Desta maneira caberia ao Exército Brasileiro a destinação de grande parcela deste acordo, passando a ser fornecidos a partir de agosto de 1960, os primeiros cinquenta carros de combate médio M-41 Walker Buldog, dois veículos de socorro M-74 Sherman Recovery Vehicle e vinte viaturas blindadas de transporte de pessoal do modelo FMC M-59APC. Estes últimos apesar se tratar de veículos usados, se encontravam em excelente estado de conservação registrando baixa quilometragem de uso, pois se encontravam armazenados desde 1959 junto as instalações da Unidade do Corpo de Artilharia (Ordinance Corps Depot), no estado de Ohio. Os vinte carros blindados M-59 A1 APC destinado ao Exército Brasileiro seriam separados e então revisados localmente colocados em plenas condições de funcionamento, passando a ser preparados para transporte por via naval. Estes seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1960 juntamente com os primeiros carros de combate M-41 Walker Buldog. Já no país, estes carros seriam inspecionados e preparados para o estágio operacional e treinamento de seus operadores, sendo posteriormente transportados por via terrestre, e distribuídos em dezembro deste mesmo ano em proporções iguais, ao 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada (RecMec) e ao 16º Regimento de Cavalaria Mecanizada (RecMec) ambos baseados na cidade do Rio de Janeiro. Já em uso no Exército Brasileiro, estes blindados receberiam a designação oficial de VBTT - Veículo Blindado de Transporte de Tropas M-59. Nestas unidades operativas, estes veículos tiveram o importante papel de desenvolver a doutrina de emprego deste tipo de carros de transporte de tropas sob esteiras junto à forca blindada do Exército Brasileiro, operando em conjuntos com carros de combate como os M-41 Walker Buldog e M-3 Stuart. Nos primeiros exercícios conjuntos entre os VBTT M-59A1 e os M-41, confirmar-se-ia o ocorrido junto as operações no Exército do Estados Unidos (US Army), onde o M-59 não era capaz de acompanhar a dinamicidade dos M-41 no campo de batalha. Além disso eles apresentariam também grandes limitações em deslocamentos de média e grande distância no país, pois seu peso bruto excedia a capacidade da infraestrutura viária brasileira, como pontes, viadutos, estradas e principalmente pranchas ferroviárias. A soma destes fatores levaria o Ministério do Exército a declinar de mais ofertas para cessão de novos carros M-59A1 VBTT, como solução intermediaria seriam iniciados estudos prevendo o repotenciamento dos antigos carros meia lagarta White M-2 , M-3 e M-5, visando assim estender sua vida útil até a incorporação de um possível substituto.
Esta demanda logo seria atendida, pois a partir de 1965 dentro dos termos do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), seria negociada a cessão de mais de cinco centenas de veículos blindados de transporte de tropa FMC M-113A0 (modelo que fora desenvolvido nos Estados Unidos como substituto aos M-59). Esta grande quantidade a ser recebida permitiria prover um ciclo total de renovação dos meios em operação naquele momento permitindo desativar todos os M-2, M-3 e M-5 Half Track. Em 1969 a partir do momento que os M-113A0 APC atingiram seu status operacional pleno, tanto o 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada (RecMec) e ao 16º Regimento de Cavalaria Mecanizada (RecMec), passariam a ser equipados com este novo blindado. Nos anos vindouros o Exército Brasileiro vivenciou uma mobilidade nunca testemunhada na história, com os VBTT M-113 chegando a dotar mais de quinze unidades entre Regimentos de Carros de Combate (RCC) e Batalhões de Infantaria Blindada (BIB). Altamente robusto e de fácil manutenção, a frota destas viaturas sempre apresentava excelentes índices de disponibilidade operacional. Este positivo cenário, no entanto, iria começar a se alterar a partir do início do ano de 1977, quando os Estados Unidos passaram a ser presididos pela administração de Jimmy Carter, novas diretivas deste governo passariam a condicionar a continuidade dos programas de ajuda militar a averiguação da situação do Brasil no tocante aos direitos humanos. Esta decisão provocaria o desagravo do presidente Ernesto Geisel, que em carta oficial se manifestaria “O governo brasileiro recusa de antemão qualquer assistência no campo militar que dependa, direta ou indiretamente, de exame prévio, por órgãos de governo estrangeiro, de matérias, que, por sua natureza, são da exclusiva competência do governo brasileiro.” , Pressões políticas decorridas desta iniciativa levariam o governo brasileiro a decidir pelo rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos. Este evento determinaria a interrupção de toda financeira e linhas de abastecimentos de peças de reposição para os veículos militares em uso nas Forças Armadas Brasileiras. Isto afetaria diretamente a frota de VBTT M-113, resultando em curto espaço de tempo em altos índices de indisponibilidade, a este fator se somaria o atingimento do ápice da crise do petróleo, o que afetaria ainda mais a frota destes blindados, tendo em vista o alto consumo de seus motores a gasolina. A busca por uma solução viável geraria os primeiros estudos visando o repotenciamento destes blindados, com primeiro destes tendo origem em 1981 na empresa Biselli – Viaturas e equipamentos Industriais Ltda, prevendo a adaptação de um motor Iveco Diesel 150, o qual não produziu os resultados esperados pelo Exército Brasileiro, não trazendo no seu bojo um estudo mais apurado e que realmente fosse a solução.
Paralelamente estudava-se implementar um processo semelhante junto aos vinte VBTT M-59, processo este que despontaria como uma oportunidade para uma jovem empresa do interior do estado de São Paulo. Fundada em 1956 na cidade de Sorocaba, a Moto-Peças S.A. Transmissões e Engrenagens, teria seu foco inicial na nascente indústria automotiva nacional, passando de um mero fornecedor de peças de reposição, para a se tornar no final da década de 1970 na maior indústria brasileira de componentes de câmbios e diferenciais. Durante sua trajetória, no final da década de 1960 a empresa se aproximaria do Exército Brasileiro, principalmente por sua experiencia no segmento de componentes e veículos pesados. A primeira parceria nasceria do projeto de repotenciamento e remotorização de trinta tratores de artilharia M-4A1 High Speed Tractors fabricados pela Allis-Chalmers Company em 1943 e incorporados ao Exército Brasileiro a partir do ano de 1949. Este processo envolveria a troca da caixa de marchas, transmissão, motor (por Scania Diesel de 260 cv), esteiras, roletes e suspensão (os três últimos fornecidos pela Novatração S/A). Este programa obteria um grande êxito, com a empresa logo em seguida contratada para a o desenvolvimento e produção de caixas de marcha para a série de blindados X-1A2 Carcará, fabricados pela Bernardini S/A, estes carros de combate leves derivados da modernização dos modelos M-3 e M-3A1 Stuart recebidos pelo Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial. No início da década seguinte, em conjunto com o Centro de Tecnologia do Exército (CTEx), a empresa desenvolveria um programa de customização dos antigos carros de combate M-4 Sherman, convertendo-os em carros blindados para engenharia. Fazendo uso da plataforma original seriam acrescidos uma lâmina frontal (intercambiável com um caça-minas) e grua hidráulica com lança rebatível e capacidade de içamento de até 10 toneladas, sendo ainda capazes de rebocar viaturas de até 40 toneladas. Infelizmente após a produção de onze carros pré-série e testes de campo, o modelo acabaria não sendo adotado pela Força Terrestre. Apesar deste revés a empresa lograria êxito em conquistar a seguir um contrato para a remotorização da frota de setenta e dois obuseiros autopropulsados M-108. Estas constantes parcerias trariam grande notoriedade e respeito junto ao comando da Força Terrestre, com a Moto-Peças S.A. Transmissões e Engrenagens se tornando um dos principais expoentes da indústria de defesa nacional.
Apresentava um peso total de combate de dezoito toneladas (o dobro quase do M-113), podendo transportar em sua configuração básica três tripulantes e nove soldados totalmente equipados, podendo chegar ao total de vinte e dois infantes em uma configuração especial . O acesso podia se dar pela larga rampa traseira de acionamento hidráulico, por duas portas localizadas na rampa ou por duas escotilhas no teto; o carro dispunha de seis seteiras e três periscópios, um deles para visão noturna . Este protótipo estava equipado com a mesma torre presente no VBTP M-59 (retirada de um veiculo do Exército Brasileiro), que operava com acionamento hidráulico e automático, armada com uma metralhadora automática Browning M-2 calibre .50, que garantia plena segurança ao seu operador. De seu interior era possível disparar armas automáticas por quatro pequenas pequenas escotilhas (seteiras), por fim estava equipado com quatro lançadores de granadas fumígenas. O modelo designado como M-1 receberia o nome de "Charrua" (que na linguagem indígena significa ágil, robusto e com garra), sendo logo apresentado oficialmente ao Exército Brasileiro, passando em seguida, a ser submetido a um extenso programa de testes e avaliação de campo, realizado inicialmente no campo de provas da Motopeças S/A na cidade de Sorocaba e posteriormente no Campo de Provas da Marambaia (CPrM) no Rio de Janeiro. Em agosto de 1985 seria concluído e disponibilizado um segundo protótipo com diversas melhorias, ampliando assim o programa de testes. Neste estágio seriam apontadas inúmeras oportunidades de de refinamento do projeto, nascendo assim o modelo M-2 Charrua II, que apresentaria significativas diferenças em termos de desing. O Charrua I tinha um formato com linhas mais retas com grande semelhança com os VBTT M-113, com quebras ondas em formato de "V" com uma torre automática de metralhadora posicionada ao ao lado do motorista, que em ambos os casos fica no canto dianteiro esquerdo. Já o Charrua II dispunha de um desing mais anguloso e moderno, fazendo uso de um quebra ondas reto, com uma nova torre manual de armamento sendo agora posicionada atrás do motorista. A alteração do modelo de torre se daria pela limitação da quantidade disponível deste conjunto, que seria retirada da frota dos VBTT M-59, que neste momento já se encontram em processo de desativação junto ao Exército Brasileiro. Outra significativa mudança era a adoção de um motor mais potente, agora o Scania V8 Turbo Diesel DS-14 com 470 hp de potencia. Este modelo aprimorado passaria a ser avaliado também pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), acompanhando inicialmente o programa coordenado pelo Exército Brasileiro, e depois conduzindo individualmente um processo similar.
Em ambos os programas, o M-2 Charrua II apresentaria um excelente desempenho e grande mobilidade de manobras tanto na terra, exibindo capacidade de girar em torno do próprio eixo, capacidade conhecida como pivoteamento, como na água onde demonstraria grande agilidade oferecida pelo sistema de hidrojato. Mais dois protótipos seriam concluídos, um destes seria customizado para representar um viatura especializada para emprego em missões antiaéreas. Este veiculo receberia a instalação de um canhão Bofors de 40 mm montado em uma torre giratória Trinity apresentando elevação entre -10 e +80 graus, com carregador de 100 tiros e cadência de 330 por minuto. Seu sistema de detecção e engajamento e controle de fogo era feito através de sistemas eletrônicos, permitindo a identificação, calculo e engajamento de um alvo aéreo em cerca de dois segundos. Sua munição seria nacionalizada cabendo a FI Indústria e Comércio Ltda fluminense, a produção da munição e a espoleta de proximidade ficando a cargo da empresa Prólogo S/A Produtos Eletrônicos. Sua efetividade operacional deveria abater alvos até 6.000 metros de altura, especialmente aviões evadindo mísseis a baixa altitude e helicópteros. Além do protótipo funcional seriam apresentados projetos conceituais envolvendo o emprego de quatro canhões 25 mm numa torre Oto Melara ou quatro mísseis terra ar guiados por infravermelho Piranha. Este protótipo de veiculo blindado antiaéreo seria montado pela Moto Peças S/A em parceria com a CBV Indústria Mecânica S/A, sendo exposto em 1987 em uma feira militar na cidade de São José dos Campos. Apesar de promissor seu projeto não avançaria além da fase conceitual, e infelizmente o Exército Brasileiro somente incorporaria um veiculo especializado a este missão somente em 2013 com a adoção do sistema Gepard 1A2 Flakpanzer. Posteriormente este chassis seria empregado para o desenvolvimento da versão socorro que também não evoluiria, o mesmo ocorrendo com dos demais modelos planejados como ambulância, socorro, carro oficina, comunicações, radar, obuseiro 155 mm, lançador de mísseis e porta morteiros de 120 mm. O Charrua II permaneceu em testes até a primeira metade da década de 1990, apesar de seus dotes, o pais atravessava uma de suas maiores crises econômicas o que acarretaria em drásticos cortes no orçamento das Forças Armadas Brasileiras, levando ao cancelamento do programa. Neste contexto o Exército Brasileiro abandonaria o projeto de substituição da frota dos VBTP M-113, optando por processos paliativos de repotenciamento, o mesmo ocorrendo com o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN). Apenas um protótipo do modelo Charrua II ficaria sobre a guarda do Exército Brasileiro, sendo recuperado no ano de 2022 por uma equipe de mecânicos da 3ª Divisão de Exército, localizada em Santa Maria do estado do Rio Grande do Sul. 




