História e Desenvolvimento.
O empresário Walter H. Beech é amplamente reconhecido como uma das figuras mais influentes nos primórdios da aviação nos Estados Unidos, desempenhando um papel decisivo no avanço tecnológico e comercial do setor. Sua trajetória, marcada por visão estratégica e determinação, reflete o espírito empreendedor que caracterizou a indústria aeronáutica no início do século XX. No início da década de 1920, Walter H. Beech fundou a Travel Air Manufacturing Company em Wichita, Kansas, uma cidade que se tornaria um dos principais centros da aviação norte-americana. A empresa destacou-se por atrair talentos de renome, como os projetistas Lloyd Stearman e Clyde Vernon Cessna, que mais tarde fundariam suas próprias companhias. Sob a liderança de Beech, a Travel Air lançou modelos de grande sucesso comercial, incluindo os Travel Air 2000, 5000 e 6000. Essas aeronaves, conhecidas por sua qualidade e desempenho, posicionaram a Travel Air como uma das principais fabricantes de aeronaves de sua época, atendendo à crescente demanda por transporte aéreo civil. A quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 desencadeou a Grande Depressão, um período de severa crise econômica que afetou profundamente o mercado aeronáutico. A Travel Air Manufacturing Company enfrentou dificuldades financeiras significativas, culminando em sua aquisição pela Curtiss-Wright Corporation em 1930. Nesse contexto, Walter H. Beech assumiu o cargo de presidente da divisão de aviões da empresa e vice-presidente de vendas. No entanto, sua paixão pelo desenvolvimento e produção de aeronaves foi comprometida por essas funções, que o afastavam das áreas criativas e técnicas. Insatisfeito, Beech decidiu deixar a Curtiss-Wright para perseguir sua visão de criar uma nova empresa aeronáutica sob seu comando. Em 1932, em meio ao auge da Grande Depressão, Walter H. Beech fundou a Beech Aircraft Corporation, também sediada em Wichita, Kansas. A empresa foi estruturada com uma equipe de liderança composta por Beech como presidente, sua esposa Olive Ann Beech como secretária, Ted A. Wells como vice-presidente de engenharia, K. K. Shaul como tesoureiro e C. G. Yankey como vice-presidente e investidor. Apesar do cenário econômico desafiador, Walter H. Beech identificou uma oportunidade estratégica ao focar no mercado de transporte executivo e turismo de luxo, nichos que, embora pequenos, mantinham uma demanda estável. A Beech Aircraft iniciou suas operações em uma fábrica ociosa da Cessna, aproveitando a infraestrutura existente para minimizar custos. A aposta da Beechcraft Aircraft Company, posicionou-se estrategicamente para atender a um nicho de mercado específico durante um período marcado pela Grande Depressão (1929-1939), uma das maiores crises econômicas da história.
Enquanto a economia global enfrentava desafios severos, com desemprego em massa e queda na produção industrial, a Beechcraft identificou uma oportunidade em atender uma clientela seleta: altos executivos, proprietários de grandes corporações e empresas de transporte regional que, menos impactados pela crise, dispunham de recursos para investir em aeronaves de transporte pessoal. A proposta da empresa era oferecer um produto de alto valor agregado, caracterizado por desempenho superior, design inovador e exclusividade, capazes de atrair esse público exigente. Nesse contexto, a Beechcraft concentrou seus esforços no desenvolvimento de uma aeronave executiva que combinasse alta performance, funcionalidade para viagens de curtas e médias distâncias e uma estética diferenciada. O resultado foi o Beechcraft Modelo 17, conhecido como Staggerwing devido à sua configuração de asa cambaleante negativa, lançado oficialmente em 1932. Este modelo tornou-se um ícone da aviação, marcando a entrada da Beechcraft no mercado de aviação executiva com um produto que revolucionou os padrões da época. O projeto do Modelo 17 foi liderado por Ted Wells, um engenheiro aeronáutico de renome que já havia contribuído para a fundação da Travel Air Manufacturing Company na década de 1920, uma empresa que se destacou na produção de aeronaves leves e biplanos. Com sua experiência, Wells trouxe uma abordagem visionária ao desenvolvimento do Modelo 17, buscando não apenas atender às expectativas funcionais, mas também criar uma aeronave que se destacasse esteticamente e tecnicamente. O Beechcraft Modelo 17 era um monomotor biplano com uma configuração de asas inovadora, caracterizada pela disposição staggerwing — a asa superior posicionada mais recuada em relação à inferior, em contraste com o design convencional de biplanos da época. Essa configuração, conhecida como cambagem negativa, tinha como objetivo reduzir o arrasto aerodinâmico causado pela interferência entre as asas, otimizando o desempenho da aeronave. Além disso, o design proporcionava ao piloto uma visibilidade excepcional, um diferencial crucial para operações em curtas e médias distâncias. A aparência elegante e distinta do Modelo 17, com linhas suaves e uma silhueta única, rapidamente capturou a atenção do mercado, alinhando-se ao objetivo de seduzir uma clientela sofisticada. A estrutura do Modelo 17 combinava materiais tradicionais e avanços técnicos. O corpo da aeronave era construído com uma combinação de tubos de aço soldados e madeira, recoberto por entelagem de tecido, uma prática comum na aviação da década de 1930. No entanto, o bordo de ataque das asas, a carenagem do motor e a parte frontal do suporte do para-brisa eram confeccionados em alumínio, conferindo maior resistência e durabilidade.

A velocidade do Beech Model 17 Staggerwing , tornaria o modelo muito popular entre os pilotos civis na década de 1930, e uma de suas versões iniciais, lograria êxito ao conquistar o primeiro lugar na cobiçada "Corrida do Troféu Texaco" na edição de 1933. Em 1935, um diplomata britânico, o Capitão H.L. Farquhar, realizaria com sucesso um voo ao redor do mundo, fazendo uso de um Beech Model B-17R, viajando 34.331 quilômetros de Nova York a Londres, por meio da Sibéria, Sudeste Asiático, Oriente Médio, Norte da África e de volta pela Europa. Em termos de competições, Louise Thaden e Blanche Noyes conduzindo um Beech Model C-17R Staggerwing, conquistariam o troféu Bendix de 1936. Pilotando um modelo D-17W, Jackie Cochran estabeleceria um recorde de velocidade feminino de 328 km/h e de altitude, alcançando mais de 9.144 metros, conquistando também o terceiro lugar na Bendix Trophy Race de 1937. Curiosamente o primeiro emprego militar da aeronave ocorreria durante a Guerra Civil Espanhola, quando células da versão civil Beechcraft C-17 Staggerwing adaptadas, seriam empregadas em missões de bombardeiro pela Força Aérea Republicana Espanhola. Algumas aeronaves também seriam usadas como ambulância pelas forças armadas da China Nacionalista no conflito contra o Japão neste mesmo período. Durante os anos seguintes, o modelo ganharia grande notoriedade no mercado civil norte-americano se tornando um sucesso em vendas, despertando assim a atenção do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que buscava naquele momento um vetor para este tipo de emprego. Assim no final de 1938, três células do modelo Beech D-17S seriam adquiridas a fim de serem empregadas em um programa de avaliação, para validar ou não o seu emprego como aeronave de ligação leve. Esta variante incorporava além do trem de pouso retrátil, uma série de melhorias no projeto, como ailerons nas asas superiores, novo motor Pratt & Whitney Wasp Junior R-985-17 com 450 hp de potência e sistema de sincronização dos freios com os pedais do leme de direção. Estas aeronaves receberiam a designação militar provisória de YC-43 ( Y designando uma aeronave em desenvolvimento ou tipo não padrão, C significando Carga ), sendo entregues para o inicio do programa de ensaios operacional. Após a conclusão deste estágio, a aeronave seria homologada para operação militar, levando a celebração de um contrato com o Exército dos Estados Unidos (US Army) para a aquisição de setenta e cinco células da versão Beech UC-43 Traveler, que começariam a ser entregues a partir de maio de 1939. Posteriormente as três aeronaves iniciais seriam deslocadas posteriormente para a Europa para servirem como aeronaves de ligação a serviço dos adidos aéreos militares norte-americanos em Londres, Paris e Roma.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, compostas por Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França em junho de 1940 intensificou essas inquietações, especialmente diante da possibilidade de que a Alemanha nazista estabelecesse bases operacionais em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar, no Senegal. Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto estratégico de vulnerabilidade, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano – a apenas cerca de 2.800 quilômetros da costa de Dacar –, que, à época, também figurava nos planos de expansão territorial do regime alemão. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, um recurso crítico para a indústria bélica, utilizado em pneus, vedações e outros componentes vitais para veículos e equipamentos militares. A posição estratégica do Brasil foi ainda mais evidenciada pela geografia de seu litoral nordeste, que representava o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Essa localização tornou a costa brasileira um elemento crucial para o translado aéreo e marítimo de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no norte da África. Portos como os de Natal e Recife, e bases aéreas estrategicamente posicionadas, como a Base Aérea de Parnamirim, em Natal, conhecida como o “Trampolim da Vitória”, tornaram-se fundamentais para o esforço de guerra aliado, facilitando o envio de recursos vitais para os fronts aliados. Nesse contexto, o governo brasileiro, sob a liderança do presidente Getúlio Vargas, intensificou a aproximação política e econômica com os Estados Unidos, buscando alinhar interesses estratégicos e fortalecer a defesa nacional. Essa colaboração culminou na adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo). O programa tinha como objetivo principal fornecer apoio material e financeiro aos países aliados, promovendo a modernização de suas forças armadas. A modernização das Forças Armadas Brasileiras, tornou-se uma prioridade, dado que sua frota era composta majoritariamente por aeronaves ultrapassadas, com carências significativas em aviões de treinamento básico e avançado, bem como de transporte e ligação.
Por meio do Lend-Lease Act, o Brasil obteve uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões – equivalente a cerca de US$ 2 bilhões em valores ajustados à inflação atual –, destinada à aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados, carros de combate e outros equipamentos bélicos. Dentre as forças armadas brasileiras, a Força Aérea Brasileira (FAB) era a que mais urgentemente demandava investimentos em modernização. Sua frota inicial, herdada das antigas estruturas, incluía um significativo contingente de aeronaves já consideradas obsoletas, o que comprometia operações essenciais como o transporte de cargas e pessoal. Essa limitação era particularmente crítica no âmbito do Correio Aéreo Nacional (CAN), um serviço vital que não só garantia a comunicação postal em vastas regiões do interior brasileiro, promovendo a integração nacional, mas também servia como espinha dorsal para missões logísticas militares. O CAN, estabelecido em 1931 e expandido ao longo da década de 1930, incorporava aeronaves provenientes do antigo Correio Aéreo Militar (CAM) e do Correio Aéreo Naval (CAN), refletindo a herança dispersa das aviações predecessoras. Entre os ativos mais notáveis dessa frota destacavam-se três exemplares do modelo Beechcraft D-17A Staggerwing, originários da Aviação Naval da Marinha do Brasil e integrados em 1939 para operar na Linha Tronco Norte do correio aéreo. Projetado em 1932 pelo visionário engenheiro Walter Beech, fundador da Beech Aircraft Corporation, o Staggerwing — com sua configuração biplano de asas escalonadas negativamente — revolucionou a aviação civil nos anos 1930, sendo uma das aeronaves mais rápidas e luxuosas de sua época, capaz de atingir velocidades de até 340 km/h. Essas características de agilidade, confiabilidade e versatilidade provaram-se inestimáveis no Brasil, onde as aeronaves enfrentavam desafios como terrenos remotos, condições climáticas adversas e rotas extensas no interior do país. Ao longo dos anos, elas demonstraram seu valor não apenas em missões postais, mas também em tarefas de reconhecimento e transporte, atestando por que o modelo norte-americano se tornara um vetor ideal para operações em nações em desenvolvimento como o Brasil. Reconhecendo o potencial dessas aeronaves e a necessidade de expandir as capacidades do CAN, as autoridades brasileiras decidiram, no final de 1941, ampliar a frota de Staggerwings. Esse período coincidia com o auge das negociações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, impulsionadas pelo contexto da guerra na Europa e Ásia. Em novembro daquele ano, o Comando da Aeronáutica (COMAER), por meio da Comissão de Compras de Material Aeronáutico sediada em Washington, formalizou suas intenções ao governo norte-americano.

Aproveitando as condições favoráveis oferecidas pela Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act), promulgada pelo presidente Franklin D. Roosevelt em 11 de março de 1941 para auxiliar nações consideradas vitais à defesa dos Estados Unidos — antes mesmo da entrada oficial dos EUA no conflito após Pearl Harbor —, o Brasil negociou a cessão de 51 aeronaves novas da família Beechcraft D-17S Staggerwing. Essa aquisição recebeu prioridade máxima, refletindo a urgência estratégica do momento. As aeronaves foram retiradas diretamente das linhas de produção da Beech Aircraft, compreendendo 40 unidades da versão UC-43 Traveler, originalmente destinadas ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), e 11 unidades da variante GB-2, produzidas para a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Essa transferência não só modernizou a Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo uma expansão das linhas postais e logísticas, mas também simbolizava o fortalecimento da aliança hemisférica contra o Eixo, pavimentando o caminho para a declaração de guerra do Brasil em 1942 e sua participação ativa na guerra, inclusive com o envio de uma força expedicionária à Itália. Ao todo, a Força Aérea Brasileira (FAB) operaria 54 Staggerwings entre 1942 e 1960, marcando uma era de transição para a aviação militar brasileira e ilustrando como inovações tecnológicas e parcerias internacionais moldaram o destino de nações em tempos de crise global. Diferentemente das três unidades originais do modelo D-17A, incorporadas em 1939 e provenientes da Aviação Naval da Marinha do Brasil, essas novas aeronaves eram equipadas com o motor Pratt & Whitney Wasp Junior R-985-AN-1, capaz de gerar 450 hp. Essa configuração conferia às aeronaves uma velocidade máxima de aproximadamente 341 km/h, consolidando o Staggerwing como um dos aviões mais rápidos e eficientes de sua época, ideal para as exigências das missões postais e logísticas em um país de proporções continentais como o Brasil. O translado dessas aeronaves, divididas em grupos, foi uma operação meticulosamente planejada e executada por oficiais brasileiros, que as conduziram diretamente das instalações da Beech Aircraft Corporation, no Kansas, até o Rio de Janeiro. As primeiras unidades chegaram ao Campo dos Afonsos, então a principal base aérea brasileira, em dezembro de 1942. Ao serem incorporadas à frota da Força Aérea Brasileira (FAB), as aeronaves receberam a designação UC-43, com matrículas numeradas de FAB 01 a FAB 51. Algumas unidades, originalmente destinadas à Marinha dos Estados Unidos, mantiveram a designação GB-2.
Após um período de formação e treinamento intensivo das tripulações, essas aeronaves foram oficialmente integradas ao comando do Correio Aéreo Nacional (CAN), onde complementaram os três Beechcraft D-17A (designados internamente como DB-1e) nas diversas linhas postais que conectavam o interior do Brasil. A introdução dos UC-43 e GB-2 no CAN representou um salto qualitativo para o serviço postal militar. Sua velocidade, confiabilidade e capacidade de operar em pistas rudimentares ampliaram significativamente o alcance e a eficiência do transporte de malas postais e cargas leves, atendendo regiões remotas e promovendo a integração nacional. Além disso, as aeronaves, projetadas para transportar até quatro passageiros, eram amplamente apreciadas por tripulantes e eventuais ocupantes devido ao conforto interno — uma característica notável para a época, considerando que o Staggerwing fora inicialmente concebido como uma aeronave executiva de alto padrão. Esse conforto, aliado ao desempenho excepcional, tornou os Staggerwings uma escolha natural não apenas para missões postais, mas também para tarefas administrativas e orgânicas, como o transporte de pessoal e correspondências entre bases aéreas estratégicas, como as de Belém, Recife e Porto Alegre, durante a Segunda Guerra Mundial. O desempenho notável dos Beechcraft D-17A, UC-43 e GB-2 assegurou-lhes um papel central no Correio Aéreo Nacional (CAN) até meados da década de 1950. Contudo, a evolução tecnológica e as crescentes demandas operacionais exigiram a modernização da frota. Em 1952, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) emitiu uma normativa que redesignou essas aeronaves como C-43, alterando suas matrículas para o intervalo de FAB 2736 a FAB 2786. A partir desse período, os Staggerwings começaram a ser gradualmente substituídos ou complementados por bimotores mais modernos, como os Beechcraft AT-7, C-18 e D-18. Embora contemporâneos dos UC-43 e GB-2, esses novos modelos apresentavam maior capacidade de carga, alcance e segurança, características essenciais para atender às linhas postais que se expandiam pelo interior do Brasil, em um contexto de crescimento econômico e populacional impulsionado pelo pós-guerra. A transição para essas novas aeronaves refletia o dinamismo da aviação brasileira em um período de transformações globais. Para distinguir os modelos, as tripulações apelidaram carinhosamente as novas aeronaves de “Beech Bi”, em referência à sua configuração biplana, enquanto os D-17A originais, mais antigos, receberam o apelido de “Beech Mono”. Esses nomes refletiam não apenas as diferenças técnicas, mas também o orgulho e a familiaridade dos aviadores com os equipamentos que desempenhavam um papel crucial na integração do vasto território brasileiro.

Operando intensivamente nas linhas postais do CAN, as aeronaves Beechcraft D-17A, UC-43 e GB-2 enfrentavam condições desafiadoras, incluindo pistas rudimentares, longas distâncias e climas variados. Essa utilização constante, que conectava regiões remotas do Brasil e promovia a coesão nacional, resultou em significativo desgaste estrutural das células. Ao longo dos anos, acidentes de pequena e grande monta, comuns na aviação da época devido às limitações tecnológicas e às condições operacionais, reduziram drasticamente a frota. Até o início da década de 1950, os três Beechcraft D-17A originais, incorporados em 1939, já haviam sido retirados de serviço, sucateados após anos de uso intensivo. A frota total de Staggerwings, que outrora contava com 54 unidades, foi reduzida a apenas 29 aeronaves operacionais, um reflexo do rigor das missões e da ausência de uma infraestrutura robusta de manutenção na época. As aeronaves remanescentes, ainda em condições de voo, foram redirecionadas para funções orgânicas, servindo às necessidades administrativas e logísticas de diversas bases aéreas, como o Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, e o Parque de Material Aeronáutico. Contudo, a obsolescência tecnológica e o avanço de aeronaves mais modernas, como os bimotores Beechcraft AT-7, C-18 e D-18, sinalizaram o fim da carreira operacional dos Staggerwings. A partir de meados da década de 1950, essas aeronaves começaram a ser retiradas de serviço à medida que atingiam o cronograma de revisões gerais, sendo, em grande parte, alienadas como sucata. Esse processo refletia a transição da FAB para uma força aérea mais moderna, alinhada com os desenvolvimentos tecnológicos do pós-Segunda Guerra Mundial e com a crescente industrialização do Brasil sob os governos de Juscelino Kubitschek e seus antecessores. A última célula operacional, um Beechcraft UC-43 registrado como FAB 2778, permaneceu em serviço até abril de 1963, marcando o encerramento definitivo da trajetória dos Staggerwings na FAB. Reconhecendo seu valor histórico, a aeronave não foi descartada como sucata, mas destinada à preservação. Armazenada até meados da década de 1970, passou por um meticuloso processo de restauração, que visava resgatar sua condição original e destacar sua importância na história da aviação militar brasileira. Após a conclusão desse trabalho, o Beechcraft UC-43 FAB 2778 foi incorporado ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, onde permanece em exposição como um testemunho do pioneirismo da FAB e do papel do CAN na integração nacional.
Em Escala.
Para representarmos o Beechcraft GB-2 Traveller "FAB 2778", fizemos uso do recente kit produzido pela Roden na escala 1/48, modelo básico em nível de detalhamento, mas de fácil montagem e boa qualidade de injeção. O modelo pode ser montado diretamente da caixa para se compor a versão operada pela Força Aérea Brasileira. Empregamos o antigo set de decais "Aviões Militares Brasileiros - Beechcraft UC-43" confeccionado pela Rafael Pinheiro Decais.
O esquema pintura representa o padrão aplicado as aeronaves da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) durante a Segunda Guerra Mundial, salientando que as demais células foram recebidas com dois outros esquemas, um pertencente ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em dois tons de azul e cinza e outros dois em metal natural, com um destes apresentando faixas em amarelo, com este esquema aplicado originalmente nas linhas de montagem do fabricante.
Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 á 2015 - Jackson Flores Jr
- Aviões Militares Brasileiro - Rafael Pinheiro Decais
- Beechcraft Model 17 / D17A - Aviação Naval Brasileira - http://www.naval.com.br
- História da Força Aérea Brasileira – Rudnei Cunha Dias da Cunha http://www.rudnei.cunha.nom.br
- Beechcraft Model 17 Staggerwing - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Beechcraft_Model_17_Staggerwing