Breguet 14A2 e 14B2

História e Desenvolvimento. 
Louis Charles Breguet, nascido em 1880, pertencia a uma família francesa com uma longa tradição em engenharia. Seguindo os passos de seus antecessores, formou-se como engenheiro elétrico, mas desde jovem demonstrou grande interesse pela aviação e pelas inovações emergentes nesse campo. Em 1905, Louis Breguet desenvolveu um avançado túnel de vento, utilizado para realizar ensaios detalhados com aerofólios, marcando o início de suas contribuições significativas para a aerodinâmica na indústria aeronáutica mundial . Em 1907, projetou e construiu seu primeiro avião, um biplano de pequeno porte, que representaria o marco que o levou a fundar, em 1911, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet. No mesmo ano, seu primeiro aeroplano estabeleceu um recorde internacional de velocidade em um voo de dez quilômetros. Em 1912, a empresa projetou e produziu seu primeiro hidroavião, ampliando o escopo de suas inovações. Nos anos subsequentes, diversos projetos foram desenvolvidos, mas foi o modelo Breguet III que consolidou a reputação da empresa como um dos principais fornecedores da recém-formada Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française). urante a Primeira Guerra Mundial, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet desempenhou um papel crucial ao produzir uma variedade de aeronaves de combate, incluindo bombardeiros, aviões de reconhecimento e caças de escolta, destinados às forças armadas francesas. As aeronaves de reconhecimento, em particular, destacaram-se pelo desempenho superior, sendo amplamente utilizadas durante e após o conflito, mantendo-se em serviço ativo na década seguinte. Os primeiros anos da guerra proporcionaram à equipe de projetos da empresa valiosas lições, evidenciando a necessidade de aeronaves de combate mais eficientes e com desempenho superior aos modelos disponíveis em 1914. Com base nesse aprendizado, em junho de 1916, a empresa iniciou o desenvolvimento de uma inovadora aeronave biplana de porte médio, capaz de executar missões de bombardeio e reconhecimento com autonomia para representativa penetração no território inimigo, representando assim um avanço significativo na tecnologia aeronáutica da época. Este projeto ao ser cogitado aos comandantes militares franceses despertaria grande entusiasmo e expectativa sobre o real potencial ofensivo deste projeto.  Com os parâmetros do projeto estabelecidos, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet deu início à construção do protótipo da nova aeronave, designada Type AV. O primeiro voo do protótipo ocorreu em 21 de dezembro de 1916 na cercanias de Paris, com Louis Charles Breguet, fundador da empresa, atuando como piloto de ensaios em voo neste primeiro momento. 

O Type AV foi inscrito em um programa lançado pela seção técnica da Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française) no mesmo mês, que solicitava o desenvolvimento de quatro novos tipos de aeronaves de combate. O edital militar expressava preferência pelos confiáveis motores  espanhóis  Hispano-Suiza 8A V-8 de 180 HP (eram conhecidos por sua robustez, eficiência e desempenho, sendo utilizados em aeronaves icônicas, como o SPAD S.VII e o Sopwith Camel).  Contudo, a direção da Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet optou por utilizar o motor frances Renault 12 FE V-12 de 200 HP no desenvolvimento do Breguet Type AV, decisão que foi aceita plenamente pelas autoridades francesas. Desta maneira o projeto teria autorização para prosseguir para o próximo estágio com a aeronave derivando para as categorias de bombardeio e reconhecimento.  Nos primeiros meses de 1917, o Type AV foi submetido a exaustivos testes e avaliações pelas autoridades da Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française). A aeronave destacou-se por sua construção inovadora, que incorporava materiais e técnicas avançadas para a época. Nos primeiros meses de 1917, o Type AV foi submetido a exaustivos testes e avaliações pelas autoridades da Aviação Militar Francesa. A aeronave destacou-se por sua construção inovadora, que incorporava materiais e técnicas avançadas para a época. O Type AV diferenciava-se por sua estrutura construída majoritariamente em duralumínio, uma liga de alumínio desenvolvida na Alemanha por Alfred Wilm cerca de uma década antes. Essa escolha conferia leveza e resistência à aeronave. As principais características estruturais incluíam: Fuselagem: A seção traseira era composta por tubos de aço soldados, enquanto outras partes utilizavam duralumínio unido por encaixes de tubos de aço e amarras de fio de piano. Asas: Formadas por tubos retangulares de duralumínio, com calços de madeira de carvalho e pontos de fixação envoltos em baías de chapa de aço. Componentes de Madeira: Utilizavam compensados, contribuindo para a redução do peso total. O uso de materiais inovadores, como o duralumínio, inicialmente gerou ceticismo entre os oficiais da Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française), que não estavam familiarizados com tais avanços tecnológicos. Apesar disso, os testes demonstraram a viabilidade e o desempenho superior do Type AV, consolidando a reputação da Société Breguet como uma empresa pioneira na aviação militar. Apesar das reservas iniciais por parte dos oficiais franceses em relação aos materiais inovadores utilizados, o programa de ensaios em voo do Breguet Type AV foi concluído com êxito, resultando na aprovação da aeronave para cumprir as funções de bombardeio e reconhecimento exigidas pelo Programa do Serviço Técnico da Aviação Militar Francesa (Aviation Militaire Française). 
Durante os testes, o protótipo alcançou a notável velocidade máxima de 172 km/h a uma altitude de 2.000 metros (6.600 pés), demonstrando um desempenho excepcional para uma aeronave daquele porte . Com os resultados positivos dos ensaios, as negociações avançaram para a formalização de um contrato de produção em larga escala. A Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet intensificou os preparativos para a fabricação em série, informando ao governo francês, em 2 de março de 1917, que os gabaritos de produção estavam finalizados. Desta maneira seriam conduzidas as negociaçoes visando sua aquisição, e em  6 de março de 1917,  a empresa recebeu a primeira ordem oficial para a produção de 150 aeronaves de reconhecimento, designadas como Breguet 14 A.2. Logo a seguir em 4 de abril do mesmo ano,  um segundo pedido foi emitido, contemplando 100 unidades da versão de bombardeio, designada Breguet 14 B.2. Em detalhe a versão de reconhecimento estava equipada com quatro câmeras instaladas na fuselagem para missões de observação. Algumas unidades receberam sistemas de rádio de longo alcance, ampliando suas capacidades operacionais. A versão de bombardeio estava dotada de racks de bombas fabricados pela Michelin, montados nas asas inferiores, com capacidade para transportar até 32 bombas de 115 mm (4,5 polegadas). As primeiras unidades do Breguet 14 A.2 começaram a ser entregues às esquadrilhas de observação da Aviação Militar Francesa em maio de 1917. Já os Breguet 14 B.2 foram recebidos pelas unidades de bombardeio a partir de outubro de 1917. O Breguet 14 rapidamente se destacou como uma aeronave excepcional para missões de bombardeio, observação e reconhecimento. Suas principais vantagens incluíam: Robustez Estrutural: A extensa utilização de duralumínio na treliça da fuselagem conferia maior resistência e menor peso em comparação com aeronaves contemporâneas que dependiam predominantemente de madeira. Velocidade: O Breguet 14 era notavelmente veloz, superando até mesmo alguns caças da época, o que o tornava um ativo valioso em operações militares. A combinação de robustez, leveza e desempenho superior consolidou o Breguet 14 como uma das aeronaves mais eficazes de sua era, contribuindo significativamente para as operações da Aviação Militar Francesa durante a Primeira Guerra Mundial. O desempenho excepcional do Breguet 14 levou as autoridades da Aviação Militar Francesa a ordenarem um incremento significativo na produção da aeronave, visando atender às crescentes necessidades operacionais durante a Primeira Guerra Mundial. Para suprir a demanda, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet estabeleceu parcerias com diversas empresas, delegando a fabricação de um número substancial de unidades. As empresas subcontratadas e suas respectivas quotas de produção foram: Darracq et Cie: Encarregada da fabricação de 330 aeronaves;  Compagnie Générale des Établissements Michelin SCA: Responsável pela produção de 600 células e  Farman Aviation Works: Contratada para construir 120 aeronaves. A colaboração com essas empresas permitiu à Société Breguet escalar rapidamente a produção do Breguet 14, garantindo o fornecimento contínuo de aeronaves de reconhecimento (Breguet 14 A.2) e bombardeio (Breguet 14 B.2) para as forças armadas francesas, reforçando sua capacidade operacional no conflito. 
Para mitigar o risco de escassez do motor Renault 12 FE V-12, a Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet implementou alternativas no projeto do Breguet 14. Diversas unidades destinadas à Bélgica e aos Estados Unidos foram equipadas com o motor Fiat A.12. Outra opção foi o motor fabricado pela Lorraine-Dietrich, que, embora mais leve, oferecia menor potência em comparação com o Renault. Nos modelos Breguet 14 B.2 de produção tardia, foi adotado o motor American Liberty, e essas aeronaves receberam a designação Breguet 14 B.2 L. O Breguet 14 desempenhou um papel crucial no esforço de guerra, especialmente no Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAS), onde cerca de 600 unidades dos modelos de bombardeio e reconhecimento foram amplamente utilizadas. Durante o conflito, o Breguet 14 tornou-se o modelo com a maior frota em serviço, destacando-se em missões de reconhecimento e bombardeio. Até o Armistício de 11 de novembro de 1918, as aeronaves desse tipo lançaram mais de 1.887.600 kg de bombas em território inimigo. Em uma das últimas ações da guerra, em 8 de novembro de 1918, um Breguet 14 A.2 foi utilizado para transportar o Major alemão Von Geyer de Tergnier para negociações de rendição. A aeronave foi marcada com grandes bandeiras brancas de trégua para evitar ataques de caças adversários. Após o Armistício, o Breguet 14 continuou a demonstrar sua versatilidade em voos de longa distância: 26 de janeiro de 1919: O Tenente Roget e o Capitão Coli realizaram uma travessia dupla do Mediterrâneo. 5 de abril de 1919: Roget voou de Lyon a Roma e, posteriormente, a Nice. Data não especificada em 1919: Roget e Coli estabeleceram um recorde francês de longa distância, voando de Paris a Kenitra, no Marrocos, cobrindo 1.900 km (1.200 milhas) em 11 horas e 15 minutos. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Breguet 14 permaneceu em serviço ativo, sendo empregado em operações coloniais francesas durante a década de 1920, em regiões como Síria, Vietnã, Marrocos e Rússia (durante a intervenção francesa na Guerra Civil Russa). Para enfrentar condições climáticas adversas e terrenos inóspitos, foi desenvolvida uma variante especializada, designada Breguet 14 TOE (Théâtres des Opérations Extérieures), projetada para operar em ambientes extremos. A produção do Breguet 14 continuou até 1928, com mais de 8.000 unidades fabricadas por diversas empresas. As últimas aeronaves militares francesas foram retiradas do serviço ativo em 1932. Já as variantes civis, destinadas ao transporte de cargas e passageiros e produzidas na primeira metade da década de 1920, permaneceram em operação comercial até o final da década de 1930. O Breguet 14 consolidou-se como uma das aeronaves mais emblemáticas de sua era, destacando-se por sua robustez, versatilidade e contribuições tanto em contextos militares quanto civis. Sua longa trajetória operacional reflete o impacto duradouro das inovações introduzidas pela Société Breguet na aviação

Emprego no Exército Brasileiro.
A Aviação do Exército Brasileiro tem suas raízes nos campos de batalha da Guerra da Tríplice Aliança, especificamente nas batalhas de Humaitá e Curupaiti, em 1867. Durante esse conflito, o patrono do Exército Brasileiro, Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, demonstrou pioneirismo ao empregar balões cativos em operações militares na América do Sul. Esses balões foram utilizados com o objetivo de observar as linhas inimigas, reconhecendo a relevância da terceira dimensão (o espaço aéreo) no campo de batalha.  Essa iniciativa conferiu ao Exército Brasileiro a distinção de ser a primeira força militar do continente a utilizar balões para fins de observação e coleta de informações. A utilização desses equipamentos permitiu às forças aliadas obter informações estratégicas sobre as fortificações paraguaias em Curupaiti e Humaitá, contribuindo significativamente para o planejamento e execução de uma ofensiva de grande escala. Após o término da Guerra da Tríplice Aliança, o Exército Brasileiro institucionalizou o uso de balões com a criação do Serviço de Aerostação Militar. Esse serviço permaneceu ativo por 47 anos, consolidando as atividades balonísticas como parte integrante das operações militares brasileiras. Durante esse período, o uso de balões foi aprimorado, destacando-se como uma ferramenta essencial para reconhecimento e planejamento tático. Em 1913, um marco significativo foi alcançado com a criação da Escola Brasileira de Aviação (EsBAv), localizada no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Nesse momento, o Exército Brasileiro adquiriu seus primeiros aviões, fabricados na Itália, marcando a transição do uso de balões para aeronaves motorizadas. Essa evolução refletiu a adaptação do Exército às inovações tecnológicas da época, ampliando suas capacidades operacionais. A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) trouxe avanços tecnológicos significativos em armamentos, equipamentos e doutrinas militares, evidenciando a obsolescência das forças armadas brasileiras em relação aos padrões globais. Diante desse cenário, o comando das Forças Armadas Brasileiras reconheceu a necessidade de modernização para acompanhar as transformações do contexto internacional. Com o objetivo de reverter essa defasagem, o governo brasileiro iniciou, no segundo semestre de 1918, negociações com o governo francês para estabelecer uma parceria de consultoria e assessoria militar. As tratativas foram conduzidas em Paris pelo adido militar brasileiro, coronel Malan d’Angrogne, e o ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau. As negociações culminaram na assinatura de um contrato em Paris, posteriormente ratificado no Rio de Janeiro, que instituiu oficialmente a Missão Militar Francesa. Esse acordo estipulava que oficiais franceses assumiriam o comando de diversas escolas militares brasileiras, incluindo a Escola de Estado-Maior (EEM), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), a Escola de Intendência e a Escola de Veterinária, por um período de quatro anos. Além disso, o contrato determinava que o Brasil priorizaria a aquisição de equipamentos e armamentos da indústria francesa, desde que os preços, prazos de entrega e qualidade fossem competitivos em relação a outros fornecedores internacionais. O contrato firmado entre os governos do Brasil e da França em 1919 representou um marco significativo na trajetória de profissionalização e modernização do Exército Brasileiro. Esse acordo, parte integrante da Missão Militar Francesa, visava atualizar as Forças Armadas Brasileiras por meio de consultoria, treinamento e aquisição de equipamentos modernos. 

No âmbito da aviação militar, o contrato possibilitou a retomada e expansão das atividades aéreas do Exército, fortalecendo seu poder militar e alinhando-o às inovações tecnológicas do período pós-Primeira Guerra Mundial. 
A modernização da aviação militar foi impulsionada pela necessidade de superar a obsolescência das forças brasileiras, identificada durante o conflito global. Nesse contexto, o Exército Brasileiro tomou a decisão estratégica de retomar suas atividades aeronáuticas, culminando na criação, em 1919, do embrião da Escola de Formação de Aviadores Militares, precursora do atual Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx). O acordo com a França resultou na aquisição imediata de diversas aeronaves destinadas à formação de aviadores e ao fortalecimento da capacidade operacional do Exército. A maioria dessas aeronaves era composta por modelos de treinamento, voltados para a instrução de futuros pilotos. Contudo, o contrato também incluiu aeronaves de combate, destinadas não apenas ao treinamento, mas também à criação de um núcleo inicial de aviação de combate no Brasil. Em 1918, um ano antes da formalização da Missão Militar Francesa, o Exército Brasileiro celebrou um contrato com a empresa francesa Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet para a aquisição de 30 aeronaves dos modelos Breguet 14A2 (reconhecimento) e Breguet 14B2 (bombardeio). Apesar de diferenças técnicas sutis entre as versões, como a maior envergadura do Breguet 14B2, a documentação histórica não permite determinar com precisão a quantidade exata de cada modelo incorporada ao acervo brasileiro, especialmente devido ao fato de que as aeronaves não foram montadas simultaneamente. Evidências sugerem que, durante os oito anos de operação plena na Aviação Militar do Exército, não mais de 12 aeronaves Breguet 14 (somando ambas as versões) estavam montadas e disponíveis para voo em qualquer momento. As aeronaves chegaram ao Brasil por via marítima ao longo de 1920, sendo gradualmente integradas às atividades da aviação militar. A Escola de Aviação Militar (EAvM), sediada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, foi o principal centro de formação de aviadores militares. No final de 1920, os primeiros três exemplares dos Breguet 14 foram disponibilizados para o Curso de Aperfeiçoamento, marcando o início de sua utilização operacional. A partir de março de 1921, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 foram oficialmente incorporadas ao inventário da EAvM, sendo distribuídas para uso em treinamentos específicos. Equipadas com estações de rádio e equipamentos fotográficos, essas aeronaves desempenharam um papel crucial na formação operacional dos cadetes. Elas foram utilizadas em dois programas principais: Curso de Observador Aéreo: Voltado para o treinamento de militares em técnicas de reconhecimento e coleta de informações aéreas. Curso de Aperfeiçoamento: Destinado ao aprimoramento das habilidades de pilotos e à instrução em operações de combate e reconhecimento.  Na década de 1920, a Aviação do Exército Brasileiro consolidou-se como um componente estratégico das Forças Armadas, impulsionada pela modernização promovida pela Missão Militar Francesa e pela aquisição de aeronaves modernas, como os Breguet 14A2 e 14B2.
Em 1922, a criação do Grupo de Aviação no Sul marcou a primeira expansão significativa dos meios aéreos para além do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Além disso, em 1923, dois reides de longa distância realizados com aeronaves Breguet romperam as limitações operacionais impostas pela Missão Militar Francesa, destacando o potencial da aviação militar brasileira. Este documento analisa esses eventos e seu impacto na evolução da aviação do Exército. Em junho de 1922, o Exército Brasileiro estabeleceu o Grupo de Aviação no Sul, sediado no estado do Rio Grande do Sul, nas cidades de Santa Maria e Alegrete. Essa iniciativa representou o primeiro desdobramento quase permanente dos meios aéreos da Aviação Militar para fora do Campo dos Afonsos, ampliando a presença da aviação militar no território nacional. O Grupo foi composto por três esquadrilhas, cada uma com funções específicas: 1ª Esquadrilha de Bombardeio: Equipada com quatro aeronaves Breguet 14B2, voltadas para operações de bombardeio. 3ª Esquadrilha de Observação: Equipada com seis aeronaves Breguet 14A2, destinadas a missões de reconhecimento e observação. 1ª Esquadrilha de Caça: Embora mencionada, não há detalhes específicos sobre seu equipamento ou atividades na documentação disponível. As esquadrilhas de bombardeio e observação permaneceram ativas no Rio Grande do Sul até 1928, quando o Grupo de Aviação no Sul foi dissolvido. Após a dissolução, todo o acervo aeronáutico, incluindo as aeronaves Breguet, foi transferido de volta ao Campo dos Afonsos. Apesar de sua operação por quase seis anos, há escassez de registros detalhados sobre as atividades realizadas pelas aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 no Sul. Essa lacuna documental limita a compreensão do impacto operacional do Grupo na região. Na Escola de Aviação Militar (EAvM), sediada no Campo dos Afonsos, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 continuaram a desempenhar um papel central na formação de aviadores entre 1921 e 1922. A rotina de instrução permaneceu inalterada durante esse período, com ênfase em cursos como o Curso de Observador Aéreo e o Curso de Aperfeiçoamento. Contudo, dois incidentes marcaram esse período: a perda de duas aeronaves Breguet em acidentes, refletindo os desafios inerentes à operação de equipamentos complexos em um contexto de formação. No segundo trimestre de 1923, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 protagonizaram dois reides de longa distância que marcaram um momento de ruptura com as restrições operacionais impostas pela Missão Militar Francesa. Até então, os voos da Aviação Militar eram limitados a um raio de 10 km ao redor do Campo dos Afonsos, conforme diretrizes francesas. Esses reides não apenas desafiaram tais limitações, mas também ganharam destaque na imprensa nacional, reforçando o prestígio da aviação militar brasileira. O primeiro reide, realizado em 21 de abril de 1923, envolveu três aeronaves Breguet 14 (A2 e B2) que formaram a Esquadrilha Anhangá. O voo partiu do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, com destino à cidade de São Paulo. O reide foi concluído com sucesso, embora uma das aeronaves tenha sofrido um pequeno acidente durante o retorno ao Campo dos Afonsos. Esse evento demonstrou a capacidade da Aviação Militar de realizar missões de longa distância, ampliando seu alcance operacional. Dois dias após o primeiro reide, em 23 de abril de 1923, uma única aeronave Breguet 14 realizou um voo de longa distância entre o Campo dos Afonsos e a cidade de Curitiba, no Paraná. Esse reide, embora menos documentado, reforçou a quebra das limitações impostas pela Missão Militar Francesa e evidenciou a versatilidade das aeronaves Breguet em missões de maior complexidade. 

A criação do Grupo de Aviação no Sul e os reides de 1923 representaram marcos significativos na consolidação da Aviação do Exército Brasileiro. O desdobramento das esquadrilhas para o Rio Grande do Sul ampliou a presença da aviação militar no território nacional, enquanto os reides de longa distância demonstraram a capacidade operacional das aeronaves Breguet e a autonomia do Exército Brasileiro em relação às diretrizes francesas. Esses eventos fortaleceram a confiança nas capacidades da aviação militar e pavimentaram o caminho para sua expansão nas décadas seguintes. A Revolução de 1924, deflagrada em julho daquele ano, representou um dos principais conflitos internos enfrentados pelo Brasil no início do século XX. Com focos de rebelião em São Paulo e no Norte do país, o Exército Brasileiro mobilizou recursos significativos, incluindo os meios aéreos da Escola de Aviação Militar (EAvM), para conter as forças revoltosas. Entre os ativos empregados, destacaram-se as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2, que desempenharam papéis cruciais em missões de reconhecimento, observação e bombardeio. Contudo, o período pós-conflito foi marcado por severas dificuldades orçamentárias que comprometeram a operacionalidade dessas aeronaves, sinalizando o declínio de sua carreira na Aviação Militar do Exército Brasileiro. Este documento analisa o emprego dos Breguet 14 na Revolução de 1924 e os desafios enfrentados posteriormente. Com o início da Revolução de 1924, as forças legalistas, sob o comando do Exército Brasileiro, organizaram-se rapidamente para suprimir os focos rebeldes. A Aviação Militar, sediada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, foi acionada para apoiar as operações terrestres, fornecendo suporte aéreo essencial. Entre os meios disponíveis, seis aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 foram selecionadas para integrar as operações.As seis aeronaves Breguet foram desmontadas e transportadas por via férrea até a cidade de Mogi das Cruzes, no estado de São Paulo, onde foram reassembladas para iniciar as operações contra as forças rebeldes.  A escolha de Mogi das Cruzes como base operacional reflete a necessidade de posicionar os meios aéreos próximos ao principal foco de resistência em São Paulo.  As operações aéreas com os Breguet 14A2 e 14B2 ocorreram entre os dias 19 e 28 de julho de 1924 e foram divididas em duas fases principais: Missões de Reconhecimento e Observação (19 a 21 de julho):  Inicialmente, as aeronaves foram empregadas em missões de reconhecimento aéreo e observação, coletando informações sobre as posições e movimentos das forças revoltosas. Essas missões foram fundamentais para o planejamento das operações terrestres. Surtidas de Bombardeio (a partir de 22 de julho): A partir do dia 22, os Breguet 14 passaram a realizar ataques de bombardeio contra alvos estratégicos, muitos localizados no perímetro urbano da cidade de São Paulo. Apesar da escala limitada das operações aéreas, o emprego dos Breguet 14A2 e 14B2, juntamente com outras aeronaves da Aviação Militar, produziu efeitos notáveis. As ações aéreas contribuíram para desestabilizar as forças revoltosas, demonstrando o potencial da aviação como ferramenta de apoio tático. 
As severas restrições financeiras enfrentadas pelas Forças Armadas Brasileiras após 1924 limitaram os investimentos na Aviação Militar. A manutenção das aeronaves Breguet, que dependiam de componentes importados, foi particularmente afetada. A escassez de recursos dificultou a aquisição de peças de reposição, essenciais para reparar danos causados por acidentes operacionais ou pelo desgaste natural. Como resultado, os índices de indisponibilidade de voo aumentaram significativamente, comprometendo a capacidade operacional da frota. Apesar de sua robustez, projetada para suportar condições adversas, as aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 sofreram com o desgaste acumulado e os danos decorrentes de acidentes. A falta de peças de reposição levou à prática de canibalização, na qual aeronaves inoperantes eram desmontadas para fornecer componentes às unidades ainda em condições de voo. Em 1927, a frota de Breguet 14 foi reduzida a apenas seis ou sete células operacionais, com as demais servindo como fonte de peças. Em 1928, os últimos Breguet 14A2 e 14B2 foram oficialmente suspensos das atividades de voo da Aviação Militar do Exército Brasileiro. As aeronaves remanescentes foram alienadas e vendidas como sucata, encerrando sua carreira no Brasil. Infelizmente, nenhuma unidade foi preservada para fins históricos, resultando na perda de um importante patrimônio da aviação militar brasileira. Além de sua utilização pelo Exército Brasileiro, as aeronaves Breguet também foram empregadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que adquiriu duas unidades em 1923 para o Serviço de Aviação da Brigada Militar. Essa aquisição representa um caso singular de uso regional dessas aeronaves. As duas aeronaves foram adquiridas na Argentina por meio do representante local da Société Anonyme des Ateliers d’Aviation Louis Breguet, Sr. Patrick Hassett. Embora não haja registros precisos sobre o modelo exato, acredita-se que fossem do tipo Breguet 14A2, voltado para missões de observação. Fotografias de época sugerem que as aeronaves poderiam pertencer à variante Breguet 14T, caracterizada pela presença de tanques suplementares de combustível sob a asa superior, uma modificação destinada a aumentar a autonomia de voo. As aeronaves receberam as matrículas BM-1 e BM-2 e foram integradas ao Serviço de Aviação da Brigada Militar, com o objetivo de apoiar operações regionais. Não há registros detalhados sobre o emprego dessas aeronaves em conflitos regionais ou outras atividades no Rio Grande do Sul. A ausência de documentação também impede a determinação de seu destino final, seja por desativação, venda ou destruição. Essa lacuna documental reflete os desafios de preservação histórica enfrentados pelas instituições militares regionais na década de 1920. As aeronaves Breguet 14A2 e 14B2 desempenharam um papel significativo na consolidação da Aviação do Exército Brasileiro, mas seu declínio após 1924 ilustra os desafios de manter uma frota operacional em condições adversas. A alienação das aeronaves em 1928, sem preservação de unidades para fins históricos, representa uma perda para o patrimônio militar brasileiro. Por outro lado, a utilização de aeronaves Breguet pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul destaca a versatilidade dessas aeronaves e o interesse em sua aplicação em contextos regionais. Esses eventos reforçam a importância de políticas sustentáveis para o desenvolvimento e manutenção da aviação mili


Em Escala
Para representar o Breguet 14A2, foi utilizado o único kit disponível na escala 1/48, um modelo clássico produzido pela K & B Manufacturing no início da década de 1970. Este modelo correspondente à versão de reconhecimento operada pela Aviação Militar do Exército Brasileiro. Os decais utilizados foram desenvolvidos pelo modelista Rafael Pinheiro em um set especifico para este período.

O padrão de cores (FS) descrito a seguir foi determinado com base em registros consultados em perfis disponíveis em publicações especializadas, sites e fotografias de época. Esse esquema de pintura corresponde a um padrão previamente identificado em outras aeronaves utilizadas pela Escola de Aviação Militar (EAvM) do Exército Brasileiro durante o mesmo período..

Bibliografia :

- Aviação Militar Brasileira 1916 – 2015 – Jackson Flores Jr
- Breguet 14  Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Breguet_14
- O Serviço de Aviaçao da Brigada Militar do Rio Grande do Sul – Diego Klein Penha Unisul

Curtiss JN-4D Jenny no Brasil

História e Desenvolvimento.
A empresa Curtiss Airplane and Motor Company, detém um grande legado de pioneirismo em sua história, seu fundador o Glenn Hammond Curtiss (21 de maio de 1878 - 23 de julho de 1930) foi um dos norte-americanos pioneiros na indústria aeronáutica nos Estados Unidos. Este visionário iniciou sua carreira como ciclista profissional e construtor de bicicletas, tendo evoluído rapidamente para a produção dos primeiros modelos de motocicletas.  Os eventos decorrentes do primeiro voo dos Irmãos Wright em 17 de dezembro de 1903 nas proximidades de  Kitty Hawk, na Carolina do Norte, levariam Glenn a vislumbrar um novo e promissor nicho de mercado, com este anseio se materializando na produção dos primeiros motores aeronáuticos leves em 1904 para o emprego em dirigíveis, com a primeira aplicação real acontecendo em julho do mesmo ano quando a aeronave “California Arrow” propulsada por um motor de motocicleta Curtiss 9 HP V-twin realizou o primeiro voo, se tornado o primeiro dirigível de sucesso na América do Norte. Em 1908, Glenn Curtiss ingressou na Associação de Experimentos Aéreo – AEA (Aerial Experiment Association), um grupo pioneiro de pesquisa, fundado por Alexander Graham Bell em Beinn Bhreagh, Nova Escócia, para construir máquinas voadoras. Entre 1908 e 1910, a AEA produziu quatro aeronaves, com o terceiro modelo sendo totalmente projetado por Glenn. Em 8 de junho de 1911, Glenn Curtiss recebeu a licença de piloto nº 1 do Clube Aéreo da América (Aero Club of America), porque o primeiro lote de licenças foi emitido em ordem alfabética. Durante os anos seguintes a promissora empresa de construção aeronáutica começou a participar do segmento de aviação desportiva, passando a ensaiar seus primeiros passos no segmento militar.

Em 14 de novembro de 1910, o piloto de testes e demonstração da Curtiss Airplane and Motor Company, Eugene Ely, decolou de uma plataforma de voo improvisada que fora montada no convés dianteiro do cruzador USS Birmingham (CL-2), este evento bem-sucedido marcaria o início de significativo relacionamento entre esta empresa e a Marinha Americana (US Navy), simbiose esta que se manteria por décadas. Em dezembro do mesmo sob supervisão do próprio Glenn Hammond Curtiss, um centro de treinamento de pilotos militares seria montado para assim criar o berço da aviação militar dos Estados Unidos. Novos avanços seriam introduzidos pela empresa como a primeira aeronave anfíbia e a primeira aeronave capacitada para pousos e decolagens em navios de superfície. Em meados desta década a empresa começou a produzir aeronaves biplanos destinadas a missões de treinamento a fim de fazer parte a grande demanda para a formação de pilotos para a Marinha Americana (US Navy) e a Aviação do Exército Americano (US Army). Em 1915 a empresa combinou as melhores características dos treinadores modelo J e modelo N, resultando na criação de uma nova aeronave denominada como Model JN ou “Jenny”. Apesar de promissores as versões Curtiss JN-1 e JN-2 foram produzidas em baixa escala muito em virtude da ocorrência de dois acidentes fatais, a solução para este problema seria materializada na versão Curtiss JN-3 que passava a contar com um motor mais potente. Passando a serem entregues em março de 1916 para o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em tempo de serem empregados em missões de observação aérea durante a operação Pancho Villa no México.
A versão Curtiss JN-3 seria extremamente elogiada pelos instrutores, pilotos e equipe de manutenção das forças armadas norte-americanas com estas características positivas não passando desapercebidas por outros países com interesse na implantação de uma moderna arma aérea. Em 1916 o comando do Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps) solicitou uma consulta a Curtiss Airplane and Motor Company, para a aquisição de uma aeronave de treinamento básico, a este pedido somou-se o interesse do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para a adoção de mais aeronaves que deveriam incorporar algumas melhorias técnicas. Assim a união destas duas demandas resultaria no nascimento da versão Curtiss JN-4, esta nova aeronave diferia dos modelos anteriores por contar com uma estrutura mais leve, introdução de ailerons em ambas as asas, um leme maior, novos formatos nas asas, estabilizadores e elevadores.  O novo avião passava a ser equipado com o motor OX-5 V8 de 90 hp que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 121 km/h e um teto de serviço de 2.000 metros, representado assim um desempenho muito superior quando comparado a seus antecessores. Além de receber grandes encomendas por parte das forças armadas norte-americanas e britânicas o modelo passaria a ser produzido localmente no Canadá para atendimento as demandas internas, com este modelo recebendo a designação de Curtiss JN-4 "Canuck".

O Curtiss JN-4 foi provavelmente o mais famoso avião norte americano a participar da Primeira Guerra Mundial, sendo amplamente utilizado durante o conflito para treinar pilotos no estágio primário, detendo a marca de ter participado da formação de mais de 95% dos cadetes da Marinha dos Estados Unidos (US navy) e do Exército dos Estados Unidos (US Army) naquele período. Já os britânicos empregariam os  Curtiss JN-4 e JN4- Canuck em conjunto com os Avro 504s no processo de formação de seus pilotos militares principalmente nas unidades de treinamento pertencente a  escola de aviação em Ontario no Canadá.  Embora originalmente desenvolvido e empregado  ostensivamente  como um avião de treinamento, o Curtiss JN-4 Jenny seria extensivamente modificado enquanto estava em serviço para assumir funções adicionais para o emprego em missões especializadas. Devido à sua estrutura robusta, mas de fácil adaptação, seu perfil podia ser modificado, permitindo assim a adoção esquis ao invés do trem de pouso convencional, os Curtiss JN-4 canadenses podiam ser operados o ano todo, mesmo em condições climáticas adversas. Sua versatilidade de customização permitiria ainda a aeronave ser tornar o primeiro avião  militar a ser empregado em missões de remoção aeromédica, com a instalação de uma maca na parte posterior ao assento do piloto. Nesta configuração os Curtiss JN-4 possibilitaram o salvamento de inúmeras vidas de soltados nos campos da Europa durante a Primeira Guerra Mundial. Poucas aeronaves seriam ainda equipadas com porta bombas leves sob a fuselagem ou metralhadoras para autodefesa, porém nenhuma destas células teve  registro de atuação em combate.
Após o término do conflito as aeronaves seguiram em serviço militar operando em vários países, cabe ainda a aeronave o registro de ser crédito ser a primeira a executar com êxito um ataque de bombardeio de Mergulho, no início do ano de 1919, durante intervenção militar dos Estados Unidos no Haiti, sendo esta missão comandada pelo Tenente Lawson H. Sanderson do Corpo de Fuzileiros Navais. O sucesso desta missão em particular influenciaria Sanderson a partir de 1920 a iniciar pioneiramente o aprimoramento das técnicas de bombardeiro de mergulho com vistas a fornecer um eficiente apoio aéreo a infantaria. Neste período o avançar da tecnologia aeronáutica logo tornaria o Curtiss JN-4 obsoleto, passando a ser destacado para operação em atividades de segunda linha nas forças armadas norte americanas. Com um grande número de aeronaves em bom estado existente em sua frota, o modelo passou a ser cedido em condições econômicas favoráveis a nações como Brasil, Argentina, Cuba e China Nacionalista. Ao todo foram produzidas 6.813 células até fins do ano de 1920.

Emprego nas Forças Militares Brasileiras.
Da mesma forma que a humanidade deve a um brasileiro o pioneirismo do primeiro voo em um "engenho" mais pesado que o ar, os brasileiros devem à Marinha do Brasil (MB) o significativo esforço por ela realizado, para a implantação da aviação em nosso país. Cinco anos após o voo pioneiro de Santos Dumont, ou seja, em 1911, dois acontecimentos já mostravam o interesse do Ministério da Marinha em adentrar a este novo nicho operacional, através de uma visão prospectiva das potencialidades do seu emprego no campo militar.  O mais representativo destes acontecimentos ocorreria no dia 29/04/1911, quando o Tenente da Marinha Jorge Henrique Moller, receberia o seu "brevet" de piloto, na França, sendo este o primeiro militar brasileiro a receber tal qualificação. Já em 14 de outubro do mesmo ano, seria fundado o Aeroclube Brasileiro.  A história da Aviação Naval Brasileira se inicia em 23 de agosto de 1916, com a assinatura, pelo Presidente Wenceslau Braz, do Decreto de criação da Escola de Aviação Naval (EAvN), primeira escola militar de aviação do país e, portanto, o berço da nossa aviação de combate representando o marco do nascimento da Aviação Naval da Marinha. De suas instalações iniciais no antigo Arsenal de Marinha, a Escola de Aviação Naval (EAvN) seria logo transferida depois para a ilha das Enxadas.  Esse período inicial de vinte e cinco anos  entre 1916 e 1923, passou a ser conhecido como a primeira fase da Aviação Naval, registrando a ocorrência de diversos fatos marcantes, pelo pioneirismo das atividades desenvolvidas, tais como: realização dos primeiros "raids" aéreos entre as cidades do Rio de Janeiro e Angra dos Reis, e entre o Rio de Janeiro e Campos; transporte da primeira mala aérea civil e da primeira mala aérea militar; primeiro voo de Santos Dumont, como passageiro, em uma aeronave militar brasileira; primeiro voo de um Presidente da República em uma aeronave militar brasileira; e a participação de aviadores navais brasileiros em operações reais de patrulha, durante a Primeira Guerra Mundial, integrando o 10° Grupo de Operações de Guerra  do Corpo Aéreo Real RFC (Royal Flying Corps).

A carreira dos Curtiss JN-4 Jenny, no Brasil, tem início em 1920, quando a Força Pública Paulista (FSP), atual Polícia Militar do Estado de São Paulo, adquiriu nos Estados Unidos cinco células usadas da versão JN-4D Curtiss Jenny para sua Esquadrilha de Aviação, que receberiam as matrículas de Nº 101 a Nº 104. Existem, no entanto, poucos registros sobre a operação destas aeronaves. No início do ano de 1926 seriam adquiridos também pela Força Pública Paulista (FSP), mais oito aeronaves desta mesma versão, que receberam as matrículas de Nº 107 a Nº 114, com algumas destes aviões recebendo nomes de batismo como Tenente Chantre, Borba Gato, Paes Leme, Raposo II, Manoel Preto entre outros. Estas aeronaves estiveram ativas durante as décadas seguintes, tendo participado de inúmeros eventos políticos importantes como o combate contra a Divisão Revolucionária em Goiás em 1926, Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, com as aeronaves remanescentes sendo doadas a operadores civis, com uma destas sendo destinada ao uso da aviadora pioneira Anésia Pinheiro Machado. Já seu uso junto Aviação Naval da Marinha do Brasil, tem início em meados da década de 1920, quando foi decidido incrementar a dotação de aeronaves de instrução a disposição da Escola de Aviação Naval (EAvN). Assim o Ministério da Marinha, iniciou no exterior buscas do tipo de "compras de oportunidade" de modelos que pudessem atender a esta demanda. Este processo resultaria na aquisição de quatro células usadas da versão Curtiss JN-4D que eram oriundas dos estoques da aviação naval da Marinha Americana (US Navy), e que recentemente haviam sido desativadas por serem consideradas obsoletas, sendo substituídos pelas novas aeronaves Consolidated PT-3, se tornando assim uma compra de interessante, não só pelo custo baixo de aquisição oferecido, como também por apresentarem pelo menos mais meio ciclo de vida das células disponível.
Estas aeronaves como citado anteriormente pertenciam versão, a Curtiss JN-4D, que representava o modelo mais evoluído tecnicamente e de maior êxito da família Curtiss Jenny, sendo construídas 4.175 aeronaves até o encerramento da linha de produção. Estas aeronaves, foram recebidas no país, ainda portando o esquema de cores e a numeração serial padrão da aviação naval da   Marinha Americana (US Navy). Logo após a sua montagem nas oficinas do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ), estas células receberam o registro oficial da frota, sendo matriculadas como “01 á 04”. Posteriormente estas aeronaves receberam os cocares e marcações da Aviação Naval da Marinha Brasileira, quando receberam o novo padrão de matrícula, recebendo os seriais de “421 a 424". Apesar de nominalmente, aumentarem a frota de aviões a disposição da Escola de Aviação Naval (EAvN), os "novos" quatro Curtiss Jenny JN-4D foram pouco empregados durante o ano de instrução de pilotos navais de 1926, não se tem registro oficial sobre quais os fatores que levaria a esta limitação operacional, seja ela baseada em fatores técnicos ou ainda de formação de pessoas específico para operação e manutenção. Está limitada folha operacional, não isentaria as aeronaves de incidentes, sendo que no mesmo ano entre os meses de setembro e novembro, dois acidentes de pequena monta afligiram a disponibilidade dessas aeronaves a metade, com duas destas aeronaves sendo desmontadas parcialmente para a recuperação da condição de voo.

O ano seguinte não apresentaria significativo aumento no emprego dos aviões, junto a 3ª Esquadrilha da Flotilha de Instrução da Esquadra Terrestre, que muito raramente registravam mais do que quinze surtidas mensais na primeira metade de 1927. De fato, os voos daqueles quatro Curtiss JN-4D Jenny neste ano totalizariam apenas trezentas e dezenove surtidas de instrução, conquanto o número reduzido de alunos matriculados na Escola de Aviação Naval (EAvN), naquele ano em específico explique, em parte a fraca utilização em missões de treinamento que se deu a estas aeronaves norte-americanas. Existem ainda indicações que apesar das aeronaves possuírem ainda disponíveis meio ciclos de voo operacional nos registros técnicos, problemas de ordem estrutural começaram a ser observados quando de seu uso no Brasil, com este fator provavelmente influenciado consideravelmente nos índices de disponibilidade. Reduzida a três aeronaves, em face de um acidente que causou a perda total de uma célula em agosto de 1927, a frota de Curtiss JN-4D voou intermitentemente nos primeiros meses de 1928, executando, sobretudo, poucos voos de adestramento em prol da Flotilha de Instrução da Esquadra Terrestre.
No começo do segundo semestre de 1928, haviam somente duas células disponíveis em condições de voo, com esta situação sendo o reflexo natural de acidentes e rupturas nos estoques de peças de reposiçao. Neste momento novas aeronaves de treinamento inglesas passavam a ser incorporadas a Aviação Naval da Marinha do Brasil, levando a decisão por parte do comando para se proceder a desativação dos últimos Curtiss JN-4D Jenny no fim de 1928, encerrando a utilização efêmera e pouco profícua desses aviões na instrução de voo dos pilotos em curso na Escola de Aviação Naval (EAvN). Infelizmente nenhuma aeronave seria preservada para a posteridade. 

Em Escala.
Para representarmos o Curtiss JN-4D " 423 " da Aviação Naval da Marinha do Brasil, empregamos a única opção disponível em kit na escala 1/48 para este modelo, pertencente a Lindberg, fabricante que, apesar de ter fama de produtos de baixo nível de qualidade e detalhamento, conseguiu nos surpreender positivamente. Não há necessidade de se implementar quaisquer alterações para representar a versão empregada pela aviação naval. Fizemos uso de decais oriundos diversos sets da FCM Decais para finalizarmos o modelo.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados nas aeronaves de treinamento da marinha americana com a adoção dos cocares e marcações padrão da Aviação Naval da Marinha do Brasil, esquema este que perdurou durante toda a carreira do modelo no Brasil. Já as aeronaves empregadas pela Força Pública Paulista (FSP), fizeram uso de pelo menos três esquemas distintos de pintura e identificação.


Bibliografia:

- Curtiss JN-4D Biplano de Treinamento - http://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/Curtiss_Jenny/Curtiss_Jenny.htm

- Curtiss JN-4 Jenny – Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Curtiss_JN-4

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 - 2015 – Jackson Flores Jr

- Curtiss JN-4D Jenny no Brasil, por Aparecido Camazano Alamino – Revista Asas

- Aviação Militar Brasileira 1916 - 1984 - Francisco C. Pereira Netto


S-70A Black Hawk HM-2

História e Desenvolvimento
Fundada em 23 de maio 1923 a Sikorsky Aero Engineering Corporation, se tornaria a empresa pioneira no desenvolvimento e produção de aeronaves de asas rotativas, com o gênio Igor Sikorsky sendo responsável pelo primeiro modelo operacional o Sikorsky R-4, que realizaria suas primeiras missões ainda durante as fases finais da Segunda Guerra Mundial, sendo empregado com sucesso nos teatros de operações da China-Birmânia-Índia e Pacífico Sul. O projeto conceitual do Sikorsky R-4, passaria a nortear o desenvolvimento da maioria dos novos modelos de aeronaves de asas rotativas desenvolvidas a seguir. A partir da década de 1950 a empresa voltaria a figurar como um dos principais fornecedores de aeronaves de asas rotativas para as forças armadas norte-americanas com seus modelos Sikorsky S-55 e S-58, empregados em uma série de tarefas operando desde o transporte até guerra antissubmarino (ASW). No entanto seu grande trunfo comercial fututo começaria a tomar forma durante o início da década de 1960, quando os helicópteros da família Bell UH-1 começaram a ser empregados maciçamente no conflito do Vietnã, chegando a envolver mais 3.000 células do modelo em todo o conflito, equipando todas as forças armadas norte-americanas. Esta operação em larga escala iria gerar uma nova doutrina de operação de aeronaves de asas rotativas que foram empregues em missões de evacuação aero médica, busca e salvamento, assalto aéreo, transporte de tropas, apoio aéreo aproximado, comando e controle e transporte de cargas. Apesar do excelente desempenho da família Bell UH-1 Iroquis, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) identificaria a necessidade de uma nova, aeronave desta categoria deveria ser implementada, sendo mais apta a sobreviver em operação nos campos de batalha. Assim no final da mesma década seriam criados estudos que envolveriam as características e especificações técnicas e de desempenho para o desenvolvimento de uma nova aeronave de asas rotativas de porte médio, destinada a tarefas de transporte de tropas, Combat SAR (busca e salvamento), assalto aéreo e ligação. Este programa recebeu o codinome de “UTTAS” (Utility Tatical Transport Aircraft System – Sistema de Aeronave de Tático Utilitário e Transporte), seu ambicioso objetivo era o de desenvolver uma aeronave superior, que substituísse a médio e longo prazo os helicópteros da família Bell UH-1, que até então representavam o esteio da frota da força de aeronaves de asas rotativas das forças armadas norte-americanas.  

Entre os principais requisitos exigidos pelo programa UTTAS (Utility Tatical Transport Aircraft System) estava aquele que apregoava uma aeronave com dois motores turbo eixo, permitindo assim uma maior capacidade de sobrevivência da célula e do grupo motriz em cenários de conflagração, podendo suportar danos em combate, levando assim a necessidade de criação de um novo motor turbo eixo para atender a estas demandas, processo este  que culminaria no exitoso projeto do conjunto General Electric T700.  Os demais parâmetros deste programa como confiabilidade operacional, sobrevivência em ambientes de combate e custos de ciclo de vida reduzidos, iriam resultar em recursos inovadores para aeronaves de asas rotativas até então. Entre estes os motores com desempenho otimizado para operação e altas temperaturas ou altas altitudes, design modular de conjuntos de componentes críticos, caixas de transmissão secas; subsistemas redundantes (hidráulicos, elétricos e de vôo) com alta tolerância a impactos de balística; blindagem para tripulantes e tropas, entre outros melhoramentos incorporados no programa da futura aeronave. Ainda que este helicóptero apresentasse dimensões superiores aos Bell UH-1D/H, deveria ainda possibilitar ser transportado a bordo de um Lockheed C-130 Hércules. Este processo capitaneado então pelo comando do Exército Americano (US Army), teve o início oficial em janeiro de 1972 com o lançamento do RFP (Request for Proposal – Pedido de Proposta). Diversas empresas nacionais manifestariam interesse no programa, que previa a aquisição de um suntuoso lote de células a curto e médio prazo. Análises detalhadas destas propostas levariam a definição de dois candidatos finalistas, sendo estes representados pelo Sikorsky YUH-60A e Boeing-Vertol YUH-61A. Estas duas empresas receberiam um contrato de financiamento para a construção de protótipos de avaliação, com primeiro voo do modelo Sikorsky Aircraft ocorrendo em 17 de outubro de 1974, sendo seguido um mês depois pelo seu concorrente. Logo na sequência mais dois protótipos de cada modelo seriam produzidos a fim de serem submetidos a um extenso programa de avaliação e testes em voo. Este programa seria dividido em um estágio preliminar com início previsto em novembro de 1975, e uma fase final programada para o mês de março do ano seguinte. Em uma detalhada análise comparativa a aeronave da Sikorsky Aircraft venceu seu concorrente o Boeing-Vertol YUH-61A, em quase todos os parâmetros exigidos.
Desta maneira o Sikorsky YUH-60A seria declarado como vencedor do programa UTTAS (Utility Tatical Transport Aircraft System), recebendo assim em dezembro de 1976 um primeiro contrato de produção de sessenta aeronaves para o Exército Americano (US Army). As primeiras entregas as unidades de treinamento e conversão do agora designado Sikorsky UH-60A Black Hawk (nomeado em homenagem ao líder de guerra nativo-americano), ocorreram a partir de outubro de 1978, com o modelo sendo classificado como operacional a partir de junho do ano seguinte. Sua missão operacional era o de substituir o Bell UH-1H como aeronave de transporte tático de tropas, podendo nesta configuração transportar até onze soldados totalmente equipados. O bom desempenho operacional levaria ao desenvolvimento do UH-60C destinada a atuar como aeronave especializada em missões de comando e controle. Em 1980, trinta células seriam convertidas para o emprego em “Operações Especiais”, sendo equipados aviônicos adicionais, sistemas de visão e navegação noturna, sistema de visão infravermelha (FLIR), tanques de combustível suplementares e armamento defensivos e ofensivo na forma de duas metralhadoras rotativas do tipo Minugun M-134 de 7,62 mm, com estas aeronaves sendo exclusivamente direcionadas ao 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais (160TH SOAR). Em 1988 seria a vez do desenvolvimento do MH-60K Black Hawk, primeira versão equipada com sonda para reabastecimento em voo, radar de terreno AN/APQ-174B, passando a ser equipado com os motores T700-GE-701C. O aumento no peso bruto da aeronave nestas versões especializadas levaria o comando do Exército Americano (US Army) a solicitar melhorias no projeto para a manutenção dos parâmetros de desempenho original. Esta demanda levaria a atualização dos motores T700-GE-701C, adoção de uma caixa de câmbio mais robusta (ambos desenvolvidos para o SH-60B Seahawk). Esta alteração no grupo motopropulsor permitiu aumentar sua capacidade de elevação externa passando para 450 kg e 4.100 kg, um fator importante foi a incorporação de um novo sistema de controle de vôo automático (AFCS) que facilitava o controle de voo devido aos motores mais potentes que passavam a exigir mais atenção na condução da aeronave.

Esta nova versão receberia a designação militar de UH-60L Black Hawk, com sua produção em série sendo iniciada em 1989, com as primeiras aeronaves entrando em serviço ativo em meados do ano seguinte. Paralelamente a Sikorsky Aircraft Co. seria contratada para promover a atualização da frota remanescente de helicópteros UH-60A Black Hawk para este novo padrão. Durante os anos seguintes esta família de aeronaves foi se tornando o esteio da força de helicópteros das forças armadas norte-americanas, sendo desenvolvidas novas versões especializadas como o EH-60L (sistemas de missão), UH-60Q - HH-60L (evacuação aero médica), MH-60L (operações especiais), MH-60L DAP (armado com misseis Hellfire e Stinger) e UH-60A RASCAL (versão laboratório para a NASA). No entanto no em fins da década de 1990 vislumbrou-se a necessidade de promover a renovação da frota a médio prazo, principalmente focando na substituição das primeiras células a entrar em serviço, cujo ciclo de vida já completava quase vinte anos, desta maneira definiu pelo desenvolvimento de uma nova versão atualizada da aeronave. Esta demanda seria atendida no ano de 2001 com a aprovação do programa UH-60M, esta nova aeronave estaria equipada como novos motores General Eletric T700-GE-701D, aviônica e sistemas de controle de voo, comunicação e navegação de última geração. Em fevereiro de 2005 o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, aprovou a produção de um pequeno lote da nova variante para fins de ensaios e avaliação, com as primeiras 22 células sendo entregues a partir de julho do mesmo ano. Este programa de testes culminaria na assinatura de um contrato para a aquisição de 1.227 células, que pelo cronograma deveriam ser entregues até o final do ano de 2007. Em março de 2009, um novo contrato no valor de US$ 1,3 bilhão, seria assinado para produção de mais 102 aeronaves configuradas para missões especializadas, com este recebendo um aditivo em 2014 para mais 100 aeronaves customizadas.
O Sikorsky UH-60 Black Hawk, teria seu batismo de fogo, durante a invasão de Granada no Caribe em 1983, sendo novamente empregados no continente na invasão do Panamá em 1989. Durante a primeira Guerra do Golfo em 1991, o UH-60 Black Hawk participaria da maior missão de assalto aéreo com helicópteros realizada pela aviação do Exército dos Estados Unidos (US Army), envolvendo mais de trezentas aeronaves de asas rotativas. O modelo teria destacada atuação na crise de Mogadíscio, na Somália em 1993, onde duas aeronaves foram abatidas por açao de lança foguetes – RPGs das forças somalis. Atualmente as linhas de produção Sikorsky Aircraft Corporation, continuam em plena atividade, acumulando mais de quatro mil e novecentas células entregues até fins do ano de 2022, dispostas em mais de trinta versoes (muitas destas especializadas).  Grande parte destas aeronaves se mantem em serviço militar nos Estados Unidos, República do Afeganistão, Áustria, Austrália, Bahrain, Brasil, Brunei, Chile, China, Colômbia, Egito, Albânia, Eslováquia, Israel, Japão, Jordânia, Malásia, México, Marrocos, Lituânia, Coreia do Sul, Filipinas, Polônia, Portugal, Arábia Saudita, Suécia, Taiwan, Tailândia, Tunísia, Turquia, Ucrania e Emirados Árabes. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A origem da Aviação Militar do Exército Brasileiro tem como cenário, os campos de batalha de Humaitá e Curupaiti, na Guerra da Tríplice Aliança em 1867, onde balões foram empregados na observação das linhas inimigas. Após a guerra, foi criado o Serviço de Aerostação Militar, cujas atividades balonísticas se desenvolveram por mais quarenta e sete anos. Em 1913, foi criada a Escola Brasileira de Aviação (EsBAv) no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro (RJ), em 1931 marcaria o inicio das atividades do Correio Aéreo Militar, organização esta que em conjunto com Correio Aéreo Naval, trariam não só repercussões profundas na evolução da aviação militar, mas também na integração do país. Em 20 de janeiro de 1941 seria criado o Ministério da Aeronáutica (MAer), atribuindo-se à Força Aérea Brasileira a exclusividade da realização de estudos, serviços ou trabalhos relativos à atividade aérea nacional, marcando assim o encerramento da chamada “Primeira Fase da Aviação do Exército Brasileiro”. Os conflitos ocorridos após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, denotariam a importância das forças terrestres em contar com o fundamental apoio de aeronaves de asas rotativas, seja para missões de transportes, assalto aéreo ou apoio aproximado. Esta realidade seria percebida também pelo comando do Exército Brasileiro, que em seu audacioso plano de modernização da força nacional denominado FT-90 (Força Terrestre 90), enfatizaria a necessidade de se implantar uma aviação própria de asas rotativas, com isso, propiciar um maior poder, mobilidade e flexibilidade à Força Terrestre. Este programa culminaria em 1986, na criação da Diretoria de Material de Aviação do Exército (DMAvEx) e do 1º Batalhão de Aviação do Exército (1º BAvEx). Fisicamente, a Aviação Militar do Exército passaria a tomar forma, com a instalação desta nova unidade na cidade de Taubaté no interior do estado de São Paulo, em janeiro de 1988. Inicialmente a Aviação do Exército passaria a ser equipada com aeronaves HB 350 L1,  AS 550 A2 Fennec e SA-65 K Pantera fornecidas pelo consórcio franco-brasileiro Aeroespatiale – Helibras.

Durante os anos seguintes o Exército Brasileiro viria a consolidar sua doutrina operacional no emprego de aeronaves de asas rotativas, logrando êxito em suas atividades, preparando assim sua força para saltos mais ousados. Em 10 de março de 1995 o Brasil passaria a participar da Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP), iniciativa de paz multinacional criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que tinha por objetivo solucionar o conflito fronteiriço entre o Equador e Peru, que ocorria no vale do Cenepa e na Cordilheira do Condor. Esta iniciativa seria capitaneada pela Organização das Nações Unidas (ONU), e visava ampliar a capacidade regional de resolução de conflitos com autonomia, rompendo com a tradição da região em resolver os rotineiros conflitos através de arbitragem externa (como a Corte Internacional de Justiça, Organização das Nações Unidas - ONU, Vaticano ou outros países extracontinentais). Seria determinado o deslocamento de um destacamento de quase duas centenas de militares brasileiros que em conjunto com oficiais das forças armadas argentinas, chilenas e norte-americanas, atuariam como observadores, oficiais e equipe de apoio. Esta demanda deveria ainda incluir um grupo aéreo multinacional formado por aeronaves de asa fixa e asas rotativas para poder suportar as atividades deste grupo de observadores. Nesta época, a Aviação do Exército Brasileiro era composta por helicópteros Helibras - Aeropastiale HB 350 L1 (HA-1) Esquilo, AS 550 A2 Fennec (HA-1) e SA-65 K Pantera (HM-1), aeronaves de pequeno e médio porte que não era indicados necessariamente para o cumprimento das missões que deveriam ser executadas por este grupo aéreo multinacional, que contaria ainda com uma aeronave de transporte Cessna C-98 Caravan da Força Aérea Brasileira.
Por atuar na coordenação geral desta missão, criar-se-ia a possibilidade inédita de incorporação  de quatro aeronaves Sikorsky S-70A-36 Black Hawk, fazendo uso dos termos do programa FMS Vendas Militares (Foreign Military Sales), com esta demanda sendo autorizada pelo Congresso Americano e Departamento de Defesa em julho de 1997. Após a formalização da venda, uma comitiva de oficiais do Exército Brasileiro seria enviada a cidade de Stratford, Connecticut, sede da Sikorsky Aircraft Corporation, para realização  do curso de pilotagem e manutenção básicas das aeronaves S-70A Black Hawk. Após a finalização deste programa, em novembro de 1997, os militares brasileiros, entre eles dez pilotos, transladariam os quatro Sikorsky S-70A Black Hawk, agora designados pela Aviação do Exército Brasileiro como HM-2 (Helicóptero de Manobra 2), para a sede do Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP), na região de Patuca no Equador. Os Sikorsky S-70A Black Hawk vieram com o padrão de pintura tático do Exercito dos Estados Unidos (US Army), verde oliva escuro, e receberam faixas brancas, aplicadas em três pontos na fuselagem, e a inscrição MOMEP nas portas principais, para identificar mais visivelmente a aeronave como a serviço da ONU (Organização das Nações Unidas). Estas aeronaves matriculadas como HM-2 “EB 3001 a 3004” passariam a apoiar diretamente as ações da Coordenação Geral, bem como todas as atividades daquela força tarefa na região, incluindo fiscalização de dos pontos de fronteiras e da zona desmilitarizada, patrulha de fronteira, apoio logístico a pelotões e pontos de observadores. Além das missões em proveito da missão os HM-2 realizariam diversas surtidas humanitárias, transportando civis a hospitais, resgatando feridos e prestando importando apoio médico em áreas de risco.

Talvez a missão que mais sintetize a participação no Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP) tenha ocorrido no dia 9 de agosto de 1998 no vale do Cenipa, quando o HM-2 Black Hawk “EB 3004” realizou uma evacuação aeromédica noturna de um soldado equatoriano que havia pisado em uma mina terrestre. Esta missão que poderia ser considerada como difícil e perigosa, seria realizada em um terreno acidentado, a uma altitude de 7 mil pés (2.133 metros), e só pode ser efetivada como pleno êxito,  graças as qualidades da aeronave. Neste momento o grande diferencial seria proporcionado pela excelente capacidade operacional da tripulação, aliada ao  emprego do sistema de óculos de visão noturna (NVG) modelo Litton ANVIS-6. No entanto esta mesma célula, sofreria um acidente em 13 de setembro de 1988, quando a aeronave ficou parcialmente destruída, deixando uma vítima fatal e cinco feridos. Após ser resgatada do local do acidente, este HM-2 Black Hawk seria enviada aos Estados Unidos,  para procedimento de recuperação nas instalações de Sikorsky Aircraft Corporation na cidade  Stratford, no estado de  Connecticut, em novembro do mesmo ano. Rapidamente a mesma aeronave seria  recolocada em plenas condições de voo, voltando posteriormente a operar normalmente. Com o fim da Missão de Observadores Militares Peru Equador (MOMEP) em 30 de junho de 1999, os quatro Sikorsky HM-2 Black Hawk seriam transladados para o Brasil em agosto do mesmo ano. Passariam assim a  integrar o 4º Esquadrão de Aviação do Exército (4º Esquad AvEx) baseado no Aeroporto de Ponta Pelada em Manaus no estado do Amazonas. Neste novo cenário seriam encarregados de realizar  as missões de emprego geral, transporte de tropas, busca e salvamento (SAR), evacuação aero médica (EVAM) e apoio às operações especiais e às forças terrestres.
Coube ainda ao Sikorsky S-70A Black Hawk, ser o primeiro vetor da aviação do Exército Brasileiro a dispor de capacidade de operação noturna, através do emprego de óculos de visão noturna (NVG) do modelo Litton Anvis-6, permitindo assim a operação diuturnamente, concedendo uma nova dimensão a Aviação do Exército em termos de disponibilidade operacional. Posteriormente este sistema seria atualizado com a adoção dos novos óculos Litton  Anvis-9, neste mesmo processo também seria instalado um sistema de radar meteorológico melhorando assim suas condições de navegação no ambiente amazônico. Visando ampliar também seu raio operacional em missões mais longas o modelo passaria a ser equipado com até quatro tanques suplementares externos de combustível.  Os HM-2 Blackhawk seguem operando intensamente se adaptando perfeitamente ao ambiente da floresta amazônica, tendo destaca participação durante a operação Yanomani em 2023 quando suas aeronaves foram empregadas em tarefas de transporte logístico entre as diversas comunidades indígenas no estado de Roraima.  Apesar da extensa folha de serviços estas aeronaves já se encontram em operação há quase trinta anos, recaindo sobre as células o degaste operacional e consequente obsolescência, devido principalmente ao seu cockpit analógico, estando cada vez mais caros de serem operados devido à escassez de peças de reposição.  Neste intuito foram iniciadas negociações envolvendo a aquisição de até doze células, que devem começar a ser entregues a partir de 2025. Também está sendo discutida a possibilidade de a frota ter a provisão para receber armamentos e cumprir missões de ataque, tendo assim um uso dual. Os exemplares desativados serão desmontados e as peças em condições de uso serão usadas para manter o restante da frota em serviço.

Em Escala: 
Para representarmos o Sikorsky S-70 HM-2 Black Hawk  "EB 2004", empregamos um antigo kit da Minicraft  na escala 1/48, que apresenta um versão semelhante a empregada no Exército Brasileiro, não necessitando assim de nenhuma modificação. Apenas para melhor detalharmos o modelo, incluímos as duas metralhadoras laterais FN MAG 58M calibre 7.62 mm oriundas de outro modelo. Fizemos uso de decais produzidos pela FCM  Decais  que estão presentes no Set 48/13.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático das aeronaves de asas rotativas dos Exército dos Estados Unidos (US Army) , inicialmente as mesmas receberam faixas brancas, aplicadas em três pontos da fuselagem e a inscrição MOMEP (Missão de Observadores Militares Peru Equador). Posteriormente após o regresso ao Brasil estas marcações foram suprimidas, mantendo até os dias atuais o primeiro esquema de pintura.

Bibliografia : 

 

- Sikorsky UH-60 Blackhawk, Wikipedia -http://en.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_UH-60_Black_Hawk  

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores 

- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html 

- Nas Asas da Aviação do Exército, Claudio Lucchesi e Roger Pascoal - Revista Asas  nº 15  

- Novos Black Hawk para o Exército Brasileiro - https://www.infodefensa.com