Caça Submarinos Classe PC-461

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o intensificar das tensões na Europa motivados pelas ameaças expansionistas do governo alemão juntamente com as pretensões territoriais do Império do Japão na Ásia, já denunciavam claramente o que estava por vir, com o possivelmente o mundo se encaminhado cada vez mais para um estágio de grande conflagração. Este cenário levaria o governo norte-americano a antecipar estudos criando vários programas de modernização de suas forças armadas, visando assim poder fazer frente as hipotéticas ameaças futuras. No que tange ao poder naval, este representaria uma das maiores preocupações, com este fato sendo potencializado pelo crescimento da armada imperial japonesa e construção de uma grande força de submarinos por parte das marinhas italianas e alemães. Apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, relatórios de inteligência britânicos apresentavam a cada dia ,informes mais alarmantes sobres as capacidades da força de submarinos da Marinha Alemã (Kriegsmarine). A possível atuação coordenada deste grande número submersíveis poderia estrangular as linhas de abastecimento naval da Grã-Bretanha, que neste momento tinha uma grande dependência de importações estratégicas oriundas principalmente dos Estados Unidos. Apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, relatórios de inteligência britânicos apresentavam a cada dia informes mais alarmantes sobres as potencialidades da força de submarinos da Marinha Alemã (Kriegsmarine). A possível atuação deste grande número submersíveis poderia estrangular as linhas de abastecimento naval da Grã-Bretanha, que neste momento tinha uma grande dependência de importações oriundas principalmente dos Estados Unidos. A solução mais lógica apontava o desenvolvimento e construção de uma representativa frota de navios especializados em escoltas de comboio e guerra antissubmarino, como destroieres e fragatas, para assim garantir uma efetiva proteção aos comboios de navios mercantes. No entanto os investimentos para um programa desta magnitude, seria na ordem de centenas de milhões de dólares, drenando grande parte dos recursos destinados ao esforço de guerra, se fazendo assim necessário buscar soluções mais econômicas, podendo assim ampliar em larga escala a frota de embarcações destinadas a guerra antissubmarino (ASW). Uma das alternativas apontava o emprego de uma embarcação de pequeno porte e muito ágil, já utilizada com grande êxito contra os submarinos alemães na Primeira Guerra Mundial, os “Submarine Chaser” (caçador de submarino). 

Curiosamente após o término deste conflito em 1918, erroneamente considerava-se que tipo de embarcação, se tornaria ultrapassado no início da próxima década, devido ao evoluir dos submersíveis para combate em mar aberto. No entanto vislumbrava-se que poderiam ser empregados com êxito em missões junto a faixa costeira, permitindo assim que os navios de maior parte como os destroieres fossem empregados mais mar adentro, multiplicando assim o fator de dissuasão antissubmarino da frota. Durante este mesmo conflito, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), também faria uso deste tipo de embarcação especializada em guerra antissubmarino (ASW) operando com grande êxito, sendo empregados principalmente nas regiões costeiras do continente tarefas patrulha e ataque aos submarinos alemães. Neste momento estes navios contavam como principal armamento, dispensers de cargas de profundidade sendo complementados por reparos de metralhadoras antiaéreas para autodefesa. Este histórico positivo avalizaria o direcionamento de recursos, para o desenvolvimento de uma nova classe de “Submarine Chaser” (caçador de submarino) que apresentasse um baixo custo de construção e operação, podendo assim ser disponibilizado para a frota naval norte-americana em grande escala.  Seria criado assim março de 1940,  o programa "Experimental Small Craft program", que seria conduzido pela equipe técnica dos estaleiros Defoe Shipbuilding Company no estado de Michigan. Este direcionamento culminaria do desenvolvimento de  dois projetos experimentais, classificados como  PC-451 e  PC-452, com estes dois tipos de navio sendo avaliados comparativamente, resultando em uma versão final de construção que receberia a designação de classe PC-461. Estas embarcações apresentavam um deslocamento de 280 toneladas (padrão) e  450 toneladas quando plenamente carregado, com suas dimensões sendo da ordem de  52,73 metros de comprimento, 7,01 metros de boca e 3,04 metros  de calado.  Em termos de propulsão estavam equipadas com dois motores diesel de 16 cilindros General Motors Model 16-258S que geravam 2.000 bhp cada que operavam acoplados a dois eixos com hélices de três pás, que lhe proporcionavam uma velocidade máxima de máxima de 20 nós, podendo ainda proporcionar um alcance máximo de 3.000 milhas náuticas quando desenvolvesse uma velocidade de 12 nós. Seu pacote de armamentos padrão seria composto por um canhão naval de 3 pol. (76.2 mm/50); um canhão Bofors L/60 de 40 mm montado em um reparo Mk 3, duas metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos Mk 4, dois lançadores óctuplos de bomba granada A/S (LBG) de 7.2 pol. Mousetrap Mk 20 na proa; duas calhas de cargas de profundidade Mk3 e por fim dois lançadores laterais do tipo KMk 6 para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9. 
Diferente de seus antecessores “Submarine Chaser” (caçador de submarino) empregados durante a Primeira Guerra Mundial, onde a detecção de seus alvos era feita visualmente, a nova classe PC-461 passaria a ser equipada com um radar de vigilância de superfície tipo SF ou SL, operando em conjunto com um novo modelo de sonar de casco. A operação do navio de seus sistemas e armas seria facilmente efetuada por sessenta e cinco homens, sendo cinco oficiais e sessenta praças. Atendendo as especificações e parâmetros originais, estas embarcações apresentariam um baixo custo de produção, sendo na ordem de apenas US$ 1,7 milhões por unidade, o tornando ideal para atender as demandas das nações aliadas aos Estados Unidos dentro dos dermos do acordo Leand & Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Neste contexto os primeiros quarenta e seis navios construídos pelos estaleiros da Defoe Boat and Motor Works Company, receberiam a designação de exportação "PC-471" com a maioria destes navios sendo imediatamente transferidos para a Marinha Real Britânica (Royal Navy) para emprego posterior no Mar do Norte, liberando os contratorpedeiros para atuar na proteção de comboios em alto mar. A necessidade de prover a segurança contra submarinos alemães e japoneses nos portos e nas águas costeiras, transformaria o “Submarine Chaser” PC-461 em um programa estratégico de grande importância, e assim para o atendimento de todas as demandas necessárias, seriam firmados contratos de construção na ordem de quatrocentos navios. A fim de se garantir o cronograma de entrega, seu projeto seria concedido sob licença para a produção junto aos estaleiros da  Luders Marine Construction Company, em Stanford no estado de Connecticut. O primeiro navio teria seria lançado ao mar em maio de 1941, e até outubro de de 1944 seriam concluídos trezentos e quarenta e três navios, porém neste período já estava claro que a ameaça inimiga de submersíveis havia cessado, e com base neste cenário seria decido cancelar a produção dos sessenta navios restantes. 

Naturalmente seu batismo de fogo se daria com os PC-471 da Marinha Real Britânica (Royal Navy), com os primeiros embates contra submarinos alemães sendo registrados em julho de 1941, no entanto ao longo da Segunda Guerra Mundial seriam empregados em todos os fronts de batalha naval, atuando destacadamente no Pacífico, Atlântico, Caribe e Mediterrâneo. Seu escopo operacional envolvia desde missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e escoltas finais de comboio, estas, no entanto na realidade não representavam missões empolgantes ou gloriosas, objetivas e de curta duração, como aconteciam rotineiramente com os aviões aeronavais de guerra antissubmarino (ASW), os quais recebiam informes precisos para ataque aos navios inimigos que apresentavam riscos aos comboios. Assim a vida dos tripulantes de um “Submarine Chaser”, pelo contrário, era monótona e cansativa, prolongando-se por dias seguidos, patrulhando aéreas próximas as rotas de comboios, sem muitas a ocorrência de embates diretos com os submarinos alemães e italianos. A vitória da missão estava, justamente, em nada de anormal acontecer aos comboios por eles apoiados, com os navios mercantes chegando, com as suas valiosas cargas, ilesos aos seus destinos. As tripulações dos navios da classe PC-461 eram compostas geralmente por gente jovem, pois os tripulantes mais velhos não poderiam resistir à dura rotina e vida de bordo.  Podemos dizer, sem receio de errar, que os homens que tripulavam esses navios, se não eram, tornaram-se verdadeiros marinheiros, como exemplo citamos sua operação de condução, onde os seus dois eixos acoplados hidraulicamente aos motores principais davam ao navio, ao fim de 30 segundos, inicialmente a velocidade de 7 nós, indo depois até 18 nós. Assim o  fato de se levar algum tempo para o acoplamento e arrancar já nos 7 nós, quando se dava a partida no forte motor diesel, perturbava os manobristas de renome, dificultando as atracações e outras manobras. Apesar destas características era um ótimo navio no mar, apesar de baixo, e os seus dois lemes faziam o navio girar muito rapidamente, condição necessária à caça do insidioso inimigo, o submarino alemão. Os caça submarinos da classe PC-461 eram navios excelentes: dificilmente os engenheiros navais poderiam conceber um barco tão completo e, ao mesmo tempo, tão compacto. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, vinte e quatro PC-461 seriam convertidos em canhoneiras de patrulha, motor (PGM) e trinta e cinco foram convertidos em embarcações de controle anfíbio (PCC). Dezoito seriam completados como varredoras de minas da classe Adroit (AM), mas seu desempenho como tal foi considerado insatisfatório e eles foram convertidos de volta para a configuração original.  Registros oficiais creditam ao modelo o afundamento do submarino alemão U-166, o entanto, o site 'Patrol Craft Sailors Association' cita navios da classe PC-461 afundando ou ajudando a afundar até seis submarinos alemães e japoneses.  Numerosos navios da classe PC-461, seriam empregados em missões de apoio durante as operações de desembarque anfíbio na Normandia durante o dia D. Um destes navios, o USS PC-1264 curiosamente seria uma das duas únicas embarcações da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) durante a Segunda Guerra Mundial a apresentar uma tripulação majoritariamente afro-americana. Após o fim do conflito muitos navios da classe PC-461 seriam colocados em esquadrões de reserva ou retirados do serviço ativo. Muitos mais, no entanto, foram fornecidos a aliados norte-americanos em todo o mundo, nos termos do  MDAP (Programa de Defesa e Assistência Mútua).  Um dos maiores beneficiários desta transferência seria a  Marinha da República da Coreia (ROK), a qual receberia uma grande quantidade destes navios.  O primeiro destes o Ex USS PC-823 seria renomeado  como ROKS Baekdusan (PC-701). Esta embarcação desempenharia um papel importante na Batalha do Estreito da Coreia, a pequena batalha naval travada no primeiro dia da Guerra da Coreia, em junho de 1950. Seis navios seriam transferidos para a Marinha Portuguesa em 1949 no âmbito do MDAP (Programa de Defesa e Assistência Mútua) PC-812 como NRP Maio, PC-811 como NRP Madeira, PC-1257 como NRP Santiago, PC-809 como NRP Sal, PC-1256 como NRP São Tomé e PC-1259 como NRP São Vicente. Cinco seriam cedidos para a Marinha da Indonésia em 1958 e 1960 sob o Programa de Assistência Mútua. PC-1141 como KRI Tjakalang, PC-1183 como KRI Tenggiri, PC-581 como KRI Torani, PC-580 como KRI Hiu e PC-787 como KRI Alu-Alu. Diversos outros navios desta classe seriam também transferidos no pós-guerra para as marinhas da França, Camboja, Brasil, Uruguai, Noruega, Grécia, Holanda, China, Bolívia, Israel, Cuba, Camboja, Nigéria, Indonésia, Venezuela, Vietnã do Sul e  Filipinas. 

Emprego na Marinha do Brasil.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil esta potencializada pelo comercio exterior com o Estados Unidos, transportando diariamente matérias primas para a indústria de guerra daquele país.   

O maior desafio neste momento era representado pela campanha de guerra antissubmarino (ASW), com as operações aeronavais sendo realizados por grupos de combate da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Posteriormente com o recebimento de aeronaves especializadas neste segmento de atuação, em fins do ano de 1942, a Força Aérea Brasileira passaria a assumir uma grande parcela destas missões, faltava, no entanto, complementar este esforço fazendo uso efetivo de seu braço naval. Nesta fase a Marinha do Brasil dispunha em termos de navios dedicados a guerra antissubmarino (ASW), somente seis navios mineiros da Classe Carioca (construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Ilha das Cobra), que foram reclassificados como corvetas após o envolvimento do país no conflito. Estas embarcações apesar de contarem com sensores e radares adequados a detecção de submarinos, estavam armados apenas com um canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas, configuração completamente inadequada para o embate junto aos submarinos italianos e alemães. A fim de sanar esta lacuna operacional, seria necessário disponibilizar a Marinha do Brasil, pelo menos um mínimo de estrutura necessária em termos de meio para a implementação destas missões. Assim dentro dos termos de cooperação, seria determinada a transferência de navios pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo inclusos neste pacote oito caça submarinos do tipo PC-461. Estes navios na Marinha do Brasil receberiam a denominação de classe Guaporé, sendo composta inicialmente pelos navios G1 Guaporé (ex-USS PC 544) e  Gurupi - G 2, (ex-USS PC 547), construídos pelo estaleiro Defoe Boat and Motor Works, em Bay City, MI, sendo lançado ao mar em 30 de abril de 1942 e foi incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 05 de junho do mesmo ano. Após o envolvimento do Brasil neste conflito, seriam transferidos e incorporados à Marinha do Brasil em 24 de setembro de 1942 em cerimônia realizada na Base Naval de Natal (RN). Já no dia 5 de outubro, passaria a subordinação da Força Naval do Nordeste (FNNE), criada pelo Aviso n.º 1661, do mesmo dia, para substituir a Divisão de Cruzadores. Iniciariam suas vidas operacionais como navios de treinamento para às futuras guarnições. O G1 Guaporé realizaria sua primeira missão real em 23 de julho de 1943, quando obteve um contato submarino positivo de sonar, lançando suas cargas de profundidade na posição Lat. 00º28' S e Long. 45º 54' W. Em 4 de janeiro de 1958, pelo Aviso Ministerial no 0025, foi determinada a sua baixa  do serviço ativo e entregue ao Exército Brasileiro, em 5 de fevereiro, para ser empregado como transporte de munições, após mais de 15 anos de serviços prestados à Marinha do  Brasil em que navegou 113.869 milhas e fez 427 dias de mar
O terceiro navio o Guaíba - G3 (ex-USS PC 604), foi construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company , em Stanford, Connecticut, sendo lançado em 24 de outubro de 1942 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy)  em 9 de março de 1943. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em 11 de junho de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida, assumindo o comando o Capitão-de-Corveta Aluisio Galvão Antunes. A exemplo dos dois primeiros navios desta classe, participaria de inúmeras missões de escolta mista (norte-americana/brasileira) a comboios nos trajetos principalmente nos de Recife / Salvador, Salvador / Recife, Recife / Trinadad, Trinadad / Recife,  sendo também regularmente empregado em outras rotas de comboio costeiro no país. No ano de 1952 seria  retirado do serviço ativo e vendido como sucata para desmanche. O quarto navio da classe PC-461 o caça submarino Gurupá - G 4 (ex-USS PC 605), seria o  primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil. Seria também construído nos estaleiros da  Luders Marine Construction Comopany , em Stanford, Connecticut, sendo lançado em  19 de novembro de 1942 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 28 de maio de 1943. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em  cerimônia realizada em Miami (Florida), assumindo o comando naquele ocasião do Capitão-de-Corveta Hélio Ramos de Azevedo Leite. Seria  ostensivamente empregado na campanha do Atlântico, participando da cobertura de inúmeros comboios ao longo do litoral nordeste do Brasil. Após o término da Segunda Guerra Mundial manteve suas atividades até ser retirado do serviço ativo em 1952. O quinto navio da classe o  caça submarino Guajará - G 5 (ex-USS PC 607), seria o terceiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a uma Baía localizada no Estado Pará, formada pelo braço Sul do Rio Amazonas e os Rios Capim e Guana. O Guajará foi construído pelo estaleiro Luders Marine Construction Company, em Stanford, Connecticut. Seria lançado em 11 de fevereiro de 1943 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 27 de agosto de 1943. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em 19 de outubro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-de-Corveta Dário Camillo Monteiro. Esteve em operação até meados de 1959 quando deu baixa do serviço ativo.
O sexto navio caça submarino desta classe o Goiana - G 6 (ex-USS PC 554), foi o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio e a cidade homônimas no Estado de Pernambuco. O Goiana seria construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York, sendo lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 15 de setembro de 1942. Seria transferido e incorporado a Marinha do Brasil em 29 de outubro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Geossens Marques.  Em 13 de dezembro de 1951, deu baixa do serviço ativo, sendo submetido a Mostra de Armamento em cumprimento ao Aviso n.º 2632 de 15/10/51 e vendido para desmonte. O sétimo navio da classe o caça submarino Grajaú - G 7 (ex-USS PC 1236), foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a um riacho homônimo do antigo Distrito Federal. O Grajaú foi construído pelo estaleiro Sullivan Dry Dock and Repair Company, em Brooklyn, New York. Seria lançado em 31 de agosto de 1943 e incorporado a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) 15 de novembro, e transferido a Marinha do Brasil no mesmo dia, em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Antônio Augusto Cardoso de Gastão.  Em 11 de abril de 1959 , deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 0847. Por fim o Caça Submarino Graúna - G 8  (ex-USS PC 561), seria o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a essa ave negra de nossa fauna. O Graúna foi construído pelo estaleiro Jeffersonville Boat and Machine Company, em Jeffersonville, Indiana, seria lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a  Marinha dos Estados Unidos (US Navy) em 11 de julho do mesmo ano. Seria incorporado a Marinha do Brasil em 30 de novembro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Leite Soares Júnior. Esta embarcação operaria na  Marinha do Brasil até 15 de outubro, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632.  Em 21 de julho 1944 em serviço ativo, junto com o  Jutaí - CS 52, quando fazia parte do Grupo de Escolta do comboio JT-18, prestou socorro aos náufragos da Corveta Camaquã - C 6, que afundou em razão das péssimas condições do tempo, às 9:30 hs a cerca de 12 milhas a nordeste de Recife - PE. Em 19 de abril de 1950 , retornou a custodia do Governo dos Estados Unidos, através do Departamento de Estado e acabou sendo transferido em definitivo para o Brasil. Em 15 de outubro de 1951, deu baixa do serviço ativo pelo Aviso n.º 2632. 

Em Escala.
Para representarmos o Caça Submarinos da Classe PC-461 Gurupi G2 da Marinha do Brasil, quando a serviço da  Força Naval do Nordeste (FNNE),  fizemos uso de um kit em resina produzido pela empresa francesa L Arsenal na escala 1/350. Este modelo pode ser montado diretamente da caixa tendo em vista que este modelo é muito semelhante aos navios empregados no Brasil. Fizemos uso de decais confeccionados sob encomenda pela Decal Sings.
Apesar da maioria dos Caças Submarinos da Classe PC-461 da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) fazerem uso camuflagens táticas, os registros fotográficos de época apontam que os navios destinados a Marinha do Brasil, foram recebidos no padrão básico de pintura naval. Este esquema de pintura ao longo dos anos se manteria inalterado até o ano de 1959, havendo apenas a alteração na identificação visual dos mesmos. 


Bibliografia : 
- PC-461 Class Submarine Chaser Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/PC-461-class_submarine_chaser
- A Vida nos Caça-Ferro – Poder Naval https://www.naval.com.br/ngb/G/CS-na-IIGM.htm
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/

Cessna UC-78 e UC-78B Bobcat


História e Desenvolvimento. 
O início de uma grande trajetória que culminaria na criação da Cessna Aircraft Company, teve seu início no mês de junho do ano de 1911, quando Clyde Vernon Cessna, um fazendeiro e entusiasta aeronáutico, residente na cidade de Rago, no estado do Kansas, construiria artesanalmente sua própria aeronave, sendo a primeira pessoa a empreender um voo  sobre o rio Mississippi e as montanhas rochosas. Este sucesso logo o motivaria a montar uma estrutura destinada a produção de aeronaves, montando uma pequena oficina na de Enid, no estado de Oklahoma, com esta decisão sendo tomada pela existência de vastas salinas, tornando este local propicio para os futuros testes de voo. Todos os seus projetos apresentariam uma concepção básica biplano, fazendo uso de estruturas em madeira, com suas asas e fuselagem sendo recobertos por tecido. Visando ampliar seu empreendimento, no qual se vislumbrava grande potencial, Clyde Vernon Cessna, iniciaria uma prospecção junto aos bancos em sua região no intuito conseguir empréstimos, porém infelizmente não lograria êxito. Desta maneira procuraria alternativas, se mudando para a cidade de Wichita no Kansas, onde se aproximaria de Walter H. Beech e Lloyd Stearman, iniciando uma nova empresa no ano de 1924, que resultaria na criação da  Travel Air Manufacturing. Ele teria destacada participação na criação de aeronaves promissoras, como os biplanos Travel Air 2000, Travel Air 5000 e Travel Air 500. Discordâncias internas levariam Clyde V Cessna a deixar a companhia, porém seu espírito empreendedor logo afloraria novamente, e em 7 de setembro de 1927, fundaria em sociedade com Victor H. Roos, a Cessna-Roos Aircraft Company. No entanto esta composição se mostraria efêmera, com seu sócio se retirando da empresa em 22 de dezembro de 1927, e a empresa seria renomeada como Cessna Aircraft Corporation. Buscando se estabelecer no mercado de forma solida, sua direção iniciaria o desenvolvimento de um ousado projeto, que receberia a designação de Cessna DC-6, com seu primeiro protótipo alçando voo em 14 de maio de 1929. A nova aeronave receberia sua certificação de aeronavegabilidade no em 29 de outubro, mesmo dia da “quebra” da Bolsa de Valores, movimento este que deflagaria um dos piores períodos da economia norte-americana e mundial.  Neste contexto, a linha de aeronaves da família “CR” representaria a principal razão pela qual a empresa foi capaz de se manter durante a Grande Depressão, apesar de um declínio catastrófico nas vendas de aeronaves. Este caótico cenário levaria Clyde V. Cessna a deixar a direção da empresa, porém em junho de 1933 um fato inusitado iria mudar o destino da empresa, este seria caracterizado quando um piloto profissional fazendo uso de um Cessna CR-3 venceu a American Air Race em Chicago, estabelecendo um novo recorde mundial de velocidade para aeronaves daquela categoria, trazendo notoriedade a marca Cessna.   

Neste momento os sobrinhos de Clyde V. Cessna,  Dwane Wallace e Dwight Wallace, se antevendo a consolidação do sucesso comercial da marca, procederiam a aquisição da companhia, trazendo assim um novo ciclo transformaria o negócio da família.  Nos anos seguintes, a economia norte-americana passaria a apresentar sinais de melhora, com a empresa implementando uma ampla pesquisa de mercado no objetivo para se identificar potenciais nichos no mercado aeronáutico. Este processo logo nortearia a companhia a focar  no desenvolvimento de aeronaves de pequeno porte para transporte, com capacidades máximas de quatro a seis passageiros. Sua aplicação se daria tanto para o mercado civil quanto militar, e neste último sendo destinado a missões de transporte de carga leve e passageiros, ligação e treinamento básico multi motor. Com estas definições o projeto seria iniciado em fins do ano de 1937 e apresentava uma aeronave de porte pequeno, monoplano em cantilever, trem de pouso principal retrátil e equipado com dois motores radiais Jacobs L-4MB de 225 cv, e hélices de passo fixo de metal do modelo Curtiss Reed. Possuía ainda asas constituídas de madeira laminada com cavernas de madeira compensada, sendo dotado ainda de um inédito sistema de ignição projetado pela Delco Automotive Company, que já era presente no segmento automotivo e por fim os flapes que eram acionados eletricamente. Seu principal diferencial era o de apresentar uma relação de custo-benefício de aquisição e operação inferior ao seu principal concorrente o Beechcraft Model 18, que naquele momento detinha ampla liderança no mercado civil norte-americano.  O modelo receberia a designação de Cessna T-50, e seu primeiro protótipo alçaria voo em  26 marco de 1939, sendo logo submetido a um intensivo programa de ensaios em voo que visam sua homologação oficial para emprego no mercado civil.  Sua certificação  de aeronavegabiliTC 722, seria concedida em 24 de março de 1940, levando ao início de sua produção em série, que seria suportada por uma excelente campanha de marketing e vendas, que passaria a despertar a curiosidade de diversos operadores comerciais e particulares. 
Desta maneira estes esforços logo seriam recompensados, resultando nos primeiros contratos de produção, e posteriormente o  inicio das operações em empresas de transporte aéreo regional, não só comprovariam as expectativas positivas da aeronave, como também as superariam, passando a chamar a atenção de grandes empresas de transporte, principalmente devido a sua excelente relação de custo benefício, o que logo se traduziria em novos contratos de produção. Visando manter esta curva de vendas ascendente e se aproximar ainda mais da participação de mercado do  Beechcraft Model 18,  no início do ano de 1940, a empresa desenvolveria a primeira versão da aeronave apresentando uma estrutura metálica mesclada com poucos componentes em madeira e novas hélices Hamilton Standard 2B-20-213 acionadas hidraulicamente, de velocidade constante. No final deste mesmo ano, junto ao governo norte-americano ficava cada dia claro que a entrada do país no conflito europeu era apenas uma questão de tempo, e desta maneira suas forças armadas deveriam se preparar principalmente no que a formação de pessoal especializado, entre estes pilotos, navegadores e tripulantes de bombardeiros. A fim de se atender a esta demanda, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) demonstraria a necessidade de se dispor de uma grande frota de aeronaves para treinamento multi motores. Neste contexto as excepcionais qualidades em voo do Cessna T-50,  a qualificariam como potencial treinador militar para esta especialidade de formação. Duas aeronaves da versão padrão seriam cedidas pelo fabricante para o emprego em um programa de avaliação,  com este processo resultando em uma série de mudanças e melhorias no projeto original, que seriam prontamente atendidas. Entres as modificações aplicadas se destacavam a adoção de   janelas do teto do cockpit, motores Lycoming R-680-09 mais potentes de 290 cv (220 kW) e rádios militares. Um primeiro contrato seria celebrado envolvendo a aquisição de  trinta e três aeronaves, que receberiam a designação de AT-8 e deveriam ser entregues as unidades de treinamento a partir de dezembro de 1940, onde após seu processo de implantação seriam inclusos no programa de formação de pilotos.

Em operação os Cessna AT-8 apresentariam excelente desempenho, levando o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em fins de 1941 a contratar a produção de quatrocentos e cinquenta novas aeronaves. Este novo lote receberia a designação de Cessna AT-17A, que receberiam janelas adicionais do cockpit, hélices em metal e motores radiais Jacobs R-755-9 de 245 cv (183 kW), e seria destinado a suprir a crescente demanda na formação de pilotos para a força de bombardeio estratégico.  Em seguida mais duzentas e vinte e três aeronaves seriam incorporadas. Em 1942, a agora renomeada Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) adotaria o modelo como aeronave de transporte leve pessoal, assinando uma compra de mais quatrocentas e sessenta e cinco aeronaves, que voltariam a ser equipadas com hélices em madeira e peso total reduzido.  Novas versões de treinamento seriam desenvolvidas como o AT-17C que contava com um elaborado sistema de rádio (sessenta aeronaves entregues), e posteriormente os os modelos  AT-17D, AT-17E, AT-17F e AT-17G que apresentavam entre si pequenas diferenças e melhorias no projeto. Em 1943, as células destinadas as missões de transporte leve pessoal seriam redesignadas como  C-78, com a Cessna Aircraft Corporation recebendo um contrato para a produção de mais de mil e trezentas células, que seriam entregues até fins de 1944. Dezessete Cessna T-50 civis seriam incorporados a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), recebendo a designação de UC-78A. Em seguida seria celebrado um novo contrato do modelo UC-78B que passava a contar com hélices de passo variável, com este termo englobando mil e oitocentas e seis células. Em fins de 1944, cento e trinta e um AT-17 seriam convertidos para o padrão UC-78C, e sendo também produzidas cento e noventa e seis novas células. Ainda no final de 1942, sessenta e sete aeronaves do modelo UC-78, seriam transferidas para a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde receberiam a designação de CCI-1. Operando inicialmente nos Estados Unidos, os Cessna AT-17, UC-78 também seriam empregados pelas Forças Armadas Norte-Americanas em  todos os fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo o carinhoso apelido de "Bamboo Bomber".
Em setembro de 1940, a Força Aérea Real Canadense (RCAF -  Royal Canadian Air Force), se tornaria o primeiro cliente de exportação do Cessna T-50, adquirindo cento e oitenta aeronaves que receberiam a designação local de Crane Mk.I. Este modelo estava equipado com hélices de madeira de passo fixo Hartzell, defletores de cabeça de cilindro removíveis e aquecedores de óleo, com a primeira aeronave sendo entregue em 04 de novembro do mesmo ano. Em 1941 seria assinado um contrato para a produção sob licença de seiscentas e quarenta células, que deveriam entregues até fins de 1943, estas aeronaves seriam destinadas a tarefas de transporte leve e treinamento junto ao Plano de Treinamento Aéreo da Commonwealth Britânica. Em 1942 mais cento e oitenta células do modelo Cessna AT-17A seriam cedidas a Força Aérea Real Canadense (RCAF) em regime de comodato, recebendo a designação de Crane Mk.IA.  Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de aeronaves desta família seriam inclusos como item do programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), passando a operar junto as forças armadas da França Livre, China Nacionalista e Brasil. Ao todo entre os anos de 1939 e 1944 seriam produzidas cinco mil quatrocentas e vinte e duas células dispostas em vinte versões, após o conflito uma grande parte destas aeronaves seria desmobilizada. Um kit de conversão para o modelo civil T-50 seria desenvolvido com centenas de células sendo compradas por pequenas companhias aéreas, operadores de fretamento e pilotos privados. Em setembro de 1947 quando da formação da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), poucos Cessnas AT-17 e UC-78 ainda estavam em serviço, com o modelo sendo declarado como obsoleto em 1949, sendo desativado logo em seguida. Uma grande quantidade de aeronaves seria doada as nações alinhadas ao interesses geopolíticos norte-americanos, dentro do escopo de programa de ajuda militar, sendo cedidos ao  Peru, Costa Rica, Etiópia, Guatemala, Polônia, França, Haiti, Nicarágua e Iêmen. Muitas destas aeronaves militares e e civis se manteriam em operação normal até o início da década de 1970. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. 

A recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização neste momento, pois dispunha em sua frota um grande número aeronaves já obsoletas, carecendo principalmente de modelos de treinamento básico e avançado, o que não lhe permitir formar quantitativamente e qualitativamente pilotos militares, necessidade esta fundamental para a preparação de uma arma aérea forte e eficiente. Além da carência apresentada no processo formação básica, a Aeronáutica não dispunha de programas específicos destinados ao emprego em missões especializadas em aeronaves multimotoras, contando para este fim com apenas algumas aeronaves do bimotor alemão  Focke-Wulf FW-58 Weihe. E mesmo o uso desta aeronave em treinamentos reduziria em muito a capacidade brasileira em realizar compor o imediato esforço de guerra nacional, direcionado principalmente as atividades relacionadas a busca e destruição de submarinos do Eixo, que até então representavam uma grave ameaça a navegação militar e civil nas costas do mar territorial brasileiro. Em atendimento a estas demandas o plano de intercambio operacional entre a Força Aérea Brasileira e a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), previa a estruturação dos meios materiais e doutrinários para a formação de pilotos, navegadores e bombardeadores, com a finalidade de prover os efetivos necessários para a realização das missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim o treinamento em aeronaves multimotores seria fundamental, para a capacitação de seus tripulantes, sendo entregues inicialmente em meados de 1942 seis treinadores do modelo  Beechcraft AT-7-BH. Neste contexto estavam previstos também o recebimento de trinta e nove bimotores Cessna UC-78, equipados com os motores Jacobs R-755-9 L-4 de 245 hp. O primeiro lote composto por dezenove células novas de fábricas, seriam entregues na base aérea de San Antonio Field no estado do Texas em dezembro de 1943, sendo transladados em voo para o Rio de Janeiro por cadetes da reserva e oficiais da Força Aérea Brasileira.  Até março do ano seguinte já eram trinta aeronaves recebidas e transladadas até o Brasil que se encontravam disponíveis, e de imediato vinte destas seriam transferidas a Escola de Aeronáutica (EAer) baseada no Campo dos Afonsos na cidade do  Rio de Janeiro.   Por sua vez, os Quartéis Generais das 2 º e 4 º Zonas Aéreas receberiam duas aeronaves UC-78 cada um, enquanto o Quartel General da 3º Zona Aérea receberia uma célula, as demais aeronaves seriam entregues a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA), sendo destinadas ao emprego em missões de ligação e transporte leve, operando também em apoio as missões do Correio Aéreo Nacional (CAN). 
No que tange aos Cessna UC-78 destinados a Escola de Aeronáutica (EAer), estes passariam a desenvolver as tarefas de treinamento avançado, apresentando aos cadetes do terceiro ano as particularidades do voo multimotor. Este programa envolveria tarefas dedicadas de voo noturno, voo em grupo, deslocamentos de curta, média e longa distância em um programa com uma carga aproximada de cento e trinta horas de voo.  Este aprendizado visava preparar a adaptação das equipagens ao perfil de voo que encontrariam nas aeronaves de primeira linha entre eles os Douglas A-20 Havoc, Norh American B-25 Mitchel, Douglas C-47 e Lockheed PV1 Ventura.   Já as aeronaves destinadas a Diretoria de Rotas Aéreas (DRA) e aos quarteis generais anteriormente citados seriam utilizados prioritariamente em missões de transporte de pessoal, com emprego secundário em linhas curtas do  Correio Aéreo Nacional (CAN). No entanto esta organização inicial não perduraria por muito tempo, pois em fevereiro de 1945 a Força Aérea Brasileira viria a receber um segundo lote de células usadas do modelo UC-78B, que seriam concentrados também no Campo dos Afonsos para cumprirem missões de treinamento na Escola de Aeronáutica (EAer). As ressalvas sobre esta distribuição, ficariam por conta de um exemplar trazido isoladamente e destinado a Escola Técnica de Aviação (ETAv) e dois Cessna UC-78 distribuídos ao 1º Grupo de Transporte e colocados à disposição da comissão encarregada da implantação da Fábrica Nacional de Motores (FNM). Por fim transitoriamente, os últimos Cessna UC-78 permaneceriam em poder da Seção de Aviões de Comando, embora alguns tenham sido colocados a disposição da Diretoria de Aviação Civil (DAC). Neste período a Força Aérea Brasileira, se tornaria o terceiro maior operador militar das aeronaves da família Cessna T-50 - UC-78 Bobcat no contexto global, porém curiosamente em nosso país este modelo teriam uma passagem quando em serviço. Assim que encerrada a Segunda Guerra Mundial, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), determinaria que as células remanescentes ainda lotadas na Escola de Aeronáutica (EAer), passassem a ser gradativamente transferidas as bases aéreas do Galeão, Natal, Salvador, Porto Alegre, Santa Cruz, Santos e Florianópolis (destacamentos) Nestas novas localidades passariam a atuar como aeronaves orgânicas, desempenhando uma série de tarefas administrativas e de transporte, sendo ainda ocasionalmente empregadas em proveito de linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN).   
Porém logo os anos seguintes assistiriam a rápida erosão da frota, nem sempre como consequência de algum acidente aeronáutico, mas principalmente em função da  concepção  estrutural de seu projeto. Assim por mais robusta que fosse,  por mais robusto que fosse, o extenso uso de madeira em sua estrutura faria com que a aeronave estivesse particularmente vulnerável as condições ambientais diversas existentes em todo território nacional, principalmente em áreas de alta umidade. Esta exposição prolongada nestas condições levaria a condenação de diversas células para voo pelo parque apoiador, com esta decisão sendo tomada pela identificação de grande incidência de apodrecimento do madeirame das asas e da fuselagem.  Antes de serem descartadas estas aeronaves seriam canibalizadas para a retirada de de componentes mecânicos, elétricos e hidráulicos,  visando assim manter o máximo de disponibilidade de voo da frota residual em serviço. Neste contexto apesar da redução da frota estas aeronaves se manteriam em serviço normalmente, aumentando inclusive a frequência de inspeções estruturais.  Em outubro de 1956 dentro do programa de reorganização da Força Aérea Brasileira, o boletim ministerial de número 93/52 da Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) determinava que as células remanescentes fossem redesignadas como Cessna T-17.  Neste momento haviam somente dezoito aeronaves em condição de voo, que receberiam as  matriculas de FAB 1800 a FAB 1818, porém novamente ao ingressarem no calendário de  revisão em âmbito de parque, este numero seria novamente reduzido devido a problemas de ordem estrutural. No segundo semestre de 1957 restavam apenas onze células em condições de voo , numero reduzido este que passaria a inviabilizar sua operação funcional, levando a realização de estudos sobre o futuro do modelo na Aeronáutica.  Em 17 de novembro de 1957, seriam emitido o Boletim 17/57, que determinada que todas as aeronaves remanescentes deveriam deixar o serviço ativo imediatamente, e suas células e  estoques de peças de reposição deveriam ser transferidos ao Núcleo do Parque de Aeronáutica de Porto Alegre (NuPqAer). Em uma segunda etapa, as aeronaves em melhor estado de conservação seriam revisadas e colocadas em condições de voo para serem repassadas ao Departamento de Aviação Civil (DAC), para posterior distribuição a diversos aeroclubes.  Somente seria mantido em carga, o Cessna T-17 FAB 1805, que permaneceria em  uso pela Escolta Técnica de Aviação (ETAv) até 1960 para fins de instrução em solo. Infelizmente nenhuma aeronave seria preservada, no entanto em 1989, uma célula seria adquirida junto ao acervo do “Mid-Atlantic Air Museum” (Estados Unidos da América), sendo permutado por uma  aeronave North American N.A.159 (T-28A). Após restauração esta aeronave receberia a matricula de FAB 2022 e seria inclusa no acervo de exposição do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro.

Em Escala.
Para representarmos o Cessna UC-78 Bobcat " FAB 2720 ", empregamos o kit da Czech Model na escala 1/48 , modelo este que vem recheado com peças em resina para detalhamento e sets de photo-etched da Squadron , proporcionando um nível de detalhamento interno muito bom. Como não existe um set de decais específico para a versão brasileira, fizemos uso de peças oriundas de diversos sets da FCM Decals. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado nas aeronaves recebidas entre 1943 e 1944, sendo idêntica ao utilizado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) durante a Segunda Guerra Mundial. As últimas unidades em operação a partir de 1947 receberiam a pintura em metal natural, mantendo este novo padrão até sua desativação em fins do ano de 1957.




Bibliografia :

- Cessna T-50 Bobcat – Brid do Ar Clovis de Athayde Boher – Revista Força Aérea Nº 94
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr

Grumman J4F-2 Widegon


Historia e Desenvolvimento.
O futuro engenheiro aeronáutico, Leroy R. Grumman nasceu em Nova York no ano de 1895 e concluiu sua graduação em engenharia mecânica pela Cornell University em 1926. Entusiasta da aviação, alistou-se subsequentemente na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), integrando a Reserva Naval. Durante esse período, foi reconhecido pelos seus superiores como um talento promissor, o que o levou a ser enviado à Universidade Columbia para se especializar em motores aeronáuticos. Após completar essa etapa de formação, foi designado para a Estação Naval de Miami, na Flórida, onde recebeu treinamento abrangente para atuar como instrutor de voo. Após sua qualificação, Leroy Grumman foi destacado a unidade, assumindo o papel de instrutor de voo para novos cadetes. Contudo, posteriormente, optou por abandonar essa função para se dedicar à pilotagem de bombardeiros na Aviação Naval. Seu desempenho excepcional em todas as atividades que foram confiadas testadas em uma indicação honrosa para ingressar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde cursou engenharia aeronáutica. Formado com distinção, passou a atuar como piloto de ensaios em voo, desempenhando a função de piloto de provas, passando a ensaiar  e testar novas aeronaves para a Aviação Naval. Em março de 1927, Leroy Grumman solicitou baixa do serviço militar e ingressou na Loening Aeronautical Engineering Corporation, uma empresa da indústria aeronáutica. Nesse novo ambiente, voltou a exercer a atividade de piloto de testes, com ênfase na linha de aeronaves anfíbias produzidas pela companhia, contribuindo também para o desenvolvimento desses projetos. Sua competência o levou a uma rápida ascensão dentro da organização: inicialmente foi promovido a gerente de fábrica e, em seguida, a gerente geral, assumindo responsabilidades diretas sobre o projeto de aeronaves. Ele ocupou essa posição até 1929, quando, às vésperas da Grande Depressão, quando a Loening Aeronautical Engineering foi adquirida pela Keystone Aircraft Company. A nova direção da empresa, buscando garantir suas perspectivas econômicas, implementou um amplo processo de reestruturação. Esse esforço culminou na decisão de encerrar as operações  da planta industrial em Manhattan, transferindo-as para Bristol, na Pensilvânia, como parte das medidas de adaptação ao novo contexto econômico. 

Relutante em deixar Long Island para permanecer trabalhando na Keystone Aircraft Company, Leroy R. Grumman se dedica a avaliar seu futuro profissional, considerando diversas possibilidades de carreira. Seu espírito empreendedor prevaleceu, liderando-o, em parceria com os colegas Jake Swirbul e William Schwendler, a renunciar às suas cargas na empresa e fundar, em 6 de dezembro de 1929, a Grumman Aeronautical Engineering Company. Inicialmente, a nova companhia concentrou suas atividades na realização de reparos e revisões gerais de aeronaves, com ênfase em modelos fabricados pela Loening Aeronautical Engineering. O primeiro contrato de prestação de serviços foi firmado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que operava neste momento uma frota significativa de aeronaves anfíbias. Os recursos gerados por essa atividade possibilitaram, a partir de 1931, que a empresa expandisse suas operações para o projeto e desenvolvimento de aeronaves destinadas a transporte, treinamento e combate, com foco em atender às demandas da aviação naval. Atendendo às necessidades da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que buscava incorporar aeronaves equipadas com trem de pouso retrátil, Leroy Grumman desenvolveu e patenteou, em 1932 (Registro nº 1.859.624), o inovador “Sistema de Trem de Pouso Retrátil para Aviões”. Essa tecnologia foi integrada ao seu primeiro projeto de aeronave de combate naval, o Grumman FF-1, financiado com recursos próprios da companhia. Após o voo bem sucedido do protótipo, as características inovadoras do modelo, especialmente o trem de pouso retrátil, atraíram a atenção das autoridades navais norte-americanas, resultando na assinatura do primeiro contrato de produção significativo da empresa. Esse marco foi seguido por outros contratos de grande porte, consolidando a Grumman Aircraft Engineering Corporation como principal fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) nas cinco décadas subsequentes. Além disso, Leroy Randle "Roy" Grumman foi responsável pela concepção e desenvolvimento do sistema “Sto-Wing”, uma solução revolucionária de desdobramento de asas que otimizou o armazenamento e o envolvimento de aeronaves em porta-aviões. Esse mecanismo foi implementado pela primeira vez na caça Grumman F4F Wildcat, reforçando o legado de inovação da empresa no campo da aviação naval.
Apesar de manter uma relação estreita com o comando da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Grumman Aircraft Engineering Corporation, em meados da década de 1930, decidiu direcionar parte de seus esforços para o mercado civil de aeronaves de transporte, motivada por uma tendência de melhoria no cenário econômico nacional. Nesse contexto, a empresa passou a desenvolver projetos inovadores ao setor comercial, especializando-se novamente nos segmentos de aviões anfíbios de pequeno porte, utilizando como base projetos militares previamente concebidos. Nesse mesmo período, a Grumman Aircraft foi procurada por um grupo de empresários influentes norte-americanos residentes em Long Island, entre os quais se destacou o magnata E. Roland Harriman. Esses clientes exigiram o desenvolvimento de uma comissão executiva anfíbia com alcance e autonomia suficientes para conectar Long Island à cidade de Nova York. Atendendo a esses requisitos e vislumbrando um mercado promissor, Leroy R. Grumman e sua equipe iniciaram o projeto que resultaria no Grumman G-21 Goose, um avião anfíbio de luxo voltado ao transporte executivo. O protótipo do Grumman G-21 Goose realizou seu primeiro voo em 29 de maio de 1937. A aeronave apresentava uma configuração monoplana de asa alta, com construção predominantemente metálica, exceto pela metade traseira da asa principal, superfícies de controle e abas, que eram revestidas de tecido. Equipado com dois motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp Junior, de nove cilindros e 450 cavalos de potência (340 kW), montados nas bordas de ataque das asas, o modelo contava ainda com uma fuselagem profunda que funcionava como casco naval e dispunha de um trem de pouso retrátil acionado manualmente. Após seu lançamento no mercado norte-americano, o Grumman G-21 Goose alcançou rápido sucesso comercial, impulsionado por sua concepção inovadora e por uma campanha de marketing que o posicionou como um “iate voador” voltado para um público exigente. As versões iniciais de produção tinham capacidade para dois a três passageiros e incluíam comodidades como um bar e um pequeno banheiro, sendo adquiridas principalmente por corporações e milionários de Manhattan. Paralelamente, algumas aeronaves desta família foram adquiridas por empresas de táxi aéreo. Nessas versões, seu interior foi configurado de maneira mais simples e funcional, simplificando os custos de aquisição e ampliando o acesso ao modelo por companhias do setor. Essa adaptação contribuiu significativamente para a popularização do Grumman G-21 Goose no mercado norte-americano.

O sucesso comercial da Grumman G-21 Goose chamou a atenção do setor militar, levando o comando da Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) a consultar a Grumman Aircraft Engineering Corporation sobre uma possível versão militarizada. Em resposta, a empresa apresentou a proposta do Grumman G-21B Goose, cuja principal distinção era a capacidade de incorporar uma artilharia Browning calibre .30, montada em uma bolha traseira, e de transportar até duas bombas de 45 kg. O protótipo dessa versão foi avaliado entre abril e maio de 1938, resultando na assinatura de um contrato para a aquisição de trinta unidades. Posteriormente, a Grumman Aircraft conquistou a sua primeira venda de exportação, fornecendo duas aeronaves para a Aviação Naval Portuguesa. Um segundo contrato internacional foi firmado com a Força Aérea Real Canadense (Royal Canadian Air Force), contemplando a entrega de vinte unidades. O desempenho notável do Grumman G-21B junto à Guarda Costeira incentivou o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a contratar, no início de 1939, a produção de dez aeronaves para missões de transporte e ligação, designadas como OA-9. Após 1941, mais unidades sessenta da variante Grumman OA-13A foram incorporadas ao serviço. Buscando atender à crescente demanda no mercado militar, a Grumman Aircraft deu início, em 1939, a estudos para o desenvolvimento de uma versão simplificada, de menor porte e custo reduzido, que pudesse ser produzida em larga escala com agilidade. Esse esforço culminou no Grumman G-44 Widgeon, cujo protótipo foi realizado seu primeiro voo em 22 de julho de 1940. Equipado com dois motores na linha Ranger L-4405, cada um com 200 cv, o modelo apresentava custos de aquisição e operação significativamente inferiores aos dos motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp do G-21 Goose. O G-44 Widgeon poderia ser armado com uma artilharia Browning calibre .30 e disparado de cabines subalares para até duas bombas ou cargas de profundidade de 50 kg. Embora ofereça potência e desempenho inferiores ao G-21B Goose, o baixo custo do Grumman Widgeon permitiu a ampliação do número de aeronaves em serviço, aumentando a cobertura de áreas de patrulha marítima e liberando modelos de maior capacidade para operações em alto-mar. Mais uma vez, a Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) tornou-se a primeira instituição militar a adotar o modelo, encomendando vinte e cinco unidades da versão Grumman J4F-1, destinadas a missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e busca e salvamento (SAR).
Estas aeronaves começariam a ser entregues em meados do ano de 1941, e com o aumento do tráfego de submarinos alemães e italianos próximos a costa dos Estados Unidos, começariam a ser extensamente empregados em missões de patrulha. Em  01 de agosto de 1942, um J4F-1 pertencente ao Esquadrão de Patrulha da Guarda Costeira 212, baseado em Houma, Louisiana , avistou e atacou um submarino U-166 alemão na costa do estado, seu comandante Henry White, relatou o afundamento do inimigo, sendo condecorado com a medalha Distinguished Flying Cross. Dentro do esforço de patrulha litorânea, pelo menos dez aeronaves do modelo J4F-1 seriam operadas pelo Patrulha Aérea Civil (Civil Air Patrol CAP), um esforço empreendido para suporte as operações militares durante a Segunda Guerra Mundial, com pilotos da reserva, atuando em missões patrulha antissubmarino e guerra, patrulhas de fronteira e serviços de correio. Dentre inúmeras surtidas, destaca-se uma realizada no dia 11 de julho de 1942, quando um Grumman G-44 Widgeon, armado com duas cargas de profundidade e tripulado pelo Capitão Johnny Haggins e pelo Major Wynant Farr, avistaram e atacaram um submarino alemão, resultando em seu afundamento. Neste mesmo período a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), passaria a operar a aeronaves, com sua variante recebendo a designação de Grumman J4F-2, se distinguindo visualmente do modelo anterior, por não apresentar uma escotilha de observação na seção dianteira da fuselagem. O modelo seria fornecido nos termos do programa Leand & Lease Act  & Bill (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), para nações aliadas, com destaque para a Marinha Real Britânica (Royal Navy), onde receberiam o codinome de Gosling, sendo empregados em missões de patrulha e busca e salvamento durante ao conflito. Após o término da Segunda Guerra Mundial, seu fabricante desenvolveria uma nova versão para o mercado civil , que passaria a apresentar um novo desenho de casco e melhores acomodações para os passageiros. Seriam produzidas setenta e seis aeronaves deste modelo, com a última sendo entregue em 13 de janeiro de 1949. Outras quarenta e três células seriam produzidas sob licença na França pela empresa Societe Aero Navale. As aeronaves militares norte-americanas remanescentes seriam retiradas do serviço ativo no final da década de 1940, sendo transferidas a nações amigas como Cuba, Israel, Portugal, Uruguai, Nova Zelândia e Noruega. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Esta ameaça começaria a ser combatida pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) com o estabelecimento de bases de operação no litoral brasileiro, de onde seus esquadrões de patrulha começariam a operar.

Nesse período, realizaram os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, envolvendo não apenas forças norte-americanas, mas equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), que iniciaram suas primeiras missões desse tipo. Nesse contexto, surgiu a necessidade de empregar aeronaves anfíbias em operações de busca e salvamento, voltadas ao resgate de pilotos abatidos ou náufragos, resultando em naufrágios causados ​​por submarinos inimigos. No entanto, as poucas aeronaves anfíbias disponíveis no inventário da recém-criada arma aérea nacional, provenientes das décadas de 1920 e 1930, eram consideradas obsoletas e convenientes para operações em alto-mar. Embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha recebido recentemente aeronaves Consolidated PBY-5 e PBY-5A Catalina, estas foram priorizadas para missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) operando em missões de escolta de comboios. Diante disso, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicita ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) a cessão de aeronaves específicas para busca e salvamento. Em resposta, foi autorizada a transferência imediata nos termos do programa Lend-Lease Act,  de quatorze células novas do modelo Grumman J4F-2 Widgeon, originalmente destinadas à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Essas aeronaves foram transladas ao Brasil em voo a partir do segundo semestre de 1942, em pares, por tripulações norte-americanas. As duas últimas aeronaves chegaram à Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1943. Na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo foi inicialmente designado como Grumman UCF-4F2 Widgeon, recebeu matrículas de FAB 2001 a FAB 2014, com marcações visuais na cauda e no nariz registrar os registros "FAB 1" a "FAB 14". Concentradas na Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro, estas aeronaves foram objeto de um programa de treinamento e conversão ministradas por instrutores norte-americanos para militares da 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM), uma unidade derivada da antiga estrutura da Aviação Naval da Marinha do Brasil. Posteriormente, essa esquadrilha foi reorganizada, transformando-se no 2º Grupo da Unidade Volante, que passou a operar quatro Grumman J4F-2 Widgeon. As demais unidades foram distribuídas entre as Bases Aéreas de Belém, Florianópolis e Santa Cruz, bem como a Seção de Aviões de Comando, também localizada no Rio de Janeiro.
As quatorze aeronaves Grumman J4F-2 Widgeon foram recebidas pela Força Aérea Brasileira (FAB) devidamente preparadas para o uso de pequenas bombas e cargas de profundidade em suas cabines subalares. Embora esses armamentos estivessem disponíveis nos pais da Força Aérea Brasileira (FAB) à época, poucas missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) foram realizadas com essas aeronaves, independentemente de serem armadas ou não. Durante o conflito, os registros oficiais indicam que o principal emprego dessas unidades ocorreu em missões de busca, salvamento, transporte e ligação. Ao longo de sua trajetória na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo obteve uma confiança negativa entre os pilotos, devido ao elevado número de incidentes e acidentes graves registrados. O primeiro evento desse tipo foi documentado em maio de 1945, quando uma aeronave de destaque da Base Aérea de Belém (BABE) realizou um pouso na pista principal sem que o piloto acionasse o trem de pouso, resultando em danos irreparáveis. A célula foi posteriormente declarada como perda total. Em novembro do mesmo ano, outra aeronave foi perdida em um acidente nas proximidades de Vigia de Nazaré, no estado do Pará. Os relatórios oficiais atribuíram o alto índice de sinistros às características de voo do Grumman UCF-4F2 Widgeon, especialmente seu elevado perfil de arfagem durante a corrida de amerissagem. Esse comportamento tornou-se uma operação particularmente arriscada nas mãos de pilotos inexperientes, fato evidenciado pelo maior número de incidentes registrados nessa fase do voo. Até o final da década de 1940, uma frota de quatro aeronaves sofreu sete perdas totais, todas decorrentes de acidentes operacionais. Esse cenário adverso levou à decisão de concentrar as aeronaves remanescentes em uma única localidade, com o objetivo de melhorar sua efetividade operacional e mitigar os riscos associados ao seu uso disperso. O último trimestre do ano de 1947 assistiria a algumas mudanças quanto à disposição dos Grumman J4-F2 Widegon na Força Aérea Brasileira, com as células remanescentes concentradas na Base Aérea do Galeão (BAGL), sendo transferidas para o recém-criado 1º Grupo de Transporte (1ºGT) baseado no Campo dos Afonsos. Porém posteriormente decidir-se-ia que maior parte destas células fossem alocadas junto a  Base Aérea de Belém (BABE) no estado do Pará, onde teriam por missão básica reforçar a esquadrilha de treinamento daquela organização.  Neste contexto seriam empregadas para aprimorar e ampliar o programa de treinamento para os futuros tripulantes dos Consolidated CA-10 Catalina, que passavam a ser mais intensamente utilizados no atendimento as demandas das linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) na região amazônica. Quando não  estavam sendo empregados neste processo de treinamento,  os Grumman J4F2 Widegon eram destacados para a realização de missões de ligação entre as unidades aéreas da regiao, atuando também secundariamente no atendimento de pequenas linhas de correio aéreo na bacia do rio Amazonas.
Em agosto de 1951, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) emitiu uma instrução oficial classificando o modelo Grumman J4F-2 Widgeon como totalmente obsoleto e recomendando sua desativação em curto prazo. Tal decisão não se mostrou inesperada, uma vez que, à época da publicação, a frota desse modelo havia sido reduzida a apenas três células em condições de voo. Em abril de 1952, um acidente durante um pouso realizado em uma amerissagem forçada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A aeronave submergiu, tornando seu resgate inviável. Pouco tempo depois, outro incidente grave foi registrado nas proximidades do Aeroclube de Bauru, no interior de São Paulo, culminando na perda total de uma célula pertencente à Esquadrilha de Adestramento da Base Aérea de Santa Cruz (BASC). A última aeronave em condições operacionais permaneceu em uso regular até meados de 1958, quando foi considerada economicamente inviável para operação. Nesse momento, foi recolhida ao Parque de Material de Aeronáutica dos Afonsos (PAMA AF), no Rio de Janeiro, onde aguardou uma decisão sobre o seu destino. Posteriormente, um boletim da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA) oficializou sua desativação, e a aeronave foi alienada para venda. Um operador civil adquiriu esse Grumman J4F-2 Widgeon para utilização como táxi aéreo, registrando-o com matrícula civil. Contudo, seu uso foi breve, pois estes registro de voo logo foi suspenso pela Diretoria de Aviação Civil (DAC) devido ao descumprimento de critérios documentais. Proibida de voar, a aeronave foi abandonada por seu proprietário no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo. Em 1976, após a conclusão de um processo jurídico, a célula foi reintegrada ao patrimônio da Força Aérea Brasileira (FAB). No ano seguinte, em 1977, uma diretiva foi emitida com o objetivo de preservar essa aeronave. Ela foi desmontada pela equipe do Parque de Manutenção Aeronáutica de São Paulo (PAMA SP) e transportada por via terrestre até a Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Incorporada ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), a tripulação passou por um minucioso processo de restauração e foi colocada em exposição, sendo restaurada com o padrão de pintura original de sua entrega à Força Aérea Brasileira (FAB). Passou a ostentar a matrícula "FAB 14", representando o período em que serviu à 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM).

Em Escala.
Para a representação do Grumman J4F-2 Widgeon, registrado como “FAB 14”, foi selecionado o kit descontinuado da Classic Airframes na escala 1/48, reconhecido por seu elevado nível de detalhamento e pela inclusão de diversas peças em resina. Não são necessárias modificações para retratar a versão utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo a montagem direta do modelo conforme fornecido na caixa. Dada a ausência de um conjunto de decalques específicos para essa composição, foram usados ​​​​decais variados provenientes de conjuntos da FCM Decals, complementados pelos decalques exclusivos incluídos no kit.
O esquema de núcleos está em conformidade com o padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, corresponde ao padrão tático naval adotado pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aeronaves anfíbias durante a Segunda Guerra Mundial, com a adição exclusiva das marcas da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse padrão foi interrompido após realização da primeira revisão geral das células, momento em que as aeronaves passaram a ser pintadas integralmente em cor de metal natural, com o leme nas cores verde e amarelo e as marcações nacionais aplicadas.


Bibliografia :

- Grumman G-44 Widegon - Wikipedia -  http://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_G-44_Widgeon
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto