Ansaldo ISVA-5 e SVA-10

História e Desenvolvimento.
O italiano Giovanni Ansaldo, fundador da Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia no ano de 1854, se tornaria uma figura histórica, apresentando múltiplos interesses e paixões, que iam deste a arte até à engenharia, caracterizando-se principalmente por uma visão estratégica e corajosa que o levaria a tornar-se um pioneiro da inovação de produtos e processos industriais. Sua primeira atuação se daria no segmento de produção de caldeirões, guindastes, locomotivas e implemento ferroviários. Após o término da Primeira Guerra Mundial, a empresa ficaria notabilizada pelo desenvolvimento e produção de carros de combate, entre este o mais famoso oriundo de uma parceria com a indústria automotiva, o tanque leve (tanquete) Fiat Ansaldo CV3-33 e CV-35. Porém suas primeiras iniciativas no segmento aeronáutico se dariam na segunda metade da década de 1910, quando seria inaugurada uma nova fábrica de aeronaves, conhecida em Catiere 1, em Borzoli, nos arredores de Gênova; outras instalações fabris foram estabelecidas ou adquiridas durante os dois anos seguintes.  Seu projeto de aeronave de maior sucesso, surgiria no início da Primeira Guerra Mundial, quando as forças armadas da Itália se encontravam carentes de aviões de combate produzidos localmente, o que gerava uma perigosa dependência externa, que em um cenario conturbado poderia gerar grandes riscos a soberania nacional. A fim de sanar este problema, o governo italiano buscaria fontes de suprimento alternativas além de suas fronteiras, porém paralelamente vislumbrando potencializar a indústria nacional. Além disso as poucas empresas nacionais de construção aeronáutica obtiveram licenças de produção para fabricar um leque relativamente amplo de aeronaves (mais notadamente de projetos de origem francesa). No entanto onde seria  tecnicamente possível, a Aviação Militar Italiana (Aeronautica Militare) estimularia o desenvolvimento de projetos nacionais de aeronaves de alto desempenho e de combate, ficando todas as alternativas de elaboração de projetos sob a supervisão da diretoria técnica daquela organização militar. Este apoio técnico seria de grande importância, e representaria  uma evolução considerável nas práticas de projeto, em vez de utilizar observações empíricas, foram realizados cálculos reais de aerodinâmica e estrutural, visando a criação de  uma das aeronaves mais rápidas de sua época, acoplando-a com uma capacidade de alcance muito alto e adequação para uso como caça.

Em meados do ano de 1916, os engenheiros italianos Umberto Savoia e Rudolfo Verduzio, junto com oficial militar Celestino Rosatelli, da Direzione Tecnica de I`Aeronautia Militare (Diretoria Técnica da Aviação Militar Italiana), dariam início ao desenvolvimento de um moderno caça monoposto que empregasse o novo grupo motopropulsor de produção nacional Isotta-Fraschini SPA 6A, um motor de seis cilindros e refrigerado a liquido com potência máxima de 220 hp,  de comprovada eficiência. Este projeto evoluiria sob a batuta da equipe de projetos da Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia, sendo construída rapidamente o primeiro protótipo da aeronave. Este alçaria voo pela primeira vez no dia 3 de março de 1917, sendo pilotado pelo Sargento de voo M. Stoppani, que se mostraria muito entusiasmado com sua experiência, descrevendo favoravelmente as características de manuseio do protótipo e a alta velocidade.  Esta aeronave seria submetida a um intenso programa de testes, sendo voado em vários locais dentro e fora da Itália, com o objetivo de validar o desempenho e a viabilidade do projeto. Em torno deste programa de ensaios em voo seria decidido reavaliar o papel da aeronave, reclassificando para as tarefas de reconhecimento e  caça bombardeiro, em vez de um caça puro, representando uma mudança considerável nas especificações originais. Esta decisão seria pautada na análise de que apesar da aeronave se mostrar veloz e dotada de grande autonomia, mas de pequena manobrabilidade o que poderia significar uma baixa possibilidade de sobrevivência quando em confronto contra as modernas aeronaves de combate inimigas daquele período, principalmente como os caças franceses SPAD S.XIII e o Hanriot HD.1  À luz do protótipo ter demonstrado suas características de desempenho capazes, bem como as demandas urgentes impostas pela Primeira Guerra Mundial em curso, o SVA  seria rapidamente encomendado em produção.  Durante o final de 1917, iniciou-se a fabricação em série, atingindo até o final do ano um lote de sessenta e cinco aeronaves entregues e o desempenho operacional aferido levaria a novas encomendas, com sua produção total em 1918 atingindo a casa de quase mil e duzentas aeronaves, o tornando a segunda aeronave mais numerosa a ser construída pela indústria aeronáutica italiana.
Durante fevereiro de 1918, seriam iniciadas formalmente as missões combinadas de reconhecimento estratégico e bombardeio leve; para este fim, seções especiais seriam organizadas e diretamente controladas por cada quartel-general do Exército Real Italiano, com estas aeronaves sendo alocadas junto aos esquadrões de segunda linha do Corpo Aeronautico Militare (Corpo do Aéreo do Exército Italiano). Em 29 de fevereiro, ocorreria seu batismo de fogo, quando seria realizada a primeira ofensiva contra a infraestrutura ferroviária em Bolzano e Innsbruck. Neste escopo de missões, os Ansaldo SVA logo se mostrariam extremamente eficazes pois apresentavam uma velocidade final superior a qualquer aeronave que servisse na Frente Italiana na época. Esta característica, em combinação com o seu alcance e capacidades de carga, tornaria o modelo uma impressionante aeronave de reconhecimento rápido, sendo capaz de dispensar escoltas e romper o combate com os adversários à vontade através de sua velocidade superior e taxa de subida. Alega-se que as corridas de reconhecimento pela Ansaldo SVA desempenhariam um papel importante durante a Segunda Batalha do Rio Piave, fornecendo aos comandantes italianos uma representação fotográfica quase contínua do turbulento campo de batalha e ajudando-os a responder a rápidas mudanças nos combates. Imagens capturadas por um voo de reconhecimento sobre o porto inimigo de Pula, forneceriam as informações necessárias para a realização de um bombardeio em grande escala vários dias depois. Talvez a operação mais audaciosa envolvendo o SVA tenha sido conduzida sobre os céus de Viena, a capital do Império Austro-Húngaro, um ato que efetivamente demonstrou a superioridade da Itália sobre seu oponente e sua incapacidade de impedir que tais voos chegassem ao coração da nação. Este modelo de aeronave seria empregado também em missões de propaganda durante a batalha, lançando panfletos sobre as linhas inimigas. Em 9 de agosto de 1918, um voo de sete SVAs da 87ª Squadriglia La Serenissima, com sede em San Pelagio, sobrevoou Viena e lançou milhares de folhetos de propaganda, que haviam sido especialmente preparados pelo poeta, soldado e nacionalista Gabriele D'Annunzio. O feito não apenas transmitiu uma mensagem alta da supremacia tecnológica da Itália sobre a Áustria-Hungria, mas também emitiu com força um aviso da iminente derrota de seu rival para sua própria população.

Após a entrada em serviço ativo da versão SVA-2, a variante inicial de produção do Ansaldo SVA, a Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia desenvolveria uma versão dotada de flutuadores a fim de ser empregado como caça naval. As mudanças se resumiam basicamente a troca do trem de pouso fixo por um par de flutuadores, sendo este conjunto totalmente intercambiável. Construída na cidade de La Spezia a partir do ano de 1918, esta nova aeronave seria designada como ISVA (Idrovolanti – hidroavião) e somente cinquenta destes aparelhos seriam produzidos e empregados em missões de reconhecimento costeiro e defesa aérea de bases da Marinha Real  italiana  (Regia Marina) durante a Primeira Guerra Mundial. Enquanto a versão SVA-5 de tornaria o modelo definitivo de produção, mais variantes seriam desenvolvidas a exemplo do SVA-6 para missões especificas de bombardeiro, SVA-8 para remoção aero médica e por fim o SVA-9 especializado em missões de de reconhecimento desarmado para dois lugares, passando a empregar asas maiores, este modelo também seria usado no famoso Raid Roma-Tóquio de 1920. O Ansaldo SVA-9 seria concebido como uma aeronave desbravadora podendo operar em conjunto com formações de SVA-5, paralelamente uma sub variante com comando duplo seria produzida, passando a ser empregado como aeronave de treinamento e conversação operacional. Os bons resultados colhidos na operação do SVA-9 levariam a equipe de projetos da empresa a estudar uma versão especializada para treinamento, nascendo assim em meados de 1918 o modelo Ansaldo SVA-10, que passava a ser equipado com um motor mais potente o Isotta-Fraschini SPA-6A de 6 cilindros em linha, desenvolvendo 250hp. E a exemplo do SVA-9 era maior que o seu antecessor, apresentando 8,10 m de comprimento, envergadura de 9,10 m; altura de  2,65 m e  superfície alar com 24,20 m2.
O novo Ansaldo SVA-10 logo seria colocado em serviço nas unidades de treinamento e conversão do Corpo Aeronautico Militare (Corpo do Aéreo do Exército Italiano), e de cara vislubraria-se também seu potencial como aeronave de reconhecimento e bombardeiro e para isto estas aeronaves passariam a ser armadas com uma metralhadora fixa Vickers de calibre  7,7 mm (.303) sincronizada com a hélice, podendo ainda receber uma metralhadora Lewis calibre 7,7 mm a ser instalada para a utilização do ocupante do assento traseiro. Até o término do conflito centenas destas aeronaves seriam empregadas em missões reais até a Batalha de Vittorio Veneto que efetivamente poria fim a guerra na Frente Italiana e forçaria a retirada do Império Austro-Húngaro do conflito.  Ao longo da Primeira Guerra Mundial está família seria ainda empregada pelas Forças Expedicionárias Americanas (A. E. F.) e pela Força Aérea Real Iugoslava (Jugoslovansko kraljevo vojno letalstvo, JKVL). A partir de 1919 grande parte da frota italiana seria considerada como excedente de guerra, com estas aeronaves passando a  ser exportadas para diversas nações como Argentina, Brasil, Equador, Republica da China, Geórgia, Letonia, Lituania, Paraguai, Polônia, Estados Unidos e Uruguai. Um total de 2.344 aeronaves desta família seriam produzidas até 1920, com muitas delas se mantendo em operação até pelo menos meados da década de 1930.

Emprego na Marinha do Brasil.
Da mesma forma que a humanidade deve a um brasileiro o pioneirismo do primeiro voo em um "engenho" mais pesado que o ar, os brasileiros devem à Marinha do Brasil (MB) o significativo esforço por ela realizado, para a implantação da aviação em nosso país. Cinco anos após o voo pioneiro de Santos Dumont, ou seja, em 1911, dois acontecimentos já mostravam o interesse do Ministério da Marinha em adentrar a este novo nicho operacional, através de uma visão prospectiva das potencialidades do seu emprego no campo militar.  O mais representativo destes acontecimentos ocorreria no dia 29/04/1911, quando o Tenente da Marinha Jorge Henrique Moller, receberia o seu "brevet" de piloto, na França, sendo este o primeiro militar brasileiro a receber tal qualificação. Já em 14 de outubro do mesmo ano, seria fundado o Aeroclube Brasileiro.  A história da Aviação Naval Brasileira se inicia em 23 de agosto de 1916, com a assinatura, pelo Presidente Wenceslau Braz, do Decreto de criação da Escola de Aviação Naval (EAvN), primeira escola militar de aviação do país e, portanto, o berço da nossa aviação de combate representando o marco do nascimento da Aviação Naval da Marinha. De suas instalações iniciais no antigo Arsenal de Marinha, a Escola de Aviação Naval (EAvN) seria logo transferida depois para a ilha das Enxadas.  Dentre os primeiros modelos a serem incorporados estava os aerobotes Curtiss Modelo F 1914, destinados a formação dos primeiros pilotos aeronavais. Ainda no ano de 1916, a Escola de Aviação Naval formaria a primeira turma Aviadores Navais no dia 24 de outubro. Ao longo do ano, seria dada instrução aérea para vinte e sete alunos sendo quatro oficiais do Exército Brasileiro. Ao final do período, sete obtiveram a "carta" de aviadores-observadores e oito de pilotos-aviadores. No entanto, a precariedade do equipamento faria com que todo o processo de instrução fosse interrompido em agosto. A fim de solucionar este problema o Ministério da Marinha passaria a buscar alternativas para recomplementar sua frota aeronaval.

Apesar da urgência para o atendimento desta demanda, neste momento a aquisição de aeronaves novas de fábrica esbarrava principalmente nos parcos recursos existentes a disposição da Marinha do Brasil para a aquisição de material aeronáutico, inviabilizando assim a compra de aeronaves novas de fábrica. No entanto o término da Primeira Guerra Mundial proporcionaria uma oportunidade única para recomplementar e principalmente reforçar a dotação de aeronaves para emprego junto a Escola de Aviação Naval (EAvN). E em função deste fato o mercado seria inundado por milhares de aeronaves militares, que eram excedentes das armas aéreas que originalmente as haviam utilizado naquele conflito, com seus preços de aquisição se mostrando extremamente atrativos. Assim entre os anos de 1918 e 1919, seriam incorporadas vinte e nove aeronaves de nove modelos diferentes, dentre as quais as nove italianos, marcando a primeira vez em sua história que a Aviação Naval recebia aeronaves de procedência italiana. Apesar da quantidade incorporada melhorar em muito a disponibilidade operação, este cenario não se manteria, pois, estas compras de oportunidade não atenderiam tampouco um desejado nível de padronização. Entre essas aeronaves se encontravam dois exemplares do Ansaldo ISVA um aerobote derivado do modelo monoposto SVA-5, que chegaram desmontados transportados por via naval no primeiro trimestre do ano do ano de 1919.  A primeira célula matriculada como “26” seria montada em agosto do mesmo e o segundo com a matricula “27”, de acordo com algumas fontes seria montada no mês de novembro, especula-se que estes aviões foram fornecidos com o sistema intercambiável do trem de pouso convencional, podendo alternar a configuração com os flutuadores. Destinados ao treinamento avançado dos alunos matriculados no Curso de Aviador Naval da Escola de Aviação Naval (EAvN), infelizmente os dois Ansaldo ISVA não apresentariam as características de controle e desempenho que conquistassem a confiança dos alunos ou dos instrutores.
Essa possibilidade seria reforçada na esteira de um acidente ocorrido no transcorrer de 1920 com um dos Ansaldo ISVA, cujos restos seriam recolhidos as oficinas da Escola de Aviação Naval (EAvN). Um relatório gerado por aquela organização sugeria a transformação desta célula para a versão terrestre, visto que sua operação como hidroavião não oferecia um bom desempenho. Contudo inicialmente esta sugestão não foi adiante, possivelmente porque esta escola ainda não possuía, naquela ocasião, de um campo de pouso que permitisse a operação de aviões terrestres. O Ansaldo ISVA que ainda se encontrava em condições de voo registraria poucos voos durante este mesmo ano, enquanto seu par permaneceria desmontado nas oficinais daquela base, não havendo registro que aferisse seu retorno as operações de voo. Ao chegar ao ano de 1921, face as dificuldades encontradas em sua operação, a  Escola de Aviação Naval (EAvN), decidiria pela baixa nestas duas células, mantendo no entanto ainda armazenadas. No entanto informações extraoficiais indicam que posteriormente uma delas seria posta em operação como aeronave terrestre por um curto período, fazendo uso de peças reposiçao dos novos Ansaldo SVA-10 que foram recebidos no ano de 1923.  Infelizmente este cenario se repetiria com a grande maioria das aeronaves adquiridas em 1918, levando novamente a Aviação Naval a se depararia no início da década de 1920 em um cenario de baixa disponibilidade operacional.  Este contexto seria agravado pela deficiente estrutura e organização que pudesse proporcionar a consequente evolução da doutrina de emprego da arma aérea, sendo ainda tolhida por uma total falta de recursos financeiros.  Este cenario seria alterado a partir de 1921 com o lançamento do Projeto de Organização Aérea do Litoral, programa este que receberia a liberação de fundos adequados para concretiza-lo. Este movimento demandaria o início de muitas providencias que visavam corrigir as deficiências de infraestrutura e de material aeronáutico. Este último item seria regido por um estudo elaborado pelo Estado Maior da Armada referente à organização geral da Aviação Naval, o qual seria aprovado em abril de 1922. 

Como consequência a este estudo seriam adquiridas aeronaves de caça, patrulha, reconhecimento e treinamento. Assim no dia 4 de outubro de 1922, o governo brasileiro assinou um contrato com a empresa italiana Giovanni Ansaldo & Cia, avaliado 1.440.00 liras italianas. Este acordo compreendia a aquisição de dezoito células do avião de reconhecimento Ansaldo SVA-10, e no final daquele mês, um segundo contrato seria celebrado, avaliado em 321.849 liras italianas, que englobava peças de reposiçao e ferramental destinado a manutenção das aeronaves. Ao chegarem ao Brasil, em junho de 1923, os Ansaldo SVA-10 foram distribuídos para as Esquadrilhas de Reconhecimento, todas sediadas no centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ). Inicialmente, só seria organizada a 1ª Esquadrilha de Reconhecimento, mesmo porque não havia pessoal suficiente para completar, de imediato, as demais esquadrilhas, cada uma devendo contar com seis aeronaves. Porém até o terceiro trimestre de 1924, já haviam sido organizadas as 2ª e 3ª Esquadrilhas de Reconhecimento. Mal haviam chegado ao Brasil quando despontou o primeiro problema, pois por um lapso, o contrato de compra destas aeronaves não contemplava a aquisição de metralhadoras e dos cabides para bombas que compunham o sistema de armamento dos SVA-10. Como resultado, através de um contrato separado ou por meio de estoques existentes, as primeiras células montadas recebendo uma metralhadora Vickers calibre .303, oque ainda exigiu a confecção de material e modificação das aeronaves para receber esta arma. Porém a falta de armamento adequado para equipar estas aeronaves e pessoal para guarnece-los se mostrariam ser os menores dos problemas que acompanhariam a carreira dos Ansaldo SVA-10 no  Brasil.  As reduzidas dimensões do campo de pouso daquela base agravado pelo seu mau estado de conservação, provocariam diversos acidentes como capotagens, pilonagens e quebras do trem de pouso. No entanto a maior fonte de problemas se concentrava nos motores Isotta-Fraschini SPA-6A de seis cilindros resfriados a liquido. Por apresentar um superaquecimento crônico, este motor vazava continuamente o líquido de refrigeração através das camisas. Um levantamento feito pela equipe técnica, descobriria que este fenômeno se originava do aquecimento proposital da mistura de combustível e óleo, um artificio destinado a operação em climas frios, mas completamente inadequado para o clima tropical.
Esses e outros problemas fizeram com que nunca houvesse mais do que quatro SVA-10 prontos e disponíveis para voo, já que as demais células seriam desmontadas e armazenadas  ou se encontravam em processo de manutenção. De fato em 1924, quase 60% destas aeronaves estavam encaixotadas e, até agosto de 1925, dois destes aviões acidentaram-se com perda total e outros dois sofreram danos extensos. No ano seguinte, com a Aviação Naval lutando contra os cortes orçamentários que atingiam as Forças Armanda, somente um Ansaldo SVA-10 voaria, registrando apenas seis voos que totalizariam 57 minutos. Em 1927, sete destes aviões lograriam realizar 36 voos, totalizando pouco mais de 14 horas de voo. Claramente inadequados para executar as tarefas que lhe havido sido anteriormente atribuídas, os Ansaldo SVA-10 diminuiriam abruptamente suas operações em 1928, com estas aeronaves realizando apenas seis voos no transcorrer deste mesmo ano. Visto que a maior deficiência dos Ansaldo SVA-10 estava concentrado no seu motor , seriam iniciados estudos para equipar estas aeronaves com novos motores, as células que não haviam sido montadas. Porém um levantamento seria realizado no início do ano de 1929 eliminaria esta possibilidade, pois verificou-se que as dez células armazenadas elegidas a tal modificação haviam sido atacadas por cupins, reduzindo a zero qualquer viabilidade técnica de recuperação. Consequentemente, naquele mesmo ano, todos os Ansaldo SVA-10 remanescentes seriam retirados do serviço ativo e alienados para venda como sucata. 

Em Escala.
Para representarmos o Ansaldo ISVA-5 pertencente a Escola de Aviação Naval (EAvN), convertida para operação terrestres, fizemos uso do antigo kit na escala 1/48 produzido pela Fly Models, modelo este que apresenta razoável nível de detalhamento com peças em resina. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais oriundos de diversos sets dedicados a Aviação Naval da Marinha do Brasil.
Os Ansaldo ISVA-5 foram recebidos inicialmente no acabamento natural de madeira, recebendo os cocares da Aviação Naval, posteriormente especula-se que a célula restante durante sua conversão para a versão terrestre tenha adotado o mesmo esquema de pintura aplicado aos Ansaldo SVA-10.




Bibliografia 
- Aviação Naval Brasileira  https://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/Ansaldo_SVA_10/Ansaldo_SVA_10.html
- Aviação Naval Brasileira  https://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/Ansaldo_ISVA/Ansaldo_ISVA.htm
- Ansaldo SVA Wikipidia - https:// en.wikipedia.org/wiki/Ansaldo_SVA
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015 – Jackson Flores Jr
- Aviação Militar Brasileira 1916 - 1984 - Francisco C. Pereira Netto

VC-93/VU-93 Hawker Siddeley HS-125

História e Desenvolvimento.
A Hawker Siddeley foi um dos mais importantes conglomerados aeronáuticos britânicos, formado em 1935 a partir da fusão da Hawker Aircraft com a Armstrong Siddeley (fabricante de motores e automóveis) e sua subsidiária Armstrong Whitworth Aircraft. Suas raízes remontam ao colapso financeiro da Sopwith Aviation Company após a Primeira Guerra Mundial. Em 1920, o piloto de testes Harry Hawker, junto com Thomas Sopwith e outros colegas, adquiriu os ativos da Sopwith, fundando a H.G. Hawker Engineering Company. Após a morte de Harry Hawker em um acidente aéreo em 1921, a empresa foi renomeada Hawker Aircraft Limited em 1933. Aproveitando a Grande Depressão, a companhia adquiriu a Gloster Aircraft Company em 1934 e, em 1935, consolidou-se com a Armstrong Siddeley e a A.V. Roe & Company (Avro), formando a Hawker Siddeley Aircraft. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Hawker Siddeley foi essencial para o esforço de guerra britânico, destacando-se pela produção do caça Hawker Hurricane, projetado por Sydney Camm. Durante a Batalha da Grã-Bretanha (1940), os Hurricanes superaram em número todos os outros caças britânicos combinados, sendo responsáveis por abater 55% das aeronaves inimigas destruídas. Mais de 14.500 unidades foram produzidas, muitas sob licença no Canadá pela Canadian Car & Foundry. Após a guerra, a Hawker Siddeley expandiu suas operações. Em 1945, adquiriu a Victory Aircraft em Malton, Ontário, renomeando-a A.V. Roe Canada (Avro Canada), que se tornou a terceira maior empresa do Canadá até 1958, empregando 14.000 pessoas e contribuindo com 45% da receita da Hawker Siddeley. Em 1948, a empresa foi reorganizada como Hawker Siddeley Group, com divisões específicas: Hawker Siddeley Aviation (HSA) para aviação e Hawker Siddeley Dynamics (HSD) para mísseis e tecnologia espacial. No início da década de 1950, o novo segmento de transporte executivo, começava a despontar no mercado de aviação civil, criando assim um filho a ser explorado empresas construtoras aeronáuticas  de grande e médio porte ao redor do globo. No entanto ainda pairavam sobre este promissor nicho de mercado, grandes limitações de desempenho, pois a totalidade das aeronaves empregadas neste segmento ainda eram propelidas por hélices e motores a pistão. O grande percussor de uma nova era de aeronaves de transporte executivo a jato, seria representando pelo modelo "Jet Star" do fabricante norte-americano Lockheed Aircraft Company, avião este que realizaria seu primeiro voo em meados do ano de 1957. No ano seguinte chegava ao mercado mundial a primeira aeronave turboélice destinada ao mercado executivo, o também norte-americano Grumman G-159 Gulfstream I.  

Do outro lado do atlântico a empresa britânica Havilland Aircraft Company, responsável pela excelente aeronave de transporte executivo, o  DH-104 Dove, passaria a desenvolver um novo projeto focado na concepção de uma aeronave com motores reação, a fim de suceder o seu maior sucesso comercial naquele período. Esta aeronave receberia a designação de De Havilland DH-125 Dragon Jet, porém apesar deste projeto se encontrar em estágio avançado de desenvolvimento, seu protótipo original nunca seria produzido, pois em abril de 1960, esta empresa seria adquirida pela também  pela organização britânica Hawker Siddeley Co. Após avaliar os projetos em desenvolvimento, a nova direção optou por manter o programa do novo jato de transporte executivo, passando a designar o programa como "DH-125", abolindo assim o seu nome de batismo comercial. As diretrizes impostas pelos novos acionistas da empresa, direcionariam todos os esforços em desenvolver uma aeronave mais adequada o possível para o promissor mercado norte-americano de aviação executiva. Diferente dos demais concorrentes, o projeto previa um pequeno jato executivo pressurizado com seis lugares, asas baixas enflechadas, com os estabilizadores horizontais colocados no meio do estabilizador vertical e dois motores turbo jatos  inseridos nas laterais traseiras da fuselagem. Em 13 de agosto de 1962, o primeiro de dois protótipos concluídos realizaria seu primeiro voo, sendo precedido pelo início do programa de ensaios em voo. Já a segunda célula produzida passaria a ser disponibilizada para testes em dezembro do mesmo ano. Os resultados obtidos nestes programas deflagariam a implementação de uma séria de melhorias, com a primeira aeronave pré-série alçando voo em 12 de fevereiro de 1963. Esta versão diferiria dos protótipos iniciais, apresentando um perfil mais robusto, com fuselagem alongada e maior envergadura, resultando em uma aeronave mais veloz e confortável. Estas primícias seriam fundamentais para o atendimento das demandas do exigente mercado norte-americano de aeronaves executivas, o que geraria grandes expectativas em termos de vendas futuras. Diversos pacotes de acabamento interior seriam oferecidos ao mercado, como diferencial competitivo a versão de entrada do modelo apresentaria um alto grau de conforto aos passageiros, sendo muitas vezes superior a seus concorrentes. Já a configuração executiva, apresentava o convés de voo em separado da cabine principal de passageiros, dispondo de uma entrada única, que estava localizada diretamente atrás do cockpit e para a frente da cabine de passageiros, formando uma área de vestíbulo, na qual a bagagem seria também armazenada e as refeições poderiam ser ali preparadas, durante o voo. 
Na fase inicial de produção, os motores Bristol Siddeley Viper 520 foram substituídos pelos mais potentes Viper 521 ou 522, com 3.360 lb de empuxo, gerando as versões HS-125 Series 1A (para o mercado norte-americano) e HS-125 Series 1B (para outros mercados de exportação). Essas melhorias aumentaram o desempenho e a confiabilidade, consolidando a aeronave no mercado global de aviação executiva. Em 1964, a Hawker Siddeley desenvolveu a primeira variante militar, o HS-125 Series II, a pedido da Royal Air Force (RAF). Batizada Dominie, essa versão foi configurada para treinamento de navegação e transporte executivo, equipada com radar meteorológico e sistemas de treinamento avançados. Um contrato com o Ministério da Defesa britânico previa a aquisição inicial de 30 células, entregues a partir de 1965, que serviram na RAF até 2011. O Dominie destacou-se por sua capacidade de operar em pistas curtas (cerca de 1.200 metros) e sua versatilidade em missões de ligação. A adequação às demandas do mercado levou ao desenvolvimento das versões HS-125 Series III, IIIA, IIIB, IIIA/RA e IIIB/RA, introduzidas entre 1965 e 1967. Essas variantes apresentavam maior peso máximo de decolagem (até 9.752 kg) e maior capacidade de combustível (3.785 litros), ampliando o alcance e a flexibilidade operacional. A Força Aérea Brasileira (FAB), que já operava o Morane-Saulnier C-41 Paris para transporte VIP, adquiriu cinco unidades do HS-125 Series 3B/RA em 1968, designadas VU-93, EU-93 e XU-93, para o Grupo de Transporte Especial (GTE) e o Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). Essas aeronaves, com alcance de 3.120 km, superaram as limitações do C-41 Paris (autonomia de 1.500 km), sendo ideais para conectar Brasília a Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1967, a Hawker Siddeley lançou o HS-125 Series IV, redesignado como HS-125 Series 400, que introduziu melhorias significativas. Com capacidade para até sete passageiros, motores Rolls-Royce Viper 522 de maior potência, e uma escada embutida na porta da fuselagem, a Series 400 facilitava operações em aeroportos sem infraestrutura de apoio, como os encontrados em regiões remotas do Brasil. Foram produzidas 116 unidades dessa variante, que se tornou uma das mais populares da família HS-125 devido ao seu conforto e versatilidade. Desde o início da produção em série em 1962, o HS-125 passou por várias redesignações devido a mudanças na estrutura corporativa da Hawker Siddeley. Até 1963, a aeronave era conhecida como DH-125, refletindo sua origem na de Havilland. Após a consolidação sob a Hawker Siddeley, passou a ser designada HS-125, com a variante militar chamada Dominie. 

Em 1977, a nacionalização da indústria aeronáutica britânica pelo Aircraft and Shipbuilding Industries Act resultou na fusão da Hawker Siddeley com a British Aircraft Corporation (BAC) e a Scottish Aviation, formando a British Aerospace (BAe). Sob a nova estrutura, o HS-125 foi redesignado BAe-125, mantendo essa nomenclatura até 1993, quando a Raytheon Aviation, uma empresa norte-americana, adquiriu a divisão de jatos executivos da BAe. A aeronave passou a ser comercializada como Raytheon Hawker, com modelos como o Hawker 800 evoluindo a partir da família original. Em 2007, a produção foi transferida para a Hawker Beechcraft, que lançou o Beechcraft Hawker 900XP, uma versão aprimorada com maior alcance e eficiência. A produção da família HS-125 encerrou-se em 2013, quando a Hawker Beechcraft decretou falência, totalizando cerca de 1.600 aeronaves produzidas entre 1962 e 2013, em diversas versões e configurações. A introdução do HS-125 no mercado militar começou em 1964, com a entrada em serviço da variante HS-125 Series II, designada Dominie, na Força Aérea Real (RAF). Desenvolvida para treinamento de navegadores e transporte executivo, a Dominie foi adquirida em um contrato inicial de 30 células, equipando quatro esquadrões operacionais da RAF, incluindo o No. 32 Squadron e o No. 55 Squadron. As versões militarizadas incluíam: HS-125 T.1 e T.2: Configuradas para treinamento de navegadores, com sistemas avançados de navegação e radar meteorológico, permitindo a formação de tripulações em cenários realistas. HS-125 CC.1, CC.2 e CC.3: Projetadas para transporte de autoridades (VIP – Very Important Person), incluindo membros da Família Real britânica, com cabines adaptadas para maior conforto e comunicação segura. Entre 1965 e 1967, a Hawker Siddeley lançou as versões HS-125 Series 3A e Series 3B, com motores mais potentes (Viper 522), produzindo 29 células. As subvariantes Series 3A/RA e Series 3B/RA, com maior capacidade de combustível (3.785 litros) e peso máximo de decolagem de 9.752 kg, ampliaram o alcance, resultando em 36 unidades produzidas. Essas melhorias reforçaram a versatilidade da aeronave, que se destacou em missões de ligação e treinamento até sua aposentadoria na Força Aérea Real (RAF) em 2011. O desempenho excepcional do HS-125 Dominie na RAF despertou o interesse de forças aéreas em todo o mundo, consolidando seu sucesso no mercado militar internacional. Países como Estados Unidos, Botswana, Malásia, Paquistão, Nigéria, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Turcomenistão (Turkmenistan Airlines a serviço do governo), Biafra, Gana, Nicarágua, Brasil, Irlanda, África do Sul, Malawi e Uruguai incorporaram o HS-125 em suas frotas. 
O HS-125 enfrentou seu batismo de fogo durante a Guerra das Malvinas (Falklands War) em 1982, operado pela Força Aérea Argentina (Fuerza Aérea Argentina – FAA). Uma célula da versão HS-125 Series 700, pertencente ao Esquadrão Fenix – Grupo 1 Aerofotográfico, foi empregada em uma ampla gama de missões reais. Essas operações incluíram reconhecimento fotográfico e eletrônico, com inúmeras surtidas sobre a Força-Tarefa da Marinha Real (Royal Navy) e as forças de desembarque britânicas. Equipado com sistemas de sensores avançados, o HS-125 da  Força Aérea Argentina (FAA) realizou tarefas críticas de inteligência, fornecendo informações sobre movimentos navais e terrestres, demonstrando sua capacidade de adaptação a cenários de combate. A robustez do jato, com sua capacidade de operar em pistas curtas e sob condições adversas, foi essencial para o sucesso dessas missões, destacando sua versatilidade além do transporte executivo. Na Força Aérea Real (RAF), o HS-125 Dominie entrou em serviço em 1964, com as versões T.1 e T.2 para treinamento de navegadores e CC.1, CC.2 e CC.3 para transporte de autoridades, incluindo membros da Família Real. Operando em quatro esquadrões, como o No. 32 Squadron, as 30 células iniciais foram complementadas por 29 unidades das Series 3A e 3B e 36 das Series 3A/RA e 3B/RA, com maior capacidade de combustível e peso de decolagem. O Dominie permaneceu em serviço até 2015, quando a última célula de treinamento (T.1 e T.2) foi retirada, encerrando 51 anos de operação na Força Aérea Real (RAF) Sua longevidade reflete a confiabilidade e a adaptabilidade do projeto, que suportou décadas de uso intensivo em missões de treinamento e ligação. O HS-125 também desempenhou um papel significativo na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Em 1990, a versão BAe-125 Series 800 foi incorporada sob a designação C-29A, substituindo o Lockheed C-140A em tarefas de inspeção e navegação de voo de combate (Combat Flight Inspection – C-FIN). Essas aeronaves foram destacadas para bases aéreas norte-americanas ao redor do mundo, calibrando sistemas de navegação e pouso. Durante as operações Escudo do Deserto (1990) e Tempestade do Deserto (1991), na Primeira Guerra do Golfo, e Escudo do Deserto (2006), na Segunda Guerra do Golfo, os C-29A realizaram missões críticas de inspeção em zonas de conflito, garantindo a precisão de equipamentos de navegação em ambientes hostis. As células destinadas a missões especializadas, como guerra eletrônica e busca e salvamento, foram retiradas em 2012, enquanto as de transporte executivo permaneceram em serviço até meados de 2014.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
O transporte de autoridades (VIP – Very Important Person) no Brasil teve início em 1937, com a aquisição de quatro aeronaves Lockheed 12A UC-40 Electra Junior pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Essas aeronaves, bimotores leves com capacidade para seis passageiros, foram pioneiras em estabelecer uma doutrina de transporte VIP, atendendo a missões de ligação e transporte de altos oficiais em um contexto de modernização militar pré-Segunda Guerra Mundial. Com a criação da Força Aérea Brasileira (FAB) em 20 de janeiro de 1941, sob o Decreto-Lei nº 2.961, a responsabilidade por essas operações foi transferida para a recém-formada instituição. A Força Aérea Brasileira (FAB) instituiu a Seção de Aviões de Comando, sediada no Rio de Janeiro, que passou a operar os Lockheed VC-66 e VC-60 Lodestar, bimotores mais robustos capazes de transportar até 18 passageiros. Esses vetores, adquiridos por meio do Lend-Lease Act durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), consolidaram as bases da doutrina de transporte de autoridades, garantindo mobilidade para comandantes militares e autoridades governamentais em um país de dimensões continentais. Na década de 1950, os Douglas VC-47 Skytrain, derivados do C-47 militar, tornaram-se os principais meios para missões de transporte VIP, incluindo operações do Correio Aéreo Nacional (CAN) e apoio logístico em regiões remotas, como a Amazônia. Contudo, neste período, a obsolescência dessas aeronaves, que acumulavam mais de duas décadas de uso intensivo, tornou-se evidente. A frota apresentava limitações em autonomia, confiabilidade e conforto, inadequadas para as crescentes demandas de transporte de autoridades em um Brasil em transformação. No processo de modernização dos meios da Força Aérea Brasileira em curso na segunda metade da década de 1950, existia a necessidade de se dispor de uma aeronave que atendesse melhor a execução dos serviços de ligação entre as sedes das distintas zonas aéreas e seus comandos, bem como entre essas e a futura capital do país, Brasília localizada no centro oeste do país. Além disso, o Grupo de Transporte Especial (GTE), sentia falta e uma aeronave veloz de pequeno porte para cumprir um dos segmentos de sua atribuição, que era o de transporte de autoridades do governo, com tarefa até então executada pelos já obsoletos aviões a hélice Beechcraft C-45. Com base nestas demandas o Ministério da Aeronáutica (MAer), deu início à busca de uma aeronave que proporcionasse maior conforto eficiência e velocidade. No início de 1958, o primeiro protótipo do Morane Saulnier MS-760, já elevado para a versão Paris I, estava envolvido um esforço comercial, realizando uma grande turnê comercial pelos países da América do Sul, e durante a apresentação realizada no Brasil, os oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) envolvidos neste processo, ficaram impressionados com as características de desempenho do jato biorreator francês. 

Em 1958, o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciou negociações com a Morane-Saulnier para a aquisição de 30 células novas do MS-760 Paris, configuradas na versão de transporte executivo. Em abril de 1961 o Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado em Brasília receberia 8 aeronaves, para missões de transporte de autoridades (VIP).  No entanto a operação do C-41 Paris nestas tarefas de transporte executivo seriam efêmeras, não só por suas limitações operacionais, mas também por um acidente fatal ocorrido em Minas Gerais no dia 30 de outubro e 1962. O acidente de Nova Lima foi um divisor de águas para a operação do C-41 Paris na Força Aérea Brasileira (FAB). A partir de 1963, o Estado-Maior da Aeronáutica (EMAer) determinou a concentração das aeronaves remanescentes em duas unidades principais: o Quartel-General da 3ª Zona Aérea, baseado no Aeroporto Santos Dumont.  Neste contexto se fazia necessária a aquisição de aeronaves de nova geração, com o objetivo de selecionar e adquirir para emprego junto ao Grupo de Transporte Especial (GTE) dois modelos de aeronaves, uma aeronave maior porte para o transporte presidencial, e um jato executivo a ser destinado ao transporte de ministros e funcionários de alto escalão do governo federal. Em 1967, a fim de anteder a esta demanda, agora inclusa no “Plano de Modernização da Força Aérea Brasileira”, o Ministério da Aeronáutica (MAer) lançaria uma concorrência internacional visando a aquisição de novos vetores para transporte executivo – VIP (Very Important Person). Este programa seria dividido em duas fases, escolheria em maio do mesmo ano seu primeiro vetor, sendo escolhido o jato britânico BAC-111 One Eleven, que teriam por missão substituir os turboélices Vickers-Armstrong V-742D/V-789D Viscount na tarefa de transporte presidencial. O próximo passo seria a definição de um jato para transporte executivo, com o programa sendo conduzido diretamente pelo comando do Grupo de Transporte Especial (GTE). Diversas propostas seriam analisadas em um estudo comparativo, e ao final deste processo a escolha acabaria recaindo sobre o Hawker Siddeley HS-125-3B-RA Dominie.  Um contrato seria celebrado com o fabricante no início do ano de 1968, envolvendo a aquisição de seis células, definindo a configuração de cinco aeronaves com o interior especialmente configurado para missões de transporte executivo – VIP (very importante person), com estas recebendo a designação de VC-93 e as matrículas “FAB 2120 a FAB 2124”. Já o sexto Hawker Siddeley HS-125-3B-RA com a matrícula “FAB 2125” seria transladada até os Estados Unidos, para a configuração e instalação dos equipamentos e meios para o emprego na calibração de auxílios a navegação aérea. Uma comitiva de oficiais brasileiros seria enviada as instalações do fabricante na Inglaterra a fim de participarem de um programa de treinamento, e após a conclusão desta fase estas aeronaves seriam transladadas em voo. 
Assim em 19 outubro de 1968, estas aeronaves decolariam da cidade de  Hatfield, operando em escala desde Prestwick (Escócia), Reykjavik (Islândia), Sondre Stromfjord (Groenlândia), Frobisher Bay e Montréal (Canadá), Washington e Miami (Estados Unidos), San Juan (Porto Rico), Piarco (Antilhas Holandesas), Paramaribo (Suriname), Belém (Brasil). Este translado teria de a duração de sete dias, com quase vinte e seis horas de vôo; as tripulações eram compostas por: Major Aviador Garotti, Capitão Aviador Lampert e 1º Sargento Castilho (FAB 2120) e Capitão Aviador Baginski, Capitão Aviador Torrés Jr., 1º Sargento Nobre (FAB 2121). Os outros três Hawker Siddeley VC-93 seriam recebidos na base aérea de Brasília no Distrito Federal em 4 de fevereiro de 1969.  Após o recebimento, estas cinco aeronaves seriam incorporadas ao 2º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE), sendo então iniciado um programa abrangente de formação de tripulações, com o objetivo de capacitar pilotos e técnicos para operar os novos jatos, garantindo a integração eficiente ao esquadrão. Esse treinamento incluiu instrução em sistemas de navegação avançados, operação dos motores Rolls-Royce Bristol Viper 522 de 3.360 lb de empuxo, e procedimentos para voos em pistas curtas (cerca de 1.200 metros), características que tornavam o HS-125 versátil para aeródromos regionais do Brasil. Em maio de 1969, os VC-93 iniciaram suas atividades operacionais, realizando missões de transporte de ministros e funcionários do segundo escalão do governo federal. Operando a partir de Brasília, as aeronaves conectavam a capital federal a capitais estaduais, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. A autonomia de 3.120 km e a cabine pressurizada, com capacidade para sete passageiros além da tripulação, tornavam o HS-125 ideal para essas rotas, oferecendo conforto excepcional e confiabilidade. As tripulações e passageiros frequentemente elogiavam o jato por sua suavidade em voo, acabamento interno personalizável e capacidade de operar em condições desafiadoras, superando as limitações do C-41 Paris. Em 1973, as aeronaves VC-93 e EC-93 foram redesignadas VU-93 e EU-93, respectivamente, alinhando-se à nova nomenclatura da FAB para transporte executivo (VU – Veículo de Transporte) e inspeção em voo (EU – Equipamento de Inspeção). O excelente desempenho operacional dos HS-125, com alta disponibilidade e cumprimento eficiente de missões, motivou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a considerar a aquisição de unidades adicionais. Negociações foram conduzidas com a Hawker Siddeley Co., culminando em um contrato firmado em meados de 1973 para a compra de cinco células da versão HS-125 Series 400B, uma variante aprimorada com maior peso máximo de decolagem (9.752 kg), maior capacidade de combustível (3.785 litros), e uma escada embutida na fuselagem, facilitando operações em aeródromos sem infraestrutura de apoio. 

Das cinco novas aeronaves, quatro foram configuradas para transporte executivo, recebendo a designação VU-93 e as matrículas FAB 2126 a FAB 2129. A quinta unidade, configurada nos Estados Unidos para missões de calibragem de auxílios à navegação aérea, foi designada EU-93 com a matrícula FAB 2130. Entregues no final de 1973, essas aeronaves foram incorporadas ao 2º/GTE, ampliando a capacidade da unidade para atender às crescentes demandas de transporte VIP em um Brasil em processo de integração nacional. Deste lote quatro seriam configuradas na versão de transporte executivo, recebendo a designação de VU-93 com as matrículas de “FAB 2126 á 2129”, e uma aeronave seria configurada nos Estados Unidos para o emprego em tarefas de calibração de auxílios a navegação aérea, recebendo a designação de EU-93 e matrícula “FAB 2130”. Os VU-93 seriam recebidos em fins deste mesmo ano, sendo também incorporados ao 2º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial (GTE), ampliando assim a capacidade na execução deste escopo de missões. Apesar do alto grau de disponibilidade e da eficiência no processo de manutenção, o uso intensivo dos HS-125 resultou em acidentes e falhas técnicas, algumas de pequena monta. O primeiro incidente relevante ocorreu em 18 de junho de 1979, envolvendo o VU-93 de matrícula FAB 2122. Durante o procedimento de pouso no Aeroporto Internacional de Brasília, no Distrito Federal, a aeronave, provavelmente devido a uma perda de sustentação, colidiu com o solo próximo à cabeceira da pista. Os quatro tripulantes sobreviveram, mas a aeronave sofreu danos severos, sendo considerada irrecuperável. Esse acidente, embora sem vítimas fatais, destacou os desafios de operar jatos executivos em condições exigentes, reforçando a necessidade de manutenção rigorosa e treinamento contínuo das tripulações. O incidente de 1979 evidenciou a importância de manter a frota com o máximo grau de segurança, especialmente em missões de transporte VIP, que conectavam Brasília a capitais estaduais como Rio de Janeiro e São Paulo. A perda do FAB 2122 levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a avaliar estratégias para recompor a dotação do 2º/GTE e garantir a continuidade das operações com maior confiabilidade. No início da década de 1980, com o objetivo de fortalecer a frota e substituir as primeiras células recebidas em 1968, algumas já desgastadas pelo uso intensivo, o MAer determinou a aquisição de novas aeronaves HS-125. Adotando o conceito de compras de oportunidade, a FAB negociou a aquisição de quatro unidades do modelo HS-125 Series 400B no mercado civil norte-americano em 1983. Essas aeronaves, revisadas por empresas parceiras da British Aerospace Co. (BAe) nos Estados Unidos, foram transladadas ao Brasil entre o final de 1983 e meados de 1984. 
No Brasil, as novas células foram submetidas a adaptações no Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF), no Rio de Janeiro, onde receberam o padrão de pintura do GTE, com prata metálico (Aluminum FS 17178), faixas em Insignia Blue (FS 15044) e Insignia White (FS 17875), e marcações de alta visibilidade (International Orange FS 12197) para missões específicas. As aeronaves foram matriculadas como FAB 2114, FAB 2117, FAB 2118 e uma quarta unidade, incorporadas ao 2º/GTE para transporte VIP, ampliando a capacidade operacional da unidade e permitindo a retirada gradual das células mais antigas. Em 8 de outubro de 1987, um grave acidente marcou a história do HS-125 na FAB. O VU-93 de matrícula FAB 2129, operado pelo 2º/GTE, caiu nas proximidades do aeroporto de Carajás, no Pará, logo após a decolagem, durante a subida inicial. A aeronave perdeu altitude abruptamente e colidiu com o solo, resultando em uma explosão devastadora. Todos os nove ocupantes, incluindo o Ministro da Reforma Agrária, Marcos de Barros Freire, perderam a vida. Em 1988, como parte de uma sistemática de remanejamento de equipamentos, a FAB converteu o VU-93 de matrícula FAB 2121 para a versão EU-93, transferindo-o do 2º/GTE para o GEIV. Essa conversão envolveu a adaptação da aeronave para missões de calibragem de auxílios à navegação aérea, equipando-a com sistemas de precisão para testar estações de radionavegação. Em 1990 outras duas células do modelo, matriculadas como “FAB 2127 e 2125”, pertencentes ao Grupo de Transporte Especial (GTE) e ao Grupo de Especial de Inspeção em Voo (GEIV) respectivamente, seriam transferidos para o Centro Técnico da Aeronáutica (CTA) em São Jose dos Campos – SP, para o emprego em missões de ensaio em voo. Em 1998 uma última célula da versão HS-125-400A usada seria adquirida, novamente junto ao mercado civil norte-americano, inicialmente o objetivo desta compra visava proporcionar um novo suprimento de peças de reposição, para a frota atual da Força Aérea Brasileira. Porém após o recebimento das células atestou que ela apresentava um ótimo estado de conservação, sendo então decidido colocar a aeronave em serviço, passando a operar com a matrícula “FAB 2113”, substituindo no Grupo de Transporte Especial o VU-93 “FAB 2114” desativado anteriormente. No final da década de 1990, os VU-93 remanescentes em uso seriam destacados para operação de transporte de funcionários do terceiro escalão, tendo em vista a incorporação dos VU-35 Learjet a partir de 1987, que passariam a assumir a missões mais importantes do esquadrão. Porém neste momento já era claro que as células já apresentavam o peso da idade, e sua substituição a curto prazo se fazia necessária. Esta demanda começaria a ser atendida a partir de 2004 com o recebimento dos Embraer ERJ 145 VC-99 que permitiria alocar os VU-35 Learjet em missões secundárias abrindo o caminho para a desativação dos VU-93, processo este que seria finalizado em fins do ano de 2007.  Apenas uma aeronave,  o VU-93” FAB 2123” permaneceria em uso, sendo convertido para o padrão XU-93, operando até o ano de 2010 junto ao Grupo de Ensaios em Voo (GEEV) no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA) em São Jose dos Campos – SP.

Em Escala.
Para representarmos o Hawker Siddeley HS-125 400B EU-93 " FAB 212 ", fizemos uso do antigo kit em resina na escala 1/72 produzido pela GIIC Models. Para se representar a versão operada pelo Grupo de Transporte Especial (GTE) não é necessário proceder nenhuma alteração. Optamos por configurar a aeronave em seu último padrão de pintura, empregando para isto decais com confeccionados pela Phoenix Decals, presentes no Set “HS-125  FAB 1/72”.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo, representa o terceiro padrão de pintura empregado nas aeronaves VU-93, sendo o esquema aplicado a partir de 1990, não só nos jatos britânicos Hawker Siddeley HS-125/AB mas também em todas as aeronaves de transporte executivo (VIP) em serviço na Força Aérea Brasileira.
Bibliografia :
- British Aerospace BAe 125  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/British_Aerospace_125
- Conduzindo os que Conduzem - Louis JacksonJ. Costa - Revista Força Aérea Nº 06
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto

OTO Melara M-56 L/14 105 mm

Historia e Desenvolvimento.
A OTO Melara S.p.A., hoje parte do grupo empresarial Leonardo-Finmeccanica S.p.A., teve suas A OTO Melara S.p.A., hoje integrante do grupo empresarial Leonardo S.p.A., foi fundada em 1905 como uma joint venture entre a Vickers, renomada empresa britânica de armamentos, a Terni Steelworks, especializada na produção de aço, e os estaleiros italianos Cantiere Navale Fratelli Orlando e Cantieri Navali Odero. O empreendimento foi impulsionado pelo investimento financeiro e visão estratégica dos empresários Giuseppe Orlando e Attilio Odero, que desempenharam papéis fundamentais na consolidação da nova companhia. Estabelecida na cidade de La Spezia, a empresa, inicialmente chamada Vickers Terni, surgiu com o objetivo de atender à crescente demanda por armamentos e equipamentos navais, aproveitando a expertise industrial de seus fundadores. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), a Vickers Terni destacou-se pela produção em larga escala de canhões de campanha de 40 mm e 76 mm. Essas armas foram amplamente utilizadas pelas forças terrestres de diversos países aliados, incluindo a Itália, que se beneficiou da qualidade e confiabilidade desses equipamentos em um conflito marcado pela intensificação do uso de artilharia. A capacidade de produção da empresa fortaleceu sua reputação no cenário militar internacional, consolidando-a como um ator relevante no setor de defesa. Em 1929, a empresa passou por uma reestruturação significativa, sendo renomeada Odero Terni Orlando, adotando a abreviação “OTO” como sua marca comercial. Esse período marcou uma fase de expansão e consolidação de sua identidade no mercado. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), a OTO assumiu um papel estratégico na produção de armamentos para a Regia Marina, a Marinha Italiana. A empresa foi responsável pelo desenvolvimento e fabricação da maioria dos canhões navais que equiparam as embarcações italianas, desde fragatas até cruzadores pesados, contribuindo significativamente para o esforço de guerra naval do país. Modelos como o canhão de 120 mm e o de 135 mm tornaram-se emblemáticos, destacando-se pela precisão e potência. O conflito, no entanto, trouxe desafios severos. As instalações industriais da OTO em La Spezia sofreram danos significativos devido aos bombardeios aliados, impactando sua capacidade produtiva. Com o fim da guerra em 1945, a Itália enfrentou um período de reconstrução, e a OTO, em resposta às necessidades do pós-guerra, diversificou sua produção. A empresa passou a fabricar produtos civis, como tratores, implementos agrícolas e teares, atendendo à demanda por bens que impulsionassem a recuperação econômica do país. Essa transição demonstrou a resiliência e adaptabilidade da OTO em um momento de adversidade. Em 1953, a empresa foi rebatizada como OTO Melara, marcando uma nova etapa em sua trajetória. Esse período coincidiu com a intensificação da Guerra Fria, quando os países europeus, incluindo a Itália, voltaram a priorizar o fortalecimento de suas capacidades de defesa em resposta às tensões geopolíticas com a União Soviética. 

A adesão da Itália à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949 marcou um ponto de inflexão para sua indústria de defesa, em um período marcado pelas tensões da Guerra Fria e pela necessidade de fortalecer as capacidades militares frente à influência da União Soviética. Nesse cenário, a OTO Melara S.p.A., com sede em La Spezia e uma longa tradição na produção de armamentos navais, identificou uma oportunidade estratégica para reafirmar sua expertise e expandir sua atuação no setor militar. Após a devastação da Segunda Guerra Mundial, a empresa havia se dedicado à produção de bens civis, como tratores e teares, mas a nova conjuntura geopolítica incentivou um retorno gradual ao mercado de defesa, alinhando-se às prioridades da OTAN e às demandas do governo italiano. A Itália, como membro fundador da OTAN, buscava modernizar suas Forças Armadas para atender aos padrões da aliança, o que incluía o fortalecimento das capacidades terrestres, navais e aéreas. A OTO Melara, já reconhecida por seus canhões navais que equiparam a Regia Marina durante a Segunda Guerra Mundial, viu nesse momento uma chance de diversificar seu portfólio, investindo não apenas em sistemas navais, mas também em equipamentos para as forças terrestres, com foco em soluções inovadoras e versáteis. Uma das primeiras oportunidades concretas surgiu com uma solicitação do Exército Italiano (Esercito Italiano) para o desenvolvimento de um obuseiro leve, projetado especificamente para os regimentos de artilharia de montanha das Brigadas Alpini, unidades especializadas em operações em terrenos montanhosos e acidentados dos Alpes italianos. Essas brigadas, criadas no final do século XIX e conhecidas por sua resiliência em ambientes adversos, exigiam um armamento que combinasse mobilidade, leveza e potência, capaz de operar em condições desafiadoras onde veículos pesados e artilharia convencional eram impraticáveis. O comando militar italiano estabeleceu requisitos rigorosos para o projeto. O obuseiro deveria ser leve, com peso máximo de cerca de 1.300 kg, e composto por no máximo doze peças, permitindo sua montagem e desmontagem por uma pequena guarnição de soldados. A arma precisava ser transportável manualmente (sistema mule-pack) em terrenos irregulares, mas também compatível com tração por veículos leves, como jipes ou Land Rovers. Além disso, deveria ser facilmente acondicionada no interior de um veículo blindado de transporte de pessoal, como o FMC M-113 APC, com o escudo protetor removido. O obuseiro também precisava ser versátil, capaz de realizar disparos em trajetória plana para fogo direto contra tanques ou alvos terrestres, além de operar em altos ângulos de elevação para missões de artilharia convencionais. A equipe técnica da OTO Melara respondeu ao desafio com um projeto que atendia quase integralmente às especificações do Exército Italiano. O obuseiro, conhecido como OTO Melara Mod 56, foi projetado para operar com munições norte-americanas M-1 de 105 mm, garantindo interoperabilidade com os padrões da OTAN e facilitando a logística em operações conjuntas com aliados. Uma das inovações mais notáveis foi o sistema de suspensão, que permitia ajustes para disparos em altos ângulos de elevação, acomodando o recuo da culatra hidropneumática, ou em trajetória plana, eficaz contra alvos blindados. 
Com um alcance máximo de 10,5 km, o Mod 56 era capaz de operar como arma antitanque ou morteiro, lançando projéteis em trajetórias parabólicas para ataques verticais precisos. Seu sistema de recuo, com uma culatra hidropneumática, permitia uma travessia de 18 graus, tornando-o ideal para fogo direto contra alvos terrestres, como tanques, além de seu papel tradicional em artilharia. Pesando apenas 1.290 kg, o obuseiro era facilmente desmontável em até 12 peças, permitindo transporte manual ou por mulas em terrenos montanhosos, bem como tração por veículos leves ou transporte aéreo por helicópteros, como o Agusta-Bell AB.47. A combinação de mobilidade, baixo custo de aquisição, operação e manutenção, e compatibilidade com munições padrão da OTAN (M-1 de 105 mm) despertou o interesse de forças armadas de diversos países. Ainda na década de 1950, a OTO Melara celebrou seus primeiros contratos de exportação, consolidando a reputação do Mod 56 como uma solução eficaz para unidades de artilharia leve, especialmente em terrenos desafiadores. Em 1959, o Mod 56 participou de um processo competitivo da OTAN para selecionar uma “arma de campo leve” padrão para suas forças. Enfrentando concorrentes de diversas nações, o obuseiro italiano destacou-se por sua leveza, versatilidade e interoperabilidade, sendo oficialmente adotado a partir de 1960. O Mod 56 substituiu, em grande parte, os obsoletos canhões norte-americanos M-1 de 75 mm nos exércitos europeus, sendo incorporado por países como Alemanha, Reino Unido, Canadá e Bélgica. Notavelmente, sua adoção pelo Exército Britânico marcou a primeira vez que um equipamento militar italiano foi integrado às Forças Armadas do Reino Unido, um marco histórico para a OTO Melara e para a indústria de defesa italiana. O Mod 56 tornou-se o equipamento padrão da artilharia do Comando Aliado da Força Móvel da Europa (AMF ACE Mobile Force - Land), equipando baterias fornecidas por Canadá, Bélgica, Alemanha, Itália e Reino Unido até 1975. Sua ampla adoção por mais de 30 nações, incluindo Austrália, Argentina, Brasil, Chile e Índia, refletiu seu sucesso no mercado global, impulsionado por sua capacidade de atender às necessidades de forças de infantaria leve, unidades aerotransportadas e regimentos de montanha. O Modelo 56 teve seu batismo de fogo durante a Emergência Malaia (1948–1960), também conhecida como Guerra de Libertação Nacional Anti-Britânica. 

Nesse conflito, o Exército Australiano e forças da Comunidade das Nações (Commonwealth) empregaram o obuseiro contra os combatentes comunistas do Exército de Libertação Nacional Malaio (MNLA). Sua mobilidade e capacidade de operar em terrenos difíceis foram cruciais em operações de contrainsurgência na selva malaia, consolidando sua eficácia em cenários de baixa iintensidade.  Posteriormente, durante a Emergência de Áden (1963–1967), conhecida como Revolta de Radfan, o Mod 56 foi utilizado pelo Exército Real Britânico, especificamente pelo 1º Regimento Leve de Artilharia Real a Cavalo e pelo 19º Regimento Leve. Nesse conflito, as forças britânicas enfrentaram a Frente de Libertação Nacional no Iêmen do Sul, um protetorado britânico, onde o obuseiro demonstrou sua utilidade em operações contra insurgentes em terrenos acidentados. O uso mais intenso do Mod 56 ocorreu nas primeiras fases da Guerra do Vietnã (1955–1975), onde foi empregado pelas forças armadas da Austrália e da Nova Zelândia. Nesse contexto de alto desgaste, no entanto, o obuseiro revelou limitações. Artilheiros relataram que o equipamento sofria desgaste significativo e quebras frequentes devido à montagem e desmontagem repetitiva, especialmente em operações contínuas. Como resultado, as forças optaram por transportá-lo em caminhões para distâncias maiores fora das zonas de combate, o que reduziu o estresse no equipamento, mas evidenciou sua inadequação para combates prolongados. Dois anos após seu emprego inicial no Vietnã, o Mod 56 foi substituído pelo obuseiro norte-americano M-101A1 de 105 mm, mais robusto e adequado para operações intensas. Na Comunidade das Nações (Commonwealth) , o Mod 56 era conhecido como “obuseiro do pacote L-5” com munição L-10. Apesar de sua popularidade, a combinação de alcance limitado e letalidade moderada de sua munição levou o Reino Unido a iniciar, em 1962, o desenvolvimento de um substituto, resultando no L-118 Light Gun de 105 mm, que entrou em serviço em 1974 e oferecia maior alcance e robustez. A adoção do Mod 56 ocorreu em um período de transição para a OTAN, quando os exércitos europeus buscavam modernizar seus arsenais após a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria exigia equipamentos versáteis e de rápida mobilização, e o Mod 56 atendia a essas demandas, especialmente para forças que operavam em terrenos difíceis ou em missões expedicionárias. Sua capacidade de ser aerotransportado e desmontado o tornava ideal para conflitos assimétricos, como os enfrentados na Malásia e em Áden, mas as demandas de conflitos de alta intensidade, como a Guerra do Vietnã, expuseram suas limitações estruturais. A OTO Melara, ciente dessas questões, continuou a aprimorar seus projetos, mas o Mod 56 permaneceu um marco em sua história, simbolizando a capacidade da empresa de responder às necessidades de seus clientes em um cenário global competitivo.
Um dos usos mais significativos do Mod 56 ocorreu durante a Guerra das Malvinas (Falklands) em 1982, um conflito entre a Argentina e o Reino Unido pelo controle do arquipélago no Atlântico Sul. Nesse confronto, os 3º e 4º Grupos de Artilharia do Exército Argentino empregaram o Mod 56 contra as forças britânicas durante a ousada operação de retomada das ilhas. Apesar do alcance limitado de 10,5 km, a precisão e a mobilidade do obuseiro o tornaram uma arma eficaz em terrenos acidentados, contribuindo significativamente para as baixas sofridas pelos britânicos. O desempenho do Mod 56 nesse conflito destacou sua relevância em cenários de combate assimétrico, onde a capacidade de rápida mobilização e disparos precisos era crucial. Até o final de 1985, cerca de 3.000 unidades do Mod 56 foram produzidas pela OTO Melara, com a fabricação continuando sob licença pela estatal chinesa Norinco Group (North Industries Corporation) até o final do século XX. A produção licenciada ampliou o alcance global do obuseiro, que foi adotado por mais de 40 países, incluindo Itália, Austrália, Alemanha, Áustria, Argentina, Arábia Saudita, Bangladesh, Bélgica, Biafra, Burkina Faso, Botsuana, Brasil, Bósnia e Herzegovina, Canadá, China, Chipre, Croácia, Djibouti, Chile, Equador, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Sérvia e Montenegro, França, Gana, Grécia, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Iêmen, Iugoslávia, Kuwait, Quênia, Malásia, Marrocos, Macedônia, Nepal, Nova Zelândia, Nigéria, Paquistão, Peru, Portugal, Reino Unido, Filipinas, San Marino, Espanha, Somália, Sudão, Tailândia, Venezuela, Zâmbia e Zimbábue. Essa ampla adoção reflete o apelo universal do Mod 56, que se tornou um pilar da artilharia leve em nações com diversas necessidades operacionais. Mesmo décadas após sua introdução, o Mod 56 permanece em serviço em várias forças armadas ao redor do mundo, com previsão de continuar ativo até meados do século XXI. Sua longevidade é um testemunho de seu design funcional e adaptável, especialmente em forças com recursos limitados ou em terrenos desafiadores. Em janeiro de 2023, o governo francês cedeu dezenas de unidades do Mod 56 às Forças Armadas da Ucrânia, como parte do apoio internacional no conflito contra a Rússia. Essa doação representou um reforço significativo para o esforço de guerra ucraniano, demonstrando a relevância contínua do obuseiro em cenários de combate modernos, onde sua mobilidade e facilidade de operação ainda são valorizadas.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o Brasil alinhou-se ao esforço de guerra dos Aliados, consolidando sua posição estratégica ao tornar-se signatário do programa norte-americano Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), assinado em 1941. Esse programa, concebido para apoiar nações aliadas contra as potências do Eixo, proporcionou às Forças Armadas Brasileiras acesso a equipamentos modernos, marcando um momento crucial na modernização da artilharia de campanha do Exército Brasileiro. Antes disso, a artilharia brasileira dependia de canhões obsoletos de origem francesa, alemã e britânica, adquiridos no início do século XX, que apresentavam limitações significativas em termos de tecnologia e eficácia em cenários de combate modernos. Por meio do Leand & Lease, o Brasil recebeu uma ampla gama de armamentos de artilharia, com calibres variando de 37 mm a 305 mm. Entre os equipamentos mais significativos estavam os obuseiros M-1 Howitzer de 105 mm e M-2 Howitzer de 155 mm, que representaram um avanço tecnológico notável. Essas armas substituíram os antigos canhões de campanha nas unidades de primeira linha, elevando a capacidade operacional do Exército Brasileiro e alinhando-o aos padrões dos exércitos aliados. A modernização da artilharia brasileira foi testada no calor da batalha com a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Campanha da Itália (1943–1945). A Artilharia Divisionária da FEB, composta por quatro batalhões de obuseiros (Grupos de Obuses), foi estruturada para maximizar o poder de fogo. Três desses batalhões operavam com 12 obuseiros M-2 de 105 mm cada, enquanto o IV Batalhão de Artilharia era equipado com 12 obuseiros M-1 de 155 mm. Essa organização refletia a doutrina de artilharia moderna, inspirada nos ensinamentos do Exército dos Estados Unidos (US Army), que desempenhou um papel ativo no treinamento e suporte técnico da FEB. A campanha italiana, marcada por combates intensos em terrenos montanhosos contra as forças alemãs, foi um marco na formação doutrinária da artilharia brasileira. Sob a orientação de oficiais norte-americanos, os artilheiros brasileiros aprimoraram táticas de coordenação de fogo, logística e manutenção, consolidando uma base operacional robusta. O desempenho da FEB, particularmente nas batalhas de Monte Castelo e Montese, demonstrou a eficácia dos obuseiros M-1 e M-2, que se destacaram por sua precisão e capacidade de apoio às tropas terrestres.Na segunda metade da década de 1960, a artilharia brasileira foi ulteriormente fortalecida por meio do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952 como parte do Programa de Assistência Militar (MAP). Esse acordo ampliou o acesso a equipamentos norte-americanos, resultando na entrega de mais obuseiros M-2 e M-2A1 de 105 mm e M-1 de 155 mm, tanto para o Exército Brasileiro quanto para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Esses armamentos reforçaram o poder de dissuasão das forças brasileiras, garantindo maior capacidade de resposta em cenários de defesa territorial.

No entanto, a incorporação de armamentos mais modernos foi limitada. Entre 1967 e 1968, o Exército Brasileiro recebeu apenas 19 obuseiros M-102 AR de 105 mm, uma versão mais leve e avançada do obuseiro de 105 mm, projetada para maior mobilidade e compatibilidade com transporte aéreo. Essas peças foram concentradas exclusivamente no 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado em Bagé, Rio Grande do Sul. Essa concentração geográfica restringiu o acesso da força terrestre a equipamentos de última geração, limitando a modernização em escala nacional.  No início da década de 1980, ficava clara para o comando da Força Terrestre, a necessidade de aquisição de novos obuseiros de 105 mm, tendo em vista que os modelos norte-americanos M-101AR (M-2 e M-2A1) se encontravam em operação há mais de quarenta anos. Apesar da idade, estas veteranas armas de artilharia apresentavam plena disponibilidade operacional, com este status sendo proporcionado pelo por frequentes processos de manutenção e atualização técnica. Destacava-se ainda neste contexto a produção nacional de diversos componentes críticos, garantindo um mínimo patamar de independência. Mesmo assim ficava notório que estes sistemas de artilharia não atendiam mais as às necessidades de mobilidade, alcance e amplitude de campo de tiro exigidas no combate moderno. A fim de atender esta demanda, o comando do Exército Brasileiro iniciou estudos visando a possível aquisição e uma novo obuseiro de campanha com calibre de 105 mm, visando a aquisição inicial de até cinquenta peças. Estas incorporações deveriam substituir as peças mais desgastadas dos obuseiros M-2 AR 105 mm (M101) e complementar o inventário dos Grupo de Artilharia de Campanha Leve, Grupos de Artilharia de Campanha Paraquedista e Brigadas de Infantaria. Inicialmente no início do ano de 1985, seriam adquiridos quarenta novos obuseiros britânicos L-118 Light Gun 105 mm, que viriam a reforçar fortemente a artilharia de campanha do Exército Brasileiro. Faltava ainda neste contexto buscar um obuseiro leve para prover a substituição dos antigos modelos norte-americanos M-1 Pack Howitzer de calibre de 75 mm, que estavam em serviço desde o início da década de 1940 e já se encontravam extremamente obsoletos. Além disto restavam poucas peças deste obuseiro leve em serviço, sendo empregadas principalmente para tarefas de instrução e tiros de salvas cerimoniais, junto ao Curso de Formação de Reservista de 2ª Categoria (CMPA) em Porto Alegre – RS. Neste contexto seriam analisadas diversas opções de obuseiros leves, com escolha sendo definida por características técnicas e econômicas, com a escolha recaindo para o modelo OTO Melara M-56, produzido na Itália, que além de apresentar uma excelente relação de custo- benefício havia obtido grande êxito operacional durante o conflito das Falklands-Malvinas no ano de 1982. 
Na década de 1980, o Exército Brasileiro intensificou seus esforços para modernizar sua artilharia de campanha, aproveitando a expertise da indústria de defesa global. Nesse contexto, o Ministério do Exército conduziu negociações junto a OTO Melara S.p.A., empresa italiana de renome com uma longa história de produção de armamentos, iniciada em 1905. Essas tratativas culminaram, no final de 1982, na aquisição de 92 obuseiros novos de fabrica do modelo OTO Melara Mod 56, designados no Brasil como Obuseiro M-56 AR 105 mm. As primeiras unidades foram entregues a partir de meados de 1983, marcando um avanço significativo na capacidade operacional da artilharia brasileira. A aquisição do Mod 56 foi impulsionada pela necessidade de equipar unidades especializadas com um obuseiro leve, versátil e compatível com as munições padrão da OTAN, características que o tornavam ideal para operações em diversos cenários, incluindo ambientes de selva e aeromóveis. A escolha do Mod 56 refletia também a consolidação da parceria militar entre Brasil e Itália. As primeiras unidades do Obuseiro M-56 foram inicialmente alocadas à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no Rio de Janeiro, onde foi desenvolvida a doutrina operacional para seu uso. Esse processo incluiu a elaboração do Manual de Campanha “Serviço da Peça do Obuseiro M-56” e a incorporação do equipamento no Curso de Material Bélico, garantindo que os futuros oficiais dominassem sua operação e manutenção. Após a conclusão desses processos, os obuseiros foram distribuídos para unidades estratégicas do Exército Brasileiro, incluindo o 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), o 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista (8º GAC Pqdt), o 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva (10º GAC Sl), o 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve – Aeromóvel (20º GAC L – Amv), o 26º Grupo de Artilharia de Campanha (26º GAC) e o 32º Grupo de Artilharia de Campanha (32º GAC). Cada bateria dessas unidades era composta por quatro obuseiros OTO Melara M-56, geralmente tracionados por caminhões Mercedes-Benz LAK 1418 VTNE (Viatura de Transporte Não Especializada). A integração do Mod 56 fortaleceu a capacidade de apoio de fogo dessas unidades, especialmente em operações que exigiam mobilidade e rapidez, como as conduzidas pela Brigada Aeromóvel (FORPRON Amv).

O maior destaque operacional foi atribuído ao 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista (8º GAC Pqdt), que equipou três baterias com o Mod 56. Essas unidades podiam ser lançadas de aeronaves como o De Havilland C-115 Buffalo e o Lockheed C-130 Hercules da Força Aérea Brasileira, ampliando significativamente as capacidades de prontidão da Brigada Aeromóvel. A leveza do Mod 56 (1.290 kg) e sua capacidade de ser desmontado em até 12 peças permitiam seu transporte aéreo e rápida montagem em campo, tornando-o ideal para operações aerotransportadas em cenários de rápida resposta. O Obuseiro M-56 AR 105 mm destacou-se por sua simplicidade, facilidade de operação e compatibilidade com munições nacionais produzidas pela estatal Imbel S/A, idênticas às utilizadas pelos obuseiros M-101 AR e pelos autopropulsados M-108 AP. Essas características garantiram economia logística e facilidade de manutenção. No entanto, seu alcance limitado de 10,2 km representava uma restrição em cenários de combate convencionais. Essa limitação era minimizada em operações especializadas, como as conduzidas em ambientes de selva, onde a mobilidade e a versatilidade do Mod 56 prevaleciam sobre a necessidade de maior alcance. Na década de 2000, o Exército Brasileiro iniciou a experimentação doutrinária da “Marcha para o Combate Fluvial em Ambiente de Selva”, com o 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva (10º GAC Sl) assumindo a liderança a partir de 2006. Nesse contexto, o Mod 56 foi testado em operações na região Amazônica, demonstrando sua adaptabilidade ao ambiente desafiador da selva. O obuseiro podia ser desmontado em fardos e transportado por búfalos, animais que se adaptavam bem às condições pantanosas e irregulares da Amazônia, seja carregando as peças desmontadas em “cangalhas” ou tracionando o obuseiro montado. Além do transporte animal, o Mod 56 era acondicionado em embarcações como Patrulhas de Esquadra (EPE), balsas comuns ou Patrulhas de Grupo (EPG) para deslocamentos fluviais, ou helitransportado por helicópteros, garantindo mobilidade em eixos fluviais. Essa experimentação confirmou a flexibilidade do Mod 56 em operações fluviais, permitindo sua rápida montagem em praias de rio para efetivar tiros reais. A arma provou ser ideal em ambientes onde cursos d’água predominam, garantindo apoio de fogo contínuo e adaptável às missões impostas. A capacidade de desmontagem e transporte por diversos meios reforçou a eficácia do obuseiro em cenários amazônicos, onde a logística tradicional é desafiada pelo terreno.
O Obuseiro OTO Melara M-56 AR 105 mm, incorporado ao Exército Brasileiro a partir de 1983, desempenhou um papel central na artilharia de campanha por décadas. Contudo, o uso contínuo ao longo dos anos resultou em significativo desgaste de suas peças, comprometendo sua operacionalidade. No final da década de 2010, tornou-se evidente a necessidade de um programa abrangente de revitalização para garantir a continuidade de sua eficácia e prolongar sua vida útil. Essa iniciativa refletiu o compromisso do Exército Brasileiro em manter sua capacidade operacional, especialmente em unidades especializadas, como as de artilharia de selva e aeromóveis. A revitalização também se alinhava aos esforços de modernização das Forças Armadas, iniciados durante a Segunda Guerra Mundial com o Leand & Lease Bill Act e continuados por acordos de assistência militar com os Estados Unidos e parcerias com fabricantes internacionais, como a OTO Melara S.p.A. O programa de revitalização foi conduzido pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) em colaboração com a Diretoria de Material (D Mat), subordinada ao Comando Logístico (COLOG). O projeto focou na recuperação de todos os componentes críticos do Mod 56, com ênfase na nacionalização de 80% de suas peças, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecendo a autonomia logística do Exército. Além disso, foi instalado um novo aparelho de pontaria (luneta), aprimorando a precisão e a eficiência do obuseiro. O processo incluiu a elaboração de materiais técnicos detalhados para manutenção de primeiro e segundo escalões, abrangendo procedimentos de desmontagem, montagem, limpeza e lubrificação. Esses manuais foram desenvolvidos para capacitar os Batalhões Logísticos que apoiam os Grupos de Artilharia, aumentando a disponibilidade operacional do armamento e facilitando sua manutenção em campo. Essa abordagem reforçou a prontidão das unidades equipadas com o Mod 56, garantindo maior eficiência em operações. Entre 5 e 7 de julho de 2017, a Diretoria de Material promoveu uma cerimônia no 1º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva, em Boa Vista, Roraima, para marcar a entrega técnica dos três primeiros obuseiros OTO Melara M-56 revitalizados pelo AGSP. Ao todo, o programa envolveu a recuperação de 63 unidades, assegurando a extensão de sua vida útil até a implementação do Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC), parte do Programa Estratégico do Exército Obtenção da Capacidade Operacional Plena (Prg EE OCOP). O SPrg SAC prevê, como uma das opções, a substituição futura do Mod 56 pelos obuseiros norte-americanos M-119A2 de 105 mm, que oferecem maior alcance e modernidade. Essa possibilidade reflete o planejamento estratégico do Exército para manter sua artilharia alinhada às demandas contemporâneas, enquanto a revitalização do Mod 56 garante a continuidade operacional no curto e médio prazos.

Em Escala.
Uma representação notável do obuseiro leve OTO Melara M-56 L/14 105 mm é oferecida pelo kit em resina impresso em 3D, na escala 1/35, desenvolvido pelo militar e modelista Marcelo Pestana Miniaturas. Esse modelo é amplamente reconhecido por sua qualidade excepcional, combinando facilidade de montagem com um alto nível de detalhamento.  Para representar a versão do Obuseiro M-56 utilizada pelo Exército Brasileiro, o kit não exige modificações adicionais, sendo possível montá-lo diretamente a partir da caixa.


O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura aplicado nos obuseiros Oto Melara M-56 AR 105 mm, quando de seu recebimento em 1983. Estas peças passaram a ostentar um padrão de pintura total em verde oliva após a implementação do processo de revitalização realizado no pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). 

Bibliografia: 
- L118 Light Gun 105 mm - https://www.no-regime.com/ru-pt/wiki/L118_light_gun
- O emprego do obuseiro M56 na marcha de combate fluvial - http://ebrevistas.eb.mil.br/REB/article/view/9082/7837
- Revitalização de obuseiros de 105 mm M56 Oto Melara- https://www.forte.jor.br/ 
- Sistema Gênesis GEN-3004 - https://www.imbel.gov.br/index.php/comunicacoes-eletronica-e-sistemas 
- Obuseiro M119A2 para o Brasil? - https://tecnodefesa.com.br/obuseiro-m119a2-para-o-brasil/
- Recuperação de obuseiros de 105mm - Paulo Roberto Bastos Jr. www.tecnodefesa.com.br