Gepard 1A2 Flakpanzer

História e Desenvolvimento.
Do ponto de vista da engenharia, a Segunda Guerra Mundial foi um período de evolução sem igual. Num intervalo de seis anos, exércitos que ainda utilizavam a cavalaria de forma literal com cavalos seriam substituídos por divisões blindadas com tanques de até 76 toneladas. Na ponta de lança dessa corrida tecnológica estava a Alemanha e sua já prestigiada indústria automotiva, que ao longo do conflito conceberia e produziria em larga escala lendários modelos de carros de combate, os "Panzer ou Panzerkampfwagen" (que em alemão, significa couraça). Estes em maciço conjunto com veículos blindados especializados e de transporte de tropas seriam as ferramentas empregadas na doutrina Blitzkrieg (Guerra Relâmpago), que em combate rompiam  rompiam os pontos frágeis das defesas inimigas e os exploravam com velocidade atordoante, garantindo nas fases iniciais da guerra retumbantes vitórias. No entanto apesar de deterem a vantagem tecnológica, os icônicos Panzers seriam superados em números por seus rivais norte americanos no front ocidental ou pelos eficientes T-34 soviéticos no leste europeu. A rendição incondicional seria assinada no dia 7 de maio de 1945, com pais sendo dividido entre os aliados ocidentais e a União Soviética. Neste contexto a  Alemanha Ocidental permaneceria completamente desmilitarizada, sendo proibida pela regulamentação dos termos da rendição de constituir instituições militares, mesmo para autodefesa, com sua outrora pujante indústria automotiva passando a focar seus esforços no mercado comercial. No entanto o antigo território alemão seria transformado em uma região de grande tensão, representando a principal linha de  frente no conflito da Guerra Fria, entre as forças do Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte  - OTAN. Este cenário levaria junto ao comando a decisão de se revisionar o conceito da proibição de constituição de forças de defesa da Alemanha Ocidental, tendo em vista a necessidade de se reforçar as defesas da região, para assim fazer frente a constante ameaça representadas pelas forças dos países do bloco soviético. Desta maneira no dia 12 de novembro de 1955 seria promulgada dentro da constituição, as normativas que constituiriam a nova estrutura das forças armadas da República Federal da Alemanha, sendo composta pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). De imediato seria iniciado um vasto programa de rearmamento, sendo fornecidos principalmente, equipamentos, armas, veículos, aeronaves, navios, blindados, e carros de combate de origem norte-americana. Em termos de carros de combate, o recém criado Exército Alemão (Deutsches Heer) passaria a ser equipado imediatamente, com uma respeitável frota composta pelos modelos M-41 Walker Buldog, M-47 Paton e M-48 Paton.   

Porém neste mesmo momento, estes carros de combate já se mostravam inadequados frente as ameaças representadas pelos modelos T-44, T-54 e T-55 que equipavam as forças blindadas do Pacto de Varsóvia.  A solução para atendimento a esta demanda ainda neste momento não estava disponível para emprego junto aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte  - OTAN, apesar de existirem projetos em desenvolvimento como o norte-americano MBT T-95.   Esta realidade motivaria o governo alemão a retomar sua indústria de defesa, sendo iniciados estudos ao final desta década, visando assim o desenvolvimento de projetos nacionais englobando uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas de serviço. No que tange a carros de combate, os esforços seriam direcionados ao desenvolvimento de um MBT (Main Battle Tank), com suas especificações de projeto sendo definidas em 1956, sendo baseadas na necessidade de se superar os novos T-54 e T-55. Estas abrangiam um veículo na ordem de mais trinta toneladas, devendo ter alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, e por isso sendo dotado com um canhão de 105 mm. Vários norteamentos seriam sugeridos, se destacando o programa “Europa Panzer”, um consórcio formado em 1958 por Alemanha, França e Itália. Diversas propostas seriam apresentadas, com os primeiros protótipos sendo disponibilizados em 1960, com o modelo Porsche 734 sendo declarado vencedor. Esta decisão, no entanto, levaria a repercussões de ordem política e motivado por sentimentos nacionalistas o governo da França decidiu abandonar o consorcio, optando em desenvolver um veículo novo totalmente nacional. A seguir o modelo da Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG seria batizado como Leopard I, com sua versão final estando equipada com o consagrado canhão inglês, Royal Ordinance L-7 de calibre 105 mm, dispunha ainda de completo sistema de proteção NBC (Radiação Nuclear e Química). Em termos de blindagem atendendo aos parâmetros de mobilidade, possuía uma blindagem leve, porém eficiente com capacidade de resistir a impactos rápidos de armas de 20 mm em qualquer direção. Estas características lhe permitiam atingir uma velocidade máxima de 65 km/h no campo de batalha. Após a finalização de um programa de testes de aceitação, seria celebrado um contrato inicial para cem carros, que seriam produzidos nas instalações fabris da  Krauss-Maffei Wegmann GmbH & Co. KG  em Munique. Os primeiros Leopard I, seriam entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre setembro de 1965 e junho de 1966. O emprego operacional revelaria qualidades de projeto, passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia.

Ao ser operado por diversos países nos mais variados ambientes, verificaria-se suas qualidades operacionais e robustez em campo, abrindo assim estudos que partiam do empregado da plataforma original para o desenvolvimento de versões especializadas. Neste escopo em setembro de 1965, o Ministério Federal de Defesa da República Federal da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung) deflagaria uma concorrência visando o desenvolvimento de uma versão volta a tarefas de defesa antiaérea, objetivando a substituição do modelo norte-americano GMC M-42 Duster, que era equipado com os antigos canhões Bofors M-2A1, de 40 mm. Seus parâmetros de projeto previam o emprego de dois canhões de 30 mm, controlados por um sistema digital de controle de fogo, que tinha com finalidade engajar alvos aéreos em manobras evasivas. Deveria ainda apresentar um peso máximo de 45.500 kg e maior comunalidade no emprego de componentes presentes nos carros de combate Leopard 1. Dois consórcios industriais alemãs um formado pela Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche e outro pela Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis responderiam à esta concorrência. A proposta apresentada pelo primeiro concorrente propunha o conceito de “grupo de batalha” (composto por viaturas equipadas separadamente com dispositivos de vigilância -identificação e outras com radar de controle de fogo/canhões, ambos os tipos sendo liderados por um veículo de comando). Já o segundo apregoava que todas estas funcionalidades fossem reunidas em um só veículo autônomo, armado com canhões de 35 mm (calibre rejeitado em 1962, por não ser padrão empregado naquela época). As duas propostas seriam analisadas entre os anos de 1966 e 1970, e neste momento o projeto apresentado pelo consórcio  Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche seria oficialmente cancelado. Neste contexto a proposta vencedora seria aperfeiçoada, passando a receber o radar de vigilância Siemens MPDR 12 acoplado a um identificador de contatos aliados/hostis. Os primeiros protótipos receberiam a designação militar de “5 PFZ-A”, e após serem inseridos em um extenso programa de testes e avaliações, resultariam em uma variada gama de modificações e melhorias. Deste processo emergiria o um modelo de “segunda geração”, o "5 PFZ-B” que passaria a incorporar novos sistemas de radar de vigilância com capacidades aperfeiçoadas de supressão de interferências e de discriminação de alcance e radar Doppler de rastreio de alvos. Seu habitáculo seria soldado na torreta, usando placas de blindagem espaçadas nas seções frontal, traseira e superior; carro receberia uma proteção ao longo da lateral superior esquerda, cobrindo a saída do motor auxiliar e absorvedores de choque nas porções dois e seis do braço de suspensão.   

Sua blindagem apresentava apenas uma camada, com 70 mm de espessura à frente, variando entre 20 e 30 mm nas partes traseira e lateral, proporcionando satisfatória proteção em combate. Suas baterias elétricas seriam realocadas, com o veículo recebendo geradores auxiliares para os canhões antiaéreos, alocados no antigo paiol de munições do carro de combate original, estando estes isolados dos chassis por paredes blindadas com painel de acesso e extintor de incêndio próprios. Os protótipos desta "segunda geração" seriam testados e avaliados entre os anos de 1971 e 1974, com este programa avançando para o estágio de pré-produção, com dois veículos sendo produzidos e novamente submetidos a testes de campo. Em seguida seria firmado um contrato para a produção de doze carros, que englobariam mais modificações, tendo destaque o aumento do casco em 80 mm; reposicionamento da torreta em 20 mm ao centro; instalação de doze absorvedores de choque e lagartas mais cumprida, com este novamente direcionados ao programa de avaliação.  Finalmente, em fevereiro de 1975, Ministério Federal de Defesa da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung), anunciaria a homologação do modelo 5PFZ Tipo B, com este sendo inicialmente adotado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer). Um novo contrato seria celebrado em maio do mesmo ano com a empresa Krauss-Maffei AG (atual Krauss Maffei Wegman), definindo como subcontratadas as empresas  Oerlikon-Contraves e Siemens AG.  Estes termos previam a produção de vinte carros iniciais, classificados como "lote piloto" sendo seguido por mais cento e vinte dois carros da versão B-1. Porém havia a previsão contratual para aquisição de para 432 torres  e 420 cascos com um valor total de DEM 1.200.000.000,00  de marcos alemães, neste patamar cadaveículo custaria cerca de três vezes o preço de um Leopard 1 normal. Esta segunda fase seria alterada, com o desenvolvimento da versão B-2 com radar aperfeiçoado, na qual seria autorizada a produção de cento e noventa cinco carros. Um segundo contrato seria assinado em 1977 para a aquisição de duzentos e vinte cinco carros da versão B-2L, que passava a contar com um sistema de medidor de distância a laser, para alvos a até 5.100 metros.  O veículo apresentaria um peso final de  47.5 toneladas, medindo 7,68 metros de comprimento, 3, 27 metros de largura e 3, 29 metros de altura, (com a antena do radar de busca rebatida).  Estava equipado com dois motores, um Mercedes Benz MTU 838 Cam 500, multi combustível, de 10 cilindros, gerando 830 HP e outro auxiliar Daimler Benz OM 314, a diesel, gerando 90 HP para o acionamento dos canhões, complementado por dois geradores de 20 kVA cada.  Este conjunto mecânico lhe proporcionava uma velocidade máxima de 65 km/h e 550 km de alcance. 

Em termos de armamento ofensivo, seus dois canhões Oerlikon KDA L/R04, apresentavam uma cadência conjunta de 1.100 disparos por minuto, com os projéteis tendo velocidade inicial de 1.175 metros por segundo e alcance de 4 km. O projétil padrão pesava 550 gramas, podendo ser dos tipos de Alto Explosivo Incendiário (HEI), perfurante de Blindagem Incendiário (API), além de traçante. Cada arma levava 320 munições antiaéreas (armazenadas no interior da torreta) e 20 projéteis perfurantes, estocados ao lado dos canhões.  Este sistema de armas seria orientado por um radar de busca Siemens MPDR 12 S-band instalado em um braço oscilante (abaixado atrás da torre para trânsito) na parte traseira da torre, que fornece um alcance de detecção hemisférica de 15 km e possui um interrogador MSR 400 Mk XII integrado para discriminação automatizada de alvos. Além disso, o Gepard possuía um sistema de mira óptica de backup para aquisição e engajamento passivo de alvos, consistindo em dois periscópios panorâmicos estabilizados para o artilheiro e o comandante, com uma ampliação variável (1,5× e um campo de visão de 50 ° e 6× com um FOV estreito de 12,5 °). Esses periscópios podem ser acionados mecanicamente pelo radar de rastreamento e direcionados automaticamente ao alvo para identificação preliminar. Um telêmetro a laser foi fornecido em veículos atualizados para o padrão B2L e instalado no topo da caixa da antena para o radar de rastreamento. O modelo que receberia por parte do fabricante o nome de batismo de "Gepard", com os primeiros blindados sendo entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre os anos de 1976 e 1980, se consolidando como principal linha de defesa área a média e baixa altitude. O Gepard 1A2 Flakpanzer seria exportado para Bélgica e a Holanda, que adquiriram entre 54 e 95 carros, respectivamente.  Entre os anos de 1997 e 2007, cento e quarenta e sete carros foram submetidos a um programa de modernização, visando assim a extensão de vida útil, os sistemas foram atualizados, passando a contar com um novo computador digital, conexão com o sistema de defesa aérea e gerenciamento de batalha através de rádios SEM 93. Os canhões receberam modificações para poder empregar munições do tipo HVFAPDS/FAPDS (perfurante de blindagem, estabilizada por aleta e calço descartável, de alta velocidade), proporcionado até 1.400 metros por segundo de velocidade inicial, o que elevou o alcance e teto operacional dos canhões para 5000 e 3.500 metros respectivamente. No Exército Alemão (Deutsches Heer), o Gepard seria descontinuado no final de 2010 e substituído pelo sistema Wiesel 2 Ozelot Leichtes Flugabwehrsystem (LeFlaSys) com quatro lançadores de mísseis FIM-92 Stinger ou LFK NG que passavam a oferecer uma proteção mais adequada a defesa área a média e baixa altitude. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra da Ucrânia, quando em 2023 veículos doados pela Alemanha seriam implantados naquele teatro de operações, obtendo grande êxito contra os drones russos.   

Emprego no Exército Brasileiro.
O processo de implementação de um sistema de artilharia antiaérea no Exército Brasileiro, teve sua origem no dia  4 de outubro de 1940, data de criação do 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) na cidade do Rio de Janeiro. Este grupamento seria equipado com os famosos canhões alemães Flak 88 mm C/56 Modelo 18 que passariam em operar em conjunto preditores Carl Zeiss WIKOG 9SH e aparelhos de localização pelo som Electroacoustic GmbH ELASCOPORTHOGNOM. A partir de 1942 a artilharia antiaérea brasileira seria fortalecida pelo recebimento de uma grande quantidade de canhões norte-americanos dos modelos M-2A2 AA de 37 mm, M-3 AA de 76 mm e por fim M-1A3 AA de 90 mm. No entanto curiosamente não seriam cedidos ao país sistemas de artilharia antiaérea autopropulsados, que já eram empregados em grande escala no conflito. Esta lacuna operacional infelizmente perduraria durante as décadas seguintes, com a necessidade de criação de um sistema de defesa antiaérea a média e baixa altitude, sempre se fazendo presente, principalmente pelas dimensões continentais da nação. No início da década de 1970 seria implementado na Força Terrestre o “Plano Impere”, um programa que visava recuperar a operacionalidade diversos veículos de combate do III Exército Brasileiro que se encontravam parados há alguns anos, analisando inclusive a possibilidade de conversão de carros de combate dos modelos M-4 Sherman e M-3 Stuart como veículos de serviço e suporte. Entre diversas alternativas seria desenvolvido um protótipo de uma viatura blindada antiaérea, com um carro M-3 Stuart recebendo a instalação de um reparo de metralhadoras antiaéreas quadruplo calibre .50 do modelo M-45 Quadmount . Testes de campo se mostrariam extremamente promissores, porém infelizmente não se sabe por quais motivos, o comando do Exército Brasileiro, não demonstraria neste momento o devido interesse, levando assim ao cancelamento do projeto. O conceito para o desenvolvimento de uma viatura antiaérea autopropulsada, ressurgiria em fins da década de 1970, tendo como alicerce o programa do Carro Combate Leve Nacional MB-1 (X-1A Pioneiro e X1-A2 Carcará), com este gerando uma família de veículos especializados sobre esta nova plataforma, incluindo um modelo dedicado defesa antiaérea. Nascia assim o projeto M.01.15, que seria gerido Centro de Tecnologia do Exército (CETEX) em parceria com a empresa Bernardini S/A. Dois protótipos seriam construídos recebendo a designação de Viatura de Combate Antiaérea XM3D1 (VBC AAe) que contariam como armamento orgânico com quatro metralhadoras Browning M-2 calibre .50 montadas em uma torre M-55M Quadmout modernizada.  Estes protótipos seriam exaustivamente testados e avaliados pelo Exército Brasileiro, porém a baixa cadência de fogo e o alcance das armas de calibre .50, se mostraram inadequados face a nova ameaça proporcionada pelas aeronaves de ataque a reação existentes naquela época, levando assim ao cancelamento definitivo do projeto. 

A partir de meados da década de 1970, o sistema de defesa antiaéreo do Exército Brasileiro se mostrava complemente obsoleto contendo em suas filiares de antigos canhoes Boffors de 40 mm, se fazendo necessário a implementação de sua imediata substituição. Para o atendimento a esta demanda, entre os anos de 1977 e 1978 novos investimentos seriam feitos, envolvendo a aquisição do sistema suíço de artilharia antiaérea Oerlikon de 35 mm, que posteriormente seriam integrados com o conjunto diretor de tiro de fabricação nacional EDT FILA, controlando os canhões de 40 mm C/70 Bofors e canhões Oerlikon 35 mm C/90. Uma tentativa mais ousada seria materializada na aquisição do sistema de mísseis terra-ar Roland II montados no veículo sob esteiras alemão Marder 1A2, no entanto só seriam incorporadas quatro baterias com elas apresentando uma carreira efêmera no Exército Brasileiro. Nos anos vindouros não seriam registrados mais investimentos significativos neste segmento, porém em 1994, dentro do escopo do programa de modernização da Força Terrestre -  FT 90 seriam incorporados os primeiros misseis russos Igla-S, armas terra ar de curto alcance do tipo Manpad (Man-Portable Air-Defense Systems). Mesmos estas iniciativas, ainda não trariam ao Exército Brasileiro uma real capacidade de defesa de ponto antiaérea, com este segmento tornando assim o principal "Calcanhar de Aquiles" da Força Terrestre. No início deste século, o Ministério da Defesa e o Exército Brasileiro conduziriam um amplo processo de transformação e modernização das suas estruturas, equipamentos e veículos de combate blindados, com este programa recebendo a denominação de modernização dos Produtos de Defesa (PRODE). Entre diversas vertentes este contemplaria a partir do ano de 2006 a aquisição da Viatura Blindada de Combate Carro de Combate (VBCCC) LEOPARD 1A5 BR para o emprego junto aos Regimentos de Carro de Combate (RCC). Apesar de que neste momento o Exército Brasileiro passaria a contar em sua frota com um veículo moderno e de elevada capacidade de sobrevivência, ainda as Baterias Antiaéreas (Bia AAAe) orgânicas das Brigadas Blindadas seriam desprovidas de um sistema autopropulsado. Assim sua defesa de ponto ficaria somente a cargo do emprego dos misseis antiaéreos (AAe) portáteis russos  Igla-S, o que reduzia em muita sua capacidade de proteção contra-ataques aéreos, principalmente de helicópteros de ataque a média altura. Em um cenário de conflagração moderna, nossas forças mecanizadas em trânsito ficariam completamente desprotegidas contra ataques aéreos, com este cenário se repetindo para a defesa de ponto em objetivos estratégicos espalhados pelo país.     
A partir de meados do ano de 2012, seriam conduzidos estudos referentes a adoção de possíveis soluções dedicadas a proteção do espaço aéreo nacional. Curiosamente apesar de ser um pleito antigo da Força Terrestre, esta demanda logo seria priorizada não por questões estratégicas e sim políticas, pois o país logo sediaria dois eventos internacionais de grande relevância, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Dentre as várias medidas de segurança exigidas ao país sede, figurava a defesa antiaérea de ponto dos locais onde estes eventos seriam realizados, assim a fim de sanar esta lacuna operacional, a Diretoria de Material do Exército Brasileiro emitiria ao mercado de defesa internacional, uma Solicitação de Informação - RFI (Request for Information), para assim estruturar a sua capacidade de defesa antiaérea de ponto, que passaria a ser denominado como "Projeto Estratégico Defesa Antiaérea". Em seguida começariam a ser apresentadas a Diretoria de Material, diversas propostas de empresas do segmento de defesa de renome internacional, uma criteriosa análise seria então elaborada, tendo como primícias básicas a busca por uma equilibrada relação de custo-benefício. Neste contexto a proposta comercial e técnica apresentada pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegman que contemplava o modelo Gepard 1A2 uma versão modernizada. Estas propostas após ser analisada se mostraria mais viável em termos operacionais e financeiros, tendo como destaque sua rápida disponibilidade de entrega. Pesava sobre esta escolha também o histórico operacional do modelo junto a países europeus, com seus canhões de 35 mm operando em conjunto com um sofisticado sistema de radar com alcance de 15 km, efetuando ainda a varredura no espaço aéreo juntamente com o radar de tiro e computador digital de direcionamento e controle de fogo com o mesmo alcance. Como principal vantagem operacional, destacava-se que o sistema era montado sobre o chassi do carro de combate  Leopard I, modelo com o qual o Exército Brasileiro já estava familiarizado em termos de operação e manutenção, o que facilitaria em muita sua incorporação, não havendo a necessidade de se proceder investimento adicionais em termos de treinamentos e ferramental. Após negociações seria celebrado entre as partes um acordo na ordem de US$ 50 milhões de dólares, englobando trinta e seis carros (oriundos dos estoques do Exército Alemão), munição, sobressalentes, ferramental e pacote de treinamento. Atendendo ao cronograma contratual, entre os dias 4 de março a 17 de maio de 2013, uma delegação de dez oficiais de dez sargentos realizaria a primeira fase de treinamento na cidade, cidade de Hardheim (Alemanha). O primeiro lote com dez carros Krauss Maffei Flakpanzer Gepard 1A2, seria recebido no  Brasil dia 17 de maio de 2013, momento em que oficialmente seriam incorporados a a estrutura do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), ficando a estes subordinados até a realização destes grandes eventos. 

Neste momento estes mesmos militares participariam da segunda fase de formação, agora no Brasil, com a fase final deste treinamento resultando no processo de Tiro de Recebimento do GEPARD, conduzido pela 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), nos dias 22 e 23 de junho de 2013. Junto as instalações do Campo de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro seriam executados 755 tiros sobre alvos aéreos ECLIPSE, operados por integrantes do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea e 871 tiros sobre alvos fixos a 500 e 1500 metros de distância, na Linha I.  Seus canhões de  35 milímetros apresentam uma cadência de tiros de 1100 tiros por minuto sendo 550 em cada arma, com uma capacidade 640 tiros antiaéreo e mais 40 terrestre sendo 320 e 20 em cada arma com suas funções respectivamente, com este perfil operacional representando um grande avanço para a Força Terrestres. A partir deste momento, a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea passaria a ser responsável pela formação dos oficiais e sargentos do Exército Brasileiro operadores do Sistema GEPARD. Logo após, os oito carros deste primeiro lote seriam liberados para plena operação, com a missão de defesa de ponto, com este processo sendo conduzido a tempo de participar da edição da Copa da Confederações da Fifa, realizada no Rio de Janeiro entre os dias  15 a 30 de junho de 2013.  Os veículos restantes seriam recebidos em diversos lotes entre maio de 2013 a setembro de 2014, totalizando trinta e quatro Gepard 1A2, operacionais e dois dedicados para treinamento. Em serviço operacional os estes blindados  passariam a ser denominados como Veículo Blindado de Combate Antiaéreo (VBC AAe), sendo distribuídos a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), 11ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada (GAAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 1º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 2º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAe) e 5ª Brigada Blindada (Bda C Bld). Apesar de se encontrarem em excelente estado de conservação, os veículos adquiridos pelo Exército Brasileiro foram produzidos durante a década de 1970 e modernizados em 1996, necessitando então da implementação de um novo processo de atualização.  Para atendimento a esta demanda seria celebrado em 2014 um contrato junto a Brasil Krauss-Maffei Wegmann, visando a modernização das viaturas e simuladores, abrangendo os sistemas sistema de tiro digital, visores termais estabilizados, data link a um centro de controle de defesa aérea - monitoramento, sensores de velocidade da munição. Este pacote englobava ainda a realização de revisões nos sistemas estruturais e mecânicos permitindo estender a vida útil do modelo até o ano de 2030. 
A primeira unidade modernizada de um lote inicial de oito carros contratados, seria entregue ao Exército Brasileiro em 9 de março de 2016, com este processo sendo concluído até o final do ano de 2018. Apesar de muitas críticas internas do próprio Exército Brasileiro, quanto a real efetividade de proteção contra as ameaças aéreas atuais, a aquisição do sistema Flakpanzer Gepard 1A2 veio a robustecer o sistema operacional de defesa antiaérea da Força Terrestre. Principalmente para emprego em baixa altura até 3.000 metros, garantindo assim elemento importantíssimo para o sucesso nas operações, incrementando ainda mais, o poder de combate da tropa blindada. A importância deste sistema seria revelada durante a Guerra da Ucrânia, onde os Flakpanzer Gepard 1A2 tem desempenhado um papel fundamental no combate contra os drones, que se tornariam um dos principais flagelos das forças blindadas envolvidas naquele conflito. Assim além de prover proteção com esta nova ameaça, estes veículos a serviço do Exército Brasileiro, proporcionam uma razoável proteção contra helicópteros de ataque, sendo principalmente empregados como parte orgânica das Brigadas Blindadas, as Baterias Antiaéreas Autopropulsadas (Bia AAAe AP). Com estas brigadas sendo compostas por quatro Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe), menor Unidade de Emprego de Artilharia Antiaérea (AAAe), sendo constituídas cada uma dessas Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe) por quatro veículos  Flakpanzer Gepard 1A2.  Além de operarem junto as Brigadas de Artilharia Antiaérea, cada viatura individualmente é considerada como Unidade de Tiro (U Tir) com capacidade de, por seus próprios meios, detectar, acompanhar e destruir uma incursão inimiga, podendo ser empregada em operações estáticas ou em movimento, tais como em uma Marcha para o Combate, onde o Gepard 1A2 estará desdobrado no interior da coluna de blindados para prover a defesa antiaérea da tropa defendida.  Em 2023 o Programa Estratégico do Exército Defesa Antiaérea passaria a focar seus esforços na recuperação capacidades já existentes, bem como obter novas capacidades de defesa antiaérea de baixa, média e grande alturas, modernizando as organizações militares de Artilharia Antiaérea da Força Terrestre. Assim durante um tempo os Gepard 1A2 operarão em conjunto com novos sistemas de defesa de média e grande altura que devem ser adquiridos nos próximos anos.  

Em Escala.
Para representarmos o Krauss Maffei Gepard 1A2 Flakpanzer  em uso pelo Exército Brasileiro, empregamos o antigo kit da Tamiya na escala 1/35, salientando que este apresenta a versão Gepard 1A1, desta maneira é necessário implementar uma série de mudanças em scratch building. Já os kit mais recentes produzidos pela Meng e Takon representam o modelo empregado pelo Exército Brasileiro, sendo indicados estes para compor a versão brasileira. Para representarmos a versão em uso no Brasil, não há necessidade de se proceder qualquer alteração em relação ao kit original. Fizemos uso de decais confeccionados pela  Decals & Books presentes no set  "Forças Armadas Brasileiras".
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer), com o qual estes blindados foram recebidos a partir de 2013. Nos dois primeiros não receberiam nenhuma marcação nacional, com o escudo do Exército Brasileiro sendo aplicado após o ano de 2018, salientamos ainda que mesmos os veículos modernizados não passaram por qualquer alteração em seu esquema de pintura. 



Bibliografia :

- Gepard  - Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Flakpanzer_Gepard
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Gepard 1A2 – Plano Brasil por Sergio Santana www.planobrazil.com

CCL X-1 Pioneiro e X-1A1/A2 Carcará

História e Desenvolvimento.
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento do governo nacional socialista que se encontrava em plena implementação passava a focar também o desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares, que seriam no campo de batalha combinados com novas tecnologias em equipamentos e armas destinadas ao combate terrestre com apoio aéreo. Esta iniciativa culminaria na criação do conceito da "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg, esta tática tinha, como um dos principais pilares, o desenvolvimento de carros de combate blindados, que se caracterizavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Neste contexto os novos carros de combate alemães seriam desenvolvidos para serem superiores em todos os aspectos aos seus pares disponíveis na época. Apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes a Alemanha (assinado após o término da Primeira Guerra Mundial) este e demais programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançava a passos largos.  Do outro lado do oceano atlântico, o serviço de inteligência norte-americano transmitia ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) todos os informes relativos a estes avanços e suas eminentes ameaças futuras. Análise preliminares destes relatórios apontavam que estes novos carros blindados alemães facilmente superariam os modelos em uso até então.  A fim de se solucionar esta problemática, em abril do ano de 1939 seria iniciado um abrangente programa de estudos, que visava o desenvolvimento novos carros de combate que teriam por objetivo principal substituir os já obsoletos modelos M-1 e M-2 que representavam o esteio da força de blindada daquela nação.   O principal objetivo deste plano era conceber carros de combate que em hipotéticos cenários de conflagração, poder rivalizar com os novos carros de combate alemães e japoneses que se encontravam em fase inicial de operação. Assim em julho de 1940 seria deflagrado o programa do carro de combate leve "M-3 Light Tank", com este projeto sendo capitaneado inicialmente pelas equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department) com sede em Fort Lee, Virgínia. De imediato os trabalhos conceituais seriam iniciados, sendo estabelecidos diversos parâmetros iniciais de projeto, se destacando entre eles a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e de um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre de sua arma principal. 

O peso adicional resultante da blindagem parametrizada em projeto, levaria ao emprego de um novo sistema de suspensão muito diferente do utilizado no M-2 Light Tank, para melhoria da equalização do peso total do veículo, seria adicionado nas lagartas uma polia extensora traseira de maior diâmetro, aumentando assim a superfície de contato com o solo. A fim de se abrigar a nova peça de artilharia, uma nova torre com potencial de giro de 360º seria desenvolvida, sendo inicialmente soldada e rebitada em formato oitavado, sendo posteriormente substituída por uma composta uma única chapa laminada moldada de espessura. O veículo seria projetado para operar com uma tripulação reduzida de quatro homens, composta por motorista, comandante, municiador e auxiliar. Nos primeiros modelos produzidos, o comandante do carro, desempenharia também a tarefa de artilheiro do canhão, já nas versões mais recentes a adoção do conjunto de periscópicos levaria a alteração da posição do comando do carro seria posicionada ao lado direito, passando o comandante a atuar também na função de municiador. O carro seria testado em campo, e apesar de um certo ceticismo por parte de um grupo de analistas mais críticos que avaliavam que quando comparado a seus adversários, o modelo apresentava uma duvidosa capacidade de proteção, devido sua fina blindagem, e questionava-se também a real eficácia da arma de 37 mm frente a couraça dos carros de combate alemães de nova geração. Apesar destas importantes ressalvas, a necessidade de se atender rapidamente as demandas norte-americanas de seus possíveis aliados levaria a decisão de se iniciar imediatamente a produção em larga escala. Neste contexto seria priorizado o fornecimento ao Exército Real (Royal Army) para o emprego no teatro de operações da África Norte, onde receberia seu batismo de fogo, onde apesar de suas limitações apresentaria um destacado papel nesta fase inicial do conflito, vindo a reforçar provisoriamente as debilitadas forças blindadas aliadas, ganhando tempo para a aceleração da capacidade industrial norte-americana. Já os seus primeiros combates pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) se dariam a partir de 8 de dezembro de 1941, quando dos enfrentamentos decorrentes da invasão japonesa as Filipinas.  Em fins de 1943 as limitações originais do projeto em termos de blindagem e armamento levariam a sua necessidade de substituição na linha de frente o que ocorreria com a introdução a partir de 1944  dos novos carros de combate leve M-24 Chaffe.
Apesar disto o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, não assistiria o fim da carreira dos M-3 e M-5 Stuart, que após retirados do serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (US Army), seriam classificados como "excedente militar" passariam a compor os programas de ajuda militar, com milhares destes carros de combate passando a ser cedidos mais de trinta países com os quais os Estados Unidos buscavam fortalecer suas relações. Nesta nova fase seriam empregados novamente em situações de conflito real, participando ativamente da Guerra Civil Chinesa (1946 - 1949), Guerra da Indochina (1946 - 1954), nas primeiras fases das Guerras Indo-Paquistanesas e por fim durante a Guerra de Independência de Angola (Guerra de Ultramar). Apesar de ultrapassado deste o final da década de 1950, a simplicidade, robustez, baixo custo de manutenção e operação de seu projeto original, levariam ao desenvolvimento de inúmeros programas de revitalização e modernização ao redor do mundo, com destaque principalmente para os projetos implementados junto as Forças de Defesa de Israel (IDF). Com estes programas servindo no futuro de influência, para estudos que seriam realizados no Brasil. Em fins da década de 1960, a frota brasileira de carros de combate leve M-3 e M-3A1 Stuart era composta por mais de quatrocentos veículos, com a grande maioria destes se encontrando fora de serviço. Este cenário era causado principalmente por problemas na obtenção de peças de reposição, mais notadamente componentes dos dispendiosos motores a gasolina Continental AOS-895A3 ou Guiberson T-1020A. Desta maneira, apesar de estarem armazenados como reserva estratégica, seriam logo disponibilizados para a venda como sucata. Neste contexto em 1969, o 1º BCCL (Batalhão de Carros de Combate) baseado na cidade do Rio de Janeiro - RJ, receberia a visita de uma delegação israelense, que tinha como objetivo a aquisição de plataformas militares antigas para a conversão em veículos de serviço blindados sob esteiras.  Esta intenção viria a despertar a atenção do Coronel Oscar de Abreu Paiva, comandante da unidade, sob as possibilidades e potencialidades para o emprego dos M-3 e M3-A1 brasileiros como veículos especializados, com esta motivação sendo reforçada pelos militares israelenses, que teceram grandes elogios, quanto aos programas desta natureza implementados anteriormente em sua força terrestre.

Neste momento o Exército Brasileiro apontava a necessidade de uma renovação de sua frota de carros de combate e veículos em geral, com o atendimento desta demanda ser cerceada principalmente falta de recursos. Desta maneira neste momento surgiriam as primeiras iniciativas visando estudos para a implementação de programas de modernização da frota de M-3 e M-3A1 Stuart. Os primeiros resultados práticos seriam obtidos pelo Parque Regional de Motomecanizacão de Santa Maria (PqRMnt/3) no Rio Grande do Sul. Esta organização estava profundamente comprometida nos esforços do “Plano Impere” , programa este que visava recuperar diversos veículos de combate e transporte pertencentes ao III Exército. Os primeiros exemplos do emprego da plataforma destes carros de combate leves resultariam na criação de um trator de artilharia ou rebocador e no primeiro protótipo da Viatura de Combate Antiaérea. Apesar desta tímida iniciativa, um grande impulso neste sentido seria motivado pelos resultados positivos obtidos pelo Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo (PqRMM/2) no processo de remotorização de carros blindados como os Ford M-8 Greyhound e meia lagarta White M-2/M-3/M-5. Desta maneira logo em seguida o Ministério do Exército criaria o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB). O principal objetivo desta organização era o de desenvolver uma nova família de blindados leves tendo por base a plataforma e componentes vitais dos antigos M-3 e M-3A1 Stuart.  Um dos pontos de partida deste processo se baseava na substituição do motor original a gasolina por um novo conjunto de produção nacional a diesel, elencando como opção de análises modelos de motores produzidos nacionalmente pela MWM Motores S/A , Deutz do Brasil S/A e Scania Vabis do Brasil S/A. A instalação destes novos motores demandaria alterações na estrutura do veículo, que tiveram de ser alongados com chapas de aço  SAE 5150 fornecido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Com esta mudança seria necessário efetuar a troca da suspensão original do M-3 Stuart em virtude da diferença de altura do solo proporcionada. Como soluçao seria empregado o sistema utilizado originalmente no  trator de artilharia M-4 de 18 toneladas, que era maior e mais larga. Seriam então completados três protótipos, que seriam exaustivamente testados em ensaios comparativos, com o modelo com o motor Deutz apresentando a melhor performance, no entanto logo esta empresa encerraria suas operações no Brasil, com a escolha recaindo sobre o motor produzido pela Scania Vabis do Brasil S/A que apresentava uma potência nominal de 250 cv. 
Ao ser definido seu grupo propulsor a diesel, as atenções se voltariam ao desing do modelo, neste quesito suas principais deficiências estavam baseadas em suas linhas retas e planos verticais da carcaça que impunham fragilidade a sua blindagem original. Também pesavam negativamente sua elevada pressão sobre o solo em função de suas lagartas estreitas e principalmente seu baixo poder de fogo da munição do canhão de 37mm. Assim realizaram-se estudos envolvendo uma total reformulação da carcaça do veículo, abrangendo muito além da simples substituição do motor, como previsto inicialmente. Os resultados destes trabalhos indicavam a necessidade de uma reformulação total, com um novo desenho da carcaça com aproveitamento das partes traseira e frontal, suportando principalmente a instalação do novo motor a diesel, com modificações especiais de cárter e turbina. Como dito, incluindo a adaptação de um novo sistema de suspensão que permitisse o uso de lagartas mais largas adequadas a equalizar sobre o terreno o peso superior do veículo. Como maior destaque se encontrava o desenvolvimento de uma nova torre que pudesse abrigar um canhão de calibre 90 mm.  Estes trabalhos tiveram início em 28 de junho de 1973, com autorização do DPET (Diretoria Pesquisa de Ensino Técnico) e apoio da Diretoria de Motomecanização, que positivamente estava comprometida com o novo projeto. O primeiro protótipo funcional seria completado em dois meses nas instalações da Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda, com este processo sendo diretamente supervisionado pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo.  Este veículo seria submetido a um intenso programa de testes de campo na cidade de Peruíbe no litoral de São Paulo, operando em percursos em estradas de terra e asfalto, continuamente dia e noite, parando apenas para substituição de motorista e abastecimento.  Inicialmente este protótipo estaria equipado com uma torre produzida pela Engesa S/A, com está sendo substituída posteriormente por uma nova projetada pela Bernardini S/A, que receberia a designação inicial de B-90, em seguida, B-90 A1 (nos de série). Neste conjunto seria adaptado o canhão francês DEFA D-921A 90 F1 90 mm (3,54 pol), que poderia ainda fazer uso de munição  HEAT, HESH e APFSDS. Esta torre era construída totalmente em aço especial com uma polegada de espessura, resistente a tiros de metralhadoras calibre .50 a pelo menos 200 metros de distância.  

Emprego no Exército Brasileiro.
Os trabalhos de testes e aperfeiçoamentos do projeto seguiram atendendo ao cronograma original, com o primeiro protótipo participando da parada de 7 de Setembro de 1973 em Brasília no Distrito Federal, liderando início do desfile das forças motorizadas em Brasília, com este carro sendo comandado pelo diretor de Motomecanização do Exército Brasileiro. Logo após a versão final seria aprovada, resultando na celebração dos contratos de produção, com a Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda e Bernardini S/A,  envolvendo a aquisição inicial de cinquenta e três carros de combate, podendo chegar até cento e treze unidades em um aditivo complementar) do modelo agora designado como Viatura Blindada de Combate ou Carro de Combate MB-1.  Seu processo de produção seria dividido fases, com a primeira envolvendo o recebimento dos M-3 e M-3A1 Stuart pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, que seria responsável pode proceder a desmontagem do veículo. A seguir as carcaças seriam entregues a Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda, nesta etapa seriam recuperadas a caixa de mudança e o sistema de transmissão original. Paralelamente seriam iniciados os trabalhos de transformação da carcaça, envolvendo principalmente o aumento no comprimento para a instalação do motor Scania DS-11 e caixa de transmissão. Nesta fase seria feito também o processo de rebaixamento da silhueta, e por fim seriam instalados acessórios, toda a parte elétrica e as lagartas produzidas pela Novatração. O veículo saia rodando e seguiria para as instalações da Bernardini S/A, onde seria realizada instalação da a torre e o canhão. Em um espaço reservado os técnicos do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) procediam a instalação do armamento secundário e do equipamento de comunicações. Por fim seriam conduzidos testes em estrada na ordem de 200 a 300 km e testes de armas secundárias e principal, devendo ser disparados seis tiros com o canhão de baixa pressão de 90 mm.. No entanto o cronograma original enfrentaria uma série de atrasos, entre a assinatura do contrato em dezembro de 1973 e a entrega dos primeiros veículos pré-série seriam transcorridos mais de vinte e sete meses, com estes sendo disponibilizados entre os meses de março e abril de 1976.

Este atraso seria gerado por diversos fatores, destacando-se a proibição inicial de importação de componentes críticos, deficiências na formulação dos processos de engenharia de projeto, problemas de gestão de crédito com a Bernardini S/A que geravam interrupções no fluxo de peças e desvios de recursos e de atenção para os novos projetos como as versões posteriores X-1A1 e X-1A2. No citado período seriam completados dezessete carros de classificação como pré-séries, os quais foram incorporados ao 4º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB). Em operação estes carros uma variada gama de problemas técnicos e operacionais de pequena monta, obrigando o retorno destes ao fabricante, onde posteriormente seriam sanados convenientemente. O segundo de produção compreendia dezesseis carros, com quatorze sendo entregues em abril de 1979 ao 6º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), os dois restantes seriam disponibilizados a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e Escola de Material Bélico. Apesar não haver uma documentação especifica dos fabricantes, registros oficiais do Exército Brasileiro apontam que estes seriam os últimos carros entregues desta versão, neste período sua designação oficial seria alterada para  CCL-MB-1 Pioneiro X1. Este seria a primeira experiencia da indústria brasileira no segmento de blindados sobre lagartas, porém não lograria o mesmo êxito obtido com os modelos sobre rodas. O programa seria alvo de crítica, muitas delas duras, mas serviria de grande aprendizado para o Exército Brasileiro e para a indústria nacional. Junto aos Regimentos de Cavalaria Blindada, os CCL-MB-1 Pioneiro X1 seriam intensamente empregados, mantendo inicialmente índices aceitáveis de disponibilidade, principalmente devido a sua robustez e facilidade de manutenção. Seu maior número de ocorrências estava relacionado a problemas técnicos de fácil solução, com os processos corretivos sendo rapidamente executados. No entanto seu ciclo operacional seria reduzido principalmente devido à falta de manutenção preventiva, resultando no desgaste prematuro de componentes críticos, com este fato se dando pela ausência manuais técnicos que deveriam ser elaborados pelo fabricante e entregues juntamente com os veículos.
Nos anos seguintes começariam a ser registradas falhas mais graves, que seriam posteriormente classificados como problemas crônicos, com destaque para quebra da embreagem deficiente (por conter apenas um disco), constante quebra de molas volutas (originarias dos tratores M-4 e semelhantes nacionais) e por trincamento do garfo da polia tensora, com este fato ocorrendo em  função do peso elevado da roda tensora que solicitava exageradamente este componente durante o deslocamento do veículo em alta velocidade sobre um terreno difícil. Apesar destes fatores, paralelamente seriam conduzidos estudos visando desenvolvimento de uma família inteira de blindados dedicados a tarefas especializada que seriam construídos sobre a mesma plataforma do CCL-MB-1 Pioneiro X1.  Elencando inicialmente neste contexto o XLP-10 - carro lançador de pontes (04 protótipos), XLF-40 - carro lançador de foguetes (01 protótipo), XCS - carro porta-morteiro (01 protótipo). Na sequência seria planejado o desenvolvimento de um carro de engenharia do tipo buldozer e um carro destruidor de minas, porém estes dois não evoluiriam além da análise conceitual. Em julho de 1978, um relatório da 4º Subchefia do Estado-Maior do Exército Brasileiro sugeriria a interrupção da produção do X-1 Pioneiro, direcionando a transformação dos remanescentes carros de combate leves M-3 e M-3A1 Stuart para o novo modelo X-1A que se encontrava em fase de testes de protótipo e suas subsequentes subversões especiais como porta-morteiro, antiaéreo, lança-ponte e lança foguete. Em fevereiro de 1983, oito destes se encontravam fora de operação, com este cenário se agravando, e ao final do mesmo apenas dois dos trinta e quatro CCL-MB-1 Pioneiro X-1 pertencentes a dotação original do  4º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) estariam operacionais.  Em junho de 1984, essa questão seria resolvida com o retorno à lubrificação a óleo, com vinte e três destes carros sendo recolados em serviços após a realização de reparos. Inicialmente, estava previsto que a Bernardini S/A produzisse cinquenta e oito novos conjuntos de  marchas que solucionariam estas falhas, mas os custos envolvidos se mostrariam tão altos que esta alternativa acabaria abandonada. Além dos braços oscilantes racharem, o casco também começou a rachar no ponto de montagem dos bogies. Isso foi causado devido ao suporte inadequado das suspensões com o aumento do peso dos veículos. Os CCL-MB-1 Pioneiro X-1 passariam em 1988 a serem gradualmente substituídos pelos Bernardini M-41C  Caxias, com o último sendo desativado em  julho de 1994.

Fruto da experiência passada, o novo X-1A1 apresentava mudanças importantes, como a adoção de um novo sistema de suspensão com três boogies, em vez de dois como no X-1 e uma polia tensora independente. Esta solução permitiria uma pressão sobre o solo de 0,53kg/cm2, melhorando acomodação ao terreno com aumento da capacidade de transposição de fosso e com componentes de durabilidade e resistência superiores a seus similares no exterior. Sua carcaça seria ainda alongada em 20 centímetros permitindo, com a mudança da posição da saída de emergência, aumento do comprimento do teto e do espaço necessário para ampliação do diâmetro da torre. Isto permitiria a adoção de uma nova torre com rolamento maior de 1,60 m com acionamento de giro hidráulico, ao apresentar maiores dimensões esta torre permitiria maior conforto da tripulação, aumentando ainda capacidade de armazenamento de munição do canhão, possibilitando também a instalação de um segundo rádio e antena, escotilha giratória do chefe do carro com base para uma metralhadora antiaérea. O novo modelo também adotava o sistema de acionamento hidráulico das alavancas de comando das lagartas, permitindo mais conforto e menor desgaste físico do motorista. Dentro deste conceito seria completado um protótipo, que ao ser entregue ao Exército Brasileiro passaria a ser empregado em um extenso programa de testes e avaliação de campo realizado entre os anos de 1977 e 1978. Este novo projeto levaria a outro norteamento para o desenvolvimento de um carro de maior porte o projeto X-15, no entanto restrições orçamentárias levariam ao cancelamento desta iniciativa com o foco retornando a plataforma deste protótipo.  Neste contexto a ideia era desenvolver um modelo intermediário de baixo custo para o emprego em tarefas de adestramento podendo assim poupar custos e desgastes na frota de carros de combates médios M-41 Walker Buldog. De volta a fase de projeto nasceria o modelo X-1A2 que receberia o nome de batismo de "Carcará", que é considerado por muitos o primeiro carro-de-combate sobre lagartas concebido no Brasil.  Sua carcaça seria totalmente reformulada, inclusive retirando-se o espaço destinado ao auxiliar do motorista, permitindo assim a adoção de um conjunto de blindagem frontal com características balísticas muito superior às do X-1 e do X1-A1, concedendo-lhe também um desing mais moderno. Como novidade seria efetuada também a troca da caixa de transmissão mecânica, que passaria a ser uma Allison modelo CD-500 Cross-Drive, com três marchas alta e baixa a frente e uma a ré. Seria movido por um motor diesel Saab-Scania de 300 cv, a fim de compensar com seu peso aumentado de 19 toneladas, e apresentaria uma autonomia de 580 km.  Além disso, um novo sistema de controle de incêndio projetado pelo D.F. Vasconcelos S/A seria instalado, para melhorar as chances de sobrevivência em combate.   
O Bernardini X-1A2 manteria a torre de seu antecessor, porém seu sistema de giro passaria a ser hidráulico, sendo equipada com o mesmo canhão EC-90 mm (versão nacional do belga Cockerill) que equipava os carros de reconhecimento sob rodas Engesa EE-9 Cascavel. Neste contexto o X-1A2 Carcará passaria a apresentar um maior índice de nacionalização de componentes, o que neste momento muito interessava ao comando do Exército Brasileiro, que buscava atingir um percentual mínimo de independência industrial na obtenção de componentes críticos em relação a fornecedores internacionais. Testes de campo seriam implementados com o modelo recebendo homologação para emprego operacional pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), sendo neste momento contratada junto a Bernardini S/A a produção inicial de vinte e quatro carros divididos em dois lotes. O primeiro contemplando dez carros seriam entregues ao 6º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) em meados do ano de 1981, sendo alocados no segundo batalhão em substituição aos últimos M-4 Sherman em uso no Exército Brasileiro. Em operação real, verificou-se nos carros X1A2 Carcará um vazamento crônico do selo mecânico do conversor de torque, com esta ocorrência aliada também a alto índice de falhas e quebras no sistema de manches de direção.  Apesar de serem anomalias passiveis de correção, neste período todos os recursos disponíveis passariam a ser canalizados para o ambicioso projeto de modernização dos carros de combate médios M-41 Walker Buldog. O segundo lote seria disponibilizado em 1984, e curiosamente estes carros não foram colocados em serviço sendo apenas armazenados nesta unidade. O modelo seria retirado no serviço ativo no ano de 1994, sendo também substituído pelos Bernardini M-41C  Caxias. O eventual desenvolvimento do X-1 e X-1A2 pode ser um pouco questionável, considerando que o Engesa  EE-9 Cascavel representava todos os efeitos, um veículo igual, se não melhor. Mas isso não tira o objetivo real da indústria de defesa brasileira na época, que não era criar um veículo de combate excepcional, e sim ganhar experiência na fabricação e conversão de veículos blindados, que mais tarde seriam realizados em veículos mais complexos. Seu objetivo operacional era o de estender a vida útil e melhorar a eficácia de combate do M-3 Stuart até que o projeto M-41C pudesse ser iniciado. 

Em Escala.
Para representarmos o Bernardini CCL X-1 Pioneiro “EB11-232” utilizamos como ponto de partida kit da Academy na escala 1/35, desenvolvendo em scracth todo o chassi, canhão e torre. Fizemos uso de fotos de referência e desenhos, buscando a maior proximidade possível com o veículo real. Empregamos decais confeccionados Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro  1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados em todos os carros de combate leve (CCL) X-1 , X-1A1 e X-1A2 operados pelo Exército Brasileiro até 1983, sendo que após este ano alguns carros de combate receberam o padrão de camuflagem tático em dois tons adotado pelos Engesa EE-9 Cascavel e Bernardini M-41C Caxias, mantendo este esquema até a sua desativação em julho do ano de 1994.


Bibliografia :
- O Stuart no Brasil – Helio Higuchi, Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M3 Stuart Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Stuart
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos

EE-T1 e EE-T2 Engesa Osório


História e Desenvolvimento.
A Engesa – Engenheiros Especializados S.A., fundada em 1958 na cidade de São Paulo, SP, por um grupo de engenheiros recém-formados liderado por José Luiz Whitaker Ribeiro, consolidou-se como o principal fabricante de equipamentos militares terrestres do Brasil. Nos anos iniciais, a empresa concentrou suas atividades na produção de equipamentos para prospecção, produção e refino de petróleo. Composta por profissionais altamente qualificados, muitos deles formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Engesa destacou-se pela excelência técnica e inovação. Em 1966, a Engesa iniciou um marco em sua trajetória com o projeto e a fabricação do sistema de tração 4×4, conhecido comercialmente como Tração Total. Esse sistema, composto por uma caixa de transferência com duas tomadas de força, eixo dianteiro direcional e guincho opcional, foi projetado para equipar veículos nacionais de série, como picapes e caminhões das marcas Chevrolet, Ford e, posteriormente, Dodge. O sucesso do sistema levou ao desenvolvimento das versões 6×4 e 6×6, que aproveitavam eixos e feixes de molas traseiros originais dos veículos. O sistema Tração Total conferiu excepcional desempenho fora de estrada, até então inédito no Brasil para veículos dessa categoria. Um exemplo notável foi a picape F-100 6×6, cuja capacidade de carga foi duplicada, permitindo a transposição de rampas com inclinação de até 85%. Devido à sua eficiência, o sistema foi patenteado no Brasil e em diversos países, consolidando a reputação da Engesa no mercado. O crescimento da Engesa esteve intrinsecamente ligado ao período da ditadura militar (1964–1985). Em 1967, o sistema Tração Total foi declarado “de interesse para a Segurança Nacional”, resultando em contratos com o Exército Brasileiro para o fornecimento de centenas de caminhões novos (modelos Chevrolet 4×4 e 6×6) e a modernização de parte da frota herdada da Segunda Guerra Mundial. Esses contratos incluíam a reforma de chassis e carrocerias, repotencialização de motores e substituição de suspensões e sistemas de tração pelos fabricados pela Engesa. Paralelamente, a empresa continuou atendendo o mercado civil, adaptando veículos para empresas como Petrobras, empreiteiras, concessionárias de energia e madeireiras. A partir de 1968, a Engesa passou a exibir seus produtos em diversas edições do Salão do Automóvel, ampliando sua visibilidade no setor. Os laços da Engesa com as Forças Armadas foram fortalecidos pelo Decreto-Lei nº 200/67, que promovia a descentralização de atividades da administração federal e incentivava a execução indireta de tarefas por meio da iniciativa privada. O decreto estipulava que a administração deveria transferir atividades executivas para empresas privadas capacitadas, o que resultou na redução de verbas e de quadros de servidores dedicados à pesquisa e desenvolvimento no setor público, incluindo o Exército. Essa política beneficiou diretamente a Engesa, que assumiu parte das responsabilidades de pesquisa e desenvolvimento militar. O crescimento da empresa foi expressivo, com a adaptação de 960 veículos em 1968, número que alcançou 1.371 dois anos depois. Esse avanço foi acompanhado pela criação de novos produtos voltados às Forças Armadas, consolidando a Engesa como um dos principais fornecedores militares do Brasil. 

Em abril de 1971, a Engesa – Engenheiros Especializados S.A. demonstrou sua capacidade como fabricante de armamentos modernos ao apresentar à imprensa brasileira dois blindados sobre rodas, desenvolvidos conforme especificações do Exército Brasileiro. O primeiro, um Carro de Reconhecimento (CRR), e o segundo, um Carro de Transporte de Tropas Anfíbio (CTR-A), foram os protótipos dos modelos EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, respectivamente. Esses lançamentos marcaram o início de uma linha de equipamentos militares identificada por nomes de cobras venenosas, que se tornaria característica da Engesa nas décadas seguintes. As primeiras unidades do EE-9 Cascavel foram equipadas com canhões de 37 mm reutilizados, provenientes de blindados M3 Stuart recebidos pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. A segunda série do veículo incorporou uma configuração modernizada, com uma torreta francesa armada com um canhão de 90 mm. Contudo, esse sistema apresentava custos elevados e dependia de autorizações prévias do governo francês para exportações, o que levou a Engesa a desenvolver um canhão de 90 mm próprio, fabricado sob licença com base em um projeto belga. O EE-9 Cascavel, equipado com esse canhão “nacionalizado”, foi posteriormente reconhecido por analistas internacionais como um dos melhores blindados leves de reconhecimento do mundo. Estimulada pelos planos de investimento das Forças Armadas Brasileiras e pelo potencial de mercado no Oriente Médio, a Engesa transferiu, em 1974, suas principais instalações para São José dos Campos, SP. No mesmo ano, a empresa criou a Engex S.A., uma unidade fabril em Salvador, BA, dedicada à produção de engrenagens, caixas de transmissão e canhões. Ainda em 1974, a Engesa lançou os caminhões EE-15 e EE-25, com capacidades de carga de 1,5 e 2,5 toneladas, respectivamente, projetados para operações fora de estrada, com o dobro da capacidade em superfícies regulares. No início de 1982, o comando do Exército Brasileiro solicitou à Engesa estudos para o desenvolvimento de um carro de combate médio sobre lagartas, com peso de aproximadamente 35 toneladas. Este seria o veículo mais pesado a entrar em serviço no Brasil e o primeiro projeto desse porte conduzido pela empresa. Considerando a limitada demanda interna, a Engesa optou por adaptar o projeto às necessidades do mercado internacional de defesa, aumentando o peso do veículo para 41 toneladas. Com isso, o projeto foi elevado à categoria de Main Battle Tank (MBT – Carro Principal de Combate), ampliando seu potencial competitivo no cenário global.

Na década de 1980, o Exército da Arábia Saudita lançou uma concorrência internacional para o desenvolvimento e aquisição de um novo Carro de Combate Principal (Main Battle Tank – MBT), destinado a substituir os obsoletos AMX-30B de fabricação francesa. O programa previa a compra de aproximadamente mil unidades, em um contrato estimado em US$ 3 bilhões. A Engesa – Engenheiros Especializados S.A., reconhecendo o potencial de exportação, identificou nessa oportunidade a possibilidade de alcançar a escala industrial necessária para viabilizar o atendimento às demandas do Exército Brasileiro, além de fortalecer sua posição no mercado global. A Engesa  S/A  já detinha significativa notoriedade como fornecedora de veículos militares e equipamentos para nações do Oriente Médio, o que a posicionava como uma concorrente relevante na concorrência saudita. Sua experiência prévia na exportação de blindados, como o EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu, reforçava sua credibilidade no setor de defesa. O projeto do novo carro de combate, inicialmente denominado T-1 e posteriormente batizado EE-T1, foi concebido para atender aos padrões modernos de MBTs, com ênfase em poder de fogo, proteção e mobilidade. O veículo deveria incorporar tecnologias avançadas, incluindo: Pontaria a laser e controles para tiro em movimento; Sistemas de visão noturna; Proteção contra ameaças químicas, radioativas e biológicas (QRB); Sensores térmicos infravermelhos. A blindagem do EE-T1 foi projetada para ser leve e resistente, utilizando chapas compostas de materiais metálicos e compostos, desenvolvidas pela Eletrometal S.A., empresa responsável também pela produção de aços especiais para os canhões da Engesa. Para acelerar o desenvolvimento e reduzir custos, a Engesa buscou parcerias com fabricantes internacionais renomados, como a Dr. Ing. hc F. Porsche AG e a Thyssen-Henschel, ambas alemãs. O objetivo era adquirir tecnologia por meio de transferência, mas divergências comerciais e diferenças nos parâmetros de projeto inviabilizaram essas colaborações. Diante do fracasso nas negociações, a Engesa optou por desenvolver o EE-T1 de forma autônoma, incorporando as tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado. O projeto foi estruturado em duas vertentes: Versão para Exportação: Customizada para atender às especificações exigidas pelo mercado internacional, incluindo a concorrência saudita. Versão para o Exército Brasileiro: Configuração simplificada, adaptada às necessidades operacionais nacionais. Para equipar o EE-T1, a Engesa encomendou à britânica Vickers Defence Systems duas torres intercambiáveis com comando elétrico, compatíveis com canhões de 105 mm e 120 mm, este último de origem francesa. Essa abordagem permitiu flexibilidade no armamento, atendendo a diferentes requisitos operacionais

O Engesa EE-T1, projetado para uma tripulação de quatro membros, foi concebido com uma estrutura monobloco composta por chapas blindadas soldadas, utilizando materiais monometálicos, bimetálicos e compostos. A blindagem composta, aplicada no arco frontal com pequenos ângulos de incidência, assegurava baixa silhueta e maximizava a proteção balística. Em 1986, essa configuração permitia resistência razoável contra munições antitanque disponíveis à época. O veículo incluía saias laterais em aço blindado para proteger as lagartas e os sistemas de suspensão, enquanto o motor e a transmissão automática com conversor de torque eram posicionados na traseira. O monobloco foi dividido em dois compartimentos principais — tripulação e power pack — separados por uma parede estrutural “corta-fogo” com isolamento térmico-acústico. O compartimento do power pack contava com três tampas em aço blindado bimetálico, projetadas para facilitar o acesso, complementadas por grades balísticas nas entradas e saídas de ar. A suspensão hidropneumática, fabricada pela Dunlop, atuava sobre as doze rodas de apoio (seis por lado), utilizando lagartas Dhil. O sistema de frenagem, hidráulico a disco com retarder, era assistido por computador, garantindo maior controle e segurança. Para propulsão, foi selecionado o motor MWM TBD 234 V12 a diesel, refrigerado a ar, com 1.020 cv, importado da Alemanha, acoplado à transmissão ZF Friedrichshafen AG LSG 3000, de seis velocidades (quatro à frente e duas à ré). O EE-T1 estava equipado com o sistema de controle de fogo britânico Marconi Centaur, integrado a dois periscópios franceses SFIM VS580 VICAS, um para o atirador (com telêmetro a laser) e outro para o comandante (com visão panorâmica). Adicionalmente, o sistema de visão noturna Philips UA9090, de fabricação holandesa, proporcionava visores para ambos os tripulantes, ampliando a capacidade operacional em condições de baixa luminosidade. Em julho de 1985, um protótipo do EE-T1 (P.1) foi enviado à Arábia Saudita para participar do processo de pré-seleção da concorrência internacional promovida pelo Exército Saudita. O veículo demonstrou plena adaptação ao terreno desértico, obtendo excelentes resultados e sendo classificado para a fase seguinte, onde competiu diretamente com modelos de fabricantes da França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Conforme o cronograma, em julho de 1987, o protótipo definitivo, equipado com um canhão de 120 mm e sistemas eletrônicos de ponta, foi despachado para o Oriente Médio para a seleção final. Durante os testes, o EE-T1 apresentou os seguintes dados de desempenho: Rampa máxima: 65%; Obstáculo vertical máximo: 1,15 m; Capacidade de vau: 1,20 m (sem preparação) a 2,00 m (com preparação); Velocidade máxima: 70 km/h;Autonomia: 550 km.

O Engesa EE-T1 Al Fahd (P.2) destacou-se como um dos carros de combate principais (Main Battle Tank – MBT) mais avançados de sua categoria, rivalizando com os melhores projetos globais, exceto o alemão Leopard, que não participou da concorrência saudita. Sua combinação de qualidade mecânica e sistemas de controle sofisticados conferiu ao veículo um desempenho excepcional, particularmente nos testes de autonomia e precisão de tiro. O sistema de controle de fogo do EE-T1 Al Fahd era notavelmente avançado, incorporando uma "janela de coincidência" que analisava a posição do canhão e a mira do atirador. Esse recurso permitia disparos apenas quando o alinhamento entre o canhão e os periscópios era coincidente, mesmo durante oscilações do veículo, resultando em alta precisão. Nos testes, o EE-T1 foi o único a acertar um alvo a 4 km de distância. Em disparos contra alvos móveis a distâncias entre 1,5 e 2,5 km, o veículo brasileiro obteve oito acertos em doze tentativas, superando o M1A1 Abrams norte-americano (cinco acertos) e os demais concorrentes (um acerto cada). Na fase inicial da concorrência, os carros de combate franceses AMX-40 e britânicos Challenger foram desclassificados, deixando o EE-T1 Al Fahd e o M1A1 Abrams como finalistas. Na etapa final de testes de campo, iniciada em 1987, o EE-T1 Al Fahd (P.2) novamente demonstrou superioridade técnica em relação ao modelo norte-americano, consolidando a confiança da Engesa na vitória do certame. Como resultado de seu desempenho, a Engesa S.A. assinou um pré-contrato com o governo saudita para o fornecimento inicial de 316 carros de combate, em um acordo avaliado em US$ 15 bilhões (valores ajustados para 2020). Esse contrato representava não apenas uma conquista comercial, mas também a validação do projeto brasileiro no cenário internacional de defesa. Apesar da superioridade técnica do EE-T1 Al Fahd, em 1989, o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos apresentaram ao Congresso norte-americano um relatório detalhado defendendo a importância estratégica do contrato para os interesses geopolíticos e a indústria de defesa dos EUA. O M1A1 Abrams, já em serviço nas unidades de cavalaria do Exército dos Estados Unidos desde o início da década de 1980, havia sido amplamente testado em operações reais, conferindo-lhe uma vantagem operacional comprovada. Além disso, a versão do M1A1 Abrams ofertada, equipada com o canhão alemão Rheinmetall L/44 de 120 mm, estava em produção seriada desde 1986, permitindo entregas imediatas ao Exército da Arábia Saudita. Esses fatores, aliados à significativa influência política dos Estados Unidos, favoreceram a escolha do modelo norte-americano, impactando diretamente o desfecho da concorrência. Embora o EE-T1 Al Fahd tenha demonstrado excelência técnica e competitividade, a decisão final da Arábia Saudita refletiu a complexidade de fatores políticos e logísticos em concorrências internacionais de defesa. O episódio destacou os desafios enfrentados pela Engesa em competir com potências estabelecidas no mercado global, apesar de sua capacidade de desenvolver um MBT de classe mundial.

Emprego no Exército Brasileiro.
Na década de 1970, a força de carros de combate do Exército Brasileiro era composta principalmente pelos modelos M-41, M-41A1 e M-41A3, complementados por um número reduzido de Bernardini X1 e X1A2, versões modernizadas dos M-3A1 Stuart. Essa composição apresentava limitações significativas em termos de efetividade operacional, especialmente frente às potenciais ameaças na região sul do país. Embora programas paliativos, como a modernização dos M-41 Walker Bulldog e o desenvolvimento do carro de combate médio Bernardini MB-3 Tamoyo, estivessem em andamento, tornou-se evidente a necessidade urgente de um blindado moderno para substituir todos os modelos em serviço na Força Terrestre a curto e médio prazo. Nesse contexto, a Engesa – Engenheiros Especializados S.A. foi consultada em 1982 para desenvolver um novo carro de combate sobre lagartas, com peso aproximado de 35 toneladas. Contudo, a demanda limitada do Exército Brasileiro não era suficiente para justificar os investimentos necessários ao projeto, levando a Engesa a propor o desenvolvimento de um Main Battle Tank (MBT – Carro Principal de Combate) com peso superior a 40 toneladas. Essa decisão gerou divergências com o Exército, que considerava veículos acima de 40 toneladas e com largura superior a 3,5 metros inadequados devido ao maior custo de aquisição e às limitações impostas pela precária infraestrutura rodoviária e ferroviária do Brasil. Apesar das diferenças conceituais, foi estabelecida uma parceria técnica entre a Engesa e o governo federal, com o acompanhamento de engenheiros militares do Centro Tecnológico do Exército (CTEx). O projeto, iniciado em 1982, utilizou o avançado sistema de desenho CAD/CAM. Em 1983, foi concluído um mock-up em escala real, seguido pela construção do primeiro chassi, que realizou seu teste inicial em setembro de 1984. Batizado com o nome “Cachaça”, em referência à bebida tradicional brasileira, o protótipo, designado P.0, foi submetido a rigorosos testes em um campo de provas da Engesa. Para simular sua configuração final, o protótipo recebeu uma torre e um canhão falsos, além de pintura camuflada e marcações do Exército Brasileiro, proporcionando uma representação realista do veículo. De acordo com o planejamento estratégico da Engesa, o projeto do EE-T1 foi estruturado em duas versões distintas: Versão para Exportação: Mais sofisticada, equipada com tecnologias avançadas para atender às exigências do mercado internacional, particularmente na concorrência saudita e a Versão para o Exército Brasileiro: Configuração simplificada, adaptada às necessidades operacionais e logísticas da Força Terrestre, com foco em custo e adequação ao cenário nacional.

O Carro Principal de Combate (Main Battle Tank – MBT) desenvolvido pela Engesa S.A. recebeu a designação EE-T1 P1 e foi batizado como “Osório”, em homenagem ao patrono da arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, General Manuel Luís Osório, Marquês do Herval. O veículo foi equipado com o canhão britânico de alma raiada Royal Ordnance L7 de 105 mm, operado pelo sistema de controle de fogo Marconi Centaur. Para observação e pontaria, foram instalados periscópios OiP LRS-5DN (para o comandante) e LRS-5DNLC (para o atirador), ambos dotados de visão noturna. A torre do EE-T1 Osório contava com sensores integrados ao sistema de controle de fogo, garantindo precisão nos disparos. Para autodefesa, o veículo suportava a instalação de uma metralhadora Hughes EX-34 de 7,62 x 51 mm (padrão OTAN) acionada por corrente, além de uma arma coaxial, que poderia ser uma metralhadora Browning M2HB de 12,7 x 99 mm ou uma FN MAG de 7,62 x 51 mm. O grupo motriz do Engesa EE-T1 P1 Osório era idêntico ao da versão de exportação, com potencial para nacionalização futura, considerando que os fabricantes do motor e da transmissão possuíam instalações no Brasil. Entre 16 de dezembro de 1986 e 14 de abril de 1987, o EE-T1 Osório foi submetido a um rigoroso programa de testes de campo, coordenado pelo Exército Brasileiro. Durante esse período, o veículo percorreu 3.296 km, incluindo 750 km em condições adversas no campo de provas de Marambaia, Rio de Janeiro, para avaliar sua mobilidade em terrenos desafiadores. Foram realizados 50 disparos com o canhão de 105 mm, que demonstraram elevado índice de acerto e confiabilidade. Ao final do programa, foram emitidos dois relatórios pelo Exército Brasileiro: o RETEx (Relatório Técnico do Exército) e o RETOp (Relatório Técnico Operacional). Ambos apresentaram avaliações altamente positivas, destacando o desempenho excepcional do EE-T1 Osório em termos de mobilidade, precisão e robustez. O desempenho do EE-T1 Osório superou as expectativas dos militares brasileiros, gerando entusiasmo e otimismo quanto à possibilidade de equipar as unidades blindadas da Força Terrestre com um MBT de fabricação nacional. O projeto foi visto como um marco tecnológico, reforçando a capacidade da indústria de defesa brasileira em desenvolver equipamentos de ponta. Apesar do sucesso técnico, o projeto enfrentou obstáculos internos relacionados à doutrina militar do Exército Brasileiro. A Força Terrestre, cuja missão era essencialmente defensiva e voltada para a proteção do território nacional, não priorizava a adoção de um Carro Principal de Combate. A política externa brasileira, baseada na não intervenção e na neutralidade, também limitava a necessidade de uma arma de caráter predominantemente ofensivo. Essas divergências conceituais representaram barreiras significativas para a incorporação do EE-T1 Osório às forças blindadas nacionais.
A decisão de não adotar o Carro Principal de Combate (Main Battle Tank – MBT) EE-T1 Osório pelo Exército Brasileiro foi influenciada pelo elevado custo de aquisição do veículo. Inicialmente estimado em US$ 1,5 milhão por unidade, o valor projetado em 1987 alcançou US$ 4 milhões, excluindo os custos de manutenção e operação. Esses montantes eram incompatíveis com as restrições orçamentárias do Exército Brasileiro, especialmente em meio à grave crise econômica que afetava o Brasil na década de 1980. A ausência de recursos financeiros suficientes para aquisição contribuiu para a estagnação do projeto. O cancelamento da encomenda da Arábia Saudita, que previa a aquisição de 316 unidades do EE-T1 por US$ 15 bilhões (valores ajustados para 2020), representou um revés significativo para o programa. As estimativas dos custos de desenvolvimento do EE-T1 Osório variam entre US$ 50 milhões e US$ 150 milhões, impactando severamente o fluxo de caixa da Engesa S.A. A falta de apoio político e financeiro do governo brasileiro, combinada com a percepção do mercado de que o Exército Brasileiro não tinha interesse no veículo, afastou potenciais compradores internacionais. A situação financeira da Engesa foi agravada por uma inadimplência de US$ 200 milhões junto ao governo iraquiano, um de seus principais clientes.  A empresa depositava esperanças em uma possível assistência financeira do Governo Federal. No entanto, em um contexto de busca por equilíbrio fiscal, esse apoio não se materializou. Esse cenário de dificuldades financeiras culminou em um pedido de concordata preventiva em março de 1990, marcando o início de uma fase de deterioração contínua. Em 1992, a imprensa já reportava o estado pré-falimentar da empresa, caracterizado por endividamento crescente, incapacidade de cumprir encomendas e demissões em massa. Em 1993, foi decretada a falência da Engesa S.A., resultando na dissolução de seu legado técnico e industrial. O vasto conhecimento acumulado pela empresa foi perdido, com grande parte de seus ativos vendida como sucata. A biblioteca técnica foi destruída, reduzida a papel picado e comercializada por peso. Quatro leilões liquidaram os principais prédios da empresa, localizados em São José dos Campos e Barueri, São Paulo. Os funcionários da Engesa enfrentaram destinos variados: muitos abandonaram o setor de defesa, outros migraram para o exterior, e o conhecimento técnico desenvolvido até então foi interrompido. A falência da Engesa não foi apenas resultado da perda da concorrência saudita, mas o estopim de uma crise financeira latente, agravada pela dependência de um mercado global de armamentos altamente competitivo e pela falta de suporte estatal.
Durante o processo de concordata da Engesa S.A., diversos protótipos de veículos militares foram desmantelados, com seus componentes importados — como canhões, sistemas optrônicos, motores e transmissões — devolvidos aos fabricantes estrangeiros como forma de pagamento de dívidas. As carcaças remanescentes foram sucateadas, restando apenas alguns exemplares incompletos em posse de colecionadores, incluindo o EE-18 Sucuri II, o EE-T4 Ogum e outros caminhões e blindados. O protótipo de pré-série EE-T1 Osório P.0 foi vendido como sucata, com seus componentes importados também devolvidos para aliviar os débitos da empresa. Como o governo brasileiro era um dos principais credores da massa falida da Engesa, uma decisão judicial determinou que grande parte dos ativos, peças de reposição e veículos fosse incorporada ao Exército Brasileiro. Entre os equipamentos transferidos estavam dois EE-3 Jararaca, um EE-T4 Ogum (P.1), um EE-11 Urutu e os dois protótipos do EE-T1 Osório: o P.1 (equipado com canhão de 105 mm) e o P.2, também conhecido como EE-T2 Al Fahd (equipado com canhão de 120 mm). Esses dois carros de combate foram colocados sob a custódia do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMec), em Pirassununga, SP, onde permaneceram armazenados, sem integração às operações da unidade. Em atendimento a exigências judiciais, os protótipos EE-T1 Osório P.1 e P.2 estavam programados para serem leiloados em 20 de novembro de 2002, como parte do processo de pagamento aos credores privados da massa falida. Contudo, a pedido do Exército Brasileiro, o Ministério Público de São Paulo interpôs uma ação cautelar que impediu com sucesso a venda dos veículos a terceiros. Em 2003, os dois protótipos foram oficialmente entregues ao 2º Regimento de Carros de Combate, em Pirassununga, onde foram entronizados, garantindo sua preservação em estado operacional. Essa medida assegurou que os veículos permanecessem como um tributo à capacidade tecnológica brasileira e como referência para o desenvolvimento futuro da arma blindada no Brasil. Em 2013, um dos protótipos do EE-T1 Osório foi transferido para o acervo do Museu Militar Conde de Linhares, no Rio de Janeiro, onde passou a integrar a coleção de itens históricos. O outro foi enviado ao Centro de Instrução de Blindados (CIBld), em Santa Maria, RS, para fins educacionais e de preservação. No início de 2024, foi iniciada uma operação de restauração dos dois protótipos, conduzida pelo Parque Regional de Manutenção/5 (Pq R Mnt/5), em Curitiba, PR. Em abril de 2024, o EE-T1 Osório P.1 recuperou seu status operacional, marcando um esforço significativo para manter o legado do projeto. Embora o EE-T1 Osório não tenha alcançado sucesso comercial, ele permanece um marco na história da indústria de defesa brasileira. O veículo demonstrou a capacidade do Brasil de desenvolver tecnologia militar avançada, posicionando o país como um ator relevante no cenário global de produção de carros de combate. Apesar de sua breve trajetória, o Osório deixou um legado de orgulho e conhecimento técnico, servindo como testemunho do talento e da competência dos engenheiros brasileiros no setor de defesa. A preservação dos protótipos assegura que futuras gerações possam reconhecer e se inspirar nesse feito, enquanto o veículo continua a contribuir para a evolução doutrinária e tecnológica da arma blindada no Brasil.

Em Escala:
Para representar o protótipo Engesa EE-T2 Osório (P.2), registrado como "EB 346606180", foi utilizado o kit da Trumpeter na escala 1/35. Este modelo, embora detalhado, exigiu uma série de modificações para retratar com precisão as características específicas do protótipo. As alterações foram implementadas para garantir a fidelidade histórica e estética em relação ao veículo original. Os emblemas e marcações do EE-T2 Osório foram reproduzidos utilizando uma combinação de decais originais fornecidos com o kit da Trumpeter e complementos do conjunto "Exército Brasileiro 1983-2002", produzido pela Eletric Products. 
O esquema de cores descrito, conforme o padrão Federal Standard (FS), corresponde ao segundo padrão de pintura aplicado ao protótipo Engesa EE-T2 Osório (P.2) após seu retorno dos testes realizados na Arábia Saudita em 1987. Este padrão foi adotado para adequar o veículo às especificações visuais do Exército Brasileiro, refletindo as diretrizes de camuflagem utilizadas na época.  O primeiro protótipo, EE-T2 Osório (P.1), foi submetido a dois padrões distintos de camuflagem tática em dois tons ao longo de sua trajetória. O último desses padrões foi alinhado ao esquema de camuflagem predominante nos veículos do Exército Brasileiro, garantindo uniformidade visual com a frota militar nacional.

Bibliografia: 

- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume II, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Engesa – Lexicar - http://www.lexicarbrasil.com.br/engesa/