UH-13 Aerospatiale AS-355 F2 Esquilo


História e Desenvolvimento.
Após a derrota da França em 10 de maio de 1940 e a subsequente ocupação alemã, a indústria de defesa nacional francesa, outrora pujante, foi reduzida à condição de fornecedora de componentes elementares para a produção de equipamentos e armamentos das forças nazistas. O renascimento desse setor ocorreu somente após o término da Segunda Guerra Mundial, no contexto da reconstrução da indústria manufatureira nacional. Nesse período, foram criadas duas empresas estatais: a Société Nationale des Constructions Aéronautiques du Sud-Est (SNCASE) e a Société Nationale des Constructions Aéronautiques du Sud-Ouest (SNCASO). Ambas resultaram da nacionalização de pequenas empresas privadas na década de 1930, como parte de um esforço estratégico para consolidar a indústria aeronáutica francesa em centros regionais de desenvolvimento e produção. Esse movimento não apenas restabeleceu empresas tradicionais, mas também propiciou o surgimento de novos conglomerados industriais e produtos que, nas décadas seguintes, alcançariam reconhecimento mundial, especialmente no setor aeronáutico. Destaca-se, nesse contexto, a produção de aeronaves de asas rotativas, que se beneficiou de significativos incentivos e investimentos governamentais. Além disso, parte considerável do conhecimento técnico foi adquirida por meio da fabricação de aeronaves sob licença de origem norte-americana e britânica, processo liderado pela SNCASE e pela SNCASO. Com base nesses acordos de produção licenciada, a indústria aeronáutica francesa alcançou rapidamente um nível de independência tecnológica, materializado no desenvolvimento de projetos nacionais. Entre estes, o mais notável foi o helicóptero Alouette II, projetado pela SNCASE e equipado com um motor turboeixo. Sua estreia operacional ocorreu em março de 1955, e o modelo, juntamente com suas versões subsequentes, permaneceu em produção até 1975. O Alouette II conquistou uma expressiva participação no mercado internacional de helicópteros de pequeno porte, consolidando a posição da França nesse segmento. Em 1º de março de 1957, a SNCASE e a SNCASO iniciaram um processo de fusão, dando origem à Sud Aviation (Société Nationale de Constructions Aéronautiques du Sud). A SNCASE já possuía experiência na fabricação de aeronaves como o avião de passageiros SNCASE Languedoc e o caça De Havilland Vampire, produzido sob licença como SNCASE Mistral. Em 1951, a empresa havia iniciado o desenvolvimento de um novo jato comercial, que se tornaria o emblemático Caravelle. A SNCASO, por sua vez, contribuiu com sua expertise em diversos projetos, complementando as competências da SNCASE. A fusão resultou em uma empresa mais robusta, capaz de competir no cenário aeroespacial global e de impulsionar o desenvolvimento de projetos inovadores que marcaram a história da aviação.

O êxito do Aérospatiale Alouette II, pioneiro entre os helicópteros movidos a turbina, abriu caminho para o desenvolvimento de uma aeronave ainda mais robusta e capaz de suportar maiores cargas. Assim nasceu o Aérospatiale Alouette III, designado como SA 316 ou SA 319 em suas variantes, que realizou seu voo inaugural em 28 de fevereiro de 1959 e entrou em serviço em 1961. Projetado para atender à demanda por um helicóptero versátil, capaz de operar em condições extremas, como grandes altitudes e climas rigorosos, o Alouette III consolidou-se como um marco na aviação de asas rotativas. Em 1965, uma colaboração anglo-francesa foi estabelecida com o objetivo de desenvolver um substituto para a versão militar do Alouette III. Dessa parceria surgiu o Aérospatiale SA341/SA342 Gazelle, um helicóptero leve e ágil que veio a equipar as forças armadas da França e do Reino Unido. Apesar de seu sucesso no mercado militar, o elevado custo de aquisição e operação limitou sua adoção no setor civil internacional. Com base na experiência adquirida com o Gazelle, a equipe de engenharia da Aérospatiale voltou-se para um novo desafio: conceber um helicóptero que combinasse inovação tecnológica com acessibilidade econômica. Para tanto, realizou extensas pesquisas de mercado junto a potenciais operadores, que destacaram três requisitos fundamentais: baixos níveis de ruído e vibração, maior capacidade de transporte e custos operacionais reduzidos. Esses parâmetros seriam essenciais para posicionar a nova aeronave como uma alternativa competitiva ao principal rival no mercado global, o norte-americano Bell 206 Jet Ranger. O projeto resultante apresentou um helicóptero monoturbina com capacidade para até cinco ocupantes, incluindo piloto e passageiros. Incorporando avanços em aviônica, a aeronave foi desenhada para oferecer custos de aquisição e manutenção significativamente inferiores aos do SA341/SA342 Gazelle. Inspirando-se em técnicas da indústria automotiva, a Aérospatiale integrou componentes compartilhados com veículos das marcas Citroën e Renault, além de adotar o inovador sistema Starflex para o rotor principal. Esse sistema, aliado a uma construção eficiente, conferiu à aeronave um desempenho excepcional, com baixo custo operacional, tornando-a ideal para uma ampla gama de missões civis e militares. O protótipo, batizado como Aérospatiale AS350-001, realizou seu primeiro voo em 27 de junho de 1974, sob o comando do piloto de testes Daniel Bernard Certain Bauchart. Equipado com um moderno motor turboeixo Lycoming Avco LTS-101, capaz de gerar 592 shp, o Aérospatiale AS350 demonstrou desde o início sua versatilidade e eficiência, marcando o início de uma nova era para a Aérospatiale.
Após sua apresentação oficial, o Aérospatiale AS350 foi submetido a um rigoroso programa de testes e ensaios em voo, cuja fase inicial revelou limitações na potência do motor norte-americano originalmente instalado. Para superar esse obstáculo, a equipe de engenharia optou pela substituição pelo motor francês Turbomeca Arriel 1B, que oferecia 641 shp e havia sido projetado especificamente para helicópteros leves. Essa decisão estratégica provou-se acertada, e o segundo protótipo, já equipado com o novo motor, realizou seu voo inaugural em 14 de fevereiro de 1975. Esse motor foi escolhido para a versão principal (AS350B) devido ao melhor desempenho em relação ao Lycoming, que era menos potente para certas condições. Durante os extensos ensaios, diversas melhorias técnicas foram implementadas, culminando na versão final de produção. Com o objetivo de atender aos padrões internacionais, três células do helicóptero foram produzidas para os processos de certificação. Em 1977, após obter as aprovações necessárias, o modelo, agora batizado como Aérospatiale AS350B Écureuil (Esquilo), foi lançado nos mercados europeu e norte-americano. Sua combinação de desempenho, confiabilidade e custos operacionais reduzidos rapidamente atraiu o interesse de operadores privados, resultando em uma crescente demanda. A partir de 1978, o Aérospatiale AS350 Écureuil consolidou sua presença com a celebração de contratos governamentais significativos nos dois continentes, especialmente para missões policiais e de socorro aeromédico. O sucesso no mercado civil e paramilitar incentivou a Aérospatiale a desenvolver uma variante militar, voltada principalmente para o treinamento e conversão de pilotos, com funções secundárias como transporte de autoridades (VIP), ligação e observação. Nascia assim o Aérospatiale AS350 BB uma variante específica do helicóptero AS350 Écureuil (atualmente Airbus Helicopters H125), projetada principalmente para atender às necessidades do mercado britânico, em particular para treinamento e operações específicas da Força Aérea Real do Reino Unido (RAF). Para atender aos requisitos de desempenho militar, essa versão foi equipada com o motor Turbomeca Arriel 1D, que entregava 684 shp, conferindo um desempenho ligeiramente superior ao da versão civil. O novo modelo foi configurado com controles duplos robustos e sistemas simplificados para facilitar o aprendizado de pilotos novatos. Inclui instrumentação adaptada para treinamento militar, com sistemas de navegação e comunicação compatíveis com os padrões da RAF. O Aérospatiale  AS350 BB foi selecionado em 1979 pela DHFS Defence Helicopter Flying School (DHFS) (hoje parte do sistema de treinamento do Reino Unido) para formar pilotos de helicóptero das Forças Armadas Britânicas. Após sua introdução passaria a substituir helicópteros mais antigos, como o Westland SA341 Gazelle, em programas de treinamento militar, além de oferecer uma plataforma versátil para outras missões civis e militares no Reino Unido. Operado pela FB Heliservices (atual Cobham Helicopter Services), foi usado extensivamente na base de Força Aérea Real em  Shawbury. 

Assim, logo após a certificação internacional dos protótipos do AS-350, a Aérospatiale deu início aos estudos para o desenvolvimento de uma variante bimotora. A estratégia da empresa foi maximizar a padronização com o modelo monomotor, utilizando componentes e sistemas já testados, o que não apenas reduziu custos e prazos de desenvolvimento, mas também facilitou a integração na cadeia logística e de manutenção já estabelecida. Esse enfoque resultou em um processo de desenvolvimento ágil, culminando no primeiro voo do protótipo do AS-355 em 28 de setembro de 1979.O AS-355E Ecureuil 2 foi projetado para manter a essência do AS-350, mas com melhorias significativas voltadas para a segurança e o desempenho. A aeronave foi equipada com dois motores turboeixo Allison 250-C20F, cada um desenvolvendo 420 shp (cavalos de potência no eixo), que proporcionavam maior potência e redundância em comparação com o modelo monomotor. A escolha desses motores foi estratégica, pois eles já eram amplamente utilizados e reconhecidos pela confiabilidade, o que facilitava a manutenção e o fornecimento de peças. O sistema hidráulico de controle do AS-355E era simples, projetado para garantir uma operação eficiente sem comprometer a segurança. Essa característica foi particularmente apreciada por operadores que buscavam um equilíbrio entre desempenho e facilidade de manutenção. Durante os ensaios em voo, realizados logo após o primeiro voo do protótipo, a Aérospatiale identificou oportunidades de aprimoramento, resultando em pequenas modificações que foram incorporadas rapidamente ao projeto, garantindo a robustez do modelo antes da produção em série. A produção em série do AS-355E Ecureuil 2 marcou o início de uma nova fase para a família Ecureuil. A aeronave foi bem recebida no mercado, especialmente em setores que exigiam alta confiabilidade, como transporte de passageiros, operações médicas de emergência (HEMS) e missões policiais. A configuração bimotora permitia que o helicóptero operasse em condições mais exigentes, como voos sobre áreas urbanas densas ou corpos d’água, onde a segurança era uma prioridade absoluta.Posteriormente, a Aérospatiale lançou a versão AS-355F Ecureuil 2, que introduziu um sistema hidráulico duplo de controle, aprimorando ainda mais o desempenho e a segurança em voo. Essa evolução refletiu o compromisso da fabricante em atender às necessidades de operadores que buscavam maior sofisticação e robustez operacional. Ao final da década de 1980, o AS-355E e suas variantes já haviam conquistado um espaço significativo no mercado global. A combinação de segurança, desempenho e custos operacionais competitivos tornou o modelo uma escolha popular em diversos países. A padronização com o AS-350 permitiu que operadores se beneficiassem de uma cadeia de suprimentos consolidada, reduzindo os custos de manutenção e peças de reposição. Além disso, a crescente frota de helicópteros Ecureuil contribuiu para a criação de uma rede global de suporte técnico, o que reforçou a confiança no modelo.
O sucesso comercial do AS-355E também abriu portas para sua adaptação em missões militares. A Aérospatiale vislumbrou o potencial da aeronave bimotora em aplicações especializadas, como ataque ao solo, apoio aéreo aproximado, patrulha marítima, guerra antissubmarino (ASW), ataque antinavio (ASM) e busca e salvamento de combate (Combat-SAR).  O objetivo era transformar o helicóptero em uma plataforma capaz de operar em cenários exigentes, mantendo a eficiência operacional e a facilidade de manutenção características da família Ecureuil. As principais modificações incluíram: Reforços Estruturais e Blindagem: Para suportar as condições adversas de operações militares, o AS-355E recebeu reforços estruturais em sua fuselagem. Áreas críticas, como o grupo motriz e a cabine, foram protegidas com blindagem, incluindo piso e assentos blindados para os tripulantes, garantindo maior segurança em ambientes hostis. Motores Mais Potentes: A substituição dos motores originais Allison 250-C20F (420 shp cada) pelo Turbomeca Arriel 2-B, com 847 hp, foi uma das melhorias mais significativas. Aviônica Avançada: A aeronave foi equipada com sistemas aviônicos mais sofisticados, projetados para operações de combate. Isso incluía sistemas de navegação e comunicação compatíveis com missões táticas, além de preparação para integração de óculos de visão noturna (NVG) e sistemas de imageamento diurno e noturno, como câmeras térmicas e sensores infravermelhos. Sistemas de Defesa Passiva: Para aumentar a sobrevivência em cenários de combate, o AS-355E militar foi equipado com dispositivos de contramedidas, como dispensadores de chaff e flare, destinados a desviar mísseis guiados por calor ou radar. Armamento Modular: A aeronave foi adaptada para receber uma variedade de sistemas de armas, permitindo sua configuração para diferentes tipos de missões. Em 1992 um processo de fusão englobaria as divisões de produção de aeronaves de asas rotativas da empresa francesa Aérospatiale e da alemã Messerschmitt-Bölkow-Blohm, nascendo assim a European Aeronautic Defence and Space Company (EADS). Novamente seria adotada um sistemática de identificação diferente, renomeando as versoes militares como "Fennec" (Raposa), distinguindo assim da versão civil "Écureuil" (Esquilo). As versões de maior destaque seriam a AS550 C2 Fennec, AS550 U2 Fennec e AS550 C3 Fennec. Os primeiros contratos de exportação seriam celebrados ainda no ano de 1990, envolvendo entregas para as forças armadas da França, Argentina, Brasil, Colômbia, Argélia, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Malásia, México, Singapura, Paquistao, Uberquistao e China (versão produzida localmente do Z-11). Esta família de aeronaves designada comercialmente em 2005 como Airbus H-125, permanece em produção contínua  até os dias atuais, acumulando mais de três mil e setecentas células entregues ao mercado civil, forças de segurança e também a mais de quarenta forças armadas militares ao redor do mundo. Apesar da idade da maioria das células remanescentes, constantes programas de retrofit estrutural e modernizações garantem que esta família de aeronaves de asas rotativas ainda se manterá na ativa por mais pelo menos  vinte e cinco anos.

Emprego na Marinha do Brasil.
A utilização  de aeronaves de asas rotativas na Aviação Naval teve sua gênese em 1952 com a criação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), tendo como seu primeiro vetor quatro anos mais tarde duas células do modelo Westland WS-51/2 Widegon. A seguir mais helicópteros de outros modelos  seriam incorporados, porém desde  meados da década de 1960, o comando da Aviação Naval da Marinha do Brasil reconheceu que a solução para os desafios logísticos relacionados à manutenção de sua frota de helicópteros passava pela criação de uma indústria nacional dedicada à fabricação de aeronaves de asas rotativas. Essa visão estratégica começou a ganhar forma com a fundação da Embraer S/A, em 1969, e avançou significativamente em 1973, quando o Instituto de Fomento Industrial do Centro Técnico Aeroespacial (IFI-CTA) assumiu a liderança na organização de um projeto para estabelecer uma empresa voltada à produção de helicópteros no Brasil. No que diz respeito às necessidades da Marinha do Brasil, os esforços iniciais concentraram-se na possibilidade de a Embraer produzir, sob licença, o helicóptero Aérospatiale-Westland Gazelle, uma aeronave consolidada no mercado internacional. Contudo, avaliações técnicas revelaram que as linhas de montagem da Embraer, otimizadas para aeronaves de asa fixa, não se adequavam à complexidade da fabricação de helicópteros. Diante desse obstáculo, o Instituto de Fomento Industrial do CTA, em parceria com a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), passou a buscar alternativas no mercado global, iniciando contatos com diversos fabricantes de helicópteros e solicitando propostas para a produção local. Entre as empresas que responderam ao chamado, a francesa Aérospatiale destacou-se pela proatividade e visão estratégica. Inicialmente, a companhia propôs a produção de uma versão customizada do AS-315B Lama, um helicóptero robusto, mas já ultrapassado para as demandas brasileiras. Após análises, a escolha recaiu sobre o AS350 Écureuil, um modelo mais moderno, versátil e alinhado às necessidades operacionais da Marinha e do mercado civil. As negociações envolveram o governo federal, o governo do estado de Minas Gerais, a empresa Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul e a Aérospatiale. Esse processo culminou, em abril de 1978, na assinatura de um acordo histórico para a criação da Helicópteros do Brasil S/A (Helibras), uma empresa de capital misto com 45% de participação da Aérospatiale e 55% de capital brasileiro, distribuído entre a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais, a Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul e a Minas Gerais Participações. A escolha da cidade de Itajubá, no interior de Minas Gerais, para a instalação da planta fabril foi estratégica, combinando incentivos econômicos, localização favorável e potencial para o desenvolvimento industrial regional. Como protagonista no apoio à criação da Helibras, a Marinha do Brasil posicionou-se naturalmente como um dos primeiros clientes da nova empresa. A primeira aeronave, registrada com a matrícula N-7051, foi submetida a testes de voo na França e entregue oficialmente a representantes da Marinha do Brasil em maio de 1979.

Em junho do mesmo ano, o helicóptero foi desmontado e transportado por via aérea ao Brasil, desembarcando no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, São Paulo. No local, foi recebido por oficiais do Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH), responsáveis por supervisionar o processo de incorporação. De Campinas, a aeronave foi transportada por via terrestre até o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, onde a Helibras operava instalações provisórias.  Após a conclusão dessa etapa, o UH-12 foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo, conduzido sob a supervisão da Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM). Esse processo, que visava garantir a conformidade técnica e a prontidão operacional da aeronave, estendeu-se por cinco meses, culminando na sua incorporação oficial ao 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1), sediado na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro, no final de 1979. As cinco aeronaves restantes previstas no contrato, com matrículas N-7052, N-7053, N-7054 e N-7055, foram montadas diretamente no Brasil, nas instalações da Helibras. Essas unidades foram incorporadas à frota da Aviação Naval até março de 1980, ampliando a capacidade operacional do EsqdHU-1. Na primeira metade da década de 1980, a Aviação Naval do Brasil, embora já operasse uma frota significativa de helicópteros, identificou a necessidade de incorporar aeronaves de asas rotativas bimotoras para atender às demandas de transporte e missões de emprego geral. Essa decisão foi motivada pela necessidade de superar as limitações operacionais observadas nos helicópteros Westland UH-2 Wasp e Helibras UH-12 Esquilo, especialmente no contexto do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). As condições extremas do ambiente antártico, marcadas por adversidades climáticas e meteorológicas, exigiam uma aeronave com maior segurança operacional, característica que somente um helicóptero bimotor poderia proporcionar de forma consistente. Com base nessa necessidade estratégica e após a liberação de recursos orçamentários, a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) iniciou um processo meticuloso de avaliação das opções disponíveis no mercado internacional. Esse estudo foi conduzido em paralelo a outro processo de aquisição, voltado para a obtenção de helicópteros de transporte de médio porte. A Marinha priorizou propostas comerciais e técnicas que oferecessem uma solução integrada, capaz de atender de forma abrangente às demandas de ambas as categorias de aeronaves, otimizando recursos e garantindo eficiência operacional. Em setembro de 1984, a DAerM apresentou um relatório final que apontava a proposta da empresa francesa Aérospatiale como a mais vantajosa. O documento destacava dois modelos: o AS-332 Super Puma, para a categoria de transporte médio, e o AS-355 F2 Ecureuil 2, como a solução ideal para a necessidade de um helicóptero bimotor leve. A escolha refletia não apenas o desempenho técnico superior dos modelos, mas também a capacidade da Aérospatiale de oferecer um pacote completo, incluindo suporte logístico e manutenção, aspectos cruciais para operações em ambientes desafiadores como a Antártida.
As negociações avançaram rapidamente, culminando na assinatura de um  contrato firmado em março de 1985 entre o Ministério da Marinha do Brasil e a Aérospatiale, no âmbito do Programa Charcot, previa a aquisição de seis helicópteros AS-332 Super Puma e onze AS-355 F2 Ecureuil 2, este último com um custo unitário de US$ 1.543.096,00. As aeronaves AS-355 F2 foram encomendadas não apenas com a configuração padrão de aviônica, mas também equipadas com tecnologias avançadas para atender às exigências operacionais da Aviação Naval. Entre os sistemas embarcados, destacavam-se o moderno radar meteorológico Bendix 1400C e os avançados sistemas de rádio VHF/UHF e AM/FM AN/ARC-182, garantindo maior precisão e segurança em missões críticas. Adicionalmente, quatro das onze células foram entregues já com a pintura de alta visibilidade padrão antártico, adequada às operações no ambiente extremo da Antártida. O primeiro helicóptero AS-355 F2, designado pela Aviação Naval como UH-13, foi recebido em agosto de 1986 nas instalações da Aérospatiale em Marignane, França. A aeronave passou por uma rigorosa inspeção conduzida pelo Grupo de Fiscalização e Recebimento de Helicópteros (GFRH) antes de ser liberada. Posteriormente, todas as onze unidades foram transportadas por via naval ao Brasil, chegando à Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), onde foram montadas por equipes técnicas da Helibras S/A em conjunto com mecânicos do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-1). Em um esforço coordenado, todas as aeronaves foram declaradas plenamente operacionais até o final de junho de 1987, marcando um avanço significativo na capacidade operacional da Aviação Naval. Apesar das diferenças técnicas em relação ao UH-12 Esquilo, a transição para o UH-13 foi conduzida de forma eficiente. O processo de qualificação dos pilotos e tripulantes do HU-1 transcorreu de maneira fluida, graças à familiaridade com a família Ecureuil e ao suporte técnico oferecido pela Aérospatiale e pela Helibras. Contudo, em 3 de junho de 1988, um lamentável acidente resultou na perda de uma célula do UH-13 Esquilo , que colidiu com as águas da Lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, durante uma aproximação para pouso na BAeNSPA. Apesar desse revés, a introdução do UH-13 na Aviação Naval seguiu como planejado, consolidando sua relevância em operações estratégicas. O UH-13 Esquilo provou seu valor logo em sua estreia operacional, com destaque para sua participação no Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Em 17 de novembro de 1987, durante a Operação Antártica IV, o helicóptero foi embarcado no navio H-42 Barão de Teffé, onde permaneceu em operação até abril do ano seguinte. A partir dessa missão, o UH-13 tornou-se presença constante nas operações antárticas, inicialmente a bordo do H-42 e, posteriormente, no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel (H-44). Sua configuração bimotora e os sistemas avançados garantiam segurança e eficiência em um dos ambientes mais desafiadores do planeta.

Além das missões antárticas, os UH-13 Esquilo foram amplamente empregados em apoio à Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), operando em diversos pontos do território nacional. Com uma capacidade de carga externa significativamente superior à do UH-12 Esquilo monomotor, o UH-13 destacou-se como a plataforma ideal para o transporte de equipamentos e materiais que excediam as limitações de seu antecessor. Essa versatilidade permitiu que o helicóptero desempenhasse um papel essencial em missões logísticas e de apoio, reforçando a capacidade operacional da Marinha do Brasil. Os helicópteros UH-13 Ecureuil 2, operados pelo 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1) da Marinha do Brasil, destacaram-se por sua versatilidade em uma ampla gama de missões, incluindo busca e salvamento, ligação e observação, remoção aeromédica e transporte logístico. A partir da década de 1990, esses helicópteros passaram a integrar, com crescente frequência, os destacamentos aéreos embarcados a bordo das fragatas e corvetas da Esquadra Brasileira, consolidando seu papel em operações marítimas. Durante esse período, em razão do programa de modernização dos helicópteros Westland SAH-11 Sea Lynx, os UH-13 Esquilo foram temporariamente embarcados nas fragatas da classe Niterói, desempenhando missões de esclarecimento marítimo e observação de tiro naval. Com o avanço da modernização dos Sea Lynx, essas atividades passaram a se concentrar, em grande parte, nas corvetas da classe Inhaúma, onde os UH-13 continuaram a demonstrar sua eficácia em operações embarcadas. Ao longo de sua trajetória operacional, a frota de UH-13 enfrentou desafios, incluindo a perda de duas células em acidentes. O primeiro incidente envolveu o UH-13 de matrícula N-7059, perdido em 5 de junho de 1987, na Lagoa de Araruama, RJ, conforme registrado anteriormente. Um segundo acidente ocorreu em dezembro de 1989, mas, anos mais tarde, essa célula foi reconstruída nas instalações da Helibras em Itajubá, Minas Gerais, e reintroduzida em serviço como um UH-12 (HB350 BA). Além disso, em 8 de dezembro de 2005, a aeronave de matrícula N-7061 foi doada à Armada Nacional do Uruguai, sendo rematriculada como Armada 071, demonstrando a cooperação internacional entre as forças navais. Os UH-13 também se destacaram como plataformas de armas, sendo empregados em missões de treinamento e em apoio a operações de desembarque do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Um exemplo notável foi sua atuação na Campanha de Lançamento do Míssil AIM-9 Sidewinder, em conjunto com as aeronaves McDonnell Douglas AF-1/1A Skyhawk do 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1), onde os UH-13 Esquilo serviram como lançadores de alvos, contribuindo para o sucesso dos exercícios.
Apesar de sua comprovada eficiência, o desgaste operacional das células, agravado pelas rigorosas condições do ambiente marítimo, levou o comando da Força Aeronaval a iniciar estudos para a substituição das aeronaves de asas rotativas leves. Esse processo foi incorporado ao Programa Helicópteros de Emprego Geral de Pequeno Porte (UHP), desenvolvido pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) a partir de 2015. O programa visava modernizar a frota, garantindo a continuidade das operações com maior eficiência e segurança, em resposta às demandas operacionais crescentes. O Programa Helicópteros de Emprego Geral de Pequeno Porte (UHP), concebido pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), demandava um planejamento detalhado e um orçamento significativo, o que implicava um cronograma extenso para sua implementação. Contudo, a urgência pela substituição dos helicópteros UH-13 Ecureuil 2, que haviam servido com distinção por mais de três décadas, tornou-se evidente. Essas aeronaves desempenharam um papel fundamental no Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), operando em um dos ambientes mais inóspitos do planeta. No entanto, após mais de trinta anos de serviço, a frota de UH-13 apresentava uma redução significativa no número de células operacionais, agravada pela obsolescência de seus sistemas aviônicos. Essa condição comprometia a segurança e a eficiência das operações, especialmente nas exigentes condições da Antártida.Diante desse cenário, a Marinha optou por avaliar oportunidades de aquisição no mercado internacional, uma estratégia que culminou na compra de três helicópteros Airbus H135 T3. Essa aquisição marcou o início do declínio da era operacional dos UH-13 Ecureuil 2. O processo de desativação gradual dessas aeronaves teve início durante a 38ª Operação Antártica (OPERANTAR XXXVIII), em 25 de outubro de 2019, quando duas unidades do UH-13 foram embarcadas no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel (H44), que acompanhou o Navio Polar Almirante Maximiano (H41) em uma expedição ao continente antártico. O término dessa operação, em abril de 2020, marcou o fim de 32 anos de operação ininterrupta dos UH-13 no âmbito do PROANTAR. Esse momento abriu espaço para o início das operações com os novos Airbus UH-17, que passaram a assumir as responsabilidades antes desempenhadas pelos UH-13. Apesar da desativação no contexto antártico, as células remanescentes do UH-13, ainda operadas pelo 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1), continuam em serviço, cumprindo missões variadas dentro do escopo da unidade. Essas aeronaves permanecerão ativas até que sejam plenamente substituídas por um novo vetor de asas rotativas, a ser selecionado no âmbito do Programa UHP. O legado dos UH-13 Ecureuil 2 na Aviação Naval brasileira é inegável. Por mais de três décadas, essas aeronaves foram pilares do PROANTAR e de outras operações, enfrentando desafios extremos com resiliência e confiabilidade. Sua substituição, embora necessária, marca o encerramento de uma era significativa, mas também sinaliza o compromisso da Marinha do Brasil com a modernização e a segurança de suas operações aeronavais.

Em Escala.
Para representar o helicóptero Aérospatiale AS-355 F2 Ecureuil 2, designado pela Aviação Naval da Marinha do Brasil como UH-13 “MB 7065”, utilizamos um modelo artesanal confeccionado em resina, na escala 1/48 (ou possivelmente 1/50, conforme aparenta). Este modelo,  provavelmente derivado do kit original da Heller do AS-350, necessitou de algumas alterações para representar o modelo exato empregado na Marinha do Brasil.  Os exaustores laterais das turbinas foram ajustados, e dois exaustores adicionais foram incorporados na parte superior da aeronave, garantindo maior fidelidade à versão operacional. Além disso, os esquis de pouso foram substituídos pelos componentes originais do kit Heller. Para a aplicação das marcações, utilizamos decais do conjunto 48/07B da FCM Decals, que reproduzem com precisão os detalhes visuais do UH-13. No entanto, para corresponder à matrícula específica “MB 7065”, os numerais foram adaptados com decais provenientes de outros conjuntos, permitindo uma representação fiel e personalizada da aeronave.
O esquema de cores, baseado no padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, corresponde à pintura de alta visibilidade aplicada aos helicópteros Aérospatiale AS-355 F2 Ecureuil 2, designados UH-13 Esquilo, utilizados no âmbito do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Esse padrão foi cuidadosamente desenvolvido para atender às exigências das operações no continente antártico, onde a visibilidade é essencial em meio às condições extremas e ao ambiente predominantemente branco e inóspito. Por outro lado, as demais células do UH-13, não destinadas ao PROANTAR, adotavam o esquema de pintura padrão utilizado pelos helicópteros Helibras UH-12 Esquilo em serviço no 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1).


Bibliografia :
- Eurocopter AS 355  Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Eurocopter_AS355
- O Tudão Esquadrão HU-1 – Revista Força Aérea Nº 70
- O Esquadrão HU-1 na OPERANTAR - https://www.marinha.mil.br/secirm/pt-br/proantar/aeronaval
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr

Citroen 2 CV Charleston


Historia e Desenvolvimento
André Gustave Citroën, engenheiro e empresário francês de ascendência judaica holandesa e polonesa, é reconhecido como uma figura seminal na história da indústria automotiva, tanto na França quanto no cenário internacional. Sua genialidade, marcada pela invenção das engrenagens bi-helicoidais, conhecidas como "espinha de peixe", pavimentou o caminho para inovações que transformariam o setor. Sua trajetória industrial teve início em 1912, com a fundação de uma modesta metalúrgica voltada à produção de armamentos leves para a infantaria. O advento da Primeira Guerra Mundial, em 1914, trouxe um impulso significativo aos seus negócios, posicionando sua empresa como um fornecedor estratégico para o governo francês. Durante o conflito, a metalúrgica expandiu sua produção, fabricando uma ampla gama de peças e componentes essenciais para a indústria de defesa nacional. Com o término da guerra em 1918, a empresa de Citroën enfrentou um desafio crucial: a drástica redução das encomendas militares deixou sua robusta capacidade produtiva ociosa. Demonstrando notável visão empreendedora, Citroën reorientou seus esforços para o mercado automotivo, lançando, no segundo semestre de 1919, o modelo Type A, seu primeiro automóvel de passeio. Este veículo, caracterizado por sua robustez e custo acessível, alcançou êxito imediato, conquistando o público francês. Contudo, a concorrência logo se adaptou, abandonando as tradicionais estruturas de madeira em favor de designs mais modernos, o que tornou os modelos iniciais da Citroën visualmente obsoletos. Determinado a manter a competitividade, André Citroën voltou-se à inovação. Em 1928, tornou-se pioneiro na Europa ao introduzir veículos inteiramente construídos em metal, um avanço técnico significativo. Esse marco foi seguido pelo lançamento do icônico Traction Avant, um automóvel revolucionário que incorporava três inovações fundamentais: a estrutura monobloco, a suspensão independente nas rodas dianteiras e a tração frontal. Essas características, sem paralelos na época, estabeleceram um novo padrão para a indústria automotiva, influenciando modelos icônicos como o Mini e o Volkswagen Golf décadas mais tarde, e permanecem presentes na maioria dos veículos modernos. Apesar de seu sucesso técnico, o desenvolvimento do moderno Traction Avant demandou investimentos vultosos, que comprometeram a saúde financeira da empresa. Em 1934, enfrentando dificuldades insustentáveis, a Citroën declarou falência e foi adquirida por seu principal credor, a fabricante de pneus Michelin. Felizmente, o Traction Avant foi calorosamente recebido pelo mercado, gerando resultados expressivos em vendas e rentabilidade. Esse sucesso não apenas revitalizou a marca, mas também consolidou sua presença no mercado francês e expandiu sua influência por toda a Europa..   

O Citroën 2CV foi oficialmente apresentado ao público no Salão do Automóvel de Paris, em 1948, trazendo um conceito que unia simplicidade, economia e funcionalidade. Equipado com um motor bicilíndrico de 375 cm³, refrigerado a ar, que desenvolvia modestos 9 cavalos de potência, o veículo causou impacto inicial não apenas por sua proposta inovadora, mas também por seu design peculiar. Um jornalista norte-americano, ao deparar-se com o 2CV, teria questionado, com humor, “onde está o abridor de latas?”, refletindo a surpresa que o estilo espartano do carro provocava. Contudo, a combinação de economia, simpatia e praticidade logo conquistou o público europeu, transformando o 2CV em um ícone cultural. Com um peso de apenas 560 kg, o 2CV compensava sua potência limitada com uma leveza que assegurava um desempenho adequado para sua proposta. A nomenclatura “deux chevaux” (dois cavalos, em francês) referia-se à potência fiscal, uma classificação que enquadrava o veículo em políticas governamentais francesas de incentivo fiscal a carros populares. Essa estratégia tornou o 2CV uma opção acessível, especialmente em um continente em reconstrução após a Segunda Guerra Mundial. Respondendo às crescentes demandas do mercado por maior desempenho, a Citroën lançou, em 1954, uma versão aprimorada com um motor de 425 cm³, que entregava 12 cavalos de potência e permitia ao veículo atingir uma velocidade máxima de 80 km/h. No mesmo período, a empresa introduziu a versão furgão do 2CV, projetada para o transporte de pequenas cargas em ambientes urbanos. A versatilidade dessa variante impulsionou sua popularidade, levando a Citroën a expandir sua produção a partir de 1957, com linhas de montagem estabelecidas em subsidiárias no Camboja e na Espanha. Em 1958, a Citroën apresentou o modelo Sahara, uma versão ousada equipada com dois motores de 425 cm³, tração nas quatro rodas e 24 cavalos de potência, capaz de alcançar 100 km/h. Embora sua produção tenha começado apenas em 1960, estendendo-se até 1966 com cerca de 700 unidades fabricadas, o Sahara destacou-se por sua robustez em terrenos desafiadores. A expansão global do 2CV continuou, com sua produção iniciada em Portugal em 1964 e, posteriormente, na América do Sul, por meio de acordos de montagem no regime CKD (completely knocked down) em países como Paraguai, Uruguai e Equador. O preço competitivo do 2CV foi um fator determinante para seu sucesso. Na Alemanha Ocidental, durante a década de 1950, o modelo era comercializado por aproximadamente metade do valor de um Volkswagen Fusca, consolidando sua posição no mercado de carros econômicos. Contudo, a partir da mesma década, a concorrência nesse segmento intensificou-se com a chegada de modelos como o alemão Messerschmitt KR175 e o italiano Isetta, desafiando a liderança da Citroën. Apesar disso, a combinação de acessibilidade, durabilidade e carisma assegurou ao 2CV um lugar especial no coração dos consumidores e um legado duradouro na história automotiva.
O modelo só seria oficialmente apresentado no Salão de Paris de 1948, com um motor bi cilíndrico de 375 cm3 que desenvolvia 9 cv de potência, refrigerado a ar. Inicialmente, o estilo seria considerado polêmico, segundo relatos, um jornalista norte-americano ao ver pela primeira vez o Citroën 2CV, perguntou: "E onde está o abridor de latas? Porém sua economia, simpatia e praticidade acabaram prevalecendo e conquistando o público. Embora a potência fosse contida, o veículo era extremamente leve pesando apenas 560 kg, não comprometendo tanto seu desempenho. Conforme citado anteriormente, a nomenclatura oficial do modelo de “deux chevaux”, que significa dois cavalos, fazia referência a potência do veículo, buscando assim enquadramento em políticas governamentais de redução de impostos para carros populares. Apesar do desempenho dentro do mínimo aceitável, o mercado consumidor naquele período exigia cada vez maior potência, levando a empresa em 1954 a adotar um novo motor de 425 cm3 com 12 cavalos de potência, elevando assim a velocidade máxima a 80 km/h.  Neste momento seria lançada também a versão furgão, destinada ao transporte e entrega de pequenas cargas, principalmente em ambiente urbano. O sucesso desta nova versão, faria a montadora a expandir sua produção a partir do ano de 1957, passando a montar seus modelos em subsidiarias no Camboja e na Espanha. Ainda em 1958, a montadora apresentaria a versão Sahara, com dois motores de 425 cm3, 24 cv de potência e tração nas quatro rodas, chegando a alcançar 100 km/h, mas sua produção só seria iniciada dois anos mais tarde, em 1960 perdurando até o ano de 1966 com quase setecentas unidades completadas. No ano de 1964 a família Citroen 2CV passaria a ser produzido em Portugal, e sete anos depois desembarcaria na América do Sul através de acordos de montagem no regime CKD (completely knocked down) Paraguai, Uruguai e Equador. O preço de venda do Citroen 2CV era baixo em relação à concorrência, na Alemanha Ocidental durante a década de 1950 por exemplo, ele custava cerca de metade do preço de um Volkswagen Sedan “Fusca”. Porém a partir da primeira metade desta mesma década, o mercado de carros econômicos na Europa estava em ampla expansão, gerando um aumento da concorrência que seria representado principalmente pelo alemão Messerschmitt KR175 e o italiano Isetta, passando a ameaçar assim a liderança francesa neste mercado. 

Na década de 1960, o Citroën 2CV enfrentou desafios significativos no mercado automotivo europeu, à medida que competidores como o Simca 100, baseado em tecnologia licenciada pela Fiat, e o hatchback Renault 4 ganharam popularidade, especialmente no mercado francês. 
Esses modelos, juntamente com os chamados “microcarros” — como o Messerschmitt KR175 e o Isetta —, começaram a atrair consumidores devido a seus preços mais acessíveis, apesar de oferecerem desempenho e capacidade de transporte inferiores ao 2CV. Mesmo diante dessa concorrência crescente, o 2CV manteve sua relevância, sustentado por sua robustez, economia e carisma, qualidades que o tornaram um ícone duradouro. Além de seu sucesso comercial, o Citroën 2CV encontrou um nicho inesperado no campo militar, demonstrando sua versatilidade e confiabilidade. Em 1961, a Marinha Real Britânica (Royal Navy) adquiriu 65 unidades do modelo, incluindo versões padrão e picape, para uso pelos Regimentos de Comandos dos Fuzileiros Reais (Royal Marines). A escolha do 2CV foi motivada por sua leveza — com apenas 560 kg — e robustez, características ideais para operações em ambientes desafiadores, como selvas, onde o veículo podia ser transportado por helicóptero a partir de porta-aviões. Sua performance em condições adversas rendeu elogios e abriu portas para adoções adicionais. O sucesso do 2CV no cenário militar britânico inspirou as Forças Armadas Francesas a incorporá-lo em diversas funções. O Exército Francês (Armée de Terre), a Força Aérea Francesa (Armée de l’Air) e a Marinha Nacional (Marine Nationale) adotaram o modelo em versões como transporte de pessoal, furgão utilitário e ambulância. Muitas unidades foram adaptadas para missões específicas, incluindo configurações para reconhecimento armado equipadas com metralhadoras Browning M-2 calibre .50, veículos de comando com rádio e até mesmo plataformas para canhões sem recuo de 106 mm. Essa versatilidade reforçou a reputação do 2CV como um veículo excepcionalmente adaptável. No final da década de 1970, o Exército Francês solicitou à Citroën o desenvolvimento de uma versão militar com tração nas quatro rodas, resultando no Citroën Méhari 4x4. Este utilitário leve, projetado para operações cross-country, contava com uma carroceria metálica e era equipado com um motor bicilíndrico de 652 cm³, refrigerado a ar, com ignição eletrônica integral. O motor entregava uma potência máxima de 34 cv a 5.750 rpm e um torque de 36 lb.ft a 3.500 rpm, oferecendo desempenho confiável em terrenos variados. Aproximadamente 400 unidades do Méhari 4x4 foram adquiridas pelas Forças Armadas Francesas, permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1990. 
Nas décadas de 1960 e 1970, o Citroën 2CV consolidou sua versatilidade ao ser adotado por diversas forças armadas, especialmente em nações africanas, muitas das quais eram ex-colônias francesas. Esses veículos, valorizados por sua robustez e adaptabilidade, foram empregados em uma ampla gama de funções, desde transporte de pessoal até operações táticas, demonstrando sua capacidade de atender às demandas de contextos desafiadores. A produção do 2CV, iniciada em 1948, perdurou até julho de 1990, quando a última unidade deixou a linha de montagem da fábrica portuguesa da Citroën, em Mangualde, em uma cerimônia que marcou o fim de uma era. Ao longo de mais de quatro décadas, a família 2CV alcançou a impressionante marca de mais de cinco milhões de unidades produzidas, consagrando-se como o modelo mais popular da história da Citroën e um dos mais emblemáticos da indústria automotiva. Uma variante notável, o Citroën Méhari, foi produzida sob licença pela Nordex no Uruguai, com adaptações que refletiam as necessidades locais. Equipado apenas com tração dianteira, o Méhari uruguaio utilizava componentes mecânicos fornecidos pela Citroën Argentina e uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro, uma solução prática que dispensava os complexos processos de moldagem por injeção usados na França. Essa versão destacou a capacidade da Citroën de adaptar seus projetos a diferentes realidades, mantendo a essência de funcionalidade e acessibilidade do 2CV. O Citroën 2CV transcendeu sua função como veículo utilitário para tornar-se um símbolo cultural, especialmente na Europa das décadas de 1950 e 1960. Sua popularidade foi eternizada nas páginas de As Aventuras de Tintim, do renomado quadrinista Hergé, onde o 2CV apareceu em O Caso Girassol, conduzido pelos icônicos detetives Dupond e Dupont. O carisma do modelo também foi celebrado em uma edição especial dos chocolates Côte d’Or, que uniu personagens de Tintim a diversos modelos da Citroën, reforçando seu lugar na história automotiva e na cultura popular. Concebido inicialmente como um veículo popular para atender às necessidades do pós-guerra, o 2CV revelou-se um ícone de resiliência, inovação e simpatia. Sua capacidade de se adaptar a cenários tão diversos quanto o mercado civil e o setor militar, aliada à sua simplicidade e durabilidade, garantiu-lhe um legado singular. O Citroën 2CV não foi apenas um automóvel, mas uma expressão do espírito visionário da Citroën, que, com criatividade e determinação, superou desafios para criar um veículo que marcou gerações e permanece vivo na memória coletiva.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O Citroën 2CV, um ícone de simplicidade e versatilidade, teve um papel inesperado no cenário militar brasileiro, com sua utilização temporária pelo Exército Brasileiro e pela Força Aérea Brasileira durante a década de 1950. Essa participação foi diretamente influenciada por eventos históricos desencadeados pela nacionalização do Canal de Suez, anunciada pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em julho de 1956. A decisão de Nasser foi uma resposta à recusa dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha em financiar a construção da Barragem de Aswan, após preocupações com a crescente aproximação do Egito a nações comunistas, como a União Soviética e a Tchecoslováquia. Esse episódio marcou um momento crucial na história do Oriente Médio e da geopolítica global, com reflexos que alcançaram até mesmo o uso do modesto 2CV em operações militares. O Canal de Suez, com seus 163 quilômetros conectando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, foi construído entre 1859 e 1869, a um custo humano devastador: mais de 120 mil egípcios perderam a vida, muitos devido à cólera. Propriedade conjunta do Egito e da França, o canal era uma artéria vital para o comércio global, permitindo que embarcações viajassem da Europa à Ásia sem contornar o continente africano pelo Cabo da Boa Esperança. Em 1879, pressionado por dívidas externas, o Egito vendeu sua participação à Grã-Bretanha, que, em 1882, enviou tropas para proteger seu novo ativo estratégico, consolidando sua influência na região. No século XX, o nacionalismo árabe, ou “arabismo”, emergiu como uma força poderosa, defendendo a união dos povos árabes, do Marrocos ao Golfo Pérsico, sob uma única nação. Embora utópica, essa ideia ganhou força significativa nas décadas de 1950 e 1960, especialmente sob a liderança carismática de Nasser. Utilizando o rádio portátil como ferramenta de comunicação, Nasser disseminou a mensagem do arabismo, alcançando até os rincões mais remotos do mundo árabe. Seu discurso, centrado no arabismo, na justiça social e na luta contra Israel, desafiou líderes regionais associados às potências coloniais, enfraquecendo sua influência. A nacionalização do Canal de Suez intensificou as tensões, alinhando Grã-Bretanha, França e Israel contra o Egito. Para o mundo árabe, a criação de Israel era vista como um legado do colonialismo, e a luta contra o país tornou-se uma causa central do nacionalismo árabe. Contudo, a ambição de Nasser, embora inicialmente galvanizadora, contribuiu para sua queda, à medida que a Crise do Suez e os conflitos subsequentes expuseram as fragilidades de sua visão.

A nacionalização do Canal de Suez, anunciada pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em julho de 1956, desencadeou uma das crises mais marcantes do século XX, com consequências que ecoaram globalmente. Em resposta à recusa de Estados Unidos e Grã-Bretanha em financiar a Barragem de Aswan, Nasser declarou lei marcial na região do canal e assumiu o controle da Companhia do Canal de Suez, apostando que as receitas dos pedágios financiariam a construção da represa em cinco anos. Essa decisão alarmou Grã-Bretanha e França, que temiam o fechamento do canal e a interrupção do fornecimento de petróleo do Golfo Pérsico para a Europa, uma artéria vital para suas economias. Frustradas as tentativas diplomáticas de resolver o impasse, Grã-Bretanha, França e Israel planejaram uma operação militar surpresa em outubro de 1956. Forças israelenses invadiram o Egito, seguidas pelo desembarque de tropas britânicas e francesas em portos egípcios em novembro. A campanha, no entanto, enfrentou forte resistência, tanto interna — com protestos nos dois países europeus — quanto internacional, sob a ameaça de intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Soviética. Esse conflito, conhecido como a Crise do Canal de Suez, marcou um momento de inflexão na geopolítica global. Nesse contexto, a ONU criou, em 1956, sua primeira Força de Paz, a Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez, ou FENU-Suez, em português), com o objetivo de mediar a crise e restaurar a estabilidade na região. O Brasil, como membro da ONU, foi convocado a integrar a comissão internacional de estudos sobre o conflito, desempenhando um papel significativo nos esforços diplomáticos. Em dezembro de 1956, as forças da ONU supervisionaram a evacuação das tropas britânicas e francesas, enquanto as forças israelenses se retiraram em março de 1957, em um processo que representou uma derrota humilhante para as potências invasoras. Além de sua contribuição diplomática, o Brasil enviou um contingente militar ao Oriente Médio, demonstrando seu compromisso com a paz internacional. Esse grupamento, formado por militares de diversas regiões do país, incluiu uma participação notável do estado do Rio Grande do Sul, historicamente reconhecido por sua tradição militar. Três dos vinte contingentes que compuseram o Batalhão de Infantaria, conhecido como Batalhão Suez, foram fornecidos por esse estado, refletindo sua relevância na formação dessa força. O Batalhão Suez, integrado à UNEF, simbolizou o esforço brasileiro em promover a estabilidade em um cenário de tensões globais.
Entre janeiro de 1957 e julho de 1967, o Brasil desempenhou um papel significativo na Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez), enviando um total de vinte contingentes militares para o Egito como parte de uma missão multinacional de paz. As primeiras tropas do Exército Brasileiro chegaram ao teatro de operações em fevereiro de 1957, integrando uma força composta por militares de dez nações: Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, Índia, Indonésia, Iugoslávia, Noruega e Suécia. Esses efetivos, formados integralmente em unidades militares nacionais, foram equipados com uma variedade de veículos e armamentos fornecidos por diferentes países, refletindo a colaboração internacional da missão. Entre os equipamentos utilizados, destacaram-se veículos de origem norte-americana, como os blindados Ford M-8 Greyhound, Ford M-20 Command Car, Jeeps Willys MB, Ford GPW, Dodge WC-52, WC-53, WC-56 e Ford M-151 Mutt, além de caminhões britânicos Bedford e carros de reconhecimento Coventry Armoured Car Mk.I. O Brasil contribuiu com caminhões FNM D-11000 e picapes Volkswagen Kombi, enquanto a França forneceu veículos da família Citroën 2CV, incluindo carros, picapes e ambulâncias. A comissão de material das Nações Unidas selecionou o Citroën 2CV Charleston como veículo principal para tarefas administrativas, com noventa unidades cedidas pelo governo francês, provenientes dos estoques do Exército Francês (Armée de Terre). Esses veículos foram distribuídos entre os dez países participantes da UNEF-Suez, com o comando militar brasileiro recebendo seis sedans, uma ambulância e duas picapes do modelo Citroën 2CV. Dessas viaturas, duas foram destinadas à Polícia do Exército (PE), cinco ao Exército Brasileiro e uma à Força Aérea Brasileira, que manteve um destacamento administrativo permanente na região. Esse destacamento desempenhou um papel crucial na logística, especialmente na manutenção de uma ponte aérea de correio entre o Brasil e o Egito, assegurando a comunicação e o suporte às tropas. Embora não haja registros oficiais confirmando o uso de ambulâncias Citroën 2CV, a versatilidade e a confiabilidade do modelo o tornaram ideal para as necessidades da missão. A presença do 2CV em um cenário tão exigente quanto o da Crise do Suez reflete sua capacidade de adaptação, indo além de sua concepção original como veículo popular para o público civil. A participação brasileira na UNEF-Suez, apoiada por esses veículos, simboliza o compromisso do país com a paz internacional e sua habilidade de atuar em contextos desafiadores com determinação e solidariedade. O Citroën 2CV, com sua simplicidade e robustez, tornou-se não apenas um meio de transporte, mas também um emblema da resiliência que marcou essa missão histórica.
O Citroën 2CV Charleston, com seu design singular e desprovido de paralelos com os veículos disponíveis no Brasil na década de 1950, despertou imediata curiosidade entre os militares brasileiros que participaram da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez). Sua estética incomum, aliada à simplicidade de condução, conquistou os oficiais, que, apesar da modesta potência de seu motor, elogiaram sua funcionalidade. Um dos destaques do modelo era seu teto removível de lona, que oferecia praticidade e ventilação em um ambiente tão hostil quanto o deserto egípcio. A robustez do 2CV, equipado com um confiável motor boxer refrigerado a ar, revelou-se ideal para as condições desafiadoras da região, com poucos registros de falhas mecânicas, comprovando sua adequação às exigências do teatro de operações. Durante quase uma década, de 1957 a 1967, os Citroën 2CV Charleston e suas variantes — incluindo sedans, picapes e ambulâncias — serviram às forças brasileiras na UNEF-Suez, desempenhando tarefas administrativas essenciais para o funcionamento da missão multinacional de paz. Embora seu papel fosse modesto, esses veículos contribuíram significativamente para a logística da operação, apoiando os esforços de uma força composta por dez nações em um período de grande instabilidade no Oriente Médio. Os militares brasileiros, conhecidos como “boinas azuis”, enfrentaram condições extremas na Faixa de Gaza, incluindo calor escaldante, tempestades de areia e a constante ameaça de minas terrestres, enquanto patrulhavam incansavelmente as fronteiras entre Israel e Egito. Em meio a tamanha tensão, o 2CV se destacou como um aliado confiável, facilitando a mobilidade e a comunicação em um cenário de incertezas. Ao término da participação brasileira na missão, em julho de 1967, os Citroën 2CV, assim como os demais equipamentos utilizados pelas nações envolvidas, foram deixados no Egito. Não há registros oficiais que esclareçam seu destino final — se foram incorporados às forças armadas egípcias ou simplesmente abandonados. Contudo, o legado desses veículos transcende sua presença física. O 2CV, inicialmente projetado como um carro popular para o público civil, revelou-se um símbolo de resiliência e adaptabilidade, desempenhando um papel humilde, mas valioso, em uma missão dedicada a promover lampejos de paz em uma região marcada por conflitos. A história do Citroën 2CV na UNEF-Suez reflete não apenas a versatilidade de um ícone automotivo, mas também o compromisso brasileiro com a cooperação internacional e a busca por estabilidade em um mundo dividido.

Em Escala.
Para representarmos o Citroen 2CV Charleston em serviço ao Exército Brasileiro durante sua participação na FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas), empregamos o excelente kit da Revell presente na escala 1/24. Não há necessidade de se proceder nenhuma alteração para se  compor a versão utilizada pelo Brasil. Empregamos decais na escala 1/35 confeccionados sob encomenda pela Eletric Products , presentes no Set “Suez - 1957 / 1967".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a crise do Canal de Suez. Somente os carros pertencentes a Policia Militar do Exército Brasileiro (PE) apresentavam diferenças sutis neste esquema de pintura.



Bibliografia: 
- Citroën 2 CV vai completar 70 anos - https://jornaldocarro.estadao.com.br
- Citroen 2 CV Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Citro%C3%ABn_2CV
- Citroen 2 Cv  – http://www.citroenet.org.uk/
- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br 

A75 - A76 e B76 Stearman PT-17


História e Desenvolvimento.
A história da Stearman Aircraft Company representa o verdadeiro reflexo do empreendedorismo norte-americano, da inovação e da determinação em enfrentar as adversidades do setor de construção aeronáutica. Fundada na cidade de Venice, Califórnia, em 10 de dezembro de 1926, por Lloyd Carton Stearman, a empresa contava com Fred Hoyt como vice-presidente e George Lyle como secretário. O primeiro modelo da empresa, o biplano Stearman C1, foi lançado em 1927; no entanto, não resultou em vendas, limitando-se à construção de apenas uma unidade. No mesmo ano, uma versão aprimorada, o Stearman C2, conseguiu comercializar trinta e três unidades, o que incentivou a diretoria a continuar aperfeiçoando o projeto, culminando no desenvolvimento do modelo Stearman C3. Esta aeronave, um robusto biplano com asas retas simples, era equipada com um trem de pouso resistente com amortecedores a óleo e possuía dois cockpits abertos, com o piloto localizado na parte traseira e dois assentos para passageiros lado a lado na frente. O C3 representava uma versão ligeiramente modificada do modelo anterior, o C2, incluindo um tanque de óleo de maior capacidade e um compartimento de bagagem ampliado. Introduzido em 1928, o Stearman C3 era alimentado por uma variedade de motores, variando de 128 a 225 cv, e era destinado ao transporte de passageiros e voos executivos. Seu bom desempenho e excelente relação custo-benefício refletiram-se nas vendas, resultando em 179 aeronaves comercializadas. No entanto, apesar de seu talento no desenvolvimento de aeronaves, Lloyd Carton Stearman carecia das habilidades necessárias para a gestão financeira de sua empresa. Em 1929, com a eclosão da Grande Depressão, a Stearman Aircraft Company, assim como outras empresas do setor, foi severamente afetada pelo cenário econômico, levando Lloyd Carton Stearman a vender sua companhia para o conglomerado United Aircraft and Transport Corporation. Embora não fosse mais o controlador da empresa, Stearman manteve-se na presidência, deixando um legado significativo, representado por uma linha de aeronaves de treinamento e turismo, destacando-se o Stearman Model 6 Cloud Boy, que realizou seu primeiro voo no início de 1931. Esta nova aeronave foi projetada como um treinador básico para o mercado civil e incluiu uma versão militar, oferecida ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) sob a designação de YPT-9; no entanto, a aeronave não despertou interesse por parte das forças armadas. A empresa também tentou comercializar o modelo no mercado civil, mas o país ainda enfrentava uma grave crise econômica, resultando na venda de apenas três unidades.

Em 1932, a Stearman Aircraft Company enfrentava mais um período de incertezas e dificuldades econômicas, reduzindo seu quadro de pessoal para apenas vinte e cinco funcionários. No entanto, a empresa conseguiu uma importante oportunidade ao ser subcontratada pela Boeing Aircraft Company para a produção de componentes críticos para o Boeing 247, iniciando assim uma parceria significativa com este gigante da indústria aeronáutica. Como resultado da Lei do Correio Aéreo de 1934, a empresa  United Aircraft and Transport Corporation foi reorganizada, tornando-se a United Airlines Transport Corporation. Este processo culminou na absorção da empresa pela promissora Boeing Aircraft Company, que renomeou sua divisão aeronáutica para Stearman. Todos os projetos originais foram mantidos, incluindo um novo treinador primário derivado diretamente do Stearman Model 6 Cloud Boy, designado como YPT-9, que começou a ser desenvolvido em 1933. A nova aeronave recebeu a denominação comercial de Stearman Model 70, apresentando uma configuração biplano e com dois lugares, sendo especificamente projetada para tarefas de instrução e treinamento. Embora tivesse um desempenho modesto em comparação com aeronaves da mesma categoria, seus projetistas apostaram na excelente relação custo-benefício tanto em termos de operação quanto de manutenção,  como um dos principais diferenciais competitivos do novo produto. Essa decisão mostrou-se acertada, pois as características do Stearman Model 70 atendiam perfeitamente aos requisitos técnicos estabelecidos pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e pela aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que anteriormente definiram em conjunto os parâmetros para o desenvolvimento de uma aeronave de treinamento primário. Uma proposta  técnica e comercial foi apresentada aos militares norte-americanos no final de 1934, e após uma sinalização positiva destes, em  seguida seria realizada  sua apresentação oficial  em voo, com o primeiro protótipo recebendo muito elogios nesta oportunidade. As impressões positivas causadas pelo Stearman Model 70 resultaram na celebração do primeiro contrato com o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) no final de 1934, envolvendo a aquisição de 61 aeronaves de uma versão aprimorada designada Stearman Model 73. Logo em seguida, a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) firmou um contrato semelhante, recebendo suas primeiras aeronaves no mesmo período, no início do ano 1935.

O excelente desempenho operacional da aeronave motivou a Stearman Aircraft Company a buscar um ciclo evolutivo em seu projeto, resultando na criação do Model X-75. A nova versão passou a ser equipada com motores Curtiss Wright R-760 ou Lycoming R-680, ambos com potência de 225 cv. Para o desenvolvimento desse modelo, foram construídos dois protótipos, os quais foram submetidos a um rigoroso programa de ensaios em voo realizado pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Esse processo culminou em uma encomenda inicial de 26 unidades equipadas com os motores Lycoming R-680, designadas militarmente como PT-13. Em seguida, a aviação da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) adquiriu mais 20 células, recebendo a designação N2S-1. Em agosto de 1936, o Exército dos Estados Unidos (US Army) solicitou mais 50 aeronaves, agora na versão PT-13A, que foi equipada com o motor Lycoming R-680-7, com potência de 245 cv. Entre outubro e dezembro do mesmo ano, mais 58 unidades foram contratadas para produção. Paralelamente, foi celebrado o primeiro contrato de exportação envolvendo 30 aeronaves destinadas à Aviação Naval da Marinha Argentina, com novos acordos firmados com os governos das Filipinas e do Brasil. Em janeiro de 1937, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) encomendou mais 26 aeronaves do modelo Stearman PT-13A. O aumento da potência das aeronaves de primeira linha gerou uma demanda por melhorias de desempenho, levando os militares norte-americanos a solicitar à empresa melhorias nas aeronaves de treinamento. Em resposta a essa demanda, foi desenvolvido o Stearman PT-13B, equipado com o novo motor Lycoming R-680-11, de nove cilindros e 280 cv. Este modelo resultou na encomenda de 225 células, que foram entregues entre 1939 e 1941. Dentre essas aeronaves, seis foram convertidas para treinamento em voo por instrumentos, recebendo a designação PT-13C. O próximo modelo a entrar na linha de produção foi o Stearman PT-13D, que passou a contar com o motor Lycoming R-680-17, de nove cilindros e 300 cv, equiparando-se a várias aeronaves de primeira linha. Nesse momento, as ameaças relacionadas ao potencial envolvimento dos Estados Unidos no conflito europeu levaram o governo a intensificar seus investimentos em defesa, resultando na encomenda de mais 700 aeronaves de treinamento primário do modelo Stearman PT-13D. No final de 1939, tornou-se cada vez mais evidente para o governo dos Estados Unidos que a entrada do país no conflito europeu seria inevitável, sendo apenas uma questão de tempo para o fato. Diante dessa perspectiva, tornou-se imperativo que as forças armadas norte-americanas iniciassem um processo de preparação intensiva, com ênfase especial na capacitação de pessoal especializado, incluindo pilotos, navegadores e tripulantes de bombardeiros. 

Para atender a essa crescente demanda, tanto o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) quanto a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) identificaram a necessidade urgente de constituir uma extensa frota de aeronaves destinadas ao treinamento primário para milhares de pilotos militares. Nesse contexto, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos passou a consultar os principais fabricantes aeronáuticos do país com o objetivo de viabilizar a produção em larga escala dessas aeronaves de treinamento. Entre as empresas consultadas, destacou-se a Stearman Aircraft Division, que apresentou uma versão aprimorada de seu modelo PT-13D. Assim nasceu o PT-17, que logo foi submetido à avaliação das autoridades militares norte-americanas. Após a aprovação de sua proposta sob os aspectos técnico e comercial, foram iniciadas negociações que culminaram em uma significativa encomenda de 3.500 unidades, cuja produção em série teve início em janeiro de 1940. O Stearman PT-17A, assim como seu antecessor, foi projetado para o treinamento básico de pilotos. Tratava-se de uma aeronave de configuração biplana, com uma estrutura composta por tubos de aço soldados e asas de madeira, revestidas inteiramente por tela. Possuía duas cabines abertas dispostas em tandem, destinadas ao aluno e ao instrutor, e era equipada com o motor radial a pistão Continental R-670-5, capaz de gerar 210 cavalos de potência. Nos primeiros lotes produzidos, destacaram-se 18 unidades configuradas especificamente para treinamento por instrumentos, as quais receberam a designação PT-17B. Em meados de 1941, a produção do PT-17 enfrentou um desafio significativo devido à escassez de motores, o que ameaçava comprometer os prazos de entrega estabelecidos. Diante dessa situação, foram avaliadas alternativas que resultaram na adoção dos motores radiais Jacobs R-755, com 225 cavalos de potência — os mesmos utilizados nos modelos Beechcraft Model 17 Staggerwing e Cessna AT-17 Bobcat. Essa adaptação deu origem a 150 unidades do Stearman PT-18A. No âmbito do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), o Stearman PT-17 consolidou-se como o treinador primário padrão. O mesmo conceito foi adotado pela Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que incorporou o modelo sob a designação Stearman N2S. As versões destinadas à Marinha foram equipadas com uma variedade de motores Continental, incluindo os modelos R-670-14, R-680-8, R-670-4 e R-680-17. Além da versão inicial, foram desenvolvidas variantes aprimoradas, como N2S-1, N2S-2, N2S-3, N2S-4 e N2S-5, totalizando a produção de aproximadamente 4.300 aeronaves. Assim, o Stearman PT-17 e suas variantes desempenharam um papel fundamental no esforço de preparação das forças armadas norte-americanas para o conflito global, atendendo às exigências de formação de pilotos em larga escala com eficiência e confiabilidade.
Em 15 de março de 1941, a Stearman Aircraft Division realizou a entrega da milésima célula ao Exército dos Estados Unidos (US Army) e da milésima primeira aeronave à Marinha dos Estados Unidos (US Navy), marcando um marco significativo na produção do modelo. Posteriormente, em 6 de junho de 1941, o governo norte-americano emitiu o Certificado de Tipo Aprovado nº 743, homologando a versão civil do Modelo 75. Esse certificado abrangia os modelos A75L3 (PT-13) e A75N1 (PT-17), dos quais aproximadamente sessenta unidades foram comercializadas para escolas civis de aviação, como o Parks College of Engineering, Aviation and Technology. Essas instituições, em pouco tempo, também se envolveram na formação de pilotos militares, atendendo às necessidades impostas pelo contexto bélico. O primeiro cliente militar internacional do modelo foi a Força Aérea Real Canadense (RCAF), que, buscando substituir suas obsoletas aeronaves de treinamento, adquiriu trezentas unidades a partir do final de 1941. Essas aeronaves receberam a designação local PT-27. Paralelamente, foi desenvolvida uma versão de exportação, conhecida como Model 76, que, além de cumprir a função de treinamento primário, apresentava capacidade para atuar como aeronave de ataque leve. Essa variante podia ser equipada com dois suportes ventrais, cada um com capacidade para 65 kg, uma metralhadora móvel Colt-Browning MG-28 calibre .30, uma metralhadora fixa do mesmo calibre, além de oferecer maior autonomia e potência em relação aos modelos anteriores. Nos Estados Unidos, o modelo ficou popularmente conhecido por nomes como Kaydet, Boeing Stearman, NS, N2S ou simplesmente PT-17. Sua produção foi distribuída em dezesseis variantes, alcançando um total superior a dez mil unidades entregues entre maio de 1936 e agosto de 1945. Durante a Segunda Guerra Mundial, as aeronaves dessa família desempenharam um papel crucial, sendo responsáveis pela formação de mais de sessenta mil pilotos militares norte-americanos. Com o término do conflito, milhares de aeronaves foram retiradas do serviço ativo tanto pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) quanto pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Muitas delas foram armazenadas ou transferidas para o setor civil, onde continuaram a ser utilizadas em missões de treinamento e voos turísticos. Além disso, um número considerável foi convertido para atuar na pulverização de lavouras, desempenhando essa função por mais de quatro décadas. Centenas de unidades também foram cedidas a forças armadas de diversos países, incluindo a República da China, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Grécia, Guatemala, Honduras, Irã, Israel, Nicarágua, Paraguai, Peru e Filipinas. Nessas nações, as últimas aeronaves do modelo só foram desativadas na década de 1960, evidenciando a durabilidade e versatilidade do projeto. Dessa forma, o Stearman Modelo 75 e suas variantes deixaram um legado significativo, tanto no treinamento de pilotos quanto em aplicações civis e militares ao redor do mundo, consolidando-se como um ícone da aviação do século XX.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O processo de formação e treinamento de pilotos militares brasileiros teve início em fevereiro de 1914, com a fundação da Escola Brasileira de Aviação, localizada no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Essa instituição foi estabelecida por meio de uma parceria entre o Ministério da Guerra e a empresa italiana Gino, Buccelli & Cia. Em 1916, essa organização foi sucedida pela criação da Escola de Aviação Naval (EAvN), que se tornou a primeira instituição exclusivamente militar dedicada à formação de pilotos militares no Brasil. Posteriormente, em 1919, sob a orientação técnica da Missão Militar Francesa de Aviação (MMFA), foi instituída a Escola de Aviação Militar (EAM), marcando o início da integração da aviação como uma arma do Exército Brasileiro, embora esse processo tenha enfrentado inúmeras dificuldades em seus primeiros anos. Nos anos iniciais, a frota da Escola de Aviação Militar (EAM) entre os modelos utilizados, destacaram-se, ao longo do tempo, aeronaves relativamente modernas para a época, como o Morane-Saulnier MS.147Ep2 e o MS.130ET2. A primeira renovação significativa dos meios aéreos destinados à formação de pilotos no Exército Brasileiro ocorreu no início da década de 1930, com a incorporação dos biplanos ingleses De Havilland DH-60T Moth Trainer e de modelos norte-americanos, como o Fleet Model 11, o Waco RNF, o Waco CTO e o Curtiss-Wright CW-16. Contudo, a partir da segunda metade dessa década, tornou-se evidente que a rápida evolução da tecnologia aeronáutica, responsável pelo desenvolvimento de aeronaves mais robustas e de maior desempenho, estava levando os treinadores brasileiros a uma obsolescência prematura. Diante desse cenário, os comandantes da Aviação Militar do Exército Brasileiro reconheceram a necessidade de modernizar a frota de aeronaves de treinamento, com o objetivo de reduzir o significativo desnível tecnológico existente entre os modelos de instrução e as aeronaves operacionais de linha de frente. Para atender a essa demanda, foi lançada uma concorrência internacional visando a aquisição de até trinta aeronaves de treinamento avançado. O convite foi direcionado a fabricantes de renome da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos. As propostas começaram a ser apresentadas ao comando do Exército Brasileiro no segundo semestre de 1936, dando início imediato aos estudos comparativos sob os aspectos técnicos e comerciais, com o intuito de selecionar a opção mais adequada às necessidades estratégicas do país. Esse processo reflete o esforço contínuo das forças armadas brasileiras em acompanhar os avanços da aviação militar global, consolidando as bases para o desenvolvimento de uma capacidade aérea mais moderna e eficiente.

Dentre as propostas submetidas na concorrência internacional promovida pelo Exército Brasileiro, destacou-se a oferta apresentada pela empresa norte-americana Stearman Aircraft Division. Esta proposta oferecia condições comerciais particularmente vantajosas para a versão de exportação do PT-13A, designada como Stearman Model 76. Esse modelo havia sido concebido não apenas para atender às necessidades básicas de treinamento e formação de pilotos, mas também para desempenhar funções como aeronave de ataque leve. Para tanto, contava com adaptações que incluíam a possibilidade de instalação de cabides ventrais para bombas e metralhadoras Colt-Browning MG-28 calibre .30, destinadas à autodefesa. Adicionalmente, a variante possuía uma capacidade de combustível ampliada, com tanques suplementares que adicionavam 110 litros, e era equipada com um motor mais potente, o Wright R-975-E3 de 420 cavalos de potência, o que a tornava a versão de melhor desempenho já produzida dentro dessa família de aeronaves. Com base nessas características, a Diretoria de Aeronáutica do Exército Brasileiro optou pela proposta da Stearman, formalizando um acordo para o fornecimento de trinta unidades configuradas conforme essa versão de exportação. Para atender às especificações exigidas pela Aviação Militar brasileira, as aeronaves foram adaptadas com instrumentos cujos mostradores utilizavam o sistema métrico e incluíam a provisão para a instalação de uma metralhadora móvel na nacele traseira. A encomenda foi dividida em dois lotes distintos: metade das aeronaves, designadas como Model A76-C3, foi equipada com uma metralhadora fixa instalada na asa direita inferior; o lote restante, identificado como Model B76-C3, recebeu, em substituição à metralhadora fixa, uma câmera fotográfica Fairchild K-3B, ampliando sua versatilidade para missões de reconhecimento. Após a assinatura do contrato, foi estabelecido um cronograma detalhado para a produção e entrega das aeronaves. As primeiras unidades foram concluídas nas instalações da Stearman Aircraft Division em maio de 1937. Uma comitiva de oficiais brasileiros realizou uma inspeção no local para verificar a conformidade das aeronaves com as especificações acordadas. Em seguida, os aviões foram desmontados, acondicionados em caixas de madeira e transportados por via naval ao Brasil, chegando ao porto do Rio de Janeiro vinte dias após o embarque. Posteriormente, as aeronaves foram trasladadas por via terrestre até o Parque Central de Aviação do Exército, situado no Campo dos Afonsos. Nesse local, sob a supervisão de equipes técnicas enviadas pelo fabricante norte-americano, as aeronaves foram remontadas e submetidas a ensaios de voo, garantindo sua plena operacionalidade antes da integração à frota da Aviação Militar brasileira. Esse processo de aquisição reflete o esforço estratégico do Exército Brasileiro em modernizar seus meios aéreos, alinhando-se às demandas de uma aviação militar mais avançada e versátil, capaz de atender tanto às necessidades de treinamento quanto às exigências operacionais da época.
Em 9 de julho de 1937, o primeiro Stearman A76-C3 realizou seu voo inaugural nos céus brasileiros, marcando o início da integração dessas aeronaves à Aviação Militar do Exército. Por sua vez, o primeiro exemplar do modelo B76-C3 foi declarado operacional no final daquele mesmo mês, efetuando seu voo inicial em 11 de setembro. A incorporação da última célula à frota ocorreu no final de dezembro, concluindo o processo de entrega conforme o cronograma estabelecido. À medida que as aeronaves eram finalizadas no Parque Central de Aviação do Exército, no Campo dos Afonsos, elas eram transferidas para a Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx), onde passavam a integrar a frota operacional. Os alunos que haviam concluído a fase de instrução primária em 1937 começaram a utilizar os Stearman A76-C3 e B76-C3, entrando em contato direto com essas novas aeronaves. Nesse período, os cadetes iniciaram o aprendizado dos fundamentos do voo militar, que incluíam técnicas de voo em formação, manobras básicas de acrobacia e o cumprimento de outros elementos previstos no currículo de instrução. As características avançadas dessas aeronaves permitiram a introdução de um treinamento mais robusto e sistemático, abrangendo disciplinas como bombardeio, tiro terrestre e fotografia aérea, superando significativamente as limitações dos métodos anteriormente empregados. Devido a essas capacidades, os Stearman, popularmente chamados de "Estirmão" após a chegada da versão de treinamento primário A75, passaram a frequentar regularmente o campo auxiliar de Jacarepaguá, onde os alunos praticavam as técnicas de tiro e bombardeio. Contudo, a atuação dos modelos A76-C3 e B76-C3 não se restringiu ao espaço aéreo do Rio de Janeiro. Por determinação da Diretoria de Aeronáutica do Exército (DAEx), duas células foram destinadas à cidade de Belém, no estado do Pará, para apoiar as missões do Esquadrão de Adestramento do Núcleo do 7º Regimento de Aviação. De maneira semelhante, outras duas foram enviadas a Belo Horizonte, para operar em conjunto com o 4º Regimento de Aviação. Esta última transferência, entretanto, revelou-se temporária, pois as aeronaves foram posteriormente realocadas de volta ao Campo dos Afonsos. Nos anos subsequentes, enquanto a Aviação do Exército permaneceu ativa, a rotina de operações dessas aeronaves manteve-se estável. Inicialmente, esperava-se que os Stearman cedessem lugar como plataforma de instrução avançada com a chegada dos North American NA-72, recém-encomendados pelo Brasil. Contudo, as primeiras unidades desses novos aviões só foram recebidas em outubro de 1940, às vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer). 

Diante desse contexto, a transição planejada não se concretizou de imediato, cabendo aos responsáveis pela futura Escola de Aeronáutica implementar as adaptações necessárias para atender às demandas emergentes da nova estrutura organizacional. Assim, os Stearman A76-C3 e B76-C3 desempenharam um papel essencial na modernização do treinamento de pilotos militares brasileiros, oferecendo uma plataforma versátil que contribuiu para o aprimoramento técnico e tático da Aviação Militar até o início da década de 1940. Neste mesmo período a Aviação Militar do Exército começaria a enfrentar uma situação delicada, pois sua frota de aeronaves de treinamento primário, que na época era composta por aeronaves de concepção antiga,  como os De Havilland DH-60T Moth Trainer e Muniz M7 e M-9,  passavam a apresentar cada vez menores índices de disponibilidade operacional. Este fator se dava principalmente pela falta de peças de reposição mais notadamente pertinente aos motores Havilland Gipsy Major,  que eram de origem inglesa e se tornariam extremamente escassos para a aquisição  devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Desta maneira a fim de evitar um apagão em seu processo de instrução básica, a Diretoria de Aeronáutica do Exército (DAEx) sairia em buscas de alternativas. Porém diante do conflito em curso,  as fontes europeias seriam descartadas, buscando-se assim uma opção norte-americana. A escolha natural recairia sobre o modelo de instrução básica o Stearman A75-L3, pois afinal, excluindo itens como motor, tanques extras de combustível e material associado ao armamento, esta versão era praticamente idêntica as aeronaves  Stearman A76-C3 e B76-C3 em operação no pais. Esta aquisição viria a criar uma certa padronização dos processos de manutenção e fluxo de peças de reposição.  No início do segundo semestre de 1939 seria celebrado um contrato prevendo a aquisição de vinte células deste modelo, com o Brasil se tornando o primeiro operador dessa versão do Stearman Model 75. As primeiras células seriam recebidas desmontadas na sede da Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx) em março de 1940, sendo prontamente montados no local sobre a supervisão de técnicos da Stearman Aircraft Division. Estas aeronaves seriam montadas e colocadas em condições de voo em maio do mesmo ano, passando logo a ser empregadas no processo de instrução primária, repartindo suas surtidas de treinamento com os poucos Munis M-9 ainda em operação. Em função das diferenças presentes entre os dois modelos os A75-L3 foram apelidados de "Stirminhas" e os A76-C3 e B76-C3 de “Stirmões “em uma clara alusão ao desempenho de ambos. Mas o uso dos Stearman A75-L3 na Aviação Militar  do Exército seria breve, pois em janeiro de 1941, seria criado o Ministério da Aeronáutica (MAer), e aquelas aeronaves logo passariam para o controle da Força Aérea Brasileira. 
Em 20 de janeiro de 1941, a Aviação Militar do Exército contava ainda com vinte e sete aeronaves dos modelos Stearman A76-C3 e B76-C3, além de dezenove unidades da versão de treinamento primário A75-L3 em operação. Essas aeronaves, juntamente com o pessoal operativo associado, foram transferidas para a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), que as incorporou à sua estrutura de treinamento na Escola de Aeronáutica (EAer). Nesse contexto, a Aeronáutica passou a dispor de um significativo número de aeronaves destinadas à formação de pilotos, embora estas fossem de diferentes tipos e origens, o que refletia a diversidade herdada da antiga Aviação Militar. A partir de 1942, o processo de formação de cadetes foi estruturado com a seguinte utilização de aeronaves: os alunos do terceiro ano iniciavam sua adaptação ao voo em grupo utilizando o A75-L3, conhecido como "Stirminha", prosseguiam para o BT-15 e concluíam o curso no North American NA-72, redesignado como T-6. Na etapa de instrução avançada, o Stearman A76-C3 era empregado no treinamento com armamento, abrangendo tiro frontal com a metralhadora fixa instalada na asa e bombardeio em mergulho, simulando operações como aeronave de ataque. Já o modelo B76-C3, equipado com uma câmera fotográfica Fairchild K-38, além de sua capacidade armamentista, também era utilizado para o ensino de técnicas de aerofotogrametria, ampliando as possibilidades de treinamento. A partir de 1943, com a chegada crescente de novos modelos, como o Fairchild PT-19 para treinamento primário e grandes quantidades do North American T-6 para instrução avançada, a FAB decidiu realocar as aeronaves remanescentes da família Stearman para a Base Aérea de São Paulo (BASP). Nesse local, elas foram integradas ao 3º Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais de Reserva da Aeronáutica (GTCPOR), assumindo a missão de formar pilotos da reserva da Força Aérea Brasileira. Em 1944, doze células ainda operacionais foram transferidas para o 2º Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais de Reserva da Aeronáutica (GTCPOR), sediado no Galeão, que passou a centralizar as atividades de formação de aviadores da reserva. Nesse mesmo período, as aeronaves começaram a ser retiradas do processo de instrução e redistribuídas a diversas bases aéreas, onde passaram a desempenhar funções administrativas. As últimas unidades do Stearman A75-L3 foram desativadas em 1946, enquanto os modelos A76-C3 e B76-C3 remanescentes tiveram sua baixa em 1947. Após revisão, essas aeronaves foram transferidas ao Departamento de Aviação Civil (DAC), que as destinou a diversos aeroclubes brasileiros, encerrando assim sua trajetória no âmbito militar e iniciando uma nova fase de utilização no cenário da aviação civil. Esse processo reflete a transição da FAB para uma frota mais moderna e homogênea, ao mesmo tempo em que destaca o papel significativo desempenhado pelos Stearman na formação de pilotos durante os primeiros anos da força aérea nacional.

Em Escala.
Para representarmos o Stearman A75-L3 "K-132” nas cores da Aviação Militar do Exército Brasileiro, quando sua operação junto a Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx)  fizemos uso da única opção disponível na época da montagem na escala 1/48, um kit produzido pela Lindberg. Para se compor a versão nacional, não é necessário prover nenhuma alteração com o modelo podendo ser montado diretamente da caixa . Empregamos decais produzidos pela FCM Decals presentes no antigo set 48/04.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado por todos os Stearman A75-L3 e A76-C3 e B76-C3 quando de seu recebimento a partir do ano de 1937. Ao longo dos anos seriam aplicadas pequenas diferenças de marcações para identificar os esquadrões, após sua incorporação na Força Aérea Brasileira este esquema de pintura seria mantido se alterando apenas os números de série das aeronaves.


Bibliografia :

- Boeing Stearman Model A75/A76  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Boeing-Stearman_Model_75
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Boeing Stearman no Brasil - Incaer , Aparecido Camazano Alamino - www.incaer.aer.mil.br/ideias_42.pdf
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr