Porém neste mesmo momento, estes carros de combate já se mostravam inadequados frente as ameaças representadas pelos modelos T-44, T-54 e T-55 que equipavam as forças blindadas do Pacto de Varsóvia. A solução para atendimento a esta demanda ainda neste momento não estava disponível para emprego junto aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, apesar de existirem projetos em desenvolvimento como o norte-americano MBT T-95. Esta realidade motivaria o governo alemão a retomar sua indústria de defesa, sendo iniciados estudos ao final desta década, visando assim o desenvolvimento de projetos nacionais englobando uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas de serviço. No que tange a carros de combate, os esforços seriam direcionados ao desenvolvimento de um MBT (Main Battle Tank), com suas especificações de projeto sendo definidas em 1956, sendo baseadas na necessidade de se superar os novos T-54 e T-55. Estas abrangiam um veículo na ordem de mais trinta toneladas, devendo ter alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, e por isso sendo dotado com um canhão de 105 mm. Vários norteamentos seriam sugeridos, se destacando o programa “Europa Panzer”, um consórcio formado em 1958 por Alemanha, França e Itália. Diversas propostas seriam apresentadas, com os primeiros protótipos sendo disponibilizados em 1960, com o modelo Porsche 734 sendo declarado vencedor. Esta decisão, no entanto, levaria a repercussões de ordem política e motivado por sentimentos nacionalistas o governo da França decidiu abandonar o consorcio, optando em desenvolver um veículo novo totalmente nacional. A seguir o modelo da Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG seria batizado como Leopard I, com sua versão final estando equipada com o consagrado canhão inglês, Royal Ordinance L-7 de calibre 105 mm, dispunha ainda de completo sistema de proteção NBC (Radiação Nuclear e Química). Em termos de blindagem atendendo aos parâmetros de mobilidade, possuía uma blindagem leve, porém eficiente com capacidade de resistir a impactos rápidos de armas de 20 mm em qualquer direção. Estas características lhe permitiam atingir uma velocidade máxima de 65 km/h no campo de batalha. Após a finalização de um programa de testes de aceitação, seria celebrado um contrato inicial para cem carros, que seriam produzidos nas instalações fabris da Krauss-Maffei Wegmann GmbH & Co. KG em Munique. Os primeiros Leopard I, seriam entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre setembro de 1965 e junho de 1966. O emprego operacional revelaria qualidades de projeto, passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia.
Ao ser operado por diversos países nos mais variados ambientes, verificaria-se suas qualidades operacionais e robustez em campo, abrindo assim estudos que partiam do empregado da plataforma original para o desenvolvimento de versões especializadas. Neste escopo em setembro de 1965, o Ministério Federal de Defesa da República Federal da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung) deflagaria uma concorrência visando o desenvolvimento de uma versão volta a tarefas de defesa antiaérea, objetivando a substituição do modelo norte-americano GMC M-42 Duster, que era equipado com os antigos canhões Bofors M-2A1, de 40 mm. Seus parâmetros de projeto previam o emprego de dois canhões de 30 mm, controlados por um sistema digital de controle de fogo, que tinha com finalidade engajar alvos aéreos em manobras evasivas. Deveria ainda apresentar um peso máximo de 45.500 kg e maior comunalidade no emprego de componentes presentes nos carros de combate Leopard 1. Dois consórcios industriais alemãs um formado pela Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche e outro pela Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis responderiam à esta concorrência. A proposta apresentada pelo primeiro concorrente propunha o conceito de “grupo de batalha” (composto por viaturas equipadas separadamente com dispositivos de vigilância -identificação e outras com radar de controle de fogo/canhões, ambos os tipos sendo liderados por um veículo de comando). Já o segundo apregoava que todas estas funcionalidades fossem reunidas em um só veículo autônomo, armado com canhões de 35 mm (calibre rejeitado em 1962, por não ser padrão empregado naquela época). As duas propostas seriam analisadas entre os anos de 1966 e 1970, e neste momento o projeto apresentado pelo consórcio Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche seria oficialmente cancelado. Neste contexto a proposta vencedora seria aperfeiçoada, passando a receber o radar de vigilância Siemens MPDR 12 acoplado a um identificador de contatos aliados/hostis. Os primeiros protótipos receberiam a designação militar de “5 PFZ-A”, e após serem inseridos em um extenso programa de testes e avaliações, resultariam em uma variada gama de modificações e melhorias. Deste processo emergiria o um modelo de “segunda geração”, o "5 PFZ-B” que passaria a incorporar novos sistemas de radar de vigilância com capacidades aperfeiçoadas de supressão de interferências e de discriminação de alcance e radar Doppler de rastreio de alvos. Seu habitáculo seria soldado na torreta, usando placas de blindagem espaçadas nas seções frontal, traseira e superior; carro receberia uma proteção ao longo da lateral superior esquerda, cobrindo a saída do motor auxiliar e absorvedores de choque nas porções dois e seis do braço de suspensão. Sua blindagem apresentava apenas uma camada, com 70 mm de espessura à frente, variando entre 20 e 30 mm nas partes traseira e lateral, proporcionando satisfatória proteção em combate. Suas baterias elétricas seriam realocadas, com o veículo recebendo geradores auxiliares para os canhões antiaéreos, alocados no antigo paiol de munições do carro de combate original, estando estes isolados dos chassis por paredes blindadas com painel de acesso e extintor de incêndio próprios. Os protótipos desta "segunda geração" seriam testados e avaliados entre os anos de 1971 e 1974, com este programa avançando para o estágio de pré-produção, com dois veículos sendo produzidos e novamente submetidos a testes de campo. Em seguida seria firmado um contrato para a produção de doze carros, que englobariam mais modificações, tendo destaque o aumento do casco em 80 mm; reposicionamento da torreta em 20 mm ao centro; instalação de doze absorvedores de choque e lagartas mais cumprida, com este novamente direcionados ao programa de avaliação. Finalmente, em fevereiro de 1975, Ministério Federal de Defesa da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung), anunciaria a homologação do modelo 5PFZ Tipo B, com este sendo inicialmente adotado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer). Um novo contrato seria celebrado em maio do mesmo ano com a empresa Krauss-Maffei AG (atual Krauss Maffei Wegman), definindo como subcontratadas as empresas Oerlikon-Contraves e Siemens AG. Estes termos previam a produção de vinte carros iniciais, classificados como "lote piloto" sendo seguido por mais cento e vinte dois carros da versão B-1. Porém havia a previsão contratual para aquisição de para 432 torres e 420 cascos com um valor total de DEM 1.200.000.000,00 de marcos alemães, neste patamar cadaveículo custaria cerca de três vezes o preço de um Leopard 1 normal. Esta segunda fase seria alterada, com o desenvolvimento da versão B-2 com radar aperfeiçoado, na qual seria autorizada a produção de cento e noventa cinco carros. Um segundo contrato seria assinado em 1977 para a aquisição de duzentos e vinte cinco carros da versão B-2L, que passava a contar com um sistema de medidor de distância a laser, para alvos a até 5.100 metros. O veículo apresentaria um peso final de 47.5 toneladas, medindo 7,68 metros de comprimento, 3, 27 metros de largura e 3, 29 metros de altura, (com a antena do radar de busca rebatida). Estava equipado com dois motores, um Mercedes Benz MTU 838 Cam 500, multi combustível, de 10 cilindros, gerando 830 HP e outro auxiliar Daimler Benz OM 314, a diesel, gerando 90 HP para o acionamento dos canhões, complementado por dois geradores de 20 kVA cada. Este conjunto mecânico lhe proporcionava uma velocidade máxima de 65 km/h e 550 km de alcance.
Em termos de armamento ofensivo, seus dois canhões Oerlikon KDA L/R04, apresentavam uma cadência conjunta de 1.100 disparos por minuto, com os projéteis tendo velocidade inicial de 1.175 metros por segundo e alcance de 4 km. O projétil padrão pesava 550 gramas, podendo ser dos tipos de Alto Explosivo Incendiário (HEI), perfurante de Blindagem Incendiário (API), além de traçante. Cada arma levava 320 munições antiaéreas (armazenadas no interior da torreta) e 20 projéteis perfurantes, estocados ao lado dos canhões. Este sistema de armas seria orientado por um radar de busca Siemens MPDR 12 S-band instalado em um braço oscilante (abaixado atrás da torre para trânsito) na parte traseira da torre, que fornece um alcance de detecção hemisférica de 15 km e possui um interrogador MSR 400 Mk XII integrado para discriminação automatizada de alvos. Além disso, o Gepard possuía um sistema de mira óptica de backup para aquisição e engajamento passivo de alvos, consistindo em dois periscópios panorâmicos estabilizados para o artilheiro e o comandante, com uma ampliação variável (1,5× e um campo de visão de 50 ° e 6× com um FOV estreito de 12,5 °). Esses periscópios podem ser acionados mecanicamente pelo radar de rastreamento e direcionados automaticamente ao alvo para identificação preliminar. Um telêmetro a laser foi fornecido em veículos atualizados para o padrão B2L e instalado no topo da caixa da antena para o radar de rastreamento. O modelo que receberia por parte do fabricante o nome de batismo de "Gepard", com os primeiros blindados sendo entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre os anos de 1976 e 1980, se consolidando como principal linha de defesa área a média e baixa altitude. O Gepard 1A2 Flakpanzer seria exportado para Bélgica e a Holanda, que adquiriram entre 54 e 95 carros, respectivamente. Entre os anos de 1997 e 2007, cento e quarenta e sete carros foram submetidos a um programa de modernização, visando assim a extensão de vida útil, os sistemas foram atualizados, passando a contar com um novo computador digital, conexão com o sistema de defesa aérea e gerenciamento de batalha através de rádios SEM 93. Os canhões receberam modificações para poder empregar munições do tipo HVFAPDS/FAPDS (perfurante de blindagem, estabilizada por aleta e calço descartável, de alta velocidade), proporcionado até 1.400 metros por segundo de velocidade inicial, o que elevou o alcance e teto operacional dos canhões para 5000 e 3.500 metros respectivamente. No Exército Alemão (Deutsches Heer), o Gepard seria descontinuado no final de 2010 e substituído pelo sistema Wiesel 2 Ozelot Leichtes Flugabwehrsystem (LeFlaSys) com quatro lançadores de mísseis FIM-92 Stinger ou LFK NG que passavam a oferecer uma proteção mais adequada a defesa área a média e baixa altitude. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra da Ucrânia, quando em 2023 veículos doados pela Alemanha seriam implantados naquele teatro de operações, obtendo grande êxito contra os drones russos.
A partir de meados do ano de 2012, seriam conduzidos estudos referentes a adoção de possíveis soluções dedicadas a proteção do espaço aéreo nacional. Curiosamente apesar de ser um pleito antigo da Força Terrestre, esta demanda logo seria priorizada não por questões estratégicas e sim políticas, pois o país logo sediaria dois eventos internacionais de grande relevância, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Dentre as várias medidas de segurança exigidas ao país sede, figurava a defesa antiaérea de ponto dos locais onde estes eventos seriam realizados, assim a fim de sanar esta lacuna operacional, a Diretoria de Material do Exército Brasileiro emitiria ao mercado de defesa internacional, uma Solicitação de Informação - RFI (Request for Information), para assim estruturar a sua capacidade de defesa antiaérea de ponto, que passaria a ser denominado como "Projeto Estratégico Defesa Antiaérea". Em seguida começariam a ser apresentadas a Diretoria de Material, diversas propostas de empresas do segmento de defesa de renome internacional, uma criteriosa análise seria então elaborada, tendo como primícias básicas a busca por uma equilibrada relação de custo-benefício. Neste contexto a proposta comercial e técnica apresentada pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegman que contemplava o modelo Gepard 1A2 uma versão modernizada. Estas propostas após ser analisada se mostraria mais viável em termos operacionais e financeiros, tendo como destaque sua rápida disponibilidade de entrega. Pesava sobre esta escolha também o histórico operacional do modelo junto a países europeus, com seus canhões de 35 mm operando em conjunto com um sofisticado sistema de radar com alcance de 15 km, efetuando ainda a varredura no espaço aéreo juntamente com o radar de tiro e computador digital de direcionamento e controle de fogo com o mesmo alcance. Como principal vantagem operacional, destacava-se que o sistema era montado sobre o chassi do carro de combate Leopard I, modelo com o qual o Exército Brasileiro já estava familiarizado em termos de operação e manutenção, o que facilitaria em muita sua incorporação, não havendo a necessidade de se proceder investimento adicionais em termos de treinamentos e ferramental. Após negociações seria celebrado entre as partes um acordo na ordem de US$ 50 milhões de dólares, englobando trinta e seis carros (oriundos dos estoques do Exército Alemão), munição, sobressalentes, ferramental e pacote de treinamento. Atendendo ao cronograma contratual, entre os dias 4 de março a 17 de maio de 2013, uma delegação de dez oficiais de dez sargentos realizaria a primeira fase de treinamento na cidade, cidade de Hardheim (Alemanha). O primeiro lote com dez carros Krauss Maffei Flakpanzer Gepard 1A2, seria recebido no Brasil dia 17 de maio de 2013, momento em que oficialmente seriam incorporados a a estrutura do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), ficando a estes subordinados até a realização destes grandes eventos.
A primeira unidade modernizada de um lote inicial de oito carros contratados, seria entregue ao Exército Brasileiro em 9 de março de 2016, com este processo sendo concluído até o final do ano de 2018. Apesar de muitas críticas internas do próprio Exército Brasileiro, quanto a real efetividade de proteção contra as ameaças aéreas atuais, a aquisição do sistema Flakpanzer Gepard 1A2 veio a robustecer o sistema operacional de defesa antiaérea da Força Terrestre. Principalmente para emprego em baixa altura até 3.000 metros, garantindo assim elemento importantíssimo para o sucesso nas operações, incrementando ainda mais, o poder de combate da tropa blindada. A importância deste sistema seria revelada durante a Guerra da Ucrânia, onde os Flakpanzer Gepard 1A2 tem desempenhado um papel fundamental no combate contra os drones, que se tornariam um dos principais flagelos das forças blindadas envolvidas naquele conflito. Assim além de prover proteção com esta nova ameaça, estes veículos a serviço do Exército Brasileiro, proporcionam uma razoável proteção contra helicópteros de ataque, sendo principalmente empregados como parte orgânica das Brigadas Blindadas, as Baterias Antiaéreas Autopropulsadas (Bia AAAe AP). Com estas brigadas sendo compostas por quatro Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe), menor Unidade de Emprego de Artilharia Antiaérea (AAAe), sendo constituídas cada uma dessas Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe) por quatro veículos Flakpanzer Gepard 1A2. Além de operarem junto as Brigadas de Artilharia Antiaérea, cada viatura individualmente é considerada como Unidade de Tiro (U Tir) com capacidade de, por seus próprios meios, detectar, acompanhar e destruir uma incursão inimiga, podendo ser empregada em operações estáticas ou em movimento, tais como em uma Marcha para o Combate, onde o Gepard 1A2 estará desdobrado no interior da coluna de blindados para prover a defesa antiaérea da tropa defendida. Em 2023 o Programa Estratégico do Exército Defesa Antiaérea passaria a focar seus esforços na recuperação capacidades já existentes, bem como obter novas capacidades de defesa antiaérea de baixa, média e grande alturas, modernizando as organizações militares de Artilharia Antiaérea da Força Terrestre. Assim durante um tempo os Gepard 1A2 operarão em conjunto com novos sistemas de defesa de média e grande altura que devem ser adquiridos nos próximos anos. 




