História e Desenvolvimento.
A Seversky Aircraft Company foi fundada em 1931, em Farmingdale, Long Island, Nova Iorque, por Alexander de Seversky, um expatriado russo e veterano piloto da Primeira Guerra Mundial. Na época, Seversky ocupava a posição de assessor do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, trazendo consigo uma visão inovadora para a aviação militar. Nos primeiros anos de operação, a empresa reuniu uma equipe de talentosos engenheiros aeronáuticos, majoritariamente russos e georgianos, incluindo nomes como Michael Gregor e Alexander Kartveli. Esses profissionais desempenhariam papéis fundamentais no desenvolvimento das aeronaves que marcariam a trajetória da companhia. Porém o caminho seria tortuoso, e somente após várias tentativas fracassadas, a Seversky Aircraft finalmente lograria êxito, vencendo uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caça para Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com seu projeto SEV-1XP recebendo seu primeiro contrato militar em 1936. Conhecido pela designação militar P-35, este seria o primeiro caça moderno do Exército dos Estados Unidos (US Army), incorporando fuselagem metálica, asa baixa, trem de pouso retrátil (ainda que não recolhendo completamente para dentro das asas) e um motor radial Pratt & Whitney R-1830 de 850HP. Em fins do ano de 1938 o governo norte-americano iniciaria um ousado programa de reequipamento de seus meios aéreos, lançando uma nova concorrência para o desenvolvimento de um novo caça bombardeiro. Em 1939 em atendimento a esta demanda, a Seversky Aircraft Company projetaria o XP-41, incorporando uma fuselagem de desenho mais limpo (cuja porção traseira era mais alta do que no P-35, e descia do fim da cabine até encontrar a deriva, um perfil que passou a ser conhecido como “razorback”); trem de pouso completamente retrátil; duas metralhadoras .30 polegadas sobre a capota do motor, um Pratt & Whitney R-1830 equipado com turbo compressor, oferecendo 1.150HP de potência e permitindo alcançar uma velocidade de 515 km/h a uma altura de 15.000 pés. O comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) acabaria por rejeitar esta proposta em função de seu baixo desempenho, sugerindo neste contexto a utilização de um turbo compressor, como o utilizado nos bombardeiros Boeing B-17.Assim os engenheiros Seversky e Kartveli modificariam a fuselagem do XP-41, para abrigar o turbo compressor na sua porção traseira, com a tubulação necessária passando por debaixo da cabine de pilotagem; instalaram ainda duas metralhadoras de calibre .50 nas asas. A nova aeronave receberia a designação YP-43 Lancer, capaz de alcançar 563 km/h a uma altitude de 38.000 pés, sendo aceita para emprego no mesmo ano. Desta maneira seria celebrado um contrato inicial para a aquisição de cinquenta e quatro P-43A Lancer, com a primeira célula sendo entregue ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1940.
Na efervescente década de 1930, marcada por rápidos avanços tecnológicos e pela crescente tensão geopolítica que culminaria na Segunda Guerra Mundial, a Seversky Aircraft Company, posteriormente renomeada Republic Aviation, buscava consolidar sua posição no cenário aeronáutico com projetos inovadores. Um desses esforços foi o XP-44, um caça projetado com características avançadas para a época, como uma cabine mais aerodinâmica e um cubo de hélice que encobria o motor, reduzindo o arrasto aerodinâmico causado pela ampla área frontal dos motores radiais de alta potência. Inicialmente planejado para ser equipado com o motor Pratt & Whitney R-2180 de 1.400 hp, o projeto enfrentou um revés quando o desenvolvimento desse motor foi cancelado, obrigando a Seversky a adotar o mais potente Pratt & Whitney XR-2800 “Double Wasp” de 2.000 hp. As qualidades promissoras do XP-44 impressionaram o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que, em um gesto de confiança, encomendou oitenta células antes mesmo da construção de um protótipo. Contudo, o cenário global mudou drasticamente com a queda da França em junho de 1940, diante da ofensiva alemã. A superioridade dos caças Messerschmitt Bf-109 da Luftwaffe revelou que o XP-44, apesar de suas inovações, não seria capaz de competir com os padrões exigidos pelo novo contexto de guerra moderna. Essa constatação levou ao cancelamento da encomenda, um golpe significativo para a Seversky, que viu seus planos de produção em larga escala frustrados. Determinado a apoiar a continuidade da empresa, o USAAC optou por encomendar oitenta unidades do P-43A Lancer, uma aeronave derivada de projetos anteriores da Seversky. Embora menos avançado que o XP-44, o P-43A oferecia uma solução prática para atender às necessidades imediatas. Em julho de 1941, a Força Aérea da China Nacionalista adquiriu 125 unidades do P-43, das quais 108 foram entregues. As treze células restantes foram incorporadas ao USAAC após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941 e convertidas para missões de reconhecimento fotográfico, recebendo a designação P-43B. Além disso, quatro P-43A e quatro P-43D foram utilizados pela Força Aérea Real Australiana (RAAF) em missões de reconhecimento tático, demonstrando a versatilidade do modelo em papéis secundários, mas essenciais, durante o conflito. Com o cancelamento do XP-44, a Seversky, liderada pelo engenheiro Alexander Kartveli, redirecionou seus esforços para um projeto ainda mais ambicioso: o “Advanced Pursuit Design No. 10” (AP-10), designado pelo USAAC como XP-47. Inicialmente concebido para ser propulsionado pelo motor em linha Allison V-1710 refrigerado a água, o XP-47 enfrentou exigências crescentes do USAAC, que solicitou a inclusão de armamento mais pesado, tanques de combustível auto-selantes, blindagem para o piloto e cabides subalares para cargas externas. Essas modificações, embora necessárias, aumentaram significativamente o peso da aeronave, comprometendo seu desempenho e colocando o projeto em risco de cancelamento por volta de maio de 1940.
Diante desse desafio, a equipe de engenheiros da Seversky demonstrou notável resiliência. Em tempo recorde, foi apresentada uma proposta revisada, o XP-47A, que buscava atender às expectativas do USAAC. Contudo, a nova versão ainda não alcançava os parâmetros necessários para rivalizar com os caças alemães, resultando em sua rejeição. Correndo contra o tempo e sob pressão para oferecer uma solução competitiva, os engenheiros voltaram às pranchetas e desenvolveram um projeto completamente novo, o XP-47B. Essa aeronave representava um salto significativo em relação às propostas anteriores, incorporando inovações que pavimentariam o caminho para o icônico Republic P-47 Thunderbolt, um dos caças mais bem-sucedidos da Segunda Guerra Mundial. Este projeto apresentava uma construção toda em metal (exceto para as superfícies de controle da cauda que eram cobertas de tecido) asas elípticas, e um bordo de ataque direto ligeiramente deslocado para traz. Dispunha de uma cabine espaçosa com um certo nível de proteção blindada e um confortável assento para o piloto, tanques de combustível auto selantes completavam o pacote de segurança para a aeronave. Seu motor era o confiável Pratt & Whitney R-2800 Duplo Wasp de 18 cilindros produzindo 2.000 hp (1.500 kW) de potência, com turbo compressor, proporcionando uma velocidade máxima superior a 6443 km/h e um teto de serviço próximo de 40.000 pés. Na verdade, o XP-47 foi projetado em torno do conjunto motor-turbocompressor, este último montado atrás do piloto. As enormes dimensões do novo caça – “será um dinossauro, mas um dinossauro bem proporcionado”, segundo Kartveli – eram ditadas justamente pelo uso daquele conjunto. O primeiro vôo foi realizado em 6 de maio de 1941, e a aeronave apresentava uma cabine com cobertura transparente fixa, e o piloto ingressava na cabine através de uma porta. Após a solução de pequenos problemas de projeto, a aeronave receberia a sinalização para sua produção em série, com este modelo recebendo a designação oficial de Republic P-47B Thunderbolt, com as primeiras células sendo entregues as unidades operativas em dezembro de 1941. O envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial clarificaria as potencialidades da aeronave, classificando o modelo como de vital importância para o esforço de guerra aliado. Neste momento seria concebida a versão P-47C, que apesar ser esteticamente igual, diferia dos primeiros modelos por contar com reforços em todas as superfícies de controle de metal, mastro de rádio vertical curto, passando ainda a ser dotado com um sistema regulador para o turbo compressor. um contrato seria celebrado para a produção de mais de seiscentas aeronaves. com as primeiras células sendo entregues em setembro de 1942. Após a montagem das primeiras cinquenta e sete aeronaves, melhorias de projeto correlatas seriam aplicadas, com produção sendo alterada para o modelo Republic P-47C-1, com a construção de cinquenta e cinco unidades, que seriam seguidas por mais cento e vinte células, agora da versão Republic P-47C-2, que passava a contar com um ponto duro sob a linha central para transporte de bombas ou tanques suplementares.
Em novembro do mesmo ano uma nova variante, o P-47C-5 que introduziria o novo motor Pratt & Whitney R-2800-59 equipado com sistema de injeção de água-metanol para assim proporcionar um aumento na potência final. No final de 1942, o comando do Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), concluiu que a maioria dos problemas presentes nas primeiras versões, haviam sido resolvidos, levando a decisão de se enviar para a Inglaterra o 56 º Grupo de Caça (Fighter Group) com seus novos Republic P-47C-5 Thunderbolt, para assim se juntar aos efetivos da 8º Oitava Força Aérea, naquele front de batalha europeu. Desde o início de seu projeto, o Republic P-47 Thunderbolt, estava armado com oito metralhadoras Browning M-2 12,7 mm (calibre.50) com 2.500 cartuchos de munição de vários tipos, concedendo a aeronave um excelente poder ofensivo, não só em missões ar ar, mas também em tarefas de ataque ao solo. A primeira missão de combate do Republic P-47 Thunderbolt ocorreria em 10 de março de 1943, quando um grupo destas aeronaves foi empregado em uma varredura de caça sobre a França, já a primeira vitória ocorreria em 15 de abril, quando o Major Don Blakeslee abateu um Focke-Wulf FW 190. As experiências colhidas em batalha neste período inicial, levariam a novos refinamentos de projeto, culminando então na versão Republic P-47D Thunderbolt, que logo seria liberada para a produção em série. As primeiras aeronaves produzidas deste novo modelo, eram em sua essência muito semelhantes ao P-47C, sendo entregues dez células iniciais que receberiam a designação de P-47D-1-RA. A adição do sufixo final na designação do modelo fazia referência a unidade fabril produtora, sendo o sufixo "RE" destinado as aeronaves originarias da planta de Farmingdale, em Long Island, e o "RA" referente as produzidas em Evansville, Indiana. O modelo P-47D na verdade consistia em uma série de blocos de produção em evolução, sendo que o último deles era visivelmente diferente do primeiro, sendo que as subversões P-47D-1 a P-47D-6, o P-47D-10 e o P-47D-11 incorporariam sucessivamente mudanças tais como a adição de mais flaps de refrigeração do motor ao redor do dorso do capuz para reduzir o sobreaquecimento do motor, problemas que tinham sido observados no campo. Já o P-47D-15 seria produzido em resposta a solicitações dos grupos de caça da norte-americanos e britânicos em atendimento a necessidade de ampliação de alcance, incluindo sistemas de combustível sob pressão para drenar combustível dos tanques subalares. Já os P-47D-16, D-20, D-22 e D-23 eram semelhantes aos P-47D-15 contando apenas com sistema de combustível melhorado, subsistemas do motor e inclusão do motor Pratt & Whitney R-2800-59 a partir da versão P-47D-20. As primeiras versões – P-47B, C, D-1 até D-23 e G (variante C construída pela Curtiss) – tinham a fuselagem traseira “razorback”, e um canopi com pesadas molduras, deslizante, que prejudicava a visão para trás, impedindo o piloto de avistar com antecedência possíveis ameaças neste ângulo. A partir da versão P-47D-25 Thunderbolt, uma capota em bolha (“bubbletop”), oferecendo visão irrestrita, foi instalada, com a fuselagem traseira recortada (o primeiro P-47 modificado dessa maneira foi conhecido como o protótipo XP-47K).

A partir de 1944, as versões “bubbletop” do P-47, caracterizadas pela cabine em formato de bolha que melhorava a visibilidade do piloto, começaram a ser entregues às unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Contudo, a redução da área da fuselagem traseira nessas configurações comprometeu a estabilidade direcional, levando à introdução de uma quilha dorsal à frente da deriva, a partir da variante D-40. Essa modificação foi aplicada retroativamente às versões D-25, D-27, D-28 e D-30 por meio de kits de campo, garantindo maior controle em voo e corrigindo as deficiências aerodinâmicas identificadas. A variante P-47M foi desenvolvida com o objetivo específico de melhorar o desempenho e competir com os novos caças alemães, como o Messerschmitt Me 262 e o Focke-Wulf Fw 190D, introduzidos no final da guerra. Equipada com um motor Pratt & Whitney R-2800 mais potente e reduzida a seis metralhadoras de 12,7 mm (em vez das oito padrão), a P-47M oferecia maior velocidade, mas foi adotada por apenas um grupo de caça da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) devido à sua introdução tardia no conflito. Já a variante P-47N, projetada para operações no teatro do Pacífico, foi otimizada para longas distâncias, essencial para escoltar os bombardeiros Boeing B-29 Superfortress em missões sobre as ilhas japonesas. A P-47N distinguia-se por sua asa de plataforma semi-elíptica, inspirada em caças britânicos como o Hawker Tempest e o Vickers-Supermarine Spitfire Mk. 21, e por uma quilha dorsal de maiores dimensões, que aprimorava a estabilidade em voos prolongados. O P-47 Thunderbolt destacou-se como o principal caça-bombardeiro da USAAF, especialmente em missões de ataque ao solo, onde sua capacidade de carregar bombas de 230 kg e 450 kg, foguetes M8 de 4,5 polegadas (115 mm) e foguetes de alta velocidade (HVARs) de 5 polegadas (130 mm) o tornava uma arma formidável. Entre junho de 1944 e maio de 1945, pilotos de P-47s reivindicaram a destruição de aproximadamente 86.000 vagões ferroviários, 9.000 locomotivas, 6.000 veículos blindados de combate e 68.000 caminhões, desempenhando um papel crucial no desmantelamento da infraestrutura militar do Eixo. Essas façanhas refletem não apenas a potência do Thunderbolt, mas também a coragem e a habilidade dos pilotos que enfrentaram intensos combates antiaéreos e caças inimigos. Além dos Estados Unidos, o P-47 foi amplamente utilizado por forças aliadas, incluindo a Grã-Bretanha (especialmente no Sudeste Asiático), a França Livre, a União Soviética, o México e o Brasil. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o P-47 continuou a servir em forças aéreas de diversos países, incluindo Bolívia, Chile, China Nacionalista, Colômbia, Equador, Honduras, Irã, Itália, Iugoslávia, Nicarágua, Peru, Portugal, República Dominicana, Turquia e Venezuela. Sua robustez e versatilidade garantiram sua operação até a segunda metade da década de 1950 em algumas nações, especialmente em papéis de treinamento e apoio tático
Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942. Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats) e italianos, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global.
O Brasil, alinhado aos Aliados, assumiu um papel estratégico na defesa do Atlântico Sul, protegendo comboios marítimos, a necessidade de modernização levou à formulação de um programa de reequipamento em fases, priorizando aeronaves de treinamento para formar pilotos e, em seguida, aviões de patrulha para proteger comboios, e por fim aeronaves de caça e de transporte. A partir de 1942, o país começou a receber centenas de aeronaves americanas de alta performance, como os caças Curtiss P-40 Warhawk, os bombardeiros Douglas A-20 Havoc e os treinadores North American T-6 Texan. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações, operando em conjunto com duas unidades áreas, uma de observação e ligação e outra de caça bombardeio. Para atendimento a este acordo, seria criado em 18 de dezembro de 1943, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), que faria parte da dotação do 350º Grupo de Caça (Fighter Group) da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), sendo definido o caça bombardeio Republic P-47D Thunderbolt com seu principal vetor de ataque. Após o treinamento em Aguadulce, Panamá, com aeronaves Curtiss P-40 Warhawk, os participantes deste grupo seriam transladados para a Base Aérea de Suffolk em Nova Iorque, lá os pilotos e equipes de terra, tomariam seu primeiro contato com o Republic P-47D Thunderbolt, o vetor a ser empregado no front aéreo de batalha na Europa. A conversão operacional, idêntica à realizada por qualquer piloto de caça norte-americano, à época, teve uma duração média de setenta horas para cada piloto, após o qual foram considerados aptos a utilizarem-no em combate. Após este processo, o 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca) se deslocou por via naval para a Itália, aonde chegariam no dia 06 de outubro de 1944. Os primeiros P-47D Thunderbolt foram coletados pelos próprios pilotos brasileiros e transportados até a base de Tarquínia. Essas aeronaves pertenciam ao lote destinado à Força Aérea Brasileira, com sessenta e oito P-47D Thunderbolt, já pintados com as insígnias da nacionais, dos quais trinta e um foram entregues no início da campanha, destes, quinze células eram da versão da Republic P-47D-RE-25, e passaram a ostentar as designações "A3" , "A4", "D2", "B1", "C1", "C6" , "B1", "B3","B4","B5" e "D6", cabendo também a esta versão a aeronave empregada pelo comandante da unidade Coronel Nero Moura o P-47D “1”. As aeronaves restantes permaneceram armazenados no “Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations”, em Nápoles, um depósito que atendia às unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), baseadas no Teatro de Operações do Mediterrâneo. Começando suas operações aéreas em 31 de outubro de 1944, durante as primeiras missões os pilotos brasileiros voavam, individualmente, agregados a esquadrilhas dos outros três esquadrões norte-americanos 345 th Fighter Squadron (Grupo de Caça), 346 th FS e 347 th FS que compunham, junto com o grupo brasileiro, o 350º Grupo de Caça (Fighter Group).

À medida que os pilotos brasileiros iam adquirindo experiência operacional, eram destacados para missões cada vez mais difíceis sobre o front italiano. Em 6 de novembro, faleceu em combate o 2º Tenente Aviador John Richardson Cordeiro e Silva, abatido pela “flak” (artilharia) alemã nas imediações de Pianoro, ao voar em missão como o número quatro de uma esquadrilha do 347th FS. Ao final da manhã do dia seguinte, faleceu o 2º Tenente Aviador Oldegard Olsen Sapucaia, em vôo de treinamento, quando os controles de seu Republic P-47D-25-RE travaram, ao efetuas manobras evasivas simuladas. A aeronave encontrava-se em parafuso invertido a 450 metros do solo quando o 2º Tenente Aviador. Sapucaia saltou, mas o paraquedas não abriu completamente. Dois dias depois, surgiria a explicação para o acidente: a seção de manutenção recebeu um boletim de ordem técnica, onde se alertava para o fato de que os Republic P-47D-25/D-27/D-28 Thunderbolt não deveriam ser submetidos a manobras não coordenadas de aileron e leme, pois este último poderia travar na direção de sua aplicação, seguido de incontrolável giro no eixo lateral, levando a um parafuso invertido. Esse fenômeno era causado pela perda de área da fuselagem traseira nas primeiras versões “bubbletop”, conforme citado anteriormente. Como as quilhas dorsais só eram instaladas quando da implementação de revisões de maior envergadura, quer eram realizadas, junto ao 80º Esquadrão de Manutenção em Cericola, assim seriam poucos os P-47D Thunderbolts brasileiros que receberam essa modificação. As missões a serem realizadas pelo 1º Grupo de Aviação de Caça, eram basicamente de dois tipos: ataque ao solo e escolta de bombardeiros (com esta última ocorrendo com baixa incidência em virtude do estágio final do conflito). No primeiro tipo de emprego, eram equipados com bombas de emprego geral AN/M43 de 500lb (227 Kg), de fragmentação de 260lb (118 Kg) ou de 90lb (40 Kg), ou ainda as FTI (“Fuel Tank Incendiary”), as quais eram tanques de combustível de 90 galões (340 litros), 110 galões (416 litros) ou 165 galões (624 litros), equipados com espoletas e preenchidos com gasolina de aviação e compostos químicos para tornar gelatinosa a consistência da gasolina. As FTI (“Fuel Tank Incendiary”), eram altamente eficientes contra concentrações veículos e de tropas. Um outro armamento utilizado foram os foguetes antitanque M-8A2 de 4,5 polegadas, disparados de tubos M-10, instalados em triplas sob as asas; não tiveram sucesso, no entanto, pois os M-8A2 eram altamente imprecisos, além do prejuízo causado às características aerodinâmicas dos P-47 Thunderbolt pela instalação daqueles tubos. Nas missões de escolta, estes caças bombardeiros valiam-se de seu pesado armamento de oito metralhadoras de 12,7mm nas asas, além de levarem tanques alijáveis de combustível sob as asas, a fim de aumentar o seu raio de ação e permitir que acompanhassem os bombardeiros aliados até a fronteira com a Áustria, o Passo de Brenner sendo um dos alvos prediletos.
Pelo menos três P-47D brasileiros receberam a instalação de uma câmera fotográfica K-25A, oblíqua, colocada no bordo de ataque do cabide subalar esquerdo. Esta modificação seria feita pelos próprios mecânicos brasileiros, e propiciavam a obtenção de fotos após o ataque – tomadas normalmente pela aeronave número quatro, a última a mergulhar para o bombardeio às posições inimigas e, assim, capaz de fotografar o efeito das bombas lançadas pelas outras aeronaves da esquadrilha. Pela mesma razão, recebiam todo a atenção da artilharia antiaérea “flak” alemã, tornando-as ainda mais arriscadas. O mais eficiente piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca) e do 350 º Grupo de Caça norte-americano foi o 2º Tenente Aviador Pedro de Lima Mendes, integrante da esquadrilha Azul brasileira. Cabe ressaltar a extrema dedicação e capacidade do pessoal de terra do esquadrão, como demonstram a taxa média de aeronaves disponíveis diariamente – 81% – e que nunca foi inferior a 77%, uma das mais altas taxas dentre as unidades sob controle norte-americano na área. Muitos do Republics P-47D Thunderbolts retornavam de suas missões com avarias, causadas principalmente pela “flak” alemã, e eram prontamente reparadas para as próximas missões. Com o encerrar das hostilidades na Itália, a 3 de maio de 1945, o comando do grupo brasileiro pôde fazer o balanço de suas atividades: foram 2.546 surtidas ofensivas e quatro defensivas, em um total de 445 missões em 184 dias de operação. Seus pilotos, pela falta de substitutos para recomplementar o efetivo, cumpririam um grande número de missões, vários deles superando oitenta missões de combate. Mesmo tendo sido responsável por apenas 5% do total de missões montadas pelo XXII Comando Aéreo Tático (Tactical Air Command), seria responsável pela destruição de 85% dos depósitos de munições, 36% dos depósitos de combustível, 28% das pontes (19% danificadas), 15% dos veículos motorizados (13% danificados) e 10% dos veículos hipomóveis (10% danificados). Mas o preço pago foi alto: de um total de quarenta e oito pilotos, cinco foram mortos em combate, quatro em acidentes aéreos (um deles ainda no Panamá, durante o treinamento), cinco foram abatidos e feitos prisioneiros de guerra, três foram abatidos e receberam proteção dos “partigiani” italianos e outros sete foram afastados por motivos de saúde. Em junho de 1945, todos os vinte e seis P-47D Thunderbolt que estavam em poder do 1° GAvCa foram levados em vôo até Capodichino, ao AAFSC/MTO (Army Air Force Storage Center - Mediterranean Theater of Operations), onde foram desmontados e enviados por via terrestre para Nápoles, para serem embarcados para o Brasil. No traslado, o P-47D-27-RE n° 42-26788 acidentou-se durante o pouso em Capodichino, sendo considerado perda total. As vinte e cinco aeronaves restantes foram desmontadas encaixotadas e embarcadas e transportadas ao Brasil no navio de transporte de tropas USS W. S. Jennings. O pessoal de terra e parte dos oficiais aviadores voltaram para o Brasil a bordo do navio de transporte de tropas norte-americano USS General M. C. Meigs (AP-116), navio encarregado de conduzir o 1° Escalão da Força Expedicionária Brasileira, embarcando no porto de Nápoles no dia 06 de julho de 1945.

Uma equipe de vinte pilotos seria escolhida para se deslocar por via aérea aos Estados Unidos em aeronaves de transporte da da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), para receberem dezenove P-47D-30-RA novos, equipados com o que de mais avançado existia, à época: miras K-14B, cabides subalares S-1 de maior capacidade, radar de alerta AN/APS-13 (para detecção de aeronaves aproximando-se no quadrante traseiro da aeronave, em um cone de 60° e um alcance de 8Km); equipamento para roupas anti-G e provisão para instalação de cinco foguetes HVAR de 127mm em cabides subalares “zero-length” (isto é, sem trilhos para os foguetes). Esses P-47D-30 chegaram ao Brasil em julho de 1945, antes mesmo dos P-47D embarcados da Itália, e vieram a equipar o 1º Gp Av Ca no pós-guerra. Já os Republic P-47D Thunderbolts veteranos da Campanha na Itália chegaram ao Brasil logo em seguida, sendo montados no Galeão, para serem transladados em voo até a Base Aérea de Santa Cruz, para serem alocados junto ao 2º Grupo de Caça (Gp Ca), unidade criada em 17 de agosto de 1944 na Base Aérea de Natal e transferida em outubro para o Rio de Janeiro, estando inicialmente equipados com aeronaves Curtiss P-40 Warhawk. Com o reequipamento desta nova unidade com os P-47D Thunderbolt, e novas turmas de pilotos necessitando serem treinadas nos P-47, decidiu-se que, após passarem por rigoroso treinamento em aeronaves North-American AT-6D no Estágio de Seleção de Pilotos de Caça – ESPC, os pilotos selecionados seriam transferidos ao 2º Grupo de Caça (Gp Ca), para a conversão operacional para o P-47D. Neste momento restavam poucas células ativas ainda do modelo inicial Republic P-47D-RE-25, que conviviam com as versões posteriores. Em 1949, os esquadrões de caça sediados na BASC recuperaram sua designação original, passando a serem conhecidos como 1º/1º e 2º/1º Grupos de Aviação de Caça. Em 13 de outubro de 1952, os P-47 Thunderbolts seriam redesignados como F-47, nesta época, restavam poucas células disponíveis, devido à falta de peças de reposição, até mesmo de pneus. Desde o início de sua operação no Brasil, vinte quatro aeronaves haviam sido perdidas em acidentes. Assim, em 1953 seriam adquiridos outros vinte e cinci P-47D-30-RA, através do Programa de Defesa de Assistência Mútua (Mutual Defense Assistance Program). A introdução do jato Gloster Meteor F-8 em 1953, determinaria a transferência dos Republic P-47D Thunderbolts para o 3º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca). Nesta fase restavam em voo somente cinco células do modelo P-47D-RE-25, com das demais estocadas ou perdidas em acidentes, sendo todas descarregadas do inventario da Força Aérea Brasileira em 17 de março de 1958.
Em Escala.
Para representarmos o P-47D-RE-25 "C-1 226762" pertencente 1º Grupo de Aviação de Caça (Gp Av Ca), pilotado pelo Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira (56 missões) durante a campanha da Itália, empregamos o excelente kit da Academy na escala 1/48 embalado pela HTC Modelismo. Este modelo pode ser montado direto da caixa sem a necessidade de qualquer alteração para assim se representar a versão brasileira operada na Itália, antes da adoção uma quilha dorsal. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals que estão presentes originalmente neste kit.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado na maioria das aeronaves recebidas no teatro de operações Italiano, sendo que apenas três das quinze aeronaves foram recebidas sem qualquer esquema de camuflagem. Após o regresso ao Brasil as células mantiveram o padrão original até passarem pelo processo de revisão em âmbito de parque, quando passaram a adotar a pintura em metal natural com aplicação de verde oliva para parte superior frontal para evitar reflexos, este último padrão foi mantido até a desativação do modelo no ano de 1958.
Bibliografia :
- Republic P-47 Thunderbolt na FAB por Aparecido Camazano Alamino - Revista Asas Nº 62
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr