Dodge WC-56 e WC-57 (TP - TE)

História e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares por sua robustez e desempenho, culminando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto “C” representava a classificação de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido para modelos de ¾ tonelada e 1 ½ tonelada 6x6, com o primeiro veículo dessa família sendo o G-505 WC de ½ tonelada.
Ao longo de 1940, a Dodge Motor Company consolidou sua relevância no cenário militar ao produzir mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4x4, pertencentes à série Dodge WC de ½ tonelada. Esses veículos, encomendados por meio de dois contratos firmados com o governo norte-americano, incluíam os modelos VF-401 a VF-407, equipados com a tecnologia de motor T-203 (Dodge G-621). Tratavam-se de evoluções dos modelos experimentais pré-guerra, como o RF-40 (-X) e o TF-40 (-X) (ou T-200/T-201), construídos sobre um chassi com a mesma distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Esses novos caminhões WC substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, também pertencentes à série original G-505, no arsenal do Exército dos Estados Unidos (US Army). Entre o final de 1940 e o início de 1942, a Dodge, em colaboração com a Fargo Motor Car Company, produziu um total de 82.000 veículos de ½ tonelada com tração 4x4, atendendo a diversos contratos celebrados com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. Os modelos WC-1 e WC-50, pertencentes à classe de ½ tonelada, destacavam-se pela intercambialidade de 80% de seus componentes com os novos modelos de ¾ tonelada lançados posteriormente, uma característica que otimizava a logística e a manutenção em campo. Em 1942, a Dodge atualizou sua linha de caminhões, dividindo-a em duas categorias principais: o modelo G-502, de ¾ tonelada, com tração integral 4x4 e chassi mais curto, e o G-507, de ½ tonelada, com tração 6x6, projetado para transporte de carga e tropas. Apesar das melhorias no design, a empresa manteve, de forma estratégica, a nomenclatura da família WC, o que gerava certa confusão. O WC-51 era equipado com um motor de seis cilindros flathead (T-214), com 3.800 cm³ e aproximadamente 92 cavalos de potência. Sua baixa taxa de compressão proporcionava torque robusto, ideal para operações fora de estrada, embora resultasse em um consumo de combustível relativamente elevado . O chassi, com uma distância entre eixos de 98 polegadas (2,49 metros), era mais curto que o de outros modelos da família, como o G-507 de ½ tonelada 6x6, conferindo maior agilidade em manobras. Um dos principais diferenciais desses veículos era a alta intercambialidade de peças, exigida pelo comando do Exército dos Estados Unidos, que alcançava 80% entre os modelos de ½ e ¾ tonelada. Essa característica simplificava significativamente os processos de manutenção e o suprimento logístico nos diversos fronts da Segunda Guerra Mundial. A família Dodge WC destacou-se pela impressionante versatilidade, abrangendo 38 variantes que incluíam transporte de tropas, carga, ambulâncias, veículos de comando, estações móveis de comunicações, unidades equipadas com canhões de 57 mm, oficinas móveis e veículos de reconhecimento, entre outros. Muitas dessas versões apresentavam cabines abertas com cobertura de lona, adaptadas às necessidades específicas do campo de batalha.

A excepcional intercambialidade de 80% das peças de reposição entre as variantes da família Dodge WC foi um fator determinante para sua eficiência operacional, garantindo manutenção ágil e suporte logístico confiável mesmo nas condições mais desafiadoras da Segunda Guerra Mundial. Essa característica, aliada à robustez inigualável desses veículos, consolidou a reputação da Dodge como uma das principais fornecedoras de equipamentos militares, desempenhando um papel crucial na mobilidade e na eficácia das forças aliadas em diversos teatros de operações. Entre as versões dessa família de utilitários com tração 4x4, destacou-se o Carro de Comando (Command Car), projetado especialmente para o transporte de oficiais de alta patente no campo de batalha, garantindo não apenas mobilidade, mas também a capacidade de coordenar operações em ambientes hostis. Os modelos de Carro de Comando, denominados Dodge WC-56 e WC-57 pelo Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), foram desenvolvidos com base nas plataformas dos Dodge WC-51 e WC-52, mantendo sua essência robusta, mas com adaptações específicas. A principal diferença entre as duas variantes residia na presença de um guincho hidráulico frontal no WC-57, modelo G-502E, capaz de suportar até 2.268 kg, ideal para operações em terrenos acidentados. Ambos os modelos receberam proteções frontais e traseiras personalizadas, sirenes sob medida e bandeiras metálicas indicativas de posto, com a possibilidade de equipar uma metralhadora Browning calibre .30 no caso de transporte de generais de divisão, reforçando sua função estratégica. Além disso, os veículos podiam ser equipados com um avançado sistema de rádio de 12 volts, semelhante ao utilizado pelo modelo especializado em comunicações, o Dodge WC-58, permitindo aos comandantes coordenar suas forças com rapidez e eficiência, independentemente da dispersão das tropas no teatro de operações. O desenvolvimento dos Dodge WC-56 e WC-57 teve início com a apresentação dos primeiros protótipos no outono de 1941, submetidos a rigorosos testes de campo que comprovaram sua versatilidade e resistência. Aprovados em dezembro do mesmo ano, esses modelos receberam os primeiros contratos de produção em janeiro de 1942, com a fabricação em série iniciada em abril nas linhas de montagem da Dodge Motors Company, em Detroit, as mesmas utilizadas para os modelos WC-51, WC-52 e WC-54. A partir de maio de 1942, os WC-56 e WC-57 foram oficialmente incorporados aos três ramos das Forças Armadas norte-americanas, marcando o início de sua trajetória em serviço ativo. No front de combate, esses veículos destacaram-se não apenas no transporte de oficiais, mas também em missões de reconhecimento em terrenos desafiadores, demonstrando notável capacidade off-road. A presença do guincho no WC-57 ampliava sua utilidade em operações que exigiam a superação de obstáculos ou a recuperação de outros veículos. A combinação de robustez, funcionalidade e tecnologia avançada, como os sistemas de rádio, tornou os Dodge WC-56 e WC-57 instrumentos indispensáveis para a coordenação tática, contribuindo significativamente para o sucesso das operações aliadas.
Embora menos populares entre as tropas em comparação aos jipes Ford GPW e Willys MB, devido ao seu peso maior e menor manobrabilidade, os Dodge WC-56 e WC-57 Command Car marcaram presença em momentos cruciais da Segunda Guerra Mundial. Esses veículos transportaram figuras históricas como os generais George Smith Patton Jr. e Dwight David "Ike" Eisenhower, desempenhando um papel vital nas operações nos campos de batalha da Europa e no teatro do Pacífico Sul. Sua robustez e confiabilidade os tornaram instrumentos indispensáveis para o comando tático, permitindo que líderes militares coordenassem estratégias em condições desafiadoras com agilidade e segurança. No âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), os Dodge WC-56 e WC-57 foram fornecidos em grandes quantidades a nações aliadas, com destaque para a União Soviética, Austrália, Canadá e as Forças Francesas Livres. Durante o conflito, esses veículos foram intensamente utilizados pelas três forças armadas norte-americanas em todos os fronts, demonstrando sua versatilidade em missões de transporte de oficiais e reconhecimento em terrenos variados. Até setembro de 1945, as linhas de produção da Dodge Motors Company e da Fargo Division Company, em Detroit, entregaram um total de 21.156 unidades do WC-56 e 6.010 unidades do WC-57, consolidando sua relevância logística e operacional. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Dodge WC-56 e WC-57 continuaram a servir em cenários de conflito, notadamente durante a Guerra da Coreia (1950–1953), onde sua durabilidade foi novamente comprovada. A grande quantidade de veículos disponíveis permitiu que milhares de unidades permanecessem em serviço nas Forças Armadas dos Estados Unidos até meados da década de 1950, quando começaram a ser gradualmente substituídos pelo Dodge M-37, configurado para missões de transporte de oficiais de alta patente. Esse processo gerou um excedente significativo de veículos em bom estado de conservação, que, após revisões e armazenamento, foram incluídos no portfólio de equipamentos militares oferecidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos a nações amigas por meio de programas de assistência militar. Entre os beneficiários, destacam-se as forças armadas de países como França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Argentina, Venezuela, Chile, Israel e Suíça. Em algumas dessas nações, especialmente em países em desenvolvimento, os Dodge WC-56 e WC-57 foram revitalizados localmente, com destaque para a substituição de seus grupos motrizes, o que permitiu prolongar sua vida útil. Em certos casos, esses valentes veteranos permaneceram em serviço operacional até o início da década de 1980, testemunhando sua durabilidade e adaptabilidade.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Dentre os equipamentos fornecidos, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, começaram a ser entregues ao Brasil no final de 1942. Esse atraso inicial decorreu da prioridade dada às forças armadas norte-americanas, que demandavam grandes quantidades desses veículos para os esforços de guerra. Quase todos os lotes destinados ao Brasil eram compostos por veículos novos, recém-saídos das linhas de produção da Dodge Motor Company e da Fargo Motor Car Company. A incorporação dos Dodge WC-51 e WC-52 ao Exército Brasileiro marcou um avanço significativo na doutrina operacional da força terrestre. Esses modernos utilitários substituíram uma frota obsoleta de veículos leves de origem civil, inadequadamente adaptados para uso militar, além de um pequeno número de modelos importados, como os alemães Vidal & Sohn Tempo-Werk G1200, recebidos em 1938, mas insuficientes para equipar sequer uma unidade mecanizada. Com a chegada de aproximadamente 300 unidades dos utilitários Dodge, o Exército Brasileiro deu início a um processo de transição estratégica, abandonando gradativamente o modelo hipomóvel — dependente de tração animal — em favor de uma força terrestre mecanizada, mais ágil e preparada para os desafios modernos. Além do Exército, algumas unidades desses veículos foram destinadas à Força Aérea Brasileira e à Marinha do Brasil, onde foram empregadas em funções administrativas, reforçando a versatilidade dos modelos WC-51 e WC-52. Essa modernização coincidiu com o crescente envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB), composta por cerca de 25.000 soldados, foi estruturada para atender aos padrões operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army), que priorizavam alta mobilidade em suas unidades. Para cumprir essa exigência, a FEB foi equipada com uma frota significativa de veículos de transporte de pessoal, incluindo os modelos amplamente utilizados pelas forças aliadas, com destaque para os utilitários Dodge WC-51 e WC-52. As tropas brasileiras desembarcaram na Itália em agosto de 1944 e, após um breve período de treinamento, integraram o V Corpo do Exército norte-americano, sob o comando do General Mark Clark. Durante essa etapa, a FEB recebeu todo o seu armamento e veículos diretamente do estoque estratégico norte-americano localizado em Tarquinia, Itália. No que tange a parte de viaturas de médio porte, seriam disponibilizados quase trezentos veículos divididos entre as versões Dodge WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57, destes últimos especula-se que pelo menos trinta viaturas da versão de carro comando seriam entregues (infelizmente não existe documentação sobre a quantidade exata operada destes modelos na campanha da Itália. Estes seriam operados não só pelo Exército Brasileiro mas também pela Força Aérea Brasileira que receberia dois carros do modelo WC-56, que passariam a operar junto ao comando do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) . O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocorreria no dia 15 de setembro de 1944, quando os pracinhas brasileiros entraram em açao contra o Exército Alemão (Wermatch), empregando em seu deslocamento todos seus meios mecanizados, com seus comandantes entre eles o general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais, fazendo uso constante dos poucos Dodge WC-56 e WC-57 Command Car. Durante toda a campanha da Itália este veículos teriam grande importância deslocando os oficiais de comando por todos o percurso percorrido pela Força Expedicionária Brasileira – FEB, operando sob as mais difíceis condições de terreno e climáticas, comprovando assim suas qualidades de adaptação junto ao campo de batalha europeu, onde qualquer manutenção ou reparo deveria ser efetuada imediatamente sem o menor suporte técnico adequado de instalações ou de ferramental. Após o término do conflito em maio de 1945, os carros comando Dodge WC-56 e WC-57 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.

Estes se juntariam aos demais veículos dos mesmos modelos que já se encontravam em serviço desde 1942, não só no Exército Brasileiro, mas também na Força Aérea Brasileira, tendo em vista que ao todo seriam cedidos ao país nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) um total de cento e setenta cinco carros dispostos nas versões WC-56 e WC-57, que seriam distribuídos a diversas unidades operativas espalhadas ao longo do território nacional. Entre o final desta década e meados da próxima mais veículos do modelo Dodge WC-56 seriam recebidos nos termos do acordo Militar Brasil – Estados Unido, totalizando mais quarenta e oito carros. Grande parte desta frota se manteria em operação nos anos, sendo carinhosamente apelidados no Exército Brasileiro como “jipão” ou ainda “pata choca”, sendo preferidos por seus usuários em detrimento a família de jipes Willys MB ou Ford GPW, muito função de seu perfil operacional superior, sendo sempre priorizados em missões de transporte de alto oficiais do Exército Brasileiro. Já na Força Aérea Brasileira, os Dodge WC-56 e WC-57 seriam empregados no transporte de pilotos e oficiais, com a maioria dos veículos sendo concentrados na Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro – RJ. Todos os utilitários de porte médio com tração total 4X4 produzidos pela Dodge Motors Company, teriam grande papel no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira nos anos seguintes. Apesar de atender a contento as expectativas, no início da década de 1960, o status operacional da frota começaria a despertar a preocupação por parte do comando do Exército Brasileiro, tendo em vista a baixa taxa de disponibilidade destes veículos. Este cenario era causado principalmente por problemas no processo de aquisição de peças de reposiçao, mais notadamente referente ao motor a gasolina Dodge T-214 de seis cilindros com válvulas laterais e refrigerado a água, conjunto deste que teve sua produção descontinuada no final do ano de 1947 nos Estados Unidos. Fazia-se necessário então, buscar uma solução emergencial, com sendo desenvolvida através de negociações junto ao Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, visando dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance  Program – MAP), visando a aquisição de um considerável lote de utilitários mais modernos da família Dodge M-37 e M-43. Estes entendimentos resultariam na aquisição e mais de trezentos utilitários usados destes modelos, que passariam a ser recebidos no Brasil a partir do ano de 1966. Esta movimentação permitiria relegar a frota remanescente destes carros de comando, a apenas a tarefas de transporte e serviços administrativos, sendo também suplementados pelos primeiros utilitários de produção nacional, que por apresentarem melhor desempenho e conforto passariam a serem empregados no transporte de oficiais e comandantes.
Durante a década de 1960, a equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), sediado em São Paulo, dedicou-se a estudos inovadores para substituir os motores a gasolina Dodge T-214 por modelos a diesel de fabricação nacional. Inspirada em programas bem-sucedidos de remotorização, como os aplicados aos caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e aos veículos meia-lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track, essa iniciativa visava prolongar a vida útil da frota de utilitários Dodge, enfrentando os desafios impostos pela descontinuação das peças de reposição do motor T-214 nos Estados Unidos. Apesar do potencial transformador, o projeto de remotorização não avançou além da fase inicial de protótipos, devido a limitações técnicas e logísticas. Como solução paliativa, optou-se pela retífica dos motores a gasolina originais, um esforço que abrangeu uma parte significativa da frota dos modelos Dodge WC-51, WC-52, além de algumas dezenas de WC-56 e WC-57, permitindo que esses veículos continuassem a servir com dedicação por mais alguns anos. Paralelamente, a década de 1960 marcou o início da incorporação de utilitários militarizados de fabricação nacional, como os modelos da família Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85 e o Toyota Bandeirante. Esses veículos, projetados para atender às demandas do terreno brasileiro e às necessidades operacionais, foram gradualmente adotados não apenas pelo Exército Brasileiro, mas também pela Marinha do Brasil e pela Força Aérea Brasileira (FAB). A introdução em larga escala desses utilitários nacionais representou um marco na busca pela autossuficiência militar, atendendo de forma eficaz às exigências logísticas e operacionais da Força Terrestre. Esse movimento desencadeou a desativação progressiva dos Dodge WC-51, WC-52, WC-56 e WC-57. Ao longo da década de 1970, apenas um pequeno número dessas viaturas permaneceu em serviço operacional, refletindo a transição para uma frota mais moderna. Os últimos carros de comando, os modelos WC-56 e WC-57, foram retirados do serviço ativo apenas em 1981, encerrando uma trajetória de quase quatro décadas de contribuições inestimáveis. Algumas dessas viaturas, preservadas em batalhões e comandos militares, foram mantidas como veículos cerimoniais operacionais, servindo como testemunhas vivas da história e da resiliência dos militares brasileiros. Esses utilitários, que outrora transportaram oficiais em campos de batalha e apoiaram missões cruciais, permanecem como símbolos de uma era de transformação e compromisso com a modernização das Forças Armadas Brasileiras.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-56 “EB10-143”, fizemos uso do antigo kit fabricado pela Peerless, na escala 1/35, a opção por este fabricante se deu pela dificuldade da obter o modelo da Italeri no mercado. Apesar de compartilharem o mesmo molde, o plástico empregado por este primeiro fabricante é quebradiço indicando assim baixa qualidade do material. Não foram necessárias mudanças para se representar a versão empregada pelo Exército Brasileiro, fizemos uso de decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set " Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982 ".
O esquema de cores descrito abaixo, representa o padrão de pintura tático militar do Exército dos Estados Unidos (US Army), presente em todos os veículos recebidos durante a campanha de Itália, recebendo apenas as marcações nacionais brasileiras. Após o término do conflito os Dodge WC-56 e WC-57 manteriam este esquema, recebendo apenas pequenos detalhes de marcações de tipo e número de série do veículo. As viaturas empregadas pela Força Aérea Brasileira manteriam o padrão de pintura original norte-americano até a sua retirada de serviço no início da década de 1970.



Bibliografia : 
- Dodge WC Series – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características  Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947
- Dodge 3/4  Ton WC-51 Uma Experiência real na FEB, por Expedito Stephani Bastos

Curtiss P-40E Warhawk

História e Desenvolvimento.
A Curtiss Airplane and Motor Company foi fundada em um momento de efervescência na aviação, quando pioneiros buscavam transformar o sonho de voar em realidade prática. Glenn Hammond Curtiss, nascido em 1878 em Hammondsport, Nova York, era um inventor visionário, inicialmente conhecido por sua paixão por motocicletas e motores. Em 1907, Curtiss juntou-se à Aerial Experiment Association (AEA), liderada por Alexander Graham Bell, onde desenvolveu os primeiros projetos de aeronaves, como o June Bug, que realizou um voo público de 1,6 km em 1908, conquistando o troféu Scientific American. A experiência de Curtiss com motores leves e confiáveis, combinada com sua habilidade em projetar aeronaves, levou à fundação da Curtiss Aeroplane Company em 1909, que evoluiu para a Curtiss Airplane and Motor Company em 1916. Sediada em Buffalo, Nova York, a empresa focava na produção de aeronaves e motores, com ênfase em hidroaviões e aviões de treinamento. Curtiss, conhecido como o “pai dos hidroaviões”, revolucionou a aviação naval com designs como o Curtiss NC-4, que, em 1919, realizou o primeiro voo transatlântico da história, partindo de Newfoundland, Canadá, até os Açores e Lisboa. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou um ponto de inflexão para a Curtiss Airplane and Motor Company, que se tornou a principal fornecedora de aeronaves de treinamento para os Estados Unidos e seus aliados. O Curtiss JN-4 Jenny, um biplano de dois lugares introduzido em 1915, foi o carro-chefe da empresa, utilizado para treinar milhares de pilotos americanos e canadenses. Com um motor Curtiss OX-5 de 90 hp, o Jenny era robusto, confiável e fácil de pilotar, tornando-se um ícone da aviação militar inicial. Mais de 6.000 unidades foram produzidas, e o avião continuou a ser usado na aviação civil após a guerra, popularizando voos acrobáticos e barnstorming nos anos 1920. Além do Jenny, a empresa desenvolveu hidroaviões como o Curtiss H-12 e H-16, usados pela Marinha dos Estados Unidos e pela Royal Naval Air Service britânica em missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW). Na década de 1920, a Curtiss Airplane and Motor Company diversificou sua produção, desenvolvendo aeronaves civis, militares e motores avançados. A empresa investiu em pesquisa e desenvolvimento, criando caças como o Curtiss P-1 Hawk, introduzido em 1925 para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). O P-1, projetado por engenheiros como Don R. Berlin, incorporava avanços como construção em metal e motores mais potentes, pavimentando o caminho para caças modernos. A empresa também se destacou na produção de motores, como a série Curtiss D-12, um motor V-12 refrigerado a líquido que oferecia desempenho superior aos radiais da época. Usado em aeronaves de competição como o Curtiss R3C, pilotado por Jimmy Doolittle para vencer a Schneider Trophy em 1925, o D-12 consolidou a reputação da Curtiss como inovadora em propulsão.

Em 1929, a Curtiss Airplane and Motor Company fundiu-se com a Wright Aeronautical, formando a Curtiss-Wright Corporation. A Wright Aeronautical, herdeira do legado dos irmãos Wright, era especializada em motores radiais, como o Wright Whirlwind, que propulsionou o Spirit of St. Louis de Charles Lindbergh. A fusão integrou a expertise da Curtiss em aeronaves e hidroaviões com a liderança da Wright em motores, criando uma potência industrial capaz de atender às demandas da aviação militar e civil. Esta corporação teria destacada participação no esforço aliado durante a Segunda Guerra Mundial, se tornando a maior fabricante de aviões e componentes aeronáuticos críticos dos Estados Unidos. Este resultado seria o fruto do esforço e da ousadia empresarial deste competitivo segmento de mercado, que em inúmeras ocasiões empregaria recursos próprios no desenvolvimento de seus projetos.  Um destes exemplos pode ser representado na criação da aeronave de combate Curtiss Model 75, um modelo de caça monomotor monoplano concebido totalmente com investimento privado da companhia. Este projeto seria originado dentro de um ousado programa de planejamento estratégico da empresa, que visava antever possíveis demandas do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Este avião seria projetado pelo engenheiro aeronáutico Don R. Berlin, que trazia grande experiência obtida junto sua passagem anterior pela Northrop Aircraft Company. O primeiro protótipo seria concluído em maio de 1934, e apresentava uma moderna construção, toda em metal com superfícies de controle cobertas de tecido, um motor radial Wright XR-1670-5 desenvolvendo 900 hp (670 kW). Esta nova aeronave  estava armada com duas metralhadoras de calibre 7,62 mm instaladas nas asas e uma metralhadora de calibre 12,7 mm sincronizada disparando através do arco da hélice.  Nesta fase inicial, a aeronave não dispunha de blindagem de cabine ou tanques de combustível auto-vedantes. O primeiro protótipo alçaria voou no dia 6 de maio de 1935, atingindo uma velocidade de 452 km/h a 10.000 pés (3.000 metros) durante os primeiros voos de teste. Apesar da limitação em altas altitudes devido à ausência de um turbocompressor, o Y1P-36 impressionou o USAAC, culminando em 1937 com um contrato para a produção de 210 aeronaves, agora oficialmente designadas P-36A Hawk. As primeiras unidades foram entregues em abril de 1938 ao 20º Grupo de Caça (Pursuit Group), sediado em Barksdale Field, Louisiana, onde iniciaram a conversão de pilotos e a formação de multiplicadores para o emprego operacional. Porém os embates aéreos decorrentes da invasão japonesa na China a partir de 7 de julho de 1937 e posteriormente do início da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, trariam a tona novos patamares de desempenho para aeronaves de caça e ataque.
Com os melhores exemplos desta nova realidade se materializando na excelente performance em combate dos caças alemães Messerschmitt Me-109 e japoneses Mitsubishi AM-6 Zero, tornavam claro e evidente aos oficiais do Exército dos Estados Unidos (US Army),  que o novo caça Curtiss P-36A Hawk, não seria páreo no ambiente de guerra moderna para este novo nível de ameaça. Visando atender a esta deficiência, a equipe de projetos da Curtiss-Wright Corporation quis dar um sopro de vida a seu projeto anterior, que apesar de já ter atingido o limite de seu desenvolvimento, poderia servir de base para uma nova aeronave mais capaz, com um custo de desenvolvimento equalizado. Inicialmente a equipe de engenheiros da empresa se dedicaria ao estudo envolvendo o casamento entre a célula básica do Curtiss P-36 Hawk, com uma sofisticada versão do potente motor radial refrigerado a líquido produzido pela empresa Allison Engine Company no modelo V-1710, recebendo este novo projeto a designação militar de Curtiss XP-37. Um contrato seria firmado com o Exército dos Estados Unidos (US Army) para o desenvolvimento e produção de treze células de pré-produção para avaliação em ensaios de voo, pelo Corpo Aéreo do Exército. Infelizmente após sua entrega estas células acabaram sendo atingidas por toda sorte de problemas, principalmente vinculados ao grupo motopropulsor e seus componentes complementares, levando ao cancelamento deste projeto. Visando retomar a busca por uma solução, a empresa optou por uma linha mais conservadora, descartando o motor radial e aplicando em seu lugar um motor em linha com disposição "V" com 1.150 hp de potência. Esta nova aeronave receberia do comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a designação de XP-40, com o primeiro protótipo alçando voo em 14 de outubro de 1938, estando sob o comando do piloto de testes da empresa Edward Elliot. No entanto, para a preocupação da diretoria Curtiss-Wright Corporation e completo desespero de seu projetista chefe Donavan Berlin, o desempenho da aeronave no programa inicial de ensaios em voo seria muito insuficiente, desagradando assim os militares norte-americanos. Emergencialmente este cenário levaria a introdução de uma série de alterações para que o Curtiss XP-40 atingisse um desempenho mínimo para assim ser aceito pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).  Apesar destas modificações, a aeronave preocupamente continuava nitidamente inferior em termos de desempenho e manobrabilidade quando comparados aos novos caças alemães e japoneses.   

Mesmo compreendendo as limitações deste novo modelo, o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) se viu premido pela urgente necessidade de se reaparelhar sua arma aérea, levando este cenário a influenciar profundamente a decisão de aquisição desta nova aeronave.  Aliado a esta importante motivação, estava o baixo custo de aquisição e operação, e a possibilidade de poder ser colocado em produção seriada, muito antes de qualquer aeronave de melhor performance que poderia estar em desenvolvimento naquele momento.  Desta maneira em 26 de abril de 1939, seria assinado o primeiro contrato para a produção de exemplares da versão Curtiss P-40B, com este modelo sendo popularmente chamado de "Tomahawk". As primeiras aeronaves de série começariam a ser entregues aos grupos de caça norte-americanos a partir de abril de 1940.  Seu batismo de fogo ocorreria no final de 1941, junto a Força Aérea da República da China (ROCAF), quando caças pertencentes à esquadrilha "Tigres Voadores", pilotados por voluntários norte-americanos entrariam em combate pela primeira vez contra aeronaves japonesas. Apesar de performance inferior aos seus opositores, o líder do esquadrão o lendário Coronel Claire Chennault, treinaria seus pilotos a exaustão, conseguindo assim extrair ao máximo as poucas características positivas do Curtiss P-40B Tomahawk. Este processo resultaria durante toda a campanha na destruição de quase trezentas aeronaves inimigas contra a perda de apenas quatro caças Curtiss P-40B Tomahawk, em ocorrências de combates ar-ar. A Força Aérea Real - RAF (Royal Air Force) em 1940, se tornaria o segundo operador internacional desta família de aeronaves, com o governo britânico se valendo dos termos programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), procedendo a encomenda de centenas de células das versões P-40B  Tomahawk IIA e P-40C Tomahawk IIB. Seu batismo de fogo junto aos britânicos ocorreria a partir de agosto de 1942, quando empregados nas operações aérea na África do Norte, neste campo e batalha os embates ar-ar se dariam a média altura ou missões de ataque a solo. Este perfil de operação ajudaria a aeronave a melhorar seus resultados, tendo em vista seu sofrível desempenho em altas altitudes. Neste contexto o 112º Esquadrão de Caças da Força Aérea Real (Royal Air Force) seria o pioneiro neste front de batalha, com suas aeronaves empregando o famoso esquema de nose art "Shark Mouth" (boca de tubarão), com estes sendo inspirados nos mesmos grafismos empregados nos caças pesados Messerschmitt Me-110 Zerstörer, da Força Aérea Alemã (Luftwaffe). A ausência de turbo compressores nos Curtiss P-40B e P-40C tornavam estas aeronaves nitidamente inferior aos caças alemães Messerschmitt BF 109 e Focke-Wulf FW 190 em combate a altas altitudes.
No intuito de sanar esta atividade a Curtiss-Wright Corporation desenvolveriam a partir de 1941, as versões P-40D e P-40E Warhawk, que passavam a contar com motores mais potentes, turbo compressores, armamento orgânico renovado e blindagem reforçada.  Destas variantes iniciais, seriam produzidas mais de mil e quinhentas células, que apesar de todas as falhas de projeto, seriam notabilizadas por grandes resultados quando em serviço em teatros de operações como China, Burma, Leste Europeu, Pacífico Sul e Norte da África. O primeiro envolvimento em combate com os Curtiss P-40E Warhawk do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), se daria durante o ataque e Pearl Harbour em 7 de dezembro de 1941, quando dois destes caças lograram êxito em decolar em meio ao bombardeio das Aviação Naval da Marinha Imperial do Japão, chegando a abater vários aviões japoneses. No início da campanha do Pacífico, a maior parte das operações de interceptação e ataque executadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), seriam suportadas pelo binômio de caças Curtiss P-40 Warhawk e Bell P-39 Airacobra, atuando em conjunto com os Grumman F-4F Wildcat da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), contribuindo decisivamente assim para suportar a pressão japonesa durante o período crítico inicial do conflito. Já em serviço no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) os Curtiss P-40E Warhawk seriam operados por um total de quinze grupos de caça entre os anos de 1941 e 1945 e por algumas unidades de reconhecimento tático. Neste período, novas versões seriam desenvolvidas como o Curtiss P-40K e P-40M que passariam a ser equipados com varia melhorias como motores mais potentes Allison Engine Company -1710-73 (F4R) V-12, sistema de refrigeração válvula rotativa, adoção de radiadores e resfriadores em alumínio, carlingas sem moldura e maior capacidade de transporte de bombas. Além da Grã-Bretanha e China Nacionalista, os caças Curtiss P-40 Warhawk seriam cedidos nos termos do programa de ajuda militar Leand & Lease Act Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), a mais nações aliadas durante o conflito, como Austrália, Canada, Nova Zelândia, União Soviética e Brasil. O modelo passaria a ser substituído no Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas unidades de caça a partir do ano de 1944 pelos novos North American P-51 Mustang e Republic P-47 Thunderbolt. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944, seriam produzidas um total de 13.739 células, divididas em doze versões distintas. Após o término do conflito estas aeronaves se manteriam em uso pelas forças aéreas do Egito, Brasil, Finlândia, França, Indonésia, Polônia, Holanda, África do Sul e Turquia, operando pelo menos até a segunda metade da década de 1950.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou esses temores, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar (atual Senegal). Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico vulnerável devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que, após a campanha alemã no Norte da África iniciada em 1940, figurava nos planos expansionistas do Terceiro Reich. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, incluindo a ocupação da Indochina em 1940 e das Filipinas em 1942, transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, utilizada em pneus, vedações e outros componentes críticos para a indústria bélica. A costa nordeste brasileira, particularmente nas cidades de Recife e Natal, adquiriu relevância estratégica por ser o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, facilitando o translado aéreo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África, como a Operação Tocha de novembro de 1942.  Diante dessas ameaças, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, resultando em uma série de acordos estratégicos. Um dos mais significativos foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), promulgado pelo Congresso americano em março de 1941. Esse programa destinou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões (equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados para 2025), voltada para a aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e navios. O objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras, que, na época, enfrentavam obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina operacional militar. Os recursos do Lend-Lease foram essenciais para capacitar o Brasil a enfrentar as ameaças representadas pelos submarinos alemães (U-boats) da Kriegsmarine e italianos da Regia Marina, que intensificaram ataques contra a navegação civil e militar ao longo do extenso litoral brasileiro. Entre 1942 e 1943, cerca de 20 navios mercantes brasileiros foram afundados, impactando o transporte de matérias-primas cruciais para os Estados Unidos. A modernização naval e aérea, impulsionada pelo programa, permitiu ao Brasil desempenhar um papel ativo na defesa do Atlântico Sul e na proteção das rotas marítimas aliadas. Neste período a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida em 20 de janeiro de 1941, enfrentava desafios significativos devido à obsolescência de sua frota. Composta por aeronaves ultrapassadas, a Aeronáutica carecia de equipamentos modernos, incluindo aviões de treinamento básico e avançado, essenciais para formar pilotos militares em quantidade e qualidade suficientes para atender às demandas de um conflito global. 

Um ambicioso programa de reequipamento foi implementado com o objetivo de fortalecer a defesa territorial do país, tanto em seu vasto território continental quanto em suas áreas ultramarinas. Esse esforço buscava garantir uma resposta eficaz às crescentes ameaças do conflito, que já se espalhava pela Europa e pelo Pacífico, exigindo do Brasil uma postura de prontidão para proteger seus interesses estratégicos. Nesse contexto inicial de envolvimento brasileiro na guerra, as aeronaves militares da recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), estabelecida oficialmente em 20 de janeiro de 1941, desempenhavam um papel essencial, mas ainda limitado. As missões se concentravam em voos de presença e patrulha ao longo do extenso litoral brasileiro, muitas vezes realizadas por monomotores como o North American AT-6B Texan e o Vought V-65B Corsair. Contudo, a aviação de caça da Aeronáutica enfrentava sérias limitações, operando com aeronaves como os Boeing F-4B e P-12, que, além de disponíveis em quantidades reduzidas, eram completamente obsoletos frente aos padrões tecnológicos da época. Essa defasagem colocava a Força Aérea Brasileira (FAB) em desvantagem significativa, tornando a modernização de sua frota uma prioridade inadiável. O programa de reequipamento foi planejado em fases, considerando as demandas emergenciais dos fronts europeu e pacífico, que absorviam grande parte da produção aeronáutica dos Estados Unidos e seus aliados. A primeira etapa priorizou a entrega de aeronaves de treinamento e conversão, fundamentais para a formação de um quadro de pilotos capacitados a atender às exigências operacionais de um conflito moderno. Em seguida, a aviação de patrulha marítima foi fortalecida, com o objetivo de proporcionar cobertura aérea aos comboios militares e civis que navegavam pelas costas brasileiras, vulneráveis a ataques de submarinos inimigos, como os U-boats alemães que operavam no Atlântico Sul. Essa abordagem escalonada, no entanto, postergava a aquisição de caças modernos diretamente das linhas de produção. A introdução de aeronaves de combate de ponta só se concretizaria mais tarde, com a entrega dos caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, que equipariam o 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa). Essas aeronaves desempenhariam um papel crucial nos céus da Itália, onde o Brasil se destacou como o único país sul-americano a enviar forças de combate ao teatro europeu da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a chegada de caças novos de fábrica era aguardada, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu, em 8 de março de 1942, um lote inicial de dez células do Curtiss-Wright P-36A Mohawk, provenientes de unidades de reserva ou treinamento do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Apesar de serem consideradas modernas para os padrões brasileiros da época, essas aeronaves foram classificadas como “restritas para voo”, o que limitava severamente seu uso em operações de combate devido a questões de manutenção e desempenho.
Um marco significativo no processo de modernização ocorreu em abril de 1942, com a entrega de seis células novas de fábrica do Curtiss P-40E-1-CU Warhawk. Originalmente destinadas à Força Aérea Real (RAF) britânica, essas aeronaves foram redirecionadas para atender às necessidades urgentes da Força Aérea Brasileira (FAB). As células chegaram ao Brasil ostentando o padrão de camuflagem britânico, incluindo a icônica pintura “Shark Mouth” (boca de tubarão) na fuselagem, um detalhe que conferia um caráter distintivo e intimidador. Com matrículas originais ET-742, ET-778, ET-779, ET-780, ET-782 e ET-785, elas foram redesignadas no Brasil, inicialmente como “FAB 01 a 05” e, posteriormente, como “FAB 4020 a 4025”. Curiosamente existem um registro fotográfico de pelo menos uma célula deste modelo ostentando padrão de pintura do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Estas aeronaves seriam destinadas a Base Aérea de Fortaleza, onde foram incorporadas ao Agrupamento de Aeronaves de Adaptação (AAA), unidade esta que fora criada em 4 de fevereiro de 1942, tendo com sua principal missão a adaptação dos militares brasileiros as aeronaves norte-americanas. Sob a tutela de instrutores do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), seriam ministrados cursos nessas e em outras aeronaves pertencentes à dotação, para assim atualizar o conhecimento técnico do pessoal brasileiro, auferindo-lhe melhor instrução sobre procedimentos e táticas de emprego que estavam sendo utilizados nos combates aéreos sobre a Europa e o Pacífico. Em novembro deste mesmo ano, um segundo lote de aeronaves de caça seria transferido a Força Aérea Brasileira, composto por dez células do modelo Curtiss P-40K-10CU, e logo em seguida um terceiro lote com dezessete unidades da variante Curtiss P-40K-15CU e por fim dez aeronaves do modelo Curtiss P-40M-5-CU. Logo em seguida os P-40E seriam transferidos para operação junto a Base Aérea de Natal, onde voariam ao lado de aeronaves North American AT-6, Curtiss P-40K e Curtiss P-40M, no Grupo Monoposto Monomotor (GMM). Esta unidade era composta por quatro esquadrilhas, sendo os veteranos Curtiss P-40E Warhawks concentrados na primeira esquadrilha do grupo. Mesmo não dispondo de armamento adequado para combate contra submarinos, a presença de caças monomotores como os Curtiss P-40E Warhawk, já era suficiente para inibir as atividades dos submarinos alemães e italianos em missões de torpedeamento no litoral brasileiro, pois estes submersíveis não possuíam meios para diferenciar distintos tipos de aeronaves a grandes distancias e altitudes. O agravamento do estado beligerante provocado pelo evoluir de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, levaria a urgência de realização de um grande número de surtidas de patrulha fazendo uso de todos os meios disponíveis no Grupo Monoposto Monomotor (GMM). Assim tão logo os novos pilotos fossem declarados como "habilitados" naquelas aeronaves, já passavam a ser escalados para a participação em longas e tediantes missões de patrulha nas regiões litorâneas do nordeste brasileiro. No entanto periodicamente, estes pilotos também exercitavam suas habilidades de tiro ar-terra no estande de exercício militar adjacente ao campo de pouso de Jardim de Angicos no estado do Rio Grade do Norte. 

A partir de 1943, os Curtiss P-40E Warhawk passariam também a serem empregados pelo II Grupo Monoposto Monomotor, sediado na Base Aérea de Recife.  No dia 17 de agosto de 1944, a Força Aérea Brasileira (FAB) marcou um momento significativo em sua trajetória durante a Segunda Guerra Mundial com a extinção do Grupo Monoposto Monomotor (GMM). Em seu lugar, foi criado o 2º Grupo de Caça (2º GpCa), uma unidade destinada a concentrar todos os caças Curtiss P-40 Warhawk em operação na cidade de Natal, Rio Grande do Norte. Essa nova organização foi a primeira a receber as modernas células do modelo P-40N, representando um avanço na capacitação da FAB para atender às demandas do conflito global. Contudo, a permanência do 2º GpCa em Natal foi breve. Apenas um mês após sua criação, o Ministério da Aeronáutica (MAer) determinou sua transferência para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, acompanhada de parte de sua equipe, equipamentos e aeronaves. Para preencher o vazio deixado em Natal, foi instituído o 1º Grupo Misto de Aviação (1º GMA), uma unidade que combinava esquadrilhas de caças equipados com diferentes versões do Curtiss P-40 — incluindo os modelos P-40E, P-40K, P-40M e P-40N — e bombardeiros North American B-25B e B-25J Mitchell. Essa estrutura, no entanto, também teve vida curta. Pouco tempo depois, o 1º GMA foi substituído pelo 5º Grupo de Bombardeio Médio (5º GBM), e todas as células remanescentes da família P-40 foram transferidas para a Base Aérea de Santa Cruz, consolidando a presença desses caças no Rio de Janeiro. A transição dos veteranos P-40E, porém, não foi imediata. Antes da transferência, decidiu-se que essas aeronaves, intensamente utilizadas nas fases iniciais do envolvimento brasileiro na guerra, passariam por uma revisão geral no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). Para isso, foi formada uma comissão técnica encarregada de implementar um processo de manutenção extensiva, com o objetivo de prolongar a vida útil dessas células. Durante as inspeções, no entanto, foram identificados desgastes estruturais significativos, resultado do uso prolongado e intensivo em missões de patrulha e treinamento. Esses problemas culminaram na decisão de condenar quatro dessas aeronaves, declaradas inaptas para voo, evidenciando os limites impostos pela fadiga estrutural após anos de operação em condições exigentes. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou um novo capítulo em sua história. O retorno ao Brasil da frota de caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, operada pelo 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) nos céus da Itália, marcou um momento de renovação. Esses aviões, que se destacaram em combate no teatro europeu, assumiram o papel principal como caças e aeronaves de ataque, aliviando a carga operacional das células remanescentes dos Curtiss P-40. A chegada de mais dezenove células novas de fábrica do modelo P-47D-40 Thunderbolt, entregues no pós-guerra, reforçou ainda mais a capacidade da Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo uma reorganização estratégica de sua frota. Nesse contexto, as células sobreviventes da família P-40 Warhawk foram transferidas para a região Sul do Brasil, passando a operar a partir da Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul. 
Na Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul, o 3º Grupo de Caça, integrante do 3º Regimento de Aviação, foi equipado com as células remanescentes das versões P-40E, P-40K, P-40M e P-40N. Essa transição simbolizava não apenas a evolução tecnológica da Força Aérea Brasileira (FAB), mas também o esforço incansável de seus oficiais, pilotos e técnicos, que enfrentaram desafios logísticos e operacionais para manter a operacionalidade dessas aeronaves em um período de intensas transformações. Entre essas aeronaves, destacava-se o veterano Curtiss P-40E Warhawk, registrado como "FAB 4021". Essa célula, considerada inicialmente apta para recuperação e modernização, encontrava-se em um meticuloso processo de revisão nas oficinas do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). O trabalho, conduzido com extremo rigor técnico, revelou-se excepcionalmente complexo, estendendo-se por quase cinco anos devido à necessidade de reparos detalhados para restaurar a integridade estrutural da aeronave. Somente no final de março de 1950, o "FAB 4021" foi reintegrado ao serviço ativo, sendo imediatamente transladado em voo para a Base Aérea de Canoas. Lá, foi incorporado à dotação do 1º/14º Grupo de Aviação, conhecido como Esquadrão Pampa — nova designação adotada a partir de 1947 para o antigo 3º Grupo de Caça do 3º Regimento de Aviação —, integrando a Esquadrilha Branca. Nesse período, o Esquadrão Pampa concentrou todas as células remanescentes da família P-40, incluindo as versões E, K, M e N, que continuavam a cumprir missões de treinamento e patrulha, embora em um papel cada vez mais limitado frente à crescente predominância dos P-47 Thunderbolt. O "FAB 4021" permaneceu em operação até agosto de 1953, quando, seguindo o calendário de manutenção preventiva de segundo nível, foi novamente levado ao Parque de Aeronáutica de São Paulo para uma revisão programada. Após os reparos, a aeronave retornou ao serviço, mas sua trajetória operacional aproximava-se do fim. Em abril de 1954, inspeções revelaram danos críticos, incluindo nervuras de asas partidas e rachadas, evidenciando o desgaste acumulado por anos de uso intensivo durante e após a Segunda Guerra Mundial. Apesar de sua extensa e honrosa folha de serviços, o estado crítico do "FAB 4021" levou à decisão de sua desativação. A aeronave foi encaminhada ao Núcleo do Parque de Aeronáutica de Porto Alegre (NuPqAerPA), onde foi desmontada para aproveitamento de peças de reposição e matéria-prima. Esse processo marcou o encerramento de sua carreira na FAB, poucos meses antes da retirada oficial de todas as aeronaves remanescentes da família Curtiss P-40 do serviço ativo, em 1954.

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss P-40E-1-CU  Warhawk "FAB 02“ quando em serviço pelo Agrupamento de Aeronaves de Adaptação (AAA) sediado na Base Aérea de Fortaleza durante o ano de 1942, fizemos uso do antigo kit produzido pela Arii Models na escala 1/48. Modelo este que apresenta qualidade razoável de injeção e montagem, apresentando como diferencial a possibilidade de expormos o motor Alison V-1710 em linha da aeronave, o que assim retratamos em nosso trabalho. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presentes no antigo set 48/02.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pela quase totalidade das aeronaves norte-americanas cedidas a Real Força Aérea (Royal Air Force) nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos. Os P-40E brasileiros manteriam este padrão pelo menos até o ano de 1950, quando foram submetidos a uma grande revisão geral em âmbito de parque, deste processo apenas o P-40E "FAB 4021" emergiria passando a ostentar o esquema de pintura em metal natural dos demais modelos desta aeronave em uso pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
- Curtiss P-40 Warfawk  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/curtiss_P-40_warhawk
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha -  http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Jeep M-151 Mutt (VTNE-VTE CSR)

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas.  Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. No final da década de 1930, a Bantam Car Company, sediada em Butler, Pensilvânia, produziu os primeiros setenta veículos utilitários leves com tração nas quatro rodas, que dariam origem à icônica família Jeep, reconhecida como uma das mais célebres linhas de veículos militares da história. Esses primeiros modelos, utilizados inicialmente pelas forças de infantaria do Exército dos Estados Unidos, destacaram-se por sua excepcional mobilidade, desempenhando com êxito uma ampla variedade de missões operacionais. Esse desempenho motivou a decisão de adotar o veículo em larga escala nas Forças Armadas norte-americanas, levando à abertura de um processo licitatório para o desenvolvimento de uma versão aprimorada, destinada à produção em grande quantidade. Em 1941, após um processo de avaliação e contratação marcado por debates, a produção do Jeep foi iniciada nas fábricas da American Bantam Company, Ford Motor Company e Willys-Overland Company. As primeiras unidades começaram a ser entregues ao Exército a partir de março de 1942. Os soldados, encantados com a versatilidade do veículo, passaram a chamá-lo de “GP” (sigla para General Purpose, ou “Propósito Geral”), cuja pronúncia em inglês lembrava a palavra “jeep”. Curiosamente, o termo “jeep” também evocava um personagem querido da cultura popular: Eugene, o animal de estimação de Olívia Palito, namorada do marinheiro Popeye, nos quadrinhos e desenhos animados dos anos 1930. Eugene era conhecido por seus poderes extraordinários, como superforça e a habilidade de caminhar por paredes e tetos. Inspirados por essa associação, os militares começaram a chamar seus veículos de “Jeep”, uma alusão às suas capacidades impressionantes. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (“Ei, ele é um verdadeiro Jeep!”) tornou-se comum para descrever pessoas com habilidades físicas notáveis, consolidando o nome como um símbolo de robustez e versatilidade. Durante toda a Segunda Guerra Mundial, a produção desta versátil família de utilitários leves superaria mais de meio milhão de carros, destes 363.000 produzidas pela Willys Overland Co. e cerca de 280.000 entregues pela Ford Motors Company. 

O modelo seria ainda um dos principais expoentes do Programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com mais de 51.000 unidades fornecidas somente para a União Soviética, além de milhares mais para os países aliados.  O término da Segunda Guerra Mundial em agosto de 1945, levaria a uma desmobilização quase que imediata dos esforços de produção industrial militar dos Estados Unidos. Desta maneira, todas as indústrias de defesa norte-americanas, seriam profundamente afetadas por cancelamentos nos contratos de produção. Entre estas empresas estava a Willys Overland Company, que neste momento dedicava quase que a totalidade das linhas de produção e ferramental para a produção da família Jeep. No final da década de 1940, a Willys-Overland Company, reconhecendo a necessidade de reorientar estrategicamente seu portfólio automotivo, voltou suas atenções para o mercado civil. Essa mudança foi impulsionada por uma significativa vantagem de marketing: a Ford Motor Company, sua concorrente, estava judicialmente impedida de utilizar a marca “Jeep”. Assim, a empresa consolidou sua posição ao capitalizar a popularidade do nome que se tornara sinônimo de robustez e versatilidade. Assim a Willys-Overland lançou as bases para a versão civil de seu icônico veículo militar, o Willys MB, dando origem ao Willys CJ-2 (Civil Jeep). Foram produzidos quarenta exemplares pré-série, mas a fabricação em escala industrial teve início apenas em julho de 1945, com o modelo aprimorado CJ-2A. Embora baseado no design do Willys MB, o CJ-2A foi adaptado para o uso civil, com modificações significativas na carroceria e na construção. Equipado com o confiável motor Willys Go-Devil de quatro cilindros, o modelo apresentava carburador e sistema de ignição distintos, além de eliminar características exclusivamente militares, garantindo maior apelo ao público não militar. Em 1949, a montadora introduziu o CJ-3A, que permaneceu em produção até 1953, quando foi substituído pelo CJ-3B. O CJ-3A era movido pelo motor L-134 Go-Devil de 60 cv (45 kW; 61 cv), combinado com uma transmissão T-90, caixa de transferência Dana 18, eixo dianteiro Dana 25 e eixo traseiro Dana 41 ou 44. Esse modelo consolidou a reputação da Willys no mercado civil, oferecendo durabilidade e desempenho em diversas condições.  No final da década de 1940, os Jeeps da Segunda Guerra Mundial (MB e GPW) ainda estavam em uso, mas apresentavam sinais de obsolescência. O Exército americano precisava de um veículo que mantivesse a versatilidade e capacidade off-road dos modelos anteriores, mas com melhorias em durabilidade, capacidade de carga e operação em ambientes extremos, como rios profundos e terrenos lamacentos. A Willys, com sua experiência na produção do MB, foi escolhida para desenvolver esse novo modelo, aproveitando a base do Jeep civil CJ-3A, lançado em 1948, mas com modificações significativas para atender às especificações militares. Este programa envolveria a militarização do modelo civil porém envolvendo também características estruturais dimensionadas as demandas específicas do Exército dos Estados Unidos (US Army), nascendo assim o projeto do jipe  4X4  M-38.
Os primeiros carros pré-série seriam extensamente avaliados junto ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland), sendo logo homologados para uso operacional.  Em janeiro de 1951 seria celebrado um primeiro contrato para cinco mil veículos que passariam a ser entregues no segundo semestre do mesmo ano. Este seriam implantados no principal teatro de operações durante a Guerra da Coreia (1950-1953) sendo empregados pelo Exércitos dos Estados Unidos (US Army) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha (US Marine Corps). Mais contratos seriam firmados logo em seguida, com o modelo ficando conhecido também na Europa pela utilização por unidades militares norte-americanas na então Alemanha Ocidental. Aproximadamente dois mil e trezentos jipes M-38, seriam fabricados pela Ford Motors do Canadá para as Forças Armadas Canadenses a partir do ano de 1952, sendo localmente designados como jipe M38-CDN. Anos depois as  forças armadas norte-americanas e mais notadamente o Exército dos Estados Unidos (US Army), mantinham em suas frotas, frota milhares de veículos das versões mais recentes dos modelos M-38 e M-38A1. Neste momento estava em curso um estudo enfocando a implementação a curto e médio prazo de um grande programa de programa de renovação da força motomecanizada. Esta intenção seria materializada no mês de novembro de 1952, quando o Departamento de Comando da Força Automotriz e Tanques do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army's Ordnance Tank Automotive) lançaria concorrência nacional, que seria direcionada a várias montadoras norte-americanas, com o objetivo de se desenvolver um novo veículo utilitário de 1/4 Toneladas com tração integral 4X4. Este novo utilitário leve deveria apresentar como parâmetros básicos a manutenção da ótima relação de custo-benefício de aquisição e operação, a exemplo de seus antecessores. Ao todo, sete montadoras de carros e caminhões responderiam a esta concorrência, apresentando aos militares do exército seus projetos e propostas a partir de maio do ano seguinte. Um auspicioso processo de análise seria realizado, com a decisão pendendo para a proposta apresentada pela Ford Motor Company, este projeto abordava um utilitário que apesar de manter o mesmo lay out básico e as dimensões de seus  predecessores, passava a apresentar um desing final completamente novo, pois ao contrário dos projetos de “jeeps” anteriores, o novo carro contava com uma estrutura que consistia em uma cuba de aço aparafusada em uma estrutura de aço separada, empregando um novo conceito de quadro integrado, combinando os trilhos da estrutura no chassi do veículo composto por chapas soldadas. A adoção deste conceito em substituição ao quadro separado conceberia ao veículo uma distância maior do solo, baixando assim o centro de gravidade, este processo ocasionaria em um pequeno aumento no comprimento, tornando o também mais confortável, outra melhoria resultante foi implementada na suspensão, através da eliminação dos eixos rígidos dianteiros e traseiros, lhe permitindo viagens em alta velocidade em terrenos acidentados.

Com o projeto aprovado este projeto passaria a receber a pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) a designação militar de M-151, recebendo assim a liberação para produção em série. E seguida em maio de 1956, seria firmado um primeiro contrato entre a montadora Ford Motors Company, prevendo inicialmente a aquisição de quatro mil veículos, com sua produção em série sendo iniciada em janeiro de 1958. Os primeiros jipes M-151 seriam incorporados ao Departamento de Comando da Força Automotriz e Tanques do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army's Ordnance Tank Automotive) no segundo semestre do mesmo ano. O primeiro emprego do jipe Ford M-151 em cenario de conflagração real se daria após a ocorrência do primeiro ataque das forças dos vietcongues e do exército regular do Vietnã do Norte a uma base norte-americana no Vietnã do Sul. Este preocupante evento levaria o presidente John F. Kennedy a decidir pelo envio de ajudar militar material a este país, sendo este composto principalmente por material usado, constante dos estoques de reserva das forças armadas norte-americanas. Neste momento, os Estados Unidos hesitavam em se envolver num conflito numa região tão distante após o fracasso militar americano durante a Revolução Cubana. Em agosto de 1964, porém, os serviços secretos americanos forjam incidente entre seus navios e uma suposta embarcação do Vietnã do Norte no Golfo de Tonkin. Este movimento demandaria a decisão do presidente Lyndon Johnson em enviar os primeiros contingentes de soldados para lutar neste país, incluindo neste processo uma grande quantidade de veículos e equipamentos, entre estes os novos jipes Ford M-151.  Porém seu emprego operacional neste cenario de operações evidenciaria graves falhas de projeto, entre estes uma grande tendência a instabilidade quando usado em altas velocidades, podendo provocar acidentes graves como capotamento. Como medida paliativa, os motoristas militares tanto americanos como sul vietnamitas  costumavam colocar uma caixa de munição cheia de areia debaixo do banco traseiro quando nenhuma outra carga estava sendo carregada visando assim proporcionar um lastro extra para manter o centro de gravidade da viatura. Porém o grande número de acidentes registrados, iria gerar uma vasta documentação de não conformidade junto aos órgãos norte-americanos federais para a regulamentação de segurança rodoviária para veículos civis. Com este processo demandando então em uma limitante, impedindo a comercialização do Ford M-151 no mercado civil, não só de unidades novas, mas também posteriormente a entusiastas e colecionadores militares. No anseio de eliminar esta falha original do projeto, engenheiros Ford Motors Company, redesenhariam o sistema de suspensão do tipo “Semi Suspensão do Braço Traseiro (Semi-Trailing Arm Suspension). Desta modificação nasceria em 1970, a nova versão M-151A2 que após ser testada em campo provaria ao comando de material militar dos Estados Unidos que as principais falhas foram solucionadas. 
Com base nisto seria decidido a realização de novos contratos de produção, como neste momento a Ford Motors Company estava operando no limite de sua capacidade fabril, seria concedida as montadoras Kaiser Motors Company e  AM General Corp, a autorização para produção sob licença, a fim assim de atender as demandas emergenciais militares. Em termos de diferenças estéticas entre as distintas versões, o M-151A2 se distinguia pela combinação do posicionamento das luzes de direção o que levaram a alteração no formato dos para lamas.  A exemplo do modelo original o veículo serviria de base para a criação de variantes especializadas como a ambulância M-718A1, porta canhão sem recuo M-825, versão de ataque rápido aerotransportado M-151A2 FAV e a versão antitanque equipadas com misseis M-151A2 TOW. O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marine Corps) se tornaria o segundo maior operador da família, iniciando suas primeiras aquisições em 1971, com versões customizadas para esta força recebendo as designações de Marine FAV Mk I e MKII "Super Jeep, Airborne Marine FAV,  MR-C108 e  pôr fim a versão M-1051 dedicada a combate a incêndios.   Até meados da década de 1980, a família de jipes Ford – Kaiser - AM M-151 se tornaria responsável pelo sustentáculo de mobilidade das forças norte-americanas, no segmento de utilitários de 1/4 toneladas com tração integral 4X4. Apesar de atenderem a contento as demandas militares naquele momento, era claro que a médio prazo está família de veículos necessitaria ser substituída por modelos mais robustos e com maior capacidade operacional. Este processo levaria a uma nova concorrência para um modelo desta categoria denominado como Veículo de Rodas Multiuso de Alta Mobilidade, culminado no desenvolvimento do famoso AM General HMMWV “Humvee”. Os primeiros lotes deste novo modelo começariam a ser incorporado as forças regulares do Exército dos Estados Unidos a partir do ano de 1983. Este processo levaria a retirada de serviços dos veículos da família jipe M-151 Mutt, com grande parte desta frota sendo colocada na reserva estratégica. Em 1984 esta frota passaria a ser disponibilizada a nações “amigas” em condições muito favoráveis nos termos do programa de Vendas Militares Estrangeiras (Foreign Military Sales FMS), com milhares destas viaturas sendo adquiridas pelas forças armadas da Argélia, Argentina, Bolívia, Bahrein, Camarões, Canadá, Chile, Colombia, República Democrática do Congo, Dinamarca, Egito, El Salvador, Etiópia, França, Gana, Grécia, Honduras, Guatemala, Indonésia, Israel, Jordânia, Kuwait, Luxemburgo, México, Marrocos, Paquistão, Panamá, Portugal, Peru, Filipinas, Portugal, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido, Vietnã do Sul, Iêmen, Zaire e Líbia. Atualmente uma grande parcela destes utilitários ainda se encontra em serviço regular. Entre os anos de 1958 e 1982 seriam produzidos um total de mais de cem mil veículos desta família, excepcionalmente em 1988 a linha seria reaberta para produção de mil carros destinados a atender uma encomenda do governo jordaniano.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A trajetória dos veículos utilitários leves com tração 4x4, amplamente conhecidos como jipes, nas Forças Armadas Brasileiras teve início em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, com a adesão do Brasil ao programa norte-americano Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Esse acordo bilateral marcou um momento pivotal, permitindo a transferência de aproximadamente dois mil jipes ao Brasil, sem uniformidade de fabricante ou modelo. Embora não existam registros detalhados que especifiquem a proporção de veículos fornecidos pela Ford Motor Company ou pela Willys-Overland Company, sabe-se que os primeiros lotes, compostos por unidades novas e usadas provenientes da frota e da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos, começaram a chegar ao país em março de 1942. Dentre esses, 655 jipes foram enviados diretamente à Itália para equipar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que desempenhou um papel notável no teatro de operações europeu. A experiência adquirida pelo Exército Brasileiro com o uso desses jipes em um contexto de guerra revelou-se inestimável. Robustos e versáteis, esses veículos foram fundamentais para consolidar a doutrina motomecanizada da Força Terrestre, influenciando profundamente as estratégias militares nas décadas seguintes. Entre os anos 1940 e 1950, a frota de jipes, complementada por outros meios de transporte, proporcionou às Forças Armadas Brasileiras, especialmente ao Exército, uma capacidade operacional até então inédita. A mobilidade conferida por esses veículos fortaleceu as operações de infantaria, garantindo maior agilidade e eficiência em uma ampla gama de cenários táticos. Com o passar dos anos, entretanto, o desgaste operacional e a obsolescência natural dos jipes começaram a comprometer sua disponibilidade. A escassez de manutenção adequada, agravada pela dificuldade em obter peças de reposição para modelos cuja produção havia sido descontinuada, resultou em um aumento alarmante de veículos inoperantes. Diante desse desafio, que impactava diretamente o Exército Brasileiro, o governo federal passou a avaliar a aquisição de um novo lote de jipes diretamente de fabricantes, considerando modelos como os da família Willys M-38, sucessores naturais dos icônicos Ford GPW e Willys MB. Essa iniciativa tinha como objetivo substituir as viaturas mais desgastadas, revitalizando a frota de utilitários leves. No entanto, essa opção foi preterida em favor de uma proposta mais vantajosa oferecida pelo governo dos Estados Unidos. Por meio dessa oferta, o Brasil recebeu um significativo lote de jipes Willys MB, armazenados como reserva estratégica e classificados como material excedente de guerra. Essa decisão, economicamente estratégica, permitiu ao Exército Brasileiro atender às suas necessidades operacionais sem comprometer os recursos financeiros disponíveis, assegurando a continuidade da funcionalidade de sua frota de veículos utilitários leves.

Na década de 1950, enquanto a indústria automotiva brasileira dava seus primeiros passos, impulsionada por programas de incentivos do governo federal, as Forças Armadas Brasileiras iniciaram um movimento significativo de modernização de sua frota de veículos utilitários leves. Nesse período, o Exército Brasileiro passou a incorporar um número considerável de jipes nacionais militarizados, produzidos pela Willys-Overland do Brasil, incluindo os modelos CJ-2A e, posteriormente, CJ-3, CJ-4 e CJ-5. Essa iniciativa fortaleceu a capacidade operacional da Força Terrestre, posicionando o Exército Brasileiro como uma das forças sul-americanas mais bem equipadas em termos de jipes com tração 4x4 na categoria de 1/4 tonelada. A produção local de peças de reposição, um marco de autossuficiência, garantiu a alta prontidão operacional dessa frota, reduzindo a dependência de suprimentos estrangeiros e assegurando a manutenção eficiente desses veículos. Paralelamente, no âmbito dos programas de assistência militar firmados com os Estados Unidos, o Exército Brasileiro recebeu um expressivo lote de jipes Willys M-38 usados. Esses veículos, cedidos como parte de acordos bilaterais, complementaram a frota nacional, reforçando a capacidade de mobilidade em operações táticas. A combinação de produção local e apoio internacional consolidou a robustez logística do Exército, permitindo-lhe atender às demandas operacionais com agilidade e eficiência. De forma inesperada, em meados da década de 1960, novos jipes de origem norte-americana foram incorporados ao Exército Brasileiro, em um contexto influenciado por eventos internacionais. Em 1961, a República Dominicana enfrentava um período de grave instabilidade política, desencadeado pelo assassinato do ditador Rafael Leónidas Trujillo Molina. Após esse evento, o país realizou eleições em dezembro de 1962, nas quais Juan Bosch, fundador do Partido Revolucionário Dominicano (PRD), emergiu vitorioso. Contudo, as esperanças de estabilidade foram frustradas por políticas populistas de tendência esquerdista, incluindo a redistribuição de terras e a nacionalização de empresas multinacionais estrangeiras. Essas medidas, consideradas equivocadas por setores conservadores, culminaram em um golpe militar em setembro de 1963, liderado pelo general Elías Wessin, comandante do Centro de Entrenamiento de las Fuerzas Armadas (CEFA). Esse grupo de elite, composto por cerca de dois mil soldados altamente treinados, foi criado originalmente por Ramfis Trujillo para proteger o regime e supervisionar a Guarda Nacional, a Marinha e a Força Aérea. Após o golpe, o poder foi transferido a um “Triunvirato Civil”, que aboliu a Constituição, declarando-a “inexistente”, e passou a governar o país segundo suas próprias diretivas. Em 24 de abril de 1965, a instabilidade se intensificou com uma rebelião liderada pelo coronel Francisco Caamaño, à frente de um grupo de jovens oficiais conhecidos como “Constitucionalistas”, que defendiam o retorno de Juan Bosch. 
A escalada do conflito na República Dominicana, marcada pela distribuição de armas à população civil pelos insurgentes "Constitucionalistas", gerou um cenário de guerra civil que abalou profundamente o país caribenho. Diante do risco de agravamento da crise, o Departamento de Estado dos Estados Unidos, preocupado com a possibilidade de a instabilidade evoluir para uma situação semelhante à de Cuba, iniciou os preparativos para a evacuação de seus cidadãos e de outros estrangeiros que desejassem deixar o país. Relatórios de inteligência norte-americana alertavam que o avanço dos rebeldes poderia transformar a República Dominicana em um foco de influência esquerdista na região. Para evitar esse cenário, o presidente Lyndon Johnson autorizou uma intervenção militar, sob o pretexto oficial de proteger a segurança de estrangeiros. A operação, deflagrada pelo Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) e pela 82ª Divisão Aerotransportada do Exército dos Estados Unidos, contou com o respaldo da Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa coalizão culminou na formação da Força Interamericana de Paz (IAPF), oficialmente criada em 23 de maio de 1965, com a participação de contingentes militares de Brasil, Honduras, Paraguai, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. Os Estados Unidos assumiram a responsabilidade de prover armamentos, munições, suprimentos e equipamentos para as nações envolvidas, garantindo o suporte logístico necessário para as operações de pacificação e estabilização política na República Dominicana. O Brasil, representado pelo Exército Brasileiro, integrou a missão com um contingente inicial que desembarcou em 25 de maio de 1965. Para equipar suas tropas, foram fornecidos 88 veículos utilitários de origem norte-americana, incluindo os modelos Ford M-151A1, Kaiser M-151AC (equipado com o canhão sem recuo M-40A1 de 106 mm) e M-718 Ambulância. Durante mais de um ano, esses veículos desempenharam um papel central nas operações conduzidas pelo contingente brasileiro, que contava com mais de quatro mil soldados. Atuando em turnos, os militares brasileiros participaram de missões de pacificação, garantindo a segurança e contribuindo para a restauração da ordem no país. Com o término da intervenção da Força Interamericana de Paz, em 21 de setembro de 1966, as tropas brasileiras iniciaram os preparativos para seu retorno ao Brasil. Nesse contexto, o Departamento de Estado dos Estados Unidos determinou a doação de todo o material militar utilizado pelos países participantes, incluindo os jipes Ford M-151A1, Kaiser M-151AC e M-718 Ambulância. 

Em 23 de setembro de 1966, os jipes Ford M-151A1, Kaiser M-151AC e M-718 Ambulância foram oficialmente transferidos ao Exército Brasileiro, como parte da doação de equipamentos utilizados na Força Interamericana de Paz (IAPF) na República Dominicana. No início de outubro do mesmo ano, esses veículos, acompanhados do último contingente de soldados brasileiros, foram transportados por navios da Marinha do Brasil de volta ao país. Após um processo de revisão e manutenção, os jipes foram distribuídos a diversas unidades de infantaria motorizada localizadas na região Sudeste, reforçando significativamente suas capacidades operacionais. Embora apresentassem algumas limitações em alta velocidade, os modelos Ford M-151A1 (VTNE) e Kaiser M-151AC (VTE CSR) demonstraram desempenho notavelmente superior aos jipes então em uso pelo Exército Brasileiro, como os Willys MB e M-38. Em operação os primeiros modelos seriam empregados em tarefas de reconhecimento tático, com as unidades de infantaria motorizada usavam os M-151A1 para missões de patrulha e reconhecimento, aproveitando sua agilidade para explorar terrenos e identificar ameaças potenciais. Já as Viaturas de Transporte Especializado - Canhão sem Recuo, equipados com a arma M-40 Recoilless Rifle de 106 mm seria utilizada como apoio a infantaria atuando em operações de fogo direto contra alvos blindados ou fortificados, funcionando como uma plataforma móvel de artilharia leve. Por fim a terceira versão a Viatura Especializada Ambulância M-718 operaria em tarefas de evacuação médica, desempenhando um papel crucial em operações de movimentação de feridos para a retaguarda nos hospitais de campanha, especialmente em exercícios e missões em áreas remotas, onde a mobilidade era essencial.  Um dos momentos mais significativos do emprego dos jipes Ford M-151 pelo Exército Brasileiro ocorreu durante a participação na Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF) na Crise do Canal de Suez, no Egito. Durante essa missão de paz, iniciada em 1956 e com participação brasileira até 1967, pelo menos 30 viaturas cedidas pela ONU foram utilizadas pelos últimos contingentes brasileiros, a partir de meados da década de 1960. Esses jipes, incluindo modelos M-151A1 e Kaiser M-151AC, seriam extensamente empregados nas missões de monitoramento de zonas de cessar-fogo e áreas de tensão no deserto do Sinai, em tarefas de transporte de suprimentos e pessoal em terrenos áridos, garantindo a mobilidade das tropas brasileiras e por fim em apoio a missões de observação da Organização das Nações Unidas (ONU), com a variante M-151AC oferecendo capacidade de resposta rápida em caso de incidentes. 
Em 1968, a Marinha do Brasil fortaleceu sua capacidade operacional ao adquirir um lote de pelo menos 20 jipes usados dos modelos Ford M-151A1 e Kaiser M-151AC, destinados ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Essa aquisição representou um marco significativo para a Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE), especialmente em operações anfíbias e terrestres, onde a mobilidade e a versatilidade eram essenciais. Carinhosamente apelidados de “Patinhas” pelos fuzileiros, esses jipes demonstraram sua robustez e confiabilidade em diversas missões, com destaque para a Operação Dragão IX, em 1974. Durante esse exercício, os veículos foram desembarcados a partir do Navio de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) Garcia D’Avila (G-28), desempenhando um papel crucial em manobras que exigiam rapidez e eficiência em terrenos desafiadores. A participação dos “Patinhas” reforçou a tradição de excelência do CFN, consolidando sua capacidade de projeção de força em cenários operacionais complexos. Os jipes Ford M-151 permaneceram em serviço na Marinha do Brasil até meados da década de 1980, quando começaram a ser substituídos pelos veículos militarizados da família Toyota Bandeirante. Sua longevidade reflete não apenas a qualidade intrínseca desses utilitários, mas também a habilidade dos fuzileiros navais em maximizar seu uso, mesmo diante de recursos limitados. Esses veículos, que marcaram presença em missões nacionais e internacionais, tornaram-se símbolos da dedicação e da capacidade de adaptação dos militares brasileiros, que souberam extrair o máximo de suas viaturas para cumprir suas missões com eficiência e coragem. No Exército Brasileiro, os jipes Ford M-151A1, Kaiser M-151AC e M-718 Ambulância, originalmente recebidos em 1966 após a Força Interamericana de Paz (IAPF) na República Dominicana, continuaram a desempenhar um papel vital em unidades de infantaria motorizada. Contudo, no início da década de 1990, com o avanço do desgaste natural e a crescente obsolescência, foi decidido concentrar as viaturas remanescentes no 24º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIM), sediado na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de sua confiabilidade comprovada e do potencial para anos adicionais de serviço, a frota enfrentava desafios crescentes devido à dificuldade de obtenção de peças de reposição no mercado internacional, uma vez que a produção dos modelos M-151 havia sido descontinuada em 1982. Diante desse cenário, o Exército Brasileiro optou pela desativação progressiva desses veículos, substituindo-os por modelos mais modernos, como os britânicos Land Rover Defender e os nacionais Agrale Série AM Marruá. A retirada oficial dos últimos jipes Ford M-151 do serviço ativo ocorreu em meados de 2004, encerrando uma era de contribuições significativas para a Força Terrestre. Muitos desses veículos foram preservados em museus militares, onde permanecem como testemunhos de uma época marcada por desafios e conquistas, enquanto outros foram adquiridos por entusiastas e colecionadores civis, mantendo viva a memória de sua importância histórica.

Em Escala.
Para representarmos o VTE CSR Kaiser M-151A1C "EB-22-1430", fizemos uso do excelente kit da Academy, presente na escala 1/35, que nos brinda com um bom detalhamento do grupo motriz e munição para o canhão M-40A1 de 106 mm. Este modelo permite ainda montagem out of box (direto da caixa) para assim se representar a versão utilizada pelo Exército. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set Exército Brasileiro  1944 -1982. 
O esquema de cores  (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos  os veículos Ford – Kaiser  M-151A1, M-151A1C e M-718 Ambulância, quando de seu recebimento na República Dominicana, já em posse do Exército Brasileiro passariam a ostentar o Cruzeiro do Sul e identificações da Força Interamericana de Paz (IAPF). Após seu recebimento no Brasil passariam contar com as matrículas seriais padrão, este esquema se manteria até o ano de 1983, quando passaram a receber um novo padrão de camuflagem tática de dois tons, permanecendo este até sua desativação. 

Bibliografia : 
- M-151 Truck Utility - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/M151_Truck,_Utility,_l/4-Ton
- M-151 no Brasil - Arquivo Pessoal - Paulo Bastos
- O Brasil e a Rep Dominicana  Bruno P . Vilella http://www.uff.br