Northrop F-5E Tiger II Agressor

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1950, o avançar da tecnologia aeronáutica militar atingia uma velocidade sem precedentes na história da aviação moderna, e cada vez mais os vetores atingiam maiores velocidades, autonomia e capacidade de transporte de carga útil. Porém em contrapartida os custos de aquisição e operação, destas novas aeronaves de combate superavam em muito, os caças e bombardeiros produzidos durante a década passada. Esse cenário preocupava não só os comandantes militares norte-americanos, bem como os fabricantes de aeronaves, que temiam terem suas receitas reduzidas em face de possíveis cortes orçamentários. Atento a esta demanda a este cenário e em busca de soluções, no início do ano de 1956 a empresa Northrop Aircraft Corporation, criaria uma equipe de trabalho e desenvolvimento, chefiada pelo vice-presidente de engenharia e aeronaves, Edgar Schmued (responsável pelo desenvolvimento dos modelos P-51 Mustang e F-86 Sabre). O principal objetivo desta iniciativa, era o de criar uma aeronave de combate leve, com alto desempenho, capacidade de manobra aprimorada e alta confiabilidade, mas apresentando um custo de aquisição e operação muito inferior ao caças de combate daquela geração em uso até então.  Ademais reconhecendo que aeronaves de combate complexas e de alto custos operacionais, não poderiam ser substituídos de maneira viável em curto período (como ocorria com as aeronaves com motor a pistão), este novo projeto deveria incluir o conceito de "potencial de crescimento projetado", permitindo uma longevidade de serviço superior a vinte anos. Seguindo ainda este preceito que ficaria definido como "custo do ciclo de vida"   o engenheiro chefe do projeto Welko Gasich, definiria que os motores deveriam estar localizados dentro da fuselagem para obter o máximo desempenho e a longa vida útil. O projeto então seria denominado oficialmente como N-156, sendo customizado para o atendimento de uma concorrência recém deflagrada pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Este processo visava o desenvolvimento de um caça leve para emprego em seus porta aviões de escolta, tendo em vista as aeronaves em uso até então nos porta aviões normais excediam as capacidades lançamento e hangaragem. Aliás o projeto do N-156 deveria ser extremamente flexível podendo também atender a possíveis demandas futuras da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Infelizmente para a Northrop Aircraft Corporation, logo em seguida, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) reavaliaria sua estrutura e meios navais, resultando na desativação dos pequenos porta aviões de escolta. 

O cancelamento desta importante demanda por parte da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), representaria um revés no planejamento Northrop Aircraft Corporation, pois afetaria diretamente a possível escala de produção da futura aeronave.  Porém sua diretoria se manteria resiliente, derivando seu projeto original em  duas vertentes, uma destinada ao desenvolvimento de um  caça tático leve o "N-156F" conhecido também como “Tally-Ho”, e uma aeronave de treinamento avançado o "N-156T" . O conceito deste último modelo agradaria muito o comando da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo assim selecionado como treinador padrão, em substituição aos jatos subsônicos Lockheed T-33. Seu primeiro protótipo do já designado YT-38 Talon alçaria voo no dia 12 de junho de 1959, e após ser avaliando em um amplo programa de ensaios em voo recebeu de produção de mil cento e cinquenta e oito células  com as primeiras aeronaves sendo entregues no ano seguinte e as últimas sendo recebidas até janeiro de 1972. A excelência do projeto seria comprovada pela implementação de diversos programas de retrofit e modernização ao longo anos,  mantendo estas aeronaves em voo na missão de treinamento avançado até os dias atuais. Devendo ser somente substituídos a partir de meados da segunda década 2020, quando completarão mais  de cinquenta anos de serviço. Apesar da negativa em relação a versão monoplace, a empresa decidiria com recursos próprios continuar o desenvolvimento do projeto "N-156F", esta perseverança logo seria recompensada logo a seguir com alterações nas diretivas geopolíticas norte-americanas. Neste mesmo período o Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS) solicitaria estudos referente ao desenvolvimento uma aeronave multifuncional de combate supersônico que apresentasse baixo custo de aquisição e operação, sendo destinada basicamente ao mercado de exportação a fim de compor o portifólio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistence Program) para atendimento de itens de defesa a nações com as quais os Estados Unidos tinham interesse em manter sua esfera de influência. Este programa se materializaria na  criação do "Programa FX", uma concorrência viando a aquisição de mais duzentas aeronaves, com este processo prevendo a liberação de  recursos para a produção de três protótipos para avaliação. Neste contexto diversas propostas seriam apresentadas para a apreciação. O voo do primeiro protótipo do  Northrop N-156F ocorreria em 30 de julho de 1959, com a aeronave decolando da pista de testes da Base Aérea Edwards (AFB) na California, e após um complexo programa de avaliação comparativa contra seus concorrentes seria declarado como vencedor da contenda. 
O modelo receberia a designação militar de Northrop F-5A e nome de batismo de “Freedon Fighter” (Combatente da Liberdade), tendo este nome em alusão ao propósito original de se prover as nações amigas, de um vetor capaz de garantir a defesa aérea de países menos desenvolvidos, principalmente contra a ameaça do expansionismo soviético no mundo. A Northrop Aircraft Corporation receberia assim em 26 de outubro de 1962 o primeiro contrato de produção, envolvendo duzentas aeronaves.  Aos poucos o modelo ser tornaria a  principal aeronave de combate oferecida nos termos do MAP (Military Assistance Program - Programa de Assistência Militar) passando a equipar as forças áreas das  Filipinas, Irã, Etiópia, Noruega, Taiwan, Marrocos, Venezuela, Grécia, Turquia, Holanda, Turquia Coreia do Sul, Formosa e Espanha. Também seriam firmados contratos para produção sob licença pela Canadair LTd , Construcciones Aeronáuticas S.A - CASA e Fokker. No ano de 1969, o governo norte-americano, no anseio de manter sua influência militar e política sobre seus aliados, começou a considerar um sucessor para a família F-5A/B Freedom Fighter, desta maneira, oito empresas foram convidadas a participar de uma concorrência denominada como Processo IIFA (Improved International Fighter Aircraft). Após análises detalhadas das propostas apresentadas, seria anunciado como vencedor o  Model F-5A-2, apresentada pela empresa Northrop Aircraft Corporation. Projeto este que nada mais era do que uma evolução do caça tático F-5A/B  apresentando inúmeras modificações que visavam principalmente, atender as demandas da concorrência que exigiam uma aeronave com desempenho superior aos caças Mikoyan-Gurevich MiG-21 soviéticos. O primeiro protótipo alçou voo em 23 de agosto de 1972, esta nova aeronave estava equipada com dois motores General Electric J85-21 que apresentavam uma maior chegando a 5.000 libras de empuxo, o novo avião, possuía uma fuselagem alongada e aumentada que lhe permitia acomodar mais combustível que seu antecessor. Suas asas foram equipadas com extensões de borda de ataque ampliadas, proporcionando uma área de asa aumentada e consequente manobrabilidade aprimorada. Como diferencial para sobrevivência em um ambiente hostil o agora recém denominado Northrop F-5E Tiger II dispunha de aviônicos mais sofisticados, incluindo crucialmente um novo radar, inicialmente o Emerson Electric AN / APQ-153 (salientado que os modelos anteriores não dispunham de radar), podendo ainda receber, de acordo com a necessidade de customização a pedido do cliente,  sistemas de navegação inercial , equipamentos TACAN- Tatical Air Navegation (sistema tático aéreo de navegação) e ECM - Electronic Countermeasures (contramedidas eletrônicas).

Em 6 de abril de 1973, o 425º TFS (Tactical Fighter Training) sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona, receberia o primeiro Northrop F-5E Tiger II de produção. Neste momento seria iniciado o programa de formação de equipes de voo e solo, e construção da doutrina operacional e de combate da nova aeronave. Posteriormente os Northrop F-5E Tiger II, começaram a ser despachados para o Sudeste Asiático, onde receberiam seu batismo de fogo no conflito do Vietnã, atuando como substitutos dos Northrop F-5A Freedon Fighter nas operações “Skoshi Tiger”. Dotando não só a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), mas também diversos esquadrões da Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Além desta nação, seguindo as diretrizes iniciais de seu desenvolvimento, o Northrop F-5E Tiger II, passou a ser oferecido uma série de países alinhados a política externa do governo norte americano, recebendo contratos de exportação para Coreia do Sul, Irã, Chile, Brasil, México, Suíça, Malásia, Cingapura, Taiwan, Marrocos, Jordânia, Grécia, Tunísia, Arábia Saudita, Etiópia. Honduras, Indonésia, Quênia, Noruega, Sudão e Iêmen. Neste contexto o 425º TFS (Tactical Fighter Training) foi designado como o esquadrão responsável em ministrar o treinamento e transição para o Northrop F-5E Tiger II de todos os pilotos estrangeiros cujos países tivessem adquirido a aeronave. Desta unidade saíriam centenas de pilotos, que empregariam o pequeno caça em combates reais como na Guerra do Ogaden (entre Etiópia e Somália), e na Guerra Irã X Iraque. Durante este processo de formação, observou-se a excelente manobrabilidade da aeronave em combate aéreo, iniciando assim seu emprego em como aeronave especializada para o combate dissimilar (DACT), substituindo os treinadores Northrop T-38 Talon até então em uso, que não eram totalmente adequados a esta missão. Aproximadamente setenta células novas de fábrica, que estavam destinadas a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF) foram absorvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que as destinou aos esquadrões de treinamentos “Agressores”  como os esquadrões 57th, 64th e  65th (Fighter Weapons Squadrons) que operavam junto à Base Aérea de Nellis no estado de Nevada.  Vale salientar que a aeronave também seria operada aviação naval da Marinha Americana sendo empregadas também no papel de “agressores” em unidades baseadas na cidade  Key West na Florida.
Sua produção total atingiria até 1987 um total de 1.399 células, dispostas entre as versões monoplace F-5E e biplace F-5F Tiger II. A partir do final desta mesma década,  esta familia de aeronaves começaria a ser substituído na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), pelas primeiras versões do novo caça multifuncional General Dynamics F-16 Fighting Falcon. Apesar de estar defasado tecnologicamente em relação as aeronaves de nova geração, alguns dos maiores operadores do modelo vislumbrariam a oportunidade de prolongar a vida útil das células do Northrop F-5E e F-5F Tiger.  Pois além de apresentar uma excelente relação custo-benefício em termos de operação, ele possuía baixa assinatura aos radares e grande manobrabilidade, o que garantiria sua sobrevivência e êxito no novo ambiente de combate dos caças de quarta geração. A primeira experiência de implementação de um programa de modernização seria seria desenvolvida pela Força Aérea da República de Singapura (RSAF), com a adoção de radares FIAR Grifo-F produzidos pela empresa italiana Galileo Avionica (similar em desempenho aos modelos norte-americanos Emerson Electric's AN/APG-69), cockpits atualizados e sistema de armas compatíveis com misseis ar ar de longo alcance Hughes Aircraft AIM-120 AMRAAM e de curto alcance Rafael Python. Os resultados obtidos seriam extremamente positivos, levando a outros programas com o mesmo propósito entre seus principais operadores, resultando na revigorarão  da capacidade de combate do pequeno caça bombardeiro da Northrop Aircraft Corporation, permitindo estender sua vida útil pelo menos até fins da década de 2020. Vale salientar que em seu pais de origem o modelo continuaria a ser operado na versão “Agressor” pela aviação naval na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo a mesma reequipada com células usadas adquiridas da Força Aérea Suíça (Schweizer Luftwaffe) no ano de 2015.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em fins do ano de 1964, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses Gloster F-8 Meteor, que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento das demandas nacionais. No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante a Gloster Aircraft Co., divulgaria um boletim informativo, que restringiria em muito o perfil operacional destas aeronaves inglesas, com esta medida sendo embasada na provável incidência de problemas relacionados desgaste estrutural. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação. Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década. Assim no final do ano de 1965, seriam conduzidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), passando-se a considerar a aquisição de novos caças multifuncionais com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção esta que seria negada pelo Departamento de Estado do governo norte-americano sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. Após esta negativa, o governo brasileiro passou a cogitar a aquisição de pelo menos doze caças Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter que deveriam em primeira instancia substituir parte dos antigos vetores e compor o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Trafego Aéreo (SISDACTA). No entanto restrições orçamentarias e a necessidade emergencial de se modernização a aviação de transporte, levariam ao cancelamento deste estudo, com a lacuna por um interceptador de alta performance sendo preenchida somente em 1972 quando foram recebidos os primeiros Marcel Dassault Mirage IIIEBR (F-103E). A opção pela aquisição de caças da norte-americanos passaria a figurar novamente em meados da década de 1970, quanto tornava-se clara a necessidade em substituir os antigos Lockheed AT-33A lotados junto 1º Grupo de Aviação de Caça (1ºGAvC)  e no 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv).

Assim no início do ano de 1974, o Ministério da Aeronáutica (MAer) lançou uma concorrência internacional, prevendo a aquisição de pelo menos trinta novas aeronaves que pudessem executar a contento missões de defesa aérea e ataque a solo. Diversas propostas seriam apresentadas resultando em um short-list (finalistas) onde figuravam modelos como franco-inglês BAC Spect Jaguar, italiano Aermachi MB-326K, inglês Bae Harrier MK-50 e os norte-americanos McDonnell Douglas A-4F Skyhawk e Northrop F-5E Tiger II. Com a escolha recaindo sobre este último concorrente, que além de atender a todas a necessidades operacionais, apresentava a melhor relação de custo-benefício. Em meados do mesmo ano um contrato no valor de US$ 115 milhões de dólares foi celebrado entre a Northrop Corporation e o Ministério da Aeronáutica (MAer) prevendo a aquisição de trinta e seis células monoplaces e seis biplaces. A versão monoplace escolhida seria o Northrop F-5E Tiger II básico, contemplando algumas customizações em termos de avionica, já a versão pretendida biplace, destinada as tarefas de treinamento e conversão operacional, o Northrop F-5F Tiger II, ainda se encontrava nos estágios finais de desenvolvimento, o que provocaria um significativo atraso no cronograma necessário de implantação da aeronave na Força Aérea Brasileia, pois o fabricante previa sua entrada em serviço somente em fins do ano de 1976. Os primeiros caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, seriam recebidos em meados de 1975 passando a operar nos três principais esquadrões da caça da Força da Aérea Brasileira.
Em meados da década seguinte, a frota destas aeronaves, já se encontravam em uso há quase quinze anos, e acumulavam um índice preocupante de perdas em acidentes, reduzindo perigosamente a disponibilidade de aeronaves nas unidades de linha primeira linha. Este cenário clamava pela necessidade emergencial de um processo de recomplementação imediata desta frota, visando assim recuperar um patamar satisfatório operacional. Paralelamente a esta demanda, almejava-se também a aquisição de aeronaves de treinamento do modelo Northrop F-5F Tiger, visando assim melhorar o processo de conversão dos pilotos que até era realizado pelos F-5B Freedom Fighter, modelo que apesar de compartilhar da mesma gênese da versão monoplace, apresentava patamares inferiores em termos de desempenho e manobrabilidade. A opção natural por aeronaves novas de fábrica estava fora de cogitação, pois sua produção havia sido encerrada em fins de 1987, restando apenas a busca por compras de oportunidade junto ao mercado internacional. Porém para a surpresa do Ministério da Aeronáutica (MAer), o governo norte-americano se mostrou pouco interessado em atender a esta demanda, muito por questões de ordem política, levando assim a necessidade de se buscar novas opções no mercado internacional. Negociações então seriam iniciadas junto ao governo chinês, prevendo o fornecimento de até trinta caças Chengdu F-7M (versão chinesa do Mig-21), com a aeronave chegando a ser avaliada por pilotos brasileiros. A possível concretização deste negócio despertaria a preocupação do Departamento de Estado Norte Americano, pois esta aquisição poderia criar uma nova esfera de influência na região, assim desta maneira a intenção inicial brasileira na compra de um segundo lote de caças Northrop F-5E Tiger II voltaria à tona.

Esta nova iniciativa se materializaria no programa Peace Amazon II, envolvendo um contrato no valor de US$ 13,1 milhões via o "Programa de Vendas Militares ao Estrangeiro" (FMS - Foreign Military Sales), com o fornecimento de vinte e duas células do modelo monoplace e quatro da versão biplace. Os seis primeiros Northrop F-5E Tiger II partiram da Base Aérea de Nellis - AFB em fins de setembro de 1988, com os aviões subsequentes decolando de Homestead, na Florida. As viagens foram realizadas sempre na ala de um Boeing KC-137 do 2º/2º Grupo de Transporte, em função das aeronaves não terem radio VHF padrão. Todas as células seriam recebidas entre os meses de outubro de 1998 e setembro de 1989, e após sua incorporação, uma vistoria mais detalhada das aeronaves foi realizada, mostrando uma série de   problemas estruturais, com alguns sendo classificados como de ordem grave, principalmente entre as aeronaves oriundas dos Esquadrões Agressores da Força Aérea Americana (USAF), células que operavam em um perfil de voo muito exigente. Com base neste diagnostico decidiu-se encaminhar todas as células para Parque de Material de Aeronáutica de São Paulo (PAMASP), para que se aplicasse um minucioso processo de recuperação. Nesta oportunidade, seis aeronaves deste lote receberam a cambagem para operar o casulo francês CT-51F Caiman para o emprego em missões de guerra eletrônica.  Como observação as aeronaves deste lote   apresentavam inúmeras diferenças quando comparadas as células novas de fábrica recebidas em 1975, não dispondo principalmente da sonda de reabastecimento em voo, antena de VHF nem a quilha dorsal que abrigava a antena de ADF. Os assentos ejetores eram do modelo Northrop Improved, em vez do Martin-Baker MK.BR-Q7A originais indicados pelo fabricante. Estas diferenças trariam problemas para a padronização na cadeia de suprimentos de reposição, assim por pertencerem a lotes distintos, a Força Aérea Brasileira, resolveu concentrar as aeronaves do primeiro lote junto as unidades de caça baseadas em Santa Cruz no Rio de Janeiro e as do segundo lote na Base Aérea de Canoas no Rio Grande do Sul. Os aviões recebidos neste processo receberam as matriculas de  "FAB 4956 a 4877".  
Das vinte e duas aeronaves adquiridas, dezesseis estavam entre os primeiros trinta Northrop F-5E Tiger II produzidos, dos quais os FAB 4856, 4857 e 4858, eram respectivamente a primeira, segunda e quarta células que deixaram as linhas de produção da Northrop Aircraft Corportion. Estes aviões foram selecionados diretamente das unidades operacionais da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo onze originarias do 425th Tactical Fighter Training, sediado em na base aérea de  Willians AFB e as demais pertencentes aos famosos Esquadrões Agressores  64th e 65th Agressor Squadron.  As aeronaves biplaces Northrop F-5F Tiger II permaneceriam concentradas em Canoas junto ao  1º/14º Grupo de Aviação - Esquadrão Pampa  (1º/14º GAv), tornando esta unidade gaúcha, como a responsável pela formação e conversão de todos os pilotos de Northrop F-5E Tiger II brasileiros. Em 1997 os dois lotes dos caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, começaram a receber a integração para a operação com os modernos mísseis israelenses Rafael Python III em substituição aos já obsoletos AIM-9B Sidewinder,  devolvendo a aeronave uma capacidade adequada para emprego em missões de combate ar ar, posteriormente  este processo abrangeu também o emprego do míssil ar ar de fabricação nacional o Mectron MAA-1 Piranha. A partir do ano de 2008 as células remanescentes começaram a ser encaminhadas a Embraer S/A  a fim de serem submetidas ao programa de modernização e revitalização dos Northrop  F-5BR Tiger II, permitindo assim estender a vida útil dos Tigres da Northrop até fins da década de 2020.

Em Escala.
Para representarmos o Northrop F-5E Tiger II "FAB "4856", empregamos o antigo kit da Monogram, na escala 1/48, sendo na época a única opção disponível (hoje sem dúvida o novo modelo do fabricante AFV representa a melhor opção em termos de detalhamento). Para se configurar a versão brasileira não é necessário proceder nenhuma modificação no modelo original. Utilizamos decais confeccionados FCM Decais presentes no set 48/03.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de superioridade aérea, adotado após as revisões em âmbito de parque realizadas no PAMASP (Parque de Material de Aeronáutica de São Paulo). Inicialmente estas vinte e duas células foram recebidas entre 1988 e 1989 empregando vistosos esquemas de pintura camuflada em diversos tons, padrão dos esquadrões agressores norte americanos (Ghost, Snake, Lizard, Grape e Partchese). 


Bibliografia : 
- O Catorze - Esquadrão Pampa, Carlos Lorch - Revista Força Aérea Nº 5
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.htmEnviar por e-mail
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores

Stinson SR-10E Reliant no Brasil

História e Desenvolvimento.
A Stinson Aircraft Company foi constituída em 1920 na cidade de Dayton, estado de Ohio, berço da aviação nos Estados Unidos, seu fundador, o empreendedor e aviador Edward "Eddie" Stinson, era irmão da renomada aviadora Katherine Stinson famosa por ser a quarta norte-americana a conseguir licença de voo e a primeira aviadora a voar a serviço Serviço Postal dos Estados Unidos.  Inicialmente, a empresa concentrou-se na produção quase artesanal de aeronaves de pequeno porte destinadas a transporte para turismo e treinamento. Nos primeiros anos, as vendas foram limitadas, em grande parte devido ao lento processo de fabricação, que não atendia às expectativas de clientes que demandavam entregas rápidas, fato este levava a perda de vendas para a companhia.  Determinado a expandir seus negócios, Edward "Eddie" Stinson identificou, no final de 1924, a cidade industrial de Detroit como um local estratégico para o crescimento da empresa, buscando além de mão obra, linhas para financiamentos. Após se estabelecer nesta cidade "Eddie" Stinson, passou a interagir com a comunidade empresarial local, obtendo uma recepção favorável para seus planos de expansão. Seus esforços logo dariam resultado, pois em agosto de  1925, um grupo de empresários, membros do Comitê de Aviação do Conselho de Comércio de Detroit, decidiu apoiar a iniciativa do empreendedor. Desta maneira seria a Stinson Aircraft Syndicate, uma empresa de porte médio instalada na zona industrial sudoeste da cidade de Detroit, próxima ao Aeroporto Metropolitano Wayne County.  Esse empreendimento alavancaria um investimento de aproximadamente US$ 25.000,00, e dentro dos projetos na mesa, seria escolhido o desenvolvimento de uma aeronave monomotora  de pequeno porte voltado para o mercado civil de transporte e turismo. O projeto foi prontamente iniciado, resultando na concepção e construção do modelo SBM-1 Detroiter, com primeiro voo dessa aeronave ocorrendo em 25 de janeiro de 1926, sob condições atmosféricas desafiadoras devido ao rigoroso inverno da região. Para enfrentar o terreno escorregadio, o avião foi equipado com correntes nas rodas, garantindo segurança durante a decolagem e o pouso, e apesar das intempéries a aeronave se sairia muito bem. O SBM-1 Detroiter destacava-se por sua capacidade de transportar até quatro pessoas e por incorporar inovações até então inéditas, como aquecimento interno da cabine, freios de roda individuais fabricados pela Harley-Davidson Inc  e um sistema de partida elétrica para o motor Curtiss-Wright J-5 Whirlwind, de 220 cv (164 kW). Essas características marcaram um avanço significativo no design de aeronaves de pequeno porte da época. 

Nesse contexto, o SBM-1 Detroiter foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo, obtendo, em seguida, sua certificação pelos órgãos competentes norte-americanos e a subsequente autorização para produção em série. As notáveis características da aeronave aliadas a suas inovações técnicas e desing,  rapidamente elevariam o modelo a um sucesso comercial, com dez unidades vendidas ainda em 1926 (um resultado relevante para aquele período). Esse êxito e os recurso amealhados pelas vendas, incentivou a diretoria da empresa a desenvolver uma versão aprimorada, um monoplano, agora apresentando um perfil de asa alta com capacidade para até seis passageiros, designado comercialmente como SM-1D Detroiter. Novamente a empresa conquistaria um novo sucesso em vendas que renderia a companhia grande notoriedade, permitindo a  Edward "Eddie" Stinson captar US$ 150.000,00 em capital público para novos investimentos em estrutura e desenvolvimento de novos modelos, com este momento culminando na fundação da Stinson Aircraft Corporation em 4 de maio de 1926. Apaixonado pela aviação, "Eddie" Stinson também atuava nas horas disponiveis como piloto dublê, atividade que lhe rendia cerca de US$ 100.000,00 anuais, proporcionando recursos adicionais para seus investimentos na empresa. A partir de 1928, além de atender a operadores privados, os SBM-1 Detroiter passaram a integrar as frotas de companhias de transporte aéreo, como a Braniff Air Lines, de Paul Braniff, e a Northwest Airways. O crescimento constante dos negócios foi evidenciado pela entrega de 121 aeronaves em 1929 pela Stinson Aircraft Corporation.   Em setembro de deste mesmo ano, Errett Lobban (E.L.) Cord, magnata da indústria automotiva e proprietário da Cord Corporation, adquiriu 60% das ações da Stinson Aircraft Corporation. Essa aquisição injetou capital e expertise, permitindo à empresa oferecer preços mais competitivos e, ao mesmo tempo, prosseguir com o desenvolvimento de novos projetos, fortalecendo sua posição no mercado aeronáutico. Nos três anos seguintes, a empresa lançou quatro novos modelos, incluindo o SM-2 Junior, voltado ao mercado de proprietários privados, todos alcançando expressivos resultados de vendas. Esses recursos financeiros possibilitaram a implementação de melhorias significativas, pavimentando o caminho para o desenvolvimento de um dos maiores sucessos comerciais da companhia. 
Durante o auge da Grande Depressão, em 1930, a Stinson Aircraft Corporation oferecia ao mercado norte-americano uma gama de seis modelos de aeronaves, variando desde o SM-2 Junior, com capacidade para quatro ocupantes, até o trimotor Stinson 6000. O falecimento de Edward "Eddie" Stinson, ocorrido em 26 de janeiro de 1932, em um acidente aéreo em Chicago, Illinois, durante uma viagem de vendas, acelerou a incorporação da Stinson Aircraft Corporation por conglomerados corporativos maiores: inicialmente pela Cord Corporation, posteriormente pela Aviation Corporation (AVCO) e, finalmente, pela Consolidated Vultee Co. Sob a égide desta última, a Stinson Aircraft Corporation tornou-se uma divisão aeronáutica dentro dessa ampla corporação.​ A estratégia da empresa, nesse período, concentrou-se na ampliação de seu portfólio de aeronaves leves, com capacidade para dois ou três ocupantes, destinadas ao mercado civil para funções de ligação e treinamento básico. Esses esforços materializaram-se em maio de 1933, quando os engenheiros Robert W. Ayer e C. R. “Jack” Irvine desenvolveram um monomotor de asa alta, capaz de acomodar um piloto e três passageiros. Este modelo recebeu a designação de Stinson SR Reliant e estava inicialmente equipado com um motor radial Lycoming R-680 de 215 hp (160 kW). O protótipo realizou seu voo inaugural em julho de 1933 e, após concluir o programa de ensaios em voo, obteve certificação para operação civil ainda no mesmo ano. Lançado oficialmente no mercado norte-americano no final de 1933, o SR Reliant rapidamente conquistou notoriedade entre potenciais compradores, resultando em expressivas vendas. As versões subsequentes, como o Reliant SR-1, SR-2 e SR-3, consolidaram uma carteira de vendas superior à de qualquer outra aeronave de sua categoria nos Estados Unidos naquele período.​ O modelo Reliant SR-4 foi equipado com o motor de pistão radial Wright R-760-E de 250 hp (186 kW), mais potente que os das versões anteriores, ampliando sua participação no mercado. Em meados de 1938, a empresa lançou o SR-8E, com capacidade para cinco ocupantes. A versão final destinada ao mercado civil, o Reliant SR-10, foi introduzida em setembro de 1938, com 120 unidades comercializadas. A produção desta família de aeronaves pode ser dividida em dois tipos distintos: os Reliant de asa reta (todos os modelos até o SR-6) e os Reliant de asa de gaivota (todos os modelos do SR-7 em diante).  O modelo Stinson SR-10 serviu como base para o desenvolvimento da versão militar AT-19, uma aeronave projetada para missões de treinamento intermediário. Tal versão foi concebida inicialmente para atender a um contrato envolvendo a produção de 500 unidades destinadas à Força Aérea Real (Royal Air Force) e à Marinha Real Britânica (Royal Navy), sendo fornecidas no âmbito do programa de ajuda militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos).
Durante o ano de 1941, o agravamento das hostilidades na Europa, aliado ao crescente clima de tensão no Pacífico, evidenciava a iminente entrada dos Estados Unidos em um conflito de proporções globais. Antecipando-se a esse cenário, tornou-se necessário estruturar uma ampla frota de aeronaves voltadas ao treinamento e ligação, a fim de suprir as crescentes demandas de mobilização. Nesse contexto, foi implementado um programa nacional voltado à incorporação e adaptação de diversos modelos de aeronaves civis para fins militares. Como parte inicial desse esforço, foram convertidos dois exemplares do Stinson Reliant SR-8B, designados como UC-81, os quais entraram em operação junto ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1941. No ano seguinte, aproximadamente 91 aeronaves Stinson Reliant civis foram incorporadas ao serviço militar, sendo reclassificadas conforme suas variantes nas designações UC-81B, UC-81C, UC-81E, UC-81F, UC-81G, UC-81H, UC-81J, UC-81K, UC-81L, UC-81M e UC-81N. Dentre essas adaptações, destaca-se o modelo Stinson XC-81D, desenvolvido especificamente para a remoção de planadores do campo de batalha após a aterragem, sendo amplamente utilizado no teatro de operações europeu tanto pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC)quanto pela Royal Air Force. Com o término da guerra, a produção da versão civil do Reliant foi retomada com o lançamento do modelo Vultee V-77. Essa versão espartana era equipada com o motor radial Lycoming R-680-E3B de 300 hp, apresentava uma única porta lateral à esquerda e substituía o tradicional capô saliente ("bump") por um modelo liso e simplificado. A estrutura interna foi significativamente reforçada em relação aos modelos comerciais anteriores, incluindo ainda um contrapeso em formato triangular adicionado ao leme. Até o ano de 1943, um total de 1.327 aeronaves foi produzido, distribuídas entre oito subvariantes distintas e equipadas com motores radiais Lycoming R-680-D6, Wright R-760E-1 Whirlwind e Pratt & Whitney R-985 Wasp Junior SB. Durante esse mesmo período, um grande número dessas aeronaves militarizadas foi classificado como "excedente militar", sendo disponibilizado ao mercado civil. Parte significativa dessa frota foi destinada a forças armadas de países alinhados aos interesses estratégicos dos Estados Unidos, como Argentina, Uruguai, Austrália, El Salvador, México e Noruega, permanecendo em uso operacional ativo até meados da década de 1960.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A história do emprego do único Stinson SR-10E Reliant em uso militar no Brasil remonta a conturbada segunda metade da década de 1930, pois o presidente Getulio Vargas após ter chegado ao poder em 1930 com o apoio dos militares, encerraria  a política do café com leite, caracterizada pela alternância de uma mesma oligarquia no poder. Vargas governou como presidente em exercício até as eleições da Assembleia Nacional Constituinte, em 1934. Sob uma nova constituição, tornou-se o presidente constitucional do Brasil, mas após uma insurreição comunista em 1935, as especulações aumentaram sobre um possível autogolpe. Os candidatos para a eleição presidencial de 1938 anunciaram suas candidaturas já no final de 1936. Vargas não pôde concorrer a um novo mandato, mas ele e seus aliados não estavam dispostos a abandonar o poder. Com o início oficial dos preparativos para o golpe em 18 de setembro de 1937, oficiais superiores militares utilizaram o Plano Cohen, um documento fraudulento, para provocar o Congresso Nacional a declarar o estado de guerra. Na manhã de 10 de novembro de 1937, os militares cercaram o Congresso Nacional. O ministério expressou a aprovação para a nova constituição corporativa, e um discurso na rádio de Vargas proclamou o novo regime, o Estado Novo. Como consequência do golpe um estado autoritário foi instalado no pais, as liberdades e direitos individuais foram retirados, o mandato de Vargas foi prolongado por seis anos, que passou a oito, e o poder dos estados evaporou-se. Apesar deste forte movimento de apoio a ditatura Vargas, havia diversos redutos de oposição espalhados pelo país que se fortaleciam gradativamente e podiam gerar ameaças de curto e médio prazo a homogenia do governo. Assim para que este processo se consolidasse e fosse duradouro, seria prioritário eliminar as resistências existentes nos meios civis e militares, formando um núcleo coeso em torno da ideia da continuidade de Vargas no poder. Uma das ferramentas adotadas por este governo foi o de estabelecer a prática do emprego de interventores federais nos estados, com estes assumindo as atividades exercidas pelos governadores outrora eleitos, mantendo em seus estados uma postura completamente a favor do governo federal. Todos os estados da federação passariam a contar com interventores federais a partir de 1937, havendo grande troca de interventores aos longos dos anos.

No estado de São Paulo, o primeiro interventor federal a assumir o governo foi Joaquim Cardoso de Melo Neto, que ocupou o cargo entre 11 de novembro de 1937 e 25 de abril de 1938. Sucedeu-o o general Francisco Silva Júnior, comandante da 2ª Região Militar, cuja gestão, contudo, foi breve ficando no cargo por apenas três dias, deixando o cargo por motivos particulares. Desta maneira a condução o mais importante estado da Federação se tornaria uma prioridade do governo federal.  Nesse contexto, em 27 de abril de 1938, Adhemar Pereira de Barros, médico, político paulista e veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, foi indicado ao cargo de interventor federal por Benedito Valadares e Filinto Müller, sendo nomeado assim pelo presidente Getúlio Vargas. Proveniente de uma tradicional família de cafeicultores de São Manuel no interior do estado, Adhemar, que futuramente se destacaria como notável servidor público, demonstrava um entusiasmo singular pela aviação civil e esportiva, tendo obtido seu brevê de piloto na Europa em meados da década de 1920. Ao assumir a interventoria, Adhemar Pereira de Barros direcionou significativa atenção às iniciativas relacionadas à aviação civil no estado de São Paulo. Entre suas prioridades estava a modernização da pequena frota de aeronaves disponível para os gabinetes administrativos do governo estadual, o que resultou na aquisição e importação de diversos modelos de aeronaves. Entre estas estava uma célula do modelo Stinson SR-10E Reliant, que foi importado diretamente do fabricante no final do ano de 1939, sendo em seguida transladado em voo para o Brasil juntamente com outras duas aeronaves, chegando na capital paulista em janeiro do ano seguinte.  Já incorporada a frota do governo estadual, esta aeronave seria inscrita no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), em 19 de janeiro de 1940, recebendo a matrícula civil PP-EAC. Em operação, este Stinson SR-10E Reliant foi inicialmente empregado de maneira intensiva em missões de transporte de autoridades e funcionários públicos a serviço do governo de São Paulo, desempenhando funções de ligação e transporte leve entre todo o estado, e eventualmente sendo empregado em rotas para a Capital Federal no Rio de Janeiro . A gestão de Adhemar Pereira de Barros nesse período reflete seu compromisso em fortalecer a infraestrutura aeronáutica civil do estado, alinhando-se aos seus interesses pessoais e à visão de modernização administrativa. 
Em outubro de 1941, o interventor federal Adhemar Pereira de Barros, representando o Governo do Estado de São Paulo, decidiu doar a aeronave Stinson SR-10E Reliant ao recém criado Ministério da Aeronáutica (MAer) para ser incorporada Força Aérea Brasileira (FAB) a fim de compor sua frota. Essa iniciativa refletia uma ação semelhante ocorrida no início de 1940, quando um Stinson 105 Voyager foi doado à Aviação Naval da Marinha do Brasil.​ Supõe-se que um dos termos desta doação previa que a aeronave permanecesse sediada em uma base aérea no estado de São Paulo. O Stinson SR-10E Reliant destacava-se por sua modernidade e estava equipado com o confiável motor radial a pistão Wright R-760E-1 Whirlwind de sete cilindros, capaz de gerar 320 hp (239 kW) a 2.200 RPM ao nível do mar, proporcionando desempenho notável para a época.​ O processo de transferência foi concluído em dezembro de 1941, quando sua matrícula civil PP-EAC foi cancelada, passando a ostentar inicialmente o registro militar "2", posteriormente alterado para "FAB 2653". Em março de 1942, a aeronave, agora designada como UC-SR10 Stinson, foi alocada à Base Aérea de São Paulo (BASP), ficando à disposição do Quartel-General da 4ª Zona Aérea. Durante a Segunda Guerra Mundial, este avião operou em conjunto com outras aeronaves de transporte, realizando missões orgânicas em benefício daquela unidade.​ Houve especulações sobre a incorporação de uma segunda aeronave do mesmo modelo à frota da Força Aérea Brasileira (FAB), que teria recebido inicialmente a matrícula militar "1" e, posteriormente, "FAB 2652". Contudo, verificou-se que se tratava de uma célula do modelo Stinson 105 Voyager, erroneamente designada como UC-SR10, o que gerou a controvérsia.​ Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou um amplo processo de reorganização de unidades e meios. Apesar disso, o Stinson SR-10E Reliant permaneceu alocado ao Quartel-General da 4ª Zona Aérea, continuando a desempenhar missões de ligação e transporte leve em benefício dos oficiais e autoridades daquela unidade. Durante todo este período a aeronave apresentaria grande índice de disponibilidade, se deslocando frequentemente em missões para Rio de Janeiro e Belo Horizonte, não sendo registrado em seu prontuário nenhuma ocorrência de falha mecânica, hidráulica ou elétrica.
​Durante sua operação na Força Aérea Brasileira (FAB), a aeronave Stinson SR-10E Reliant, designada como "FAB 2653", demonstrou notável disponibilidade, realizando frequentemente missões para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte sem registros de falhas mecânicas, hidráulicas ou elétricas. A manutenção do motor Wright Whirlwind R-760-E2, também utilizado em outras aeronaves da FAB como os Beechcraft Staggerwing e os modelos Waco CSO e CSJ, era realizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP). ​Com a chegada da segunda metade da década de 1950, constatou-se que as missões desempenhadas pelo Stinson SR-10E Reliant eram similares às de outras aeronaves mais modernas e disponíveis em maior numero em operação na época. A existência de uma única células deste modelo resultava em custos de manutenção elevados, tornando sua continuidade operacional economicamente inviável. Após sua última revisão geral completa nas oficinas do Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) em março de 1957, a aeronave voou aproximadamente 400 horas em apoio ao Quartel-General da 4ª Zona Aérea, executando tarefas administrativas e operacionais. Em novembro de 1960, decidiu-se pela desativação da aeronave, que foi enviada de volta ao PAMA-SP para ser retirada do inventário do Ministério da Aeronáutica (MAer). Posteriormente, o Stinson SR-10E Reliant foi vendido a um operador particular e registrado no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) com a matrícula PT-BRT, operando ativamente até o final da década de 1960, quando foi desativado e armazenado no Aeroporto de Campo de Marte, em São Paulo. ​ Mais tarde, a aeronave foi readquirida pela Força Aérea Brasileira com o objetivo de integrar o acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro. Após um meticuloso processo de restauração, o Stinson UC-SR10 Reliant "FAB 2653" retornou à sua configuração original e agora está preservado para as futuras gerações.

Em Escala.
Para representar com fidelidade o Stinson SR-10E Reliant UC-SR10 “FAB 2653”, optou-se pela utilização do único kit disponível no mercado referente a este modelo, produzido pela fabricante AMT na escala 1/48. Contudo, por tratar-se originalmente da versão SR-9, foi necessário realizar adaptações em scratch build para adequar a miniatura à configuração utilizada pela Força Aérea Brasileira. Dentre essas modificações, destaca-se a remoção do radiador de óleo, procedimento essencial para compor corretamente a variante aqui empregada. Adicionalmente, considerando a inexistência de um conjunto específico de decalques para este modelo, recorreu-se à aplicação de decalques provenientes de diferentes sets fornecidos pela FCM Decais, garantindo uma representação visual precisa da aeronave.
O esquema de cores (FS) descrito a seguir corresponde ao padrão de pintura civil originalmente aplicado à aeronave no momento em que foi doada pelo Governo do Estado de São Paulo ao Ministério da Aeronáutica (MAer), em 1941. Este padrão foi mantido ao longo de toda a sua vida útil operacional, até sua desativação em novembro de 1960. Atualmente, a aeronave encontra-se preservada no acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, ostentando este mesmo esquema de pintura, fielmente reproduzido durante o processo de restauração.

Bibliografia :

Stinson Reliant Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Stinson_Reliant
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
Aviação Militar Brasileira 1916 – 1984 Francisco C.  Pereira Neto 

Focke-Wulf FW-58 Weihe

História e Desenvolvimento.
A Focke-Wulf uma das mais notórias empresas de construção aeronáutica alemã, seria fundada na cidade de Bremen em 24 de outubro de 1923 em pelo empresário Henrich Focke e seus sócios Georg Wulf e Werner Naumann. Esta organização iniciaria  suas operações  em pequeno hangar junto ao aeroporto da cidade, atuando sobre no nome comercial de Bremer Flugzeugbau AG sendo posteriormente renomeada como Focke-Wulf Flugzeugbau AG. Em seus primeiros anos passaria a produzir componentes aeronáuticos para demais construtores alemães, iniciando logo a seguir o desenvolvimento de suas próprias aeronaves, geralmente de  pequeno porte e destinadas a tarefas de  treinamento e ligação, como os modelos  FW-A3, FW-A4, FW-A5, FW-A6, FW-A7 . O exito neste segmento levaria a empresa a derivar seu portifólio para aeronaves de transporte de cargas e malas de correio de pequeno e médio porte como os novos modelos FW-A16 e FW-A17. A partir de 1930 a empresa ingressaria no nicho de aeronaves de transporte de passageiros, lançando os modelos Focke-Wulf A 33 e Focke-Wulf A 38, novamente conseguindo lograr grande sucesso comercial. Em termos de aeronaves com aplicações militares, seus esforços se resumiriam ao desenvolvimento de  modelos para reconhecimento aéreo, treinamento primário e patrulha marítima, que obtiverem pouca expressão em termos de número de construção. Este cenário se dava principalmente pela Alemanha neste momento ainda se encontrar sobre pesadas restrições militares impostas pelo Tratado de Versalhes assinado após sua rendição incondicional em  novembro de 1918.  A partir do inicio do ano de 1931, o governo alemão sob o comando do presidente Paul Von Hindenburg, estava empenhado em grande programa de recuperação econômica, e um dos pontos focais deste processo passava pelo fortalecimento de seu parque industrial. Neste contexto o governo passaria a e exercer grande pressão sobre as empresas com a intenção de criar grandes corporações nacionais através de processos de fusão entre empresas do mesmo segmento de atuação. Entre vários processos que seriam realizados, no segmento aeronáutico destacava-se a união do capital e operações das empresas Focke-Wulf Flugzeugbau AG e  Albatros-Flugzeugwerke AG, com esta última estando sediada na capital Berlim.

Neste mesmo período, o promissor engenheiro e piloto de testes, que ja vinha trabalhando a algum tempo na Albatros-Flugzeugwerke AG, seria promovido nesta nova organização a chefe do departamento técnico, passando a liderar o desenvolvimento de inúmeros novos projetos tanto voltados para o segmento comercial quanto militar.  Uma grande oportunidade se materializaria quando da decisão do governo alemão em voltar a estruturar suas forças armadas, neste contexto cada vez mais braço aéreo ganhava importância com a Força Aérea Alemã (Luftwaffe) se encontrando em um processo de renascimento como arma aérea efetiva. Desta maneira se apresentava como demanda básica a necessidade de formação de pilotos militares em grande escala, porém apesar desta demanda, qualquer esforço de alta visibilidade neste aspecto poderia ser considerado de teor “clandestino”, tendo que vista que as limitações impostas pelos “Tratado de Versalhes” impediam o país de dispor de uma força aérea representativa. No intuito de se burlar estas limitações impostas por este tratado, seria estabelecido que toda uma estrutura de treinamento e formação de pilotos militares seria erigida sobre a imagem de formação desportiva e civil, com estas atividades não sendo regulamentadas por estas restrições. Definida a estratégia de operação, faltava a disponibilização do vetor , com esta missão sendo destinada a equipe de projetos da Focke Wulf Flugzeugbau Gmbh,  que sobre o comando de Kurt Tank já investia recurso no desenvolvimento de novas aeronaves de treinamento primário e multimotor.  Ao detalhar as especificações para esta ultima aplicação, ficaria definido que o desenvolvimento desta nova plataforma deveria prever seu emprego como aeronave de treinamento, ambulância aérea e bombardeio leve. Estes parâmetros gerariam o projeto de um robusto avião bimotor, que tinha características polivalentes e atendia plenamente aos requisitos estabelecidos. O modelo receberia a designação de FW-58 V1 e o nome de batismo "Weihe", com seu primeiro protótipo de matricula D-ABEM alçando voo no verão de 1935, apresentando excelentes características de voo em seu programa de testes. 
A fim de burlar as restrições impostas pelo Tratado de Versalhes, os protótipos iniciais seriam configurados como aeronaves de transporte de passageiros, incluindo neste aspecto os exemplares de pré-produção, com uma destas células de matricula D-ALEX sendo disponibilizado como aeronave pessoal do projetista Kurt Tank. Sua fuselagem era composta em sua construção com tubos de aço soldados e revestidos de tela e painéis metálicos, algumas partes metálicas no nariz, as asas eram de estrutura metálica, também recobertas com telas. Estava ainda equipado com um sistema de trem de pouso retrátil se alojava debaixo dos motores. Este leve conjunto era impulsionado por dois motores Argus As 10c com 8 cilindros em “V”, que proporcionavam 240 HP de potência. Melhorias no projeto seriam implementadas, nascendo a versão FW-58 V2, apresentando como principal alteração a inclusão de armamento defensivo composto por duas metralhadoras Rheinmetall Borsig MG-15 de 7,92 mm,  instaladas uma na proa e outra na traseira da cabine e ofensivo instalado em oito cabides de bombas de 25 kg na seção interna das asas. Já o quarto protótipo FW-58 V4, contava com uma fuselagem mais aerodinâmica, uma seção de proa envidraçada com uma metralhadora Rheinmetall Borsig MG15 de 7,92 mm. Mais nove protótipos seriam produzidos até o modelo FW-58 V13, visando a aplicação de melhorias e possíveis variantes especializadas. Com a homologação da versão inicial de produção designada como FW 58B-1, seria celebrado entre a empresa e o Ministério do Ar da Alemanha (Reich Luftministerium), para produção em série, com está se iniciando em maio de 1937. Esta primeira variante tinha por foco o emprego em missões de treinamento, comunicações e evacuação de feridos. Também conhecido pelos pilotos alemães como 'Leukoplast Bomber' (Bombardeiro de Esparadrapo) quando empregado na versão de ambulância, para evacuação aero médica. Neste período começariam a entrar em serviço a versão de transporte civil, passando a ser empregada nas linhas de pequena densidade na Alemanha e na Europa.

A segunda versão a ser produzida em escala, o Focke Wulf FW-58B-2, era uma variante destinada ao treinamento de aeronaves multimotoras de bombardeio, dispondo de nariz envidraçado, posto de bombardeador, controles duplicados e armamento para de autodefesa, podendo ser inclusive utilizados em missões de ataque leve.  A fim de verificar seu desempenho em um cenário de conflagração real, vinte destas aeronaves seriam cedidas as forças armadas General Francisco Franco, passando a ser empregadas em missões de bombardeio durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939),  obtendo relativo êxito operacional. Porém curiosamente a versão a ser  produzida em maior número, o Focke-Wulf FW-58C era especialmente configurada para as tarefas de transporte de carga e passageiros, recebendo duas portas laterais de carga acima das asas, podendo receber a instalação opcional de seis bancos para passageiros. O modelo manteria ainda o sistema de controle duplo de pilotagem, sendo customizado para poder receber motores mais potentes como o Hirth HM 508D de 260 cv, mas mesmo assim grande parte de sua produção seria equipada com os motores originais Argus As 10c. Neste contexto seria criada uma nova versão para o transporte civil, o  Focke Wulf FW-58Ki-2, apresentando uma fuselagem traseira de perfil diferente, de forma a propiciar maior espaço e conforto para os passageiros; sendo adotada principalmente pela empresa de transporte aéreo Lufthansa. Este modelo civil posteriormente seria adotado pela Força Aérea Alemã (Luftwaffe), sendo empregadas em tarefas de ligação entre as unidades militares espalhadas pela Europa, operando também secundariamente para entregas de cargas leves com alta prioridade de despacho. Conforme previsto no escopo original do projeto, seria desenvolvida a versão FW-58S  Sänitatsflugzeug (ambulância) dedicada as tarefas de transporte aero médico dispondo de interior configurado com seis macas e equipamentos de primeiro socorros. Esta versão seria notabilizada durante o conflito operando com grande êxito, salvando a vida de milhares de militares alemães.  
Em termos de versões especializadas, ainda doze células seriam configuradas para empregos em missões de meteorologia, recebendo as designações de FW-58E-1 e FW-58E-2 (quando equipado com esquis de pouso), sendo empregadas em todos os fronts de batalha durante o conflito. Por fim a última versão a ser produzida em série, o Focke-Wulf FW-58W Hidroavião, equipado com dois flutuadores seria intensamente empregada pela  Força Aérea Alemã (Luftwaffe), atuando preferencialmente em missões de ligações em proveito de tarefas da Marinha Alemã (Kriegsmarine). Apesar de ser imortalizada no imaginário popular como os Junkers JU-52, JU-88 ou Heinkel HE-111, as aeronaves da família Focke Wulf FW-58 seriam empregadas intensamente até os dias finais da Segunda Guerra Mundial, sendo  o principal vetor de treinamento multimotor. O modelo representaria ainda um dos maiores sucessos de exportação da indústria de construção aeronáutica alemã naquele período, sendo adotado por empresas de transporte aéreo e forças armadas da Argentina, Bulgária, Brasil, China, Dinamarca, Holanda, Hungria, Romênia e Suécia. Sua produção total superaria a casa das duas mil e quinhentas células, destas mais de trezentas seriam montadas sob licença no Brasil e Hungria. No período pós-guerra aeronaves alemãs capturadas em aeródromos na Tchecoslováquia, após recuperadas seriam postas em serviço ativo junto a força aérea daquele país sob a designação D-58. Em todo o mundo as ultimas aeronaves seriam retiradas do serviço ativo somente no inicio da década de 1960.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O processo de formação de pilotos militares brasileiros tem sua origem em fevereiro de 1914, quando seria fundada no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro a Escola de Escola Brasileira de Aviação, mediante uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia, com está sendo responsável por fornecer equipamentos e instrutores para formar aviadores militares.  Não havia dez anos desde o primeiro voo do mais pesado que o ar, pelas mãos do ilustre inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, quando a Marinha do Brasil criou a sua própria organização de treinamento e formação, a  Escola de Aviação Naval - EAvN, em 23 de agosto de 1916. Durante os anos seguintes seria feito uso de uma variada gama de aeronaves principalmente de origem francesa comporia sua frota, se destacando ao longo dos anos modelos relativamente modernos. No entanto o rápido avançar da tecnologia aeronáutica naquele período levaria a necessidade de implementação de um ciclo de renovação de seus vetores de treinamento, com este processo culminando a partir do ano de 1931 na celebração de contratos para a aquisição de aeronaves inglesas dos modelos De Havilland DH-60T e DH-82A. Apesar destas incorporações atenderem as demandas vigentes, a partir do  início da segunda metade da década de 1930 a Aviação Naval da Marinha do Brasil, passaria a enfrentar problemas com os índices de disponibilidade de voo da frota de aeronaves de treinamento a serviço da Escola de Aviação Naval - EAvN, afetando assim seu potencial de formação de pilotos militares. Este preocupante cenário era a consequência da total carência de treinamento, ferramental e material necessários aos processos de manutenção mais complexos das aeronaves. Assim desta maneira clarificava-se a premente necessidade de renovação de grande parte da frota de aeronaves, porém também levantava preocupações sobre este processo não incorrer nos mesmos erros do passado, onde a falta de capacitação técnica em termos de operação e manutenção impactava drasticamente sua capacidade de formação e treinamento.  Assim criava-se a ideia de se buscar uma solução mais completa, abrangendo não só a aquisição de novas aeronaves, bem como a transferência de um certo nível técnico de conhecimento, para assim proporcionar aplicação de um processo de manutenção preventiva e corretiva.  Estudos realizados neste sentido apontavam que a melhor opção para o atendimento desta demanda, passava pela celebração de acordos que possibilitassem a produção no país de aeronaves sob licença, com este processo devendo ser gerido pela própria Marinha do Brasil. 

Este conceito, no entanto, divergia da estratégia propagada pelo Exército Brasileiro, que buscava parcerias junto a iniciativa privada para o estabelecimento no país de uma linha de produção para montagem de aeronaves destinadas a equipar a Aviação Militar. A argumentação do comando da Aviação Naval se baseava na obtenção de um nível básico de experiência proporcionado pelas atividades de manutenção realizadas pelas “Oficinas Gerais da Aviação Naval” (OGAN), que naquele período, mesmo que limitadamente se esmerava na realização de manutenções de quarto nível. Faltava então somente realçar essa capacidade e assim transformar este embrião técnico em uma fábrica de aviões que pudesse atender as demandas da Aviação Naval Brasileira. Com o objetivo de se prospectar as melhores alternativas para aquisição e produção sob licença, o Ministério da Marinha, enviou delegações de oficiais ao exterior, para visitar as principais empresas de construção aeronáutica militares existentes na Alemanha, Estados Unidos, França e Itália. Nestas viagens, a equipe enviada a Alemanha, liderada pelo Comandante Raymundo Vasconcelos de Aboim, conheceria profundamente toda a estrutura industrial, processos de assistência técnica e portifólio de produtos da empresa Focke Wulf Flugzeugbau Gmbh. Assim seria apresentada a delegação brasileira, uma proposta amplamente vantajosa de fabricação sob licença, envolvendo uma variada gama de aeronaves, abrangendo também significativa transferência de tecnologia de produção, termos estes que atendiam aos interesses nacionais. Este programa de colaboração internacional englobava a produção sob licença no Brasil de três aeronaves distintas, o biplano FW-44J Stieglitz para treinamento primário, o monoplano FW-56 Strosser para treinamento intermediário e o bimotor monoplano FW-58 Weihe para treinamento multimotor. De acordo com esta proposta, as primeiras células destes modelos seriam montadas inicialmente no Brasil por técnicos alemães com acompanhamento brasileiro, gradativamente componentes não críticos seriam nacionalizados, atendendo assim aos termos de transferência de tecnologia previstos no contrato.  Atendendo ao cronograma inicial, o primeiro modelo a ser produzido localmente seria o Focke-Wulf FW-44J Stieglitz, com primeira célula sendo recebida no porto do Rio de Janeiro em 02 de novembro de 1936, sendo montada por técnicos alemães, esta aeronave recebeu a matrícula I1Fw-146 e teve seu primeiro voo em 10 de novembro do mesmo mês. O cronograma seguia em ritmo normal, porém o aumento das tensões na Europa iria impactar diretamente no projeto, e o advento do início da Segunda Guerra Mundial em 1939, levaria ao cumprimento parcial do acordo, pois os FW-56 Stösser nunca chegariam a ser produzidos no Brasil. 
Porém, o programa do bimotor teve início imediato, pois já em julho de 1937, chegava ao Rio de Janeiro o primeiro Focke Wulf FW-58-B2, que seria montado nas Oficinas Gerais da Aviação Naval  (OGAvN), assim como os componentes de mais dez aeronaves, que seriam montadas pelos brasileiros, sob a supervisão de técnicos alemães. A primeira aeronave montada no Brasil, que foi matriculada como D2Fw-147 na Aviação Naval, foi considerada o protótipo do FW-58-B2 brasileiro e serviu de molde para a montagem dos outros aviões, assim como para a familiarização e para o treinamento dos pilotos e dos mecânicos da Aviação Naval, sendo apresentado pronto ao público e autoridades no dia 30 de julho de 1937. Os outros dez aviões que estavam encaixotados passaram, imediatamente, ao processo de montagem e a 20 de abril de 1938, o primeiro FW-58-B2 desse lote era entregue oficialmente para operação, sendo que já em 04 de outubro do mesmo ano, a última aeronave do lote de dez era oficialmente incorporada à Aviação Naval Brasileira. Tais aeronaves receberam as matrículas de D2Fw-168 a D2Fw-177, sendo destinadas à Segunda Esquadrilha de Adestramento Militar – 2ª EAM, onde foram utilizadas como treinadores avançados para as tripulações, aerofotogrametria, navegação e outras. Essa designação obedecia à seguinte formalística da Aviação Naval: D2FW-168: D = Emprego Geral, 2 = Segundo modelo desse fabricante, Fw = Focke-Wulf e o 168 = O número da aeronave dentro de sua série. Após o término da construção da primeira série de aviões, que foram montados, foi dado prosseguimento à segunda fase do projeto, que previa a fabricação de mais vinte e cinco aeronaves, sendo estas com a utilização de inúmeros componentes produzidos no Brasil, como a madeira contraplacada, pneus, hélices, freios etc. Esses aviões foram designados como V2AvN pela Marinha e Fw 58-V9 pela fábrica, sendo matriculados de V2AvN-209 a V2AvN-223, onde: V = Adestramento, 2 = Segundo modelo produzido pelas OGAvN e AvN = Designativo do fabricante (Aviação Naval). Tal sistemática de designação procurava diferenciar os aviões montados no primeiro lote, dos fabricados com componentes e peças produzidas no Brasil. Os trabalhos de produção dessas aeronaves começaram em ritmo intenso e, já em 08 de maio de 1940, realiza o seu voo inaugural a primeira aeronave produzida no Brasil, sendo os seus pilotos os tenentes aviadores navais Sampaio e Menezes.

A operação dos Focke Wulf FW-58B na Aviação Naval encerra-se no dia 20 de janeiro de 1941, em decorrência da criação do Ministério da Aeronáutica, com a consequente entrega das aeronaves da Marinha para a nova Força, sendo que até esse momento tinham sido fabricados três aviões da série Fw 58-V9. Estas aeronaves seguiram realizando suas missões de treinamento junto a 2º Esquadrilha de Adestramento Militar (2ºEAM), com sede na Base Aérea do Galeão, no entanto, algumas indicações sugerem que três destes aviões foram cedidos a Escola de Aeronáutica. Paralelamente a agora renomeada Fábrica do Galeão, seguiram com a produção dos Focke Wulf FW-58V-9 pertencentes a segunda série de quinze aviões, e haviam ainda em estoque componentes suficientes para garantir a fabricação das onze aeronaves restavam do pacote original. Esses aviões contavam com um índice de nacionalização muito maior que aquele registrado no primeiro lote, pois faziam uso de hélices, cavernas e tirantes de madeira confeccionadas no Galeão, bem como de freios, pneus e telas de aviação produzidos domesticamente. No entanto a impossibilidade de importação de componentes alemães devido a guerra, como as metralhadoras, cabides de bombas e visores, levariam a necessidade de adaptações para instalação de itens semelhantes de origem norte americana ou nacional como as metralhadoras Browning de calibre.50 e cabides de bombas produzidos pela Vemag S/A. Em termos operacionais a crescente atividades de submarinos alemães e italianos ao largo do litoral brasileiro, foi determinante para que estes aviões saíssem da Base Aérea do Galeão para realizar missões de patrulha em áreas litorâneas consideradas críticas como Florianópolis, Santos e Porto Alegre. Conquanto os FW-58 estarem longe de ser aeronaves ideias para essa tarefa, eram pouquíssimos prontamente a disposição, com alguma capacidade para fazer esclarecimento marítimo e, se necessário fosse atacar um submarino inimigo. Em 25 de junho de 1943 ao logo do litoral de Cabo Frio – RJ uma destas aeronaves avistou provavelmente o U-513 e o atacou sem resultado aparente. A partir do segundo semestre, o recebimento de aeronaves especializadas em missões de patrulha, permitiria gradativamente liberar os FW-58 para missões de treinamento, transporte em proveito do Correio Aéreo Nacional (CAN) e observação. Além das aeronaves militares, a frota da Força Aérea Brasileira seria reforçada em agosto 1942, quando nacionalização da empresa Syndicato Condor, oportunidade em que duas células da versão de transporte civil FW-58Ki-2  (PP-CBM Aquirí e PP-CBN Cacuri) foram entregues a força área, sendo alocados como aeronaves orgânicas junto a Fábrica do Galeão e Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA).
Na primeira metade de 1945 a introdução do novo sistema de designação e matriculas da Força Aérea Brasileira, alteraria a designação dos  Focke Wulf FW-58, que passaram a ser denominados como AT-Fw-58, em reconhecimento ao seu papel de avião de treinamento avançado, a exceção dizia a respeito aos dois FW-58Ki-2, que passaram a ser designados como UC-Fw-58. Mas o fim da carreira desta família no Brasil estava próximo, pois era praticamente impossível obter peças de reposiçao para os motores Argus As 10c de origem alemã, bem como sobressalentes para aqueles componentes de vida útil reduzida. Assim, a partir de 1946, começaria o processo de desativação destas aeronaves, que, aquele ano, assistiria a baixa de cinco AT-Fw-58 e um UC-Fw-58, seguido de outras onze células no ano seguinte. Paralelamente seis exemplares foram recolhidos a Fábrica do Galeão para serem recuperados e um sétimo exemplar foi distribuído a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA). A partir destas células recolhidas, duas aeronaves hibridas foram geradas, bem como a recuperação de ao menos uma aeronave completa. Aparentemente, esse esforço tinha endereço certo, pois assim que a primeira daquelas aeronaves ficou pronta, ela foi entregue à Divisão de Águas do Ministério da Agricultura, em novembro de 1948. No seguinte uma aeronave foi cedida ao governo do estado de Goiás, que receberia ainda um dos AT-Fw-58 híbridos em julho de 1950. Em reconhecimento ao fim da carreira dos FW-58 na Força Aérea Brasileira, em 2 de abril e 1949, foi emitida uma instrução que dava como totalmente obsoleto este tipo de avião. A partir daquela data, estas aeronaves foram progressivamente excluídas da carga e alienados, o último foi descarregado em julho de 1951.

Em Escala.
Para representarmos o Focke-Wulf AT-Fw-58 “FAB 1530” quando em uso pela Força Aérea Brasileira, empregamos o kit em resina da GIIC Models na escala 1/48. Apesar deste modelo ser baseado em um antigo modelo em vacum forming, o kit produzido por este fabricante artesanal, representa a versão empregada no Brasil entre os anos de 1938 á 1951. Fizemos uso de decais originais do modelo confeccionados pelo fabricante em conjunto com decais FCM Decais presentes no set 48/08. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado nas aeronaves Focke-Wulf FW-58B quando em uso pela Aviação Naval da Marinha do Brasil, com este esquema sendo alterado a partir de 1941 quando estas aeronaves foram incorporadas a recém-criada Força Aérea Brasileira, passando a portar seus cocares nas asas e designação e matrícula na fuselagem. Esta sistemática seria mantida até a desativação das aeronaves em 1951. Um terceiro esquema de pintura em metal natural foi adotado nas aeronaves remanescentes a partir de 1945. A aeronave exposta no Museu da Aeronáutica (MUSAL) no Rio de Janeiro - RJ , é o único exemplar preservado no mundo, e apresenta este segundo padrão de pintura implementado. Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors .

 Bibliografia :

- Asas sobre os Mares História da Aviação Naval Brasileira - https://asassobreosmares.rudnei.cunha.nom.br/ 
- Focke Wulf FW-58 Wikipidia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Focke-Wulf_Fw_58
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores