M-2 e M-2A1 White Half Track

História e Desenvolvimento. 
O veículo militar  com tração meia lagarta - Half Track  padrão,  se caracterizava por possuir rodas com pneus na sua parte dianteira e lagartas na parte traseira, concedendo uma parcial, porém satisfatória capacidade off road (fora de estrada) para a transposição de terrenos de difícil deslocamento, sendo um conceito muito empregado na primeira metade do século passado e hoje completamente abandonado. A origem deste tipo de veículo remonta ao início da década de 1920, quando na Europa, começariam a ser desenvolvidos e lançados vários modelos deste tipo para aplicação civil e militar, ganhando grande notoriedade para a operação em ambientes fora de estrada. O veículo de maior destaque neste período era o Citroën-Kégresse P-17 de fabricação francesa, sendo desenvolvido inicialmente para o mercado civil e logo customizado para o emprego militar. A aplicação inicial almejada, seria para transporte de tropas e cargas na linha de frente (considerando sua capacidade inclusive de transpor trincheiras simples), porém sua ótima mobilidade no ambiente fora de estrada o tornaria uma plataforma ideal para emprego em combate vindo, a ser armado com metralhadoras automáticas e canhões anti carro de 37 mm. Este desempenho e versatilidade levariam esta empresa francesa a conquistar vários contratos de exportação, e curiosamente o Exército dos Estados Unidos (US Army) se tonaria um dos principais clientes do modelo.  Em 1932 o governo norte-americano lançaria uma concorrência internacional para a compra de até duzentos veículos este tipo.  Diversas propostas seriam apresentadas, porém o modelo francês Citroën-Kégresse P-17, se mostraria em testes comparativos, muito superior aos projetos oferecidos pela indústria automotiva nacional, vencendo, vencendo assim este processo.  Assim este utilitário francês ser tornaria o  primeiro veículo meia lagarta a equipar o Exército dos Estados Unidos (US Army). Apesar de saírem derrotados nesta concorrência governamental, as montadoras norte-americanas vislumbrariam um grande potencial futuro nesta categoria de veículo militar, gerando assim uma onda de esforços para o aprimoramento de projetos desta ordem. 

Entre estes fabricantes norte-americanos, se encontrava a empresa James Cunninghan & Sons de Rocheste, sediada em Nova York, que despontava rapidamente no segmento automotivo nacional. Em maio de 1933 seria então apresentado ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) um protótipo do caminhão blindado com tração meia lagarta designado como T-24. Este blindado seria testado em campo, porém como neste momento os Citroën-Kégresse P-17 ainda se encontravam e processo de recebimento e incorporação, o T-24 não seria adotado neste momento. Logo após esta empresa seria absorvida pela White Motor Company, com grande parte de seus projetos sendo aproveitados por esta nova gestão. Desta maneira a equipe de engenharia da companhia vislumbraria o potencial do modelo T-24, passando a atualizar o conceito deste modelo de veículo meia lagarta. Em meados do ano de 1938, a montadora apresentaria aos militares norte-americanas uma proposta de desenvolvimento de um novo utilitário com tração meia lagarta baseado no blindado sobre rodas com tração integral 4X4 White M-2 Scout Car, que já se encontrava em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) desde o ano de 1934.  O projeto despertaria a atenção dos envolvidos, recebendo então uma sinalização positiva para seu desenvolvimento, com a White Motors chegando a concluir um protótipo funcional bem a tempo de poder participar de uma nova concorrência lançada pelo governo norte-americano. Este ousado programa previa a aquisição de pelo menos dois mil veículos com tração meia lagarta que seriam destinados ao transporte de tropas e tração de peças de artilharia. O protótipo da White Motor Company, receberia inicialmente a designação de “T-9 Half-track Truck”, e posteriormente de “T-14 Half-track Scout Car” e seria submetido a um amplo programa de testes de campo comparativo com os demais concorrentes. A aprovação da escolha do vencedor seria influenciada pelo fato da White Motor Company já ter em seu portfólio um veículo em serviço ativo no exército, e como o T-9 Half-track Truck compartilhava além do chassi muitos itens com o M-3 Scout Car.  Assim por questões logicas de custo e padronização, este modelo seria então declarado como vencedor da concorrência. O primeiro contrato de aquisição, seria celebrado em meados de 1939 com sua produção em série sendo iniciada no ano seguinte. Como neste período o governo norte-americano estava empenhado em implementar um plano de reequipamento emergencial, face as tensões geopolíticas que se avizinhavam na Europa e no Pacífico, mais contratos seriam firmados com estes veículos passando a ser montados também nas linhas de produção da Autocar Company e Diamond T. Motor Car Company. 
Apesar de todos estes esforços, problemas de ordem de engenharia de processo atrasariam o cronograma inicial previsto, com os primeiros White Motors M-2 Half Tracks passando a ser entregues as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army) no início do ano de 1941. Sanados os problemas de processos, a cadência de produção e consequente entrega de veículos aumentando consideravelmente ao longo dos meses seguintes. Esta grande agilidade na produção, seria proporcionada principalmente pelo emprego de um alto índice de componentes automotivos presentes em veículos comerciais daquela época, o que proporcionaria o emprego de ferramental e linhas de produção já existentes na indústria automotiva norte-americana. Este novo veículo blindado com tração  meia lagarta, apresentava as mesmas dimensões e design (grade frontal, faróis e para-lamas) do modelo sobre rodas M-3 Scout Car e a exemplo deste, estava equipado com um cilindro mecânico afixado no para-choque frontal que a ajudava a transpor elevações no solo. Para autodefesa o M-2 Half Track estava equipado com duas metralhadoras Browning calibre .30 refrigeradas a água, instaladas sobre um trilho que circundava todo o seu interior, permitindo ao artilheiro operar em todos os ângulos. Desenvolvido inicialmente como trator para reboque de obuseiros leves dos modelos M-102 105 mm Howitzer e M-1 de 57 mm, os M-2 Half Track seriam distribuídos a quase todas as unidades de artilharia de campanha do Exército dos Estados Unidos (US Army), servindo também como transportadores de munição para estas armas. Paralelamente o modelo começaria a ser empregado para prover a mobilidade dos esquadrões de infantaria que operavam as metralhadoras pesadas Browning calibre .50, realizando seu emprego, transporte de munição e das equipes dedicadas. Provisoriamente os M-2 Half Tracks seriam encarregados temporariamente das missões de reconhecimento do campo de batalha, com centenas de carros customizados para esta tarefa, até serem substituídos no front europeu, a partir de fins de 1943, por veículos especializados sobre rodas com tração 6X6 como os novos Ford M-20 Command Car e M-8 Greyhound . 

Em operação, estes veículos apesar de receberem muitos elogios iniciais, apresentariam pequenos problemas de ordem técnica, com uma série de falhas sendo relatadas ao fabricante, demandas estas que levariam a uma revisão do projeto original. O atendimento a estas modificações resultariam no surgimento da nova versão M-2A1 Half track Car, que além dispor de alterações no conjunto mecânico apresentava como diferencial estético a inclusão de um suporte quadrado sobre o assento do auxiliar, onde era possível acoplar uma metralhadora Browning calibre .50 operada pelo acompanhante do condutor. O veículo receberia também novas metralhadoras Browning calibre .30 (abandonando o sistema de refrigeração a água), que continuariam instaladas sobre os trilhos laterais, melhorando assim a capacidade de autodefesa da viatura. De acordo com subversão, o veículo poderia ainda receber a instalação de um guincho hidráulico instalado no para choque dianteiro (podendo ser empregado para desatolamentos). Já na parte traseira da carroceria, seriam instalados dois racks dois escamoteáveis para o  transporte de carga extra, infelizmente este modelo ainda não seria contemplando com a instalação de uma porta traseira de acesso, inovação esta que seria implementada somente nos modelos M-3 Half Track Car.  Seu batismo de fogo ocorreria quando da invasão das Filipinas pelo Exército Imperial Japonês em dezembro de 1941, onde dezenas destes veículos foram extremamente importantes nos esforços de defesa da ilha, sendo muito empregados em tarefas de ressuprimento de cargas e tropas para as linhas de frente dos combates. Seu emprego em larga escala se daria durante a Operação Tocha, que teve lugar em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Norte da África (Marrocos e Argélia), abrindo uma nova frente de batalha para as tropas do Afrika Korps do Exército Alemão (Wehrmacht) naquele continente. Os White M-2 e M-2A1 Half track Car, tiveram destacada e continua utilização nas principais batalhas na Europa e também na campanha do Pacífico, representando muitas vezes em terrenos adversos o sustentáculo da operação logística aliada. 
A produção total de carros blindados da família M-2 e M-2A1 Half Track seria efetivada nas linhas de montagem da White Motors Company, Autocar Company e Diamond T. Motor Car Company, entre os anos de 1940 e 1942, atingiria a impressionante cifra de aproximadamente 13.500 veículos. Uma versão para exportação seria desenvolvida exclusivamente para o atendimento de especificações operacionais particulares do Exército Vermelho Soviético (Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses). Assim seriam produzidos pela montadora International Harvester Corporarion, oitocentos veículos na versão designada como M-9 Half Track, que seriam cedidos nos termos do programa do Leand & Lease Act Bill (Leis de Empréstimos e Arrendamentos) a União Soviética. Em meados de 1942 uma nova versão melhorada, o M-3 Half track Car passaria a ocupar as linhas de produção das três montadoras norte-americanas. Porém a exemplo de seu antecessor, este novo modelo e suas versões subsequentes, compartilhavam as mesmas deficiências de conceito, principalmente no quesito de proteção aos infantes, seja pela ausência de cobertura, ou blindagem inadequada para suportar fogo de munição de médio calibre. O término da Segunda Guerra Mundial determinaria a retirada de serviço de todos os veículos remanescentes junto as forças armadas norte-americanas, com grande parte da frota sendo transformada em sucata, e o restante sendo armazenados para futura cessão a nações aliadas a política internacional norte-americana, entre elas Argentina, Brasil, Bélgica, Chile, Camboja, Chile,  Tchecoslováquia, Finlândia, França, Grécia, Israel, México, Holanda, Nicarágua, Paraguai, Filipinas, Polônia, Portugal e  Vietnã do Sul. Ainda em fins do século XX, dezenas desses veículos  repotencializados ainda se encontravam em operação.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros obrigados a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

Nesta época, curiosamente o Exército Brasileiro já operava uma pequena quantidade de veículos meia lagarta dos modelos Sd.Kfz.7 (alemão) e  Somua - Citroën Kegresse (francês), que eram empregados nos grupos de artilharia antiaérea, tracionando canhões Flak Krupp 88 mm C/56 e sistemas de localização de aeronaves pelo som do tipo  BBT (Barbier,Bernard & Turenne). Esta experiencia seria benéfica, pois facilitaria a introdução em serviço de modelos semelhantes de origem norte-americana. Os aditivos originais do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), previam ao Brasil, o recebimento de quatrocentos e trinta carros do modelo M-2 e M-2A1 e quarenta e nove da versão M-3, que deveriam ser entregues até final de 1943. Porém este cronograma seria profundamente alterado, tendo em vista a priorização no fornecimento deste tipo de veículo as forças aliadas que se preparavam para a invasão ao continente Africano e posteriormente Europeu. Assim desta forma a grande parcela destes carros blindados com traçao meia lagarta, só seriam recebidos após o  término do conflito, e  nunca nestas quantidades originalmente definidas. Mas de fato, a partir do início de 1942 começariam a ser recebidos no Brasil, os primeiros lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras, entre vários modelos, se encontravam os carros blindados meia lagarta, sendo dispostos na ordem de oito do modelo M-2, vinte e cinco M-2A1 Half Track , além de algumas poucas unidades das versões M-3 e M-3A1. Estes novos veículos, tinham como finalidade, equipar as recém-criadas unidades blindadas motorizadas e motomecanizadas, com estas viaturas sendo distribuídas assim que disponibilizadas. Já em serviço passariam a realizar missões de transporte de cargas e tropas, além de complementar os veículos blindados sob rodas com tração integral do modelo M-3A1 Scout Car, que operavam tracionando canhões M-3 de 37 mm, junto as baterias de canhões anti-carro auto rebocadas. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Porém curiosamente os modelos M-2 e M-2A1 Half Track não seriam fornecidos as tropas brasileiras presentes na frente de batalha italiana, com estas sendo equipadas somente com poucos M-3 e M-3 A1.
Conforme previsto, logo após o término da Segunda Guerra Mundial na Europa, o Brasil passaria a receber sucessivos lotes dos veículos meia lagarta desta família, sendo dispostos nas versões M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5. Salientando que que ao contrário do primeiro lote recebido a partir de 1942, grande parte destes eram veículos usados sendo incluídos como material excedente de guerra, mas mesmo assim estavam em excelente estado de conservação. Os últimos carros a serem recebidos da versão M-3A1 seriam entregues no porto do Rio de Janeiro somente em fevereiro do ano de 1947. O significativo acréscimo da frota de veículos blindados de transporte, possibilitaria ao Exército Brasileiro consolidar seu processo de evolução deixando de ser uma força hipomóvel para uma arma motomecanizada, atingindo neste momento uma capacidade de mobilidade e  operacionalidade a um patamar jamais alcançado, se equiparando as principais forças armadas no mundo. A partir de meados do ano de 1946, os veículos meia lagartas da família White M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5, passariam a designados oficialmente no Exército Brasileiro, como Carro Blindado de Transporte de Tropas - CBTP, sendo destinados a equipar vários Batalhões de Infantaria Blindada (BIB), Esquadrões de Cavalaria Mecanizada (Esq.C.Mec) e Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado (Esqd.RC.Mec). Em serviço, além de serem empregados em missões de transporte de tropa - cargas e tração de peças de artilharia M-101 (M-2) AR 105 mm, estes veículos blindados seriam também utilizados como veículos porta morteiros, equipados com armas de 81 mm. Algumas viaturas que estavam equipadas com modernos sistemas de rádios de longo alcance seriam empregados como carro comando.  Apesar de suas limitações de projeto referentes a proteção de seus ocupantes e baixa blindagem, os Carro Blindado de Transporte de Tropas – CBTP M-2 e M-2A1 Half Track, cumpririam a contento suas missões no Exército Brasileiro durante toda a sua carreira. 

Em fins da década de 1960, os altos custos de manutenção demandados pelo envelhecimento da frota e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de vinte anos), impactariam fortemente nos índices de operacionalidade da frota dos Carros Blindados de Transporte de Tropas – CBTP, restando apenas algumas dezenas de viaturas operacionais,  debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro.  Apesar de já dispor em seu inventário de vinte blindados de transporte de tropas sob esteira do modelo FMC M-59 APC , e se encontrar em processo final de tratativas para a incorporação de centenas de blindados do modelo FMC M-113AO APC (cujas primeiras unidades seriam entregues em 1967), o comando do Exército Brasileiro ainda vislumbrava neste segmento de veículos blindados de transporte a existência de uma preocupante lacuna operacional de curto prazo. Uma alternativa plausível e de baixo custo, se baseava na remotorização de uma parcela da frota dos modelos M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5, levando assim ao início de estudos de viabilidade. Caberia então a equipe de técnicos do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2) de São Paulo a tarefa de se desenvolver e implementar este programa de modernização. Entre as primícias básicas estava a necessidade de se buscar o maior nível de nacionalização possível, com esta equipe elencando as áreas prioritárias de customização na produção destes componentes. Apesar de existirem tabus dentro das fileiras de comando do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, o consenso derivaria para que fosse dado prosseguimento a esta pauta. Como protótipo para este programa seria escolhido uma viatura do modelo M-2, com os trabalhos sendo rapidamente iniciados, neste contexto apresentava-se como objetivo crucial a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo produzido no país, o  Perkins Modelo6357 de seis cilindros em linha, apresentando 142 hp de potência.
O projeto de remotorizaçao apresentava boas perspectivas, com o programa também logrando grande êxito no objetivo secundário de nacionalização de mais componentes básicos, entre eles o emprego de sapatas de borracha para as esteiras, produzidas pela empresa Novatração Artefatos de Borracha Ltda, pneus e tanques de combustível a prova de balas.  Estes trabalhos evoluiriam sem maiores percalços, sendo acompanhados por técnicos dos principais parceiros fornecedores, com grande destaque para a área de engenharia da Perkins do Brasil S/A. O protótipo do M-2 seria finalizado no mês de   julho de 1972, e sua apresentação oficial ao Comando do Exército Brasileiro se daria no mês seguinte, com esta viatura sendo entregue a Diretoria de Moto Mecanização (DMM), a fim de ser submetido a exaustivos testes de campo para avaliação técnica deste programa. Após a finalização estágio, o protótipo receberia sua homologação, recebendo então a autorização para a implementação pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2) deste programa em todos os veículos desta família ainda em carga no Exército Brasileiro. Gradativamente estes blindados seriam submetidos a este processo de repotenciação, e devolvidos as unidades operativas. Em operação rotineira cumpririam a contento até meados da década de 1980, quando as últimas viaturas foram enfim substituídas pelos novos veículos blindados de transporte de pessoal Engesa EE-11 Urutu. Felizmente ainda é possível encontrar no Exército Brasileiro, alguns exemplares bem conservados, seja a rara White M-2 do Museu militar Conde de Linhares no Rio de Janeiro, o M-3A1 do 24º BIB (Batalhão de Infantaria Blindado) e a M-5 Half Track do 1º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (Esqd.RC.Mec)  – Esquadrão Tenente Amaro de Valença. 

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-2A1 Half Track "EB10-395" tivemos de proceder uma customização (pois não existe um kit regular no mercado desta versão ), partindo  de um modelo tipo “snap” na escala 1/32 do fabricante New Ray, que apresenta a versão M-16. Assim procedemos em scratch a construção de seu interior, envolvendo assentos, laterais, sistema de rádio e parte traseira, complementando o conjunto com detalhamento em resina (acessórios). Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products pertencentes ao set  "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército dos Estados Unidos (US Army)  com os quais a totalidade dos veículos foram entregues ao Exército Brasileiro a partir de 1943. Após o final do conflito no pais,  seria adotada a sistemática de matricula da viatura, que seria mantida juntamente com o esquema de pintura original até a sua desativação na década de 1980.

Bibliografia:

- Meia Lagartas no Exército Brasileiro por Expedito Carlos S. Bastos - Revista Hobby News Nº 27
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos
- M2 Half Track Car -  Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M2_Half_Track_Car
- M3 Half Track Car -  Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Half-track

De Havilland DH-60T Moth Trainer


Historia e Desenvolvimento.
A História de fundação deste tradicional fabricante aeronáutico inglês remete ao ano de 1912 com a criação da The Aircraft Manufacturing Company Limited (Airco), fundada pelo proprietário do jornal e industrial George Holt Thomas. A empresa seria inicialmente baseada em The Hyde em Hendon, norte de Londres, e pode ser considerada uma das primeiras industriais de construção de aeronaves a se estabelecer na Grã-Bretanha.  A companhia teria seu crescimento alavancado durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), chegando a produzir milhares de aeronaves para as forças armadas aéreas militares britânicas e aliadas durante toda o conflito, incluindo caças, treinadores e bombardeiros. Aeronaves estas que comporiam mais de 30% da frota de todos os países aliados, e neste período, a maioria das aeronaves da empresa foi projetada internamente pelo designer-chefe da The Aircraft Manufacturing Company Limited, Geoffrey de Havilland. Este notável projetista com grandes êxitos de desenvolvimento junto ao Royal Aircraft Factory em Farnborough fora recrutado por William Taylor Birchenough no ano de 1914. Após o final do conflito, as nações europeias reduziriam em muitos seus orçamentos militares e o excesso de aeronaves disponíveis nas forças armadas daqueles países, limitaria em muito a aquisição de novos modelos principalmente por parte do governo britânico. Este cenário culminaria em uma grave crise financeira para a The Aircraft Manufacturing Company Limited (Airco), e levaria muitas empresas de porte as portas da falência. Em busca de uma solução que objetivava mesmo que parcialmente sanar suas dívidas, a corporação seria vendida no início de ano de 1920 para a Birmingham Small Arms Company. Após este processo levantamentos mais detalhados seriam efetuados, vindo a tona o caótico real estado financeiro da empresa, levando a diretoria de seu novo controlador a decidir pela liquidação total da operação, procedendo neste processo a venda de ativos. Neste processo Geoffrey de Havilland que até então ocupava o cargo de diretor técnico e designer-chefe, vislumbrou a oportunidade de montar sua própria empresa. E arriscadamente fazendo uso de seus limitados recursos passou a negociar a aquisição de uma parte destes ativos, logrando êxito e assim assumiria neste pacote uma parte das modestas instalações da empresa localizadas próximas ao aeroporto de  Stag Lane ao norte de Londres, fundando assim em 26 de setembro de 1920 a  Havilland Aircraft Company Limited. 

Seu comando seria dividido entre seus principais acionistas contando com um capital nominal de £ 50.000, com  a maior parte aportado por Geoffrey de Havilland (£ 3.000) e George Holt Thomas (£ 10.000), com vários outros adicionando mais £ 1.000. Dispondo assim de um limitado capital para investimento em novos projetos, a Havilland Aircraft Company Limited decidiria focar naquele momento o mercado de aeronaves civis, tendo em vista que ainda não havia perspectivas do curto prazo para o fechamento de novos contratos militares. Suas primeiras iniciativas seriam voltadas para o desenvolvimento de aeronaves biplanos simples e de pequeno porte de uma dois lugares destinadas principalmente para treinamento e turismo, conceitos muito aquém das aeronaves mais complexas desenvolvidas por Geoffrey de Havilland anteriormente durante a  Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918).  A primeira aeronave a ser lançada, era uma modernizaçao de um antigo projeto desenvolvido durante a época da The Aircraft Manufacturing Company Limited (Airco), e receberia a designação de DH-51. Seu protótipo alçaria voo 14 de julho de 1924, e apesar de apresentar um bom desempenho, teria seu certificado de aeronavegabilidade negado, pelo fato de não apresentar um sistema de dupla ignição. Como seriam necessárias pelo menos dez horas de testes de voo para certificá-lo com um sistema de ignição única, de Havilland decidiu re-motorizar a aeronave. A aeronave foi equipada com um motor de pistão V8 refrigerado a ar ADC Airdisco, que melhorou consideravelmente o desempenho, mas não era mais barato de operar. Como resultado, apenas três aeronaves seriam construídas.  Apesar deste fracasso comercial a diretoria da empresa não se abalaria e continuaria perseverando, levando sua equipe de projetos a desenhar um novo modelo, que apesar de se basear no projeto original do DH-51 deveria apresentar um maior porte e potência nominal. Deste processo nasceria o De Havilland DH-60 Moth (Traça), um treinador primário de configuração biplano com dois lugares, com estrutura em madeira e fuselagem recoberta com compensado e superfícies cobertas de tecido, um painel traseiro padrão com um único painel traseiro e barbatana. Este novo avião apresentava como inovação a possibilidade de se dobras as asas, permitindo assim aos proprietários guardar a aeronave em reduzidos espaços de hangar. Seu primeiro protótipo alçaria voo no dia 22 de fevereiro de 1925, decolando do aeródromo de Stag Lane, sob o comando de Geoffrey de Havilland. 
Logo em seguida a aeronave seria encaminha para a realização de um completo programa de ensaios e voo, que visava também garantir seu certificado de aeronavegabilidade  pelos órgãos competentes da época. Ao fim este processo clarificaria que o De Havilland DH-60, não somente satisfazia às exigências do incipiente mercado de proprietários de aeronaves de pequeno porte para lazer, bem como poderia atender a outras demandas, entre estas a equipar aeroclubes e escolas de pilotos civis. Esta opinião seria reforçado pelas declarações proferidas pelo  Secretário de Estado da Ar, Samuel Hoare, que daria sinais que resultariam no primeiro interesse governamental em aeronaves desenvolvidas e produzidas pela Havilland Aircraft Company Limited. Isso logo se materializaria em contrato para a compra de dez aeronaves pelo governo a fim de equipares cinco aeroclubes na Inglaterra. Estas primeiras células receberiam como modificação a inclusão de um leme balanceado que melhorava sua estabilidade em voo, com estas aeronaves sendo entregue logo em seguida, com uma destas sendo entregue com um kit de flutuadores. Neste mesmo período a companhia fazendo uso de um de seus protótipos originais, inscreveria o modelo na Corrida da Copa do Rei de 1925, sendo pilotada pelo famoso Alan Cobham, com o De Havilland DH-60 apresentando excelentes resultados. Dois anos depois, três células modificadas e equipadas com os motores Cirrus II em uma montagem rebaixada, seriam inscritas para  a Corrida da Copa do Rei de 1927, este modelo receberia a designação de DH.60X (para experimental), que logo seria alterada para Cirrus II Moth.  Novamente seriam aferidos resultados extremamente positivos, resultando em novos aprimoramentos, incluindo entre estes a adoção de um motor Cirrus III com um eixo bipartido, com este modelo em 1928 retomando a designação de DH.60X. A produção do DH.60X Cirrus Moth seria logo substituída por variantes posteriores movidas pelos novo motores Gipsy, mas esta configuração original ainda estava disponível, mediante  encomenda especial.

Neste estágio, a aeronave ainda estava equipada com o motor original Cirrus, mas apesar de ser confiável, era baseado no projeto Renault de oito cilindros, e empregava ainda muitos componentes de origem francesa. No entanto grande parte destas peças foram fabricadas durante o conflito, com este cessando após ó término das hostilidades, restando então um estoque finito. Desta maneira, este fato não garantiria a Havilland Aircraft Company Limited uma significativa segurança no abastecimento a médio e longo prazo. Este cenário levaria a empresa a desenvolver seu próprio motor, o projeto sobre a tutela do engenheiro Frank Halford seria concluído em 1927 recebendo o nome de Havilland Gipsy I apresentando uma potência de 98 hp. Assim com esta alteração seria desenvolvida uma nova versão que receberia a designação de DH-60G Gipsy Moth. Além de apresentar um significativo aumento de potência, a adoção de um grupo propulsor produzido pela própria companhia apresentaria uma grande redução de custo e melhor controle de níveis de qualidade. Tanto é que enquanto o DH.60 originais eram oferecidos por relativamente modestos £ 650,00, a nova versão equipada com um motor mais avançado e potente apresentava exatamente o mesmo preço de venda. Em 1930 visando se adequar aos avanços da tecnologia aeronáutica, a empresa lançaria a versão De Havilland DH-60M Moth, que passava a contar com a fuselagem recoberta em metal. Originalmente este novo modelo foi desenvolvido originalmente para atender as demandas de clientes militares e civis no exterior, particularmente devido a uma solicitação das forças armadas do Canadá. Este novo modelo passaria a ser fabricado também sob licença na Austrália, Canadá, Estados Unidos e Noruega, evidenciando as vantagens proporcionadas por suas características simplistas e baixo custo de produção. Em 1931, após a atualização do motor levaria ao modelo Gipsy II, e posteriormente com a inversão do motor surgiria o  Gipsy III. Este grupo propulsor seria instalado em um protótipo que receberia a designação de DH.60G-III Moth Major. Este subtipo destinava-se ao mercado de treinadores militares e algumas das primeiras aeronaves foram fornecidas à Força Aérea Sueca. 
Como não havia comparação real entre o DH.60 original e o novo DH.60G, o Gipsy Moth rapidamente se tornaria o esteio operacional -para os aeroclubes britânicos,  como a única aeronave de turismo no Reino Unido. Em 1929, estimava-se que de cada cem aviões na Grã-Bretanha, oitenta e cinco pertenciam a esta família, com a maioria delas Gipsy Moth.  Isto apesar do fato de que, com de Havilland tendo mudado do motor Cirrus para seu próprio motor Gipsy, o excedente Cirruses estava agora chegando ao mercado e um tesouro de aeronaves movidas a Cirrus, como o Avro Avian, o Klemm Swallow e o Miles Hawk começaram a disputar o mercado privado de aeronaves para este segmento. Até o final da produção em fins de 1933 seriam entregues mais de dual mil células,  dispostas em diversas versões, entre estas sessenta e quatro aeronaves da versão aprimorada com o motor Gipsy III, que receberiam a designação de   Havilland DH-60T Moth Trainer . Logo a  Força Aérea Real (Royal Air Force) se tornaria o maior operador da aeronave, inicialmente um pequeno lote seria incorporado, porém inicialmente verificou-se que a aeronave não se adequava ao seu método de treinamento de voo militar. No entanto, em 1931, a seriam adquiridas  centro e vinte e quatro células do modelo DH-60M, que seriam empregadas pela  Escola Central de Voo e outras unidades de treinamento até 1939. Versões deste família também seriam empregados pela Austrália, Áustria, Bélgica, Birmânia, Canadá, China, Brasil, Chile, Cuba, Dinamarca, Egito, Etiópia, Finlândia, Grécia, Hungria, Irlanda, Iraque, Nova Zelândia, Paraguai, Polônia, Portugal, Romênia, África do Sul, República Espanhola, Estado Espanhol, Suécia,  Reino da Jugoslávia, Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, aeronaves britânicas capturadas por forças alemães e japonesas seriam empregadas por todo o conflito. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O processo de formação de pilotos militares brasileiros tem sua origem em fevereiro de 1914, quando seria fundada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro a Escola de Escola Brasileira de Aviação, mediante uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia, com esta sendo responsável por fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares.  Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua própria organização de treinamento e formação, a  Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Em 1919 sobre os auspícios dos técnicos da Missão Militar Francesa de Aviação (MMFA), seria criada a Escola de Aviação Militar (EAM), iniciando assim com muitas adversidades a implantação aviação como arma junto ao Exército Brasileiro. Nos primeiros anos uma variada gama de aeronaves principalmente de origem francesa comporia sua frota, se destacando ao longo dos anos modelos relativamente modernos.  Porém no início da década de 1930, a Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM) contava somente com poucas células dos já obsoletos Morane Saulnier MS.147Ep2 e MS.130ET2 para o emprego na formação de alunos inscritos no curso de aviação militar. Neste contexto também pairava sobre a Aviação Naval da Marinha do Brasil a mesma necessidade de modernização dos meios aéreos. O atendimento desta demanda em comum, levaria o governo brasileiro a lançar uma concorrência internacional visando a aquisição de até quarenta aeronaves para serem divididas entre a Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro. Os registros de época apontam a apresentação de propostas de fabricantes franceses, britânicos e norte-americanos, envolvendo sete modelos de aeronaves. Após diversas análises comparativas, a escolha acabaria pendendo para a proposta apresentada pela De Havilland Aircraft Company, envolvendo a aquisição de um lote de aeronaves do modelo DH-60T.  Desta maneira no final do ano de 1931 seria celebrado um contrato prevendo a compra de quinze células para o Aviação Militar do Exército e vinte e quatro para a Aviação Naval da Marinha do Brasil, levando ao país naquele momento a se tornar o maior operador militar desta versão.  

As primeiras três aeronaves chegariam no Rio de Janeiro a bordo do navio mercante Andaluzia Star em 5 de março de 1932, juntamente com o piloto chefe ensaios em voo da empresa o Capitão Hubert S Broad, que tinha como missão acompanhar a montagem das aeronaves e ministrar o treinamento básico aos pilotos. A primeira aeronave finalizada seria oficialmente apresentada no dia 18 do mesmo mês em uma cerimônia oficial realizada no Campo dos Afonsos, até maio do mesmo ano as demais células foram recebidas e montada, neste interim o Capitão Hubert S Broadjá treinara o núcleo de instrutores da Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM) e da Escola de Aviação Naval (EAvN). Do total recebido pelo Exército dois DH-60T foram alocados na Esquadrilha de Treinamento do Grupo Misto de Aviação (GMA) sediado no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro. Diferentemente das aeronaves do Exército Brasileiro que apresentavam configuração exclusiva de treinamento, os DH-60T da Marinha do Brasil foram recebidos com kits para adaptação de flutuadores, porta bombas, rádios, visor de bombardeio Aldis e metralhadoras fotográficas.  A eclosão da Revolução Constitucionalista em 1932, vislumbraria o emprego dos De Havilland DH-60T em missões de combate real, com seis aeronaves designadas à Defesa do Litoral (DAL) destinadas a compor duas seções daquele comando. Duas destas aeronaves estavam equipadas com sistema de rádio, dois com porta bombas e dois com metralhadoras fotográficas,  a fim de serem utilizados em missões de ligação, observação e reconhecimento ao longo do litoral paulista a serviço das forças legalistas que combatiam em terra entre Picinguaba e Santos.  Com os outros seis aviões em serviço da Escola de Aviação Naval (EAvN), o comando da Marinha do Brasil tentaria ainda agilizar o recebimento das doze células, porém chegariam tarde demais para participar do conflito, que se encerrou em 3 de outubro  de 1932 com a assinatura do armistício. Em tempos de paz a Aviação Naval pode retomar seu processo de reorganização, determinando que o novo lote de aeronaves fosse direcionado a Base Aérea de Porto Alegre onde passariam a compor a Divisão de Instrução, ocorre, porém, que somente quatro De Havilland DH-60T foram assim alocados, com os demais sendo distribuídos ao Centro Naval de Santa Catarina e ao Centro de Aviação Naval do Galeão. 
A exemplo dos De Havilland DH-60T da Marinha do Brasil, as aeronaves pertencentes a Aviação Militar do Exército também se faria presente na Revolução Constitucionalista iniciada em 9 de julho de 1932. Curiosamente as forças combatentes estavam completamente subequipadas para as operações áreas que se faziam necessárias em um conflito daquela escala. Considerou-se assim empregar todos os meios disponíveis, com as aeronaves de treinamento De Havilland DH-60T sendo deslocados para os destacamentos aéreos baseados nas cidades de Resende no Rio de Janeiro e Mogi Mirim no interior de São Paulo. Nestas localidades os DH-60T seriam usados em missões exclusivamente de ligação e correio aéreo, em viagens diárias entre estas bases no front de batalha e o Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro. Com o encerramento do conflito em outubro de 1932, os De Havilland DH-60T retornariam a sua atividade original de treinamento e formação de pilotos militares junto a Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM). Neste mesmo período o intenso emprego operacional logo cobraria seu preço, resultando em uma série de acidentes e incidentes que reduziriam sensivelmente a disponibilidade da frota. A fim de recomplementar a dotação de aeronaves de instrução, a partir de 1934 seriam incorporadas células do modelo Waco RNF, desta maneira gradualmente os  DH-60T passariam a realizar missões administrativas em proveito da Escola de Aviação Militar (EAvM). Em fins de 1935 os DH-60T Gipsy Moth seriam transferidos para o controle do 4º Divisão da Escola de Aviação Militar (EAvM), para serem empregados exclusivamente como aeronaves de adestramento. No início de 1936 estavam disponíveis apenas seis aeronaves, e nos anos seguintes a frota seria novamente reduzida para três ou quatro células. Este cenário levaria o comando da Aviação Militar do Exército, no início do ano de 1939 , a se decidir pela desativação do modelo, com as células remanescentes e todo o suprimento de peças de reposição sendo doados a aeroclubes. 

O reequipamento e reorganização da Aviação Naval após a revolução, incluindo a compra de novas aeronaves de treinamento, fez com que os D.H. 60T fossem distribuídos, em 1933 para outras unidades, incluindo os Centros de Aviação Naval em Florianópolis, Ladário e no Rio de Janeiro e as Bases de Aviação Naval de Porto Alegre e Santos. Nesse período, eles foram redesignados como I1H (indicando ser uma aeronave de instrução, 1º modelo da de Havilland empregado pela Aviação Naval) e matriculados com os números 21 a 32 (para as primeiras doze aeronaves), e com os números 75 a 86 para os do segundo lote. Apesar do desgaste natural das células e reduzida disponibilidade operacional, as aeronaves De Havilland DH-60T ainda rendiam elogios por parte de pilotos e oficiais da Aviação Naval, esta aceitação culminaria no interesse em adquirir mais aeronaves deste modelo. Negociações seriam iniciadas junto ao fabricante, resultando na  celebração de um contrato de compra do novo modelo da empresa designado como DH-82 Tiger Moth, que começariam a ser recebidos em meados do ano de 1933. Este evento assinalou o início do fim da breve carreira dos De Havilland DH-60T como aeronave de treinamento básico padrão da Escola de Aviação Naval (EAvN). A partir do final deste mesmo ano, os DH-60T Gipsy Moth remanescentes passaram a cumprir gradativamente tarefas utilitárias em distintas bases aéreas e centros operacionais da Aviação Naval. Seis aeronaves ainda permaneceram na Escola de Aviação Naval (EAvN) cumprindo missões de treinamento em complemento a frota dos nos DH-82 Tiger Moth , se mantendo nesta função até final de 1934, quando as células ainda em condições de voo foram repassadas para outras unidades. Em maio de 1935 as poucas aeronaves restantes no acervo da Aviação Naval passaram a constituir a 2º Flotilha de Diversos, cujos aviões desta unidade sendo repartidos entre os Centros de Aviação Naval de Santa Catarina, Porto Alegre, Ladário, Rio de Janeiro e Santos.
Ao contrario  células remanescente dos oriundas da Aviação Militar do Exército Brasileiro que apresentariam uma grande sobrevida no meio civil, as aeronaves do modelo De Havilland DH-60T Gipsy Moth logo seriam definitivamente desativadas. Este fato se daria pelo registro de acentuadas taxas de atrito, desgaste estrutural e acidentes, que viriam a reduzir consideravelmente o número de aeronaves disponíveis para voo. Em 20 de janeiro de 1941, quando da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer), havia somente um DH-60T Gipsy Moth em condições de voo, que seria juntamente com as demais aeronaves e pessoal transferidas para a recém-criada Força Aérea Brasileira. Após ser revisada esta célula seria transferida para a Base Aérea de Santos no litoral do estado de Sao Paulo, onde passaria a ser empregada como aeronave orgânica atuando em tarefas administrativas em proveito daquela organização militar.  Nesta missão o último De Havilland DH-60T Gipsy Moth se manteria na ativa até o final do ano de 1942, quando enfim seria desativado. Posteriormente antes da descarga para alienação e venda como sucata os remanescentes De Havillan DH-82 Tiger Moth e este último De Havilland DH-60 Gipsy Moth foram redesignados como PT-MT em 1945.

Em Escala.
Para representarmos o De Havilland DH-60T Gipsy Moth  "K-147" pertencente a Escola de Aviação Militar (EAvM) do Exército Brasileiro, empregamos o kit do fabricante Amodel, na escala 1/48. Única opção injetada para esta aeronave nesta escala, que infelizmente apresenta baixo nível de detalhamento e qualidade de injeção. Fizemos uso de decais FCM Decals oriundos de diversos sets combinados com decais originais do kit.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos padrões de pintura originais do fabricante De Havilland Aircraft Company destinados originalmente ao mercado civil. Sobre este esquema seriam aplicados os cocares da Aviação Militar e suas respectivas matriculas. Este padrão seria mantido durante toda a sua carreira operacional no Exército Brasileiro. Já as aeronaves da Aviaçao Naval da Marinha do Brasil, faziam uso de outro padrão de pintura.



Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr
- De Havilland DH-60 Moth Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/De_Havilland_DH.60_Moth
- O emprego do avião na Revolução Constitucionalista de 1932 - www.reservaer.com.br/

Consolidated PBY-5 Catalina Aerobote

História e Desenvolvimento. 
​A Consolidated Aircraft Corporation foi fundada em 1923 por Reuben H. Fleet na cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque. Esta empresa aeronáutica teve origem na aquisição dos ativos da Gallaudet Aircraft Company, bem como na incorporação de projetos da Dayton-Wright Company, uma subsidiária da General Motors Corporation, cuja divisão aeronáutica fora descontinuada em decorrência de um processo de reorganização empresarial. O primeiro projeto militar de sucesso da Consolidated foi o treinador primário biplano PT-1 Trusty, que se tornou a primeira aeronave de instrução adquirida em quantidade expressiva pelo Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAS), logo após o término da Primeira Guerra Mundial. Este modelo também foi utilizado pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), reforçando sua relevância na formação de pilotos militares. Os recursos provenientes dessas primeiras vendas possibilitaram à empresa ampliar significativamente seus investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento. Como reflexo desse crescimento, em setembro de 1935, foi inaugurada uma moderna e ampla unidade fabril na cidade de San Diego, no estado da Califórnia. No início da década de 1940, o acirramento das hostilidades na Europa e o agravamento das tensões diplomáticas com o Império do Japão no Leste Asiático levaram o governo norte-americano a priorizar um ambicioso processo de modernização e rearmamento de suas forças armadas. Nesse cenário, com a crescente probabilidade de um conflito no teatro de operações do Pacífico, tornou-se imperativo o desenvolvimento de uma nova geração de hidroaviões de patrulha e bombardeio, dotados de grande autonomia operacional. Tal necessidade era motivada pela limitada infraestrutura  de aeródromos existente nas ilhas sob controle norte-americano naquela região estratégica. As especificações técnicas estipuladas para essa nova aeronave previam um modelo de porte médio, bimotor, com alcance operacional desejável de 4.800 km, velocidade de cruzeiro em torno de 260 km/h e peso máximo de decolagem na ordem de 11.340 kg. Além das missões de patrulhamento e reconhecimento marítimo, a nova plataforma deveria ser capaz de desempenhar funções de guerra antissubmarino (ASW), bombardeio contra alvos navais de superfície e, por fim, operações de busca e salvamento (SAR). 

O objetivo primordial do desenvolvimento e da integração desse novo vetor foi a substituição, em curto prazo, do binômio operacional então composto pelos hidroaviões biplanos Consolidated P-2Y e Martin P-3M, considerados obsoletos diante dos desafios estratégicos iminentes. Nesse contexto, no início de 1935, o comando da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) lançou uma concorrência nacional destinada ao desenvolvimento de uma aeronave dessa categoria. Diversas empresas responderam a essa solicitação, apresentando suas respectivas propostas técnicas e comerciais. Após uma análise meticulosa, dois projetos foram selecionados como finalistas: o modelo Douglas XP3D, da Douglas Aircraft Company, e o XP3Y-1, da Consolidated Aircraft Company, ambos recebendo recursos para a construção de protótipos. Embora as avaliações técnicas tenham sido conduzidas com rigor, o critério de custo-benefício emergiu como fator determinante na escolha da nova aeronave, sobretudo devido à necessidade premente de aquisição de um número elevado de aeronaves. Assim, a proposta da Consolidated Aircraft Company foi declarada como vencedora, principalmente por oferecer a melhor relação entre custo de aquisição, operação e manutenção. Designada pelo fabricante como Modelo 28, essa aeronave teve origem em um projeto concebido originalmente em 1933 pela equipe liderada pelo engenheiro Isaac M. Laddon. Sua configuração incluía dois motores radiais Pratt & Whitney R-1830 – R-1854 Wasp, cada um desenvolvendo 825 hp de potência, dispostos em uma estrutura bimotora. As asas, de posicionamento alto, apresentavam formato parasol e eram equipadas com quatro montantes que sustentavam flutuadores retráteis nas extremidades, otimizando tanto a manobrabilidade na água quanto a redução do arrasto aerodinâmico em voo. O protótipo inicial, designado XBP-3Y1 (onde "X" indica experimental, "BP" refere-se a bombardeio de patrulha e "Y" corresponde ao código do fabricante), realizou seu primeiro voo em 28 de março de 1935. Essa unidade foi submetida a um extenso programa de ensaios em voo, que resultou em diversas melhorias aerodinâmicas destinadas a facilitar a decolagem. Entre as modificações implementadas, destacou-se a adoção de motores mais potentes, com 900 hp cada. Concluído o programa de testes, a aeronave foi homologada para uso operacional pelo comando da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), validando sua futura integração às forças armadas.
Um primeiro contrato, envolvendo a produção de dez aeronaves de pré-produção, foi assinado outubro de 1935, resultando no voo da primeira célula do agora designado Consolidated PBY-1 (Modelo 28-1) em 19 de maio de 1936. Durante esse voo, foi alcançado um recorde de distância sem escalas, totalizando 3.443 milhas (5.541 km). No decorrer desse período, foram encomendadas mais aeronaves, com as primeiras aeronaves operacionais sendo entregues em outubro de 1936 ao esquadrão de patrulha VP-11F "Patrol Squadron 11, Fleet" da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). No ano seguinte, o esquadrão VP-12, conhecido como os "Black Cats," também foi equipado com aeronaves deste modelo, com suas aeronaves fazendo parte de um terceiro contrato que previa a aquisição de sessenta unidades. Em maio de 1937, iniciou-se o desenvolvimento de uma nova versão, que apresentava um conjunto de pequenas melhorias, recebendo a designação de PBY-2 (Modelo 28-2). Essa versão subsequentemente recebeu um contrato para a produção de cinquenta aeronaves. Apesar dos progressos alcançados, tornou-se evidente a necessidade de maior potência nas aeronaves, resultando na criação da versão PBY-3 (Modelo 28-3), a qual passou a ser equipada com dois motores radiais Pratt & Whitney R-1830-66, com potência de 1.000 hp. Este modelo foi imediatamente aceito, recebendo uma encomenda de sessenta e seis aeronaves. A versão seguinte, o PBY-4 (Modelo 28-4), também foi desenvolvida, com um total de trinta e três células produzidas, e dotada de motores Pratt & Whitney R-1830-72 de 1.050 hp. O conhecimento adquirido no desenvolvimento e operação dessas versões levou a Consolidated Aircraft Company, no final de 1939, a propor a construção de uma variante aprimorada. Esta nova versão, designada como PBY-5 (Modelo 28-5), além de contar com os novos motores Pratt & Whitney R-1830-82 ou R-1830-92, com 1.200 hp, passou a ser equipada com armamento defensivo melhorado, hélices hidráulicas, bolhas de observação lateral e maior capacidade de combustível em tanques parcialmente protegidos pelo tipo auto vedante. O PBY-5 recebeu seu primeiro contrato de produção para 167 aeronaves no final de 1939, e as primeiras unidades foram declaradas operacionais em vários esquadrões de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) no início do ano seguinte. Próximo a entrada dos Estados Unidos no conflito, estas aeronaves já haviam substituído uma grande parte das antigas aeronaves anfíbias como os  Consolidated P-2Y e Martin P-3M.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as aeronaves PBY-5 e PBY-5A desempenharam um papel proeminente no esforço de guerra dos Estados Unidos e seus aliados, sendo amplamente utilizadas em missões estratégicas de natureza diversa. Esses hidroaviões foram empregados em operações de guerra antissubmarino (ASW – Anti-Submarine Warfare), bombardeios de patrulha, escolta de trens, busca e resgate (notadamente em ambiente aéreo-marítimo) e transporte de cargas. Um marco histórico foi registrado em 27 de dezembro de 1941, quando seis unidades PBY-5 e um PBY-5A do Esquadrão de Patrulha VP-101 ("Esquadrão de Patrulha 101") realizaram o primeiro ataque contra forças japonesas, bombardeando um transporte na Ilha Jolo sob forte oposição de caças inimigas. Apesar de sua relativa lentidão e manobrabilidade considerada limitada, os PBY-5s  se destacaram por sua robustez e especificidade, operando com distinção em todos os teatros do conflito. O seu desempenho foi especialmente notável na campanha contra o Império do Japão, onde se estabeleceu como um recurso essencial. Além disso, essas aeronaves deixaram uma marca indelével na história da aviação militar por meio de suas operações de busca e salvamento (SAR – Busca e Salvamento), resgatando milhares de pilotos e tripulantes abatidos nas águas do Oceano Pacífico. De forma peculiar, os aviadores adotaram códigos de chamada diferentes conforme a missão: "Gato" para operações de combate e "Dumbo" para ações de resgate aéreo. O Comando Costeiro da Real Força Aérea (Royal Air Force – RAF) foi o primeiro grande cliente de exportação, batizando a aeronave como "Catalina" em homenagem à Ilha de Santa Catalina, na Califórnia. Na Batalha do Atlântico, os PBY-5 e PBY-5A, comandados pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) e pela  Real Força Aérea (RAF), foram fundamentais na proteção aérea dos comboios marítimos entre os dois países, garantindo o transporte de suprimentos obrigatórios para o esforço de guerra aliada. Essas aeronaves foram significativamente desenvolvidas para o afundamento de numerosos submarinos alemães e italianos, embora seu impacto tenha sido limitado pela autonomia operacional restrita. Ao longo do conflito, o Catalina foi utilizado no combate pelas forças armadas de países como Austrália, Brasil, Canadá e União Soviética, sendo incluído no portfólio do programa de assistência militar Lei de Empréstimo e Arrendamento (Lend-Lease Act). Sua ampla presença em diversos cenários de guerra sublinha sua importância estratégica e operacional para o sucesso das forças aliadas.
Ao longo de sua produção, a Consolidated Aircraft Company fabricou um total de 684 unidades da versão PBY-5 Catalina em suas instalações. A necessidade de operar a partir de pistas terrestres, além de superfícies aquáticas, levou ao desenvolvimento do PBY-5A (Modelo 28-5A), uma variante anfíbia equipada com um trem de pouso triciclo retrátil, acionado hidraulicamente. Nesse modelo, as rodas principais eram recolocadas nas laterais da fuselagem por meio de um sistema de engrenagens. O PBY-5A foi a primeira versão para possibilitar a instalação de um radar de busca marítima, alojado em um radome posicionado acima da cabine. Foram produzidas 803 unidades dessa variante. Posteriormente, foi introduzido a última variante, o PBY-6A Catalina, que apresentou uma cauda redesenhada, melhorando sua aerodinâmica. Um contrato foi assinado para a produção de 900 unidades dessa versão; no entanto, o término da Segunda Guerra Mundial alterou as prioridades de investimento militar, resultando no cancelamento de diversos programas, incluindo o do PBY-6A. Assim, apenas 175 aeronaves dessa variante foram concluídas. Além das linhas de montagem da Consolidated Aircraft Company, localizadas em San Diego (Califórnia), New Orleans (Louisiana) e Buffalo (Nova York), a família PBY também foi fabricada sob licença no Canadá pelas empresas Boeing Aircraft of Canada e Canadian Vickers. Na União Soviética, algumas peças de unidades foram produzidas, sendo os hidroaviões denominados localmente GST - MP-7 e os anfíbios classificados como KM-1 e KM-2. Até meados de 1945, foram entregues 4.051 unidades do PBY Catalina, consolidando-o como o hidroavião mais produzido na história mundial da aviação. Esse número reflete a relevância da comunicação tanto em termos operacionais quanto industriais durante e após o conflito.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Este programa seria de vital importância para adequar em termos de aeronaves e doutrina operacional a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), que até então herdara da Aviação Militar do Exército Brasileiro e da Aviação Naval da Marinha do Brasil, aeronaves obsoletas e não adequadas para principalmente para se fazer frente a ameaça dos submarinos italianos e alemães. 

Na primeira fase das operações, as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) limitaram-se à execução de voos de presença ao longo do litoral brasileiro, utilizando frequentemente monomotores como o North American AT-6B e o Vought V-65B Corsair. Esse cenário começou a se transformar no início de 1942, quando, sob incentivos econômicos e pressões diplomáticas, foi autorizado o uso de bases aéreas brasileiras por unidades de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy).  Neste momento seriam realizados os primeiros embates contra os submarinos alemães e italiano, com estas missões sendo acompanhadas de perto pelos oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB), passando assim absorver todo conhecimento inerente a arte da guerra  aeronaval, conquistando aos poucos a qualificação necessária para a multiplicação desta doutrina. O batismo de fogo da Força Aérea Brasileira (FAB) ocorreu em 22 de maio de 1942, quando uma aeronave norte-americana B-25B Mitchell atacou  o submarino italiano Barbarigo (classe Marcelo) nas proximidades do arquipélago de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas. Esse evento ocorreu no naufrágio do navio mercante brasileiro “Comandante Lyra”, atingido quatro dias antes, em 18 de maio, pelo submarino italiano “Barbarigo”. No final deste mesmo ano seria determinado que a Força Aérea Brasileira deveria começar a assumir uma significativa parcela das atividades de patrulhamento e guerra antissubmarino em seu mar territorial. Como reforço seriam recebidos dez Lockheed A-28A-LO Hudson, o primeiro modelo especializado em missões deste tipo, passando a serem operados pelo Grupo de Aviões Bimotores (GAB), sediado em Natal, Rio Grande do Norte .Logo em seguida seriam transferidas sete aeronaves PBY-5 Catalina que estavam em operação junto ao Esquadrão VP-94 da Marinha dos Estados Unidos  (US Navy), que neste momento operava junto a Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro.  Neste momento os grupos de patrulha das duas nações passaram a ser concentradas na Base Aérea do Galeão, na cidade do Rio de Janeiro, onde no início do ano de 1943 foi criada a USBATU (United States Brazilian Training Unit), unidade dedicada ao treinamento das tripulações brasileiras em doutrinas e técnicas de guerra antissubmarino, anti superfície e patrulha. Após a conclusão deste programa de formação, três aeronaves PBY-5 Catalina foram distribuídas para o 7º Regimento Aviação na Base Aérea de Belém, três permaneceram no Rio de Janeiro na Unidade Volante do Galeão e a sétima foi envida para o 14º Corpo da Base Aérea de Florianópolis em Santa Catarina, onde passaram a iniciar as missões de patrulha, inicialmente com tripulações mistas de oficiais dos dois países para adaptação e posteriormente somente por brasileiros. 
Já o primeiro registro de um embate com o inimigo, fazendo uso de um Catalina brasileiro, ocorreu em 31 de julho de 1943, quando o Consolidated PBY-5 "PA-02" comandado pelo oficial Alberto Martins Torres, e sua equipe formada pelo Comandante José Maria Mendes Coutinho Marques, Piloto Luiz Gomes Ribeiro, Co-piloto José Carlos de Miranda Corrêa, se  estava em missão de patrulha na região de Cabo Frio acompanhando à saída do comboio JT-3 com destino aos Estados Unidos. A aeronave passaria a acompanhar os movimentos do submarino alemão U-199 (Type IXD2) que havia sido detectado e atacado por uma aeronave PBM-3 Mariner  do esquadrão VP-74 (USN), com a embarcação alemã sendo danificada no ataque inicial, porém permanecendo atirando com suas peças de artilharia antiaérea. O sistema de defesa brasileiro já havia sido alertado sobre a presença do inimigo, e  um  Lockheed A-28A Hudson da Força Aérea Brasileira (FAB) imediatamente levantou vôo do Rio de Janeiro, pilotado pelo Asp.-Av. Sergio Cândido Schnoor. Esta aeronave atacou o U-199 com duas cargas de profundidade Mk. 17 as quais caíram perto do submarino; efetuando um segundo ataque,  em seguida o Aspirador Aviador. Schnoor abriu fogo com suas metralhadoras frontais, o que atingiu alguns marinheiros alemães que manejavam a artilharia antiaérea. Feito este ataque o A-28A Hudson deixou a área, sendo rendido na missão pelo PBY-5 Catalina "PA-02" que se encontrava em missão de patrulha próxima a esta região, sendo então designado pelo comando a proceder o ataque ao inimigo. Ao se deparar com o U-199, a  aeronave  lançou três cargas de profundidade no alvo, com elas sendo detonadas no alvo, uma na proa, uma a meia-nau e outra na popa. A aeronave então manteria seu voo colado n’água para menor risco da eventual reação da antiaérea, iniciando uma curva de retorno para o lançamento da última carga  perto da popa do submarino que já então afundava lentamente, parado. Em seguida durante um novo sobrevoo seriam identificados sobreviventes na água, com a aeronave brasileira lançando botes infláveis e viveres, sendo posteriormente resgatados por um navio americano. A aeronave PBY-5 responsável por este ataque e afundamento receberia em uma cerimonia  no aeroporto Santos Dumont realizada no dia 28 de agosto de 1943, o nome de batismo de "Árara" . Refletindo bem o espírito da época, a cerimônia de batismo  teve canções patrióticas e discursos inflamados. Entre os presentes estava o comandante do navio mercante Arará, José Coelho Gomes, e a tripulação do Catalina. O hidroavião foi batizado com água do mar por uma menina – Miriam Santos – órfã de seu pai, o Segundo-Comissário Durval Batista dos Santos, morto na ocasião em que o Arará (o mercante teve 20 mortos) foi afundado, no momento em que prestava socorro às vítimas do Itagiba, no dia 17 de agosto de 1942.

Outra cerimônia semelhante seria repetida um mês depois no Rio Grande do Sul, com o batismo de outro PBY-5 Catalina, com o nome de Itagiba, navio mercante afundado em 17 de agosto de 1942, com 38 mortos, entre tripulantes e passageiros. Entre os sobreviventes, estavam os soldados dos Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso, alguns dos quais foram lutar na Campanha da Itália em 1944. Em 30 de outubro de 1943 o PBY-5 PA-01 pilotado pelo Capitão Aviador Dionísio Cerqueira de Tanuy do 1º Grupo de Patrulha baseado no Galeão, ao largo de Cabo Frio no Rio de Janeiro, identificou e atacou com duas bombas de profundidade o submarino alemão U-170  (Type IXC/40), o qual havia torpedeado no litoral de São Paulo o navio mercante Campos no dia 23 do mesmo mês.  Infelizmente este ataque não lograria êxito, e o  submarino reagiu com todo seu armamento de convés atingindo a quilha vertical do avião, a carenagem do motor direito e com dezenas de tiros de metralhadora ao longo da parte inferior da fuselagem. Os sargentos Halley Passos e Humberto Mirabelli da guarnição do avião foram feridos por estilhaços de tiros de canhão, tendo sido fotografados por jornalistas quando da chegada do avião ao Rio. A barragem de fogo do submarino era tão densa que as explosões das granadas de cor cinza claro e cinza escuro causadas pela cordite, ingrediente usado na fabricação de bombas, exalavam um cheiro acre que invadindo a cabine do avião. Durante o transcurso da guerra inúmeras missões foram realizadas pelos PBY-5 Catalina, registrando novos encontros e combates com submarinos alemães e italianos. Este esforço de guerra seria ampliado em dezembro de 1944 com o recebimento de mais 15 aeronaves agora na versão anfíbia o PBY-5A (Modelo 28-5A) Catalina   que também pertenciam ao esquadrão VP-94 da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), o que possibilitou a criação 2º Grupo de Patrulha, de acordo com o Decreto-Lei Ministerial N.º 6.796, de 17 de agosto de 1944. Com a reformulação da sistemática de designação das unidades aéreas da Força Aérea Brasileira (Fb), adotada a partir de março de 1947, o 2º Grupo de Patrulha foi desativado e todas as suas aeronaves foram transferidos para a Base Aérea de Belém - PA . O 1º Grupo de Patrulha foi transformado no 1º Esquadrão do 2º Grupo de Aviação (1º/2º GAv), de acordo com o Aviso n.º 5, de 1º de abril de 1947. A nova unidade também recebeu a incumbência de ser a responsável por ministrar a instrução de Aviação de Patrulha na Força Aérea Brasileira (FAB), formando, anualmente, os novos pilotos de patrulha da Aeronáutica.
Dentre as 07 células do Consolidated PBY-5 Catalina aerobotes recebidos pela Força Aérea Brasileira (FAB) em 1943, observaram-se diferenças significativas não apenas nos esquemas de camuflagem e marcações, que seguem padrões norte-americanos da aviação naval, mas também na configuração dos sistemas e equipamentos destinados à detecção e acompanhamento de submarinos e navios de superfície. Por exemplo, as aeronaves PBY-5  de matrícula FAB PA-01 e PA-02 não estavam equipadas com suítes eletrônicas de detecção e combate, enquanto as demais  5 aeronaves contavam com radares de superfície e outros sistemas variados. Com o término do conflito, os Consolidados PBY-5 Catalina da Força Aérea Brasileira (FAB) foram gradativamente retirados das missões de patrulha e guerra antissubmarino, sendo redirecionados para operações de busca e salvamento e transporte, com ênfase nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. No final de 1948, o Ministério da Aeronáutica (MAer) adquiriu, junto ao Canadá, seis aeronaves usadas do modelo PBV-1A "Canso" — uma variante canadense do Catalina —, que foi empregada anteriormente juto a Força Aérea Real do Canadá (Royal Canadian Air Force). Essa aquisição teve como objetivo substituir as aeronaves perdidas em acidentes e permitir a desativação das células remanescentes dos primeiros Consolidated PBY-5 Catalina, que, além de apresentar fadiga estrutural, exigiam uma operação mais complexa em comparação com a variante anfíbia mais moderna. Dessa forma, encerramos a trajetória operacional dessas primeiras aeronaves de patrulha e guerra antissubmarino  na Força Aérea Brasileira (FAB). Infelizmente, nenhuma célula dessa versão inicial foi preservada para fins históricos ou museológicos.

Em Escala.
Para a representação do Consolidated PBY-5 Catalina aerobote , registrado sob a matrícula FAB PA-02 “Árara”, foi utilizado o kit do Monograma na escala 1/48, reconhecido por sua qualidade e fidelidade. A fim de retratar com precisão a versão operada pela Força Aérea Brasileira (FAB) durante a Segunda Guerra Mundial, optou-se por não incluir as antenas dos sistemas de guerra antissubmarino e os exaustores do motor, adaptando o modelo às características específicas da aeronave em questão. Para a aplicação das marcações, foram utilizados decalques produzidos pela FCM Decais, provenientes do conjunto 48/08.
O esquema de cores conforme especificado pelo padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, reflete o padrão de pintura adotado pelas aeronaves de patrulha da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) durante a Segunda Guerra Mundial. Esse esquema foi aplicado com a incorporação das marcações da Força Aérea Brasileira (FAB) nas laterais e nas asas das aeronaves. Cabe ressaltar que, inicialmente, os aviões preservaram os cocares norte-americanos na parte inferior das asas. Com o término do conflito, as aeronaves passaram a adotar um novo padrão de pintura, caracterizado pelo uso de cores brancas e metálicas.


Bibliografia :

- O Consolidate PBY5/A Catalina na FAB, por Aparecido Camazano Alamino- Revista Asass Nº45
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Catalinas do Brasil - http://www.catalinasnobrasil.com.br/site/historico/18-os-pby-5a-da-forca-aerea-brasileira.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015  por Jackson Flores Junior

L-4H-PI Piper Grasshoper no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem desta vasta linhagem de aeronaves leves de ligação transporte e instrução, de grande sucesso mundial tanto no mercado civil como militar, tem início em 1927 com a fundação da empresa Taylor Brothers Aircraft Manufacturing. Apresentando como primeiro produto de destaque o Taylor Cub, um pequeno avião biplace de asa alta cuja produção foi iniciada em 1931 atingindo a cifra de mais quatro mil aeronaves produzidas. Em dezembro de 1937, está pujante empresa passaria a ser renomeada como Piper Aircraft Company, e rapidamente sua marca se tornaria sinônimo de aeronaves leves de treinamento e transporte, com suas vendas sempre se baseando na casa milhares de células entregues ao mercado civil. O primeiro modelo a ser lançado foi o Piper J-2, com os modelos J-2E, J-2F, J-2G e J-2H, totalizando até 1938 a impressionante cifra de um mil e duzentas aeronaves entregues ao mercado. A próxima versão a ser produzida seria a Piper J-3 uma aeronave melhorada, que contava agora com o emprego de um motor melhor, desenvolvendo 50 cv de potência, como diferencial competitivo mantinha a mesma excelente relação de custo-benefício, apresentando como preço de venda ao consumidor final de apenas US$ 1.000,00 a aeronave. A simplicidade e a robustez do projeto lhe permitiam operar em aeroportos com baixa infraestrutura de apoio com baixo custo operacional. Estas qualidades e atributos levariam a celebração muitos de contratos de exportação para o mundo todo, encontrando um farto mercado nos países em desenvolvimento. Inicialmente suas aeronaves eram exportadas em kits,  sendo montadas nos países de destino, logo em seguida o fabricante começou a negociar os direitos de licença de produção local, permitindo a inclusão de um percentual de componentes produzidos localmente.

Em fins da década de 1930 era cada vez mais claro que o mundo seria arrastado para um novo conflito de ordem mundial, com as tensões se agravando dia a dia na Europa com os desejos expansionistas da Alemanha nazista e no Pacífico Central com o Império do Japão. Este provável cenário levaria o governo norte-americano a mobilizar esforços e investimentos em um vasto programa de rearmamento, passando envolver uma série de indústrias estratégicas no atendimento desta demanda, entre elas a Piper Aircraft Company, que passaria a produzir componentes para diversos equipamentos e sistema de defesa. Em setembro de 1939 a invasão da Polônia pelas forças armadas alemãs, tornaria emergencial não só produzir armas e equipamentos, mas também dispor de pessoal adequado para operar e manutenir, com o cenário mais prioritário focado nas armas aéreas da marinha e do exército. Para atender a esta demanda seria criado no país o Programa Civil de Treinamento de Pilotos (CPTP Civilian Pilot Training Program), e para equipar esta iniciativa seria decido na fase de instrução primária, empregar as aeronaves Piper J3L-65 Cub que estavam equipadas com o novo motor Lycoming O-145-B1 de 65hp. Esta iniciativa seria mantida até fins de 1944, chegando a formar um total de mais de quatrocentos mil pilotos militares. No entanto o baixo custo de aquisição e operação já haviam despertado o interesse do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) que buscava neste período uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação no campo de batalha, que dentre inúmeras atividades poderia ser empregada ainda em tarefas de vigilância de fronteira.
Assim uma concorrência seria lançada, e para atendimento a esta demanda, a Piper Aircraft Company apresentaria ao comando do Exército Americano (US Army) o modelo J3-O59, sendo esta aeronave era mecanicamente idêntica a versão civil, sendo distinguível sesta, apenas pela utilização de uma claraboia em plexiglas com efeito de estufa e janelas traseiras maiores, para melhor visibilidade. No processo de análise dos concorrentes, a balança penderia para o lado da Piper Aircraft Company, gerando o primeiro contrato de compra de quatro unidades do modelo Piper J3C-65, que foram designados pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) como YO-59. Em novembro de 1941 uma nova encomenda seria feita, agora abrangendo quarenta células que foram redesignados como Piper L-4-PI, estas novas aeronaves incorporavam uma série de modificações que os adaptavam as tarefas militares, como painéis transparentes na seção central da asa e equipamento de rádio. Assim que. As primeiras unidades a entrarem em serviço passaram a ostentar a designação militar O-59, com o “O” indicando a tarefa de observador, nesta missão embarcava-se junto com o piloto um observador equipado com radio a fins de se comunicar com o pessoal em solo para a correção de disparos de artilharia. Antes dos Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, os J-3 faziam parte de um programa de angariação de fundos para apoiar o Reino Unido. Anunciado como Flitfire, um Piper Cub J3 com as insígnias da Força Aérea Real (Royal Air Force) foi doado por W. T. Piper e Franklin Motors ao Fundo Benevolente da força aérea para ser sorteado. Os distribuidores da Piper Aircraft Company em todo o país foram incentivados a fazer o mesmo, resultando em mais quarenta e oito aeronaves doadas rapidamente. No entanto o modelo seria logo adotado pelo governo mexicano para o emprego em sua força aérea, representando assim o primeiro cliente de exportação da aeronave. 

A partir de abril de 1942 a aeronave seria redesignada como L-4 classificando a como aeronave de ligação, posteriormente o modelo receberia seu nome de batismo como Grasshoper. A aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) viria a ser o terceiro operador militar da aeronave, celebrando em 1942 um contrato para a aquisição de duzentas e cinquenta aeronaves distribuídas entre as variantes NE-1 e NE-2. Já em combate nos teatros de operações do Pacífico e Europa os L-4 além de serem empregados em missões de ligação e regulagem de tiro de artilharia, passaram a ser imbuídos em tarefas de transporte leve e evacuação médica. Durante a invasão aliada da França em junho de 1944, observou-se a tendência para o emprego da aeronave em missões de observação do campo de batalha, se tornado rapidamente a plataforma ideal para observação e detecção de veículos blindados alemães escondidos, pois sua baixa velocidade de cruzeiro e alta manobrabilidade o permitiam orbitar extensas áreas do campo de batalha. Para esta missão as aeronaves eram equipadas com um sistema de rádio que era operado por um segundo tripulante que também realizava a tarefa de observador. Curiosamente algumas células chegaram a ser equipadas com prateleiras para o transporte de bazucas, operando em duplas ou quartetos, abastecendo as tropas de infantaria aliadas na linha de frente para o ataque aos tanques alemães. O mais celebre destes L-4 configurados como aviões de apoio as tropas de, foi o “Rosie The Rocketeer”, pilotado pelo Major. Charles "Bazooka Charlie" Carpenter, a qual  foram creditados com a eliminação de seis tanques inimigos e vários carros blindados durante o seu serviço, especialmente durante a batalha de Arracourt no interior da França entre 18 e 29 de setembro de 1944.
Sua produção foi descontinuada somente em 1947, sendo entregues um total de 19.888 células, salientando que nos estágios emergências durante a Segunda Guerra Mundial, sua produção havia atingido a cadência de uma aeronave a cada 20 minutos. No período pós-guerra os L-4 foram extensivamente pela Força Aérea Americana (USAF) e pela Força Aérea da Coreia do Sul (Daehanminguk Gong-gun), atuando nas mesmas missões de regulagem de tiro de artilharia, remoção aero médica, reconhecimento do campo de batalha e controle aéreo avançado. Também neste período, centenas de aeronaves foram classificadas como excedentes de guerra e transferidas a nações como Tailândia e a França que empregariam versões destas aeronaves durante a Guerra da Algéria em 1953. A maioria das aeronaves no entanto seriam transferidas para o mercado civil onde se mantiveram e voo pelo menos até fins da década de 1960. Atualmente ainda é possível encontrar dezenas de aeronaves em condições de voo ao redor do mundo.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passaria a representar no cenário global, uma posição de destaque estratégica dentro do contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos). Sendo detentor ainda, de um vasto território continental com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada, representava o ponto mais próximo entre o continente Americano e Africano, assim desta maneira a costa brasileira, seria fundamental como ponto de partida para o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

No início de 1944 seria definido que o esforço de guerra brasileiro compreenderia além do envio de tropas, duas unidades de aviação, sendo uma delas dedicada a ligação e observação para atuação em apoio as unidades do Exército Brasileiro. Para atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), atuando desta maneira em missões de ligação, observação e regulagem de tiro. A fim de atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para equipar esta nova unidade foi definido o fornecimento nos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), dez células do modelo Piper L-4H-PI. Curiosamente o primeiro Grasshoper a ser recebido pela Força Aérea Brasileira, seria o segundo protótipo do YO-59 que foi designado como Piper L-4-PI, com esta aeronave sendo entregue em 1943 no Brasil para ser empregada como aeronave de instrução em solo na Escola Técnica de Aviação (ETAv). A 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria formada inicialmente com onze pilotos, sendo todos oficiais oriundos da reserva da Força Aérea Brasileira, os treinamentos para as missões de observação foram realizados em conjunto com oficiais do Exército Brasileiro no estande de tiro de Gericinó no Rio de Janeiro, onde foram praticados exercícios de observação durante a realização de tiros de artilharia. Vale citar como fato curioso que as aeronaves empregadas nesta fase eram os Fairchild PT-19 que não dispunham de cabine fechada nem de rádio, sendo este último equipamento vital para a realização das missões reais no teatro europeu.
Todo o contingente da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), formado por trinta e cinco homens, embarcou para a Itália no dia 22 de setembro e 1944, foram transportados juntamente em navios de transporte de tropas militares da Marinha Americana (US Navy), juntamente com o 2º e 3º Escalões da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A chegada na Itália no porto de Nápoles se daria em 06 de outubro do mesmo ano, empreendendo uma viagem terrestre até Livorno. As dez células brasileiras do modelo Piper L-4H Grasshoper foram recebidas desmontadas no campo aéreo San Rossere, perto da cidade de Pisa, e seriam logo montadas pelos mecânicos do esquadrão brasileiro, recebendo as matrículas de FAB 01 a 10, mantendo inicialmente as insígnias da Força Aérea Americana (USAF), posteriormente receberam os cocares da Força Aérea Brasileira (FAB) nas laterais mantendo as marcações americanas nas asas para facilitar a identificação das tropas aliadas. Deslocada para perto da frente de batalha, a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) realizaria a primeira missão real de guerra, decolando da pista de San Giorgio, perto de Pistóia em 13 de novembro de 1944. A partir daí a unidade começou a executar missões diárias em apoio as unidades de artilharia de campanha do Exército Brasileiro, realizando suas missões antes de depois dos ataques (para assim corrigir o direcionamento e posterior conferir a efetividade dos ataques). Apesar das terríveis condições climáticas adversas motivadas por um dos mais rigorosos invernos do século XX, que congelavam os motores em voo e acumulavam gelo nas pistas, não houve registros de acidentes operacionais, atestando o alto grau de profissionalismo dos militares brasileiros do esquadrão.

Durante a campanha na Itália, os Piper L-4H da Força Aérea Brasileira (FAB) operariam desde Livorno, Pisa, Pistóia, Suviana e Porreta Teme, totalizando 684 missões reais realizadas pelos onze pilotos em companhia, de onze oficiais observadores do Exército Brasileiro e esporadicamente em conjunto com quatro  oficiais ingleses do Exército Real (Royal Army). Apesar da alta concentração de fogo antiaéreo alemão nestas regiões, felizmente nenhuma aeronave seria abatida durante o conflito.  Após o termino das hostilidades no teatro europeu, estasaeronaves foram mantidas  em  frenética operação, realizando em proveito das unidades da Força Expedicionária Brasileira (FEB), missões de transporte, ligação e correio aéreo, operando inicialmente a partir de 04 maio em Piacenza, na semana seguinte operando a partir de   Portalberta  (próximo a Milão), finalmente a partir de 12 de junho em Bergamo. Dois dias depois, a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) seria extinta pelo boletim da Artilharia Divisionária do Exército Brasileiro. Como resultado desta medida seu pessoal se reuniu junto aos efetivos do 1º Grupo de Aviação de Caça – Esquadrão Senta a Puá a fim retornarem ao Brasil no navio de transporte USS General M.C. Meigs (AP-116) que deixou o porto de Nápoles no dia 6 de junho em direção ao Brasil. Aparentemente, os dez Piper L-4H Grasshoper seriam desmontados, encaixotados e  transportados posteriormente por um outro navio da Marinha Americana (US Navy), ao chegarem em seu destino final o porto do Rio de Janeiro, seriam recolhidos ao Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, onde ali permaneceriam estocados.
Por sua vez o Piper L-4-PI, que já se encontrava no Brasil foi transferido para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), quando da extinção do Escola Técnica e Aviação (ETAv). Apesar de ser destinado a instrução em solo, existem evidências de que aquela aeronave foi mantida constantemente em condições de voo. Quantos aos aviões “italianos” os mesmos foram posteriormente “descobertos” estocados nas instalações do Depósito Central de Armamentos do Exército Brasileiro, sendo remontados entre os anos de 1954 e 1955, recebendo os cocares e matriculas da arma terrestre, operando de forma efêmera e sendo logo transferidos a Força Aérea Brasileira. A reativação da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) em 12 de dezembro de 1955, determinaria a distribuição dos três primeiros Piper L-4H Grasshoper para esta unidade. Nos dois anos seguintes mais células foram entregues, sendo a dotação da unidade complementada em abril de 1957 pelo pipler L-4 que pertencia a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer). No entanto a aquisição de aeronaves mais modernas determinaria a obsolescência dos Piper L-4H Grasshoper nas tarefas e ligação e observação, assim desta maneira em 1958, as células remanescentes foram recolhidas ao Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) e excluídas da carga do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 1959, com pelo menos nove aeronaves entregue ao Departamento de Aviação Civil (DAC).

Em Escala.
Para representarmos o Piper L-4H "FAB 09", fizemos uso kit do fabricante Hobbycraft (o modelo mais próximo seria o Smer) na escala 1/48, sendo necessário alterar a disposição das janelas laterais traseiras e também o teto, processo este facilmente executável pois as duas metades da fuselagem são injetadas em plástico transparente, bastando conformar as mesmas com fita adesiva. Os decais foram obtidos do set, presente no livro " Força Aérea Brasileira, na Segunda Guerra Mundial " de Luciano B. Monteiro & Sandro Dinarte, Editora Adler.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado e todas as aeronaves Piper L-4H Grasshoper em serviço na Força Aérea American (USAF) a durante a Segunda Guerra Mundial, durante este período as aeronaves operaram com marcações brasileiras e americanas, no pós-guerra este padrão foi acrescido das cores nacionais na cauda tanto na Força Aérea Brasileira quanto no Exército Brasileiro sendo este mantido até o final de sua carreira operacional no final da década de 1950.


Bibliografia :

- Piper J-3 Cub   Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Piper_J-3_Cub
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Os Olhos dos Pracinhas, por Ricardo Bonalume Neto - Revista Força Aérea nº 03
- Olho Nele - 2º Ten QOCon His Daniel Evangelista Gonçalves
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015  por Jackson Flores Junior