Focke-Wulf FW-58 Weihe

História e Desenvolvimento.
A Focke-Wulf uma das mais notórias empresas de construção aeronáutica alemã, seria fundada na cidade de Bremen em 24 de outubro de 1923 em pelo empresário Henrich Focke e seus sócios Georg Wulf e Werner Naumann. Esta organização iniciaria  suas operações  em pequeno hangar junto ao aeroporto da cidade, atuando sobre no nome comercial de Bremer Flugzeugbau AG sendo posteriormente renomeada como Focke-Wulf Flugzeugbau AG. Em seus primeiros anos passaria a produzir componentes aeronáuticos para demais construtores alemães, iniciando logo a seguir o desenvolvimento de suas próprias aeronaves, geralmente de  pequeno porte e destinadas a tarefas de  treinamento e ligação, como os modelos  FW-A3, FW-A4, FW-A5, FW-A6, FW-A7 . O exito neste segmento levaria a empresa a derivar seu portifólio para aeronaves de transporte de cargas e malas de correio de pequeno e médio porte como os novos modelos FW-A16 e FW-A17. A partir de 1930 a empresa ingressaria no nicho de aeronaves de transporte de passageiros, lançando os modelos Focke-Wulf A 33 e Focke-Wulf A 38, novamente conseguindo lograr grande sucesso comercial. Em termos de aeronaves com aplicações militares, seus esforços se resumiriam ao desenvolvimento de  modelos para reconhecimento aéreo, treinamento primário e patrulha marítima, que obtiverem pouca expressão em termos de número de construção. Este cenário se dava principalmente pela Alemanha neste momento ainda se encontrar sobre pesadas restrições militares impostas pelo Tratado de Versalhes assinado após sua rendição incondicional em  novembro de 1918.  A partir do inicio do ano de 1931, o governo alemão sob o comando do presidente Paul Von Hindenburg, estava empenhado em grande programa de recuperação econômica, e um dos pontos focais deste processo passava pelo fortalecimento de seu parque industrial. Neste contexto o governo passaria a e exercer grande pressão sobre as empresas com a intenção de criar grandes corporações nacionais através de processos de fusão entre empresas do mesmo segmento de atuação. Entre vários processos que seriam realizados, no segmento aeronáutico destacava-se a união do capital e operações das empresas Focke-Wulf Flugzeugbau AG e  Albatros-Flugzeugwerke AG, com esta última estando sediada na capital Berlim.

Neste mesmo período, o promissor engenheiro e piloto de testes, que ja vinha trabalhando a algum tempo na Albatros-Flugzeugwerke AG, seria promovido nesta nova organização a chefe do departamento técnico, passando a liderar o desenvolvimento de inúmeros novos projetos tanto voltados para o segmento comercial quanto militar.  Uma grande oportunidade se materializaria quando da decisão do governo alemão em voltar a estruturar suas forças armadas, neste contexto cada vez mais braço aéreo ganhava importância com a Força Aérea Alemã (Luftwaffe) se encontrando em um processo de renascimento como arma aérea efetiva. Desta maneira se apresentava como demanda básica a necessidade de formação de pilotos militares em grande escala, porém apesar desta demanda, qualquer esforço de alta visibilidade neste aspecto poderia ser considerado de teor “clandestino”, tendo que vista que as limitações impostas pelos “Tratado de Versalhes” impediam o país de dispor de uma força aérea representativa. No intuito de se burlar estas limitações impostas por este tratado, seria estabelecido que toda uma estrutura de treinamento e formação de pilotos militares seria erigida sobre a imagem de formação desportiva e civil, com estas atividades não sendo regulamentadas por estas restrições. Definida a estratégia de operação, faltava a disponibilização do vetor , com esta missão sendo destinada a equipe de projetos da Focke Wulf Flugzeugbau Gmbh,  que sobre o comando de Kurt Tank já investia recurso no desenvolvimento de novas aeronaves de treinamento primário e multimotor.  Ao detalhar as especificações para esta ultima aplicação, ficaria definido que o desenvolvimento desta nova plataforma deveria prever seu emprego como aeronave de treinamento, ambulância aérea e bombardeio leve. Estes parâmetros gerariam o projeto de um robusto avião bimotor, que tinha características polivalentes e atendia plenamente aos requisitos estabelecidos. O modelo receberia a designação de FW-58 V1 e o nome de batismo "Weihe", com seu primeiro protótipo de matricula D-ABEM alçando voo no verão de 1935, apresentando excelentes características de voo em seu programa de testes. 
A fim de burlar as restrições impostas pelo Tratado de Versalhes, os protótipos iniciais seriam configurados como aeronaves de transporte de passageiros, incluindo neste aspecto os exemplares de pré-produção, com uma destas células de matricula D-ALEX sendo disponibilizado como aeronave pessoal do projetista Kurt Tank. Sua fuselagem era composta em sua construção com tubos de aço soldados e revestidos de tela e painéis metálicos, algumas partes metálicas no nariz, as asas eram de estrutura metálica, também recobertas com telas. Estava ainda equipado com um sistema de trem de pouso retrátil se alojava debaixo dos motores. Este leve conjunto era impulsionado por dois motores Argus As 10c com 8 cilindros em “V”, que proporcionavam 240 HP de potência. Melhorias no projeto seriam implementadas, nascendo a versão FW-58 V2, apresentando como principal alteração a inclusão de armamento defensivo composto por duas metralhadoras Rheinmetall Borsig MG-15 de 7,92 mm,  instaladas uma na proa e outra na traseira da cabine e ofensivo instalado em oito cabides de bombas de 25 kg na seção interna das asas. Já o quarto protótipo FW-58 V4, contava com uma fuselagem mais aerodinâmica, uma seção de proa envidraçada com uma metralhadora Rheinmetall Borsig MG15 de 7,92 mm. Mais nove protótipos seriam produzidos até o modelo FW-58 V13, visando a aplicação de melhorias e possíveis variantes especializadas. Com a homologação da versão inicial de produção designada como FW 58B-1, seria celebrado entre a empresa e o Ministério do Ar da Alemanha (Reich Luftministerium), para produção em série, com está se iniciando em maio de 1937. Esta primeira variante tinha por foco o emprego em missões de treinamento, comunicações e evacuação de feridos. Também conhecido pelos pilotos alemães como 'Leukoplast Bomber' (Bombardeiro de Esparadrapo) quando empregado na versão de ambulância, para evacuação aero médica. Neste período começariam a entrar em serviço a versão de transporte civil, passando a ser empregada nas linhas de pequena densidade na Alemanha e na Europa.

A segunda versão a ser produzida em escala, o Focke Wulf FW-58B-2, era uma variante destinada ao treinamento de aeronaves multimotoras de bombardeio, dispondo de nariz envidraçado, posto de bombardeador, controles duplicados e armamento para de autodefesa, podendo ser inclusive utilizados em missões de ataque leve.  A fim de verificar seu desempenho em um cenário de conflagração real, vinte destas aeronaves seriam cedidas as forças armadas General Francisco Franco, passando a ser empregadas em missões de bombardeio durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939),  obtendo relativo êxito operacional. Porém curiosamente a versão a ser  produzida em maior número, o Focke-Wulf FW-58C era especialmente configurada para as tarefas de transporte de carga e passageiros, recebendo duas portas laterais de carga acima das asas, podendo receber a instalação opcional de seis bancos para passageiros. O modelo manteria ainda o sistema de controle duplo de pilotagem, sendo customizado para poder receber motores mais potentes como o Hirth HM 508D de 260 cv, mas mesmo assim grande parte de sua produção seria equipada com os motores originais Argus As 10c. Neste contexto seria criada uma nova versão para o transporte civil, o  Focke Wulf FW-58Ki-2, apresentando uma fuselagem traseira de perfil diferente, de forma a propiciar maior espaço e conforto para os passageiros; sendo adotada principalmente pela empresa de transporte aéreo Lufthansa. Este modelo civil posteriormente seria adotado pela Força Aérea Alemã (Luftwaffe), sendo empregadas em tarefas de ligação entre as unidades militares espalhadas pela Europa, operando também secundariamente para entregas de cargas leves com alta prioridade de despacho. Conforme previsto no escopo original do projeto, seria desenvolvida a versão FW-58S  Sänitatsflugzeug (ambulância) dedicada as tarefas de transporte aero médico dispondo de interior configurado com seis macas e equipamentos de primeiro socorros. Esta versão seria notabilizada durante o conflito operando com grande êxito, salvando a vida de milhares de militares alemães.  
Em termos de versões especializadas, ainda doze células seriam configuradas para empregos em missões de meteorologia, recebendo as designações de FW-58E-1 e FW-58E-2 (quando equipado com esquis de pouso), sendo empregadas em todos os fronts de batalha durante o conflito. Por fim a última versão a ser produzida em série, o Focke-Wulf FW-58W Hidroavião, equipado com dois flutuadores seria intensamente empregada pela  Força Aérea Alemã (Luftwaffe), atuando preferencialmente em missões de ligações em proveito de tarefas da Marinha Alemã (Kriegsmarine). Apesar de ser imortalizada no imaginário popular como os Junkers JU-52, JU-88 ou Heinkel HE-111, as aeronaves da família Focke Wulf FW-58 seriam empregadas intensamente até os dias finais da Segunda Guerra Mundial, sendo  o principal vetor de treinamento multimotor. O modelo representaria ainda um dos maiores sucessos de exportação da indústria de construção aeronáutica alemã naquele período, sendo adotado por empresas de transporte aéreo e forças armadas da Argentina, Bulgária, Brasil, China, Dinamarca, Holanda, Hungria, Romênia e Suécia. Sua produção total superaria a casa das duas mil e quinhentas células, destas mais de trezentas seriam montadas sob licença no Brasil e Hungria. No período pós-guerra aeronaves alemãs capturadas em aeródromos na Tchecoslováquia, após recuperadas seriam postas em serviço ativo junto a força aérea daquele país sob a designação D-58. Em todo o mundo as ultimas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo somente no inicio da década de 1960.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O processo de formação de pilotos militares brasileiros tem sua origem em fevereiro de 1914, quando seria fundada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro a Escola de Escola Brasileira de Aviação, mediante uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia, com está sendo responsável por fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares.  Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua própria organização de treinamento e formação, a  Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Durante os anos seguintes seria feito uso de uma variada gama de aeronaves principalmente de origem francesa comporia sua frota, se destacando ao longo dos anos modelos relativamente modernos. No entanto o rápido avançar da tecnologia aeronáutica naquele período levaria a necessidade de implementação de um ciclo de renovação de seus vetores de treinamento, com este processo culminando a partir do ano de 1931 na celebração de contratos para a aquisição de aeronaves inglesas dos modelos De Havilland DH-60T e DH-82A. Apesar destas incorporações atenderem as demandas vigentes, a partir do  início da segunda metade da década de 1930 a Aviação Naval da Marinha do Brasil, passaria a enfrentar problemas com os índices de disponibilidade de voo da frota de aeronaves de treinamento a serviço da Escola de Aviação Naval - EAvN, afetando assim seu potencial de formação de pilotos militares. Este preocupante cenário era a consequência da total carência de treinamento, ferramental e material necessários aos processos de manutenção mais complexos das aeronaves. Assim desta maneira clarificava-se a premente necessidade de renovação de grande parte da frota de aeronaves, porém também levantava preocupações sobre este processo não incorrer nos mesmos erros do passado, onde a falta de capacitação técnica em termos de operação e manutenção impactava drasticamente sua capacidade de formação e treinamento.  Assim criava-se a ideia de se buscar uma solução mais completa, abrangendo não só a aquisição de novas aeronaves, bem como a transferência de um certo nível técnico de conhecimento, para assim proporcionar aplicação de um processo de manutenção preventiva e corretiva.  Estudos realizados neste sentido apontavam que a melhor opção para o atendimento desta demanda, passava pela celebração de acordos que possibilitassem a produção no país de aeronaves sob licença, com este processo devendo ser gerido pela própria Marinha do Brasil. 

Este conceito, no entanto, divergia da estratégia propagada pelo Exército Brasileiro, que buscava parcerias junto a iniciativa privada para o estabelecimento no país de uma linha de produção para montagem de aeronaves destinadas a equipar a Aviação Militar. A argumentação do comando da Aviação Naval se baseava na obtenção de um nível básico de experiência proporcionado pelas atividades de manutenção realizadas pelas “Oficinas Gerais da Aviação Naval” (OGAN), que naquele período, mesmo que limitadamente se esmerava na realização de manutenções de quarto nível. Faltava então somente realçar essa capacidade e assim transformar este embrião técnico em uma fábrica de aviões que pudesse atender as demandas da Aviação Naval Brasileira. Com o objetivo de se prospectar as melhores alternativas para aquisição e produção sob licença, o Ministério da Marinha, enviou delegações de oficiais ao exterior, para visitar as principais empresas de construção aeronáutica militares existentes na Alemanha, Estados Unidos, França e Itália. Nestas viagens, a equipe enviada a Alemanha, liderada pelo Comandante Raymundo Vasconcelos de Aboim, conheceria profundamente toda a estrutura industrial, processos de assistência técnica e portifólio de produtos da empresa Focke Wulf Flugzeugbau Gmbh. Assim seria apresentada a delegação brasileira, uma proposta amplamente vantajosa de fabricação sob licença, envolvendo uma variada gama de aeronaves, abrangendo também significativa transferência de tecnologia de produção, termos estes que atendiam aos interesses nacionais. Este programa de colaboração internacional englobava a produção sob licença no Brasil de três aeronaves distintas, o biplano FW-44J Stieglitz para treinamento primário, o monoplano FW-56 Strosser para treinamento intermediário e o bimotor monoplano FW-58 Weihe para treinamento multimotor. De acordo com esta proposta, as primeiras células destes modelos seriam montadas inicialmente no Brasil por técnicos alemães com acompanhamento brasileiro, gradativamente componentes não críticos seriam nacionalizados, atendendo assim aos termos de transferência de tecnologia previstos no contrato.  Atendendo ao cronograma inicial, o primeiro modelo a ser produzido localmente seria o Focke-Wulf FW-44J Stieglitz, com primeira célula sendo recebida no porto do Rio de Janeiro em 02 de novembro de 1936, sendo montada por técnicos alemães, esta aeronave recebeu a matrícula I1Fw-146 e teve seu primeiro voo em 10 de novembro do mesmo mês. O cronograma seguia em ritmo normal, porém o aumento das tensões na Europa iria impactar diretamente no projeto, e o advento do início da Segunda Guerra Mundial em 1939, levaria ao cumprimento parcial do acordo, pois os FW-56 Stösser nunca chegariam a ser produzidos no Brasil. 
Porém, o programa do bimotor teve início imediato, pois já em julho de 1937, chegava ao Rio de Janeiro o primeiro Focke Wulf FW-58-B2, que seria montado nas Oficinas Gerais da Aviação Naval  (OGAvN), assim como os componentes de mais dez aeronaves, que seriam montadas pelos brasileiros, sob a supervisão de técnicos alemães. A primeira aeronave montada no Brasil, que foi matriculada como D2Fw-147 na Aviação Naval, foi considerada o protótipo do FW-58-B2 brasileiro e serviu de molde para a montagem dos outros aviões, assim como para a familiarização e para o treinamento dos pilotos e dos mecânicos da Aviação Naval, sendo apresentado pronto ao público e autoridades no dia 30 de julho de 1937. Os outros dez aviões que estavam encaixotados passaram, imediatamente, ao processo de montagem e a 20 de abril de 1938, o primeiro FW-58-B2 desse lote era entregue oficialmente para operação, sendo que já em 04 de outubro do mesmo ano, a última aeronave do lote de dez era oficialmente incorporada à Aviação Naval Brasileira. Tais aeronaves receberam as matrículas de D2Fw-168 a D2Fw-177, sendo destinadas à Segunda Esquadrilha de Adestramento Militar – 2ª EAM, onde foram utilizadas como treinadores avançados para as tripulações, aerofotogrametria, navegação e outras. Essa designação obedecia à seguinte formalística da Aviação Naval: D2FW-168: D = Emprego Geral, 2 = Segundo modelo desse fabricante, Fw = Focke-Wulf e o 168 = O número da aeronave dentro de sua série. Após o término da construção da primeira série de aviões, que foram montados, foi dado prosseguimento à segunda fase do projeto, que previa a fabricação de mais vinte e cinco aeronaves, sendo estas com a utilização de inúmeros componentes produzidos no Brasil, como a madeira contraplacada, pneus, hélices, freios etc. Esses aviões foram designados como V2AvN pela Marinha e Fw 58-V9 pela fábrica, sendo matriculados de V2AvN-209 a V2AvN-223, onde: V = Adestramento, 2 = Segundo modelo produzido pelas OGAvN e AvN = Designativo do fabricante (Aviação Naval). Tal sistemática de designação procurava diferenciar os aviões montados no primeiro lote, dos fabricados com componentes e peças produzidas no Brasil. Os trabalhos de produção dessas aeronaves começaram em ritmo intenso e, já em 08 de maio de 1940, realiza o seu voo inaugural a primeira aeronave produzida no Brasil, sendo os seus pilotos os tenentes aviadores navais Sampaio e Menezes.

A operação dos Focke Wulf FW-58B na Aviação Naval encerra-se no dia 20 de janeiro de 1941, em decorrência da criação do Ministério da Aeronáutica, com a consequente entrega das aeronaves da Marinha para a nova Força, sendo que até esse momento tinham sido fabricados três aviões da série Fw 58-V9. Estas aeronaves seguiram realizando suas missões de treinamento junto a 2º Esquadrilha de Adestramento Militar (2ºEAM), com sede na Base Aérea do Galeão, no entanto, algumas indicações sugerem que três destes aviões foram cedidos a Escola de Aeronáutica. Paralelamente a agora renomeada Fábrica do Galeão, seguiram com a produção dos Focke Wulf FW-58V-9 pertencentes a segunda série de quinze aviões, e haviam ainda em estoque componentes suficientes para garantir a fabricação das onze aeronaves restavam do pacote original. Esses aviões contavam com um índice de nacionalização muito maior que aquele registrado no primeiro lote, pois faziam uso de hélices, cavernas e tirantes de madeira confeccionadas no Galeão, bem como de freios, pneus e telas de aviação produzidos domesticamente. No entanto a impossibilidade de importação de componentes alemães devido a guerra, como as metralhadoras, cabides de bombas e visores, levariam a necessidade de adaptações para instalação de itens semelhantes de origem norte americana ou nacional como as metralhadoras Browning de calibre.50 e cabides de bombas produzidos pela Vemag S/A. Em termos operacionais a crescente atividades de submarinos alemães e italianos ao largo do litoral brasileiro, foi determinante para que estes aviões saíssem da Base Aérea do Galeão para realizar missões de patrulha em áreas litorâneas consideradas críticas como Florianópolis, Santos e Porto Alegre. Conquanto os FW-58 estarem longe de ser aeronaves ideias para essa tarefa, eram pouquíssimos prontamente a disposição, com alguma capacidade para fazer esclarecimento marítimo e, se necessário fosse atacar um submarino inimigo. Em 25 de junho de 1943 ao logo do litoral de Cabo Frio – RJ uma destas aeronaves avistou provavelmente o U-513 e o atacou sem resultado aparente. A partir do segundo semestre, o recebimento de aeronaves especializadas em missões de patrulha, permitiria gradativamente liberar os FW-58 para missões de treinamento, transporte em proveito do Correio Aéreo Nacional (CAN) e observação. Além das aeronaves militares, a frota da Força Aérea Brasileira seria reforçada em agosto 1942, quando nacionalização da empresa Syndicato Condor, oportunidade em que duas células da versão de transporte civil FW-58Ki-2  (PP-CBM Aquirí e PP-CBN Cacuri) foram entregues a força área, sendo alocados como aeronaves orgânicas junto a Fábrica do Galeão e Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA).
Na primeira metade de 1945 a introdução do novo sistema de designação e matriculas da Força Aérea Brasileira, alteraria a designação dos  Focke Wulf FW-58, que passaram a ser denominados como AT-Fw-58, em reconhecimento ao seu papel de avião de treinamento avançado, a exceção dizia a respeito aos dois FW-58Ki-2, que passaram a ser designados como UC-Fw-58. Mas o fim da carreira desta família no Brasil estava próximo, pois era praticamente impossível obter peças de reposiçao para os motores Argus As 10c de origem alemã, bem como sobressalentes para aqueles componentes de vida útil reduzida. Assim, a partir de 1946, começaria o processo de desativação destas aeronaves, que, aquele ano, assistiria a baixa de cinco AT-Fw-58 e um UC-Fw-58, seguido de outras onze células no ano seguinte. Paralelamente seis exemplares foram recolhidos a Fábrica do Galeão para serem recuperados e um sétimo exemplar foi distribuído a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA). A partir destas células recolhidas, duas aeronaves hibridas foram geradas, bem como a recuperação de ao menos uma aeronave completa. Aparentemente, esse esforço tinha endereço certo, pois assim que a primeira daquelas aeronaves ficou pronta, ela foi entregue à Divisão de Águas do Ministério da Agricultura, em novembro de 1948. No seguinte uma aeronave foi cedida ao governo do estado de Goiás, que receberia ainda um dos AT-Fw-58 híbridos em julho de 1950. Em reconhecimento ao fim da carreira dos FW-58 na Força Aérea Brasileira, em 2 de abril e 1949, foi emitida uma instrução que dava como totalmente obsoleto este tipo de avião. A partir daquela data, estas aeronaves foram progressivamente excluídas da carga e alienados, o último foi descarregado em julho de 1951.

Em Escala.
Para representarmos o Focke-Wulf AT-Fw-58 “FAB 1530” quando em uso pela Força Aérea Brasileira, empregamos o kit em resina da GIIC Models na escala 1/48. Apesar deste modelo ser baseado em um antigo modelo em vacum forming, o kit produzido por este fabricante artesanal, representa a versão empregada no Brasil entre os anos de 1938 á 1951. Fizemos uso de decais originais do modelo confeccionados pelo fabricante em conjunto com decais FCM Decais presentes no set 48/08. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado nas aeronaves Focke-Wulf FW-58B quando em uso pela Aviação Naval da Marinha do Brasil, com este esquema sendo alterado a partir de 1941 quando estas aeronaves foram incorporadas a recém-criada Força Aérea Brasileira, passando a portar seus cocares nas asas e designação e matrícula na fuselagem. Esta sistemática seria mantida até a desativação das aeronaves em 1951. Um terceiro esquema de pintura em metal natural foi adotado nas aeronaves remanescentes a partir de 1945. A aeronave exposta no Museu da Aeronáutica (MUSAL) no Rio de Janeiro - RJ , é o único exemplar preservado no mundo, e apresenta este segundo padrão de pintura implementado. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors .

 Bibliografia :

- Asas sobre os Mares História da Aviação Naval Brasileira - https://asassobreosmares.rudnei.cunha.nom.br/ 
- Focke Wulf FW-58 Wikipidia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Focke-Wulf_Fw_58
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores 

Embraer AMX A-1M Falcão

História e Desenvolvimento.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), constituída como uma estatal de capital misto em 19 de agosto de 1969, foi exigida com a missão de realizar a produção em série das primeiras aeronaves de transporte transportadas no Brasil: o Embraer EMB-110, em sua versão civil comercial, e o modelo militar C-95 Bandeirante. A primeira unidade de produção em série, registrada sob a matrícula FAB 2133, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 9 de fevereiro de 1973. Além de atender a uma significativa demanda militar, as versões civis do EMB-110, destinadas ao transporte regional, alcançaram expressiva notoriedade internacional ao conquistar numerosos contratos de exportação, suprindo as necessidades de dezenas de empresas de transporte aéreo. Esse sucesso comercial, aliado à sólida confiança corporativa da Embraer, levou sua diretoria a considerar a possibilidade de estabelecer negociações com empresas estrangeiras, evoluir para a viabilização de pesquisas conjuntas e para uma eventual transferência de tecnologia. O primeiro acordo prático nesse sentido foi concretizado no início da década de 1970, por meio de um contrato com a empresa italiana Aeronautica Macchi SpA. Esse acordo prévio a fabricação sob licença, no Brasil, de mais de cem unidades do avançado treinador Aermacchi MB-326GB. Embora não envolva transferência de tecnologia, a produção local desse modelo, redesenhado como Embraer AT-26 Xavante, proporcionou à Embraer o domínio de processos e conceitos relacionados à produção de aeronaves em jato de alto desempenho, estabelecendo as bases para avanços subsequentes em sua capacidade produtiva. Com o progresso bem sucedido da implementação do AT-26 Xavante na Força Aérea Brasileira (FAB), a diretoria da Embraer S/A passou a explorar novos nichos de mercado. Entre as propostas, destacou-se o desenvolvimento de uma versão monoplace do treinador, especializada em missões de ataque ao solo. Esse conceito, designado internamente como Programa "AX", foi compartilhado com o projetista-chefe Ermanno Bazzocchi, da Aeronáutica Macchi, que o considera operacionalmente viável. Assim, surgiu o projeto da primeira aeronave "ítalo-brasileira", provisoriamente chamada de Embraer EMB-330. Apesar de sua potencial promessa, a proposta não conseguiu conquistar o apoio do Ministério da Aeronáutica (MAer), que emitiu um parecer crítico sobre as capacidades da aeronave. Diante dessa infecção, a equipe de projetos prosseguiu com estudos para aprimorar o EMB-330, desenvolvendo novas variantes. Contudo, essas iniciativas não avançaram além da fase de concepção da aeronave, resultando na suspensão definitiva do programa.

O espírito de cooperação tecnológica e industrial entre Brasil e Itália foi retomado em 1978, a partir de uma oportunidade surgida durante uma visita de uma comitiva de oficiais e comandantes da Força Aérea Brasileira à Itália. Na ocasião, a diretoria da Aeronáutica Macchi SpA apresentou ao grupo um requisito da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) para o desenvolvimento de uma aeronave subsônica de ataque a jato. Esse novo modelo visava substituir o Fiat G.91Y/R e o caça Lockheed F-104G/S Starfighter, usado em missões de ataque ao solo, apoio aéreo aproximado e ataque naval. Ao analisar as especificações propostas, constatou-se que elas eram bastante semelhantes às critérios previamente estabelecidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para o projeto "AX". Essa convergência de parâmetros operacionais abriu caminho para o desenvolvimento conjunto de uma nova aeronave de ataque. A proposta foi aprovada pelo Ministério da Defesa Italiano, e, para sua execução, foi formalizada uma parceria entre as empresas Aeritalia Aeronautica e Aeronautica Macchi SpA. Essa colaboração distribuída as condições tecnológicas e industriais permite a criação da aeronave subsônica de ataque italiana, designada como "AMX" (onde "A" representa Aeritalia, "M" refere-se a Macchi e "X" indica seu caráter experimental). As negociações entre os governos brasileiro e italiano foram iniciadas, resultando na inclusão da Embraer S/A no consórcio, com a responsabilidade por um quarto do programa de desenvolvimento e dos investimentos correspondentes. A empresa brasileira coube o projeto e a fabricação dos frascos das asas e da empenagem, bem como a realização dos testes de fadiga desses componentes estruturais. As empresas italianas, por sua vez, ficaram sobrecarregadas dos dois terços restantes, abrangendo a produção da fuselagem, os sistemas de bordo e a condução de testes estáticos e com armamentos. Apesar desses entendimentos iniciais, o processo foi temporariamente suspenso para ajustes contratuais, burocráticos e processuais, que exigiram cerca de seis meses adicionais, adiando o cronograma originalmente previsto. Em maio de 1980, durante a Feira Aeronáutica Internacional de Farnborough, na Inglaterra, o Ministério da Aeronáutica (MAer) reafirmou publicamente seu compromisso com o programa. O contrato oficial foi finalmente assinado entre os dois países em 27 de março de 1981, consolidando a participação da Embraer S/A no desenvolvimento do AMX.
Após ajustes contratuais, a participação da Embraer S/A no programa AMX foi elevada para 30%, enquanto as empresas italianas passaram a responder por 70%. Nesse novo arranjo, coube à empresa brasileira o desenvolvimento e a fabricação das asas, tomadas de ar do motor, estabilizadores horizontais, pilones subalares (suportes para armamentos) e tanques de combustível. Além disso, o Brasil se integra ao projeto de trem de pouso, dos sistemas de navegação e ataque, dos comandos de voo e do controle de armamentos. A Embraer S/A também ficou responsável pela construção de dois protótipos para ensaios em voo e um para testes de fadiga, os quais foram utilizados em um amplo programa de testes prolongados em território nacional. O caça bombardeiro tático Internacional AMX foi projetado como uma aeronave monomotor e monoposto, especializada em missões de ataque, com ênfase em robustez e confiabilidade para operar em condições de alta exposição em ambientes hostis. Equipado com uma gama avançada de sistemas de computação, navegação e ataque, além de contramedidas eletrônicas, o AMX incorpora inovações tecnológicas significativas para a época, como o sistema de comandos de voo "Augmentation System" e a configuração HOTAS (Hands On Throttle And Stick) para navegação e ataque. Sua capacidade de longo alcance operacional, ampliável por reabastecimento em voo, era compatível com as dimensões continentais do Brasil. A primeira maquete do projeto foi concluída em 1982, e a construção de quatro protótipos – dois em cada país participante – teve início quatro anos depois. O primeiro protótipo italiano realizou seu voo inaugural em 15 de maio de 1984, pilotado pelo comandante Mario Quarantelli, chefe de testes da Aeronáutica Aeritalia. Tragicamente, um acidente ocorreu no quinto voo, resultando na morte do piloto, que, embora tenha conseguido ejetar-se, não resistiu aos ferimentos. O programa foi retomado em novembro do mesmo ano com o segundo protótipo italiano. No Brasil, o primeiro protótipo, projetado YA-1 FAB 4200, decolou em 16 de outubro de 1985 nas instalações da Embraer S/A em São José dos Campos, sob o comando do piloto de ensaios Luiz Fernando Cabral. O segundo protótipo brasileiro realizou seu voo inicial em 16 de dezembro de 1986. Posteriormente, foi desenvolvida uma variante biposto, projetada à conversão operacional de pilotos para essa aeronave.

Em 1986, a primeira célula de produção em série do AMX foi entregue à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI), passando o modelo a equipar, ao longo dos anos subsequentes, seis grupos de ataque (Gruppo/Stormo). De maneira geral, as versões italiana e brasileira do AMX compartilharam um projeto básico convencional, caracterizado por uma asa alta com enflechamento de 27,5º no bordo de ataque. O sistema de comando de voo era híbrido: leme, spoilers, flaps e estabilizadores eram acionados por um sistema digital assistido por computador Fly-By-Wire (FBW) de dois canais, enquanto os ailerons e profundores operavam por um sistema hidráulico mecânico tradicional. Essa combinação tinha como objetivo principal aumentar a capacidade de sobrevivência da aeronave em combate, permitindo que o piloto retornasse à base com segurança, utilizando as superfícies de comando hidráulico-mecânico, caso o sistema FBW estivesse danificado. A estrutura das células era predominantemente composta por alumínio, com uso de aço em peças específicas e materiais compostos de fibra plástica reforçados em painéis de acesso, na estrutura da cauda, ​​nos ailerons e no duto de ar da turbina. O AMX contava ainda com um conjunto avançado de HUD (Head-Up Display) integrado ao sistema HOTAS (Hands On Throttle And Stick), otimizando a interface entre piloto e aeronave. Ao todo, a produção do monoposto alcançou 150 unidades, sendo 110 destinadas à Força Aérea Italiana e 45 à Força Aérea Brasileira (FAB), entregues entre 1989 e 1999. As diferenças fundamentais foram incorporadas às versões de cada país, refletindo suas respectivas demandas operacionais. A variante italiana foi projetada para missões de ataque no perfil “Lo-Lo-Lo” (voo baixo contínuo sobre o campo de batalha), enfrentando as sofisticadas defesas antiaéreas soviéticas, com um raio de ação limitado a 335 km. Já a versão brasileira foi configurada para operar em um cenário de defesa aérea menos avançado, adotando o perfil “Hi-Lo-Hi” (voo alto até a proximidade do alvo, com voo baixo apenas na fase de ataque). Para atender a uma autonomia mínima de 965 km, a variante brasileira exigiria dois tanques de combustível subalares adicionais de 1.100 litros, o que, por sua vez, reduziria sua capacidade de carga bélica útil. Essa necessidade seria clarificada em 1999, após a participação das aeronaves italianas durante a campanha dos Balcãs, onde verificou-se a necessidade de dotar o modelo de uma plena capacidade para operação em qualquer tempo. 
Este programa implementado pela  Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI) envolveria a modernização do sistema de navegação, instalação de nova tela multifuncional colorida compatível com sistema de visão noturna (NVG – Night Vision Goggles) e sistemas de comunicação com enlace de dados (data link). A partir de fins da década de 1990, a participação do governo italiano, no projeto norte americano JSF (Joint Strike Fighter), definia o caça multifuncional Lockheed Martin F-35 Lightning II, como futuro substituto do AMX entre os anos de 2015 e 2018. Assim, visando atender a este cronograma, a Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI), definiu implementar um segundo programa de atualização, permitindo assim estender a operação da aeronave até o final da década de 2020. Este programa lograria o status de plena efetividade de sua aviação de ataque, evitando ainda aos pilotos italianos, uma exposição a lacunas tecnológicas abissais entre o modelo a ser retirado de serviço e seu novo vetor. Este programa seria conhecido pela sigla ACOL (Aggiornamento delle Capacità Operative e Logistiche – Melhoria da Capacidade Operativa e Logística), com o contrato sendo celebrado no ano de 2004 com a empresa nacional Leonardo S.p.A, no valor de US$ 390 milhões, envolvendo a modernização de cinquenta e duas aeronaves (quarenta e dois monopostos e dez bipostos). O primeiro protótipo alçaria voo em setembro de 2005, com as primeiras aeronaves operacionais sendo disponibilizadas em meados do ano seguinte, com este programa sendo concluído em 2012.

Emprego na Força Aérea Brasileira
A doutrina operacional da aviação de caça da Força Aérea Brasileira (FAB) foi inicialmente concebida e consolidada durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário, pilotos brasileiros, operando os caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, realizaram mais de 2.546 surtidas, estabelecendo as bases para uma força de ataque eficaz. Nas décadas subsequentes, essa tradição foi aprimorada com a utilização de aeronaves adaptadas para missões de ataque ao solo. Contudo, o emprego de vetores não era específico para essas operações, resultando em limitações que impactavam diretamente os resultados operacionais. Os esforços do Ministério da Aeronáutica (MAer) para superar tais restrições culminaram no programa AMX, que são aeronaves dinâmicas especializadas em ataque ao solo. No final da década de 1980, a incorporação do Embraer A-1A AMX gerou grandes expectativas junto aos comandantes da Força Aérea Brasileira (FAB) , representando um avanço significativo em relação aos modelos anteriores. Para aproveitar ao máximo essa oportunidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) determinou a criação de uma nova unidade aérea de combate: o 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi. A ativação dessa unidade ocorreu em 22 de abril de 1988, na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), no Rio de Janeiro. A primeira célula operacional, registrada como A-1A FAB 5500, foi formalmente incorporada em 13 de outubro de 1989, durante uma cerimônia no Rio de Janeiro. Na semana seguinte, teve início o programa de certificação operacional, concluído em julho de 1990, quando as operações aéreas foram oficialmente iniciadas. O 1º/16º GAv - Esquadrão Adelphi foi designado com missões primárias que incluíam o ataque a alvos de superfície, a interdição do campo de batalha e o apoio aéreo aproximado às forças terrestres, além de uma missão secundária de ataque aéreo estratégico. Uma das inovações do A-1A AMX foi a integração de computadores de missão especializados para o lançamento de armamentos de ataque ao solo, utilizando os modos CCIP (Continuously Computed Impact Point – Ponto de Impacto Continuamente Computado) e CCRP (Continuously Computed Release Point – Ponto de Lançamento Continuamente Computado), otimizados para bombas não guiadas. Esse sistema proporcionou uma precisão notavelmente superior em comparação aos caças-bombardeiros Northrop F-5E Tiger II e Embraer AT-26 Xavante. Além disso, o A-1A AMX apresentava características avançadas, como uma baixa assinatura infravermelha e uma seção transversal reduzida ao radar. Essas qualidades, combinadas com sistemas eletrônicos de defesa passiva e ativa, conferem à aeronave uma elevada capacidade de sobrevivência em ambientes hostis. Tais diferenciais estabeleceram o Embraer A-1A AMX como um marco na modernização da capacidade de ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB) , fortalecendo sua doutrina operacional e sua projeção tática.

Apesar de representar um avanço significativo na capacidade de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB), os diferenciais tecnológicos do Embraer A-1A AMX foram gradualmente neutralizados pelo avanço dos anos. A partir da segunda metade da década de 1990, novos sistemas de defesa e aeronaves de combate mais avançadas superaram rapidamente seus sistemas, impedindo a vantagem estratégica da aeronave no contexto sul-americano. Consciente dessa realidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciou, na última década daquela época, estudos para avaliar alternativas de modernização da frota de A-1A AMX. Diferentemente da abordagem da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI), que optou por uma atualização limitada, a Força Aérea Brasileira (FAB) planejaria uma modernização mais abrangente, com o objetivo de manter as aeronaves em operação até, pelo menos, meados da década de 2030. Além disso, o programa brasileiro visava adotar a mesma suíte aviônica já selecionada para os projetos Embraer  A-29 ALX (Aeronave de Ataque Leve) e Northrop F-5EM Tiger II, promovendo uma padronização de hardware e software, incluindo sistemas de enlace de dados. Essa uniformização também traria uma redução significativa nos custos de aquisição e gestão da cadeia de suprimentos de peças de reposição. Essa iniciativa foi formalizada em 2003, com a contratação da Embraer S/A como principal responsável pela execução e gerenciamento do programa. Contudo, as negociações burocráticas no âmbito do governo federal atrasaram o processo, exigindo uma renegociação com as empresas participantes do processo no final de 2006. Em 30 de maio de 2007, a primeira aeronave Embraer A-1A AMX, pertencente ao segundo lote de produção, chegou às instalações da Embraer S/A em Gavião Peixoto, no interior do estado de São Paulo, com o objetivo de servir como base para o programa de modernização. Em novembro de 2008, a empresa israelense Elbit Systems S/A, por meio de sua subsidiária brasileira Aeroeletrônica (AEL) Ltda, foi contratada para fornecer os sistemas eletrônicos (aviônicos) pertinentes a modernização. Em fevereiro de 2009, foi assinado um contrato no valor de US$ 157,6 milhões para a modernização de 43 aeronaves. O programa incluiu uma extensa revitalização estrutural de todas as células promovendo a troca de componentes críticos, incorporando melhorias que visavam prolongar sua vida útil por mais 20 anos, suportando uma fadiga operacional. O primeiro protótipo, redesignado como A-1M AMX e registrado sob a matrícula FAB 5526, realizou seu voo inaugural em 19 de junho de 2012, iniciando uma importante campanha de ensaios em voo.
O principal destaque do Programa de Modernização do Embraer A-1M AMX residiu na atualização da suíte eletrônica, que incorporou a tecnologia HOTAS (Hands On Throttle And Stick – mãos nos aceleradores e manche) e um novo HUD (Head-Up Display) com campo de visão de 24 graus. A cabine foi equipada com dois mostradores multifuncionais coloridos (MFCD) de 152 x 208 mm e um terceiro mostrador de 104 x 127 mm, além de sistemas e iluminação compatíveis com óculos de visão noturna (NVG) de terceira geração. Entre os novos aviônicos, destacam-se um gravador VHS-C, que registra dados e áudio para análise em voo ou em solo; um gravador de dados de voo; dois computadores de missão redundantes conectados por um barramento de dados MIL-STD-1553B; um sistema de gerenciamento de armamento (Store Management System) MIL-STD-1760C; e um indicador de parâmetros de voo e motor (EICAS). Esse conjunto foi projetado para ser compatível com o sistema israelense DASH 4 HMD (Helmet Mounted Display – visor montado no capacete), semelhante ao utilizado nas caças modernizadas Northrop F-5M Tiger II. Além das atualizações internacionais na cabine, o A-1M AMX passou a contar com novos sensores. No âmbito dos sistemas defensivos, a aeronave recebeu um receptor de aviso de radar (RWR) mais avançado, aprimorando o ELT-56X original, e lançadores internos de contramedidas chaff e flare, controlados automaticamente pelo sistema de alerta de aproximação de mísseis PAWS-2 da Elisra. O pacote foi complementado pela integração de um sistema de navegação por infravermelho (NAV-FLIR), instalado na parte superior do nariz. Seu radar  multimodo SCP-01 Scipio permitiria a aeronave a encontrar alvos no solo em distâncias maiores e aumentar a precisão do lançamento de armas. Em modo ar-ar, o piloto teria controle do espaço aéreo a sua volta, para avaliar as ameaças, conseguir fugir dos interceptadores e, se não for possível evitar o combate aéreo, utilizar o radar para aumentar a chance de acertar seus mísseis de autodefesa. Apesar da defesa aérea não ser a missão primária do A-1, o jato poderá se tornar uma opção aos comandos operacionais para cumprir essa tarefa. Um aspecto operacional crucial da modernização foi a incorporação do OBOGS (On-Board Oxygen Generating System – sistema independente de geração de oxigênio). Esse sistema substituiu as esferas pressurizadas de oxigênio líquido, tradicionalmente armazenadas na fuselagem dianteira, por um mecanismo que fornece oxigênio gasoso ao piloto em altas altitudes de forma contínua. Diferentemente das esferas, que limitavam o fornecimento a poucas horas e restringiam missões estratégicas de longa duração, o OBOGS ampliou significativamente a autonomia operacional da aeronave.

No que tange aos sistemas de armas, o Embraer A-1M AMX foi atualizado para compatibilidade com uma variada gama de mísseis de superfície (ASM – Air-to-Surface Missile), integrados ao radar multimodo SCP-01. Neste contexto a aeronave  passou poder  empregar bombas guiadas a laser Lizard II, operadas em conjunto com o casulo designador de alvos israelense Thales Litening, além de bombas de uso geral equipadas com o kit nacional de guiagem por satélite SMKB-82. Para autodefesa, o A-1M foi habilitado a usar o míssil para ar-ar de curto alcance nacional Siat MAA-1 Piranha, bem como outros modelos de curto alcance disponíveis no arsenal da Força Aérea Brasileira (FAB). Além disso, a aeronave poderia incorporar diversos casulos de contramedidas eletronicas (ECM) , como o Skyshield, produzido pela empresa israelense Rafael Advanced Defense Systems, que confere capacidades de guerra eletrônica ao transformar o A-1M em uma plataforma de interferência eletromagnética.  Uma nova suíte eletrônica integraria rádios, sistemas de navegação e datalink. Também haverá um sistema de instrumentos de voo reserva (Back-Up Flight Intrumentation – BFI), que, em caso de falha dos sistemas principais, poderá ser usado para um retorno seguro após uma pane ou no caso de aeronave vir a ser atingida por fogo inimigo. Esta  nova suíte eletrônica passaria a integrar rádios, sistemas de navegação e datalink. Também haverá um sistema de instrumentos de voo reserva (Back-Up Flight Intrumentation – BFI), que, em caso de falha dos sistemas principais, poderá ser usado para um retorno seguro após uma pane ou no caso de aeronave vir a ser atingida por fogo inimigo. Todos os voos serão gravados digitalmente. Isso vai permitir, por exemplo, que após o pouso de um piloto novato seu instrutor possa comentar cada detalhe da missão. Este pacote eletrônico traria maior segurança e menor carga de trabalho para os pilotos, com  todos os voos passariam a ser gravados digitalmente, permitindo por exemplo, que após o pouso de um piloto novato seu instrutor possa comentar cada detalhe da missão.  O primeiro exemplar de produção modernizado, registrado como FAB 5520, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB)  em 3 de setembro de 2013, a tempo de participar do exercício multinacional Cruzex Flight 2013, realizado em novembro do mesmo ano. Inicialmente, o programa previa a modernização de 43 células, com um custo total estimado em R$ 1,3 bilhão. Contudo, em 2014, a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) anunciou a redução do número de aeronaves a serem modernizadas, decisão justificada pela priorização de a partir de 2015 para os projetos estratégicos, como o do Embraer KC-390 Millennium e das caças suecas Saab JAS-39 Gripen NG F-39E, que contavam com uma dotação orçamentária original na ordem de R$ 1,7 bilhão. 
Até meados de 2015, apenas três aeronaves foram entregues pelo fabricante. A seguir um novo corte orçamentário no Ministério da Defesa, levaria a suspensão do programa de modernização  por 12 meses, com o programa então  sendo limitado a apenas 14 células. Neste contexto o comando da  Força Aérea Brasileira (FAB) optou por manter em operação uma pequena quantidade de aeronaves não modernizadas, totalizando cerca de seis aeronaves A-1A , enquanto as 32 células restantes foram armazenadas para servir como fonte de peças de reposição, visando assim estender ao máximo sua operacionalidade.  Esta redução no programa de modernização, provocaria no dia 12 de dezembro de 2016 na desativação oficial do 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) Esquadrão Adelphi, com suas aeronaves Embraer A-1A e A-1M AMX sendo transferidas para a Base Aérea de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sendo alocadas junto ao 3º/10º Grupo de Aviação (3º/10º GAv) Esquadrão Centauro e ao 3º/10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv) Esquadrão Poker.  As aeronaves modernizadas ao entrarem em operação provariam a assertividade na tomada de decisão sobre os parâmetros implementados neste programa, com as aeronaves apresentando resultados extremamente positivos.  Porém apesar das aeronaves Embraer A-1M AMX estarem operando no estado da arte, é fato que as células modernizadas enfrentam a realidade da idade do projeto e seu subsequente desgaste estrutural. Um grande fator de limitação de sua extensão de vida útil refere-se principalmente ao contrato de manutenção e suporte dos motores Rolls-Royce Spey Mk.807, com este termo sendo renovado até o inicio do ano de 2026 com a empresa italiana Leonardo S.p.a que atende a estas demandas em termos de suporte logístico. Em termos de planejamento, previa-se anteriormente que a possível aquisição de um segundo lote de aeronaves Saab F-39E Gripen elevaria a frota para 66 aeronaves, o que permitiria a dotação completa de duas unidades, levando assim a reativação 1º/16º Grupo de Aviação Esquadrão Adelphi, passando este a ser sediado na Base Aérea de Anápolis. No entanto limitações orçamentárias afetariam o programa Gripen, e em junho de 2024 passou-se a cogitar a intenção de se adquirir um lote de caças  de 4ª geração Lockheed Martin F-16, usados oriundos dos estoques da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) , podendo ser vendidos nos favoráveis termos do programa FMS (“Foreign Military Sales”). Esta solução poderia atender em um curto prazo a necessidade de substituição dos veneráveis A-1M AMX, impedindo assim a extinção da capacidade de ataque estratégico da Força Aérea Brasileira (FAB).

Em Escala.
Para representarmos o Embraer AMX A-1M “FAB 5520” empregamos o kit em resina da escala 1/48 produzido GIIC Models , modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento permitindo expor os painéis internos abertos e superfícies moveis. Para se representar a versão modernizada recorremos ao uso de peças extras presentes no kit injetado da Kinetic na mesma escala. Confeccionamos em scratch os misseis Mectron MAR-1 e MAA-1B Piranha, adicionamos ainda na linha central um pod Litening NA/AA-28 em resina da Eduard. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM decais presente no Set 48/08.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de baixa visibilidade implementado pela Força Aérea Brasileira a partir de 1997, sendo o segundo esquema a ser aplicado nos Embraer A-1A e A-1B AMX, com este padrão sendo mantido na integra nas aeronaves modernizadas.


Bibliografia :

- Revista ASAS nº20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
- Programa AMX: da concepção à modernização- revista Forças de Defesa Nº 9
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores 

Gurgel X-15 e X-20 Militares

História e Desenvolvimento.
A história da Gurgel se confunde com a do seu fundador, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, paulista nascido em Franca, em 1926, e formado pela USP aos 23 anos de idade. O interesse de João Augusto pela mecânica se manifestou desde criança e seu caráter questionador, contrapondo soluções inovadoras – por vezes revolucionárias – aos obstáculos e desafios técnicos surgidos no dia a dia, o acompanhou por toda a vida. Ainda estudante seu interesse se voltou para os automóveis, sonhando desenvolvê-los e fabricá-los no país. Obstinado pela idéia, desde cedo se preparou para a tarefa e, mesmo antes de se graduar, construiu (em 1947) um protótipo operacional de veículo anfíbio a hélice, com três rodas e motor de avião. Em 1958 criou em São Paulo (SP) sua primeira empresa – a Moplast Moldagem de Plástico Ltda., onde produziu os primeiros painéis luminosos de acrílico do país, em substituição ao neon. Mas o micróbio do automóvel não demorou a se manifestar e, já a partir de 1960, em associação com Silvano Pozzi (que três anos depois criaria a Silpo), começou a fabricar o Mo-Kart – primeiro kart de competição produzido em série no país. No II Salão, em 1961, apresentou o Gurgel II, que seria o primeiro de uma longa série de carros brilhantemente concebidos, porém sem continuidade de produção. O Gurgel II tinha carroceria de dois lugares, de plástico reforçado com fibra de vidro (como toda a produção posterior da Moplast e de suas sucessoras), montada sobre um chassi tubular com engenhosa suspensão independente nas quatro rodas. O motor de 130 cm3 (10 cv, refrigerado a ar), localizado na traseira, era acoplado a uma caixa de mudanças de variação constante, composta de polias tronco-cônicas e correias em V.Além destes veículos de lazer, a Moplast lançou no III Salão do Automóvel um transportador industrial para movimentação de cargas em fábricas e aeroportos, anunciando-o como “de criação e fabricação nacionais “. Denominado Mocar, pesando somente 180 kg, tinha capacidade para 400 kg de carga. Era acionado por motor a gasolina de dois tempos, 125 cm3 e 7,5 cv, associado a transmissão com uma marcha à frente e uma a ré, reduzida. Contava com freios somente nas rodas traseiras. Em 1964 João Augusto se desligou da Moplast e abriu, ainda em São Paulo, a Macan Indústria e Comércio Ltda., revenda Volkswagen que continuaria a fabricar karts, mini-carros infantis e o Mocar. A cada Salão do Automóvel alguma novidade era mostrada ou lançada: em novembro, na sua IV edição, foi a vez do Gurgel Jr II (3 cv, uma marcha à frente e ré, freios nas rodas traseiras), carrinho motorizado para crianças, com 2,10 m de comprimento e estilo inspirado no Ford Mustang. O ano de1966 seria o marcdo virada na história de João Augusto. Mediante acordo com a Volkswagen, preparou para o V Salão do Automóvel o Gurgel 1200, veículo de fibra de vidro sobre plataforma VW, apresentado em quatro versões, três “esportivas”, batizadas de Ipanema, Enseada e Augusta (a mais “luxuosa”), e uma “de trabalho”, denominada Xavante. Esta, dedicada a tarefas mais pesadas e ao transporte de pequenas cargas, seria a inspiração e origem da maioria dos veículos Gurgel das duas décadas seguintes. O Gurgel 1200 utilizava mecânica do Karmann-Ghia, com o tradicional e comprovado motor de quatro cilindros opostos refrigerado a ar de 1.200 cm3 e 36 cv (logo passariam a estar disponíveis motores maiores, com 1.300 e 1.500 cm3). Foi tão grande o interesse despertado pelo carro que João Augusto começou a fabricá-lo na Macan. Desentendimentos entre os sócios com relação ao envolvimento da concessionária na montagem de veículos, entretanto, levaram à sua saída da sociedade. Pouco depois, em 1º de setembro de 1969, fundou a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos Ltda., ainda em São Paulo.

O início de fabricação do Ipanema – o modelo escolhido como primeiro produto da Gurgel – se deu em ritmo lento, em torno de quatro carros por mês. Sob a nova marca, o carro – agora simplesmente denominado Gurgel – sofreu algumas alterações externas e internas, dentre elas a inclusão de um santo antônio para maior proteção dos passageiros, a mudança do desenho das entradas de ar para o motor, na traseira, a abertura de entradas adicionais nas extremidades dos para-lamas e a troca das lanternas redondas pelas retangulares da Kombi (as redondas, contudo, não tardariam a retornar).Em 1970 a Gurgel assumiu claramente a vocação utilitária de seu produto, lançando as versões picape e QT (Qualquer Terreno), ambas equipadas com seletraction, um freio traseiro seletivo (com o papel de diferencial autoblocante manual) que, em momentos de dificuldade de tração, imobilizava a roda sem aderência, aplicando toda a potência do motor na outra roda. Extremamente simples, o artifício compensava em muitas situações a ausência de tração total nos carros da marca. A década de 70 se encerraria com o lançamento, no VII Salão, do buggy Bugato, fornecido em kits. Apesar da sua personalidade e estilo original, realçando-o frente à concorrência (vide a frente quadrada com falsa grade, a tampa de acrílico transparente encerrando o motor e os filetes decorativos nas laterais), dele só seriam fabricadas cerca de 20 unidades. A primeira conquista tecnológica da nova marca foi a adoção, em 1972, da estrutura plasteel, em substituição às plataformas com motor traseiro fornecidas pela Volkswagen. Mais uma das muitas “invenções” de João Augusto, o plasteel consistia numa estrutura tubular em treliça revestida de resina e fibra de vidro, capaz de conferir ao veículo, simultaneamente, flexibilidade à torção, redução de peso e resistência à corrosão. Com esta inovação a Gurgel conseguiria se instalar com solidez num nicho de mercado pouco explorado no país – a dos utilitários para uso sob más condições de terreno, atendido na época por apenas dois modelos de projeto ultrapassado, o Jeep Willys e o Toyota Bandeirante. O Xavante XT-72, primeiro utilitário Gurgel equipado com o novo chassi, mantinha a carroceria do Gurgel QT, que sofreu pequenas alterações para tornar o carro mais apto ao uso fora-de-estrada: para-choques reforçados, guincho, grade protetora nos faróis, engate para reboque e pás encaixadas nas laterais; o estepe foi deslocado para cima do capô dianteiro. O carro tinha concepção diametralmente oposta à de seus dois concorrentes: carroceria monobloco em fibra com estrutura tubular integrada, motor traseiro, suspensão traseira independente por molas helicoidais, bancos anatômicos e peso reduzido, em lugar de carroceria de aço, chassi em escada, suspensão por feixe de molas e peso e centro de gravidade elevados do Jeep e Toyota. O consumo de combustível do Gurgel era, naturalmente, muito mais reduzido, da mesma forma que o custo de manutenção, já que utilizava a mecânica mais do que conhecida da Volkswagen. Até mesmo o grande diferencial técnico que favoreceria os jipes tradicionais – a tração nas quatro rodas, inexistente no Gurgel –, ficava neutralizada (em condições de uso menos pesadas, por suposto) por sua leveza, pela agilidade da suspensão e pelo uso do selectration. Seu preço era competitivo, cerca de 15% superior ao Jeep, seu concorrente mais direto.
Em plena crise do petróleo, João Amaral Gurgel criou o carro elétrico Itaipu, concebido inicialmente como modelo urbano de passageiros, na classificação minicarro de dois lugares, que evoluiria para uma caminhonete elétrica de design mais avançado que o da Volkswagen Kombi.  Este modelo batizado como Gurgel Itaipu E-400 furgão, chegando a equipar diversas frotas de companhias estatais de eletricidade, Brasil a fora, porém apesar do conceito inovador de propulsão, a tecnologia daquela época resultava em baterias com muito peso e pouca capacidade de carga, não permitindo assim uma autonomia satisfatória. A partir da segunda metade da década de 1970, a imposição do governo federal sobre restrições à importação de veículos novos, geraria um grande impulso nos negócios da empresa, resultando em contexto de vendas ascendentes, que permitiria gerar a empresa os recursos necessários para o estabelecimento de uma nova e grande planta fabril na cidade paulista de Rio Claro, permitindo assim adequar sua capacidade de produção ao constante aumento de demanda do mercado nacional.  Estrutura industrial esta, que permitiria no final desta mesma época a ser além de tornar o primeiro exportador nacional na categoria de veículos especiais, seria em termos de faturamento e volume de vendas o segundo maior polo industrial brasileiro. Nesta época, sua cadência de produção atingia 10 carros por dia, com 25% destinado a exportação, mantendo o X-12 como principal produto na linha de montagem. Este mesmo movimento iria gerar a partir de alguns anos antes a motivação natural para aumentar seu portfólio de produtos, nascendo assim o conceito para o desenvolvimento de veículos de maior porte, tendo como base novamente a plataforma e mecânica consagrada dos veículos da Volkswagen do Brasil S/A.  Novamente o foco seria pautado pelo segmento de veículos utilitários leves, porém partindo de premissa de conceber um novo carro com melhor capacidade de operação em ambientes fora de estrada, permitindo assim gerar um diferencial sobre o elegido principal concorrente a Volkswagen Kombi.  Com base na necessidade de se prover ao novo utilitário de uma certa capacidade “off road”, o desing do futuro Gurgel Itaipu E-400 (semelhante a VW Kombi), seria descartado, pois dever-se-ia proporcionar ao novo carro uma maior altura do solo do que seu concorrente. 

O projeto iria contemplar ainda os eficientes sistemas de suspensão e tração, com o primeiro fazendo uso de semieixos com retorno limitado por coxins e cintas, além de molas helicoidais, e o segundo baseado no patenteado "Selectraction" que através de um conjunto de alavancas integradas ao sistema de freio de mão, permitia frear uma e outra roda motriz separadamente, anulando o efeito diferencial. Caso uma das rodas perdesse tração, era possível transferir toda a força para a outra, apesar de ser um conceito simples, era altamente funcional, fornecendo ao carro uma capacidade interessante para o emprego em ambientes fora de estrada. Inicialmente o projeto derivaria para o desenvolvimento de uma picape, partindo do uso de toda a mecânica da Volkswagen, o design apresentaria linhas retas e em ângulo e apresentava dimensões consideravelmente maiores que seu concorrente alvo. Nascia assim o Gurgel X-20, primeiro utilitário com cabine avançada da marca (disponível nas versões de cabine simples e cabine dupla), com capacidade para 1/2 t de carga, podendo ser adaptado para o transporte de passageiros ou uso misto. Tomando por base versão anterior desenvolvida para as Forças Armadas, acompanhando a concepção básica do X-12, porém com motor 1600, o veículo apresentava grande vão livre (360 mm) e excelentes ângulos de ataque e saída (respectivamente 65 e 450), obtidos graças ao reduzidíssimo balanço dianteiro e à elevada distância para o solo. Tinha como característica peculiar a existência de três limpadores de para-brisa o que por si só está curioso. O novo veículo seria apresentado ao mercado na edição do Salão do Automóvel de 1976 em São Paulo, porém logo se mostraria como um insucesso em vendas. O conceito seria repensado culminando em um veículo misto de picape e jipe, nascendo assim o Gurgel X-15, novamente se valendo dos elementos mecânicos e estruturais usuais dos produtos Gurgel: carroceria em fibra e plasteel, motor traseiro VW 1600 refrigerado a ar (60 cv), caixa VW de quatro marchas, suspensão independente e freios a tambor nas quatro rodas. Com peso líquido de 980 kg, sua capacidade de carga era de meia tonelada; tinha 3,63 m de comprimento. 
A linha de utilitários foi revista e ampliada no final de 1979. Tomando por base a picape X-15 militarizada, foi lançada a G-15, com capacidade para 700 kg, em diversas versões e carrocerias especiais, com ou sem caçamba. Caracterizado por seus para-brisas extremamente inclinados, reduzida área de janelas e elevadíssima linha da cintura, resultando em péssima visibilidade. Em 1980 o G-15 ganhou versão a álcool, recebendo dois tanques de combustível, o que lhe permitia autonomia de até 1.200 km. No ano seguinte apareceu o G-15 L, 30 cm mais longo e com capacidade de carga aumentada para 1.050 kg (para igual peso líquido); o nome Gurgel vinha pintado com grande destaque no para-choque dianteiro. Em resposta ao mau desempenho de vendas do G-15, em 1982 foi lançado o G-800, com capacidade de carga de 1.100 kg e carroceria de linhas curvas mais agradáveis (a mesma do elétrico E-400), porém com as mesmas deficiências de acesso e visibilidade do modelo anterior; o espaço interno traseiro, no entanto, era excepcionalmente grande, em especial na versão cabine-dupla. A mecânica permanecia a mesma, com a adição de freios a disco nas rodas da frente e servo freio, porém sem o dispositivo selectration. O G-800 também se apresentava nas versões picape, furgão, van, executivo, táxi e escolar, todos os modelos recebendo grandes alçapões basculantes no teto para garantir ventilação interna para os passageiros; também foram instalados cintos de três pontos nos bancos dianteiros. O estepe estava colocado sob o piso, com acesso mediante portinhola situada na lateral esquerda. As versões van e cabine dupla contavam com grande vidro fixo na lateral esquerda, que descia bem abaixo da linha da cintura, em claro contraste com a pequena janela do motorista. A picape cabine-dupla podia dispor de tampa de fibra de vidro protegendo a caçamba, transformando-a em porta-malas. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A utilização de veículos militares leves com tração 4X4 para emprego em ambientes fora de estrada foi difundida nas Forças Armadas Brasileiras a partir da Segunda Guerra Mundial, quando foram recebidos no país, mais de dois mil jipes com tração 4X4 dos modelos produzidos pela Ford Motors Company, American Bantam Co e Willys-Overland Co. Ao longo das duas décadas seguintes, estes jipes de origem norte americana prestaram grande serviço as Forças Armadas Brasileiras, passando a ser gradativamente substituídos ao longo dos primeiros anos da década de 1960, por versões civis militarizadas do modelo CJ-5 produzidas nacionalmente pela Willys Overland do Brasil (WOB). A produção local destes utilitários com tração 4X4, otimizaria em muito a cadeia de custos de operação, pois o fato de toda a mecânica empregada ser comum com veículos do mercado civil, proporcionava uma grande redução nos custos de manutenção. A facilidade de obtenção de peças de reposiçao, pelo alto índice de nacionalização de componentes, levaria o Exército Brasileiro (que a esta altura era o principal operador militar do modelo no país) a alcançar índices de disponibilidade de frota se quer imaginados quando da operação de carros do mesmo tipo importados durante a Segunda Guerra Mundial. Este fato, motivaria cada vez mais o comando das três forças armadas a optar pela aquisição de material militar automotivo de produção nacional, potencializando a fase inicial de montadoras estabelecidas no país como a Ford do Brasil S/A, Willys Overland S/A, Dodge Chrysler do Brasil, entre outras multinacionais. No início da década de 1970 a empresa paulista Gurgel S/A Industria e Comércio de Veículos, dava seus primeiros passos no mercado automotivo nacional, lançando o modelo Gurgel X-10 Xavante, curiosamente suas características de operação, resistência e manutenção, começaria a conquistar significativa participação junto ao nicho de mercado de clientes rurais, passando a empregar os carros brasileiros em substituição a veículos similares de origem norte americana, importados ou produzidos localmente. Este cenário levaria a diretoria da Gurgel S/A a almejar novas possibilidades de mercado, entre estes o nicho de defesa, com a montadora nacional passando a oferecer seu portfólio de produtos as Forças Armadas Brasileiras.

O primeiro modelo a ser militarizado e avaliado pelo Exército Brasileiro, seria o Gurgel X-10 Xavante, um veículo hibrido de buggy e jipe, que possuía certa capacidade para operação em ambientes fora de estrada (off road), proporcionada esta pelo seu sistema de tração "Selectraction", que se demonstrava muito eficiente em atoleiros, pois freando uma das rodas que estivesse girando em falso, a força era transmitida à outra, atolada, característica de todo diferencial, facilitando a saída do atoleiro. Esta solução aliada a concepção estrutural do carro em seu inovador chassis do tipo “Plasteel”, e carroceria em fibra de vidro, resultariam em uma excelente relação e custo-benefício, o que seduziria o comando das Forças Armadas Brasileiras. Desta maneira seriam celebrados os primeiros contratos com o Exército Brasileiro, seguidos também de pequenas aquisições pela Força Aérea Brasileira. A partir de 1975 o novo modelo Gurgel X-12 Tocantins seria lançado no mercado civil, acompanhado também de uma versão militarizada denominada X-12M, que seria inicialmente adquirido em larga escala pelo Exército Brasileiro, sendo posteriormente incorporado pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (CFN) e finalmente pelo Ministério da Aeronáutica para o emprego junto aos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica (BInfAe), sendo neste caso inclusive armados com metralhadoras de calibre 7,62 mm. O bom relacionamento entre a Gurgel S.A Indústria e Comércio de Veículos e as Forças Armadas Brasileiras, motivaria a empresa a oferecer novas propostas de vendas, incluindo neste contexto em 1977 uma versão militarizada da picape Gurgel X-20, da qual seriam adquiridos pelo menos quarenta carros deste tipo de utilitário pelo Exército Brasileiro, a fim de serem empregados em tarefas administrativas junto as unidades operacionais no estado de São Paulo e Rio de Janeiro, em conjunto com picapes Volkswagen Kombi adquiridas anteriormente.
O emprego deste novo modelo, por apresentar capacidade de carga 1/2 t de carga, poderia representar mais uma oportunidade comercial para a empresa no segmento militar, gerando assim uma proposta por parte da empresa para o desenvolvimento de um veículo utilitário especializado para o transporte de tropas, reconhecimento e operação de artilharia leve. Nesta última missão havia uma necessidade do Exército Brasileiro em complementar sua frota de jipes Ford & Kaiser M-151A1/C Mutt, que operavam na missão de transporte e operação dos canhões sem recuo M40A1 106 mm, estes veículos em específico apresentavam baixo índice de disponibilidade, em função da dependência de importação de peças de reposição, levando então o comando da Força Terrestre a buscar uma alternativa para este problema. Rapidamente a empresa apresentaria a proposta do Gurgel X-20 “militarizado”, este novo veículo conceitual empregava a estrutura, chassis e mecânica do modelo civil, apresentando configuração extremamente espartana, não possuindo laterais, portas e nem para-brisas, sendo assim muito semelhante ao conceito de veículos do tipo “mula mecânica”. O primeiro protótipo foi entregue ao comando do Exército Brasileiro, sendo encaminhado ao Centro de Avaliações do Exército (CAEx), baseado Campo de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro, a fim de ser empregado em um extenso programa de testes e avaliações de campo. Este processo envolveu questões de condução em condições normais de trânsito e fora de estrada, e em condições operacionais aplicadas em cenários de tiro real com o armamento, sendo instalado na plataforma, um canhão sem recuo norte americano M40A1 de 106 mm. Nestes testes de campo o protótipo chegou a ser conduzido pelo próprio João Amaral Gurgel.

Pela simplicidade estrutural do veículo, que sequer apresentava as mínimas condições de proteção da equipe as intempéries, o protótipo acabou sendo rejeitado e pelo corpo de avaliação Centro de Avaliações do Exército (CAEx). Visando na perder a janela de oportunidade, a montadora nacional apresentaria uma nova proposta agora, tendo como base seu modelo de utilitário civil Gurgel X-15. Este veículo apresentava um desenho rústico e abrutalhado, com linhas retas e angulares muito semelhantes às de um veículo blindado, possuía como elemento mais marcante um enorme para-choque com faróis embutidos, sobre o qual era instalado um para-brisa rebatível com dois vidros planos assimétricos, estava ainda equipado com gancho traseiro para reboque e guincho mecânico dianteiro. A capacidade fora de estrada (off-road) era típica da marca, evidenciada pelos bons ângulos de entrada e saída (50 e 45 graus, respectivamente), entre eixos curto (223 cm) e elevado vão livre do solo (35 cm), muito superiores a primeira proposta apresentada que era derivada do modelo X-20. O carro era impulsionado ainda pelo tradicional motor Volkswagen 1600 a ar, trabalhando em conjunto com o câmbio de quatro marchas e relação de diferencial intermediária (4,125:1). Os destaques visuais da traseira apontavam o emprego de lanternas horizontais (também da Kombi), o estepe e o galão auxiliar de combustível com 20 litros, destacava-se ainda no conjunto visual o robusto protetor de carter. Seria então apresentado ao Exército Brasileiro uma versão com teto de lona e suporte para o sistema de armas sem recuo, uma versa com teto rígido cabine dupla e meia capota de lona e por último um utilitário padrão com capacidade para até sete passageiros ou carga, para ser exclusivamente empregado em atividades administrativas. Novamente a versão especializada seria submetida a testes de campo a exemplo do X-20 militarizado, infelizmente para a montadora nacional este protótipo também não seria aceito, como o comando do Exército Brasileiro optando pela aquisição de jipes Willys CJ-5 nacionais militarizados para o transporte e operação deste sistema de armas.
Apesar desta negativa a empresa ainda lograria comercializar com o Exército Brasileiro um pequeno lote das versões básicas voltadas a tarefas de transporte com cabine de lona e utilitário com teto rígido, veículos estes que operariam em tarefas administrativas principalmente entre as Brigadas Militares entre os anos de 1981 e 1998, sendo posteriormente substituídas por versões mais recentes da Volkswagen Kombi 1600. Porém a montadora ainda conseguiria obter outros contratos governamentais em âmbito estadual e municipal, para o uso como viaturas da Polícia Militar e como ambulâncias junto as Santas Casas em diversas cidades, principalmente no estado de São Paulo. Passados três décadas de seu lançamento, os “jipões” X-15 e G15 da Gurgel ganhariam status de celebridade junto a colecionares e entusiastas, com muitos deles sendo restaurados e caracterizados como veículos militares, mantendo assim viva a memória de uma das mais ousadas empresas brasileiras, que infelizmente veio a falência no ano de 1993.

Em escala.
Para representarmos o Gurgel X-15 militarizado em serviço pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul, empregamos o recente modelo impresso com tecnologia 3D produzido pela Factory Modelismo na escala 1/43. O veículo é muito bem-produzido e apresenta um bom nível de detalhamento para a escala, somente apontamos como ressalva a falta do mesmo vir com as janelas vazadas o que melhoraria o nível de realismo final. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982. Não existem registros que comprovem a aplicação neste modelo do esquema de camuflagem tático de duas cores adotado a partir de 1983. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia:

- Gurgel, o engenheiro que ousou sonhar - http://revistaautoesporte.globo.com
- Gurgel: o engenheiro que virou carro - https://quatrorodas.abril.com.br
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Exército Brasileiro - http://www.exercito.gov.br