Ford M-20 Comando (VBR)


História e Desenvolvimento.
Na primeira metade da década de 1930, o plano de reequipamento do governo nacional-socialista alemão encontrava-se em plena implementação, abrangendo não apenas a modernização de armamentos, mas também o desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares. No campo de batalha, essas inovações seriam empregadas de forma sincronizada, integrando veículos, armamentos e carros de combate de última geração. Essa iniciativa culminaria na formulação do conceito da "Guerra Relâmpago" (Blitzkrieg), uma tática militar que enfatizava o emprego de forças altamente concentradas e de rápida mobilidade. A estratégia envolvia formações blindadas e unidades de infantaria motorizada ou mecanizada, operando em conjunto com artilharia, assalto aéreo e apoio aéreo aproximado. O objetivo principal era romper as linhas defensivas inimigas, desestabilizar suas forças e comprometer sua capacidade de resposta diante de uma frente de batalha em constante mutação, conduzindo-as, assim, a uma derrota rápida e decisiva. Um dos pilares fundamentais dessa tática baseava-se no desenvolvimento de novos carros de combate que, ao entrarem em ação a partir de setembro de 1939, demonstraram superioridade em diversos aspectos em relação a seus equivalentes britânicos, soviéticos, norte-americanos e franceses. Apesar das restrições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (assinado ao término da Primeira Guerra Mundial, em 1918), era evidente que o regime nazista avançava rapidamente em seu programa de rearmamento — um fato que não passou despercebido pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Relatórios elaborados por esses serviços detalhavam o crescente potencial das forças armadas alemãs, incluindo projeções de aumento do efetivo militar e da produção de equipamentos. Particular atenção foi dada aos novos modelos de carros de combate Panzer I e II, que, em muitos aspectos, superavam os modelos leves M-1 e M-2, então em serviço nas unidades de cavalaria blindada do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army). Diante desse cenário, em abril de 1939 foi iniciado um programa de estudos com o objetivo de conceber uma nova geração de carros de combate e veículos blindados capazes de rivalizar com os modelos alemães em um eventual conflito. Essa iniciativa foi conduzida pelo Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia, e resultou no desenvolvimento de blindados sobre esteiras e sobre rodas. Os primeiros frutos desse esforço materializaram-se nos projetos dos carros de combate médios M-3 Lee e M-4 Sherman. No campo de batalha, essas viaturas deveriam ser complementadas por um novo modelo de veículo blindado antitanque leve, destinado a substituir o já obsoleto GMC M-6 Gun Motor Carriage — um blindado sobre rodas derivado do utilitário General Motors WC-5, com tração 4x4. Os parâmetros estabelecidos para o desenvolvimento desse veículo especificavam um blindado leve e ágil, dotado de tração integral do tipo 6x6, equipado com um canhão M6 de 37 mm (o mesmo utilizado nos carros de combate leves M-3 Stuart), montado em uma torre giratória, além de duas metralhadoras Browning,  de calibres .50 e .30, para autodefesa.

Com essas definições, foi deflagrada uma concorrência visando à aquisição de um lote substancial desses blindados. Para tal, constituiu-se uma comissão técnica no Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD – Department of Defense), responsável por receber e avaliar as propostas técnicas e comerciais de possíveis fornecedores. As análises iniciais resultaram em uma lista final (shortlist) com três empresas concorrentes: a Studebaker Automotive Company, com seu modelo T-21; a Ford Motor Company, com o T-22; e, por fim, a Chrysler Automotive Company, com o T-23. Para viabilizar o desenvolvimento dos projetos, foram disponibilizadas linhas de financiamento governamental para a construção dos protótipos, concluídos entre os meses de outubro e novembro de 1941. Em seguida, iniciou-se um rigoroso programa de testes no campo de provas de Aberdeen Proving Ground, em Maryland, prolongando-se até março do ano seguinte. Durante esse processo, o modelo T-22, da Ford, destacou-se nas avaliações comparativas em relação aos demais concorrentes. Embora tenha sido declarado vencedor da concorrência, o T-22 apresentou algumas deficiências que exigiam correções e melhorias no projeto. Essas modificações foram implementadas pela equipe de engenharia da montadora, resultando na versão inicial de produção, denominada T-22E2. No entanto, nesse momento, já era evidente que o canhão de 37 mm não se mostrava mais eficaz contra as blindagens frontais e laterais dos novos carros de combate alemães e italianos, que estavam equipados com armamentos de maior calibre. Assim, em um hipotético confronto contra forças do Eixo, o T-22 tornar-se-ia um alvo vulnerável, especialmente porque sua blindagem fora projetada para resistir apenas ao impacto de armamentos leves, limitando severamente sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Apesar dessa limitação crítica, o comando do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) optou por seguir com a produção em larga escala do veículo, decisão fortemente influenciada pela intensificação das tensões políticas na Europa e no Pacífico. A necessidade urgente de implementação de um amplo programa de reequipamento militar levou à redefinição do papel do T-22E2, que passou a ser destinado especificamente a missões de reconhecimento no campo de batalha. Para atender a essa nova função, o veículo recebeu uma série de modificações estruturais e operacionais. Com os ajustes técnicos definidos, iniciou-se a fase de negociação comercial para sua produção em série. No entanto, esse processo enfrentou graves entraves burocráticos, relacionados à formalização do contrato de fabricação, o que atrasou sua entrada em serviço. Esses entraves negociais resultaram em um significativo atraso no cronograma original de produção, com as primeiras unidades sendo concluídas apenas em meados de março de 1943. Assim que foram finalizadas, passaram a ser distribuídas às unidades operacionais, recebendo, nesse momento, a designação militar de M-8.
O casco do veículo era composto predominantemente por chapas soldadas, embora alguns painéis externos fossem rebitados à estrutura. Suas seis rodas eram protegidas por escudos laterais removíveis, enquanto a seção traseira possuía uma estrutura alada, permitindo que fossem dobradas e equipadas com correntes para pneus em condições de neve. O M-8 era propulsionado por um motor Hercules Model JXD, um seis cilindros em linha a gasolina, capaz de gerar 110 hp de potência. Esse conjunto mecânico proporcionava ao blindado uma velocidade média de 48 km/h (30 mph) em terrenos irregulares e 90 km/h (56 mph) em estradas pavimentadas. O consumo médio de combustível era de aproximadamente 7,5 milhas por galão (mpg), e seus tanques tinham capacidade para 59 galões, conferindo-lhe um alcance operacional de 640 km (400 milhas). A posição do motorista estava localizada à esquerda, enquanto o operador de rádio se sentava à direita. Ambos eram acomodados em um compartimento saliente, protegido por painéis blindados dobráveis de duas peças e visores estreitos. A torre do veículo, aberta na parte superior, abrigava o comandante e o artilheiro. Apesar da ausência de um teto fechado, era possível utilizar persianas e tampas de escotilhas para proteção adicional, além de pequenos periscópios para garantir visão periférica. O armamento principal do M-8 era composto por um canhão M6 de 37 mm, apontado por meio de uma mira telescópica M70D. O veículo transportava 80 cartuchos para o canhão, porém, o espaço interno permitia armazenar apenas 16 projéteis prontos para uso imediato. Para autodefesa, era equipado com duas metralhadoras, abastecidas com 1.500 cartuchos, além de quatro lançadores de fumaça M1 e M2. Opcionalmente, podia transportar até seis minas terrestres (antitanque ou explosivas de alto poder destrutivo - HE), montadas externamente, além de carabinas M1 para uso da tripulação. Devido ao espaço interno reduzido, diversos ganchos e suportes foram instalados tanto na torre quanto no casco, permitindo o armazenamento de equipamentos essenciais. Como resultado, a maioria dos itens pessoais da tripulação foi montada externamente sobre os para-lamas dianteiros e traseiros. Entre os acessórios transportados externamente estavam mochilas, ferramentas, cabos e, posteriormente, sacos de areia, adicionados como medida extra de proteção. O M-8 também foi equipado com um avançado sistema de comunicação, essencial para o cumprimento de suas missões de reconhecimento. Inicialmente, utilizava o rádio SCR-506, posteriormente substituído pelos modelos SCR-510, SCR-608 e SCR-610, todos de longo alcance. O sistema de rádio era operado internamente pelo comandante do veículo, permitindo contato direto com o Quartel-General, com unidades avançadas de comando na linha de frente ou até mesmo com forças atuando em teatros de operações mais distantes. Em operação, o M-8 foi incumbido de proporcionar às divisões de infantaria e blindadas a capacidade de reconhecimento avançado no campo de batalha, atuando como os "olhos e ouvidos" do Exército dos Estados Unidos (US Army).  Nessa função, a velocidade e a agilidade na linha de frente foram priorizadas em detrimento do poder de fogo e da blindagem. A missão da cavalaria blindada consistia em estabelecer contato no momento mais propício, visando atacar, conquistar e manter as posições estratégicas. 

Nesse contexto, as unidades de reconhecimento equipadas com o M-8 tinham a responsabilidade de identificar e estabelecer contato antecipado com contingentes hostis, relatando sua força, composição, disposição e movimentos. Essas informações permitiam que o corpo principal aliado dispusesse de tempo hábil para a elaboração de estratégias e táticas para o enfrentamento futuro. Durante operações de retirada, as unidades de cavalaria blindada equipadas com o Ford M-8 foram encarregadas de estabelecer uma força de triagem junto às unidades principais, auxiliando na organização e execução do processo. Com o aumento da produção, um grande número desses blindados foi distribuído às unidades operacionais nos teatros de operações do Pacífico e na Inglaterra, onde foram armazenados em centros logísticos para seu futuro emprego nas operações de reconquista da Europa. O batismo de fogo do M-8 ocorreu no início de julho de 1943, durante a invasão da Sicília pelos Aliados, na operação denominada "Operação Husky". Após os desembarques iniciais e a subsequente consolidação da cabeça de ponte, dezenas de unidades do M-8 foram empregadas em missões de reconhecimento. Nessa campanha, o veículo demonstrou grande eficácia, não apenas devido à sua agilidade e velocidade, mas também por estar equipado com um dos mais avançados sistemas de rádio de longo alcance da época. Essa superioridade tecnológica permitia que as unidades de reconhecimento mantivessem um alto grau de surpresa e reduzissem significativamente a possibilidade de detecção pelas forças inimigas. Outro fator determinante para seu sucesso estava na concepção do seu conjunto motriz, cujos sistemas e componentes mecânicos foram projetados para operar de maneira silenciosa. Como resultado, as unidades de reconhecimento do Terceiro Exército dos Estados Unidos receberam dos alemães o apelido de "Fantasmas de Patton", em referência ao General George S. Patton. O M-8 esteve presente nas principais batalhas do conflito, embora sua blindagem relativamente leve o tornasse vulnerável a disparos de veículos blindados inimigos, como o Sd.Kfz. 234 Puma, além de carros de combate e armas antitanque alemãs. No teatro de operações do Pacífico, o veículo assumiu uma função distinta: a de destruidor de tanques. Isso se deve ao fato de que a maioria dos carros de combate japoneses possuía blindagem leve, tornando-os vulneráveis ao canhão M6 de 37 mm. Milhares de unidades desses blindados foram fornecidas a nações aliadas por meio do programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), beneficiando principalmente as Forças Francesas Livres, bem como o Reino Unido, Austrália, Canadá e Brasil. O apelido "Greyhound" foi atribuído por seus operadores no Exército Real Britânico (Royal Army), embora raramente, ou nunca, tenha sido utilizado pelas tropas norte-americanas. Durante sua utilização na Europa, tornou-se necessária a adoção de kits de blindagem adicional no assoalho do veículo, a fim de minimizar as perdas causadas por minas terrestres alemãs e italianas. No entanto, mesmo com essa modificação, a operação do M-8 em estradas tornou-se menos recomendada, restringindo seu uso a terrenos montanhosos, áreas de lama profunda e regiões cobertas de neve.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a utilização operacional do veículo blindado evoluiu para incluir suas funções como unidade de reconhecimento no campo de batalha e transporte de cargas especiais. Nesse contexto, centenas dessas viaturas foram adaptadas para atuar como transportadores táticos, sendo empregadas principalmente no transporte de munições e equipamentos especiais até a linha de frente. Como resultado, esses veículos blindados adquiriram significativa relevância entre as forças aliadas, uma vez que sua notável mobilidade, velocidade e proteção blindada ofereciam vantagens claras em comparação aos caminhões militares convencionais, como os GMC CCKW e Studebaker US6G. O processo de conversão envolvia a remoção da torre e do canhão originais, além da adição de um compartimento extra que contemplava dois assentos laterais, uma mesa, suportes para armamento leve e equipamento de rádio. Para reforçar a proteção, foi incorporado um trilho circular sobre essa estrutura, destinado a suportar uma metralhadora Browning M2 de calibre .50. Assim surgia o M-10 Armored Utility Car, que, para evitar confusão com o M-10 Wolverine tank destroyer, recebeu a nova denominação de M-20. Além das conversões, unidades novas foram produzidas diretamente das linhas de montagem da Ford Motors Corporation, em sua planta automotiva localizada na cidade de Saint Paul, estado do Maine. Entre os meses de junho de 1943 e julho de 1945, foram fabricados três mil setecentos e noventa e um veículos desse modelo. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os Ford M-20 Armored Utility Cars foram novamente utilizados em missões de apoio e comando durante a participação dos Estados Unidos na Guerra da Coreia (1950-1953). Na segunda metade dessa mesma década, restou em serviço nas Forças Armadas dos Estados Unidos apenas uma pequena fração da frota original, com os veículos de comando sendo concentrados em apenas cinco regimentos de cavalaria blindada. O restante dos veículos em condições operacionais foi classificado como "excedente militar" e armazenado para eventual disponibilização a nações amigas pelo Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program). A França tornou-se o principal operador pós-guerra do Ford M-20, recebendo dezenas de unidades entre 1945 e 1954, sendo amplamente utilizados na Primeira Guerra Indochinesa até o término do conflito, quando foram doados ao Exército da República do Vietnã (ARVN). A Legião Estrangeira Francesa (FFL) também utilizou este veículo durante a Guerra de Independência da Argélia (1954-1962). Na mesma época, o Ford M-20 foi empregado pelas Forças Armadas Belgas, atuando em conjunto com as forças de defesa da Force Publique no Congo Belga.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Nos termos do referido acordo de assistência militar, o Brasil deu início à recepção de uma quantidade significativa de material bélico, que incluía caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, navios e armamentos, sendo o Exército Brasileiro o principal beneficiário desse aporte. No que se refere aos veículos blindados, a incorporação de novos modelos começou no final de 1941, com a chegada dos carros de combate leves M-3 Stuart e médios M-3 Lee, além dos veículos de transporte de tropas M-3A1 White Scout Car e os primeiros carros de combate e reconhecimento sobre rodas 6x6, o Ford T-17 Deerhound, recebidos em meados de 1943. Subsequentemente, conforme o previsto, o Brasil ampliou sua participação no esforço de guerra ao lado dos Aliados, formalizando esse compromisso em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada no boletim reservado de 13 de agosto do mesmo ano. Esta portaria estabeleceu a estrutura da Força Expedicionária Brasileira (FEB), cuja missão consistia em engajar-se nas operações de combate no teatro europeu. Para o comando da FEB, foi designado o General-de-Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, que liderou uma força composta por três Regimentos de Infantaria (o 6º Regimento de Infantaria de Caçapava, o 1º Regimento de Infantaria e o 11º Regimento de Infantaria), quatro grupos de artilharia (três equipados com peças de 105 mm e um com peças de 155 mm), uma esquadrilha de aviação destinada a missões de ligação e observação (pertencente à Força Aérea Brasileira), um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de transmissões. A estruturação desse contingente seguiu os padrões das unidades operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army), demandando a formação de uma unidade de reconhecimento mecanizado. Dessa forma, as unidades deveriam ser equipadas com diversos veículos blindados dedicados a tarefas especializadas, como os modelos Ford M-8 Greyhound, White Motors M2 Half Track e Ford M-20 Armored Utility Car. Embora esses modelos fossem esperados em grandes quantidades para o Exército Brasileiro, ocorreu uma discrepância, pois foram cedidos em números inferiores às necessidades reais de um contingente da magnitude do brasileiro. Curiosamente, nenhum veículo de comando blindado Ford M-20 Armored Utility Car foi entregue ao teatro de operações da Itália, às tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), resultando no fato de que o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária ficou equipado apenas com quinze veículos do modelo Ford M-8 Greyhound. Essa definição deixou o comando do Exército Brasileiro no front italiano sem a opção de contar com um carro de comando blindado, forçando o uso de modelos especializados não blindados, como os Dodge WC-56 e Dodge WC-57 Command Car, nas linhas de retaguarda.
Paralelamente, durante a Segunda Guerra Mundial, em meados de 1944, o Exército Brasileiro recebeu, sob os termos do programa Lend-Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), vinte carros blindados Ford M-8 Greyhound e dois veículos de comando do modelo Ford M-20 Armored Utility Car. Estas novas incorporações de veículos blindados sobre rodas ampliaram significativamente a capacidade de mobilidade da Força Terrestre Brasileira, sendo inicialmente distribuídos entre as unidades blindadas de infantaria situadas no Rio de Janeiro. Tal movimentação possibilitou ao Exército Brasileiro concentrar os primeiros carros blindados sobre rodas com tração integral 6x6 em operação, do modelo Ford T-17 Deerhound, na região Sul do país. Após a rendição das forças armadas alemãs em 8 de maio de 1945, todo o contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi desmobilizado, dando início ao processo de repatriamento das tropas, veículos e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro. Os blindados remanescentes do modelo Ford M-8 Greyhound, designados como "Italianos", foram despachados para o Brasil por via naval, a bordo de navios da Marinha dos Estados Unidos(US Navy). Após a chegada ao porto do Rio de Janeiro, esses blindados de reconhecimento foram reunidos em um único esquadrão, passando a operar em conjunto com os dois veículos de comando Ford M-20  A esse grupo se acrescentaram mais vinte Ford M-8 Greyhound e pelo menos quatro M-20 que seriam recebidos ainda no final do mesmo ano. Essa ampliação permitiu ao Exército Brasileiro expandir seu leque operacional, com os veículos sendo integrados às unidades de reconhecimento mecanizado, e o esquadrão passando a ser considerado o embrião da cavalaria mecanizada no Brasil, preparando a transição da doutrina hipomóvel para a mecanizada. Neste período, o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec) possuía uma significativa experiência operacional adquirida em combates durante a Segunda Guerra Mundial, o que foi determinante para o desenvolvimento da cavalaria mecanizada no Brasil. Esse processo teve grande relevância na modernização da Força Terrestre, promovendo a transição da doutrina operacional hipomóvel para a mecanizada. Toda essa evolução permitiu que o Brasil se mantivesse como uma potência militar na América do Sul e a principal força de cavalaria da região, adaptando rapidamente suas tecnologias de combate ligeiro, de reconhecimento, segurança e ataque. Registros não confirmados indicam que, no início da década de 1950, o Exército Brasileiro teria recebido pelo menos mais quatorze veículos do modelo Ford M-20 Armored Car, oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army), agora disponibilizados no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP). Pela primeira vez em sua história, o Exército Brasileiro dispunha de uma frota completa e moderna de veículos destinados a múltiplas aplicações. Os carros de comando Ford M-20 Armored Utility Car passaram a operar em conjunto com os Ford M-8 Greyhound e outros modelos de carros blindados, implementando assim, pela primeira vez, um conceito integral de comando e controle.

A partir de 1947, o Exército Brasileiro implementou uma profunda reorganização operacional, marcando um avanço significativo em suas capacidades táticas. Pela primeira vez, durante os treinamentos operacionais, oficiais de comando puderam operar na linha de frente em profundidade até então considerada inviável para veículos de comando não blindados, como o Dodge WC-57 Command Car. Um diferencial qualitativo foi a introdução de sistemas de rádio de longo alcance de última geração, que proporcionaram conectividade essencial para a coordenação das forças mecanizadas. No âmbito dessa reestruturação, o 4º/2º Regimento de Cavalaria Divisionária (R.C.D), sediado em São Borja, Rio Grande do Sul, foi redesignado como 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec). Como parte da modernização, a unidade substituiu os carros de combate leves M-3A1 Stuart por um novo conjunto de viaturas blindadas, composto por: Oito viaturas blindadas sobre rodas Ford M-8 Greyhound, cinco carros blindados meia-lagarta White Motors M-2A1 e por fim um Ford M-20 Armored Utility Car, utilizado como veículo de comando. Esse esquadrão tornou-se o segundo grupamento do Exército Brasileiro a operar o Ford M-20, alcançando elevado nível de proficiência nos anos subsequentes. Em 15 de janeiro de 1954, por meio do Decreto Federal nº 34.946, sancionado pelo presidente Getúlio Vargas, a unidade foi renomeada como 13º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (RCMec) – Regimento Anhanguera. Simultaneamente, o esquadrão foi transferido, com seu efetivo e equipamentos, para a cidade de São Paulo. Nos anos seguintes, o binômio formado pelos blindados M-8 Greyhound e M-20 Armored Utility Car destacou-se em manobras militares realizadas no estado de São Paulo. Adicionalmente, o Ford M-20 ganhou notoriedade pública ao liderar os desfiles de 7 de setembro na capital paulista, consolidando-se como um símbolo reconhecido pela população. O Ford M-20 Armored Utility Car também foi empregado em operações internacionais. Durante a Crise do Canal de Suez (1957-1967), contingentes do Exército Brasileiro integraram a Força Multinacional de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse contexto, cinco unidades do M-20, pertencentes ao Exército dos Estados Unidos, foram cedidas em regime de comodato para uso por militares brasileiros, reforçando a participação do Brasil nessa missão de paz. A modernização promovida a partir de 1947, aliada à introdução de novas viaturas blindadas e sistemas de comunicação, consolidou a capacidade operacional do Exército Brasileiro. A atuação do 13º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, tanto em manobras nacionais quanto em missões internacionais, evidenciou a relevância estratégica dessas transformações, projetando a eficiência do Exército Brasileiro em cenários diversos. Entretanto, a partir do início da década de 1960, a frota de blindados M-8, já envelhecida, começou a apresentar preocupantes índices de disponibilidade, especialmente em razão das dificuldades crescentes para a obtenção de peças de reposição para os antigos motores a gasolina Hercules JXD de seis cilindros e 100 hp.  Esse cenário gerou uma crescente preocupação quanto à viabilidade da continuidade operacional da frota. Neste contexto, as projeções indicavam um iminente colapso dessa frota, uma vez que, naquela época, restavam poucas unidades do Ford T-17 Deerhound em operação, sendo estas predominantemente utilizadas pela Polícia do Exército (PE), o que reduzia consideravelmente o número de viaturas disponíveis para os Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado. 
A solução primordial para essa situação residia na aquisição de modelos modernos, conforme os termos estabelecidos pelo Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program). Durante esse período, foram recebidos novos carros de combate, como os M-41 Walker Bulldog, blindados de transporte de tropa M-59 e outras viaturas. Curiosamente, não foram recebidos veículos de categoria similar aos M-8 e M-20. Como resultado, a solução voltou-se para estudos destinados ao repotenciamento dessas viaturas blindadas sobre rodas, com o objetivo de restabelecer uma mínima capacidade operacional para os Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado. Este processo seria baseado em um programa semelhante aplicado pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) em uma parcela da frota de blindados meia lagarta M-2, M-3, M-3 A1 e M-5. Este programa de repotenciamento seria iniciado no final de 1967, envolvendo a troca do motor original a gasolina Hercules JXD  gasolina de 110 hp por nacional a diesel Mercedes-Benz OM 321 de 6 cilindros de 120 hp de potência. Seriam trocados também a caixa de câmbio manual, diferencial e seu sistema de freio dianteiro, sendo fabricados também pela própria montadora e por fim toda sua parte elétrica. Este protótipo após concluído seria empregado em um programa de testes campo entre os anos de 1968 e 1969, apresentando resultados extremamente satisfatórios, levando a Diretoria de Motomecanização (DMM) a decidir pela aplicação deste programa em um lote piloto de 33 viaturas Ford M-8 VBR e dois Ford M-20 Carro Comando. Estes trabalhos agora seriam conduzidos junto as oficinas do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2), com os primeiros carros sendo devolvidos aos Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado a partir do início do ano de 1970. A seguir seria contratada o repotenciamento de mais viaturas destes dois modelos, com seu cronograma de entrega se estendendo até meados do ano do 1972. Por fim a grande contribuição do processo de repotenciamento dos Ford M-8 e M-20 se daria pela obtenção de grande experiencia e qualificação teórica e prática que permitiria ao corpo técnico de engenharia do Exército Brasileiro. Os frutos deste conhecimento adquirido seriam materializados no desenvolvimento do conceito de um veículo leve sobre rodas de combate 4X4  o "VBB-1" (Viatura Blindada Brasileira 1), que logo em seguida evoluiria para o "VBB-2" (Viatura Blindada Brasileira 2) com tração 6X6. Nos anos seguintes os M-8B e M-20B seguiram atuando, passando a ser gradualmente retirados das unidades operativas após o recebimento dos primeiros Engesa EE-9 Cascavel "Magro". A partir deste momento seriam alocados junto as unidades de Polícia do Exército (PE), com os últimos sendo retirados do serviço ativo somente em meados do ano de 1987, completando uma carreira de mais de quarenta anos. 

Em Escala.
Para representar o Ford M-20 Armored Utility Car, identificado como "EB10-301" e utilizado como veículo de comando pelo 13º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (RCMec) – Regimento Anhanguera, foi selecionado o modelo em escala 1/32 produzido pela Monogram, uma peça antiga e de rara disponibilidade. O modelo kit apresenta um interior desprovido de detalhes, sendo necessário aplicar  aprimoramentos como a adição de  equipamentos de rádio e os assentos da tripulação, reproduzindo com precisão os elementos característicos do veículo de comando. Utilizaram-se decais da Eletric Products, pertencentes ao conjunto temático "Exército Brasileiro 1944-1982", garantindo a correta identificação e representação visual do veículo conforme sua utilização pelo Exército Brasileiro.

O esquema de cores descrito refere-se ao padrão tático de pintura utilizado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, aplicado aos veículos blindados Ford M-20 Armored Utility Car recebidos pelo Exército Brasileiro. Após sua incorporação, esses veículos mantiveram o esquema original, com a adição exclusiva das marcações nacionais do Brasil. Esse padrão de pintura foi preservado até a desativação das viaturas em 1986. Duas viatura foram preservadas após a desativação. Uma delas foi mantida com o esquema original, enquanto a segunda recebeu um novo padrão de pintura camuflada em dois tons, adotado pelo Exército Brasileiro a partir de 1983, refletindo a modernização estética e funcional implementada na época.



Bibliografia : 
- M-8 Greyhound - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/M8_Greyhound
- Blindados no Brasil  - Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos
- Origem do Conceito 6X6 do Veículo Blindado no Exército Brasileiro - http://www.funceb.org.br/images/revista/20_1n8q.pdf


P-47D25-RE Republic Thunderbolt

História e Desenvolvimento.
A Seversky Aircraft Company foi fundada em 1931, em Farmingdale, Long Island, Nova Iorque, por Alexander de Seversky, um expatriado russo e veterano piloto da Primeira Guerra Mundial. Na época, Seversky ocupava a posição de assessor do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, trazendo consigo uma visão inovadora para a aviação militar. Nos primeiros anos de operação, a empresa reuniu uma equipe de talentosos engenheiros aeronáuticos, majoritariamente russos e georgianos, incluindo nomes como Michael Gregor e Alexander Kartveli. Esses profissionais desempenhariam papéis fundamentais no desenvolvimento das aeronaves que marcariam a trajetória da companhia. Porém o caminho seria tortuoso, e somente após várias tentativas fracassadas, a Seversky Aircraft finalmente lograria êxito, vencendo uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caça para Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com seu projeto SEV-1XP recebendo seu primeiro contrato militar em 1936. Conhecido pela designação militar P-35, este seria o primeiro caça moderno do Exército dos Estados Unidos (US Army), incorporando fuselagem metálica, asa baixa, trem de pouso retrátil (ainda que não recolhendo completamente para dentro das asas) e um motor radial Pratt & Whitney R-1830 de 850HP. Em fins do ano de 1938 o governo norte-americano iniciaria um ousado programa de reequipamento de seus meios aéreos, lançando uma nova concorrência para o desenvolvimento de um novo caça bombardeiro. Em 1939 em atendimento a esta demanda, a Seversky Aircraft Company projetaria o XP-41, incorporando uma fuselagem de desenho mais limpo (cuja porção traseira era mais alta do que no P-35, e descia do fim da cabine até encontrar a deriva, um perfil que passou a ser conhecido como “razorback”); trem de pouso completamente retrátil; duas metralhadoras .30 polegadas sobre a capota do motor, um Pratt & Whitney R-1830 equipado com turbo compressor, oferecendo 1.150HP de potência e permitindo alcançar uma velocidade de 515  km/h  a uma altura de 15.000 pés. O comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) acabaria por rejeitar esta proposta em função de seu baixo desempenho, sugerindo neste contexto a utilização de um turbo compressor, como o utilizado nos bombardeiros Boeing B-17.Assim os engenheiros Seversky e Kartveli modificariam a fuselagem do XP-41, para abrigar o turbo compressor na sua porção traseira, com a tubulação necessária passando por debaixo da cabine de pilotagem; instalaram ainda duas metralhadoras de calibre .50 nas asas. A nova aeronave receberia a designação YP-43 Lancer, capaz de alcançar 563 km/h a uma altitude de 38.000 pés, sendo aceita para emprego no mesmo ano. Desta maneira seria celebrado um contrato inicial para a aquisição de cinquenta e quatro P-43A Lancer, com a primeira célula sendo entregue ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1940.

Na efervescente década de 1930, marcada por rápidos avanços tecnológicos e pela crescente tensão geopolítica que culminaria na Segunda Guerra Mundial, a Seversky Aircraft Company, posteriormente renomeada Republic Aviation, buscava consolidar sua posição no cenário aeronáutico com projetos inovadores. Um desses esforços foi o XP-44, um caça projetado com características avançadas para a época, como uma cabine mais aerodinâmica e um cubo de hélice que encobria o motor, reduzindo o arrasto aerodinâmico causado pela ampla área frontal dos motores radiais de alta potência. Inicialmente planejado para ser equipado com o motor Pratt & Whitney R-2180 de 1.400 hp, o projeto enfrentou um revés quando o desenvolvimento desse motor foi cancelado, obrigando a Seversky a adotar o mais potente Pratt & Whitney XR-2800 “Double Wasp” de 2.000 hp. As qualidades promissoras do XP-44 impressionaram o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que, em um gesto de confiança, encomendou oitenta células antes mesmo da construção de um protótipo. Contudo, o cenário global mudou drasticamente com a queda da França em junho de 1940, diante da ofensiva alemã. A superioridade dos caças Messerschmitt Bf-109 da Luftwaffe revelou que o XP-44, apesar de suas inovações, não seria capaz de competir com os padrões exigidos pelo novo contexto de guerra moderna. Essa constatação levou ao cancelamento da encomenda, um golpe significativo para a Seversky, que viu seus planos de produção em larga escala frustrados. Determinado a apoiar a continuidade da empresa, o USAAC optou por encomendar oitenta unidades do P-43A Lancer, uma aeronave derivada de projetos anteriores da Seversky. Embora menos avançado que o XP-44, o P-43A oferecia uma solução prática para atender às necessidades imediatas. Em julho de 1941, a Força Aérea da China Nacionalista adquiriu 125 unidades do P-43, das quais 108 foram entregues. As treze células restantes foram incorporadas ao USAAC após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941 e convertidas para missões de reconhecimento fotográfico, recebendo a designação P-43B. Além disso, quatro P-43A e quatro P-43D foram utilizados pela Força Aérea Real Australiana (RAAF) em missões de reconhecimento tático, demonstrando a versatilidade do modelo em papéis secundários, mas essenciais, durante o conflito. Com o cancelamento do XP-44, a Seversky, liderada pelo engenheiro Alexander Kartveli, redirecionou seus esforços para um projeto ainda mais ambicioso: o “Advanced Pursuit Design No. 10” (AP-10), designado pelo USAAC como XP-47. Inicialmente concebido para ser propulsionado pelo motor em linha Allison V-1710 refrigerado a água, o XP-47 enfrentou exigências crescentes do USAAC, que solicitou a inclusão de armamento mais pesado, tanques de combustível auto-selantes, blindagem para o piloto e cabides subalares para cargas externas. Essas modificações, embora necessárias, aumentaram significativamente o peso da aeronave, comprometendo seu desempenho e colocando o projeto em risco de cancelamento por volta de maio de 1940.

Diante desse desafio, a equipe de engenheiros da Seversky demonstrou notável resiliência. Em tempo recorde, foi apresentada uma proposta revisada, o XP-47A, que buscava atender às expectativas do USAAC. Contudo, a nova versão ainda não alcançava os parâmetros necessários para rivalizar com os caças alemães, resultando em sua rejeição. Correndo contra o tempo e sob pressão para oferecer uma solução competitiva, os engenheiros voltaram às pranchetas e desenvolveram um projeto completamente novo, o XP-47B. Essa aeronave representava um salto significativo em relação às propostas anteriores, incorporando inovações que pavimentariam o caminho para o icônico Republic P-47 Thunderbolt, um dos caças mais bem-sucedidos da Segunda Guerra Mundial. Este projeto apresentava uma construção toda em metal (exceto para as superfícies de controle da cauda que eram cobertas de tecido) asas elípticas, e um bordo de ataque direto ligeiramente deslocado para traz.  Dispunha de uma cabine espaçosa com um certo nível de proteção blindada e um confortável assento para o piloto, tanques de combustível auto selantes completavam o pacote de segurança para a aeronave. Seu motor era o confiável Pratt & Whitney R-2800 Duplo Wasp de 18 cilindros produzindo 2.000 hp (1.500 kW) de potência, com turbo compressor, proporcionando uma velocidade máxima superior a 6443 km/h e um teto de serviço próximo de 40.000 pés.  Na verdade, o XP-47 foi projetado em torno do conjunto motor-turbocompressor, este último montado atrás do piloto. As enormes dimensões do novo caça – “será um dinossauro, mas um dinossauro bem proporcionado”, segundo Kartveli – eram ditadas justamente pelo uso daquele conjunto. O primeiro vôo foi realizado em 6 de maio de 1941, e a aeronave apresentava uma cabine com cobertura transparente fixa, e o piloto ingressava na cabine através de uma porta. Após a solução de pequenos problemas de projeto, a aeronave receberia a sinalização para sua produção em série, com este modelo recebendo a designação oficial de Republic P-47B Thunderbolt, com as primeiras células sendo entregues as unidades operativas em dezembro de 1941. O envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial clarificaria as potencialidades da aeronave, classificando o modelo como de vital importância para o esforço de guerra aliado. Neste momento seria concebida a versão P-47C, que apesar ser esteticamente igual, diferia dos primeiros modelos por contar com reforços em todas as superfícies de controle de metal, mastro de rádio vertical curto, passando ainda a ser dotado com um sistema regulador para o turbo compressor. um contrato seria celebrado para a produção de mais de seiscentas aeronaves. com as primeiras células sendo entregues em setembro de 1942. Após a montagem das primeiras cinquenta e sete aeronaves, melhorias de projeto correlatas seriam aplicadas, com produção sendo alterada para o modelo Republic P-47C-1, com a construção de cinquenta e cinco unidades, que seriam seguidas por mais cento e vinte células, agora da versão Republic P-47C-2, que passava a contar com um ponto duro sob a linha central para transporte de bombas ou tanques suplementares.  

Em novembro do mesmo ano uma nova variante, o P-47C-5 que introduziria o novo motor Pratt & Whitney R-2800-59 equipado com sistema de injeção de água-metanol para assim proporcionar um aumento na potência final. No final de 1942, o comando do Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), concluiu que a maioria dos problemas presentes nas primeiras versões, haviam sido resolvidos, levando a decisão de se enviar para a Inglaterra o 56 º Grupo de Caça (Fighter Group) com seus novos Republic P-47C-5 Thunderbolt, para assim se juntar aos efetivos da 8º Oitava Força Aérea, naquele front de batalha europeu. Desde o início de seu projeto, o Republic P-47 Thunderbolt, estava armado com oito metralhadoras Browning M-2 12,7 mm (calibre.50) com 2.500 cartuchos de munição de vários tipos, concedendo a aeronave um excelente poder ofensivo, não só em missões ar ar, mas também em tarefas de ataque ao solo. A primeira missão de combate do  Republic P-47 Thunderbolt ocorreria em 10 de março de 1943, quando um grupo destas aeronaves foi empregado em uma varredura de caça sobre a França, já a primeira vitória ocorreria em 15 de abril, quando o Major Don Blakeslee abateu um Focke-Wulf FW 190. As experiências colhidas em batalha neste período inicial, levariam a novos refinamentos de projeto, culminando então na versão Republic P-47D Thunderbolt, que logo seria liberada para a produção em série. As primeiras aeronaves produzidas deste novo modelo, eram em sua essência muito semelhantes ao P-47C, sendo entregues dez células iniciais que receberiam a designação de P-47D-1-RA. A adição do sufixo final na designação do modelo fazia referência a unidade fabril produtora, sendo o sufixo "RE" destinado as aeronaves originarias da planta de Farmingdale, em Long Island, e o "RA" referente as produzidas em Evansville, Indiana. O modelo P-47D na verdade consistia em uma série de blocos de produção em evolução, sendo que o último deles era visivelmente diferente do primeiro, sendo que as subversões P-47D-1 a P-47D-6, o P-47D-10 e o P-47D-11 incorporariam sucessivamente mudanças tais como a adição de mais flaps de refrigeração do motor ao redor do dorso do capuz para reduzir o sobreaquecimento do motor, problemas que tinham sido observados no campo. Já o P-47D-15 seria produzido em resposta a solicitações dos grupos de caça da norte-americanos e britânicos em atendimento a necessidade de ampliação de alcance, incluindo sistemas de combustível sob pressão para drenar combustível dos tanques subalares. Já os P-47D-16, D-20, D-22 e D-23 eram semelhantes aos P-47D-15 contando apenas com sistema de combustível melhorado, subsistemas do motor e inclusão do motor Pratt & Whitney R-2800-59 a partir da versão P-47D-20. As primeiras versões – P-47B, C, D-1 até D-23 e G (variante C construída pela Curtiss) – tinham a fuselagem traseira “razorback”, e um canopi com pesadas molduras, deslizante, que prejudicava a visão para trás, impedindo o piloto de avistar com antecedência possíveis ameaças neste ângulo. A partir da versão P-47D-25 Thunderbolt, uma capota em bolha (“bubbletop”), oferecendo visão irrestrita, foi instalada, com a fuselagem traseira recortada (o primeiro P-47 modificado dessa maneira foi conhecido como o protótipo XP-47K).
A partir de 1944, as versões “bubbletop” do P-47, caracterizadas pela cabine em formato de bolha que melhorava a visibilidade do piloto, começaram a ser entregues às unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Contudo, a redução da área da fuselagem traseira nessas configurações comprometeu a estabilidade direcional, levando à introdução de uma quilha dorsal à frente da deriva, a partir da variante D-40. Essa modificação foi aplicada retroativamente às versões D-25, D-27, D-28 e D-30 por meio de kits de campo, garantindo maior controle em voo e corrigindo as deficiências aerodinâmicas identificadas. A variante P-47M foi desenvolvida com o objetivo específico de melhorar o desempenho e competir com os novos caças alemães, como o Messerschmitt Me 262 e o Focke-Wulf Fw 190D, introduzidos no final da guerra. Equipada com um motor Pratt & Whitney R-2800 mais potente e reduzida a seis metralhadoras de 12,7 mm (em vez das oito padrão), a P-47M oferecia maior velocidade, mas foi adotada por apenas um grupo de caça da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) devido à sua introdução tardia no conflito. Já a variante P-47N, projetada para operações no teatro do Pacífico, foi otimizada para longas distâncias, essencial para escoltar os bombardeiros Boeing B-29 Superfortress em missões sobre as ilhas japonesas. A P-47N distinguia-se por sua asa de plataforma semi-elíptica, inspirada em caças britânicos como o Hawker Tempest e o Vickers-Supermarine Spitfire Mk. 21, e por uma quilha dorsal de maiores dimensões, que aprimorava a estabilidade em voos prolongados. O P-47 Thunderbolt destacou-se como o principal caça-bombardeiro da USAAF, especialmente em missões de ataque ao solo, onde sua capacidade de carregar bombas de 230 kg e 450 kg, foguetes M8 de 4,5 polegadas (115 mm) e foguetes de alta velocidade (HVARs) de 5 polegadas (130 mm) o tornava uma arma formidável. Entre junho de 1944 e maio de 1945, pilotos de P-47s reivindicaram a destruição de aproximadamente 86.000 vagões ferroviários, 9.000 locomotivas, 6.000 veículos blindados de combate e 68.000 caminhões, desempenhando um papel crucial no desmantelamento da infraestrutura militar do Eixo. Essas façanhas refletem não apenas a potência do Thunderbolt, mas também a coragem e a habilidade dos pilotos que enfrentaram intensos combates antiaéreos e caças inimigos. Além dos Estados Unidos, o P-47 foi amplamente utilizado por forças aliadas, incluindo a Grã-Bretanha (especialmente no Sudeste Asiático), a França Livre, a União Soviética, o México e o Brasil. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o P-47 continuou a servir em forças aéreas de diversos países, incluindo Bolívia, Chile, China Nacionalista, Colômbia, Equador, Honduras, Irã, Itália, Iugoslávia, Nicarágua, Peru, Portugal, República Dominicana, Turquia e Venezuela. Sua robustez e versatilidade garantiram sua operação até a segunda metade da década de 1950 em algumas nações, especialmente em papéis de treinamento e apoio tático

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942.  Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats)  e italianos, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global. 

O Brasil, alinhado aos Aliados, assumiu um papel estratégico na defesa do Atlântico Sul, protegendo comboios marítimos, a necessidade de modernização levou à formulação de um programa de reequipamento em fases, priorizando aeronaves de treinamento para formar pilotos e, em seguida, aviões de patrulha para proteger comboios, e por fim aeronaves de caça e de transporte.  A partir de 1942, o país começou a receber centenas de aeronaves americanas de alta performance, como os caças Curtiss P-40 Warhawk, os bombardeiros Douglas A-20 Havoc e os treinadores North American T-6 Texan. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações, operando em conjunto com duas unidades áreas, uma de observação e ligação e outra de caça bombardeio. Para atendimento a este acordo, seria criado em 18 de dezembro de 1943, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), que faria parte da dotação do 350º Grupo de Caça (Fighter Group) da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), sendo definido o caça bombardeio Republic P-47D Thunderbolt com seu principal vetor de ataque. Após o treinamento em Aguadulce, Panamá, com aeronaves Curtiss P-40 Warhawk, os participantes deste grupo seriam transladados para a Base Aérea de Suffolk em Nova Iorque, lá os pilotos e equipes de terra, tomariam seu primeiro contato com o Republic P-47D Thunderbolt, o vetor a ser empregado no front aéreo de batalha na Europa. A conversão operacional, idêntica à realizada por qualquer piloto de caça norte-americano, à época, teve uma duração média de setenta horas para cada piloto, após o qual foram considerados aptos a utilizarem-no em combate. Após este processo, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca) se deslocou por via naval para a Itália, aonde chegariam no dia 06 de outubro de 1944. Os primeiros P-47D Thunderbolt foram coletados pelos próprios pilotos brasileiros e transportados até a base de Tarquínia. Essas aeronaves pertenciam ao lote destinado à Força Aérea Brasileira, com sessenta e oito P-47D Thunderbolt, já pintados com as insígnias da nacionais, dos quais trinta e um foram entregues no início da campanha, destes, quinze células eram da versão da Republic P-47D-RE-25, e passaram a ostentar as designações "A3" , "A4", "D2", "B1", "C1", "C6" , "B1", "B3","B4","B5" e "D6", cabendo também a esta versão a aeronave empregada pelo comandante  da unidade Coronel Nero Moura o P-47D “1”.  As aeronaves restantes permaneceram armazenados no “Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations”, em Nápoles, um depósito que atendia às unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), baseadas no Teatro de Operações do Mediterrâneo. Começando suas operações aéreas em 31 de outubro de 1944, durante as primeiras missões os pilotos brasileiros voavam, individualmente, agregados a esquadrilhas dos outros três esquadrões norte-americanos 345 th Fighter Squadron (Grupo de Caça), 346 th FS e 347 th FS que compunham, junto com o grupo brasileiro, o 350º Grupo de Caça (Fighter Group).
À medida que os pilotos brasileiros iam adquirindo experiência operacional, eram destacados para missões cada vez mais difíceis sobre o front italiano. Em 6 de novembro, faleceu em combate o 2º Tenente Aviador John Richardson Cordeiro e Silva, abatido pela “flak” (artilharia) alemã nas imediações de Pianoro, ao voar em missão como o número quatro de uma esquadrilha do 347th FS. Ao final da manhã do dia seguinte, faleceu o 2º Tenente Aviador Oldegard Olsen Sapucaia, em vôo de treinamento, quando os controles de seu Republic P-47D-25-RE travaram, ao efetuas manobras evasivas simuladas. A aeronave encontrava-se em parafuso invertido a 450 metros do solo quando o 2º Tenente Aviador. Sapucaia saltou, mas o paraquedas não abriu completamente. Dois dias depois, surgiria a explicação para o acidente: a seção de manutenção recebeu um boletim de ordem técnica, onde se alertava para o fato de que os Republic P-47D-25/D-27/D-28 Thunderbolt não deveriam ser submetidos a manobras não coordenadas de aileron e leme, pois este último poderia travar na direção de sua aplicação, seguido de incontrolável giro no eixo lateral, levando a um parafuso invertido. Esse fenômeno era causado pela perda de área da fuselagem traseira nas primeiras versões “bubbletop”, conforme citado anteriormente. Como as quilhas dorsais só eram instaladas quando da implementação de revisões de maior envergadura, quer eram realizadas, junto ao 80º Esquadrão de Manutenção em Cericola, assim seriam poucos os P-47D  Thunderbolts brasileiros que receberam essa modificação. As missões a serem realizadas pelo 1º Grupo de Aviação de Caça, eram basicamente de dois tipos: ataque ao solo e escolta de bombardeiros (com esta última ocorrendo com baixa incidência em virtude do estágio final do conflito). No primeiro tipo de emprego, eram equipados com bombas de emprego geral AN/M43 de 500lb (227 Kg), de fragmentação de 260lb (118 Kg) ou de 90lb (40 Kg), ou ainda as FTI (“Fuel Tank Incendiary”), as quais eram tanques de combustível de 90 galões (340 litros), 110 galões (416 litros) ou 165 galões (624 litros), equipados com espoletas e preenchidos com gasolina de aviação e compostos químicos para tornar gelatinosa a consistência da gasolina. As FTI (“Fuel Tank Incendiary”), eram altamente eficientes contra concentrações veículos e de tropas. Um outro armamento utilizado foram os foguetes antitanque M-8A2 de 4,5 polegadas, disparados de tubos M-10, instalados em triplas sob as asas; não tiveram sucesso, no entanto, pois os M-8A2 eram altamente imprecisos, além do prejuízo causado às características aerodinâmicas dos P-47 Thunderbolt pela instalação daqueles tubos. Nas missões de escolta, estes caças bombardeiros valiam-se de seu pesado armamento de oito metralhadoras de 12,7mm nas asas, além de levarem tanques alijáveis de combustível sob as asas, a fim de aumentar o seu raio de ação e permitir que acompanhassem os bombardeiros aliados até a fronteira com a Áustria, o Passo de Brenner sendo um dos alvos prediletos. 

Pelo menos três P-47D brasileiros receberam a instalação de uma câmera fotográfica K-25A, oblíqua, colocada no bordo de ataque do cabide subalar esquerdo. Esta modificação seria feita pelos próprios mecânicos brasileiros, e propiciavam a obtenção de fotos após o ataque – tomadas normalmente pela aeronave número quatro, a última a mergulhar para o bombardeio às posições inimigas e, assim, capaz de fotografar o efeito das bombas lançadas pelas outras aeronaves da esquadrilha. Pela mesma razão, recebiam todo a atenção da artilharia antiaérea “flak” alemã, tornando-as ainda mais arriscadas. O mais eficiente piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça  (Gp Av Ca) e do 350 º Grupo de Caça norte-americano  foi o 2º Tenente Aviador Pedro de Lima Mendes, integrante da esquadrilha Azul brasileira. Cabe ressaltar a extrema dedicação e capacidade do pessoal de terra do esquadrão, como demonstram a taxa média de aeronaves disponíveis diariamente – 81% – e que nunca foi inferior a 77%, uma das mais altas taxas dentre as unidades sob controle norte-americano na área. Muitos do Republics P-47D Thunderbolts retornavam de suas missões com avarias, causadas principalmente pela “flak” alemã, e eram prontamente reparadas para as próximas missões. Com o encerrar das hostilidades na Itália, a 3 de maio de 1945, o comando do grupo brasileiro pôde fazer o balanço de suas atividades: foram 2.546 surtidas ofensivas e quatro defensivas, em um total de 445 missões em 184 dias de operação. Seus pilotos, pela falta de substitutos para recomplementar o efetivo, cumpririam um grande número de missões, vários deles superando oitenta missões de combate. Mesmo tendo sido responsável por apenas 5% do total de missões montadas pelo XXII Comando Aéreo Tático (Tactical Air Command), seria responsável pela destruição de 85% dos depósitos de munições, 36% dos depósitos de combustível, 28% das pontes (19% danificadas), 15% dos veículos motorizados (13% danificados) e 10% dos veículos hipomóveis (10% danificados). Mas o preço pago foi alto: de um total de quarenta e oito pilotos, cinco foram mortos em combate, quatro em acidentes aéreos (um deles ainda no Panamá, durante o treinamento), cinco foram abatidos e feitos prisioneiros de guerra, três foram abatidos e receberam proteção dos “partigiani” italianos e outros sete foram afastados por motivos de saúde. Em junho de 1945, todos os vinte e seis P-47D Thunderbolt que estavam em poder do 1° GAvCa foram levados em vôo até Capodichino, ao AAFSC/MTO (Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations), onde foram desmontados e enviados por via terrestre para Nápoles, para serem embarcados para o Brasil. No traslado, o P-47D-27-RE n° 42-26788 acidentou-se durante o pouso em Capodichino, sendo considerado perda total. As vinte e cinco aeronaves restantes foram desmontadas encaixotadas e embarcadas e transportadas ao Brasil no navio de transporte de tropas USS W. S. Jennings. O pessoal de terra e parte dos oficiais aviadores voltaram para o Brasil a bordo do navio de transporte de tropas norte-americano USS General M. C. Meigs (AP-116), navio encarregado de conduzir o 1° Escalão da Força Expedicionária Brasileira, embarcando no porto de Nápoles no dia 06 de julho de 1945. 
Uma equipe de vinte pilotos seria escolhida para se deslocar por via aérea aos Estados Unidos em aeronaves de transporte da da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), para receberem dezenove P-47D-30-RA novos, equipados com o que de mais avançado existia, à época: miras K-14B, cabides subalares S-1 de maior capacidade, radar de alerta AN/APS-13 (para detecção de aeronaves aproximando-se no quadrante traseiro da aeronave, em um cone de 60° e um alcance de 8Km); equipamento para roupas anti-G e provisão para instalação de cinco foguetes HVAR de 127mm em cabides subalares “zero-length” (isto é, sem trilhos para os foguetes). Esses P-47D-30 chegaram ao Brasil em julho de 1945, antes mesmo dos P-47D embarcados da Itália, e vieram a equipar o 1º Gp Av Ca no pós-guerra. Já os Republic P-47D Thunderbolts veteranos da Campanha na Itália chegaram ao Brasil logo em seguida, sendo montados no Galeão, para serem transladados em voo até a Base Aérea de Santa Cruz, para serem alocados junto ao  2º Grupo de Caça (Gp Ca), unidade criada em 17 de agosto de 1944 na Base Aérea de Natal e transferida em outubro para o Rio de Janeiro, estando inicialmente equipados com aeronaves Curtiss P-40 Warhawk.  Com o reequipamento desta nova unidade com os P-47D Thunderbolt, e novas turmas de pilotos necessitando serem treinadas nos P-47, decidiu-se que, após passarem por rigoroso treinamento em aeronaves North-American AT-6D no Estágio de Seleção de Pilotos de Caça – ESPC, os pilotos selecionados seriam transferidos ao 2º Grupo de Caça (Gp Ca), para a conversão operacional para o P-47D. Neste momento restavam poucas células ativas ainda do modelo inicial Republic P-47D-RE-25, que conviviam com as versões posteriores. Em 1949, os esquadrões de caça sediados na BASC recuperaram sua designação original, passando a serem conhecidos como 1º/1º e  2º/1º  Grupos de Aviação de Caça. Em 13 de outubro de 1952, os P-47 Thunderbolts seriam  redesignados como F-47, nesta época, restavam poucas células disponíveis, devido à falta de peças de reposição, até mesmo de pneus. Desde o início de sua operação no Brasil, vinte quatro aeronaves haviam sido perdidas em acidentes. Assim, em 1953 seriam adquiridos outros vinte e cinci P-47D-30-RA, através do Programa de Defesa de Assistência Mútua (Mutual Defense Assistance Program). A introdução do jato Gloster Meteor F-8 em 1953, determinaria a transferência dos  Republic P-47D Thunderbolts para o 3º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca). Nesta fase restavam em voo somente cinco células do modelo P-47D-RE-25, com das demais estocadas ou perdidas em acidentes, sendo todas descarregadas do inventario da Força Aérea Brasileira em 17 de março de 1958.

Em Escala.
Para representarmos o P-47D-RE-25 "C-1 226762" pertencente 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), pilotado pelo Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira (56 missões) durante a campanha da Itália,   empregamos o excelente kit da Academy na escala 1/48 embalado pela HTC Modelismo. Este modelo pode ser montado direto da caixa sem a necessidade de qualquer alteração para assim se representar a versão brasileira operada na Itália, antes da adoção uma quilha dorsal. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM  Decals que estão presentes originalmente neste kit.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado na maioria das aeronaves recebidas no teatro de operações Italiano, sendo que apenas três das quinze aeronaves foram recebidas sem qualquer esquema de camuflagem. Após o regresso ao Brasil as células mantiveram o padrão original até passarem pelo processo de revisão em âmbito de parque, quando passaram a adotar a pintura em metal natural com aplicação de verde oliva para parte superior frontal para evitar reflexos, este último padrão foi mantido até a desativação do modelo no ano de 1958.

Bibliografia :
- O Trator Voador por Jackson Flores Junior- Revista Força Aérea Nº 2
-  P-47D Thunderbolt - Wikipédia http://en.wikipedia.org/wiki/Republic_P-47_Thunderbolt
-  Republic P-47 Thunderbolt na FAB por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 62
-  Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr

Jeep MB Willys Ambulância (VE)

Historia e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas. As iniciativas para conceber esse novo utilitário envolveram colaboração estreita entre militares e a indústria automotiva, mas enfrentaram desafios técnicos e orçamentários. O conceito definitivo começou a tomar forma no início de 1932, sob a liderança do Coronel Robert G. Howie, comandante da 7ª Companhia de Tanques, sediada em Fort Snelling, Minnesota. Como defensor fervoroso da motomecanização total da Força Terrestre, Howie possuía uma visão clara das necessidades operacionais em um novo espectro de combate. Sua experiência prática e compreensão estratégica foram fundamentais para o avanço do projeto. Sob sua supervisão, o primeiro protótipo funcional foi construído nas oficinas do Fort Sam Houston, no Texas. Submetido a rigorosos testes de campo, o veículo demonstrou resultados promissores, comprovando sua capacidade de operar em terrenos difíceis e atender às exigências táticas. Esses testes reforçaram a confiança do comando do Exército na viabilidade do conceito, levando à decisão de alocar recursos para a produção de um lote pré-série de setenta veículos. Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. Conhecida por sua agilidade na fabricação de veículos leves, a Bantam entregou os primeiros utilitários a partir de meados de 1938, destinando-os ao Quartel-General do Departamento do Exército, localizado no Fort Holabird, em Baltimore, Maryland. Com uma frota inicial à disposição, o Exército ampliou a abrangência de seu programa de testes, avaliando o desempenho dos veículos em diversos terrenos e condições operacionais. Esse processo foi crucial não apenas para validar o projeto, mas também para iniciar a formatação de uma doutrina de emprego operacional para utilitários leves 4x4. Esses testes estabeleceram as bases para o desenvolvimento do que viria a ser o Jeep, um ícone militar que revolucionaria a mobilidade tática na Segunda Guerra Mundial.

No âmbito de um abrangente programa de testes de campo conduzido no final da década de 1930, o Exército dos Estados Unidos (US Army) verificou que o novo veículo utilitário leve com tração integral 4x4 apresentava um potencial excepcional para ampliar a mobilidade da Força Terrestre. Capaz de operar com eficácia em uma ampla gama de ambientes fora de estrada (off-road), o veículo demonstrou versatilidade em diversas tarefas, superando obstáculos naturais e garantindo o transporte eficiente de até quatro soldados totalmente equipados. Esses resultados consolidaram a convicção do comando do Exército de que o utilitário representava um avanço estratégico crucial para a mecanização das forças armadas, levando à decisão de adotá-lo em larga escala. Com base nos testes bem-sucedidos,  lançou-se, em 1940, uma concorrência formal para a produção em série do veículo utilitário leve 4x4. O processo foi estruturado com rigor, envolvendo a emissão de convites a mais de cem empresas da indústria automotiva norte-americana. As participantes deveriam apresentar propostas técnicas e comerciais detalhadas, acompanhadas de protótipos funcionais que atendessem às especificações. A concorrência visava assegurar que o veículo final combinasse robustez, confiabilidade e capacidade de manufatura em larga escala, alinhando-se às necessidades operacionais . O aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul, impulsionado pela ascensão da Alemanha Nazista e do Império do Japão, alterou drasticamente o contexto da concorrência. A iminência de um conflito global tornou evidente a necessidade urgente de reequipar as forças armadas norte-americanas para enfrentar potenciais ameaças. Em resposta o comando do Exército revisou o cronograma original, estabelecendo um prazo excepcionalmente curto de 49 dias para a apresentação de protótipos funcionais. Essa exigência refletia a pressão para acelerar o processo, mas também impôs desafios significativos às empresas concorrentes. Das mais de cem empresas convidadas, apenas três aceitaram o desafio de desenvolver um protótipo dentro do prazo estipulado: a Ford Motor Company, a American Bantam Car Company e a Willys-Overland Company. A American Bantam, uma pequena montadora da Pensilvânia com experiência em veículos leves, foi a única a cumprir o prazo, entregando um protótipo funcional em setembro de 1940. Denominado Bantam Reconnaissance Car (BRC), o veículo foi submetido a testes comparativos rigorosos, demonstrando desempenho excepcional em mobilidade, resistência e adequação às especificações militares. Embora o protótipo da Bantam tivesse obtido êxito nos testes, o comando do Exército, ciente da necessidade emergencial de produção em grande escala, optou por aprovar também as propostas da Ford e da Willys-Overland. Essa decisão foi motivada pela capacidade industrial limitada da Bantam, que não poderia atender sozinha à demanda militar em tempo hábil. Os testes comparativos entre os protótipos resultaram em melhorias significativas no projeto original, incorporando sugestões das três montadoras. 
O modelo pré-série Bantam BRC, desenvolvido pela American Bantam Car Company, apresentava um design traseiro que evocava os padrões estilísticos dos automóveis da década de 1930, aliado a características técnicas cuidadosamente projetadas para atender às exigências militares. Com tração 4x4, suspensão reforçada e capacidade de carga de ¼ de tonelada, o BRC foi concebido para oferecer robustez e versatilidade em operações de campo. Embora os protótipos apresentados pela Bantam, Ford Motor Company e Willys-Overland Company tenham sido inicialmente aprovados, pairavam dúvidas sobre a viabilidade dos projetos concorrentes das duas últimas empresas. Para dirimir essas incertezas, o Exército dos Estados Unidos (US Army) promoveu uma nova rodada de testes de campo, conduzida entre 27 de setembro e 16 de outubro de 1940, nos campos de prova do Quartel-General do Departamento do Exército. Durante esses ensaios, o Bantam BRC destacou-se novamente, impressionando engenheiros e militares por seu desempenho excepcional. Esse resultado levou o Exército a reconsiderar a ideia inicial de produzir três modelos distintos, inclinando-se, em um primeiro momento, a favor do projeto da Bantam. Em 31 de março de 1941, foi firmado um contrato com a American Bantam Car Company para a fabricação de 1.500 unidades do modelo BRC 40. No entanto, ficou evidente que a Bantam não dispunha da capacidade industrial nem da solidez financeira necessárias para atender à demanda de produção em larga escala exigida pelo cronograma militar. Diante dessa limitação, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos tomou uma decisão polêmica: transferir o projeto e as plantas originais do BRC 40 para a Ford Motor Company e a Willys-Overland Company. Essa medida permitiu que ambas as empresas desenvolvessem suas próprias versões do veículo utilitário, incorporando melhorias com base no protótipo da Bantam. Surpreendentemente, essa decisão, considerada arbitrária, não foi contestada pela diretoria da Bantam, possivelmente devido à frágil situação financeira da empresa à época. Como uma possível compensação, a American Bantam Car Company foi contemplada com contratos para a produção de componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (totalizando mais de 70 mil unidades) e também torpedos para a Marinha Real Britânica (Royal Navy). Essa estratégia assegurou a sobrevivência da empresa, ainda que sua contribuição central para o desenvolvimento do Jeep tenha sido ofuscada pelo sucesso posterior dos modelos produzidos pela Ford e Willys. Em agosto de 1941, o Exército dos Estados Unidos (US Army) assinou um novo contrato com a Willys-Overland Company para a produção de mais 16.000 veículos, designados pela montadora como MA Quad (posteriormente evoluindo para o modelo MB). 

A Willys-Overland foi selecionada para a produção em larga escala do Jeep devido à sua capacidade industrial e às melhorias incorporadas ao projeto, destacando-se o motor Willys Go-Devil, reconhecido por sua maior potência e confiabilidade. Nos meses subsequentes, novos contratos foram celebrados, mas a Ford Motor Company emergiu como a principal fornecedora, recebendo, até o final de 1945, as maiores encomendas para a fabricação do veículo. O modelo produzido pela Ford foi oficialmente designado como Ford G.P.W (General Purpose Willys, ou veículo de uso geral), compartilhando componentes e design com o Willys MB, mas fabricado em escala massiva nas instalações industriais da Ford. No Exército dos Estados Unidos (US Army), os condutores começaram a chamar o veículo pelo acrônimo “GP”, derivado de General Purpose (propósito geral), que, na pronúncia em inglês, soava como “Jeep”. Esse termo rapidamente ganhou popularidade entre os soldados, que viam no veículo um símbolo de agilidade e versatilidade. Curiosamente, a palavra “Jeep” também evocava Eugene the Jeep, um carismático personagem das tiras de quadrinhos do marinheiro Popeye, criado na década de 1930. Eugene, o animal de estimação de Olivia Palito, era conhecido por suas habilidades extraordinárias, como caminhar por paredes e tetos, o que ressoava com a robustez e a capacidade do veículo em superar desafios. Inspirados pela popularidade do desenho animado, os soldados passaram a chamar seus veículos de “Jeep”, associando-os à força e à versatilidade do personagem. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!) tornou-se comum para elogiar pessoas com habilidades físicas excepcionais, consolidando o termo como um ícone cultural. Assim, nasceu um dos nomes mais emblemáticos da história automotiva mundial. À medida que as montadoras intensificavam a produção, o Jeep foi incorporado em número crescente às frotas das unidades militares norte-americanas. O batismo de fogo do Ford G.P.W ocorreu em 1942, com sua introdução em operações nos teatros do Pacífico Sul e do Norte da África. No Pacífico, o Ford G.P.W foi empregado em campanhas contra as forças do Exército do Império do Japão, desempenhando papéis vitais em missões de reconhecimento, transporte de tropas e suprimentos, e até como base improvisada para armamentos leves. Um dos primeiros registros de seu uso em combate foi durante as operações nas ilhas do Pacífico, onde sua capacidade de navegar por terrenos acidentados e lamacentos provou ser indispensável. No Norte da África, durante a Operação Torch (invasão aliada em novembro de 1942), o Ford G.P.W foi amplamente utilizado pelas forças norte-americanas e britânicas, enfrentando as duras condições do deserto e contribuindo para a mobilidade das tropas em cenários desafiadores. Embora não tenham sido originalmente concebidos para atuar como ambulâncias, os Jeeps revelaram-se excepcionalmente adequados para a evacuação de soldados feridos em zonas de combate, graças a seu tamanho compacto, baixo perfil e notável capacidade de transpor terrenos acidentados. Durante a Segunda Guerra Mundial, a disponibilidade de Jeeps superava em muito a de ambulâncias tradicionais, como os modelos Dodge e International, o que levou à sua utilização improvisada para o transporte de feridos. Inicialmente, os Jeeps eram usados sem modificações significativas: macas eram posicionadas sobre as seções traseiras e capôs, fixadas da melhor forma possível, enquanto pacientes ambulatoriais se acomodavam onde havia espaço. Essa solução, embora rudimentar, demonstrou a versatilidade do veículo e sua importância para salvar vidas em condições adversas. À medida que o conflito avançava nas frentes europeia e do Pacífico, modificações realizadas em campo aprimoraram o conforto e a segurança no transporte de macas. No teatro do Pacífico, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) reconheceu rapidamente o potencial do Jeep como ambulância. Esse reconhecimento culminou em um contrato com a fábrica da General Motors-Holden, em Melbourne, Austrália, para a conversão de Jeeps em ambulâncias dedicadas. Conhecidos como “Holden Jeeps”, esses veículos foram os primeiros a serem produzidos em larga escala especificamente para essa função. As modificações incluíam uma estrutura de tubos e ferro angular para suportar um gabinete de lona, com suportes para duas macas e assentos traseiros para dois pacientes ambulatoriais. Uma pequena porta no lado esquerdo do painel traseiro facilitava o acesso, enquanto um compartimento para suprimentos médicos foi construído no lado direito da carroceria, estendendo-se até a área normalmente reservada ao passageiro dianteiro. O para-brisa foi ajustado verticalmente, e a roda sobressalente passou a ser fixada no capô, otimizando o espaço. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os Jeeps adaptados como ambulâncias continuaram a desempenhar um papel vital durante a Guerra da Coreia (1950-1953), onde sua eficácia operacional foi novamente comprovada. Esse sucesso levou o comando do Exército dos Estados Unidos a solicitar à Willys-Overland Company o desenvolvimento de um modelo sucessor. O resultado foi o CJ-4MA-01, baseado na plataforma do M-38, mas com uma maior distância entre eixos, projetado para atender às necessidades específicas de evacuação médica. Adotado em larga escala, o CJ-4MA-01 substituiu gradualmente os veteranos Jeeps ambulância, consolidando o legado desses veículos como instrumentos indispensáveis tanto em tempos de guerra quanto na história da assistência médica em cenários de combate. Os Jeeps ambulância transcenderam sua função original, tornando-se símbolos de resiliência e inovação. Para os soldados que dependiam deles, esses veículos representavam esperança em meio ao caos, conectando a linha de frente aos cuidados médicos e salvando inúmeras vidas com sua capacidade de enfrentar os desafios mais extremos.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Os contratos inicialmente firmados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army), existindo relatos de alguns modelos raríssimos como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizaria-se assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando seus veículos usados para exportação. O advento do recebimento destes carros e sua operação no Brasil, em muito contribuiria no processo de implantação do programa de motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos utilitários leves com tração integral deste porte, se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. Uma pequena parcela destes novos utilitários norte-americanos seria ainda cedida a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil para o emprego em missões administrativas, transporte de pilotos ou de remoção médica.
Em 13 de agosto de 1943, foi instituída a Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma unidade composta por cerca de 25.000 militares, estruturada para operar em sintonia com os padrões de alta mobilidade do Exército dos Estados Unidos. A FEB contava com uma organização robusta, incluindo quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para missões de ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, uma companhia de comunicações, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia militar e, como símbolo de união e moral, uma banda de música. Para atender às exigências de mobilidade no teatro de operações italiano, a FEB foi equipada com uma frota significativa, incluindo 660 utilitários leves com tração integral 4x4, conhecidos como Jeeps. Muitos desses veículos, tanto leves quanto médios, eram “veteranos de guerra”, tendo sido intensamente utilizados em campanhas na Sicília e no Norte da África. A cessão de equipamentos usados ao Brasil, muitas vezes em condições precárias, refletia a estratégia dos Estados Unidos de priorizar recursos novos para a Operação Overlord, a invasão da França em junho de 1944, conhecida como o “Dia D”. Apesar disso, os Jeeps demonstraram resiliência e versatilidade, desempenhando um papel crucial nas operações da FEB. No âmbito do Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira (FEB) , composto por um Batalhão de Saúde e um Destacamento de Saúde, parte dessa frota de Jeeps foi destinada a missões vitais de evacuação de feridos. Essas operações seguiam uma sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização, começando na linha de frente. A mobilidade era essencial nesse contexto, envolvendo padioleiros no campo de batalha e veículos para transporte imediato até os Postos de Saúde (PS). Nessas unidades, realizava-se a triagem, a estabilização inicial de feridos graves, o tratamento de lesões leves que permitissem o retorno ao combate e medidas de saúde preventiva. Alinhada à doutrina operacional norte-americana, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) empregava dois tipos de viaturas para essas missões. Os Jeeps Willys MB “Holden Jeeps”, adaptados como ambulâncias de campanha, eram responsáveis pelo transporte inicial de feridos diretamente do front até os Postos de Saúde, oferecendo agilidade em terrenos difíceis. Para casos que exigiam evacuação para Postos de Atendimento Avançados (PAAs), operados pelas Companhias de Saúde Avançadas do Batalhão de Saúde (2º Escalão), entravam em ação as ambulâncias especializadas Dodge WC-54. Essas viaturas proporcionavam maior conforto e assistência durante o transporte, garantindo cuidados mais avançados aos feridos. 

No entanto, em um contexto geral  a frota total destes utilitários leves  que fora fornecida ao Exército Brasileiro para emprego pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), se apresentavam em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), com este fato se repetindo na frota de jipes Willys MB "Holden Jeeps" Ambulância, sendo recebidos apenas nove unidades destes importantes veículos. Após o batismo de fogo das tropas brasileiras verificar-se-ia a necessidade de se contar mais carros deste tipo junto ao Serviço de Saúde e seus Batalhões de Saúde. Esta demanda levaria a improvisação, com mais pelo menos trinta jipes Willys MB 1942 sendo adaptados localmente para o emprego em tarefas de remoção médica, com estas soluções,  indo deste a configuração básica para transporte de dois feridos (sem profundas alterações na carroceria), onde se procedia a colocação de uma padiola atravessada na parte detrás da viatura com os punhos assentados nas laterais do veículo. E a versão mais customizada com um suporte próprio para esta padiola instaladas na carroceria, com seus punhos apoiados na primeira padiola e no para-brisa deitado. Neste momento estes veículos passavam a ostentar as marcações da cruz vermelha em suas carrocerias, seguindo o padrão empregado nas demais viaturas especializadas nas tarefas de remoção e aplicação de primeiros socorros durante os combates durante toda a campanha da Itália. Neste mesmo período no Brasil, os jipes dos modelos Ford GPW e Willys MB passariam a compor o esteio da frota motomecanizada do Exército Brasileiro sendo alocados por todas as unidades militares espalhadas pelo país, além de equipar também as bases da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil. Existem registros não oficiais que pelo menos cinco jipes do modelo ambulância Willys MB "Holden Jeeps" seriam recebidos no pais entre os anos de 1944 e 1945 ficando baseados nas unidades militares de infantaria sediadas no estado do Rio de Janeiro. Após o término do conflito em maio de 1945, os jipes remanescentes pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB),  bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.
Os Jeeps remanescentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), transportados de volta ao Brasil após o fim da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, foram incorporados à frota de utilitários leves já em operação no país desde 1942. Distribuídos entre as unidades operacionais do Exército Brasileiro, esses veículos reforçaram a capacidade logística e tática das Forças Armadas. A partir da segunda metade da década de 1950, o Brasil recebeu novos lotes de Jeeps classificados como “material excedente de guerra” (War Surplus), provenientes do Exército dos Estados Unidos, no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Essa nova remessa não apenas ampliou a capacidade operacional do Exército, mas também permitiu a substituição de veículos mais antigos, promovendo maior padronização de modelos e simplificando os processos de manutenção, o que trouxe maior eficiência às operações militares. Nesse mesmo período, registros indicam a chegada de pelo menos oito Jeeps Willys MB “Holden Jeeps”, adaptados como ambulâncias, que fortaleceram o Serviço de Saúde do Exército Brasileiro. Esses veículos, projetados para evacuação médica em condições adversas, destacaram-se por sua versatilidade e continuaram a desempenhar um papel crucial nas unidades militares. Na década de 1960, o Exército Brasileiro iniciou a incorporação dos primeiros Jeeps militarizados produzidos nacionalmente, como os modelos Willys-Overland e Ford CJ-2, CJ-5 e CJ-6. Paralelamente, o país também recebeu Jeeps usados do modelo Willys M-38A1, complementando a frota. A partir de 1962, começaram a entrar em serviço as primeiras ambulâncias militares desenvolvidas com base em veículos nacionais, como os Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85. A produção em larga escala desses utilitários no Brasil marcou o início de um amplo processo de desativação dos Jeeps recebidos nas décadas de 1940, incluindo os modelos Willys MB e Ford GPW, que haviam sido fundamentais durante e após a Segunda Guerra Mundial. Não há registros oficiais que esclareçam o destino dos 32 Jeeps Willys MB “Holden Jeeps” que estiveram em serviço no Exército Brasileiro. É provável que, com a modernização da frota e a introdução de veículos nacionais, essas viaturas tenham sido gradualmente retiradas de operação, encerrando sua trajetória nas Forças Armadas.

Em Escala.
Para representarmos o Willys MB "Holden Jeep" ambulância pertencente ao Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, empregado na campanha da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, fizemos uso do kit produzido pela Italeri na escala 1/35. Modelo este de baixo detalhamento e qualidade relativa de injeção. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes no livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro, em conjunto com decais originais do modelo. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos em todos os seus veículos empregados durante a Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa, com estes Willys MB "Holden Jeep" recebendo apenas as marcações e seriais do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira. Alguns deste manteriam durante o conflito os números seriais norte-americanos ostentando o escudo do Cruzeiro do Sul. Em seu retorno ao Brasil os veículos mantiveram este padrão de pintura até sua desativação. 

Bibliografia : 
- Jeep Ford & Willys  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
- Jeeps no Exército Brasileiro - https://jplopes.tripod.com/exbrz.htm
- FEB na segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa de Monteiro
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.
- Serviço de Saúde na Segunda Guerra Mundial 1º Ten Al Jardel da Silva Pires e 1º Ten Al João Gabriel Mendes Morais