanas na Frente Ocidental, superando largamente em números os canhões M- 3 Gun 37 mm. Durante a campanha de invasão na Normandia os canhões antitanque M1 57 mm, apresentaram destacada participação no esforço aliado, e neste cenário seriam tracionados pelos veículos Dodge WC-63 1 1⁄2 Toneladas 6x6 e  White M-3 Half-Track. 
Com a consolidação da cabeça de ponte na Normandia após a Operação Overlord em 1944, os canhões antitanque M-1 57 mm, produzidos sob licença nos Estados Unidos com base no britânico QF 6 Pounder, foram cedidos às Forças Francesas Livres (France Libre), desempenhando um papel crucial no avanço aliado contra as forças do Eixo na Frente Ocidental. Esses canhões, tracionados por veículos como o Dodge WC-63 e o White M-3 Half-Track, ofereceram mobilidade e potência de fogo, contribuindo significativamente para o sucesso das operações na França. A colaboração entre os aliados, exemplificada pela transferência dessas armas, reforçou a determinação coletiva de derrotar a ameaça nazi-fascista. Com o fim da Segunda Guerra Mundial em maio de 1945, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a desmobilização de suas tropas, e os canhões M-1 57 mm começaram a ser gradualmente desativados. A introdução de novas tecnologias, como canhões sem recuo e bazucas, que ofereciam maior mobilidade e poder de penetração, marcou a transição para uma nova geração de armas antitanque. Apesar disso, o M-1 permaneceu relevante em conflitos subsequentes devido à sua confiabilidade e disponibilidade em grandes quantidades. O eclodir da Guerra da Coreia (1950-1953) trouxe o M-1 57 mm de volta ao cenário de combate. Muitas unidades foram mobilizadas e cedidas ao Exército da Coreia do Sul (Daehanminguk Yuk), onde se mostraram eficazes em operações contra blindados leves e posições fortificadas. A versatilidade do canhão, aliada à sua facilidade de operação, garantiu sua utilidade em um conflito marcado por combates intensos em terrenos variados. Antes mesmo da Guerra da Coreia, as Forças de Defesa de Israel (IDF) tornaram-se um dos maiores operadores pós-guerra do M-1 57 mm e do QF 6 Pounder. Empregados em batalhões antitanque em nível de brigada e pelotões antitanque de batalhão, esses canhões eram essenciais para as operações defensivas e ofensivas de Israel. Até o final de 1955, o IDF contava com 157 peças em serviço ativo, e, em 1956, mais 100 unidades foram adquiridas da Holanda. Infelizmente, essas últimas chegaram tarde demais para serem utilizadas na Crise do Canal de Suez (1956), mas reforçaram o arsenal israelense em conflitos posteriores. O M-1 57 mm também foi adotado pelas Forças Armadas do Paquistão, onde serviu por muitos anos. Atualmente, várias dessas peças são preservadas como gate guardians (guardas do portão) em bases militares paquistanesas, simbolizando sua importância histórica. Durante a Guerra do Biafra (1967-1970), tanto o Exército Federal da Nigéria quanto as Forças Armadas de Biafra fizeram uso do M-1/QF 6 Pounder, adaptando-os até mesmo como canhões embarcados em pequenos navios, demonstrando a versatilidade do sistema em contextos não convencionais. Entre 1942 e 1945, os arsenais norte-americanos, incluindo o Watervliet Arsenal e o Rock Island Arsenal, produziram mais de 15.000 canhões da família M-1 57 mm.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, impulsionada pelo programa norte-americano Lend-Lease Act. A partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em  Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados.  A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música. Além disso, a infantaria recebeu uma variedade de armas anticarro e antitanque, incluindo 57 canhões M-1 57 mm, uma arma até então inédita no Exército Brasileiro.  Para operar esses canhões, foi criada, em 12 de abril de 1943, pelo Decreto-lei nº 5.388-A, a Companhia de Canhões Antitanque, destinada a reforçar a capacidade da FEB de enfrentar blindados inimigos. Esses canhões M-1 57 mm, baseados no britânico QF 6 Pounder, ofereciam maior poder de penetração em comparação com os obsoletos M-3 37 mm, representando um avanço significativo para as operações brasileiras.
Embora as tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB)  destinadas ao teatro de operações na Itália tenham passado por um intensivo programa de treinamento nos centros de instrução do Campo dos Afonsos e Gericinó, no Rio de Janeiro, a familiarização com equipamentos mais complexos, como os canhões antitanque M-1 57 mm e os obuseiros modernos, ainda apresentava deficiências. Essa lacuna foi suprida em solo italiano, com a implementação de um programa de instrução entre 5 e 18 de agosto de 1944, na localidade de Tarquinia, situada 60 quilômetros a noroeste de Roma. Nesse período, os soldados brasileiros responsáveis pela operação dos canhões antitanque foram treinados por militares do V Exército dos Estados Unidos, que possuíam vasta experiência no manejo do M-1 57 mm. Esse treinamento focou na doutrina operacional e nas técnicas de emprego do canhão, capacitando os pracinhas brasileiros para enfrentar os desafios do combate contra blindados no front italiano. No dia 15 de setembro de 1944,  clima gelado  já prenunciava os rigores do inverno próximo, e seria nestas condições que a  Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia seu batismo de fogo, quando as tropas lideradas pelos General Zenóbio da Costa, atuariam em coordenação com três companhias norte-americanas, com esta operação enfrentando pouca resistência do inimigo. Dois dias depois seriam conquistadas as localidades de Massarosa, Bozzano e Quiesia, não sendo registrado, no entanto, nenhum encontro com unidades blindadas alemães ou italianas.  A exemplo da formatação de emprego doutrinário original do Exército dos Estados Unidos (US Army), os canhões antitanque M-1  Gun de 57 mm podem ter sido empregados em conjunto com os canhões M-3 Gun de 37 mm. Junto ao contingente brasileiro, estas armas equipariam o  1º Regimento de Infantaria – Sampaio, 6º Regimento de Infantaria – Ipiranga e 11º Regimento de Infantaria – Tiradentes e pela Companhia Anti Carros. Existem poucos registros oficiais do emprego destes canhões contra veículos blindados inimigos, com estas peças sendo geralmente utilizadas em ataques contra pontos de defesa ou fortificações inimigas. Após o término do conflito em maio de 1945, todos os canhoes M-1 Gun de 57 mm bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade todos estes materiais considerados em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Após serem recebidos no porto do Rio de Janeiro em julho deste mesmo ano, estas peças de artilharia "italianas", passariam a ser concentradas nas unidades de Infantaria e de Companhias Anti Carro, que já operam o mesmo tipo de armamento recebido anteriormente.   

O canhão antitanque M-1 57 mm, baseado no britânico QF 6 Pounder, desempenhou um papel significativo na modernização da artilharia do Exército Brasileiro durante e após a Segunda Guerra Mundial. Ao longo de sua trajetória, essas armas foram tracionadas por uma variedade de veículos, refletindo a evolução das capacidades logísticas da Força Terrestre. Inicialmente, os M-1 foram tracionados por carros blindados como o M-3A1 Scout Car, blindados meia-lagarta White M-2, M-3 e M-5, e utilitários Dodge WC-63 e WC-62 Beep 6x6 Big Foot. Próximo ao fim de sua carreira operacional, já na década de 1960, veículos utilitários nacionais militarizados, como os Ford Willys-Overland Rural F-85, assumiram essa função, demonstrando a adaptabilidade do Exército Brasileiro às condições locais. Embora o M-1 57 mm fosse consideravelmente superior ao seu antecessor, o M-3 37 mm, em termos de potência e eficácia contra blindagens, sua operação no Exército Brasileiro enfrentou restrições significativas devido à escassez de munição de 57 mm. Ao contrário do calibre 37 mm, amplamente disponível por equipar os carros de combate leve CCL M-3 Stuart e os blindados VBR  M-8 Greyhound, e produzido localmente, a munição de 57 mm nunca foi fabricada no Brasil. Essa limitação restringiu o treinamento prático de tiro, impactando a plena exploração das capacidades do M-1 57 mm. No início da década de 1960, o Exército Brasileiro recebeu um novo lote de canhões M-1 57 mm, provenientes de unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), cuidadosamente armazenados desde sua desativação no final dos anos 1950. Essa cessão, parte do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, incluiu também um significativo estoque de munição de 57 mm de diversos tipos, proporcionando um alívio para a escassez anterior. Com isso, foi possível retomar a operacionalidade do M-1 57 mm, permitindo sua redistribuição para além dos Regimentos de Infantaria (RI) e das Companhias de Canhões Anticarros (CCAC), alcançando também alguns Esquadrões de Reconhecimento Motorizado (Esqd Rec Mec). Essa ampliação reforçou a capacidade antitanque da Força Terrestre, atendendo às demandas táticas da época. Um momento notável na história do M-1 57 mm no Brasil foi seu emprego durante a Revolução de 1964 (ou Contra-Revolução, conforme a perspectiva), deflagrada em 31 de março daquele ano. Nesse contexto, o Exército Brasileiro mobilizou suas forças nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro para demonstrações de força, e os canhões M-1 foram utilizados em operações de prontidão. Embora não tenham sido empregados em combates diretos, sua presença reforçou a capacidade de dissuasão da Força Terrestre, destacando a relevância estratégica desses equipamentos em momentos de crise política.
A partir do final de 1965, no âmbito do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, as Forças Armadas Brasileiras começaram a receber novos lotes de equipamentos bélicos modernos de origem norte-americana, marcando um novo capítulo na modernização de seu arsenal. Nesse contexto, o Exército Brasileiro foi contemplado com um número considerável de canhões sem recuo (CSR) M-40, M-40A1 e M-40A2  Recoilless Rifle  de 106 mm, projetados especificamente para missões anticarro e antitanque. Essas armas, caracterizadas por seu menor peso, facilidade de manejo e alta eficiência operacional, representaram um avanço significativo em relação aos canhões antitanque M-1 57 mm, que, apesar de sua relevância durante a Segunda Guerra Mundial e na Revolução de 1964, enfrentavam limitações devido à escassez de munição. Os canhões sem recuo CSR , com sua maior potência e versatilidade, começaram a substituir imediatamente os M-1 57 mm nos Batalhões de Infantaria. Além disso, eles passaram a equipar unidades que ainda utilizavam os obsoletos canhões M-3 37 mm, ampliando a capacidade antitanque da Força Terrestre. A introdução dos canhões se recuo permitiu ao Exército Brasileiro atender às demandas do combate moderno, oferecendo maior mobilidade e poder de fogo em comparação com seus predecessores. Essa transição refletiu o compromisso com a atualização das capacidades operacionais, alinhando o Brasil às tendências globais em armamentos antitanque. Apesar de sua superioridade operacional, o M-1 57 mm enfrentava um desafio persistente: a escassez de munição de 57 mm, agravada pelo seu intenso uso em anos anteriores. Diferentemente do calibre 37 mm, amplamente disponível e produzido localmente para os carros de combate M-3 Stuart e blindados M-8 Greyhound, a munição de 57 mm dependia exclusivamente de importações, limitando o treinamento e o emprego prático do canhão. Esse cenário levou, em 1967, à decisão de iniciar o processo de desativação do M-1 57 mm. A retirada gradual dessas armas culminou em meados de 1972, encerrando sua carreira operacional no Exército Brasileiro. Após sua desativação, muitos canhões M-1 57 mm foram preservados como monumentos nas sedes de unidades operacionais, simbolizando a história de bravura e modernização da artilharia brasileira. Outras peças foram destinadas a museus militares espalhados pelo país, onde passaram a integrar acervos que celebram o legado da Força Terrestre. Algumas unidades foram desmilitarizadas e adquiridas por entusiastas e colecionadores civis, permitindo que a memória do M-1 continuasse viva em coleções particulares.

Em Escala:
Para recriar o canhão antitanque M-1 57 mm, um marco na história da artilharia brasileira durante a Segunda Guerra Mundial e eventos posteriores, como a Revolução de 1964, foi utilizado o kit na escala 1/35 produzido pela Riich Models. Este modelo, embora apresente desafios devido à qualidade mediana da injeção plástica, com rebarbas que exigem cuidado adicional durante a montagem, destaca-se positivamente pelo conjunto detalhado de peças em photo-etched. Essas peças conferem maior realismo e precisão aos componentes do canhão, como o reparo e os sistemas de travessia, capturando a essência do M-1 em sua configuração operacional. A representação da versão empregada pelo Exército Brasileiro não requer alterações adicionais, permitindo que o kit seja montado diretamente da caixa.
O canhão antitanque M-1 57 mm, peça fundamental na modernização da artilharia do Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, foi recebido a partir de 1942 com um esquema de pintura tático único, baseado no sistema Federal Standard (FS). Esse padrão, aplicado às primeiras 57 unidades cedidas à Força Expedicionária Brasileira (FEB) por meio do programa Lend-Lease Act e mantido nos lotes subsequentes recebidos na década de 1960, foi projetado para garantir camuflagem eficaz em diversos cenários operacionais, desde os campos de batalha na Itália até operações domésticas, como a Revolução de 1964. O esquema de pintura permaneceu inalterado ao longo de toda a carreira operacional do M-1 57 mm no Brasil, refletindo sua adequação às necessidades táticas da Força Terrestre.


Bibliografia: 
- M-3 57 mm Gun Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Ordnance_QF_6-pounder
- US M-1 57 mm Anti-tank gun at Militaria: Weapons - http://efour4ever.com/57mm.htm
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf

Sistema SARC REMAX (12,7 MM)

História e Desenvolvimento.
Durante a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940, o Brasil firmou acordos com os Estados Unidos para receber missões militares destinadas a fortalecer as Forças Armadas Brasileiras. Esse período revelou a vulnerabilidade do país em lidar com ameaças externas, devido à sua dependência de tecnologias importadas e à ausência de autonomia no desenvolvimento de equipamentos militares. Neste momento ficaria evidente o despreparo do pais, na tarefa de se enfrentar ameaças e conflitos externos por falta de autonomia na área tecnológica. Isto posto, ficaria claro o quanto a Ciência e a Tecnologia seriam o vetor fundamental para a soberania nacional, nascendo neste momento da necessidade de manutenção destes veículos e equipamentos importados, os primeiros embriões de organizações militares dedicadas a engenharia, pesquisa e desenvolvimento. Nesse contexto, surgiram os primeiros embriões de organizações militares voltadas para a engenharia, pesquisa e desenvolvimento, que  mo futuro dariam origem ao Centro Tecnológico do Exército (CTEx). Nas décadas subsequentes, esse processo evoluiu de forma gradual, mas foi na década de 1970 que o Exército Brasileiro intensificou seus esforços para consolidar uma estrutura dedicada à inovação militar. Em 1975, um grupo de trabalho foi estabelecido com o objetivo de criar um centro capacitado para atender às demandas de pesquisa e desenvolvimento de materiais bélicos. Esse esforço culminou, em 16 de outubro de 1979, com a publicação do Decreto nº 84.095, que instituiu oficialmente o Centro Tecnológico do Exército (CTEx). Subordinadas ao CTEx, foram criadas unidades especializadas, como o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), o Instituto de Projetos Especiais (IPE) e o Campo de Provas da Marambaia (CPrM), consolidando a infraestrutura necessária para o avanço tecnológico militar no Brasil. A criação do CTEx coincidiu com um período de renovação da frota de veículos militares do Exército Brasileiro, o que impulsionou o desenvolvimento de projetos nacionais. Esse movimento ganhou força com parcerias estratégicas entre o Exército e a indústria brasileira, destacando-se empresas como a Engesa S/A e a Bernardini S.A. Indústria e Comércio. Essas colaborações marcaram a chamada "era de ouro" da Base Industrial de Defesa Nacional, na qual o Brasil se consolidou como um produtor de equipamentos militares de relevância global. Durante as décadas de 1970 e 1980, empresas brasileiras conquistaram contratos de exportação para milhares de viaturas militares, incluindo blindados como o EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu, projetados e fabricados no país, que foram adquiridos por nações da América Latina, África e Oriente Médio. No entanto, o fim da Guerra Fria, no final da década de 1980, trouxe uma drástica redução na demanda global por armamentos e veículos militares. Esse cenário impactou diretamente a indústria de defesa brasileira, levando ao encerramento das operações de diversas empresas, incluindo a Engesa e a Bernardini. 

Porém apesar do país não contar mais com um pujante parque industrial de defesa, felizmente o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) continuaria sua busca pelo estudo e desenvolvimento de novas tecnologias que pudessem ser incorporadas aos efetivos da Força Terrestre Brasileira. Entre diversos projetos de grande importância nascidos no seio desta organização, destaca-se o desenvolvimento de um Sistema de Armas Remotamente Controlado (SARC), que deveria ser destinado a equipar viaturas blindadas do Exército Brasileiro. O conceito deste sistema remontaria a meados da década de 1960, com a criação do programa norte-americano “Remote Controlled Weapon Station” (RWCS), ou Estações de Armas Remotamente Controladas. O principal objetivo deste sistema, seria o de proporcionar maior segurança à guarnição no interior das viaturas do Exército dos Estados Unidos (US Army), quando empregados em cenários de conflagração. Deveriam proporcionar além de se segurança ao operador, maior precisão no disparo da metralhadora e maior consciência situacional proporcionadas pelas câmeras externas, devendo poder operar normalmente em um cenário de combate noturno, sendo assim integrado a um conjunto de visão termal. O estágio inicial deste programa previa o desenvolvimento para emprego de para armas leves e de médio calibre, que podiam ser instaladas em veículos de combate terrestres ou plataformas de combate marítimas e aéreas. Os primeiros conjuntos funcionais  começariam a ser entregues as unidades operacionais militares, em fins da década seguinte, sobe o codinome de Estação de Armas Operadas Remotamente (CROWS).  No entanto o amadurecimento da tecnologia ao longo dos anos seguintes eliminaria uma série de deficiências do sistema original, resultando no modelo M-101 CROWS, que permitiria ao operador a capacidade de adquirir e engajar alvos enquanto estivesse dentro de um veículo. O conjunto seria projetado para emprego a partir de uma variada gama de plataformas, podendo ser armado com lançadores de granada MK-9, metralhadoras Browning M-2 calibre 12,7 mm,  M-240B  calibre 7,62 mm e  M-249 de calibre 5,56 mm. O sistema seria composto por duas partes: a plataforma que é fixada no exterior do veículo e o grupo de controle, sendo capaz de operar com rotação de 360° e de elevação entre  − 20° a + 60° com emprego de giroscópio para estabilização, com este conjunto sendo completado com uma câmera de vídeo à luz do dia, uma câmera térmica e um rangefinder laser seguro para os olhos. Durante as décadas seguintes, mais nações desenvolveriam seus próprios projetos deste tipo de sistema de armas automáticas, se destacando entre outros o belga  FN Herstal Defender, o finlandês Patria PML 127 OWS, os russos Bumerang-BM -  AU-220M - Arbalet-DM - Сервал  e por fim o  israelense Samson RCWS - Katlani. 
Estes sistemas de armas e sua consequente eficiência no emprego em situações reais de combate logo mostrariam seu valor, despertando a atenção do comando do Exército Brasileiro, visando sua possível aquisição seja por desenvolvimento próprio ou importação. No ano de 2005, a Secretaria de Ciência e Tecnologia, passaria a ser comandada pelo General Alberto Mendes Cardoso, que implementaria uma série de mudanças na organização, iniciando a fusão desta com Secretaria de Tecnologia da Informação (STI), originando então a Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT). Desta maneira seriam absorvidas todas a áreas de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de Material de Emprego Militar (MEM), atualmente denominados Sistemas e Materiais de Emprego Militar (SMEM). Neste contexto o General Cardoso, com o apoio de seu vice-chefe, o General Ubiratã Athayde Marcondes (atual gerente de sistemas terrestres da empresa ARES Aeroespacial e Defesa), elaboraria o Plano Básico de Ciência e Tecnologia (PBCT), que fixaria ações estratégicas alinhadas ao Planejamento Estratégico do Exército Brasileiro, vigente à época e que atendia à visão de futuro de buscar um patamar tecnológico com valor dissuasório. Entre seus principais projetos, o programa do Morteiro de 120 mm, já se encontrava em fase final de homologação operacional, permitindo assim a alocação de recursos financeiros e humanos em novos projetos. Dentro do escopo do Plano Básico de Ciência e Tecnologia (PBCT) encontrava-se sobre o comando do Capitão Marcello Menezes Eifler do Grupo de Armamento e Munição (GAM), o desenvolvimento de uma torre de 105 mm para Carro de Combate, que seria em em princípio, destinada a Nova Família de Blindados, que em 2007 se transformaria no Programa Estratégico do Exército (Prg EE) GUARANI. Logo de início identificou que, devido à falta de experiência do Centro Tecnológico do Exército (CTEx) com os sistemas eletrônicos embarcados em uma torre desse tipo, não haveria condições, a curto prazo, de se projetar e conceber tal sistema de grande complexibilidade, passando a estudar a possibilidade de partir para uma torre de design e funcionalidades mais simples, como forma de absorver conhecimento der imediato, para o desenvolvimento posterior de conjuntos maiores e mais complexos. 

A oportunidade para um projeto mais simples surgiria a seguir, com a participação das Forças Armadas Brasileiras, da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti MINUSTAH (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti). Nesta operação multinacional, muitas vezes ocorreriam enfrentamento contra ex-militares das forças armadas haitianas (extintas em 1994, por Jean Bertrand Aristide), ex-policiais e bandidos comuns, que organizados em miliciais se dedicavam a controlar algumas áreas na capital Port au Prínce. Estas forças irregulares estavam armadas com os mais variados tipos de armas leves, desde carabinas M-1 Carbine a fuzis M-1 Garand e AK-47 Kalashnikov, forçando as tropas brasileiras a adaptar-se um novo e peculiar tipo de confronto assimétrico. Este cenário levaria a implementação de novas táticas, e a adaptação das viaturas com o intuito de fornecer um mínimo de proteção adequada a seus ocupantes.  Neste contexto um dos principais pontos críticos era a exposição do operador da metralhadora de apoio das viaturas blindadas de transporte de tropas Engesa EE-11 Urutu a tiros deflagrados por estes milicianos. Como solução seriam desenvolvidos estudos entre o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), visando inicialmente a construção de uma torre mecânica blindada. Este processo evoluiria para o estudo de emprego de um Sistema de Armas Remotamente Controlado (SARC), havendo inclusive, no final de 2007, a instalação de um SARC CWS 30, da israelense RAFAEL Advanced Defense Systems, com uma metralhadora de calibre 7,62 mm MAG, em um EE-11 Urutu, a fim de ser submetidos a testes de campo. Os resultados seriam promissores, porém os custos envolvidos em um processo de importação seriam demasiados altos para o momento, gerando a oportunidade para a possibilidade em se desenvolver um Sistema de Armas Remotamente Controlado (SARC), nacional. É importante frisar que, nos últimos conflitos armados, principalmente em áreas urbanas, houve uma intensa utilização deste tipo de sistema, sendo denominado internacionalmente pela sigla RWCS (Remote Controlled Weapon Station), na qual o atirador fica posicionado no interior da viatura, onde realiza as operações remotas de pontaria e disparo do armamento. No exterior da viatura permanece somente o armamento, o reparo e os sistemas de observação de alvos, constituídos principalmente por câmeras diurna e noturna. A versão mais moderna desses sistemas incorpora também um sistema de estabilização, permitindo a realização do tiro com a viatura em movimento. 
Devido a uma demanda de aparelho de pontaria para os novos morteiros de 120 mm produzidos nacionalmente, o comando do Grupo de Armamento e Munição (GAM), estabeleceu conversações com a empresa Periscópio Equipamentos Optrônicos Ltda, no intuito de se aprofundar no conhecimento de seu Sistema de Pontaria para Tiro Indireto de Morteiros (SPOTIM). Durante uma reuniao, seria apresentado aos oficiais o sistema IVERA (Indicador Visual Estabilizado de Rampa de Aproximação), desenvolvido para fornecer aos pilotos de helicópteros a indicação visual estabilizada da rampa de aproximação para pouso em embarcações. Curiosamente este conjunto preencheria adequadamente lacuna de capacidade tecnológica que faltava ao Centro Tecnológico do Exército (CTEx), para a criação de um sistema de armas remotamente controlado nacional. Negociações de parceria em desenvolvimento seriam estabelecidas, resultando no segundo semestre do ano e 2006 na criação do  “Projeto básico de pesquisa, desenvolvimento e produção de um protótipo de Reparo de Metralhadora Automatizado X (REMAX)”, sendo que esse acrônimo foi criado pelo General Ribeiro Souto. Já nos requisitos iniciais do projeto do SARC REMAX, ficou claro o pragmatismo empregado pelo Exército Brasileiro, buscando concentrar seus poucos recursos em sistemas para seu Teatro de Operação (TO), pois este sistema seria desenvolvido inicialmente para utilizar apenas como armamento as metralhadoras Browning M-2HB de calibre .50 (12,7×99 mm) e FN MAG de calibre 7,62×51 mm. Como premissa básica, esta torre deveria ser projetada desde sua concepção inicial envolvendo uma arquitetura modular, que permitisse a implementação de componentes que agregassem diferentes funcionalidades, e multiplataforma, para poder ser integrado em quaisquer viaturas blindadas com teto rígido (EE-11 Urutu, Iveco Guarani, M-113 e  Leopard  A5BR) com um mínimo de modificações. O desenvolvimento do SARC REMAX insere-se em um contexto histórico de busca pela autonomia tecnológica do Exército Brasileiro, iniciada durante a Segunda Guerra Mundial, quando a dependência de equipamentos importados revelou a necessidade de investir em pesquisa e desenvolvimento nacionais. A criação do CTEx, em 1979, e sua consolidação nas décadas seguintes, sob a liderança de figuras como o General Alberto Mendes Cardoso, proporcionaram a base para projetos inovadores como o REMAX. 

Emprego no Exército Brasileiro.
Em dezembro de 2006, o Ministério da Defesa do Brasil celebrou um marco significativo na modernização tecnológica das Forças Armadas ao firmar o contrato nº 004/2006-CTEx com a empresa nacional Ares Aeroespacial e Defesa Ltda., anteriormente conhecida como Periscópio Equipamentos Optrônicos Ltda. Este contrato, no valor de R$ 1.245.000,00, destinava-se à pesquisa, desenvolvimento e produção de um protótipo experimental inovador, designado como REMAX 1 (Reparo de Metralhadora Automatizado X). O prazo estipulado para a conclusão do projeto era dezembro de 2008. O contrato foi formalizado por inexigibilidade de licitação, justificada pela singularidade do objeto: o REMAX 1 representava o primeiro Sistema de Armas Remotamente Controlado (SARC) desenvolvido no hemisfério sul, utilizando tecnologias de ponta ainda não plenamente dominadas na época. A iniciativa refletia o compromisso do Brasil em avançar sua autonomia tecnológica no setor de defesa, em um período marcado por esforços globais para modernizar equipamentos militares em resposta a novos desafios de segurança. A Ares Aeroespacial e Defesa Ltda., reconhecida por sua expertise em sistemas de estabilização terrestre, trouxe ao projeto sua capacidade técnica especializada. Contudo, um aspecto crucial do contrato era a garantia de que toda a propriedade intelectual do REMAX 1 pertencesse exclusivamente ao Exército Brasileiro. Essa cláusula reforçava a soberania nacional sobre o desenvolvimento tecnológico, assegurando que os avanços alcançados permanecessem sob controle estatal e pudessem ser utilizados em futuros projetos de defesa. No primeiro semestre de 2009, o projeto alcançou um marco importante com a apresentação de um modelo de exposição (mock-up) do sistema REMAX 1, integrado à Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média Sobre Rodas (VBTP-MSR) Iveco 6×6 Guarani. A exibição ocorreu durante a Latin America Aero & Defence (LAAD), realizada no Rio de Janeiro, um dos principais eventos do setor de defesa na América Latina. Embora o mock-up representasse um protótipo não funcional, sua integração à VBTP-MSR Guarani demonstrou o potencial do sistema e marcou o primeiro estágio de compatibilidade com uma plataforma veicular. Apesar do progresso, o desenvolvimento do protótipo experimental, concluído no segundo semestre de 2009, enfrentou um obstáculo significativo: a VBTP-MSR 6×6 Guarani ainda não havia sido entregue pelo fabricante, comprometendo a integração do sistema à plataforma originalmente planejada. Para evitar atrasos adicionais no cronograma, o Exército Brasileiro, por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), solicitou a cessão de uma viatura Engesa EE-11 Urutu, um veículo blindado sobre rodas já em uso pelas Forças Armadas. Essa decisão estratégica permitiu a continuidade do projeto, possibilitando a integração do REMAX 1 a uma plataforma alternativa.

Com o sistema REMAX 1 integrado à viatura EE-11 Urutu, iniciaram-se as atividades de avaliação conduzidas pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx), localizado no Rio de Janeiro. O conjunto foi submetido a extensos testes em campo, nos quais foram verificadas suas funcionalidades básicas, incluindo precisão, estabilização e operação remota. Os resultados foram promissores, demonstrando a viabilidade técnica do sistema e validando sua continuidade. Esses testes representaram um passo crucial para consolidar a confiança no projeto, pavimentando o caminho para a próxima fase de desenvolvimento técnico e operacional. Em outubro de 2009, o Ministério da Defesa do Brasil consolidou mais uma etapa no avanço tecnológico de suas Forças Armadas ao celebrar o contrato nº 004/2009-CTEx com a Ares Aeroespacial e Defesa Ltda. Este acordo, no valor de R$ 893.582,00, destinava-se ao desenvolvimento de um segundo protótipo operacional, denominado REMAX 2 (Reparo de Metralhadora Automatizado X). O objetivo principal era iniciar a integração do sistema REMAX à Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média Sobre Rodas (VBTP-MSR) Iveco 6×6 Guarani, em paralelo à avaliação do protótipo experimental REMAX 1, conduzida pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx). Este contrato representava um marco na busca pela modernização militar brasileira, em um período de intensos esforços para fortalecer a indústria nacional de defesa diante de um cenário global de rápidas transformações tecnológicas. O REMAX 2 foi projetado para incorporar melhorias significativas em relação ao protótipo experimental REMAX 1, com base nas lições aprendidas durante testes laboratoriais e de campo. Essas melhorias incluíam funcionalidades adicionais voltadas para aumentar a segurança operacional e o desempenho do sistema, reforçando sua capacidade de operação remota em condições adversas. Assim como no contrato anterior, a propriedade intelectual do REMAX 2 foi estabelecida como 100% pertencente ao Exército Brasileiro, garantindo a soberania nacional sobre o desenvolvimento tecnológico e sua aplicação em futuros projetos de defesa. Enquanto o desenvolvimento do REMAX 2 avançava, o protótipo experimental REMAX 1 passava por uma fase intensiva de testes. Em junho de 2010, após um período de treinamento de pessoal conduzido pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx), com foco na operação do sistema e na manutenção da viatura Engesa EE-11 Urutu — cedida pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) —, iniciaram-se as avaliações do REMAX 1 no CAEx. Os testes foram estruturados em quatro grupos principais: Testes Funcionais: Verificação das capacidades operacionais básicas do sistema. Testes em Estativa: Avaliação do desempenho em condições estáticas. Testes com Integração ao EE-11 Urutu: Ensaios com a viatura parada e em movimento, utilizando alvos fixos. Testes Ambientais: Análise da resistência do sistema a diferentes condições climáticas e operacionais Os resultados desses testes foram fundamentais para validar a robustez do REMAX 1 e fornecer subsídios técnicos para o desenvolvimento do REMAX 2, confirmando a viabilidade do sistema como uma solução inovadora para operações militares.
A produção do protótipo operacional REMAX 2 foi concluída em setembro de 2011. Em fevereiro de 2012, o sistema foi instalado na Viatura Blindada de Patrulhamento e Emprego Dual (VBPED) para a realização de testes iniciais de apreciação. Os resultados foram considerados satisfatórios, culminando na homologação do Relatório de Apreciação pelo CAEx, oficializada em 25 de julho de 2012, por meio da Portaria nº 024/DCT. Este marco representou a validação formal do REMAX 2 como um sistema funcional e pronto para avançar na integração com plataformas mais modernas. Em 2013, após intensas negociações com a Gerência do Projeto Guarani e a Iveco Veículos de Defesa, parceira do Exército Brasileiro no desenvolvimento da VBTP-MSR 6×6 Guarani, o REMAX 2 foi finalmente integrado ao protótipo dessa viatura. Este processo marcou a concretização de um dos principais objetivos do projeto: a compatibilidade do sistema com a nova geração de veículos blindados brasileiros, projetados para atender às demandas operacionais do século XXI. O REMAX 2, integrado à VBTP-MSR 6×6 Guarani, foi oficialmente apresentado ao público durante a Latin America Aero & Defence (LAAD) de 2013, realizada no Rio de Janeiro. A LAAD, um dos principais eventos do setor de defesa na América Latina, proporcionou uma vitrine internacional para exibir os avanços tecnológicos do Brasil. A exibição do REMAX 2 consolidou a reputação da indústria de defesa nacional e destacou a capacidade do Exército Brasileiro de desenvolver soluções inovadoras em parceria com a iniciativa privada. Em outubro de 2012, o Ministério da Defesa do Brasil marcou um avanço significativo em sua estratégia de modernização militar ao celebrar o contrato nº 001/2012-DF entre a Diretoria de Fabricação e a Ares Aeroespacial e Defesa Ltda. Este contrato, no valor inicial de R$ 49.418.088,00, destinava-se à produção de um lote piloto de setenta e seis unidades do sistema REMAX 3 (Reparo de Metralhadora Automatizado X), sendo as duas primeiras unidades, denominadas cabeças de série (CS1 e CS2), destinadas a testes estáticos. Posteriormente, o valor do contrato foi ajustado por meio do Termo Aditivo nº 2, que considerou a isenção de impostos como PIS e COFINS, resultando na devolução de aproximadamente R$ 1.800.000,00 à União. Este marco refletia o compromisso do Brasil com o fortalecimento de sua indústria de defesa, em um período de intensificação de esforços para desenvolver tecnologias nacionais em resposta às demandas globais por inovação militar. A Ares Aeroespacial e Defesa Ltda., embora detentora da expertise técnica necessária, ainda não possuía uma infraestrutura fabril capaz de atender à escala de produção exigida pelo contrato. Para viabilizar a construção de uma linha de montagem adequada, a empresa solicitou ao Exército Brasileiro a antecipação de parte do valor do contrato, pedido que foi prontamente atendido. Como contrapartida (offset), a Ares comprometeu-se a fornecer cinco unidades adicionais do REMAX 3, elevando o total do lote piloto para oitenta e uma unidades. Essa colaboração exemplificou o modelo de parceria público-privada que caracterizou o projeto REMAX, unindo interesses estratégicos do Exército com o fortalecimento da capacidade industrial nacional.

O desenvolvimento do lote piloto REMAX 3 teve uma duração aproximada de um ano, com a produção das unidades iniciada em 2012 e os primeiros testes conduzidos em 2013. O Centro de Avaliações do Exército (CAEx), localizado no Rio de Janeiro, foi responsável pela avaliação das cabeças de série (CS1 e CS2), submetendo-as a rigorosos testes de desempenho. Além disso, o CAEx avaliou os manuais de operação e manutenção fornecidos pela Ares, garantindo que o sistema fosse acompanhado de documentação técnica precisa e acessível, essencial para sua implementação em campo. Em 2014, a Ares realizou a qualificação da integração do lote piloto REMAX 3 à Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média Sobre Rodas (VBTP-MSR) 6×6 Guarani, especificamente no chassi 83, LED 67. A integração foi um esforço conjunto: a Ares forneceu os componentes do kit de instalação, enquanto a Iveco Veículos de Defesa, parceira do Exército no desenvolvimento do Guarani, foi responsável pelo anel de interface, pela caixa de distribuição de potência e pela integração final do sistema. Esse processo demonstrou a capacidade de coordenação entre a indústria de defesa nacional e o Exército, consolidando a interoperabilidade do REMAX 3 com uma das plataformas mais modernas das Forças Armadas brasileiras. A Experimentação Doutrinária do REMAX 3 foi conduzida pela 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada (15ª Bda Inf Mec), sediada em Cascavel, Paraná. A escolha dessa unidade foi estratégica, uma vez que a brigada já havia realizado a experimentação da VBTP-MSR 6×6 Guarani e contava com infraestrutura e pessoal especializado em operações de infantaria mecanizada. Essa capacitação prévia garantiu que as atividades de teste fossem realizadas com eficiência, avaliando o desempenho do REMAX 3 em cenários operacionais realistas e contribuindo para a validação de sua doutrina de emprego. Em 2015, o REMAX 3 foi apresentado ao público durante a Latin America Aero & Defence (LAAD), realizada no Rio de Janeiro, um dos principais eventos do setor de defesa na América Latina. O sistema foi exibido integrado à VBTP-MSR 6×6 Guarani, bem como às viaturas experimentais VBMT-LSR 4×4, incluindo os modelos RTD/AVIBRAS Sherpa - Tupi, Iveco LMV e Inbra Gladiador II. Todas as instalações demonstradas estavam plenamente operacionais, destacando a versatilidade do REMAX 3 e sua compatibilidade com diferentes plataformas veiculares. O Centro de Avaliação do Exército (CAEx) em conjunto com a  Ares Aeroespacial e Defesa Ltda e o 33° Batalhão de Infantaria Motorizado (33º BI Mtz) realizariam avaliações complementares no REMAX integrado na VBPT-MR 6×6 Guarani e encontraram algumas não conformidades, principalmente em relação ao módulo optrônico que, para soluciona-lo, uma equipe com membros da Diretoria de Fabricação (DF) e da Ares Aeroespacial e Defesa Ltda foram à fábrica da OIP Sensor Systems, na Bélgica, a fim de acompanhar os testes com este módulo e adquirir os conhecimentos necessários para a integração do REMAX à viatura.  Após as avaliações realizadas dentro do escopo da Experimentação Doutrinária, foi publicada a Portaria Nº 065-EME, de 8 de marco 2016, adotando oficialmente o Sistema de Armas Reparo de Metralhadora Automatizado X, versão 3 (REMAX 3). 
Em dezembro de 2016 foi celebrado o contrato nº 186/2016-COLOG, para a produção do lote primeiro lote de produção, de 215 unidades, no valor de R$ R$ 328.057.657,39, com validade inicial de 5 anos, e que seria atendido conforme dotação orçamentária. Já em operação regular há mais de 6 anos, o Sistema de Armas Remotamente Controlado REMAX, vem consolidando plenamente seu conceito dentro das tropas do Exército Brasileiro, possibilitando dar mais suporte de fogo às unidades mecanizadas brasileiras ao mesmo tempo que garantiria a proteção de seu atirador, que é considerado um ponto crítico na guerra moderna, substituindo os reparos manuais de metralhadoras. Até o presente momento já foram entregues mais de 150 unidades, e mais dezenas se encontram no momento, no 4º Depósito de Suprimentos (4º D Sup), em Juiz de fora/MG, em processo de instalação em viaturas VBTP-MSR Iveco 6×6 Guarani. O grande êxito operacional levaria o Comando do Exército Brasileiro a estudar o emprego deste sistema junto ao programa da Viatura Blindada Multitarefa, Leve de Rodas (VBMT-LR) Iveco LMV. Com os testes sendo conduzidos a partir do mês de abril do ano de 2020 contando com o apoio da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada (9ª Bda Inf Mtz), do Centro de Avaliações do Exército (CAEx) e das empresas Iveco Veículos de Defesa e ARES Aeroespacial e Defesa. Com o sistema sendo homologado em maio do mesmo ano, gerando um contrato para o fornecimento de oito torres deste sistema para equipar um número similar destes veículos blindados com tração 4X4. Em novembro de 2021 o Centro Tecnológico do Exército (CTEx), foi formalizado o desenvolvimento do novo sistema de armas remotamente controlado (SARC) REMAX 4 e um pacote de atualização dos REMAX 3 atualmente em uso, através do acordo de cooperação nº 21-DCT-005-00, entre o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército e a empresa Ares Aeroespacial e Defesa. O REMAX 4 é uma evolução do atual REMAX 3, desenvolvido entre o Exército e a empresa Ares, cujas principais mudanças são, além da atualização dos eletrônicos, hardware e arquitetura de software, terá seu módulo de optrônicos desacoplado do berço, permitindo graus de liberdade independentes (azimute e elevação) à linha de visada; capacidade do cofre de munição aumentada em três vezes, indo de 100 para 300 para cartuchos 12,7x99mm, e de 200 para 600 para 7,62x51mm; e possibilidade de adicionar uma estação de trabalho para o comandante de viatura, permitindo o controle total da estação de armas, podendo ser integrada ao sistema de gerenciamento de missão (SGM), aumentando sua consciência situacional. Com essas modificações, além de manter o sistema no chamado “estado-da-arte”, permitirá a uma integração mais fácil com outros armamentos, como lançadores automáticos de granadas (LAG) e mísseis anticarro (“anti-tank guided missile” – ATGM). Também poderá ser integrado um sistema de alerta laser (“laser warning systems” – LWS), sendo que no protótipo foi instalado o ELAWS 2, da Elbit Systems. O pacote de atualização dos SARC em operação, cuja denominação é REMAX 3A1, deverá ter as mesmas características à exceção do sistema optrônico desacoplado e das menores dimensões.

Em Escala
Para recriar o SARC REMAX 3 em escala 1/35, foi utilizado o kit de detalhamento impresso em 3D produzido pela Oficina do Aquino, reconhecido por sua alta qualidade e precisão. Esse kit, desenvolvido especificamente para modelistas que buscam fidelidade aos equipamentos militares brasileiros, oferece componentes detalhados que reproduzem com exatidão as características técnicas e estéticas do REMAX 3, incluindo a torre automatizada e seus sistemas ópticos e de armamento. A qualidade do material impresso em 3D permite capturar os contornos e funcionalidades do sistema, proporcionando uma representação realista e fiel ao equipamento em uso pelo Exército Brasileiro. Para aprimorar a autenticidade da miniatura, foram utilizados decais provenientes de outros modelos, adaptados para representar as marcações específicas da torre do REMAX 3. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático no verde oliva empregado pelo Exército Brasileiro, existem vários registros fotográficos indicando também o emprego da camuflagem padrão em  dois tons (verde e marrom terra), em uso nos veículos militares da Força Terrestre  desde o ano de 1983. Empregamos tintas, vernizes e washes produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia :
- Remote Controlled Weapon Station - https://en.wikipedia.org/wiki/Remote_controlled_weapon_station
- Especial SARC REMAX Tecnologia e Defesa por Paulo R. Bastos Jr - https://tecnodefesa.com.br
- EB homologa o SARC REMAX nas VBMT-LR 4×4 Iveco LMV-BR - https://tecnodefesa.com.br
- REMAX 4 entra em produção e é integrado ao LMV-BR - https://tecnodefesa.com.br

Douglas B-18 e B-18A Bolo

História e Desenvolvimento.
A Douglas Aircraft Company, uma das principais fabricantes de aeronaves dos Estados Unidos no século XX, foi fundada por engenheiro Donald Wills Douglas em 22 de julho de 1921, em Santa Mônica, Califórnia, após a dissolução da Davis-Douglas Company. Reconhecida por produzir algumas das aeronaves mais icônicas da aviação civil e militar, a empresa no ano seguinte marcou seu início com o desenvolvimento do Douglas DT, seu primeiro avião militar. Este bombardeiro torpedeiro biplano, projetado no início da década de 1920 para a Aviaçao Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), foi concebido para operar a partir de navios de guerra e, posteriormente, porta-aviões, estabelecendo as bases para o conceito de aviação embarcada de ataque, que evoluiria nas décadas seguintes. Em 1923, a Douglas alcançou notoriedade com o programa "World Flight", iniciativa do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USASS) que visava realizar a primeira circum-navegação aérea global. Para atender a essa demanda, a empresa desenvolveu o Douglas World Cruiser (DWC), uma versão modificada do Douglas DT, sob a liderança do talentoso engenheiro Jack Northrop. Quatro aeronaves foram encomendadas, com a última entregue em 11 de março de 1924. Apesar de desafios operacionais e acidentes, a missão foi concluída com sucesso, consolidando o lema da empresa: First Around the World (Primeira Volta ao Mundo). Na década de 1930, a Douglas diversificou sua produção com a série BT, uma linha de aviões de treinamento primário desenvolvida para o United States Army Air Corps (USAAC). O BT-2B, uma variante aprimorada do BT-2, incorporava melhorias no motor e nos controles, otimizando confiabilidade e manutenção. Embora simples, o BT-2B desempenhou um papel crucial na formação de pilotos militares, servindo como uma transição entre treinadores primários e aeronaves táticas mais avançadas que começavam a operar naquele periodo. Paralelamente, a empresa expandiu suas operações para incluir aviões anfíbios e de transporte de médio porte, transferindo suas instalações para Clover Field, em Santa Mônica. Em 1933, a Douglas lançou o DC-1, seguido pelo DC-2 em 1934. O ápice veio em 1935 com o Douglas DC-3, uma aeronave que revolucionou o transporte aéreo comercial e tornou-se uma das mais bem-sucedidas da história. Sua versão militar, o C-47 Skytrain, foi amplamente utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, destacando-se por sua versatilidade e confiabilidade. A Douglas Aircraft Company consolidou-se como uma referência na aviação, combinando inovação em projetos militares e comerciais. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Douglas Aircraft tornou-se uma das principais fornecedoras de aeronaves para as forças armadas dos Estados Unidos e seus aliados. A empresa operava múltiplas fábricas e chegou a empregar mais de 160 mil trabalhadores no auge do esforço de guerra. Entre os modelos mais emblemáticos da era estão: A-20 Havoc, SBD Dauntless,  DC-3 e o C-47.

Em meados da década de 1930, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) identificou a necessidade urgente de modernizar sua frota de bombardeiros médios, visando substituir os obsoletos Martin B-10. Para atender a essa demanda, em julho de 1934, foi lançada uma concorrência para o desenvolvimento de um novo bombardeiro médio, com especificações técnicas rigorosas. O projeto exigia uma aeronave monoplana, bimotora, capaz de transportar até uma tonelada de carga útil, atingir uma velocidade máxima de 354 km/h a 3.000 metros de altitude, possuir um raio de ação superior a 3.218 km e uma autonomia de missão superior a dez horas de voo. Diversas empresas aeronáuticas responderam ao edital, apresentando propostas conceituais. Entre as mais destacadas estavam: Martin Model 146: Uma versão aprimorada do bombardeiro Martin B-10, descartada rapidamente por basear-se em uma plataforma considerada obsoleta. Boeing 299: Precursor do bombardeiro de longo alcance Boeing B-17, esta proposta era inovadora, mas foi rejeitada devido ao alto custo, que excedia as expectativas orçamentárias conservadoras do USAAC, e a um acidente fatal ocorrido com o protótipo durante os voos de avaliação. Douglas DB-1 (Douglas Bomber 1): Desenvolvida pela Douglas Aircraft Company, esta proposta destacou-se por sua viabilidade técnica e econômica, sendo selecionada para avançar no processo. O Douglas DB-1 foi projetado com base na plataforma da bem-sucedida aeronave comercial Douglas DC-2, adaptada para atender às exigências militares. Suas principais características incluíam: Estrutura e Design: O DB-1 manteve o design monoplano de asa baixa do DC-2, com asas e cauda ligeiramente ampliadas. A fuselagem foi redesenhada para uma configuração de meia altura, permitindo a inclusão de um compartimento de bombas sob a seção central. A fuselagem apresentava construção circular, com um nariz arredondado e sem corte, otimizado para a instalação de um sistema de mira de bombardeio na parte inferior. Armamento Defensivo: O sistema defensivo era composto por três metralhadoras Colt M-2 calibre 7,62 mm, posicionadas no nariz, em uma torreta elétrica superior retrátil e na posição ventral da aeronave. A proposta da Douglas foi favorecida por sua combinação de tecnologia comprovada, derivada do DC-2, e adaptações específicas que atendiam às necessidades do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Diferentemente das propostas da Martin, limitada por sua base ultrapassada, e da Boeing, inviabilizada por questões orçamentárias e um acidente, o DB-1 representou uma solução prática e eficiente, consolidando neste processo a preferência do comite respósavel pela avaliação das propostas.   Em setembro de 1934, a  Douglas Aircraft Company foi selecionada como vencedora da concorrência lançada pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para o desenvolvimento de um novo bombardeiro médio. 
Em setembro de 1934, a Douglas Aircraft Company firmou um contrato com o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para a produção de duas aeronaves de pré-produção do bombardeiro médio Douglas B-18, 133 unidades iniciais de série e um compromisso total de 370 aeronaves. O voo inaugural da primeira aeronave de pré-produção ocorreu em 1º de abril de 1935, seguido por um rigoroso programa de testes e avaliações em voo. Durante os ensaios, constatou-se que os motores originais Wright R-1820-G45 Cyclone, com 850 hp, não atendiam aos requisitos de desempenho. Como solução, foram substituídos na linha de produção pelos motores Curtiss-Wright R-1820-45, com 930 hp cada, permitindo que a aeronave alcançasse uma velocidade máxima de 350 km/h, um alcance de 3.000 km, um teto de serviço de 3.700 metros e uma capacidade de carga de até 2.200 kg de bombas. As primeiras unidades do Douglas B-18 começaram a ser entregues às unidades operacionais do USAAC em janeiro de 1937, consolidando-se como o principal bombardeiro de longo alcance do arsenal norte-americano após a entrega do primeiro lote. Em maio de 1938, teve início a produção da versão aprimorada, o Douglas B-18A, equipada com motores Wright R-1820-53 de 1.000 hp e modificações no nariz para otimizar o visor de bombardeio e ampliar a área envidraçada. Até o final de 1938, 217 unidades do B-18A foram entregues, cumprindo o cronograma contratual. Durante o período de operação, uma célula do B-18 foi equipada experimentalmente com um canhão de 75 mm para testes de ataque a alvos terrestres e navais. Embora considerado operacionalmente inviável na época, o experimento estabeleceu parâmetros técnicos que influenciaram projetos futuros, como as versões especializadas do North American B-25 Mitchell. Além disso, em janeiro de 1940, o B-18 protagonizou o primeiro teste de operação de tropas aerotransportadas do Exército dos Estados Unidos, quando 38 aeronaves do 7º Grupo de Bombardeio transportaram um batalhão de tropas, marcando o início do desenvolvimento dessa doutrina militar. Paralelamente aos contratos com o governo norte-americano, a Douglas Aircraft Company identificou o mercado de exportação como uma oportunidade estratégica. A empresa lançou uma campanha de marketing voltada para clientes europeus, iniciando negociações com a Força Aérea Real (Royal Air Force - RAF). Contudo, as tratativas não avançaram, devido ao compromisso da RAF com a aquisição de aeronaves Lockheed A-28 Hudson. Apesar desse obstáculo, a Douglas obteve sucesso ao exportar 20 aeronaves customizadas para a Real Força Aérea Canadense (RCAF), onde foram designadas como Douglas Digby Mk.I.
Em 7 de dezembro de 1941, o ataque surpresa do Império do Japão às bases norte-americanas em Pearl Harbor, Havaí, resultou na destruição da maioria das 33 aeronaves Douglas B-18A estacionadas no Campo Hickam, atingidas no solo. Esse evento acelerou a substituição dos B-18A pelos bombardeiros Boeing B-17A e B-17B, que superaram a aeronave da Douglas Aircraft Company, vencedora da concorrência contra o protótipo do B-17 em 1935. Ainda em dezembro de 1941, outras 12 células do B-18 foram destruídas em solo durante ataques japoneses ao Campo Clark, nas Filipinas. As aeronaves Douglas B-18 remanescentes no continente norte-americano foram redistribuídas para os 7º, 5º, 19º e 2º Grupos de Bombardeio, além dos 38º e 21º Esquadrões de Reconhecimento. Contudo, ficou evidente que o B-18 estava obsoleto e inadequado para enfrentar caças de alta performance alemães, italianos e japoneses. Dadas essas limitações, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) restringiu seu uso a missões locais, proibindo sua transferência para teatros de operações ativos. Devido à sua limitada capacidade de autodefesa, o Douglas B-18 Bolo foi inicialmente empregado em missões de treinamento, formando tripulações para os novos bombardeiros Boeing B-17 e Consolidated B-24 Liberator. Essa transição refletiu a inadequação do B-18 para operações de combate em cenários de alta intensidade. Com o intensificar da Batalha do Atlântico e a ameaça de submarinos alemães ao litoral norte-americano, o USAAC e a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) enfrentaram escassez de aeronaves de patrulha marítima. O Douglas B-18 Bolo, com sua grande autonomia e capacidade de carga, incluindo cargas de profundidade, revelou-se ideal para essa função. A partir de janeiro de 1942, 122 células foram convertidas para missões de patrulhamento marítimo, recebendo a designação Douglas B-18B. Essas aeronaves foram equipadas com um radar de busca Western Electric SCR-517-T4 no nariz e um sistema de detecção de anomalias magnéticas. O Douglas B-18B teve seu batismo de fogo em 2 de outubro de 1942, quando uma aeronave do 99º Grupo de Bombardeio, em patrulha ao largo da costa de Caiena, Guiana Francesa, avistou o submarino alemão U-512 (Tipo IXC). O B-18B atacou, lançando cargas de profundidade que resultaram no afundamento do submarino, demonstrando a eficácia da aeronave nessa nova função. A partir de meados de 1943, os Douglas B-18B começaram a ser gradualmente substituídos pelos quadrimotores Consolidated PBJ-24 Liberator em missões de patrulha marítima. Relegados a tarefas de treinamento multimotor e transporte, os B-18B foram completamente retirados do serviço ativo ao final da Segunda Guerra Mundial, com todas as células remanescentes sendo sucateadas. Embora obsoleto para missões de bombardeio, o Douglas B-18 encontrou uma nova utilidade na patrulha marítima, contribuindo significativamente para a defesa do litoral norte-americano durante a Batalha do Atlântico. Sua trajetória reflete a capacidade da Douglas Aircraft Company de adaptar suas aeronaves a contextos emergentes, mesmo diante de limitações tecnológicas e operacionais.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se mais evidente após a capitulação da França em junho de 1940, que abriu a possibilidade de a Alemanha nazista estabelecer bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar. Nesse cenário, o Brasil foi identificado como o ponto mais vulnerável para uma potencial ofensiva, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também integrava os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul posicionaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. A localização geográfica do Brasil, particularmente o litoral nordeste, com destaque para a cidade de Recife, revelou-se estrategicamente vantajosa. Essa região representava o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, tornando-se ideal para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares. Essas instalações eram cruciais para o translado de tropas, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África, funcionando como uma ponte logística essencial para o esforço de guerra dos Aliados. Diante desse cenário, observou-se uma rápida aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação militar e investimentos estratégicos. Um marco significativo foi a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), um programa de ajuda militar voltado para a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional. O acordo proporcionou uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos foram fundamentais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças impostas por submarinos alemães e italianos, que intensificavam os ataques à navegação civil e militar, impactando o comércio exterior brasileiro, especialmente o transporte de matérias-primas para a indústria bélica norte-americana. A recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, herdou um parque aéreo obsoleto proveniente da Aviação Militar do Exército Brasileiro e da Aviação Naval da Marinha do Brasil. Essas aeronaves eram inadequadas para enfrentar ameaças modernas, especialmente os submarinos do Eixo. O Lend-Lease Act desempenhou um papel vital ao fornecer aeronaves mais avançadas e promover a atualização da doutrina operacional, permitindo que a FAB se preparasse para proteger o litoral brasileiro e contribuir para o esforço de guerra dos Aliados.  No início da Segunda Guerra Mundial, as aeronaves mais modernas à disposição da Força Aérea Brasileira (FAB), como os monomotores Vultee V-11, AT-6B, V-65B Corsair e os bimotores Focke-Wulf FW-58 Weihe, revelaram-se inadequadas para missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino. 

Essas tarefas eram essenciais para o esforço de guerra nacional, especialmente no combate aos submarinos alemães e italianos, que representavam uma séria ameaça à navegação civil e militar ao longo do litoral brasileiro.Para enfrentar essa deficiência, foi necessário um esforço emergencial de modernização dos meios aéreos da FAB, com foco em patrulha marítima e guerra antissubmarino.  Na fase inicial de suas operações, a Força Aérea Brasileira (FAB) restringiu suas atividades a voos de presença ao longo do litoral brasileiro. Essa dinâmica começou a se alterar no início de 1942, quando, sob incentivos econômicos e pressões diplomáticas, o governo brasileiro autorizou o uso de bases aéreas nacionais por unidades de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Esse marco possibilitou os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, missões que contaram com a observação atenta de oficiais brasileiros. A solução começou a se materializar por meio da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada em Washington, D.C., nos Estados Unidos. Essa comissão tinha como objetivo identificar e adquirir aeronaves modernas no âmbito do programa Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), priorizando equipamentos que atendessem às necessidades operacionais do Brasil.  A partir de Abril de 1942, a FAB começou a receber diversas aeronaves militares, incluindo dois bombardeiros Douglas B-18 Bolo, transladados em voo por tripulações norte-americanas. Após sua chegada, essas aeronaves foram destinadas ao Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), criado em 4 de fevereiro de 1942, em Fortaleza, Ceará. O AAA, sob supervisão de militares do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), foi estabelecido para transferir doutrina operacional e capacitar tripulações brasileiras para missões reais de combate. No AAA, os Douglas B-18 Bolo foram inicialmente empregados em missões de instrução de tripulantes brasileiros e em operações de patrulhamento marítimo nas regiões litorâneas dos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Durante os primeiros meses de envolvimento do Brasil no conflito, as aeronaves foram operadas por tripulações mistas, compostas por militares norte-americanos experientes e pilotos brasileiros em fase final de formação. Esse modelo visava assegurar a plena assimilação das táticas de patrulha e guerra antissubmarino, com o objetivo de que o AAA fosse desativado assim que as tripulações brasileiras estivessem aptas a operar de forma autônoma. Após o período de treinamento, as duas aeronaves Douglas B-18 Bolo foram redistribuídas: O Douglas B-18 Bolo “FAB 6300” foi destinado ao Grupo de Aviões Bimotores (GAB), sediado na Base Aérea de Natal, Rio Grande do Norte. O Douglas B-18 Bolo “FAB 7032” foi alocado ao Grupo de Aviões Bimotores (GAB), baseado em Recife, Pernambuco.
Equipadas com visores de bombardeio Stopey D-8 e derivômetros B-3, essas células não contavam com radares Western Electric SCR-517-T4 ou detectores de anomalias magnéticas, diferentemente das versões especializadas em guerra anti submarino utilizadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), limitando assim seu poder de patrulha apenas ao campo de observação visual Como armamento ofensivo, os B-18 Bolo utilizavam cargas de profundidade MK17 Mod 1, fornecidas diretamente pelos estoques da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) que ja se encontravam em territorio nacional. Essa dependência perdurou até que a Base Aérea de Fortaleza estivesse equipada para armazenar essas e outras munições utilizadas pela Aeronáutica. Neste momento as operações de patrulha seriam reforçadas pelo recebimento dos primeiros North American B-25B e logo em seguida de aeronaves especializadas neste escopo de missão, os Lockheed A-28A Hudson.  O primeiro registro de um ataque realizado por um Douglas B-18 contra um submarino inimigo ocorreu em 8 de maio de 1943, às 12:10, no litoral de Maceió, Alagoas. A aeronave “FAB 6300”, pertencente ao Grupo de Aviões Bimotores (GAB) sediado na Base Aérea de Natal, era tripulada pelo 1º Tenente-Aviador Zamir de Barros Pinto, Aspirante-Aviador Geraldo Labarthe Lebre e os Sargentos Castro e Jayme. Durante a missão, a tripulação avistou o submarino alemão U-154 (Tipo IX), que havia atacado o navio-tanque mercante norte-americano Motorcarline às 05:45 do mesmo dia. Ao perceber a aproximação da aeronave brasileira, o U-154 mergulhou rapidamente. O B-18 lançou duas cargas de profundidade e uma carga de instrução, que atingiram a área à frente da esteira de espuma deixada pelo submarino, resultando no surgimento de uma grande mancha de óleo na superfície. A aeronave permaneceu sobrevoando o local por uma hora, mas não houve confirmação do afundamento do submarino.  Neste mesmo período ano determinado que a Força Aérea Brasileira deveria começar a assumir uma significativa parcela das atividades de patrulhamento e guerra antissubmarino em seu mar territorial, como movimento resultando de recebimento de mais aeronaves especializadas como os Lockheed PV-1 Ventura, Consolidated PBY-5A Catalina e Lockheed PV-2 Harpoon. Mesmo assim  duas células do Douglas B-18 Bolo continuaram a realizar missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino até o final da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945.  Após o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, as duas aeronaves Douglas B-18 Bolo da Força Aérea Brasileira (FAB), concentradas na Base Aérea de Recife, Pernambuco, foram destinadas principalmente a missões de treinamento e transporte. Ressalta-se que, em algum momento de 1945, uma das células foi temporariamente transferida para o Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PAMAAF), no Rio de Janeiro, onde operou como aeronave orgânica. Em julho de 1945, o Ministério da Aeronáutica (MAer) implementou um novo sistema de matrículas de quatro dígitos para suas aeronaves. Nesse contexto, os Douglas B-18 Bolo receberam as designações FAB 5026 (anteriormente 6300) e FAB 5027 (anteriormente 7032). 
Em 18 de outubro de 1946, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) determinou a transferência das aeronaves Douglas B-18 Bolo, matrículas FAB 5026 e FAB 5027, para o Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP), com o objetivo de utilizá-las em missões de transporte. Contudo, ambas as células apresentavam significativo desgaste estrutural decorrente de seu uso intensivo durante a Segunda Guerra Mundial, comprometendo sua operacionalidade. FAB 5026: Considerada inapta para o voo até São Paulo, a aeronave foi desativada em 10 de fevereiro de 1947 pelo Núcleo do Parque de Aeronáutica de Recife (NuPARF). A célula foi desmontada para aproveitamento de peças, e sua estrutura foi sucateada. FAB 5027: Translada com êxito ao PASP, a aeronave passou por uma revisão estrutural que confirmou seu avançado estado de deterioração, levando à decisão de sua desativação. Em vez de ser alienada, foi destinada à Escola Técnica de Aviação (ETAv), no bairro da Mooca, São Paulo. Desmontada e transportada por caminhões, a célula passou a ser utilizada como ferramenta de instrução prática para os alunos da instituição. A Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu uma terceira célula, pertencente à versão Douglas B-18A, que se diferenciava das anteriores por contar com motores Wright R-1820-53 mais potentes e uma estação de bombardeio realocada. Essa aeronave foi transladada em voo de San Antonio, Texas, Estados Unidos, partindo em 8 de agosto de 1944 e chegando ao Rio de Janeiro em 16 de agosto. Apesar de estar em condições de voo, a célula foi classificada pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) como “War Weary” (cansada de guerra), sendo inadequada para operações intensivas de combate. Assim, foi destinada ao 1º Grupo Misto de Instrução (1º GMI) da Escola Técnica de Aviação (ETAv), em São Paulo, onde foi empregada em atividades de instrução no solo para os alunos do Curso de Formação de Sargentos Especialistas. Em fevereiro de 1945, uma quarta aeronave Douglas B-18 foi cedida à FAB, também destinada a atividades de instrução no solo. Contudo, durante o voo de translado para o Brasil, a aeronave sofreu uma pane que obrigou a tripulação a realizar um pouso de emergência em uma praia a poucos quilômetros ao sul de San José, Guatemala. Embora o pouso tenha causado danos mínimos, a chegada da maré cheia ao entardecer danificou irreparavelmente a célula, inviabilizando sua recuperação. Com a chegada da terceira célula, a ETA, localizada no Hipódromo da Mooca, São Paulo, passou a contar com duas aeronaves Douglas B-18 (FAB 5027 e a B-18A) para fins educacionais. Em 1949, uma dessas aeronaves foi desmontada e sucateada, reduzindo o número de células ativas na instituição. Com a fusão de recursos materiais e humanos da ETA com a Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr), em Guaratinguetá, São Paulo, a última célula remanescente do Douglas B-18 foi transferida para as novas instalações. Alguns anos depois, provavelmente com a chegada de múltiplas células do recém-desativado Douglas A-20K, o último Douglas B-18 foi sucateado, marcando o fim de sua utilização no Brasil.

Em Escala.
Para representar o Douglas B-18 Bolo, matrícula “FAB 7032”, foi utilizado o kit da Special Hobby na escala 1/72. Este modelo, caracterizado por detalhes em baixo relevo, oferece um elevado nível de detalhamento, incluindo peças em resina e componentes photo-etched. Sua concepção permite uma montagem fácil e rápida, atendendo às expectativas de modelistas que buscam precisão e qualidade. Foram empregados os decais originais fornecidos com o kit. No entanto, foi necessária a correção dos cocares da FAB aplicados na fuselagem, uma vez que os decais do modelo apresentavam incorreções. Na aeronave real, o cocar nacional era sobreposto à estrela do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), detalhe que exigiu ajustes para garantir a fidelidade histórica da representação.
O esquema de cores (FS) descrito a seguir corresponde ao padrão de pintura original adotado pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para o Douglas B-18 Bolo. Este mesmo padrão foi mantido pela Força Aérea Brasileira (FAB) durante toda a operação da aeronave, até sua retirada de serviço. Destaca-se que, no final de sua carreira operacional, a célula em questão passou a portar a matrícula “FAB 5027”. Essa mudança decorreu da implementação de um novo sistema de marcações adotado pelo Ministério da Aeronáutica em julho de 1945, que introduziu matrículas de quatro dígitos para as aeronaves da FAB.





Bibliografia:
- Bombardeiros Bimotores da FAB, Aparecido Camazano Alamino - C&R Editorial
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- B-18 o Primeiro Grande da FAB – Revista Asas Nº 3
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015  - Jackson Flores Junior