EU-93 e XU-93 Hawker Siddeley HS-125


História e Desenvolvimento. 
A origem da Hawker remonta ao colapso financeiro da Sopwith Aviation Company após a Primeira Guerra Mundial. Em 1920, o piloto de testes Harry Hawker, juntamente com Thomas Sopwith e outros colegas, adquiriu os ativos da Sopwith, fundando a H.G. Hawker Engineering Company. Inicialmente, a empresa focou na reconstrução de aeronaves Sopwith Snipe danificadas na guerra, obtendo contratos com a Royal Air Force (RAF). A morte de Harry Hawker em um acidente aéreo em 1921 foi um revés, mas a empresa perseverou sob a liderança de Thomas Sopwith. Em 1933, a empresa foi renomeada Hawker Aircraft Limited. Aproveitando a crise econômica da Grande Depressão e sua sólida posição financeira, adquiriu a Gloster Aircraft Company em 1934. No ano seguinte, em 1935, a Hawker fundiu-se com a Armstrong Siddeley (fabricante de motores e automóveis) e sua subsidiária Armstrong Whitworth Aircraft, formando a Hawker Siddeley Aircraft. Esse grupo também incorporou a A.V. Roe and Company (Avro), consolidando uma das maiores organizações aeronáuticas do Reino Unido. As empresas do grupo continuaram a projetar e produzir aeronaves sob suas próprias marcas, mas colaboravam em manufatura e desenvolvimento. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Hawker Siddeley tornou-se uma peça central do esforço de guerra britânico, produzindo aeronaves cruciais. O destaque foi o caça Hawker Hurricane, projetado por Sydney Camm, que, ao lado do Supermarine Spitfire, foi fundamental na Batalha da Grã-Bretanha (1940).  Durante o conflito, os Hurricanes superaram em número todos os outros caças britânicos combinados e foram responsáveis por abater 55% das aeronaves inimigas destruídas. Mais de 14.500 Hurricanes foram produzidos, muitos sob licença no Canadá pela Canadian Car & Foundry. Outros projetos notáveis incluíram o Hawker Hart e suas variantes (como Audax, Hind e Demon), que somaram cerca de 3.000 unidades produzidas. Após a guerra, a Hawker Siddeley expandiu suas operações. Em 1945, adquiriu a Victory Aircraft no Canadá, renomeando-a Avro Canada, que se tornou a terceira maior empresa do país e produziu aeronaves como o CF-100 Canuck e o CF-105 Arrow. Em 1948, a empresa foi reorganizada como Hawker Siddeley Group, com divisões específicas para aviação (Hawker Siddeley Aviation) e tecnologias de mísseis e espaço (Hawker Siddeley Dynamics). A empresa também se aventurou em outros setores, como energia nuclear, com o reator JASON, e produção de locomotivas, por meio da aquisição da Brush Traction. Nos anos 1950 e 1960, a Hawker Siddeley continuou a inovar. Desenvolveu o Hawker Hunter, um caça a jato de sucesso, e o Hawker Harrier, o primeiro avião de decolagem e pouso vertical (VTOL)

No início da década de 1950, o transporte executivo começou a ganhar relevância, mas enfrentava limitações significativas devido ao uso predominante de aeronaves propelidas por motores a pistão e hélices, que restringiam desempenho e alcance. O marco para uma nova era veio com o Lockheed JetStar, que realizou seu primeiro voo em 1957, introduzindo o conceito de jatos executivos. Em 1958, o Grumman G-159 Gulfstream I, uma aeronave turboélice, consolidou a expansão do segmento, oferecendo maior eficiência para o mercado executivo. A De Havilland Aircraft Company, renomada pelo sucesso do DH-104 Dove, uma aeronave de transporte executivo propelida a pistão, reconheceu o potencial do mercado de jatos executivos. Em resposta, iniciou o desenvolvimento de uma nova aeronave movida a motores a jato, destinada a suceder o Dove. O projeto, inicialmente designado De Havilland DH-125 Dragon Jet, foi concebido para atender às demandas de desempenho e conforto do segmento executivo, com foco no mercado norte-americano. O projeto do DH-125 previa um jato pressurizado de seis lugares, com características inovadoras para a época, incluindo: Asas baixas enflechadas;  Estabilizadores horizontais posicionados no meio do estabilizador vertical e dois motores turbojatos montados nas laterais traseiras da fuselagem. Em abril de 1960, a De Havilland foi adquirida pela Hawker Siddeley Co., uma das maiores organizações aeronáuticas britânicas. Apesar do estágio avançado do projeto DH-125, o protótipo original não foi construído. Após uma avaliação detalhada, a Hawker Siddeley optou por continuar o programa, mas redesignou a aeronave simplesmente como "DH-125", eliminando o nome comercial "Dragon Jet". A nova direção priorizou ajustes para alinhar a aeronave às exigências do mercado norte-americano, enfatizando desempenho, conforto e competitividade frente a rivais como o Lockheed JetStar. O projeto revisado culminou na construção de dois protótipos. O primeiro realizou seu voo inaugural em 13 de agosto de 1962, marcando o início do programa de ensaios em voo. O segundo protótipo entrou em testes em dezembro do mesmo ano. Os resultados desses ensaios revelaram a necessidade de melhorias, levando ao desenvolvimento de uma versão pré-série, que voou pela primeira vez em 12 de fevereiro de 1963. A aeronave pré-série apresentou avanços significativos em relação aos protótipos iniciais, incluindo: Fuselagem alongada, proporcionando maior espaço interno;  Maior envergadura, melhorando a eficiência aerodinâmica e  Desempenho aprimorado, resultando em maior velocidade e conforto para os passageiros. Essas modificações consolidaram o DH-125 como uma aeronave robusta e competitiva, adequada às demandas do mercado executivo global.  Estas primícias seriam fundamentais para o atendimento das demandas do exigente mercado norte-americano de aeronaves executivas, o que geraria grandes expectativas em termos de vendas futuras.
O HS-125 foi projetado para oferecer um alto padrão de conforto, diferenciando-se de seus concorrentes. A versão de entrada já proporcionava um nível elevado de comodidade aos passageiros, superando muitos modelos concorrentes. A configuração executiva apresentava características específicas, incluindo: Separação do convés de voo: O cockpit era isolado da cabine principal de passageiros, garantindo privacidade. Entrada única: Localizada atrás do cockpit e à frente da cabine, formando um vestíbulo para armazenamento de bagagem e preparo de refeições durante o voo. Esses elementos reforçaram a competitividade do HS-125 no mercado de aviação executiva, atendendo às expectativas de conforto e funcionalidade. No início da produção, os motores originais foram substituídos pelos mais potentes Bristol Siddeley Viper 521 ou 522, resultando nas versões HS-125 1A e HS-125 1B. Essas variantes foram desenvolvidas com foco no mercado de exportação, oferecendo desempenho aprimorado e maior confiabilidade para atender às demandas internacionais. Em 1964, a pedido da Royal Air Force (RAF), a Hawker Siddeley desenvolveu o HS-125 Série II, a primeira versão militar da aeronave. Configurada para missões de treinamento de navegação e transporte executivo, essa variante recebeu a designação militar "Dominie". Um contrato com o Ministério da Defesa britânico previa a aquisição inicial de 30 unidades. Posteriormente, novos contratos resultaram no desenvolvimento de versões militares aprimoradas, incluindo: HS-125 Série III, IIIA, IIIB, IIIA/RA, IIIB/RB: Essas variantes apresentavam maior peso máximo de decolagem e capacidade de combustível, atendendo a requisitos operacionais mais exigentes. Respondendo às demandas do mercado, a Hawker Siddeley lançou o HS-125 Série IV, posteriormente redesignado como HS-125 Série 400. Essa versão introduziu melhorias significativas, incluindo: Capacidade ampliada: Transporte de até sete passageiros.  Motores aprimorados: Equipada com dois motores turbojatos Rolls-Royce Viper 522, de maior potência. Facilidade de operação: Incorporação de uma escada embutida na porta da fuselagem, permitindo embarque e desembarque em aeroportos sem infraestrutura de apoio em solo. Ao todo, foram produzidas 116 unidades do HS-125 Série 400, consolidando sua popularidade no mercado executivo. A produção em série do HS-125 começou em 1962, inicialmente sob a designação DH-125, refletindo sua origem na De Havilland. Após a aquisição pela Hawker Siddeley Co. em 1960, a aeronave passou a ser comercialmente conhecida como HS-125. A versão militar Dominie foi introduzida em 1964, e a produção foi distribuída entre diferentes linhas pertencentes às empresas do grupo Hawker Siddeley, resultando em variações nas designações das versões. Para maior clareza: Até 1963: Designada como DH-125. Após 1963: Renomeada HS-125, com a variante militar chamada Dominie. Essas mudanças refletiram a integração do projeto ao portfólio da Hawker Siddeley e sua adaptação às necessidades do mercado.

Em 1977, a Hawker Siddeley Aviation foi nacionalizada e integrada à British Aerospace Co. (BAe), resultando na redesignação da aeronave como BAe-125. Essa nomenclatura foi mantida até 1993, quando a divisão de jatos da BAe foi adquirida pela Raytheon Aviation, passando a ser conhecida como Raytheon Hawker. Em 2007, a produção foi transferida para a Hawker Beechcraft, que continuou a fabricar o modelo Beechcraft Hawker 900XP. A produção encerrou-se em 2013, quando a Hawker Beechcraft enfrentou falência. Entre 1962 e 2013, aproximadamente 1.600 aeronaves da família HS-125 foram produzidas, abrangendo diversas versões e configurações. O uso militar do HS-125 teve início em 1964, com a introdução da variante Dominie pela Força Aérea Real (RAF). As versões militarizadas incluíam: HS-125 T.1 e T.2: Configuradas para treinamento de navegadores. HS-125 CC.1, CC.2 e CC.3: Destinadas a missões de ligação e transporte de autoridades, incluindo membros da Família Real britânica. Essas aeronaves equiparam quatro esquadrões operacionais da RAF, dedicados a transporte e treinamento. Versões posteriores, como as Séries 3A e 3B, incorporaram motores mais potentes, com 29 unidades produzidas. As subvariantes Séries 3A/RA e 3B/RA, com maior capacidade de combustível e alcance estendido, totalizaram 36 unidades. O desempenho excepcional na Força Aérea Real (RAF) atraiu o interesse internacional, levando o HS-125 a equipar forças aéreas de países como Estados Unidos, Botswana, Malásia, Paquistão, Nigéria, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Turcomenistão (operado pela Turkmenistan Airlines a serviço do governo), Biafra, Gana, Nicarágua, Brasil, Irlanda, África do Sul, Malawi e Uruguai. Além do transporte executivo (VIP), a Hawker Siddeley desenvolveu versões customizadas para missões especializadas, incluindo: Inspeção em voo: Verificação de sistemas de navegação aérea. Esclarecimento marítimo: Patrulhas costeiras. Busca e salvamento: Equipadas com radar APS-134LW. Guerra eletrônica: Contramedidas e interferência eletrônica. Calibragem de sistemas de voo e pouso: Ajuste de equipamentos de navegação e controle. Essas adaptações ampliaram a versatilidade da aeronave, atendendo a uma ampla gama de requisitos operacionais. O HS-125 teve seu batismo de fogo durante a Guerra das Malvinas (1982). Uma aeronave da versão HS-125 700, operada pelo Esquadrão Fênix – Grupo 1 Aerofotográfico da Força Aérea Argentina (Fuerza Aérea Argentina), realizou diversas missões de reconhecimento fotográfico e eletrônico. Essas operações incluíram surtidas de esclarecimento sobre a Força-Tarefa da Marinha Real Britânica (Royal Navy) e as forças de desembarque, demonstrando a capacidade da aeronave em cenários de combate real.
O Hawker Siddeley HS-125, conhecido em suas variantes militares como Dominie, desempenhou um papel significativo em operações militares, especialmente na Força Aérea Real (RAF) e na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). As variantes militares do HS-125, incluindo os modelos Dominie T.1 e T.2 (para treinamento de navegadores) e CC.1, CC.2 e CC.3 (para transporte de autoridades), permaneceram em serviço ativo na Royal Air Force (RAF) até o final de 2015. A última aeronave da versão de treinamento, Dominie T.1, foi retirada de operação nesse ano, marcando o fim de mais de cinco décadas de utilização pela RAF. Durante seu serviço, essas aeronaves foram empregadas em missões de treinamento, ligação e transporte VIP, demonstrando confiabilidade e versatilidade. Em 1990, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) incorporou um número significativo de aeronaves do modelo British Aerospace BAe-125 800, redesignadas como C-29A. Essas aeronaves substituíram os Lockheed C-140A em tarefas de inspeção e navegação de voo de combate (Combat Flight Inspection, C-FIN). Os C-29A foram destacados para bases aéreas norte-americanas em diversas regiões do mundo, desempenhando funções críticas de suporte operacional. As aeronaves C-29A tiveram participação ativa em operações de combate, incluindo: Operação Escudo do Deserto (1990): Apoio logístico e inspeção de sistemas de navegação durante a mobilização inicial da Guerra do Golfo. Operação Tempestade do Deserto (1991): Suporte em missões de inspeção de voo e navegação em cenários de combate. As versões destinadas a missões especializadas foram retiradas de serviço em 2012, enquanto algumas unidades de transporte executivo continuaram em operação até meados de 2014. Apesar da idade de seu projeto, iniciado na década de 1960, a família HS-125/BAe-125 mantém uma presença notável em aplicações civis e militares, especialmente nos Estados Unidos. Muitas aeronaves permanecem em uso, seja em funções de transporte executivo, seja em missões especializadas, como inspeção em voo, busca e salvamento, ou guerra eletrônica. A longevidade do modelo reflete sua robustez, adaptabilidade e capacidade de atender a uma ampla gama de requisitos operacionais. A família Hawker Siddeley HS-125, redesignada ao longo do tempo como BAe-125, Raytheon Hawker e Beechcraft Hawker, marcou a história da aviação executiva e militar com sua versatilidade e desempenho. Sua produção de aproximadamente 1.600 unidades, o emprego em forças aéreas de diversos países e as aplicações em missões especializadas, incluindo seu papel na Guerra das Malvinas, consolidaram seu status como uma aeronave icônica. Apesar do encerramento da produção em 2013, o legado do HS-125 perdura como um exemplo de inovação e adaptação às demandas de mercados civis e militares globais.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
As missões de transporte de autoridades no Brasil tiveram início em 1937, quando a Diretoria de Material da Aviação Militar do Exército (DAvM) adquiriu quatro aeronaves Lockheed 12A UC-40 Electra Junior. Com a criação da Força Aérea Brasileira (FAB) em 1941, foi estabelecida a Seção de Aviões de Comando, sediada no Rio de Janeiro, que passou a operar aeronaves especializadas, incluindo os modelos Lockheed VC-66 e VC-60 Lodestar. Essas aeronaves estabeleceram as bases da doutrina de transporte VIP no país, priorizando: Equipamentos de navegação avançados: Garantindo segurança e precisão em voos. Conforto: Atendendo às necessidades de autoridades em viagens oficiais. Autonomia: Essencial para cobrir as dimensões continentais do Brasil e realizar voos para países latino-americanos vizinhos. Na primeira metade da década de 1960, as aeronaves Douglas VC-47 eram os principais vetores utilizados nas missões de transporte VIP. Contudo, sua obsolescência tornou-se evidente devido a fatores como: Motores radiais a pistão: Propensos a falhas mecânicas, comprometendo a segurança. Mudança da capital federal: A transferência do Rio de Janeiro para Brasília, no centro-oeste do país, exigiu aeronaves com maior autonomia para conectar a nova capital às principais cidades brasileiras. Esses desafios reforçaram a necessidade de modernizar a frota com aeronaves de nova geração, equipadas com motores a jato, que oferecessem maior confiabilidade, alcance e eficiência. No contexto da mudança da capital e da obsolescência da frota, o Ministério da Aeronáutica (MAer) identificou a necessidade de adquirir dois tipos de aeronaves para o Grupo de Transporte Especial (GTE): Aeronave de maior porte: Destinada ao transporte presidencial e um Jato executivo: Voltado para o transporte de ministros e altos funcionários do governo federal. Essa aquisição foi incorporada ao “Plano de Modernização da Força Aérea Brasileira”, que visava atualizar os equipamentos e alinhar as capacidades da Aeronáutica às demandas estratégicas do país. Em 1967, o Ministério da Aeronáutica lançou uma concorrência internacional para a aquisição de novos vetores de transporte executivo VIP. O objetivo era selecionar aeronaves a jato que atendessem aos requisitos de desempenho, autonomia, conforto e segurança, garantindo a eficiência das missões de transporte de autoridades em âmbito nacional e regional. A concorrência marcou um passo significativo na modernização da Força Aérea Brasileira (FAB), refletindo a transição para tecnologias mais avançadas e a adaptação às necessidades logísticas impostas pela nova configuração geopolítica do Brasil.

Em 1967, a "Seção de Registros e Controles de Voo", responsável pela calibragem de instrumentos e auxílio à navegação em bases aéreas e aeroportos civis, completava dez anos de operação. Sua frota, composta por três Douglas EC-47 e dois Beechcraft Queen Air EU-8, apresentava sinais de fadiga devido à idade avançada das células, comprometendo a segurança e a eficiência das operações. Paralelamente, o Grupo de Transporte Especial (GTE), encarregado das missões de transporte VIP, também demandava aeronaves modernas para substituir os obsoletos Douglas VC-47, especialmente após a mudança da capital federal para Brasília, que exigia maior autonomia para conectar a nova capital às principais cidades brasileiras. Essas necessidades foram classificadas como prioritárias no "Plano de Modernização da Força Aérea Brasileira", implementado a partir de 1967. A solução proposta foi a aquisição de uma plataforma comum que atendesse tanto às missões de transporte executivo quanto às tarefas de calibragem de equipamentos de proteção ao voo, otimizando recursos e garantindo a segurança operacional da aviação civil e militar no Brasil. No início de 1968, o Ministério da Aeronáutica (MAer) lançou uma concorrência internacional para adquirir uma plataforma a jato capaz de atender às demandas do GTE e da Seção de Registros e Controles de Voo. Diversas propostas foram submetidas por fabricantes globais e avaliadas com base em critérios técnicos e econômicos. Após análise detalhada, a escolha recaiu sobre o jato executivo Hawker Siddeley HS-125 Série IIIB/RA, oferecido pela empresa britânica Hawker Siddeley Co., devido à sua versatilidade, desempenho e adequação às necessidades brasileiras. Um contrato foi firmado para a aquisição de seis aeronaves novas de fábrica, com a seguinte distribuição: Cinco unidades: Destinadas a missões de transporte executivo (VIP). Uma unidade: Configurada para calibragem de equipamentos de proteção ao voo. Por se tratar da versão comercial básica do HS-125, o prazo de entrega foi altamente favorável. Para preparar a operação das aeronaves, uma comissão de pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB) foi enviada à Inglaterra para participar de um programa de treinamento específico, garantindo a familiarização com o modelo. As duas primeiras aeronaves, designadas VC-93 com matrículas FAB 2120 e FAB 2121, iniciaram seu translado de Hatfield, Inglaterra, para Brasília, Brasil, em 19 de outubro de 1968. 
O trajeto incluiria escalas estratégicas em: Prestwick (Escócia), Reykjavik (Islândia),  Sondre Stromfjord (Groenlândia),  Frobisher Bay (Canadá), Montréal (Canadá), Washington (EUA), Miami (EUA), San Juan (Porto Rico), Piarco (Antilhas Holandesas), Paramaribo (Suriname) e Belém (Brasil). O translado, que durou sete dias e envolveu aproximadamente 26 horas de voo, foi realizado por tripulações compostas por: FAB 2120: Major-Aviador Garotti, Capitão-Aviador Lampert, 1º Sargento Castilho. FAB 2121: Capitão-Aviador Baginski, Capitão-Aviador Torrés Jr., 1º Sargento Nobre. As três aeronaves restantes foram entregues em 4 de fevereiro de 1969, seguindo o mesmo itinerário, completando a aquisição das seis unidades previstas no contrato. A aeronave de matrícula FAB 2125 foi inicialmente enviada aos Estados Unidos para a instalação de equipamentos especializados destinados a tarefas de calibragem de auxílios à navegação aérea. Após a conclusão desse processo de modificação, a aeronave foi oficialmente incorporada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em 18 de maio de 1970, recebendo a designação EC-93 (HS-125 Série IIIB/RAEC). Alocada ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), com base no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, a Hawker Siddeley  EC-93 representou um salto qualitativo e operacional em relação às aeronaves antecessoras, os obsoletos Douglas EC-47 e Beechcraft EU-8 que logo seriam desativados. As qualidades de voo superiores e os equipamentos modernos do EC-93 permitiram um incremento significativo nas operações de calibragem, oferecendo maior precisão, confiabilidade e eficiência em comparação com as plataformas anteriores. Em 17 de outubro de 1972, o Decreto-Lei Ministerial nº 71.261 instituiu a Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Voo (DEPv), que passou a abrigar uma nova unidade operacional: o Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). Este novo grupamento foi designado para desempenhar funções críticas relacionadas à segurança da aviação brasileira, incluindo: Funcionamento, vigilância e fiscalização: Garantia da operação precisa de equipamentos de auxílio à navegação aérea, assegurando que as informações transmitidas às aeronaves sob controle fossem confiáveis. Abrangência geográfica: Atuação em todo o território nacional e, sob demanda, em nações vizinhas que solicitassem serviços de calibragem. As missões do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV) envolveram uma ampla gama de atividades destinadas a assegurar a funcionalidade dos sistemas de navegação aérea, incluindo: 

Avaliação de local: Determinação do posicionamento ideal para a instalação de novos equipamentos de auxílio, em colaboração com as Divisões de Tráfego Aéreo, Cartografia e Engenharia, considerando as peculiaridades do terreno. Homologação: Verificação técnica de equipamentos recém-instalados para certificação de operação. Inspeção periódica: Avaliações regulares para monitoramento do desempenho dos equipamentos. Vigilância: Monitoramento contínuo entre as inspeções periódicas para garantir a funcionalidade. Inspeção especial: Realizada em situações de urgência, como falhas de equipamento ou retorno à operação após manutenção. Essas atividades foram essenciais para manter a segurança e a eficiência do tráfego aéreo no Brasil, contribuindo para a precisão dos sistemas de navegação utilizados por aeronaves civis e militares. As suítes eletrônicas do Hawker EC-93, destinadas à calibragem de equipamentos de proteção ao voo, representavam o estado da arte na década de 1970, oferecendo precisão e confiabilidade. As qualidades operacionais observadas nas versões VC-93 (transporte executivo) e EC-93 (calibragem) motivaram o Ministério da Aeronáutica (MAer) a ampliar a frota em 1973. O objetivo era reforçar as capacidades do Grupo de Transporte Especial (GTE) para missões VIP e substituir o último Douglas EC-47 em serviço no Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). Para atender a essa demanda, foram adquiridas cinco novas aeronaves HS-125 Série 400B, uma versão com maior potência e autonomia em comparação com as anteriores. Dessas, uma aeronave, designada EC-93 com matrícula FAB 2119, foi enviada aos Estados Unidos para conversão e instalação de equipamentos especializados para calibragem de auxílios à navegação aérea. Em 1973, as aeronaves HS-125 foram redesignadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) para refletir suas funções específicas: VC-93: Redesignada como VU-93, para transporte executivo VIP. EC-93: Redesignada como EU-93, para missões de calibragem de equipamentos de voo. Essa padronização facilitou a identificação das aeronaves conforme suas missões operacionais. A aeronave EU-93 FAB 2119, após sua conversão nos Estados Unidos, foi incorporada ao Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV) em 1975. Operando ao lado dos recém-adquiridos Embraer EC-95 Bandeirante, o EU-93 ampliou as capacidades do GEIV, oferecendo maior precisão e eficiência nas tarefas de calibragem de auxílios à navegação aérea em todo o território nacional. Em 1988, como parte de um programa de remanejamento de equipamentos, a aeronave VU-93 FAB 2121 foi convertida localmente para a configuração EU-93 e transferida ao GEIV. Essa conversão reforçou a frota dedicada à calibragem, otimizando os recursos disponíveis.
Em 1990, duas aeronaves VU-93 HS-125 Série 400B, com matrículas FAB 2127 (pertencente ao GTE) e FAB 2125 (pertencente ao GEIV), foram redesignadas para o Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos, São Paulo. Alocadas ao Grupo de Ensaios em Voo (GEEV), receberam a designação XU-93 e passaram a operar como aeronaves-laboratório. Suas missões incluíram ensaios em voo para avaliação de sistemas de radar e sensores do caça-bombardeiro Embraer A-1 AMX, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas nacionais.   Embora os HS-125 EU-93 fossem aeronaves confiáveis, seus sistemas eletrônicos analógicos, projetados para inspeção em voo, tornaram-se obsoletos ao longo dos anos. Essa desatualização comprometeu a qualidade dos serviços de calibragem de auxílios à navegação aérea, especialmente diante das crescentes demandas do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). A necessidade de modernização tornou-se prioritária para manter a segurança e a eficiência das operações de aviação civil e militar no Brasil. No final da década de 1990, o Ministério da Aeronáutica (MAer) decidiu substituir os EU-93 remanescentes por uma versão mais avançada da aeronave, o Raytheon BAe Hawker 800 XP. Em meados de 2000, foram adquiridas quatro unidades, designadas EU-93A. Essas aeronaves incorporavam tecnologias modernas, incluindo o Sistema Automático de Inspeção em Voo (AFIS), que proporcionou: Avanço qualitativo: Maior precisão e confiabilidade nas missões de calibragem. Rapidez nas avaliações: Redução do tempo necessário para inspeções de equipamentos de navegação. A introdução do EU-93A marcou um salto significativo na capacidade operacional do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). A chegada dos EU-93A desencadeou a desativação progressiva dos EU-93 mais antigos. O processo foi concluído em 2005, quando a última célula EU-93 foi retirada de serviço. Paralelamente, as aeronaves VU-93, utilizadas pelo Grupo de Transporte Especial (GTE) para missões de transporte executivo (VIP), foram desativadas em 2007, encerrando sua operação nesse segmento. Após a desativação das frotas EU-93 e VU-93, apenas uma aeronave HS-125 permaneceu em serviço na FAB: a célula FAB 2121, selecionada por suas melhores condições de conservação. Essa aeronave foi convertida para o padrão XU-93 e alocada ao Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), em São José dos Campos, São Paulo. O XU-93 FAB 2121 foi utilizado em missões de ensaios em voo até 2010, quando foi substituído pelo Gates U-35A Learjet, marcando o fim da operação do HS-125 na Força Aérea Brasileira (FAB).

Em Escala.
Para representar o Hawker Siddeley HS-125 EU-93 FAB 2121, foi selecionado o kit da Airfix na escala 1/72, um modelo clássico que oferece uma base sólida para customizações. A configuração escolhida reflete o último padrão de pintura adotado pela aeronave durante sua operação no Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). Para adequar o kit à versão EU-93, foram realizadas modificações específicas na fuselagem, incluindo a adição de antenas externas. Essas antenas, características da configuração de inspeção em voo, foram confeccionadas manualmente utilizando técnicas de scratch building. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no Set 72/08, utilizando como base, e procedendo customizações com o uso de decais oriundos de outros sets.
O terceiro padrão de pintura empregado nas aeronaves EU-93, conforme especificações do padrão Federal Standard (FS), caracteriza-se por sua estética simplificada e visualmente limpa. Este esquema foi projetado para manter a funcionalidade operacional, garantindo legibilidade das marcações e adequação às missões de calibragem de auxílios à navegação aérea. Este padrão tornou-se o mais distintivo das aeronaves EU-93 em sua fase final de operação no Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV).  As aeronaves convertidas para a versão XU-93, destinadas a missões de ensaios em voo pelo GEEV, mantiveram o esquema de pintura básico originalmente utilizado pelas aeronaves do Grupo de Transporte Especial (GTE). 


Bibliografia :
- Os Imprescindíveis - Luciano R. Melo - Revista Forca Aérea Nº 20
- Todos Dependemos Deles - GEIV - Marcelo Mendonça - Revista Força Aérea Nº 32
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr.

M-114 L/23 (M-1) 155 mm

História e Desenvolvimento.
No início do século XIX, a artilharia ainda dependia amplamente de canhões de alma lisa, feitos de bronze ou ferro fundido, que disparavam projéteis esféricos com alcance e precisão limitados. Embora a pólvora já fosse conhecida desde o século XIII, sua aplicação em canhões de maior calibre, como os de 155 mm, ganhou força com o aprimoramento das técnicas de fundição e metalurgia. Esses avanços permitiram a produção de canhões mais resistentes, capazes de suportar pressões internas maiores e disparar projéteis mais pesados a distâncias maiores. A principal revolução na artilharia do século XIX foi a introdução do raiamento nos canos dos canhões, que começou a ser amplamente adotado a partir da década de 1850. As raias helicoidais no interior do cano faziam o projétil girar, conferindo maior estabilidade, precisão e alcance. Para canhões de 155 mm, isso significou a substituição de granadas esféricas por projéteis cilíndricos e ogivais, que eram mais aerodinâmicos e eficazes. Outro avanço crucial foi o desenvolvimento do carregamento pela culatra, que substituiu o carregamento pela boca, predominante até meados do século. Canhões de 155 mm, como os projetados na Europa (especialmente na França e na Prússia), começaram a adotar sistemas de culatra que permitiam recargas mais rápidas e seguras, além de reduzir o risco de escapamento de gases. A França, com o obus Canon de 155 C Modèle 1917 Schneider, precursor de modelos posteriores, foi pioneira nesse campo, influenciando a artilharia de outros países. Na década de 1890, o desenvolvimento de sistemas de freio e recuperação (como molas ou cilindros de gás) permitiu que canhões de 155 mm absorvessem o recuo do disparo, mantendo a estabilidade e reduzindo a necessidade de reposicionamento após cada tiro. Essa inovação, combinada com carretas mais robustas, aumentou a mobilidade e a eficiência das peças de artilharia em campanha. Canhões de 155 mm, classificados como artilharia média ou pesada, eram usados tanto em operações de sítio quanto em combates de campo. Durante a Guerra Russo-Turca (1877-1878), obuses de 155 mm demonstraram sua capacidade de atingir fortificações com projéteis explosivos de cerca de 43 kg, com alcance de até 19 km em modelos mais avançados do final do século. Na Guerra Civil Americana, peças como o canhão-obus de 12 cm (próximo ao calibre de 155 mm) foram amplamente empregadas, destacando-se pela versatilidade em disparar tanto projéteis explosivos quanto inertes. Na Europa, a Prússia e a França lideraram o desenvolvimento de canhões de 155 mm, com destaque para os obuses de campanha pesada, que se tornaram padrão em muitos exércitos europeus na década de 1890. Os canhões de 155 mm foram fundamentais para moldar as táticas da Primeira Guerra Mundial. Sua capacidade de causar destruição em larga escala alterou a natureza do combate, forçando exércitos a investir em fortificações mais robustas, como bunkers de concreto. Na Batalha de Passchendaele (1917), por exemplo, obuses de 155 mm foram usados intensivamente para tentar romper as linhas alemãs, embora a lama e as condições adversas limitassem seu impacto. A introdução de projéteis especializados, como granadas de gás (químicas) e shrapnel (para atingir tropas expostas), ampliou a letalidade dessas armas

Os  Estados Unidos, ao entrarem no conflito em 1917, enfrentaram uma carência de artilharia moderna. Até então, o Exército dos Estados Unidos (US Army) dependia de equipamentos obsoletos ou importados, especialmente de aliados como a França. O canhão de 155 mm 155 C Modelo 1917 Schneider, projetado pelo coronel francês Louis Filloux, era uma peça de artilharia pesada de longo alcance, amplamente utilizada pelo exército francês. Sua eficácia em bombardeios de longo alcance e operações contra-bateria impressionou os americanos, que decidiram adotá-lo e adaptá-lo para suas necessidades, resultando no M-1918. Sua produção em massa começou em 1918, mas enfrentou atrasos devido à falta de experiência industrial americana em fabricar artilharia pesada.  No período entre guerras, após a Primeira Guerra Mundial, o Exército dos Estados Unidos reconheceu a necessidade de modernizar sua artilharia pesada para acompanhar os avanços tecnológicos europeus. O M-1918 de 155 mm, era eficaz, mas sua mobilidade e alcance eram limitados para as exigências de um conflito moderno. Assim, na década de 1920, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos iniciou estudos para desenvolver um novo canhão de 155 mm que combinasse maior alcance, mobilidade e potência de fogo. O desenvolvimento do M-1 de 155 mm começou oficialmente em 1920, sob a liderança do Westervelt Board, uma comissão criada para revisar as necessidades de artilharia do Exército americano. O objetivo era criar uma peça de artilharia pesada que superasse as limitações do M-1918 e pudesse ser transportada com maior eficiência. Inspirado no M-1918 e no francês GPF, o M-1 foi projetado para maximizar o alcance e a precisão, utilizando um cano mais longo (45 calibres, ou seja, 6,97 metros) para aumentar a velocidade inicial do projétil. O projeto incorporou um sistema de recuo hidropneumático avançado, baseado em modelos franceses, que absorvia o impacto do disparo, permitindo maior cadência de tiro sem reposicionamento. A carreta foi redesenhada para ser dividida em duas partes (cano e base) para transporte, utilizando pneus de borracha e suspensão reforçada, adequando-se às condições de terrenos variados. Os primeiros protótipos, designados T4, apresentavam um cano alongado de 20 calibres e um novo mecanismo de culatra, sendo testados na década de 1920, mas enfrentaram problemas de estabilidade e peso excessivo. Excepcionalmente, este seria o único sistema que empregava um mecanismo de parafuso interrompido por 'cone lento' a entrar no serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) após a década de 1920, isto significava que dois movimentos separados eram necessários para abrir a culatra, contra o movimento único do mecanismo de "cone íngreme" que girava e retirava simultaneamente a culatra. No entanto, a Grande Depressão, desencadeada pela crise econômica de 1929, impôs severas restrições orçamentárias, limitando os recursos disponíveis para pesquisa, desenvolvimento e produção. A falta de financiamento atrasou este e outros projetos, com seu modelo final sendo aprovado somente em 1938.
A produção do obuseiro M-1 155 mm teve início em 1940, sob a liderança de renomados arsenais como o Watervliet Arsenal e empresas de destaque, como a American Locomotive Company, em uma preparação sensível à iminente entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Com o avanço do conflito na Europa e o crescente agravamento das tensões no Oceano Pacífico, foram assinados contratos de produção em larga escala em 1941. Esse ritmo acelerado permitiu que o obuseiro M-1 155 mm equipasse todos os regimentos de artilharia de campanha do Exército dos Estados Unidos (US Army), consolidando-se como uma peça essencial. Dentre as melhorias em relação aos canhões da Primeira Guerra Mundial, destaca-se a introdução de uma nova "carreta", que evoluiu ao longo da produção. Na versão inicial, os freios elétricos da Warner foram substituídos por freios a ar Westinghouse no modelo M-1A1, refletindo um aprimoramento significativo. Tanto o vagão de transporte do M-1 quanto do M-1A1 utilizaram um pedestal de disparo central, equipado com um mecanismo de catraca, posteriormente substituído por um sistema de macaco na versão M-1A2, que também incluiu uma nova trava de deslocamento. Já o vagão do M-1A1E1, projetado para operar em terrenos lamacentos com uma suspensão de esteira livre em substituição às rodas do M-1A1, teve seu desenvolvimento interrompido ao fim da Segunda Guerra Mundial, sem atingir a produção contratada. Com um alcance máximo de 14.800 metros, o M-1 155 mm era classificado como peça de artilharia média nos regimentos do Exército dos Estados Unidos (US Army) . Operado por uma equipe de 11 soldados, era tradicionalmente tracionado por tratores de esteiras, como os M-4 e M-5 High Speed Tractor. Capaz de disparar projéteis a uma velocidade inicial de 564 metros por segundo, utilizava munição de "carregamento separado", composta por quatro elementos: projétil, carga propulsora ensacada (ajustável com sacos individuais de pó), fusível e primer. Os projéteis, pesando 43 quilos, recebiam o fusível na base após a remoção de um anel de transporte. A variedade de munições incluía explosivos como HE M102 Shell e HE M107 Shell, fósforo branco (FS M105 Shell e WP M105 Shell), químicas (CNS M110 Shell e H M110 Shell, nunca empregadas devido a tratados internacionais), luminosas (Illuminating M118 Shell) e perfurantes (Dummy Mk I Projectile e Dummy M7 Projectile). Seu batismo de fogo ocorreu durante a Operação Tocha, iniciada em 8 de novembro de 1942, com o desembarque aliado no Norte da África, marcando sua presença em todos os fronts da Segunda Guerra Mundial. Ao término do conflito, em agosto de 1945, cerca de 4.000 unidades haviam sido entregues às forças armadas norte-americanas. Diferentemente de outros armamentos, a produção do M-1 155 mm prosseguiu continuamente até o final de 1953, alcançando um total superior a 10.300 peças concluídas.

O M-1 Howitzer 155 mm também se fariam presentes também na Guerra da Coreia, quando o Exército do Povo da Coreia do Norte (socialista) invadiu o território do sul em todo o 38º Paralelo na data de 25 de junho de 1950. Neste período o Exercito dos Estados Unidos (US Arny) estava passando por um período de desmobilização e não dispunha dos mesmos efetivos para artilharia de campanha, a exemplo do que possuía no final da Segunda Guerra Mundial. Assim desta maneira somente 21 obuseiros M-1 155 mm foram empregados nas primeiras fases do conflito. Apesar de serem reforçados por novas peças de artilharia , muitas destas se perderam em combate, sendo abandonadas perante o avanço das forças inimigas. Mesmo assim este modelo de obuseiro provaria novamente seu valor no campo de batalha.  Introduzido como uma peça de artilharia pesada de longo alcance, o M-1 desempenhou um papel crucial no apoio às tropas terrestres, especialmente em combates intensos como a Batalha do Rio Imjin e a defesa do perímetro de Pusan. Sua capacidade de disparar projéteis a até 23,5 km, com precisão e poder destrutivo, foi essencial para neutralizar posições fortificadas norte-coreanas e chinesas. A partir de 1962 o modelo seria renomeado atendendo ao nova padrão de designação do Exercito dos Estados Unidos (US Arny), passando a ser conhecido como M-114, época no qual passaram a dotar também os grupos de artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Estados Unidos (US Marine Corps).  Ao final da década de  1960, dentro dos esforços de apoio à Coreia do Sul, o obuseiro M-114A1 passou a ser produzido sob licença pela Kia Machine Tool, atualmente conhecida como Hyundai Wia, contribuindo significativamente para o fortalecimento do arsenal de artilharia daquele país. Essa iniciativa, iniciada nas décadas de 1970 e 1980, visava equipar o Exército da Coreia do Sul com uma capacidade de fogo capaz de rivalizar com seu principal adversário, a Coreia do Norte. A versão local, designada KM114-A1, foi adaptada para disparar munições de alcance estendido (RAP), alcançando até 19,5 km, e representou um marco no desenvolvimento da indústria de defesa sul-coreana, alinhando-se às necessidades estratégicas de defesa contra as ameaças regionais. O início da Guerra do Vietnã, que se intensificou a partir de 1959 e se estendeu até 1975, marcou o retorno do obuseiro M-114 e sua variante M-114A1 à ação real, consolidando-se como a peça de artilharia padrão de calibre 155 mm para operações de médio alcance. Esses obuseiros, amplamente utilizados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), foram fornecidos em grande quantidade ao Vietnã do Sul como parte do apoio militar americano para conter o avanço comunista liderado pelo Vietnã do Norte e seus aliados. A M-114A1, com alcance aprimorado e capacidade de disparar munições de carregamento separado, incluindo projéteis explosivos e iluminantes, tornou-se uma ferramenta essencial no suporte às forças do Exército da República do Vietnã (ARVN), especialmente em combates contra a guerrilha do Viet Cong e as forças do Exército Popular do Vietnã (PAVN).
Com o término do conflito em 30 de abril de 1975, após a queda de Saigon e a unificação do país sob a República Socialista do Vietnã, um número significativo de M-114 capturados pelas forças vitoriosas do norte passou a integrar o arsenal dessa nova nação. Apesar de serem equipamentos de origem americana, os obuseiros foram adaptados e mantidos em uso pela República Socialista do Vietnã ao longo da década de 1980. Esse período incluiu operações como a invasão do Camboja em 1978-1979 para derrubar o regime Khmer Vermelho, onde a artilharia de 155 mm desempenhou um papel estratégico. Além das versões tradicionais do obuseiro M-114, foram conduzidos experimentos com versões autopropulsadas ao longo da evolução da artilharia americana, refletindo a busca por maior mobilidade em combate. Um dos projetos iniciais foi o 155 mm Howitzer Motor Carriage T-64, desenvolvido em dezembro de 1942, que utilizava o chassi do tanque leve M-5 Stuart. Contudo, o projeto foi abandonado após a construção de um único protótipo, dando lugar ao T-64E1, que adotou o chassi alongado do tanque leve M-24 Chaffee, mais avançado e versátil. Esse design foi padronizado como M-41 Howitzer Motor Carriage, apelidado de "Gorilla", e entrou em produção em 1945, embora apenas 85 das 250 unidades planejadas tenham sido concluídas antes do cancelamento do pedido devido ao fim da Segunda Guerra Mundial. Ao final da década de 1960, seriam iniciados os estudos para o desenvolvimento de um obuseiro de 155 ml, destinado a substituir os M-114 no Exército e no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.  Projetado no Rock Island Arsenal a partir de 1969, com testes de tiro iniciados em 1970, o novo M-198 entrou em produção em 1978. A nova arma apresentava um peso inferior a 7.300 kg, o que permitia transporte por helicópteros CH-53E Super Stallion ou CH-47 Chinook e lançamento por paraquedas. Seu alcance máximo é de 18,1 km com munições padrão e até 30 km com projéteis assistidos por foguete (RAP), proporcionam um desempenho muito superior ao seu antecessor. O M-198 155 mm passaria a ser  distribuído aos regimentos de artilharia no ano seguinte onde passariam a substituir inicialmente as peças mais degastadas.  Uma pequena parcela do acervo seria transferida as unidades de reserva da Guarda Nacional, onde permaneceria em serviço até meados da década de 1980. O processo de desativação dos M-114 junto as forças armadas norte-americanas durante o final da década de 1970, proporcionaria um volume excedente, com estes passando a ser cedidos a nações alinhadas aos objetivos geopolíticos dos Estados Unidos, atingindo neste processo um total de 46 países. Atualmente o M-114 ainda se encontra em uso no Afeganistão, Argentina, Tunísia, Brasil, Camarões, Chipre, Chile, Equador, Irã, Coreia do Sul, Laos, Líbano, Marrocos, Paquistão, Peru, Filipinas, Portugal, Taiwan, Tailândia, Turquia, Uruguai, Venezuela, Vietnã e Indonésia, e existem indícios que muitos países ainda devem manter este obuseiro em uso pelas próximas décadas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, impulsionada pelo programa norte-americano Lend-Lease Act. A partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em  Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados.  A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música.  Após desembarcar em Nápoles e realizar treinamento com instrutores americanos, a artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi posicionada para apoiar as operações do V Exército dos Estados Unidos  contra as linhas defensivas alemãs, como a Linha Gustav e a Linha Gótica. O batismo de fogo ocorreria no dia 16 de setembro de 1944, no sopé do Monte Bastione, ao norte da cidade italiana de Lucca, na Toscana, um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno próximo. Precisamente às 14 horas e 22 minutos foi lançado contra o inimigo nazista o primeiro tiro jamais disparado pela artilharia brasileira fora do continente sul-americano, atingindo com precisão o objetivo previsto: Massarosa.  Ao longo da campanha, os M-1 155 mm foram usados para bombardear posições alemãs, neutralizar contra-ataques e proteger flancos aliados, demonstrando precisão e confiabilidade em combates prolongados. Neste cenário durante seus deslocamentos seriam tracionados por tratores de esteira M-5.
Durante a guerra mais obuseiros deste modelo seriam recebidos no Brasil , passando a dotar pelo menos mais grupo de Artilharia Divisionária constituída por três grupos de M-2A1 105 mm e um de M-1 155 mm todos sediados no Rio de Janeiro. Com o fim do conflito, em maio de 1945, os M-1 155 mm e outros equipamentos utilizados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram transferidos ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, sediado em Roma. Nesse processo, os itens em melhores condições foram cuidadosamente selecionados, acondicionados e enviados ao Brasil por via marítima, logo após serem recebidos no pais, seriam distribuídos aos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC), onde seriam tracionos pelos tratores de esteira M-4 e M-5. No final da década de 1960, o Brasil intensificou seus esforços para modernizar suas Forças Armadas, consolidando parcerias estratégicas iniciadas durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) por meio do programa Leand & Lease Bill Act. Um marco significativo nesse processo foi o Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952, que facilitou a transferência de equipamentos militares americanos para o Exército Brasileiro e o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Neste momentos seriam recebidos  pelo menos mais 90 unidades da versão mais atual o M114A2 AR 155 mm, que apresentavam sensíveis melhorias, sendo estes de fabricação sob licença sul-coreana. Estas novas peças, tinham por missão substituir os conjuntos mais desgastados e permitir a realocação das demais unidades do M-114  55mm, que eram oriundas da produção da década de 1940. Desta maneira os novos 114A2  155 mm foram direcionados principalmente ao 13º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) – Grupo General Polidoro e ao 11 º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) - Grupo Montese. Neste período os tratores sobre esteiras M-4 e M-5 passaram a ser substituídos pelos novos caminhões Mercedes Benz – Engesa LG-1519 & LG-1819 6×6 Mamute, para assim tracionar estas peças no campo de batalha. Uma pequena quantidade destes obuseiros também seria incorporada na década de 1970 ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), sendo destinadas  ao Batalhão de Artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais, fortalecendo a capacidade de apoio de fogo das operações anfíbias e terrestres da Marinha. Este obuseiros foram organizados em baterias, geralmente com duas peças cada, tracionadas por veículos como caminhões REO M-35 , compatíveis com as demandas logísticas das operações anfíbias. 

Ao longo dos anos a munição de 155 mm seria nacionalizada por empresas como a Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL), a Mac Jee, a CSD - Componentes e Sistemas de Defesa SA e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON). A IMBEL, com sua Fábrica de Juiz de Fora, nacionalizou o processo produtivo do Tiro 155 mm M107, entregando em 2022 componentes como o corpo da granada e cargas de projeção 100% nacionais, com capacidade para atender às demandas do Exército Brasileiro. Essa produção reflete um esforço para reduzir a dependência externa e fortalecer a Base Industrial de Defesa. Os obuseiros M-114 AR 155 mm e M-114A2 AR 155 mm permanecem em operação até os dias atuais no Exército Brasileiro, integrando a dotação dos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) orgânicos à Artilharia Divisionária. Apesar de constituírem um equipamento de concepção antiga, esses obuseiros ainda apresentam qualidades apreciáveis, como simplicidade e robustez, características que se revelam particularmente valiosas em operações defensivas.  Seu poder de fogo elevado, sustentado pela ampla variedade de munições de 155 mm disponíveis no país — muitas delas produzidas nacionalmente —, continua a ser um ativo significativo. Os sistemas de orientação da artilharia de 155 mm no Exército Brasileiro (EB) têm evoluído ao longo do tempo, refletindo a necessidade de modernização e integração com tecnologias contemporâneas. Atualmente, os obuseiros de 155 mm, como o M-114 AR e o M-109 A5+BR, contam com sistemas que aprimoram a precisão e a eficiência no apoio de fogo. O principal avanço nesse campo é o Sistema de Controle de Tiro Gênesis, desenvolvido pela IMBEL, que digitaliza os processos de direção e coordenação de tiro a nível de brigada. Esse sistema substitui métodos tradicionais, integrando dados topográficos, busca de alvos e observação, permitindo ajustes em tempo real e maior precisão nos disparos. Contudo, esses obuseiros enfrentam desafios consideráveis. O peso elevado de deslocamento, que alcança 5.700 kg, impõe uma carga substancial às viaturas tratoras, comprometendo a mobilidade em campo. Além disso, seu grande porte resulta em dificuldades logísticas, prolongando o tempo necessário para posicionamento e retirada de combate. Outro ponto crítico é o alcance insuficiente, o que limita a capacidade de aprofundar o combate, executar fogos de contrabateria e assegurar a sobrevivência em cenários modernos de batalha.  A principal deficiência, no entanto, reside no tubo de apenas 24 calibres, um fator que impede o uso de munições de tecnologia avançada, geralmente projetadas para tubos mais longos, restringindo sua eficiência operacional. Como solução paliativa, foi proposto o programa de modernização para o RDM de 155 mm de 30 calibres, que prometia aumentar significativamente o alcance da peça. Contudo, apenas uma unidade desse modelo foi adquirida pelo Exército Brasileiro, encontrando-se atualmente desativada e preservada como monumento, o que reflete os limites de recursos e prioridades para a renovação desse equipamento.
Apesar dos 92 M-114 AR e M-114A2  AR 155 mm pertencentes ao Exército Brasileiro apresentarem plena disponibilidade operacional muito em função de serem submetidos a manutenções frequentes e processos de atualização técnica que contam inclusive ainda com a produção local de peças de reposição, fica notório que este equipamento não atende mais as às necessidades de mobilidade, alcance e amplitude de campo de tiro exigidas no combate moderno. Assim desta maneira em 2018 o Ministério da Defesa iniciaria estudos visando a substituição dos M-114 na Força Terrestre, com esta solução derivando para a adoção de duas opções. Uma vertente prevê a adoção de até um sistema de sistema de artilharia autopropulsada de 155 mm "VBCOAP 155 SR", com este objeto constante no Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas (Prg EE F Bld), visando  adquirir inicialmente duas viaturas iniciais para avaliação no Centro de Avaliações do Exército. Posteriormente, mais 34 sistemas devem ser adquiridos para armar três grupos de artilharia. Este programa resultaria em uma concorrência internacional, e em 29 de abril de 2024, o Exército Brasileiro (EB), por meio do Comando Logístico/Chefia de Material (CoLog/Ch Mat), anunciou que a o ATMOS, do grupo israelense Elbit Systems,   foi o vencedor da concorrência internacional para o projeto de obtenção de 36 viaturas blindadas de combate obuseiro autopropulsado 155mm sobre rodas (VBCOAP 155mm SR). A segunda vertente integra o subprograma do Programa de Artilharia de Campo do Programa Estratégico do Exército para ‘Obtenção de Capacidade Operacional Plena’, o esforço é planejado para reestruturar o portfólio de artilharia de campo e fornecer tropas terrestres com poder de fogo adequado e preciso até 2031. Neste contexto passaria a ser avaliada a  aquisição de até 80 obuseiros usados M-198 de 155 mm oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army) através dos termos do programa Excess Defense Articles  (Artigos Excedentes de Defesa). Contudo, não há informações oficiais atualizadas até julho de 2025 confirmando a conclusão da aquisição, o número exato de unidades ou se o plano foi plenamente executado, sugerindo que o processo pode ter enfrentado atrasos ou reavaliações devido a questões orçamentárias ou estratégicas. Após a aquisição destes sistemas, será permitido gradualmente retirar os M-114, encerrando assim gloriosa história que teve inicio em 1944 nos campos a Itália. 

Em Escala:
Para representarmos o M-114 L/23 155 mm fizemos uso do excelente kit da Bronco Models na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo direto da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1942 e nos lotes subsequentes, após o ano de 1983 os M114 AR e M114A2  AR 155 passaram a ostentar o novo esquema de camuflagem tática em dois tons, mantendo este padrão até a atualidade.

Bibliografia: 
- M114 Howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M114_155_mm_howitzer
- M114A2 Towed 155mm Howitzer - https://www.hmdb.org/
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf

Dassault Mirage 2000C RDI no Brasil

História e Desenvolvimento. 
Desde meados da década de 1960 o caça interceptador Marcel Dassault Mirage IIIE representava o sustentáculo Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ) na realização de missões de primeira linha, sendo crucias também na missão de repelir prováveis ataques de bombardeiros soviéticos a seu território.  No entanto o rápido evoluir da tecnologia aeronáutica acelerada pela intensificação da Guerra Fria entre as potências ocidentais e orientais, relegaria rapidamente este vetor a obsolescência. Assim o governo francês imbuído na preocupação que este cenario trazia a tona, decidiu derivar por opções diversas de atuação, entre muitas o "Programa ACF -  Avion de Combat Futur" (Avião de Combate do Futuro), um conceito de avançada aeronave multifuncional esta que abordava a configuração com asas em de geometria variável. Este programa fora erigido para que esta se tornasse a médio prazo a aeronave padrão de caça e ataque frances, no entanto os altos custo de desenvolvimento deste projeto levariam ao seu cancelamento no ano de 1972. Neste mesmo período a Marcel Dassault Aviatiom focava todos seus esforços na exportação do seu caça tático Dassault Mirage F1, porém seu desempenho nem de longe se assemelhava ao êxito comercial obtido pela família Dassault Mirage III. Neste contexto seu principal rival passava a ser representado pelo caça norte-americano General Dynamics F-16 Fighting Falcon, que frequentemente derrotava o Dassault Mirage F1 nas concorrências internacionais.  Estes reveses motivaram a direção  a empresa a buscar o desenvolvimento de uma nova aeronave que apesar de objetivar ser um vetor multimissão, ao contrário do programa  ACF deveria apresentar um moderado custo de desenvolvimento e uma excelente relação custo benefício em termos operacionais, para assim substituir na Força Aérea Francesa (Armée de l'Air ), as aeronaves de combate Mirage IIIC e Mirage IIIE , Breguet - BAC Spect Jaguar e  Dassault Mirage F1.

Nascia assim o programa do "Mirage 2000", sendo iniciado um projeto secundário chamado provisoriamente de "Delta 1000" no ano de 1972, período em que a empresa focava seus recursos no programa ACF,  e com cancelamento deste os olhares se voltaram para o projeto “Dov Delta 1000". Visando reduzir os custos do desenvolvimento muito das soluções criadas para o programa “Avião de Combate do Futuro – ACF” seriam incorporados a esta nova aeronave, entre estes o excelente motor SENECMA M53 e slats em todo o bordo de ataque, os quais eram autuados automaticamente através do “software” de controle de voo (sistema Fly By Wire).  A retomada do formato da asa em delta, apresentava algumas vantagens em relação ao sistema de geometria variável, como maior de construção, menor assinatura de radar e melhor capacidade de armazenamento de combustível, porém este perfil exigia uma velocidade mais alta de aterrisagem, distância maior de decolagem e aterrisagem e baixa manobrabilidade a baixa altura. Estas deficiências seriam resolvidas com a incorporação do conceito de instabilidade dinâmica no Dassault Mirage 2000, movendo o centro de pressão para traz do centro de gravidade da aeronave. Com isso, melhorou se a manobrabilidade e reduziu se a distância de decolagem; já a distância de aterrissagem foi reduzida utilizando se um sistema de freios a base de fibra de carbono. Este modelo estava dotado de um sistema de “fly by wire” redundante e o piloto a controla usando o sistema “hands on throttle and stick (HOTAS), com a qual maioria dos sistemas de aeronave são ativados através de botões instalados no manche e no manete de potência do motor.
O primeiro protótipo voou em 10 de março de 1978, apenas 27 meses após do programa ter sido autorizado pelo governo francês e foi oficialmente apresentado ao público no Farnborough Air Show em setembro do mesmo ano. O segundo protótipo voou em outubro, e o terceiro em abril de 1979, após um amplo programa de ensaios em voo foi celebrado um primeiro contrato envolvendo trinta e sete células, com o primeiro exemplar de produção sendo entregue em novembro de 1982, com os primeiros caças interceptadores Dassault Mirage 2000C declarados operacionais em 1984. Estas primeiras aeronaves estavam equipadas com o radar Thomson CSF RDM (Radar Doppler Multifuncion), e foram construídos nos padrões S1 a S3 (este último permite o lançamento de misseis ar ar guiados por radar Matra Super R-350F). O próximo contrato abrangia a produção oitenta e sete  aeronaves configuradas nos padrões S4 a S5 recebendo o radar Thomson CSF RDI (Radar Doppler Impulse), as células entregues a partir de 1987 passara a contar com uma melhor capacidade “look-down”, com a adoção deste novo radar introduziu se também o emprego de misseis ar ar guiados por radar Matra Super R-350D de maior alcance. Nesta variante o armamento utilizado para combate ar ar é composto de um par de canhões DEFA 554 de 30 mm (com 125 cartuchos cada), dois mísseis ar ar com guiagem infravermelho Matra Magic 2, além de dois misseis Super R-530F/D. Em missões de ataque ao solo a aeronave pode ser equipada com bombas convencionais de queda livre e guiadas a laser e foguetes não guiados; com a designação dos alvos podendo ser feita através de um pod  especial ou por outra aeronave especializada nesta tarefa.

Uma variante destinada a missões de ataque nuclear tático foi desenvolvida, recebendo a designação de Mirage 2000N e estava destinada a transportar o míssil nuclear stand-off Air-Sol Moyenne Portée (ASMP). O programa de ensaios em voo teve início em 3 de fevereiro de 1983, e durante um primeiro voo de 65 minutos a aeronave atingiu uma velocidade de Mach 1,5, mais um protótipo foi completado se juntando ao programa em 1984. Esta nova variante entrou em serviço operacional em 1988, operando inicialmente a partir da Base Aérea Luxeil com 4º Esquadrão de Caça (Escadre de Chasse). O bom desempenho levaria a criação de variante de ataque convencional dedicada designada Mirage 2000D, o voo inicial do protótipo (um protótipo Mirage 2000N modificado) ocorreu em 19 de fevereiro de 1991, e após validação um contrato foi firmado para a produção de setenta e cinco células do Mirage 2000N e oitenta e seis Mirage 2000D, com as primeiras unidades deste último modelo passando a ser entregues em 31 de março de 1993, com sua entrada em serviço operacional ocorrendo em abril de 1995. As encomendas totais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) totalizariam trezentas e quinze aeronaves incluindo vinte células de treinamento da versão Mirage 2000B. Todas as versões 2000C empregam um pacote de contra medidas eletrônicas (CME) e de autodefesa composto pela sistema de iluminação por radar (RWR) Thales Serval(com antenas nas pontas das asas e na parte traseira no topo da deriva), pelo sistema CME Dassault Sabre e um dispensador de “chaff e flare” Matra Spirale, instalado na raiz de cada asa atrás. A partir de 1990, fseria desenvolvido a versão Dassault Mirage 2000-5.
Em 1993, a fim de promover essa variante no mercado internacional, a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) converteu trinta e sete células do modelo C-S4 e CS-5 para a versão Mirage 2000 5-F, a qual incorporava o radar Thomson CSF RDY (radar doppler multicible, capaz de engajar quatro alvos simultâneos), porém mantendo a mesma suíte de contramedidas eletrônicas e de auto defesa na versão Mirage 2000C, dotados com o radar RDY, os Mirage 2000 5F passaram a empregar os mísseis ar ar de guiagem radar autônoma Matra MICA. Com a entrada em serviço do radar RDY, os radares RDI previamente instalados nas aeronaves convertidas para a versão 5F foram instalados nos Mirage 2000C equipados com o radar RDM. Apesar de todas estas melhorias o projeto estava obsoleto quando comparado as aeronaves de nova geração, e a partir do ano de 2001 a introdução dos primeiros Dassault Rafale na  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) determinaram o início do processo de substituição das primeiras versões do Mirage 2000C, sendo o mesmo continuado até a primeira metade da década de 2000. Exemplares da família ainda permanecem em serviço na Índia, Grécia, Taiwan, Egito, Peru, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Desde o início da década de 1990 a Força Aérea Brasileira tinha plena consciência que a vida útil da frota de aviões Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR e  Northrop F-5E e F-5F Tiger II se aproximavam do fim. Os interceptadores franceses deveriam sair de operação entre os anos  de 2004 e 2005, já os caças norte-americanos entre os anos de 2007 e 2010. Desta maneira em fins de 1991, seriam iniciados os planos para substituí-los com a criação do "Programa FX BR" que fazia parte do Plano Fênix, um ambicioso programa de renovação dos meios da Força Aérea Brasileira (FAB). O objetivo inicial era equipar os atuais esquadrões de caça de primeira linha com uma nova aeronave supersônica, com um número total que poderia chegar a mais de cem aeronaves, para substituir de uma vez só todas as aeronaves em operação junto 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) – Esquadrão Jaguar, 1º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Jambock, 2º/1º Grupo de Aviação Caça – Esquadrão Pif Paf e 1º/14º Grupo e Aviação – Esquadrão Pampa. Cada esquadrão seria composto de doze a dezesseis aeronaves, devendo ser criados ainda, novos grupos de combate como o 2º Grupo de Defesa Aérea. Os estudos e análises das propostas transcorreram normalmente, porém o cenário político no pais levaria a sucessivos atrasos na escolha do novo vetor, o que levaria a estudos de processos alternativos como o programa de modernização dos Northrop F-5E e F-5F Tiger II. Porém decidiu-se não replicar esta solução a frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR F-103E, em função da obsolescência das células que já estavam em serviço há mais de trinta anos e estavam próximos ao limiar da vida útil estrutural das células. Alternativas para a aquisição de um caça tampão seriam estudadas, como propostas de leasing de doze caças Kfir C-10 israelenses, aluguel de doze caças russos Sukhoi Su-27SK  ou ainda a compra de dezoito caças usados norte-americanos  General Dynamics F-16 Fighting Falcon usados da Força Aérea Holandesa (RNLAF). No entanto infelizmente por diversos motivos estas propostas não passariam das fases preliminares de estudo.

O programa de aquisição de novas aeronaves de caça só seria retomado no ano de 2003, recebendo a designação de FX2-BR. Diversas propostas atualizadas seriam recebidas, com as análises sendo totalmente reiniciadas, e o cronograma previa a definição do vencedor prevista para março de 2004, mediante decisão em sessão específica do Conselho de Defesa Nacional (CDN). Porém o passar dos anos agravava ainda mais a situação operacional da combalida frota de interceptadores Dassault Mirage IIIEBR e IIIDBR - F-103E/D, e este consequente adiamento geraria um atraso de no mínimo cinco anos entre a escolha do vencedor e as primeiras entregas, o que seria inadmissível, pois deixaria a defesa aérea desfalcada por um período muito extenso. Visando amenizar esta problemática o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) retomaria estudos com o intuito de se buscar uma solução temporária, optando por uma aquisição ou aluguel de novos vetores de caça. Novamente possíveis opções seriam analisadas, incluindo uma nova proposta oferecida pela empresa francesa Dassault Aviaton, que participava da concorrência do programa "FX2" com seu caça multimissão Rafale C. Esta proposta consistia na venda de dez células da versão Mirage 2000C e duas da versão biplace Mirage 2000B, aeronaves estas que ainda se encontravam em operação nos esquadrões operacionais da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). Como esta solução apresentava uma excelente relação de custo-benefício, com estas condições sendo teoricamente subsidiadas pela Dassault Aviation que mantinha grande interesse na concorrência brasileira. Desta maneira o Ministro da Defesa validaria a proposta, levando em 12 de julho de 2003 na cidade de Paris a assinatura de um contrato de aquisição entre os presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Jacques Chirac.
Este contrato avaliado no valor de oitenta milhões de Euros (de acordo com o Decreto nº 5.625, de 22 de dezembro de 2005), previa a transferência de doze caças Dassault Mirage 2000 (dez “C” e dois “B”),  provenientes de unidades de primeira linha de combate da Força Aérea Francesa (Armée de l’Air), treinamento operacional e suporte técnico. Uma comissão formada por oficiais da Força Aérea Brasileira, seria enviada a França para proceder a escolhas das células em melhor estado de conservação. Desta maneira seriam destacas dez aeronaves da versão Mirage 2000C, fabricadas no ano de 1984, equipadas com os motores turbo jatos SNECMA M53-5 com 8.998 Kg de empuxo, radar RDI Thales S 5.2 C Pulse Doppler com capacidade llok down/shoot down, sistema de alerta de radar RWR Serval e lançadores de chaffs - flares Eclair.  Juntamente com um amplo suprimento de peças de reposição foram adquiridos um pacote de um pacote de armamentos composto por misseis ar ar BVR Matra Super 530D, misseis Matra Magic 2, cartuchos de munição de calibre 30 mm, chaffs e flares, também foram fornecidos tanques suplementares de combustível ventrais de 1.300 litros e 2.000 litros (fixados nos pontos internos de cada asa). Desta maneira foram selecionados pilotos e mecânicos brasileiros a fim de serem enviados a França para treinamento e conversão para o novo vetor na base aérea da  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) de Orange no interior do pais. Após este processo definiu-se um cronograma com as entregas e transladados sendo feitas por pilotos do 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) em três lotes distintos de quatro aeronaves cada, sendo os primeiros entregues em 2006, outros quatro em 2007 e os últimos em 2008.

As aeronaves foram declaradas operacionais já no ano de 2006, substituindo os jatos de treinamento avançado Embraer AT-26 Xavante que se encontravam provisoriamente em uso junto ao 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) desde dezembro de 2005, quando os últimos F-103E IIIEBR Mirage foram desativados.  Apesar de ser um modelo de terceira geração com tecnologia da segunda metade da década de 1980, o Mirage 2000C era muito superior a seu antecessor F-103E IIIEBR Mirage, tanto em termos de desempenho operacional e eletrônica embarcada, sendo ainda a primeira aeronave de combate da Força Aérea Brasileira (FAB) a dispor de sistemas de controle por computador das superfícies móveis de um avião “Fly By Wire”. Todos estes avanços aliados a capacidade de combate "além do alcance visual" BVR (Before Visual Range), com os misseis Matra Super 530D possibilitaram as equipagens do 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea)  uma significativa evolução na doutrina operacional, não só da unidade, mas também de toda a Força Aérea Brasileira (FAB) pois possibilitou a realização de treinamentos de combate dissimilar BVR, contra as aeronaves  Northrop F-5EM Tiger II, proporcionando embates entre aeronaves de diferentes parâmetros de desempenho. Vale salientar também que os misseis ar ar de curto alcance Magic 2 apresentavam performance muito superior ao Rafael Python 3 que equipavam o Dassault F-103E Mirage e Northrop F-5E Tiger II, trazendo a tona uma dificuldade maior no enfrentamento, melhorando a capacitação técnica nos treinamentos. Em sua curta carreira na Força Aérea Brasileira, os agora designados como Dassault F-2000C Mirage tiveram destacada participação em inúmeros exercícios multinacionais de defesa, entre eles CRUZEX 2006.
Apesar de recebidos a partir de 2006, estas aeronaves tinham tempo definido de operação na Força Aérea Brasileira (FAB), compreendendo seu uso até fins de 2013 (pois quando adquiridas da Força Aérea Francesa- Armée de l'Air, estavam no limiar de sua vida útil contando com somente mais 1.000 horas de voo por célula). Análises preliminares efetuadas se mostrariam completamente desfavoráveis a qualquer processo de retrofit das aeronaves ou modernização, com base nestes dados decidiu se pela desativação do modelo em 31 de dezembro de 2013. Como as primeiras células do modelo SAAB Gripen NG F-39E (vencedor do processo FX-2), seriam somente entregues a partir do ano de 2022, sendo que novamente o 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA) passou a ser equipado provisoriamente com aeronaves tampão, agora os  Northrop F-5EM Tiger II modernizados. Em 2013 apenas seis aeronaves F-2000C/B Mirage estavam em operação, sendo as demais desmontadas para servir com fonte de peças de reposição. O último voo foi realizado em 20 de dezembro de 2013 quando o F-2000C Mirage FAB 4948 , partiu da base aérea de Anápolis, em Goiás, às 10h42, com destino ao Museu Aerospacial (MUSAL) no Rio de Janeiro, onde passaria a fazer parte do acervo daquela organização.

Em Escala.
Para representarmos o Dassault Mirage F-2000C "FAB 494 " empregamos o modelo na Italeri na escala 1/48, kit este que mescla detalhes em alto e baixo relevo e representa naturalmente e a versão empregada pela Força Aérea Brasileira (FAB) sem a necessidade de se implementar mudanças. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, presentes no recente set 48/40.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelas aeronaves francesas, por se tratar de um modelo “stop gap” foram apenas adicionadas as marcações nacionais se mantando o padrão original quando do recebimento das células. Em 2012 o Dasault F-2000C "FAB 4946" foi apresentado na feira internacional "XVI FIDAE" no Chille, com um esquema de pintura em tons de cinza com marcações de baixa visibilidade, porém este padrão foi aplicado somente nesta célula.



Bibliografia :

- Mirage 2000 Mudança de Vetores, Marcelo Mendonça - Revista Força Aérea Nº 40
- Anápolis a Toca dos Jaguares, Luciano R Melo – Revista Força Aérea Nº 61
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Vultee V-11 GB2 no Brasil

História e Desenvolvimento. 
Os empreendedores norte-americanos Gerard "Jerry" Freebairn Vultee (1900-1938) e Vance Breese (1904-1973) fundariam em abril de 1932 na cidade de Los Angeles, Califórnia, uma nova indústria aeronáutica, a Airplane Development Corporation. Neste contexto "Jerry", detinha larga experiencia no segmento, após participar por algum tempo como engenheiro aeronáutico estrutural na Douglas Aircraft, da equipe do renomado projetista John Knudsen "Jack" Northrop, na Douglas Aircraft Company.  Seu primeiro projeto comercialmente viável, o Vultee V-1, uma aeronave monoplano de asa baixa e produzido inteiramente de metal, com um trem de pouso com bequilha retrátil, seria concebido para o transporte executivo para até oito passageiros. Seu primeiro protótipo, alçaria voo em 19 de fevereiro de 1933 e despertaria um grande interesse por parte da direção executiva da empresa de transporte aérea American Airlines. Os resultados amostrados em seu programa de ensaios de voo se mostrariam extremamente promissor, inclusive registrando recordes de velocidade e autonomia. Logo em seguida, como esperado a American Airlines se tornaria seu primeiro usuário operacional, resultando em um contrato para a compra de quatorze aeronaves, que seriam empregadas em rotas domésticas. A empresa de transporte aéreo regional Bowen Airlines do Texas, se tornaria o segundo cliente do modelo. Apesar deste excelente início comercial, suas futuras projeções de vendas seriam, no entanto, impactadas por novas regulamentações impostas pela autoridade aeronáutica civil norte-americana que obrigaria o emprego de apenas aeronaves com dois motores em rotas regulares de transporte de passageiros. Isto limitaria as vendas deste modelo de aeronave, sendo produzidos pela Airplane Development Corporation, apenas vinte e sete aeronaves. Em 1934 uma nova legislação a "Lei do Correio Aéreo" demandaria uma série de reestruturação no meio aeronáutico norte-americano, levando em 30 de novembro do mesmo ano, ao estabelecimento da  Aviation Manufacturing Corporation (AMC), através da aquisição das participações da Cord, incluindo a Vultee's Airplane Development Corporation. Logo em seguida no dia 1 de janeiro de 1936 a Aviation Manufacturing Corporation seria liquidada, levando a formação da Vultee Aircraft Division, que passaria a ser uma subsidiária autônoma. Neste mesmo período, sete aeronaves que anteriormente pertenceram a American Airlines e outras oito células (adquiridas pelo governo espanhol para tarefas de transporte) seriam empregadas pelas forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro aeronaves Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas forças nacionalistas.  

Este inusitado emprego militar, despertaria a diretoria da empresa, o vislumbre de um novo e promissor nicho de mercado, levando assim a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, iniciar o desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1. Apesar das restrições operacionais existentes neste período, quanto ao emprego de aeronaves monomotoras para emprego em tarefas bombardeio, foi decidido levar adiante este projeto. Esta nova aeronave estava equipada com um motor radial Wrigth Cyclone SR 1830-F53, de 750hp, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo comercial V-1. Este modelo receberia a designação de Vultee V-11, e fazia uso do mesmo motor, trem de pouso e estrutura alar de seu antecessor, com as demais parte e componentes sendo desenvolvidas para esta nova aeronave. Sua principal missão era atuar no perfil de bombardeio de mergulho (picado), com opção para emprego também como treinador avançado. O primeiro protótipo realizou seu voo inaugural em 17 de setembro de 1937, empreendendo um voo entre as cidades de Los Angeles e Glendale. Porém o início da campanha de ensaios em voo não seria exatamente auspicioso, visto que este protótipo sofreria uma pane no motor durante a decolagem, resultando na perda total de material e pessoal. Apesar deste contratempo o segundo protótipo seria concluído em 03 de outubro do mesmo ano, e incorporava alguns aperfeiçoamentos, como hélice tripa e a capacidade de portar uma metralhadora MG-40 calibre .30, em uma gondola, alocada na fuselagem inferior da aeronave. Desta vez a campanha de ensaios ocorreria tranquilamente definindo o projeto final com mais alguns aperfeiçoamentos permitindo assim a empresa a iniciar uma agressiva campanha comercial de exportação junto a nações amigas a partir do ano seguinte.
Este investimento inicial não tardaria a render bons resultados, com o primeiro contrato de exportação sendo celebrado com o governo da China Nacionalista, envolvendo a encomenda de trinta aeronaves da versão Vultee V-11G configurado para operação com dois tripulantes e a pedido do cliente equipado com o motor Wright R-1820-G2 Cyclone com 1.000 hp de potência. Um segundo contrato com este governo seria firmado em 1939, agora para vinte e seis aeronaves da versão Vultee V-12-C equipados com o motor Wright R1-820-G105B Cyclone de 1.100 hp, destes uma célula seria entregue pronta e as demais fornecidas na forma de kits para serem montadas na unidade fabril da Central Aircraft Manufacturing Company em Loiwing, perto da fronteira entre a China e a Birmânia.  Por fim um terceiro acordo seria celebrado para a montagem local de cinquenta e duas aeronaves na versão Vultee V-12-D, novamente empregando a evolução de seu grupo propulsor, fazendo uso agora do Curtiss Wright R-2600 Cyclone 14 de 1.600 hp. Após a montagem da primeira célula a fábrica sofreu um bombardeiro por parte das forças de invasão japonesas, ficando evidente o risco de novos ataques, assim desta maneira decidiu-se por transferir a linha de produção para a fábrica da Hindustan Aircraft Limited em Bangalore na Índia para que fossem concluídas as montagens das demais aeronaves, porém após a montagem de algumas unidades a produção foi interrompida de forma definitiva. Os Vultee V-11 e V-12 foram usados como bombardeiros leves e alcançaram algum sucesso, incluindo a missão de bombardear o aeródromo japonês com quatro aeronaves no Yuncheng em 5 de fevereiro de 1939, pelo 10º Esquadrão da Força Aérea da República da China (ROCAF), antes que as aeronaves fossem retiradas das missões de bombardeio, para treinamento e funções de ligação a partir de 1940.

O próximo cliente internacional seria a Turquia, que assinaria em 1936 com a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, um contrato para a aquisição de quarenta e uma aeronaves na versão básica Vultee V-11GB. Neste mesmo ano, a União Soviética celebraria um contrato, envolvendo a compra de quatro aeronaves na versão de bombardeiro de mergulho, para três tripulantes e a produção sob licença de mais trinta e duas aeronaves da versão Vultee V-11GB que passariam a ser designados localmente BSh-1 (Bronirovanny Shturmovik). Estas aeronaves seriam configuradas para missões de ataque a solo passando a contar com um leve conjunto de blindagem extra, em pontos críticos da aeronave, visando assim melhorar sua capacidade de sobrevivência.  Com o início das operações junto a Força Aérea Soviética, verificou-se que este conjunto de blindagem, reduzia sensivelmente o desempenho da aeronave, não sendo assim recomendada a sua operação em missões de ataque. Este fator levaria a decisão de transferir todas estas aeronaves para a empresa estatal de transporte aéreo Aeroflot, onde o modelo passou a ser redesignado como PS-43, com emprego para transporte de passageiros em alta velocidade, executando com primazia esta tarefa até o advento da invasão alemã em 1941. Depois o início do conflito com a Alemanha, as aeronaves remanescentes seriam novamente incorporadas à Força Aérea Soviética para emprego em missões de ligação entre as bases aéreas.  O próximo pais a adquirir a aeronave em sua versão militar seria o Brasil, que em fevereiro de 1939 assinaria um contrato para entrega de vinte e seis aeronaves, para uso em sua Aviação Militar.
O Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) assinaria em 1938 um contrato para a aquisição de sete células da versão militar designada localmente como Vultee YA-19. Estas aeronaves estavam armadas com seis metralhadoras bronwing calibre .30, operando com capacidade para até 490 kg de bombas de queda livre, transportadas em um bomb bay interno. Estas aeronaves de pré-produção seriam então submetidas a um extenso programa de avaliação e ensaios em voo, no entanto os resultados deste processo determinaram que os parâmetros operacionais deste modelo e aeronave, não atendiam as necessidades mínimas exigidas pelos Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC).  Neste mesmo período, o mais provável cliente potencial da aeronave, a Marinha Americana (US Navy), estava em pleno processo de introdução de suas novas aeronaves de bombardeio de mergulho Douglas TBD Devastador, cerceando assim todas as expectativas de sucesso deste modelo, levando assim ao cancelamento dos esforços de desenvolvimento das aeronaves em sua versão militar.  Ao todo seriam produzidos até fins de 1940 um total de duzentos e vinte e cinco células, sendo dispostas em doze versões distintas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No final da década de 1930, a Aviação Militar do Exército Brasileiro iniciava um programa de modernização de suas aeronaves de caça, ataque, bombardeio e treinamento. No que tange as missões de bombardeio, buscava-se especificadamente a aquisição de uma aeronave de bombardeio de precisão (picado), no intuito de substituir os já antigos e obsoletos biplanos Vought V-65B Corsair e Boeing 256 e 267, que representavam o esteio da aviação de ataque brasileira, e que no momento se encontravam muito defasados tecnologicamente devido aos grandes avanços ocorridos durante esta década. Uma concorrência internacional seria aberta pelo Governo Brasileiro, com o comando do Exército Brasileiro, passando a receber propostas comerciais de diversos fabricantes europeus e americanos. Estas propostas seriam então analisadas pela Diretoria de Material da Aviação Militar do Exército (DAvM), com a decisão de escolha recaindo sobre a proposta comercial apresentada pela empresa norte-americana, Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division. Esta escolha seria profundamente influenciada pelas percepções obtidas quando da apresentação do modelo Vultee V-11, realizada no Brasil em abril de 1937 durante um tour de promoção desta aeronave militar. Assim em 9 de dezembro do mesmo ano seria assinado com o fabricante norte-americano, um contrato no valor de US$ 1,4 milhões de dólares para a aquisição de vinte células da versão V-11GB2, incluindo neste acordo, um amplo suprimento de peças de reposição, ferramental, documentação e treinamento de pilotos e equipes de manutenção. De acordo com o contrato original, estas aeronaves seriam entregues com o novo motor radial Wrigth Cyclone R-1820-G2 com 850 HP de potência, sendo superior a versão anterior. As aeronaves brasileiras seriam equipadas com duas metralhadoras Colt MG-53 de calibre .50 e duas metralhadoras Colt MG-40 de calibre .30 instaladas nas asas, ao contrário das quatro metralhadoras Browning .30 que equipavam as demais versões militares da aeronave.

Ademais também, as aeronaves adquiridas, receberiam um armamento de autodefesa suplementar, sendo composto por duas metralhadoras móveis Colt MG-40, dispostas na posição dorsal e ventral. Dispunham ainda de seis pontos duros, subalares que poderiam portar até 1.681 kg de carga útil, sendo fornecidos neste mesmo contrato bombas de demolição de 45 a 500 kg, e bombas químicas de 45 kg, produzidas pela empresa norte americana Lake Erie Chimical Co. Para as missões de bombardeio vertical, a aeronave estava equipada com um sistema de visor de mira Stoppey D-48 que podia ser complementado com uma câmera vertical Fairchild K3B, para emprego em missões de reconhecimento ou documentação fotográfica dos ataques. As primeiras aeronaves foram transportadas ao Brasil por via naval, sendo recebidas e posteriormente montadas nos hangares da Panair do Brasil, localizados no Aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro). As demais células seriam montadas nas instalações do Parque Central da Aeronáutica da Aviação Militar, com este processo sendo finalizado no dia 5 de junho de 1938. Os Vultee V-11-GB2 brasileiros, receberam as matrículas seriais de "105 a 129", sendo esta sistemática mantida durante toda a sua operação no Exército Brasileiro. Assim que foram incorporadas, as aeronaves foram destinadas ao 1º Regimento de Aviação (1º RAv), sendo lotadas no Grupo de Bombardeio (esta unidade ostentava como emblema, um "jacaré" estilizado montado em uma bomba). Os primeiros voos operacionais das novas aeronaves, passariam a ocorrer a partir da primeira semana de novembro de 1938. Em setembro de 1939, três aeronaves foram transferidas ao 3º Regimento de Aviação (3ºRAv), sediado em Porto Alegre (RS). A Escola de Aviação Militar (EAvM) sediada no Campo dos Afonsos, receberia em 13 de abril de 1939 três aeronaves deste modelo, com a finalidade de adestrar os instrutores e cadetes do último ano.
As alterações solicitadas ao fabricante pela Diretoria de Aviação Militar do Exército, fizeram com que os Vultee V-11GB2 brasileiros, apresentassem um desempenho ligeiramente inferior aos V-11GB originais, principalmente em termos de velocidade máxima, razão de subida e teto operacional, porém como contrapartida, passava a apresentar um alcance significativamente maior. Esta autonomia pode ser praticamente aferida em um dos feitos mais marcantes na Aviação Militar Brasileira, com esta aeronave norte-americana sendo, responsável pelo estabelecimento do recorde de permanência no ar e distância por aeronaves brasileiras, ao completar no dia 8 de julho de 1939, um voo sem escalas com duração de 11:45 horas no trecho compreendido entre as cidades de Fortaleza no estado do Ceará no Nordeste e Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul,  na região sul do país. Este perfil operacional encorajaria a Diretoria de Aviação Militar (DAvM) a aumentar a quantidade de aeronaves em sua frota operacional, agregando mais cinco células da aeronave ao contrato original firmado anteriormente, com estas nova células, configuradas com duplo comandos para as tarefas de instrução. Além disso a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division chegaria a desenvolver uma versão com flutuadores, denominada Vultee V-11GB2F, a qual se destinava a uma possível compra por parte da Aviação Naval da Marinha do Brasil, com a construção de um protótipo que seria apresentado em 1939 no Rio de Janeiro, e diante da negativa desta arma, seria posteriormente incorporado a Aviação Militar do Exército.

A nova década trouxe poucas alterações quanto as atividades dos Vultee V-11GB2 em operação no 1º Regimento de Aviação (RAv), mantendo assim o programa anual de instrução desta unidade, sendo executado dentro das limitações da época, e periodicamente pontuada por exercícios de pequena envergadura. Curiosamente, apesar de existir uma aeronave com duplo comando, esta célula seria reconfigurada para o padrão das demais aeronaves. Como consequência e a partir de 1940, a instrução dos novos pilotos era realizada de forma peculiar, e como parte do ciclo de instrução, o piloto era obrigado a alojar-se de bruços diretamente atrás e acima em um espaço que existia na aeronave, espiando por cima do ombro do piloto, em uma posição totalmente desconfortável. Com a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em 27 de janeiro de 1941, as vinte e três células remanescentes seriam incorporadas ao acervo da recém-criada Força Aérea Brasileira, mantendo temporariamente suas marcações originais da Aviação Militar, passando a ostentar novas matriculas com seriais de quatro dígitos. As necessidades de incremento de missões de patrulhamento no litoral nordestino, obrigariam o deslocamento de seis V-11-GB2 do 1º Regimento de Aviação (RAv) para Recife, onde foram empregados nesta tarefa no período compreendido entre outubro de 1941 a maio de 1942, quando foram substituídos por aeronaves especializadas para este tipo de missão. Apesar do grande número de horas voadas em missões de patrulhamento do litoral brasileiro neste período, não existem registros oficiais que indiquem o ataque de algum aparelho deste modelo a submarinos alemães. Em 17 de abril de 1945, foram transferidos três aviões do 1º Regimento de Aviação (RAv)  para o 3º Regimento de Aviação (RAv), com o objetivo de reforçar as atividades de patrulhamento no litoral sul do Brasil.
Ao término do conflito as dezesseis aeronaves restantes, seriam transferidas ao 1º Grupo de Bombardeio Picado (1ºGBPi) sediado na Base Aérea de Santa Cruz, nesta fase a disponibilidade das células estava muito reduzida, pois a maioria das aeronaves necessitava ser submetida a uma ampla revisão geral no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), para onde seriam transladadas em voo no dia 7 de outubro de 1947. Neste momento as primeiras avaliações estruturais levariam a decisão de se condenar e descarregar a maior parte destas células, por não ser economicamente recomendável sua recuperação. Somente dois aviões, que estavam em melhores condições (FAB 5005 e FAB 5009), seriam revisados e entregue em plenas condições operacionais, sendo então destinados para operação junto ao destacamento da Base Aérea de Curitiba em 24 de março de 1949, onde seriam utilizados em tarefas de transporte, ligação  e adestramento. Sua carreira nesta unidade, no entanto seria efêmera, sendo desativadas e descarregadas da frota da Força Aérea Brasileira em 8 de março de 1950.

Em Escala.
Para representarmos o Vultee V-11GB2 "113" da Aviação Militar do Exército Brasileiro, fizemos uso da única opção disponível no mercado, fabricado em resina na escala 1/72 pela empresa brasileira Commando5 (infelizmente o fabricante encerrou suas atividades). Modelo este que merece elogios em sua concepção e facilidade de montagem, como alteração incluímos uma bomba em seu cabide ventral. Fizemos uso de decais oriundos do próprio modelo que foram confeccionados pela FCM decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves Vultee V-11GB2 durante seu emprego pela Aviação Militar do Exército Brasileiro até janeiro de 1941, posteriormente já em serviço na Força Aérea Brasileira chegaram a receber novos padrões de pintura e marcações.

Bibliografia :

- Revista ASAS nº 51 " O Vultee V-11GB2 no Brasil - Aparecido Camazano Alamino
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 - Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Vultee V-11 – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_V-11