Dassault Mirage IIIEBR F-103E MLU

História e Desenvolvimento.
Durante a segunda metade da década de 1950, o aumento das tensões entre os países que compunham a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o Pacto de Varsóvia elevariam a temperatura da "Guerra Fria", levariam as forças de ambos os lados a aumentarem seus investimentos em defesa. Como prioridade estava a busca de soluções para a defesa aérea contra possíveis bombardeios convencionais ou nucleares, e neste contexto o desenvolvimento de aeronaves estratégicas inclusive supersônicas, demandaria o desenvolvimento de uma nova geração caças interceptadores de alta performance, que tinha como principal objetivo negar seus espaços aéreos nacionais a possíveis incursões de bombardeiros estratégicos de alta velocidade.  Apesar de esforços conjuntos entre os países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a política apregoada pelo governo francês neste período, se baseava-se primordialmente na busca pela independência no desenvolvimento e produção de itens de defesa estratégicos, visando assim não depender tecnologicamente ou politicamente de outras nações, mesmo que aliadas. Desde o término da Segunda Guerra Mundial a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) passaria a ser equipada somente com aeronaves produzidas nos Estados Unidos ou Grã-Bretanha, o que além da dependência operacional acarretava também um preocupante nível de defasagem tecnológica. A realidade da Guerra da Indochina (1946 - 1954) comprovaria a necessidade de se retomar o desenvolvimento e produção de aeronaves militares de todos os tipos, principalmente de combate, a fim de se dotar suas forças armadas com os meios aéreos de que tanto necessitavam e sem depender de outras nações. Como citado, neste momento uma das maiores ameaças vigentes, era representada pela existência de uma grande frota de aeronaves supersônicas de ataque soviéticas, que podiam sem aviso prévio desferir golpes mortais contra as instalações estratégicas de defesa em toda a Europa. Desta maneira em 1953 o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) decidiu encomendar um estudo para o desenvolvimento de um interceptador supersônico leve de alta performance. Esta nova aeronave, apresentava como parâmetro básico a capacidade de operação e qualquer tempo (all-weather), potencial de ascensão a 18.000 metros em seis minutos e atingir a velocidade de Mach 1.3 (1592.56 km/h) em voo horizontal. Com base nestas especificações, prontamente a empresa Marcel Dassault Aviation apresentaria ao Ministério de Defesa Francês, um projeto denominado como "MD.550 Mystère-Delta", um pequeno e ágil interceptador puro.  Esta aeronave seria impulsionada por dois motores turbojatos ingleses Armstrong Siddeley MD30R Viper, estando equipados com pós combustores, cada um com um empuxo de 9.61kN (2,160lbf) tendo como complemento um motor foguete de combustível líquido que provinha um empuxo adicional de 14.7kN. (3.300lbf), lhe permitindo um grande potencial de ascensão. 

Esta proposta agradaria o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), levando a liberação de recursos para a produção de um protótipo funcional, com este ostentando a matrícula "MD.550-01" sendo apresentado no dia 21 de junho de 1955.  Curiosamente esta aeronave não receberia seus pós combustores, realizando seu primeiro voo quatro dias depois, apresentando um perfil de voo de vinte minutos de missão, atingindo um teto de 3.000 pés com uma velocidade máxima de Mach 0.95 (1.170 km/h). No entanto este desempenho seria considerado insatisfatório pelos militares franceses, sendo influenciado negativamente pela ausência dos sistemas de de pós combustão e motor foguete suplementar SEPR . Seu projeto seria inteiramente revisado, passando a receber uma série de melhorias, que levariam a aeronave agora a velocidade máxima de Mach 1.3 (1.592,56 km/h) sem o uso do motor-foguete e Mach 1.6 (1.960 km/h) com o uso deste sistema. Apesar de alcançar os parâmetros previstos em termos de desempenho, o modelo acabaria sendo descartado pelos militares, pois suas pequenas dimensões limitavam em muito capacidade de transporte de misseis ar ar de médio e longo alcance que nesta época eram extremante pesados. Assim a fim de se manter no processo, a diretoria técnica da Marcel Dassault Aviation a repensar completamente seu projeto conceitual, e destes esforços surgiria um novo modelo de aeronave, que passaria a apresentar um peso bruto 30% superior ao seu antecessor e diversos refinamentos em termos de aerodinâmica. Esta versão seria equipada com o motor turbo jato francês Snecma Atar 101G1 dotado de pós combustor que rendia 43,2 kN (9,700 lbf) de empuxo, curiosamente este modelo representava a evolução de diversos designs de motores alemães desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial  Esta nova aeronave receberia a designação oficial de Dassault Mirage III, com seu nome de batismo sendo dado em referência a uma citação de seu projetista chefe “O avião será como uma visão no deserto: o inimigo o verá… mas jamais o tocará”. O primeiro protótipo seria apresentado no dia 15 de novembro de 1956, alçando voo dois dias depois, com esta célula sendo então submetida a um intensivo programa de ensaios em voo. Os resultados deste processo demandariam a implementação de diversas correções e melhorias, recebendo a partir daí sua homologação pré-operacional. Neste momento seria celebrado um primeiro acordo entre o governo francês e o fabricante para a produção de dez células pré-série designadas como  Mirage IIIA, que seriam destinadas para fins de avaliação final. Diferente de seu protótipo, esta aeronave apresentaria uma fuselagem mais longa e maior aérea das asas, passando a ser equipado com o novo e mais potente motor SNECMA Atar 09B com pós combustor rendendo um empuxo de 58,9 kN (13,230 lbf). 
Os dez Mirage IIIA do lote de pré-produção passariam a ser entregues a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) a partir de maio de 1957, sendo logo submetidos a um extensivo programa de ensaios em voo, que perduraria por nove meses. Os dados preliminares apurados neste processo resultariam em uma grande gama de melhorias e refinamentos no projeto, resultando na versão inicial de produção que receberia a designação de Mirage IIIC. Esta nova aeronave se apresentava visualmente similar a versão de pré-produção, se distinguindo apenas pela presença de um exaustor do motor mais longo, mantendo um padrão de pintura na cor de metal, sendo produzida uma célula convertida com base no modelo Mirage IIIA. Com o modelo de produção em série definido seria celerado no início de 1958 um primeiro contrato entre o fabricante e o governo francês, englobando noventa e cinco células, que começariam a ser entregues a partir de fevereiro de 1961. Mesmo antes disto, este modelo conquistaria diversos contratos de exportação, neste mesmo momento seria solicitado ao fabricante, o desenvolvimento de uma versão destinada a tarefas de treinamento e conversão operacional. Empregando como ponto de partida o Mirage IIIA, esta nova versão teria sua fuselagem aumentada em um metro, para poder alocar um segundo assento destinado ao instrutor. Como ponto negativo esta mudança levava a eliminação dos canhoes orgânicos de 20 mm, no entanto a aeronave ainda poderia empregar uma variada gama de armas  ar solo e misseis ar ar guiados por infravermelho, como os norte-americanos AIM-9B Sidewinder (nas versões de exportação). Seu projeto seria aprovado com o primeiro protótipo denominado como Mirage IIIB-1 alçando voo em fins do ano de 1959. A seguir seriam produzidas mais cinco células de pré-produção para fins de avaliação, com término deste processo seria contratada a para a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) quarenta e três células.  Um total de doze aeronaves seriam exportadas para Argentina, Israel e Suíça entre os anos de 1960 e 1969.  A aeronave ganharia grande notoriedade, durante a  Guerra dos Seis Dias do ano de 1967, foi travada entre os dias 5 e 10 de junho de 1967 por Israel e os estados vizinhos do Egito (conhecidos na época como República Árabe Unida), Jordânia e Síria. No dia 5 de junho, às 7h45, a Força Aérea de Israel (IAF) lançou o Operation Focus contra o Egito. Todos os seus 200 jatos operacionais, com exceção de doze aeronaves que ficaram para proteção do espaço aéreo israelense, lançaram um ataque em massa contra os aeródromos do Egito. A maioria dos aviões de combate israelenses dirigiu-se ao mar Mediterrâneo, voando baixo para evitar a detecção por radar, antes de se voltar para o Egito. O perfil de voo baixo empregado pelos aviões israelenses impediu que as baterias de mísseis de superfície-ar SA-2 egípcias pudessem engajá-los. Os Mirage IIICJ foram decisivos na campanha aérea da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando, pilotados pela Força Aérea Israelense, conseguiram dezenas de vitórias ar-ar e a completa destruição da aviação árabe no solo.

Assim desta maneira, seu emprego operacional clarificaria as excelentes qualidades da aeronave, o que motivaria o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) a solicitar ao fabricante o desenvolvimento de uma versão multifuncional. Desta maneira seu projeto original seria submetido a inúmeras modificações estruturais dentre as quais se destacam o alongamento de sua fuselagem e mudanças no  enflechamento das asas em delta para 56° 35′. Neste processo as entradas de ar do motor seriam realocadas, passando a ser recuadas em relação à cabina de pilotagem. Estas alterações permitiriam a instalação de quatro pontos de  de fixação sob as asas, onde poderiam ser instalados tanques adicionais de combustível ou armamentos com capacidade de até 1.360 kg de carga útil. Para atender aos parâmetros de desempenho, a aeronave passaria a ser equipada com o motor SNECMA Atar 09C que lhe conferia 13.320 libras de empuxo com pós combustor. Em termos de suíte aviônica estaria equipado com um radar navegação Doppler Marconi, sistemas de proteção passiva RWR, e por fim um radar Thomson-CSF Cyrano II que lhe conferia a capacidade de operar nos modos de busca, seguimento, interceptação ar-ar, ar-terra e mapeamento do solo. Quanto em termos de  configuração do armamento orgânico, estava dotado com dois canhões de cano simples DEFA 552, de 30mm, que lhe proporcionavam uma cadência de tiro de 1.200 a 1.400 projéteis por minuto. Para missões de interceptação receberia um míssil Matra R530, equipado com sistema de guiagem infravermelha, alocado na estação central da fuselagem da aeronave, ainda dispunha de sistemas passivos de defesa como lançadores de chaff e flare. Para missões de ataque a solo podiam ser equipados com uma variada gama de bombas de queda livre e lançadores de foguetes não guiados. Esta nova versão receberia a designação de Mirage IIIE, com seu primeiro protótipo realizando seu voo inaugural no dia 05 de abril de 1961, logo recebendo um contrato de produção para cento e oitenta células. Além do perfil operacional multifuncional apresentado, uma pequena parcela desta frota seria configurada para missões de ataque nuclear tático portando assim uma bomba de queda livre. As primeiras células destinadas a  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) seriam entregues em 14 de janeiro de 1964, ao longo dos anos seguintes novos contratos seriam celebrados, totalizando quatrocentas e dez unidades, entre elas setenta aeronaves configuradas  na versão reconhecimento com a designação de Mirage IIIR/RD. Os contratos de exportação logo se multiplicariam, levando inclusive a celebração de acordos para produção sob licença com os governos da   África do Sul, Austrália, Israel e Suíça.  A alta demanda internacional, criava o cenário propício para o desenvolvimento de uma versão específica de exportação dedicada a missões de treinamento e conversão. O sinal verde para o desenvolvimento seria dado pela diretoria da empresa em 1968, agora partindo da célula original do Dassault Mirage IIIE, novamente a ausência do radar original Thomson-CSF Cyrano II, produziria uma aeronave com um nariz afinalada. O novo modelo que receberia a designação de  Mirage IIIBE, manteria ainda uma limitada capacidade de combate ar solo da versão monoplace, curiosamente nesta variante a capacidade de armazenamento de combustível seria reduzida. 
Um contrato seria celebrado prevendo a produção de vinte aeronaves deste modelo e dez da versão Mirage IIIB-RV destinadas ao treinamento de reabastecimento em voo para os Mirage IV. Além das unidades entregues a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), logo seriam conquistados novos contratos de exportação, com cinco células do modelo IIIEBJ para Israel, três IIIEL para o Líbano, quatro IIIBS para a Suíça e três IIIBZ para a África do Sul.  A partir deste momento a versão de exportação passaria a ser designada como Mirage IIID, sendo exportados cinquenta e oito aeronaves para a Argentina, Brasil. Venezuela, Austrália, Egito, Paquistão, Suíça, Venezuela e África do Sul. A excelente performance em combate apresentada pelos Mirage III israelenses, levaria o comando das Forças de Defesa de Israel (IDF) a solicitar ao fabricante o desenvolvimento de uma nova aeronave, esta que deveria agora ser destinada primordialmente a missões de ataque a solo.  Este novo avião não deveria dispor dos radares de navegação Doppler Marconi e Thomson-CSF Cyrano II e qualquer tipos de suíte aviônica avançada. Ao implementar esta diretriz seria proporcionado um aumento na ordem de 32% na capacidade de transporte de combustível, ampliando assim seu raio de ação. Seriam adicionados mais pontos duros subalares para cargas externas, possibilitando numerosas combinações quanto a configuração de cargas, ou ainda carregar até quatorze bombas de queda livre.  Em resumo seria concebido uma versão mais simples, porém mais capaz para missões de ataque a solo e interdição, apresentando um custo inferior de aquisição, se tornando a versão ideal de exportação para países em desenvolvimento. Este modelo receberia a designação de Mirage 5 e realizaria seu primeiro voo no dia 19 de maio de 1967, pilotado por Hervé Leprince-Ringuet. Apesar de Israel não adotar o modelo em função do embargo internacional de armas seria celebrados contratos de exportação com a Argentina, Emirados Árabes, Bélgica, Chile, Colômbia, Egito, França, Colômbia, Gabão, Líbia, Paquistão, Zaire, Peru e Venezuela. Esta aeronave, projetada inicialmente como um caça de ataque para "tempo bom", acabaria evoluindo para a defesa aérea e reconhecimento com o surgimento de aviônicos mais compactos que seriam customizados para emprego nesta plataforma. A exemplo da família Mirage III, este novo modelo também ganharia uma versão biplace para treinamento e conversão operacional, que receberia do fabricante a designação de Mirage 5D, com o primeiro contrato sendo celebrado para o governo Líbio. A seguir mais contratos desta versão seriam celebrados agora com a Argentina, Bélgica, Colômbia, Abu Dhabi, Gabão, Zaire, Peru, Paquistão, Chile, Egito e Venezuela. No início da década de 1980, ficava claro que o modelo entrava em obsolescência, pois seu projeto pertencia a segunda geração de caças de combate e não dispunha dos avanços em aerodinâmica e eletrônica presentes na terceira geração. Apesar disto a plataforma possuía potencial de desenvolvimento e modernização, algo já provado com as versões melhoradas como as versões mais modernas derivadas do projeto original, como caça multifuncional israelense IAI Kfir e o Sul Africano Atlas Cheetah, este contexto abriria caminho para estudos de programas de modernização. As primeiras efetivações de "up grades" seriam aplicadas junto as aeronaves suíças e paquistanesas, alongando assim a vida útil destas aeronaves com capacidades de combate próximas a nova geração de caças. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em fins do ano de 1964, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses Gloster F-8 Meteor, que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento das demandas nacionais. No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante a Gloster Aircraft Company, divulgaria um boletim informativo, que restringiria em muito o perfil operacional destas aeronaves inglesas, com esta medida sendo embasada na provável incidência de problemas relacionados desgaste estrutural. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação. Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década. Neste mesmo momento o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria estudos visando a formação de um sistema de controle do espaço aéreo, este processo iria culminar na criação do SISDACTA (Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego). A implementação deste ousado programa demandava o estabelecimento de um braço armado destinado as tarefas de interceptação, levando assim a necessidade da aquisição e implementação de um novo vetor de caça e ataque. Consultas seriam realizadas junto ao Departamento de Estado (DoD) do governo norte-americano visando a possível aquisição de um pequeno lote de aeronaves multifuncionais, com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção esta que seria prontamente negada sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. A opção alternativa seria baseada na oferta de pelo menos dozes células do caça bombardeiro Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter, porém análises iniciais indicariam que a performance deste modelo não atenderia as demandas operacionais demandadas pelo braço armado do SISDACTA (Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego), levando assim a recusa desta proposta. Com este cenário pautado, o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria tratativas junto a vários países europeus, que possuíam neste momento uma moderna e pujante indústria aeronáutica de defesa. Uma concorrência internacional seria deflagrada, com várias propostas sendo apresentadas, um primeiro filtro seria estabelecido, com os critérios de avaliação, apontando para a seleção de um interceptador de alto desempenho, que deveria operar na defesa área da Capital Federal no centro oeste e particular na região sudeste do país. Estes parâmetros resultariam na pré-seleção de quatro aeronaves, listando o caça multifuncional sueco Saab Draken, o interceptador britânico English Electric Lightning e o também o caça multifuncional francês Marcel Dassault Mirage IIIE. Inicialmente a decisão passaria a tender para a escolha do concorrente inglês, com está movimento sendo influenciado pela necessidade de se oferecer contrapartidas política e econômicas em referência ao financiamento concedido por este país para a construção da Ponte Rio Niterói. Porém logo sem seguida seria celebrado pelo Ministério da Marinha do Brasil e o estaleiro inglês Vosper Thornycroft um grande contrato para a construção das fragatas da classe Niterói, atendendo então a demanda de contrapartidas. Este movimento traria ao processo de seleção do novo interceptador o critério de escolha técnica, mais adequado ao atendimento das demandas da Força Aérea Brasileira. 

Em 1967, dois oficiais da Força Aérea Brasileira – o Tenente-Coronel Aviador Lauro Ney Menezes e o Major Aviador Ozires Silva – foram enviados pelo Ministério da Aeronáutica à França, para avaliar a aeronave e os estabelecimentos industriais deste fabricante. Na ocasião, o Ten.-Cel. Menezes voaria num Mirage IIIB, a uma velocidade de Mach 2, tornando-se, assim, o primeiro piloto de caça brasileiro a romper a velocidade do som e o primeiro a voar no caça francês. Como a escolha do avião fazia parte de um grande projeto que englobava a detecção e o controle do tráfego aéreo, foi criada no Ministério da Aeronáutica, em 1969, uma Comissão denominada de CEPAI (Comissão de Estudos do Projeto da Aeronave de Interceptação), que tinha a finalidade de selecionar as aeronaves para a missão de defesa aérea, previsão logística, cronograma da entrega dos aviões, necessidades operacionais e outras soluções, como a decisão da construção de uma nova base aérea, que deveria ficar próxima à capital do País, com a finalidade de sediar a nova aeronave supersônica. Após estudos detalhados e análise das viabilidades, a CEPAI (Comissão de Estudos do Projeto da Aeronave de Interceptação), decidiu que a aeronave mais adequada para a Força Aérea Brasileira, naquele momento, seria o jato francês Dassault Mirage IIIE, cuja variante mais antiga Mirage IIIC havia obtido grande sucesso na Guerra dos Seis Dias, ocorrida em 1967, envolvendo Israel e os Países Árabes. Desta maneira em 12 de maio de 1970 seria assinado com o fabricante francês um contrato para inicial para a aquisição de doze células da versão monoplace e quatro da versão biplace, sendo todas as unidades novas de fábrica, que receberiam a designação do fabricante de Mirage IIIEBR e IIIDBR (F-103E e F-103D). Paralelamente ao processo de compra, seria construída na cidade de Anápolis em Goiás, uma base aérea para a operação específica do novo caça, sendo nesta criada a 1º Ala de Defesa Aérea (1º ALADA), que viria em complemento a Base Aérea de Santa Cruz criavam um escudo de defesa para as principais aéreas industriais centros econômicos e administrativos do país. O contrato de compra do Dassault Mirage IIIE previa o treinamento de um grupo de pilotos e de técnicos brasileiros, que teriam a incumbência de implantar e operar as novas e sofisticadas aeronaves, assim como os seus sensores e armamentos. A primeira aeronave, já ostentando as cores e as estrelas da Força Aérea Brasileira, realizou o seu primeiro voo em 06 de março de 1972, na cidade francesa de Bordeaux. Dentro do cronograma estabelecido, em 23 de maio de 1972, embarcam para a França um grupo de oito experientes pilotos de caça brasileiros, que iniciariam a fase de treinamento na nova aeronave, na Base Aérea de Dijon. Os pilotos, que já possuíam mais de 1.000 h de voo de experiência em caças a jato, teriam a responsabilidade de receber, operar e transmitir a doutrina de utilização da nova aeronave aos outros pilotos a serem classificados na 1ª ALADA. Sob a chefia do Coronel-Aviador Antônio Henrique Alves dos Santos, que seria o comandante da nova Unidade, os seguintes oficiais faziam parte desse seleto grupo: Tenentes-Coronéis-Aviadores Jorge Frederico Bins, Ivan Moacir da Frota, os Majores-Aviadores Ronald Eduardo Jaeckel, Ivan Von Trompowsky Douat Taulois, Lúcio Starling de Carvalho, Thomas Anthony Blower e o Capitão-Aviador José Isaías Vilaça. Esses oficiais ficaram conhecidos carinhosamente como os “Dijon’s Boys” pelos atuais pilotos do Mirage IIIE, como uma forma de reconhecimento e de respeito pela abnegação e pela competência que nortearam a implantação da aeronave no Brasil. 
A primeira aeronave Dassault Mirage IIIEBR chegaria na cidade de Anápolis em 01 de outubro de 1972, sendo transportada pelo Lockheed Hércules C-130E FAB 2456, do 1º Grupo de Transporte. Em 08 de outubro, chega a segunda aeronave e, já no dia 16 do mesmo mês, é iniciada a montagem da primeira aeronave, por técnicos brasileiros e franceses, no hangar do Esquadrão de Suprimento e Manutenção da 1ª ALADA (Ala de Defesa Aérea). A entrega das aeronaves prosseguiu segundo o cronograma estabelecido, sendo que a última aeronave foi recebida em maio de 1973 e logo colocada em condições de voo, completando a frota de dezesseis aviões. Os Mirages IIIEBR foram designados na Força Aérea Brasileira como F-103E e foram matriculados de FAB 4910 a FAB 4922. Já os Mirage IIIDBR foram designados como F-103D e receberam as matrículas de FAB 4900 a FAB 4903. O início da operação dos Mirage no Brasil ocorreu em 27 de março de 1973, com a realização do primeiro voo de um F-103 em Anápolis, que foi realizado pelo piloto de provas da Marcel Dassault, Sr. Pierre Varraut, pilotando o F-103E FAB 4910. Este voo marcou o ingresso da Força Aérea Brasileira na era supersônica. O voo oficial, por sua vez, ocorreu em 06 de abril de 1972, quando uma esquadrilha constituída pelos F-103D FAB 4900/01 e pelos F-103E FAB 4910/12/13/14 surgiu sobre a capital do País, evento que seria assistido por todos os brasilienses e pelo Presidente da República desde o Palácio do Planalto. Finalmente, em 20 de abril de 1972, oito F-103E Mirages se deslocam para Santa Cruz – RJ, onde participam, pela primeira vez, das solenidades do Dia da Aviação de Caça, causando excelente impressão a todos os presentes. A introdução deste modelo na Força Aérea Brasileira, proporcionou um grande salto não só em termos de tecnologia por se tratar do primeiro vetor supersônico, mas também em termos de doutrina operacional, criando no pais o processo para o desenvolvimento das técnicas de combate empregando o binômio "míssil & avião”, com a adoção do míssil ar ar Matra 530, sendo este primeiro artefato de seu tipo a entrar em operação no Brasil. Nos primeiros anos de seu emprego, os segredos de sua operação, assim como as peculiaridades de sua manutenção foram plenamente dominados e alcançado o rendimento máximo da aeronave em suas atribuições de defender o espaço aéreo brasileiro. No final da década de 1970, atendendo à nova organização operacional, a Unidade passou por um processo de evolução estrutural, quando, em 19 de abril de 1979, pela Portaria nº 069/GM3, a 1ª ALADA é desativada, sendo criada em sua substituição, a Base Aérea de Anápolis – BAAN, que teria a incumbência de sediar e de apoiar o 1º Grupo de Defesa Aérea – 1º GDA, que havia sido criado em 11 de abril de 1979, pelo Decreto nº 004 e seria o responsável pelo guarnecimento e pela operação dos F-103E/D Mirage III. Levando se em conta o significado da introdução de um jato de alto desempenho de uma categoria inédita, é totalmente compreensível que a frota de caças Dassault Mirage IIIE/D brasileira viesse a sofrer desgastes e perdas de aeronaves em acidentes. Este atrito operacional levaria a necessidade de recomplementamento da frota original, com está se dando em 1980 com a aquisição inicial de quatro células usadas oriundas dos estoques da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). 

Apesar deste movimento de reposição de frota, era  notório que o modelo que fora desenvolvido durante a década de 1960,  representando assim uma aeronave de caça de segunda geração, que neste momento já se encontrava  completamente desatualizada quando comparado a aeronaves mais modernas , que equipavam as forças áreas de outras nações  Além da defasagem tecnológica, apresentavam ainda sensíveis limitações em termos de manobrabilidade, pois foram originalmente concebidos como interceptadores de alta altitude, apresentando desempenho sofrível em combates de curto alcance do tipo “dog fight” (1X1), principalmente em baixas velocidades e altitudes. Este cenário seria comprovado durante a realização de exercícios multinacionais, quando os caças brasileiros estariam envolvidos em embates simulados contra aeronaves de terceira geração francesas e norte-americanas.  Desta maneira a fim de se retomar a capacidade operacional do sistema de defesa aéreo, se fazia necessário proceder a aquisição de aeronaves mais modernas como os Dassault Mirage 2000 e General Dynamics F-16 Fighting Falcon. No entanto restrições orçamentárias existentes neste momento levariam o Ministério da Aeronáutica (MAer) a declinar deste modelo de solução, buscando de ordem mais econômica. Este processo derivaria em duas vertentes, uma prevendo o aumento de sua frota de caças Northrop F-5E Tiger II, e outra se debruçando em estudos visando o desenvolvimento de um programa de modernização nos interceptadores Dassault F-103E Mirage. Neste contexto seriam avaliados programa semelhantes implementados por outros países, com este processo buscando atender quatro diretivas básicas, como retrofit estrutural, aplicação de soluções aerodinâmicas melhoria de manobrabilidade, aumento de alcance operacional e modernização de sistemas de comunicação e avionica. Neste último aspecto dever-se-ia prover a substituição do já ultrapassado radar Thomson-CSF Cyrano II, passando a adotar um conjunto de HUD (Head Up Display), sistema de sistema de Receptor de Alerta de radar RWR (Radar Warning Receiver) e um novo sistema de comunicações. Ainda estas células seriam preparadas para receber novos sistemas de ataque, o que ocorreria posteriormente como a implementação de sistemas de defesa passiva e ativa, com lançadores de chaff e flares, sistema de computador de missão do tipo Ponto de Impacto Constantemente Computado (CCIP) (Constantly Computed Impact Point) o que passaria a permitir a efetividade do emprego da aeronave em missões de ataque a solo e bombardeio. Este programa visava elevar os Dassault Mirage F-103E e F-103D  a um patamar interessante, concedendo melhores capacidades ofensivas e de sobrevivência na moderna arena de combate aéreo. Infelizmente este importante programa de modernização não seria implementado na integra, sendo afligido novamente por restrições orçamentárias, resultando em profundos cortes nos investimentos destinados aos sistemas de radares e aviônicos, com este pacote se resumindo a uma tímida atualização nos sistemas de comunicação e de navegação. Com base na definição destes parâmetros, em maio de 1989 seria celebrado entre o Ministério da Aeronáutica (MAer) e a Marcel Dassault Aviation, um contrato para a modernização de 13 células da versão monoplace e cinco biplaces. Este programa deveria ser implementado pela equipe do Parque de Aeronáutica de São Paulo (PAMA SP) em conjunto com técnicos do fabricante. 
Visualmente estas aeronaves emergiriam deste processo passando a empregar superfícies “canard”, o que melhoria em muita sua manobrabilidade em baixas velocidades e nas manobras de aproximações para pouso. Seguindo o planejamento inicial seriam implementados estudos, visando em caráter experimental a adoção de uma sonda de reabastecimento em voo, esta iniciativa tinha por objetivo melhorar o raio de ação da aeronave em um país de dimensões continentais como o Brasil. Para fins de desenvolvimento, o fabricante comodataria um conjunto completo de um sistema reabastecimento originalmente desenvolvido para o Dassault Mirage 50, que seria adaptado com êxito junto ao F-103E FAB 4929. O primeiro exercício real em voo ocorreria no dia 22 de abril de 1992, com a aeronave sendo reabastecida por Lockheed KC-130H Hercules do 1º/1º Grupo de Transporte (GT). Apesar do programa de ensaios em voo apresentar resultados promissores a longo prazo em termos de ganho operacional com o incremento do alcance, este programa seria infelizmente cancelado com este equipamento sendo retirado da aeronave e devolvido ao fabricante. Apesar de todas as limitações de investimento, a implementação deste programa, traria um novo alento as capacidades da aeronave, que ao passar a ser armado com os modernos mísseis ar ar de guiamento infravermelho israelenses do modelo Rafael Python 3, se mostraria um respeitável oponente quando no emprego em combates de curta distância (dog fight). Este status seria comprovado em 1997 durante a realização do exercício multinacional “Mistral I”, quando caças brasileiros obtiveram ótimos resultados contra os aviões Mirage 2000-C da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), empregando manobras do tipo Doppler-notch, que visavam neutralizar a detecção por partes dos modernos radares de seus oponentes.  Atendendo a uma nova sistemática de emprego, em meados da década de 1990 , os F-103E Mirage passariam a ser utilizados em missões de emprego ar-solo nas modalidades de bombardeiro nivelado, bombardeiro rasante, lançamento de foguetes e tiro terrestre utilizando os canhões de 30 mm. No entanto a partir do ano de 2001 o Comando da Aeronáutica (COMAER) se certificaria que que a maioria das células dos Dassault F-103E Mirage IIIEBR , se encontravam muito próximas ao limite de voo das células, recomendado pelo fabricante. Desta maneira não seria economicamente recomendada a aplicação de nenhum novo processo de modernização que permitisse estender sua vida útil, a exemplo do que estava planejado para os Northrop F-5E  e F-5F Tiger II. Assim desta maneira as aeronaves remanescentes ainda em condições de voo foram oficialmente desativadas em uma cerimônia realizada na Base Aérea de Anápolis no estado de Goiás em dezembro de 2005, encerrando assim a carreira do Dassault F-103E Mirage III na Força Aérea Brasileira.   

Em Escala.
Para representarmos o Dassault  F-103E Mirage III modernizado de matrícula “FAB 4927”, utilizamos o kit do fabricante Italeri (Nº 2674) na escala 1/48, sendo este um modelo de fácil montagem, apresentando apenas como ponto negativo a presença das linhas da aeronave em alto relevo. Para compormos a versão modernizada tivemos de acrescer os "canards" que foram confeccionados em plasticard, seguindo o gabarito fornecido, no manual de instruções do set de decais 48/09 impresso pela FCM Decals. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura tático, que passou a ser aplicado a todas as células dos F-103E e F-103D a partir do ano de 1982. Este esquema seria mantido em todas as aeronaves modernizadas, com este processo apresentando pequenas variações em termos de marcações. O F-103E FAB 2922, em 2002 receberia uma pintura temática em alusão aos 30 anos de operação deste modelo de aeronave na Força Aérea Brasileira.  


Bibliografia :

Revista ASAS nº 03 Mirage III a Saga do Delta no Brasil , por Claudio Lucchesi
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
Dassault Mirage III - Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Dassault_Mirage_

Dassault Mirage IIIEBR F-103E

História e Desenvolvimento.
Durante a segunda metade da década de 1950, o aumento das tensões entre os países que compunham a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o Pacto de Varsóvia elevariam a temperatura da "Guerra Fria", levariam as forças de ambos os lados a aumentarem seus investimentos em defesa. Como prioridade estava a busca de soluções para a defesa aérea contra possíveis bombardeios convencionais ou nucleares, e neste contexto o desenvolvimento de aeronaves estratégicas inclusive supersônicas, demandaria o desenvolvimento de uma nova geração caças interceptadores de alta performance, que tinha como principal objetivo negar seus espaços aéreos nacionais a possíveis incursões de bombardeiros estratégicos de alta velocidade.  Apesar de esforços conjuntos entre os países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a política apregoada pelo governo francês neste período, se baseava-se primordialmente na busca pela independência no desenvolvimento e produção de itens de defesa estratégicos, visando assim não depender tecnologicamente ou politicamente de outras nações, mesmo que aliadas. Desde o término da Segunda Guerra Mundial a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) passaria a ser equipada somente com aeronaves produzidas nos Estados Unidos ou Grã-Bretanha, o que além da dependência operacional acarretava também um preocupante nível de defasagem tecnológica. A realidade da Guerra da Indochina (1946 - 1954) comprovaria a necessidade de se retomar o desenvolvimento e produção de aeronaves militares de todos os tipos, principalmente de combate, a fim de se dotar suas forças armadas com os meios aéreos de que tanto necessitavam e sem depender de outras nações. Como citado, neste momento uma das maiores ameaças vigentes, era representada pela existência de uma grande frota de aeronaves supersônicas de ataque soviéticas, que podiam sem aviso prévio desferir golpes mortais contra as instalações estratégicas de defesa em toda a Europa. Desta maneira em 1953 o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) decidiu encomendar um estudo para o desenvolvimento de um interceptador supersônico leve de alta performance. Esta nova aeronave, apresentava como parâmetro básico a capacidade de operação e qualquer tempo (all-weather), potencial de ascensão a 18.000 metros em seis minutos e atingir a velocidade de Mach 1.3 (1592.56 km/h) em voo horizontal. Com base nestas especificações, prontamente a empresa Marcel Dassault Aviation apresentaria ao Ministério de Defesa Francês, um projeto denominado como "MD.550 Mystère-Delta", um pequeno e ágil interceptador puro.  Esta aeronave seria impulsionada por dois motores turbojatos ingleses Armstrong Siddeley MD30R Viper, estando equipados com pós combustores, cada um com um empuxo de 9.61kN (2,160lbf) tendo como complemento um motor foguete de combustível líquido que provinha um empuxo adicional de 14.7kN. (3.300lbf), lhe permitindo um grande potencial de ascensão. 

Esta proposta agradaria o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), levando a liberação de recursos para a produção de um protótipo funcional, com este ostentando a matrícula "MD.550-01" sendo apresentado no dia 21 de junho de 1955.  Curiosamente esta aeronave não receberia seus pós combustores, realizando seu primeiro voo quatro dias depois, apresentando um perfil de voo de vinte minutos de missão, atingindo um teto de 3.000 pés com uma velocidade máxima de Mach 0.95 (1.170 km/h). No entanto este desempenho seria considerado insatisfatório pelos militares franceses, sendo influenciado negativamente pela ausência dos sistemas de de pós combustão e motor foguete suplementar SEPR . Seu projeto seria inteiramente revisado, passando a receber uma série de melhorias, que levariam a aeronave agora a velocidade máxima de Mach 1.3 (1.592,56 km/h) sem o uso do motor-foguete e Mach 1.6 (1.960 km/h) com o uso deste sistema. Apesar de alcançar os parâmetros previstos em termos de desempenho, o modelo acabaria sendo descartado pelos militares, pois suas pequenas dimensões limitavam em muito capacidade de transporte de misseis ar ar de médio e longo alcance que nesta época eram extremante pesados. Assim a fim de se manter no processo, a diretoria técnica da Marcel Dassault Aviation a repensar completamente seu projeto conceitual, e destes esforços surgiria um novo modelo de aeronave, que passaria a apresentar um peso bruto 30% superior ao seu antecessor e diversos refinamentos em termos de aerodinâmica. Esta versão seria equipada com o motor turbo jato francês Snecma Atar 101G1 dotado de pós combustor que rendia 43,2 kN (9,700 lbf) de empuxo, curiosamente este modelo representava a evolução de diversos designs de motores alemães desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial  Esta nova aeronave receberia a designação oficial de Dassault Mirage III, com seu nome de batismo sendo dado em referência a uma citação de seu projetista chefe “O avião será como uma visão no deserto: o inimigo o verá… mas jamais o tocará”. O primeiro protótipo seria apresentado no dia 15 de novembro de 1956, alçando voo dois dias depois, com esta célula sendo então submetida a um intensivo programa de ensaios em voo. Os resultados deste processo demandariam a implementação de diversas correções e melhorias, recebendo a partir daí sua homologação pré-operacional. Neste momento seria celebrado um primeiro acordo entre o governo francês e o fabricante para a produção de dez células pré-série designadas como  Mirage IIIA, que seriam destinadas para fins de avaliação final. Diferente de seu protótipo, esta aeronave apresentaria uma fuselagem mais longa e maior aérea das asas, passando a ser equipado com o novo e mais potente motor SNECMA Atar 09B com pós combustor rendendo um empuxo de 58,9 kN (13,230 lbf). 
Os dez Mirage IIIA do lote de pré-produção passariam a ser entregues a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) a partir de maio de 1957, sendo logo submetidos a um extensivo programa de ensaios em voo, que perduraria por nove meses. Os dados preliminares apurados neste processo resultariam em uma grande gama de melhorias e refinamentos no projeto, resultando na versão inicial de produção que receberia a designação de Mirage IIIC. Esta nova aeronave se apresentava visualmente similar a versão de pré-produção, se distinguindo apenas pela presença de um exaustor do motor mais longo, mantendo um padrão de pintura na cor de metal, sendo produzida uma célula convertida com base no modelo Mirage IIIA. Com o modelo de produção em série definido seria celerado no início de 1958 um primeiro contrato entre o fabricante e o governo francês, englobando noventa e cinco células, que começariam a ser entregues a partir de fevereiro de 1961. Mesmo antes disto, este modelo conquistaria diversos contratos de exportação, neste mesmo momento seria solicitado ao fabricante, o desenvolvimento de uma versão destinada a tarefas de treinamento e conversão operacional. Empregando como ponto de partida o Mirage IIIA, esta nova versão teria sua fuselagem aumentada em um metro, para poder alocar um segundo assento destinado ao instrutor. Como ponto negativo esta mudança levava a eliminação dos canhoes orgânicos de 20 mm, no entanto a aeronave ainda poderia empregar uma variada gama de armas  ar solo e misseis ar ar guiados por infravermelho, como os norte-americanos AIM-9B Sidewinder (nas versões de exportação). Seu projeto seria aprovado com o primeiro protótipo denominado como Mirage IIIB-1 alçando voo em fins do ano de 1959. A seguir seriam produzidas mais cinco células de pré-produção para fins de avaliação, com término deste processo seria contratada a para a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) quarenta e três células.  Um total de doze aeronaves seriam exportadas para Argentina, Israel e Suíça entre os anos de 1960 e 1969.  A aeronave ganharia grande notoriedade, durante a  Guerra dos Seis Dias do ano de 1967, foi travada entre os dias 5 e 10 de junho de 1967 por Israel e os estados vizinhos do Egito (conhecidos na época como República Árabe Unida), Jordânia e Síria. No dia 5 de junho, às 7h45, a Força Aérea de Israel (IAF) lançou o Operation Focus contra o Egito. Todos os seus 200 jatos operacionais, com exceção de doze aeronaves que ficaram para proteção do espaço aéreo israelense, lançaram um ataque em massa contra os aeródromos do Egito. A maioria dos aviões de combate israelenses dirigiu-se ao mar Mediterrâneo, voando baixo para evitar a detecção por radar, antes de se voltar para o Egito. O perfil de voo baixo empregado pelos aviões israelenses impediu que as baterias de mísseis de superfície-ar SA-2 egípcias pudessem engajá-los. Os Mirage IIICJ foram decisivos na campanha aérea da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando, pilotados pela Força Aérea Israelense, conseguiram dezenas de vitórias ar-ar e a completa destruição da aviação árabe no solo.

Assim desta maneira, seu emprego operacional clarificaria as excelentes qualidades da aeronave, o que motivaria o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) a solicitar ao fabricante o desenvolvimento de uma versão multifuncional. Desta maneira seu projeto original seria submetido a inúmeras modificações estruturais dentre as quais se destacam o alongamento de sua fuselagem e mudanças no  enflechamento das asas em delta para 56° 35′. Neste processo as entradas de ar do motor seriam realocadas, passando a ser recuadas em relação à cabina de pilotagem. Estas alterações permitiriam a instalação de quatro pontos de  de fixação sob as asas, onde poderiam ser instalados tanques adicionais de combustível ou armamentos com capacidade de até 1.360 kg de carga útil. Para atender aos parâmetros de desempenho, a aeronave passaria a ser equipada com o motor SNECMA Atar 09C que lhe conferia 13.320 libras de empuxo com pós combustor. Em termos de suíte aviônica estaria equipado com um radar navegação Doppler Marconi, sistemas de proteção passiva RWR, e por fim um radar Thomson-CSF Cyrano II que lhe conferia a capacidade de operar nos modos de busca, seguimento, interceptação ar-ar, ar-terra e mapeamento do solo. Quanto em termos de  configuração de armamento orgânico, seria equipada com dois canhões de cano simples DEFA 552, de 30mm, que lhe proporcionavam uma cadência de tiro de 1.200 a 1.400 projéteis por minuto. Para missões de interceptação receberia um míssil Matra R530, equipado com sistema de guiagem infravermelha, alocado na estação central da fuselagem da aeronave, ainda dispunha de sistemas passivos de defesa como lançadores de chaff e flare. Para missões de ataque a solo podiam ser equipados com uma variada gama de bombas de queda livre e lançadores de foguetes não guiados. Esta nova versão receberia a designação de Mirage IIIE, com seu primeiro protótipo realizando seu voo inaugural no dia 05 de abril de 1961, logo recebendo um contrato de produção para cento e oitenta células. Além do perfil operacional multifuncional apresentado, uma pequena parcela desta frota seria configurada para missões de ataque nuclear tático portando assim uma bomba de queda livre. As primeiras células destinadas a  Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) seriam entregues em 14 de janeiro de 1964, ao longo dos anos seguintes novos contratos seriam celebrados, totalizando quatrocentas e dez unidades, entre elas setenta aeronaves configuradas  na versão reconhecimento com a designação de Mirage IIIR/RD. Os contratos de exportação logo se multiplicariam, levando inclusive a celebração de acordos para produção sob licença com os governos da   África do Sul, Austrália, Israel e Suíça.  A alta demanda internacional, criava o cenário propício para o desenvolvimento de uma versão específica de exportação dedicada a missões de treinamento e conversão. O sinal verde para o desenvolvimento seria dado pela diretoria da empresa em 1968, agora partindo da célula original do Dassault Mirage IIIE, novamente a ausência do radar original Thomson-CSF Cyrano II, produziria uma aeronave com um nariz afinalada. O novo modelo que receberia a designação de  Mirage IIIBE, manteria ainda uma limitada capacidade de combate ar solo da versão monoplace, curiosamente nesta variante a capacidade de armazenamento de combustível seria reduzida.
Um contrato seria celebrado prevendo a produção de vinte aeronaves deste modelo e dez da versão Mirage IIIB-RV destinadas ao treinamento de reabastecimento em voo para os Mirage IV. Além das unidades entregues a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), logo seriam conquistados novos contratos de exportação, com cinco células do modelo IIIEBJ para Israel, três IIIEL para o Líbano, quatro IIIBS para a Suíça e três IIIBZ para a África do Sul.  A partir deste momento a versão de exportação passaria a ser designada como Mirage IIID, sendo exportados cinquenta e oito aeronaves para a Argentina, Brasil. Venezuela, Austrália, Egito, Paquistão, Suíça, Venezuela e África do Sul. A excelente performance em combate apresentada pelos Mirage III israelenses,  levaria o comando das Forças de Defesa de Israel (IDF) a solicitar ao fabricante o desenvolvimento de uma nova aeronave, esta que deveria agora ser destinada primordialmente a missões de ataque a solo.  Este novo avião não deveria dispor dos radares de navegação Doppler Marconi e Thomson-CSF Cyrano II e qualquer tipos de suíte aviônica avançada. Ao implementar esta diretriz seria proporcionado um aumento na ordem de 32% na capacidade de transporte de combustível, ampliando assim seu raio de ação. Seriam adicionados mais pontos duros subalares para cargas externas, possibilitando numerosas combinações quanto a configuração de cargas, ou ainda carregar até quatorze bombas de queda livre.  Em resumo seria concebido uma versão mais simples, porém mais capaz para missões de ataque a solo e interdição, apresentando um custo inferior de aquisição, se tornando a versão ideal de exportação para países em desenvolvimento. Este modelo receberia a designação de Mirage 5 e realizaria seu primeiro voo no dia 19 de maio de 1967, pilotado por Hervé Leprince-Ringuet. Apesar de Israel não adotar o modelo em função do embargo internacional de armas seria celebrados contratos de exportação com a Argentina, Emirados Árabes, Bélgica, Chile, Colômbia, Egito, França, Colômbia, Gabão, Líbia, Paquistão, Zaire, Peru e Venezuela. Esta aeronave, projetada inicialmente como um caça de ataque para "tempo bom", acabaria evoluindo para a defesa aérea e reconhecimento com o surgimento de aviônicos mais compactos que seriam customizados para emprego nesta plataforma. A exemplo da família Mirage III, este novo modelo também ganharia uma versão biplace para treinamento e conversão operacional, que receberia do fabricante a designação de Mirage 5D, com o primeiro contrato sendo celebrado para o governo Líbio. A seguir mais contratos desta versão seriam celebrados agora com a Argentina, Bélgica, Colômbia, Abu Dhabi, Gabão, Zaire, Peru, Paquistão, Chile, Egito e Venezuela. Ao longo dos anos seriam desenvolvidos e implementados muitos programas de modernização por seus operadores, com diversas células do modelo paquistanês Mirage 5 ROSE se mantendo em operação até os dias de hoje. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira contava com mais de mil e quinhentas modernas aeronaves militares de origem norte-americana, recebidas durante a década de 1940, em termos de aeronaves de intercepção dispunha-se de muitos caças-bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, Curtiss P-40 Warhawk. No entanto durante a década de 1950 a disseminação do emprego de motores turbo jatos, em uma nova geração de aeronaves militares, tornaria os caças e bombardeiros de ataque a pistão virtualmente obsoletos em poucos anos. Seria então iniciados estudos visando a incorporação de novos vetores, com o anseio dos militares brasileiros pendendo para modelos como os Republic F-84E Thunderjet e North-American F-86F Sabre. No entanto este desejo não se concretizaria, muito em virtude de restrições orçamentárias e de ordem geopolítica, com o governo norte-americano evitando uma corrida armamentista na América do Sul. Esta demanda seria atendida a partir de 1953 com a adoção de aeronaves menos capazes, os  Gloster F-8 Meteor e Lockheed F-80C Shooting Star, com os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira passando a ser equipados com os caças ingleses, que apesar de serem defasados para o cenário, se encontravam disponíveis em números suficientes para o atendimento mínimo das demandas operacionais. No entanto anos depois esta frota seria afligida por problemas relacionados ao desgaste estrutural das células, levando a imposição de restrições ao perfil operacional destas aeronaves. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante este problema se agravaria ao longo dos meses seguintes, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década, comprometendo completamente sua eficiência operacional. Assim no final do ano de 1965, em resposta a este cenário problemático, o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria uma série de estudos para a substituição destas aeronaves. Neste contexto seria definida a aquisição de aeronaves de combate multifuncionais, com a escolha aspiracional dos oficiais recaindo sobre os potentes bimotores McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção está negada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS), novamente sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. Assim seriam oferecidos os modelos Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter. Estes vetores deveriam compor o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA) que se encontrava em processo de implementação. No entanto restrições orçamentarias e a necessidade emergencial para a modernização da aviação de transporte brasileira, levariam ao cancelamento temporário deste programa.

Porém logo e seguida, com a proximidade da finalização do programa de implementação do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA), o tema da composição de seu braço armado voltaria a pautar a lista de prioridades do Ministério da Aeronáutica (MAer). Assim em 1969 seria criada a Comissão de Estudos do Projeto da Aeronave de Interceptação (CEPAI), que tinha por objetivo selecionar aeronaves para o emprego na defesa aérea do país.  Ciente das negativas anteriores impostas pelo governo norte-americano, envolvendo a aquisição de modernas aeronaves de combate, o comando da Força Aérea Brasileira voltaria sua atenção a vários países europeus, que naquele momento possuíam uma moderna e pujante indústria aeronáutica de defesa. Uma concorrência internacional seria então deflagrada, com os critérios de avaliação apontando para a seleção de um interceptador supersônico de alto desempenho, que deveria apresentar ainda a capacidade secundaria para emprego em missoes de ataque a solo e interdição. Diversas propostas seriam recebidas, com três modelos sendo pré-selecionados ao final do estágio inicial deste processo, o caça multifuncional sueco Saab Draken, o interceptador britânico English Electric Lightning F-6 e o também multifuncional francês Marcel Dassault Mirage IIIE. Inicialmente a decisão seria influenciada pela ótica política, pendendo para a escolha do concorrente inglês, principalmente por motivos de contrapartidas econômicas pela compensação a concessão de um grande financiamento britânico para a construção da Ponte Rio Niterói. Porém felizmente a análise técnica iria prevalecer, pois o jato britânico se apresentava como a aeronave menos indicada para a concorrência, tendo em vista sua complexidade e alto custo operacional. Esta decisão seria reforçada logo em seguida, com a celebração de um grande contrato entre a Marinha do Brasil e o estaleiro inglês Vosper para a construção das fragatas da classe Niterói. Os valores envolvidos neste processo atenderiam plenamente as contrapartidas econômicas e políticas, trazendo a luz então para que se fosse tomada uma decisão puramente técnica. Neste processo o concorrente sueco seria eliminado no processo por apresentar um custo operacional acima dos parâmetros possíveis para a Força Aérea Brasileira naquele período. Neste contexto a proposta francesa passaria a ser a mais lógica tanto em termos técnicos quanto comerciais, com as negociações entre as partes sendo intensificadas.  Assim em 1967, dois oficiais da Força Aérea Brasileira – o Tenente-Coronel Aviador Lauro Ney Menezes e o Major Aviador Ozires Silva seriam enviados pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) à França, para avaliar o Dassault Mirage III e o toda a estrutura industrial e de suporte pós-venda do fabricante.
Durante a fase inicial deste processo, o Tenente-Coronel Aviador Lauro Ney Menezes voaria em um Mirage IIIB, a uma velocidade de Mach 2, tornando-se, assim, o primeiro piloto de caça brasileiro a romper a velocidade do som e o primeiro a voar no caça francês. Ao término deste programa suas conclusões apontavam para a aquisição da aeronave, sendo celebrado em 12 de maio de 1970 com a  Marcel Dassault Aviation um contrato englobando o fornecimento de  Mirage IIIEBR e quatro Mirage IIIDBR (bipostos).  Este acordo além do fornecimento de ferramental e peças de reposição, previa o treinamento de um grupo de pilotos e de técnicos brasileiros, que teriam a incumbência de implantar e operar as novas e sofisticadas aeronaves, assim como os seus sensores e armamentos. primeira aeronave, já ostentando as cores e as marcações da Força Aérea Brasileira, realizaria o seu primeiro voo em 06 de março de 1972, na cidade francesa de Bordeaux. Atendendo ao cronograma estabelecido em contrato, no dia 23 de maio de 1972, embarcariam para a França um grupo de oito experientes pilotos de caça brasileiros, que iniciariam a fase de treinamento na nova aeronave, na base da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) na cidade de Dijon. Sob a chefia do Coronel-Aviador Antônio Henrique Alves dos Santos, que seria o comandante da nova Unidade, os seguintes oficiais faziam parte desse seleto grupo: Tenentes-Coronéis-Aviadores Jorge Frederico Bins, Ivan Moacir da Frota, os Majores-Aviadores Ronald Eduardo Jaeckel, Ivan Von Trompowsky Douat Taulois, Lúcio Starling de Carvalho, Thomas Anthony Blower e o Capitão-Aviador José Isaías Vilaça. Estes pilotos que já possuíam mais de 1.000 h de voo de experiência em caças a jato, teriam a responsabilidade de receber, operar e transmitir a doutrina de utilização da nova aeronave aos outros pilotos a serem designados para servir junto a recém-criada Primeira Ala de Defesa Aérea – 1ª ALADA.  Esses oficiais ficaram conhecidos carinhosamente como os “Dijon’s Boys” em reconhecimento e respeito pela abnegação e pela competência que norteariam a implantação da aeronave no Brasil. A cidade escolhida para abrigar esta nova unidade, seria Anápolis, localizada no interior do estado de Goiás, distando cerca de 150 km da capital federal Brasília, atendendo à concepção de defesa do centro geopolítico do País, estando subordinada ao recém-criado Comando de Defesa Aérea – COMDA.  A primeira aeronave Dassaunt Mirage IIIEBR, agora designada como F-103E chegaria à cidade de Anápolis em 01 de outubro de 1972, sendo transportada pelo Lockheed Hércules C-130E  - FAB 2456, do 1º Grupo de Transporte (1º GT). 

Uma segunda célula seria recebida no dia 08 deste mesmo mês, e na semana seguinte seria iniciada a montagem destas aeronaves, com estes trabalhos sendo conduzidos por militares brasileiros e técnicos franceses, no hangar do Esquadrão de Suprimento e Manutenção da 1ª Ala de Defesa Aérea – 1ª ALADA. Logo em seguida seriam recebidas as duas primeiras células do modelo de treinamento e conversão operacional o Mirage IIIDBR ou F-103D, passando a serem imediatamente montadas. A primeira aparição pública das novas aeronaves brasileiras ocorreria no dia  6 de abril do mesmo ano, quando quatro F-103E e dois F-103D Mirage surgiram nos céus de Brasília, inaugurando oficialmente a entrada do Brasil na era das aeronaves supersônicas.   Finalmente, em 20 de abril de 1972, oito F-103E e F-103D Mirages III se deslocariam para Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro, onde participariam pela primeira vez, das solenidades do Dia da Aviação de Caça, causando excelente impressão a todos os presentes.  A aquisição deste modelo de aeronave alta performance, trariam a Força Aérea Brasileira inúmeros desafios no que tange a conversão operacional, com os quatro F-103D (FAB 4900 a 4903) sendo fundamentais neste processo.  A introdução deste modelo na Força Aérea Brasileira, proporcionou um grande salto não só em termos de tecnologia por se tratar do primeiro vetor supersônico, mas também em termos de doutrina operacional, criando no pais o processo para o desenvolvimento das técnicas de combate empregando o binômio "míssil & avião”, com a adoção do modelo Matra 530, sendo este primeiro artefato de seu tipo a entrar em operação no Brasil. Ao final dos anos 70, atendendo à nova organização operacional, a Unidade passou por um processo de evolução estrutural, quando, em 19 de abril de 1979, pela Portaria nº 069/GM3, a 1ª ALADA é desativada, sendo criada em sua substituição, a Base Aérea de Anápolis – BAAN, que teria a incumbência de sediar e de apoiar o 1º Grupo de Defesa Aérea – 1º GDA, que havia sido criado em 11 de abril de 1979, pelo Decreto nº 004 e seria o responsável pelo guarnecimento e pela operação dos F-103E/D da Força Aérea Brasileira. Durante estes anos iniciais, a intensa operação das aeronaves praticamente em condições reais de emprego, levariam ao desgaste prematuro das células acarretando ainda a perda de algumas aeronaves em acidentes. Assim, para que não houvesse uma deterioração da capacidade da defesa aérea do País, seriam incorporadas mais três aeronaves usadas oriundas dos estoques franceses, que receberiam as matriculas de F-103E FAB 4923 - 4924 - 4925.
Caberia ainda ao modelo ser responsável pela execução da primeira  missão de interceptação real no pais, quando em  09 de abril de 1982 por volta das 20:00 horas, Um tráfego aéreo desconhecido e de grande porte foi detectado pelo sistema de radares da defesa aérea que acionou imediatamente o 1º GDA, para realizar a identificação do intruso. Os pilotos de alerta foram convocados e a equipe de serviço já havia preparado os dois F-103E Mirage que eram mantidos, permanentemente, de sobreaviso para qualquer emergência. O Major-Aviador Paulo César Pereira e o 1º Tenente-Aviador Eduardo José Pastorelo de Miranda eram os pilotos de alerta nesse dia que, cerca das 21:00 horas, decolaram para interceptar o enorme Ilyushin 62, da empresa estatal de Cuba, denominada de Cubana de Aviación, que transportava o embaixador cubano na Argentina. Convém recordar-se que a Argentina estava em estado de guerra com a Grã-Bretanha nesse período. O Centro de Operações Militares – COPM coordenou a vetoração dos caças em direção ao intruso, que já se aproximava da cidade de Porto Nacional – Norte de Goiás (atual Tocantins), com a eficiente atuação dos controladores de voo do Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo – CINDACTA-1, localizado em Brasília. A interceptação foi perfeita e a aeronave cubana, que no início, resolveu ignorar as tentativas de diálogo efetuadas pelo COPM, só obedeceu quando o controlador pediu que observasse ao seu lado os dois interceptadores Mirage IIIE do 1º GDA, que estavam prontos para entrar em ação caso as ordens do controle fossem desobedecidas. O Ilyushin foi obrigado a pousar no Aeroporto Internacional de Brasília, onde passou pelas medidas de controle de solo, previstas na regulamentação de defesa aérea. Em meados da década de 1980 era notório que o Dassault Mirage IIIE desenvolvido durante a década de 1960 representava uma aeronave de caça de segunda geração, se encontrando plenamente desatualizado perante as potenciais ameaças regionais existentes naquele período. Apresentavam ainda sensíveis limitações em termos de manobrabilidade, pois foram originalmente concebidos como interceptadores de alta altitude, apresentando desempenho sofrível em combates do tipo “dog fight” (1X1) em baixas velocidades e altitudes. Ficava assim nítida a necessidade de se prover algum nível de modernização desta frota, sendo conduzidos visando assim avaliar programa semelhantes realizados por outros países, com este programa visando atender três diretivas básicas, como a modernização de sistemas e aviônica. Este processo resultaria implementação de um programa de "modernização de meia vida" ou  MLU (Mid Life Upgrade), que seria aplicado a frota remanescente destas aeronaves.

Em Escala.
Para representarmos o Dassault Mirage IIIEBR F-103E “FAB 4914” pertencente a Primeira Ala de Defesa Aérea – 1ª ALADA durante a década de 1970, utilizamos o kit do fabricante Italeri (Nº 2674) na escala 1/48. Trata-se de um modelo de fácil montagem que se permite compor a versão empregada pela Força Aérea Brasileira diretamente da caixa. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals presentes no antigo e descontinuado set 48/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura em metal natural (o mesmo empregado nas aeronaves da Força Aérea Francesa) com marcações de alta visibilidade em vermelho vivo, aplicado quando do recebimento das células originais entre os anos de 1972 e 1973. Este padrão se manteve até 1981, quando após uma grande revisão em âmbito de parque as aeronaves passaram a ostentar um esquema em cinza azulado escuro.




Bibliografia :

Revista ASAS nº 03 Mirage III a Saga do Delta no Brasil , por Claudio Lucchesi
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
Dassault Mirage III - Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Dassault_Mirage_III

Engesa EE-9 Cascavel - 90 mm

História e Desenvolvimento.
O engenheiro mecânico-eletricista José Luiz Whitaker Ribeiro marcaria seu nome na História industrial brasileira ao liderar em 1958, um seleto grupo de engenheiros recém-formados durante a a fundação da ENGESA (Engenheiros Especializados S/A). Seu foco inicialmente seria norteado pela produção de componentes e ferramental destinados exploração de petróleo, apresentando como seu principal cliente a a Petrobras. Congregando em seu quadro técnico profissionais de excelente formação, muitos deles oriundos do ITA (Instituo de Tecnologia da Aeronáutica), a empresa logo se destacaria neste segmento, ampliando se volume de negócios no segmento de petróleo e gás. Durante este processo de crescimento, ao ter seus caminhões enfrentando com extrema dificuldade estradas de terra e barro para chegarem ao destino no litoral, José Luiz Whitaker Ribeiro buscaria uma solução para melhorar o desempenho de sua frota neste ambiente "fora de estrada". Estes esforços culminariam no desenvolvimento de uma uma caixa de transferência com tração total, este conjunto primava pela simplicidade e robustez e podia ser facilmente aplicado a uma variada gama de veículos utilitários produzidos naquele período. Ao ser aplicado na frota da empresa, seu desempenho se mostraria extremamente satisfatório, com a empresa passando a investir no desenvolvimento de um kit para comercialização no mercado civil, com este lançado no final do ano de 1966. O denominado sistema de “Tração Total” dotava-os caminhões comerciais modificados, com um comportamento fora-de-estrada proporcionando um desempenho inédito em veículos da categoria. Este kit era composto de uma caixa de transferência com duas tomadas de força, eixo dianteiro direcional e guincho (opcional), por exemplo uma Ford F-100 equipada com este sistema passava a apresentar capacidade de carga duplicada, podendo galgar rampas de até 85% de elevação. Este produto logo conquistaria um grande sucesso comercial, o que despertaria a atenção do comando do Exército Brasileiro, que estava empenhado em estudos que visavam a nacionalização de sua frota de caminhões de transporte.  Neste contexto seriam produzidos quatro protótipos a fim de serem submetidos a testes de campo, com estes mostrando extremamente eficientes, levando a sua homologação operacional, com este produto em 1967, sendo considerado “de interesse para a Segurança Nacional “. Assim a fim de se proceder a substituição de uma significativa parcela dos caminhões militares norte-americanos com tração integral, seria deflagrada um concorrência para o fornecimento de uma grande quantidade de caminhões nacionais "militarizados" equipados com este sistema de tração total. Em 1969 a empresa apresentaria um novo sistema de tração dupla traseira, ao qual chamaria de "Boomerang", com este produto sendo  fundamental no desenvolvimento de diversos veículos militares, representando o  maior trunfo na penetração internacional de seus produtos durante a década seguinte. Tratava-se de um projeto de construção simples, resistente e barata, e que concedia ao veículo excepcional desempenho fora de estrada, mantendo as quatro rodas traseiras em contato permanente com o solo, por mais irregular que fosse o terreno. Novamente este sistema seria adotado pelas Forças Armadas Brasileiras para aplicação em seus veículos utilitários. Neste mesmo momento, o Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo (PqRMM/2) destinava esforços ao desenvolvimento de uma viatura blindada sobre rodas com tração 4X4, o programa VBB-1 (Viatura Blindada Brasileira 1). O processo de desenvolvimento, produção da maquete em escala e construção do primeiro protótipo funcional seriam implementados entre o segundo semestre de 1968, e o primeiro semestre de 1970.

Este veículo apresentava o design semelhante ao Ford M-8 Greyhound, sendo concebido para ser operado por quatro homens, contava com uma torre giratória nova em aço SAE 5160 fundida pelas Fundições Allipert e usinada pela Avanzi. O veículo estava equipado com um motor nacional a diesel Mercedes Benz com 200 hp de potência, montado na traseira, operando acoplado com transmissão, eixos e diferenciais produzidos por esta mesma montadora. A carcaça do blindado foi feita pela empresa Trielato Ltda, a caixa de transferência pela Engesa S/A, seus radiadores pela Colmeia Metalúrgica S/A, filtros Mann, direção hidráulica ZF. Seus aparelhos óticos (periscópios) eram produzidos pela DF Vasconcelos Ltda e os demais componentes seriam fornecidos por diversas indústrias automotivas nacionais. Esta simplicidade tinha por objetivo principal conceber um veículo blindado de baixo custo sem sofisticações, de forma a não onerar o combalido orçamento disponível na época. Este protótipo seria extremamente testado em campo, nas mais severas condições, incluindo testes de balística e blindagem.  Apesar de resultados promissores, o interesse do comando do Exército Brasileiro repousava sobre um novo veículo com tração 6X6, não um 4X4.  De início para se atender a esta demanda, considerou-se em estender a carroceria protótipo do VBB-1, transformando em veículo com tração 6X6, porém implicações de ordem técnica descartariam esta possibilidade, partindo então para o projeto de um novo veículo. No início de 1970, a Diretoria de Motomecanização (DMM) definiria as especificações para o desenvolvimento de um veículo blindado de reconhecimento de reconhecimento com tração 6X6, dando início ao programa VBB-2 (Viatura Blindada Brasileira 2), e neste momento a Engesa S/A seria convidada a participar de seu desenvolvimento. Visando melhorar sua suspensão e desempenho em terrenos adversos, seria adotado o sistema “boomerang”, o que garantiria ao veículo a capacidade de realizar manobras rápidas em qualquer tipo de terreno. Seu mock-up receberia a mesma torre empregada no VBB-1 (Viatura Blindada Brasileira 1, sendo baseada na torre original do Ford T-17 Deerhound), a partir deste momento, a designação do veículo passaria a ser "Carro de Reconhecimento sobre Rodas (CRR)", com sua configuração básica recebendo pequenas modificações, principalmente em suas linhas básicas. O primeiro protótipo seria concluído em 1970, passando a ser submetido em um abrangente programa de testes de campo. Seus promissores resultados levariam a autorização para a construção de inicial de cinco veículos pré-série, sendo elevado para oito carros, quando do ato assinatura do contrato com a empresa Engesa S/A , em maio de 1971. O desenvolvimento do ferramental e desenhos dos processos de engenharia necessários para a produção em série, gerariam atrasos no cronograma orginalmente estabelecido, com o último carro sendo finalizado somente em 1975. Estes carros seriam submetidos a um intensivo programa de testes e avaliação, englobando um total 32.000 km de rodagem entre as cidades de São Paulo, Uruguaiana e Alegrete. A partir desta etapa, inúmeras alterações seriam implementadas, incluindo a troca da torre, incorporando se novamente para avaliação, uma peça derivada do Ford M-8 Greyhound, com alongamentos laterais e traseira. Após homologação, o veículo receberia a designação de Carro de Reconhecimento Médio (CRM), sendo celebrado um contrato envolvendo a aquisição 110 carros EE-9 M1 Cascavel, com os primeiros veiculos passando a ser entregues em 1974 aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec).   
A excelente aceitação deste blindado no Exército Brasileiro, motivaria a diretoria da Engesa S/A  a estudar a possibilidade de exportação do Cascavel, com a empresa passando a prospectar potenciais clientes internacionais. Neste contexto uma proposta seria apresentada ao Governo Português, que em virtude de ser envolvimento na  "Guerra do Ultramar", no continente africano, buscava reforçar suas forças armadas. O conceito do modelo seria bem recebido pelos militares portugueses, porém apontariam como importante ressalva a necessidade em se contar com um maior poder de fogo, tendo em vista a baixa eficiência do canhão de 37 mm, frente aos blindados em serviço naquele período. Para sua adequação seria sugerido equipar o blindado com uma arma de 90 mm, tendo como opção o conjunto do canhao francês Sofma 62F1 e sua respectiva torre, porém mais tarde verificaria-se que as dimensões do EE-9 Cascavel não eram adequadas para a instalação desta solução. Desta maneira seria desenvolvida uma nova carcaça mais larga e comprida, dando origem a versão de exportação denominada como EE-9 Cascavel MKII.  Assim no início de 1974 os primeiros carros deste modelo seriam enviados para Portugal a fim de serem submetidos a avaliação, no alterações no cenário daquele conflito regional determinariam a suspensão deste o processo de aquisição. Diante deste contratempo a empresa passaria a prospectar novos clientes em potencial principalmente no Oriente Médio, com o EE-9 Cascavel MKII passando a ser equipado transmissão automática e um novo  canhão de 90 mm baixa pressão (o mesmo empregado no blindado francês sobre rodas Panhard AML). Esta estratégia logo alcançaria êxito, com a venda e vinte blindados para as Forças Terrestres do Catar (Qatari Emiri). Após a entrega destes, seu excelente desempenho operacional despertaria a atenção outras nações, resultando em 1977 na celebração de um contrato com o governo dos Emirados Árabes Unidos para a aquisição de 200 carros. Neste mesmo momento a Engesa de duas concorrências internacionais, destinadas a equipar os exércitos do Iraque e Líbia, derrotando neste programa, os modelos franceses Panhard AML-90 e ERC-90 Sagaie. O modelo brasileiro seria declarado vencedor nestes dois processos, representando algo na ordem de mais de US$ 800 milhões de dólares em contratos. Os primeiros EE-9 Cascavel MKII líbios de uma encomenda de 200 carros seriam entregues em meados do ano de 1977, sendo destinados inicialmente para emprego em operações de reconhecimento e segurança. No ano seguinte passariam a ser entregues as primeiras unidades destinadas ao Iraque, comprovando a plena capacidade da linha de montagem da empresa brasileira. O EE-9 Cascavel receberia seu batismo de fogo em mãos líbias, operando durante a Guerra Líbia–Egito em 1977, sendo empregados com grande êxito contra tanques egípcios (provavelmente T-54, T-55 ou T-62) . Neste embate a agilidade e velocidade do blindado brasileiro seria fundamental ao atingir a frente de batalha e cercar as tropas aerotransportadas egípcias, fazendo uso de seu canhão de 90 mm  em rápidas investidas repelir os carros de combate inimigos e atacar as tropas em solo.  
Estes blindados líbios seriam novamente submetidos a combate, durante a intervenção no Chade, onde enfrentariam os Panhard AML-90 pertencentes a Legião Estrangeira Francesa (Légion étrangère) e ao Corpo de Fuzileiros Franceses (Fusiliers Marins). Apesar destes resultados positivos em combate, estes blindados seriam gravemente afetados pelas intemperes do deserto apresentando a deficiente proteção do motor contra a areia do deserto. Neste contexto com base em outros relatos de emprego operacional a empresa passaria a implementar uma série de melhorias em seu projeto original, nascendo assim uma nova versão que passaria a ser equipada com o canhão belga Cockerill de 90 mm.  No Brasil o comando do Exército Brasileiro e seus oficiais apesar de estarem satisfeitos com o emprego operacional do EE-9 Cascavel M1, acompanhavam atentamente a evolução do modelo de exportação, verificando as vantagens operacionais proporcionadas pela introdução de um canhão de maior calibre. Análises preliminares indicavam uma grande oportunidade de atualização de sua frota, com este programa apresentando como premissa básica a adoção de um canhão de 90 mm, em substituição a já ineficiente arma de 37 mm, que comprovadamente já não apresentava eficácia frente as possíveis ameaças regionais que o país poderia enfrentar naquele período. Uma clarificação operacional deste conceito, era que estes carros blindados eram pejorativamente chamados de "Cascavel Magro", em alusão ao seu obsoleto armamento principal de 37 mm. A exemplo do versões de exportação, a adoção do novo canhão Engesa - Cockerill EC 90 mm, implicaria também na substituição da torre original, e inicialmente pensou-se em empregar a mesma torre importada usada nos carros configurados para o contrato líbio, opção esta que seria rapidamente descartada em detrimento do desenvolvimento de uma torre de fabricação nacional (que passaria a ser adota depois no modelo de exportação). Definidos os parâmetros técnicos e comerciais deste programa, em fins do ano de 1977 seria assinado um contrato entre o Ministério do Exército e a Engesa S/A, visando a modernização de apenas cinquenta e cinco carros do total da frota existente.   Em janeiro do ano seguinte, oito destes veículos pertencentes a dois Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RC Mec), seriam encaminhadas as instalações da empresa na cidade de São José dos Campos no interior de São Paulo, a fim de servirem de protótipos funcionais para o programa de modernização. Devido ao novo modelo de torre nacional já se encontrar em produção para o mercado de exportação, a implementação deste programa de atualização transcorreria rapidamente, com os primeiros carros agora designados como EE-9 Cascavel M2 Série 3, sendo entregues as unidades operacionais em meados do mesmo ano.  O recebimento dos primeiros carros modernizados EE-9 Cascavel Modelo 2 Série 3 no início de 1977, clarificaram ao Comando do Exército Brasileiro a superioridade operacional arma de 90 mm (produzida sob licença no país), que permitia uma cadência de seis tiros por minuto, com um alcance de 1600 a 3500 metros. Com esta configuração poderia-se  fazer uso de uma série de munições especiais, entre elas o do tipo HE-T contra pessoal ou alvos leves, HEAT-T para exercício, Smoke WP-T Fumígena - incendiária e HESH-T contra blindagens leves e edificações.  Este fator passaria também a ser visto com uma oportunidade pelo comando do Exército Brasileiro, que não mediu esforços para nacionalizar a produção destas opções, com uma variada gama de munições sendo produzidas pela empresa brasileira Engequimica Ltda (uma subsidiária da Engesa S/A,  antiga FEEA – Fábrica de Estojos e Espoletas) localizada na cidade Juiz de Fora, no interior do estado de Minas Gerais. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Os excelentes resultados obtidos com a operação do  EE-9 Cascavel M2 Série 3, levariam o  comando do Exército Brasileiro a decidir pelo aumento de sua frota, resultando na celebração de novos contratos de aquisição entre os anos de 1978 e 1980. Assim seriam recebidos mais 60 carros da versão EE-9 Cascavel M-2 Série 5, com estes novos blindados apresentando muitas características presentes nos modelos de exportação, se destacando visualmente o grupo ótico frontal embutido na carroceria. Este modelo empregava o mesmo conjunto mecânico dos veículos adquiridos anteriormente, infelizmente o motor configurado para os veículos de exportação, o Detroit Diesel 6V53N de 212 hp muito mais potente não seria adotado pelo Exército Brasileiro em função de custos. Em 1982 seria apresentada a versão M6, que passava a contar com sistema de freio a disco e um novo câmbio automático Alisson AT455, substituindo o conjunto mecânico original, estas modificações melhorariam em muito a condução do veículo, primeiro liberando uma atividade do motorista na troca de marchas e segundo aumentando a segurança quando em deslocamentos de alta velocidade. Um novo contrato seria firmado com o Exército Brasileiro, prevendo agora a aquisição de 30 carros divididos em dois lotes de produção, com o primeiro apresentando de 12 carros do Modelo M6 Série 3, porém neste ínterim novas modificações foram implementadas no projeto original, gerando as novas versões Modelos M6 Série 4 e 5, que seriam contempladas no segundo lote de encomenda, com nove e dezesseis carros sendo recebidos. Paralelamente seriam realizados   estudos para implementação de modificação no freio da boca do canhão EC-90 de 90 mm, permitindo o emprego de munição perfurante do modelo APFSDS 90 (Flecha) e do tipo Canister, o que aumentaria ainda mais a letalidade do Engesa EE-9 Cascavel no campo de batalha. Esta iniciativa se baseava em uma demanda do governo Iraquiano, porém infelizmente não passou do estágio de protótipo, não sendo adquirido também pelo Exército Brasileiro.  A partir de 1983 a empresa lançaria os últimos modelos de série a serem produzido, o Engesa EE-9 M7 e M9, que passavam a contar com muitas melhorias entre eles a adoção do com câmbio automático Allison MT-643. Uma nova encomenda seria firmada com o Exército Brasileiro envolvendo 222 carros, ao todo entre os anos de 1978 e 1985 seriam incorporados 311 EE-9 Cascavel de todas as versões. Este incremento de frota permitiria iniciar o processo de desativação dos EE-9 M1 Cascavel, passariam a ser relegados a tarefas de treinamento, com os últimos destes carros sendo retirados do serviço ativo dos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec) em meados da década de 1990. 

O Engesa EE-11 Cascavel também seria adotado pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), esta decisão seria tomada a fim de se atender a demanda de dotar a Companhia de Viaturas Anfíbias do Batalhão de Transporte Motorizado. Inicialmente buscava-se adquirir um carro de combate sobre lagartas para suplementar as forças de desembarque, porém limitações orçamentarias vigentes naquele período acabariam por afetar drasticamente este programa. Neste momento o blindado nacional seria encarado com uma solução de oportunidade, levando em abril de 1977 o Ministério da Marinha a contratar junto a Engesa S/A a aquisição de seis destes veículos blindados, com este acordo abrangendo ainda peças de reposição e variada gama de munições, entre elas HE-T contra pessoal ou alvos leves, HEAT-T exercício, Smoke WP-T Fumígena e incendiária e HESH-T. A versão escolhida seria o EE-9 M4, apresentando como principal diferencial a adoção do conjunto de telêmetro a laser e sistema eletrônico de controle de tiro, com estes veículos sendo entregues a partir do início do ano seguinte, recebendo a designação de "Carro de Combate Leve Sobre Rodas" (CCL-SR). Estes veículos seriam alocados junto a Companhia de Carros de Combate (CiaCC), subordinada sucessivamente ao Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia, sendo colocados imediatamente em operação.  Seriam empregados em constantes manobras e treinamentos, atuando em conjunto com os EE-11 Urutu pertencentes a Companhia de Viaturas Anfíbias do Batalhão de Transporte Motorizado  (BtlTrnpMtz). Nesta oportunidade seriam avaliados como poucos eficazes nas operações de desembarque anfíbio, principalmente devido sua tração por rodas que acarretava problemas de trafegabilidade em certos tipos de terreno como as faixas de praia. Apesar desta limitação  tanto o EE-9 Cascavel, quanto o EE-11 Urutu acabariam sendo fundamentais na tarefa de servir como embrião da mentalidade de utilização de carros de combate para o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Ao final dos anos 1990, o EE-9 M4 Cascavel já acumulava quase 20 anos de uso, e sua manutenção se mostrava cada vez mais onerosa (muito em função do estado falimentar do fabricante), levando a necessidade de sua substituição a médio prazo. Este processo se daria pela seleção e aquisição do carro de combate leve sob lagartas austríaco  Saurer-Werk SK-105 Kürassier, sendo recebidos 17 unidades no ano de 2001, possibilitando assim a desativação dos EE-9 M4 Cascavel do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Estes veículos seriam repassados ao Exército Brasileiro para serem empregados como fonte de peças de reposição. Posteriormente alguns destes carros seriam devolvidos a Marinha do Brasil a fim de serem preservados como monumentos.
Dispostos em grande número no Exército Brasileiro, o Engesa EE-9 Cascavel seria aplicado como equipamento padrão de todos os Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec), criando excelentes bases operacionais para a Força Terrestre. Desta maneira também seriam destinados a realizar missões além-mar, quando foram destacados a participar de contingentes brasileiros juntos a força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), como a ONUMOZ em Moçambique (1993 a fevereiro de 1994) e UNAVEM III em Angola (1995 a julho de 1997. Nestas operações os blindados brasileiros seriam empregados com grande sucesso, sendo imersos em cenários reais de conflagração. Tanto no país como no exterior, este intenso emprego resultaria em um grande atrito e desgaste operacional, resultando no final da década de 1990 em preocupantes índices de disponibilidade da frota.  Este cenário seria ainda agravado pela falta de suporte técnico do fabricante, que havia encerrado suas atividades no ano de 1993. Neste momento se fazia necessário tomar ações que pudessem restabelecer a capacidade operativa dos Regimentos de Cavalaria Mecanizada (RCC) e Esquadrões de Cavalaria Blindada (EsqdCMec), sendo descartado inicialmente a substituição destes blindados por modelos mais modernos importados. A solução logica derivaria para a implementação de um grande processo de repotenciamento e modernização, com esta missão sendo capitaneada pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), localizado na cidade de Osasco - SP, que buscaria parceria com empresas privadas. Este programa receberia a denominação oficial de  "Manutenção de 5º Escalão de Viaturas Blindadas sobre Rodas" ou Projeto Fenix, e abrangeria a implementaçao em 204 EE-9 Cascavel e um número similar de veículos do modelo de transporte de tropas Engesa EE-12 Urutu. Suas fases envolviam a completa desmontagem dos veículos, revisão estrutural, retificação e substituição de componentes, melhorias nos motores Mercedes Benz Diesel OM352 6 cilindros, e a troca de cambagens e adoção de sistemas de comunicação mais modernos e confiáveis. O principal intuito deste processo era gerar uma sobrevida aos modelos envolvidos, visando assim cobrir uma lacuna temporal, até a possível introdução de uma versão armada do nova Viatura Blindada de Transporte de Pessoal - Médio sobre Rodas Iveco Guarani (VBTP-MSR). No entanto atrasos neste projeto, levariam o comando do Exército Brasileiro a aventar a possibilidade de implementar um novo programa de modernização em sua frota de Engesa EE-9 Cascavel. A primeira iniciativa se materializaria em 2015 através de uma parceria entre o Centro Tecnológico do Exército (CTEX), do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) e a empresa paulista Equitron Ltda, com esta proposta avançando para o estágio de um protótipo funcional designado como EE-9U MX8, apresentando em 2016. Apesar de promissor este programa de modernização não seguiria em frente, sendo cancelado logo em seguida. 

No ano de 2021, sobre os auspícios do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas, a implementação de um programa de modernização dos EE-9 Cascavel voltaria a pauta, através do lançamento de uma concorrência nacional envolvendo a contratação para até 201 viaturas. Seu principal objetivo era o de  transformar a viatura em uma peça fundamental e altamente tecnológica no arsenal do Exército Brasileiro. Em 04 de maio de 2022 a empresa Akaer Engenharia S.A seria declarada vencedora, com este programa recebendo o nome de batismo de Cascavel NG (Nova Geração). A proposta aprovada envolveria um amplo pacote de revitalização e modernização, adotando novas tecnologias fundamentais para incrementar as capacidades de locomoção do veículo nos mais variados tipos de terreno, visando assim aumentar a eficácia operacional em um moderno cenário de conflagração. O processo abrange a revitalização completa do chassi, torre, transmissão, suspensão e canhão de 90 mm; apresentando ainda adoção do motor a diesel MWM 6.12TCE de 220 cv de potência para operação em conjunto com uma caixa automática de mudanças Alisson 3000 Série 6+1. Seria ainda contemplada a instalação de um sistema de ajuste de pressão de pneus adaptável a todos os tipos de terreno e de um conjunto de de ar-condicionado para melhorar o ambiente da tripulação. Em termos de eletrônica,  a viatura passará a ser equipada com optrônicos de última geração em substituição às miras óptica (permitindo a operação diurna e noturna e em condições atmosféricas degradadas) integrados a um novo computador de tiro, responsável pela execução de todos os cálculos balísticos, proporcionando um aumento significativo na precisão dos disparos; implantação de um computador de comando e controle (C2) para análises dos sensores de leitura dos parâmetros ambientais que interferem na execução das missões, em tempo real, dando maior consciência operacional ao comandante. Uma das grandes evoluções se baseia na instalação do novo pacote de visão com quatro câmeras e consciência situacional completa, permitindo um alcance de 360° do ambiente ao redor da viatura. Com operação 100% digital, ele sistema possibilita um escotilhamento permanente da viatura. Em termos de efetividade ofensiva destaca-se a modernização do sistema de controle da torre, permitindo o acionamento do canhão de 90 mm por meio de um joystick, uso de plataforma PAN/TILT (plataforma estabilizadora) e a possibilidade de empregar um lançador de mísseis antitanque (possivelmente o israelense Rafael Spike LR) em sua torre principal introduzindo essa capacidade em veículos blindados de reconhecimento do Exército Brasileiro. Um primeiro contrato seria celebrado com o consórcio Força Terrestre, liderado pela Akaer S/A, em colaboração estreita com o Exército Brasileiro, por meio da Diretoria de Fabricação  prevendo a produção de dois protótipos funcionais para fins de desenvolvimento e avaliação.


O primeiro protótipo da viatura de reconhecimento seria apresentado oficialmente ao Alto Comando do Exército no dia 29 de novembro de 2023 em uma solenidade realizada no  Quartel General do Exército, em Brasília, e contou com a presença do Comandante do Exército, General Tomás Miguel Ribeiro Paiva.  O EE-9 Cascavel NG emergiu deste processo completamente diferente de suas versões anteriores, e apesar de sua concepção antiga pode representar grande efetividade operacional no campo de batalha. O segundo protótipo seria apresentado pela Akaer Engenharia S.A em abril de 2024 durante a edição da LAAD Security & Defence 2024 realizada no mês de abril na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Ocorre, no entanto, que o a deflagração deste programa ocorreu antes da criação o projeto de aquisição da Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav), processo este que resultaria escolha do Iveco Defence Vehicles (IDV) Centauro 2 com tração 8X8, equipado com canhão de 120 mm de alma lisa, sendo o mais avançado da atualidade em termos de tecnologia embarcada e poder de fogo. Neste contexto começariam a pairar dúvidas sobre a continuidade do programa do Cascavel NG, principalmente devido a seu nível de blindagem, que pode ser considerada ineficiente para os níveis de ameaças atuais. A integração de um sistema lançador do Rafael ATGM Spike, cujo míssil custa mais caro que o veículo, corrobora com as dúvidas de uma parte dos oficiais da Força Terrestre sobre este projeto de modernização. No entorno estratégico os exércitos vizinhos possuem veículos leves 4×4 blindados ou não, equipados com metralhadoras e mísseis antitanque para missões de reconhecimento. Essas missões poderiam ser facilmente executadas com novos veículos 4×4, como o Iveco LMV equipado com uma torre Remax I. No entanto a favor do EE-9 Cascavel NG pesa o fato deste processo custar entre 20% e 30% de um Iveco Centauro 2 novo, o que pode garantir a continuidade do projeto, tendo em vista a possibilidade de se contar com uma frota maior de blindados no estado da arte em termos de eletrônica embarca, levando ainda em conta que o contrato do programa da Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav) envolve a aquisição de somente 98 blindados do modelo  Iveco Centauro 2. Neste contexto informações mais recentes apontam que serão modernizados apenas 98 Engesa Akaer EE-9 Cascavel, com estes devendo ser incorporados até o ano de 2038. 

Em Escala:
Para representarmos o EE-9 Cascavel M4 Série 5 "EB 25291 ¨", fizemos uso de um modelo em resina de fabricação artesanal na escala 1/35. Como se trata de um modelo rústico, tivemos de aplicar diversas correções em scratch e também proceder a inclusão de detalhamentos oriundos de outros modelos. Empregamos neste modelo decais fabricados pela Decals e Books presentes no Set " Forças Armadas do Brasil ".
O esquema  de cores  ( FS ) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura  tático em dois tons empregado em todos os Carro de Combate Leve Sobre Rodas (CCL-SR) Engesa Cascavel EE-9 a partir do ano de 1983. Os protótipos do EE-9 Cascavel NG  apresentados  pela empresa Akaer Engenharia S.A entre os anos de 2023 e 2024  mantiveram  este mesmo esquema de pintura.


Bibliografia: 

 

- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos 

- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume II, por Expedito Carlos Stephani Bastos 

- Modernização do EE-9 Cascavel - https://www.defesanet.com.br/

- EE-9 Cascavel Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/EE-9_Cascavel 

- EE-9 Cascavel – modernização deve ser reavaliada – www.defesanet.com.br