Vultee A-31 e A-35 Vengeance

História e Desenvolvimento.
A empresa Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, foi fundada no ano de 1932, nos Estados Unidos pelo projetista Gerard F. Vultee, um jovem engenheiro que já havia trabalhado com o visionário Jonh Northrop no desenvolvimento do Lockheed Vega, ganhando assim experiência necessária que lhe permitiria agora seguir seu próprio caminho mercado de aviação civil. O primeiro projeto desta nova empresa receberia a denominação de Vultee V-1, e fora concebido para competir no exclusivo segmento de transporte executivo. Tratava-se de um veloz monoplano, monomotor, todo metálico, com capacidade para transportar até oito passageiros. O programa de ensaios de voo mostrou-se ser extremamente promissor e ter inclusive registrado recorde de velocidade e autonomia, conquistando como primeiro cliente a empresa American Airlines com aquisição de quatorze aeronaves que passariam a ser empregadas em rotas domésticas. O segundo operador civil a empregar o modelo seria a empresa Bowen Airlines do Texas. Curiosamente sete aeronaves que antes pertenceram a American Airlines e outras oito células foram empregadas pelas Forças Republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), com quatro Vultee V-1 sendo capturados e operados também pelas Forças Nacionalistas Espanholas, apresentando assim uma nova faceta para qual o modelo nunca fora pensado inicialmente em seu projeto. Visando atingir um novo nicho de mercado, em 1935 a empresa, daria início ao desenvolvimento de uma versão militar do modelo V-1, apesar das restrições quanto a aeronaves monomotoras para emprego em bombardeio, a empresa resolveu dar sequência no projeto. Esta nova aeronave estava equipada com um motor Wrigth Cyclone SR 1830-F53, de 750 hp de potência, que conservava as excelentes características de desempenho vistas no modelo civil V-1. Basicamente o novo Vultee V-11 empregava o motor, estrutura das asas e o trem de pouso de seu antecessor, sendo as demais partes projetadas do zero, para a nova aeronave. Apresentava como principal missão ataque leve, bombardeio de mergulho (picado) e treinamento avançado. Apesar de não poder ser considerado um sucesso comercial, este modelo atenderia ao propósito de gerar experiência  (know how) para produção de aeronaves militares, ao todo foram fabricadas duzentas e vinte e cinco células para exportação atendendo China Nacionalista, Turquia, Brasil e União Soviética.

Em 1939, a Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division , atenta aos acontecimentos políticos e militares na Europa e no Oceano Pacífico, iniciaria estudos conceituais para o desenvolvimento de um novo bombardeiro leve de mergulho. Neste mesmo período, o governo francês, que  mantinha uma missão fixa nos Estados Unidos com a finalidade de adquirir material bélico de todos os tipos, buscava uma aeronave destinada a este tipo de missão, e  neste escopo uma consulta seria feita a esta empresa para a possível aquisição de aeronaves militares. Motivados por este fato, a diretoria da empresa decidiria pelo emprego de recursos próprios para o desenvolvimento do projeto de uma nova aeronave designada como Model 72 (V-72), que tinha como principal objetivo atender as demandas da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). A nova aeronave apresentava configuração monoplano monomotor de asa baixa, com um cockpit (cabine) fechado para dois tripulantes, e estava equipado com um motor radial motor Wright Twin Cyclone GR-2600-A5B-5, refrigerado a ar com potência de 1.600 hp. Estaria armado com seis metralhadoras Browning de calibre .30 (7,62 mm) dispostas nas asas e nas naceles traseiras, podendo ainda transportar até 680 kg de bombas em um compartimento de bombas interno (bombay) e em pontos fixos externos subalares. Seu perfil de voo foi concebido exclusivamente para mergulhar verticalmente sem o levantar da asa, puxando a aeronave para fora do alvo. Para isso, possuía um ângulo de incidência de 0° na asa para melhor alinhar o nariz da aeronave com o alvo durante o processo de mergulho. Os representantes da missão militar francesa demonstraram muito entusiasmo com o projeto, recomendando ao seu governo a aquisição da aeronave, gerando assim um acordo formal para a compra de trezentas células, com um cronograma de entrega das primeiras aeronaves previsto para o início de outubro de 1940. Infelizmente para a empresa norte-americana, a França capitularia perante as forças alemães em junho de 1940, e o contrato deixaria de existir.
Neste mesmo período, os britânicos impressionados com o desempenho dos bombardeiros de mergulho Junkers JU-87 Stuka da Força Aérea Alemã (Luftwaffe), buscavam agregar a Força Aérea Real (Royal Air Force) uma aeronave da mesma categoria. Cientes do desenvolvimento do modelo Vultee V-72 para os franceses, uma comitiva militar da Força Aérea Real (RAF) iniciaria negociações para aquisição de pelo menos duzentas aeronaves, com um contrato sendo celebrado em 3 de julho de 1940, com a opção ainda para posterior aquisição de mais cem células. A aeronave receberia a designação militar de A-31 Vengeance e apesar de se encontrar em estágio de produção, o comando militar britânico enviaria ao fabricante um pleito envolvendo diversas modificações e melhorias, que impactariam no cronograma original previsto no contrato. Esse quadro seria agravado com a implementação do programa emergencial de rearmamento das forças armadas norte-americanas, levando a alteração de prioridades na produção da Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, que voltariam suas atenções as demandas nacionais. Novas modificações seriam solicitadas pelo comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que resultaria na nova versão designada como Model A-35, que diferenciava do modelo exportação por contar com  a nova versão do motor Wright R-2600-13 Twin Cyclone com 1.700 hp de potência. O primeiro protótipo alçaria voo em 30 de março de 1941, e após um rápido programa de ensaios em voo seria liberado para produção em série. Como a planta fabril da empresa na cidade de Downey já estava comprometida na produção dos treinadores Vultee BT-13 Valiant, esta aeronave passaria a ocupar em regime de parceria as linhas de montagem da Stinson Aircraft Company em Nashville no Tennesse e Northrop Corporation em Hawthorne, Califórnia.

Caberia a Força Aérea Real (Royal Air Force) o batismo de fogo da aeronave, no entanto análises de ameaças possíveis apontavam que aeronave seria muito vulnerável a ação de caças alemães e italianos, optando então pelo veto de seu emprego nos teatros de operações da Europa e Mediterrâneo, com estas aeronaves sendo enviadas para a Birmânia a fim de serem empregadas em operações de bombardeio em apoio às tropas britânicas e indianas nas selvas.  As primeiras aeronaves britânicas foram distribuídas em outubro de 1942 aos grupos de ataque 82º e 110º, passando a realizar as primeiras missões em 19 de março de 1943.  Além destes grupos os Vultee A-31 Vengeance equipariam os esquadrões ingleses 84º e 45º e os 7º e 8º esquadrões da Força Aérea Indiana (IAF). Este modelo foi amplamente empregado em apoio a segunda campanha de Arakan de 1943 a 1944 e nas ações de defesa aos ataques japoneses a Imphal e Kohima, de abril a julho de 1944. Após este período, estas aeronaves começaram a ser gradativamente substituídos do front por aeronaves mais modernas de fabricação nacional, com as últimas missões dos Vultee A-31 Vengeance sendo realizadas em 16 de julho de 1944. Apesar de não estarem mais na linha de frente, dezenas de células foram modificadas para uso como rebocadores de alvos pulverizadores contra mosquitos da malária, usando dispensadores de spray sob as asas. A Força Aérea Real Australiana (RAAF) seria um dos maiores operadores da aeronave, tendo recebido quatrocentas aeronaves, com as primeiras células sendo recebidas em maio de 1942, sendo empregados nas primeiras missões reais durante a campanha da Ilha Selaru, nas Índias Orientais Holandesas. As aeronaves australianas foram retiradas da linha de frente nas unidades de bombardeio a partir de março de 1944, sendo substituídas pelo novos quadrimotores norte-americanos Consolidated B-24 Liberator.
As primeiras aeronaves recebidas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em 1942, pertenciam ao modelo Vultee A-31 Vengeance, sendo desviadas dos contratos anteriores de fornecimento a Força Aérea Real (Royal Air Force) sendo seguidos pelos  Vultee A-35. Estas aeronaves seriam destinadas aos Esquadrões de Bombardeio de Mergulho 55º, 56º, 57º, 88º, 309º, 311º, 312º, 623º, 628º, 62º, 630º e 631º, baseados principalmente no continente norte-americano. Apesar de não serem empregados em combate real pela aviação do Exército Americano (US Army), estas aeronaves seriam fundamentais na manutenção da operacionalidade dos pilotos. Posteriormente estes esquadrões seriam reequipados com bombardeiros bimotores North American B-25B e B-25D, extinguindo assim as tarefas de bombardeio de mergulho. Um grande número destes aviões seria ainda convertido para o emprego como rebocadores de alvos, e algumas aeronaves inglesas da versão Vengeance Mk IV foram cedidas a 8ª Força Aérea Americana na Europa para esta mesma finalidade. Nesta mesma época grande parte da frota receberia a designação de Vultee RA-35B (R de restrito), sendo alocados somente para fins de instrução em solo. A Força Aérea Francesa Livre (FAFL) receberia sessenta e sete aeronaves, chegando a equipar três grupos de bombardeio em operação no norte da África. Os franceses, no entanto, desejavam pôr a aeronave em operação o mais rápido possível, e assim sendo não aguardaram a implementação de programas de melhoria de projeto incorporadas nas aeronaves britânicas e australianas. Este lapso resultaria em uma operação não confiável com as células apresentando alto consumo de óleo e grande número de acidentes e falhas técnicas. Como tal, eles foram restritos a operações de treinamento, sendo finalmente retirados do serviço em setembro de 1944.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria a Europa, um contingente expedicionário para colaborar no esforço aliado no teatro europeu de operações. Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial continental e ultramar eficiente. 

Nesta primeira fase do envolvimento do país no conflito, cabia as aeronaves militares brasileiras apenas a realização de voo de presença ao longo do litoral, muitas em vezes em monomotores North American AT-6B e Vought V-65B Corsair. No que tange a aviação de caça,  a recém-criada Força Aérea Brasileira, era a arma que mais necessitava de modernização, pois seus caças de combate mais modernos, estavam representados pelos Boeings F-4B e P-12, que além estarem disponíveis em baixas quantidades, eram completamente obsoletos para aquele momento. Devido as demandas emergênciais na Europa e no Pacífico, este programa previa a implementação em fases, iniciando prioritariamente pelo fornecimento de aeronave de treinamento e conversão, visando assim formar um quadro de pilotos para o atendimento as demandas operacionais. Em seguida a aviação de patrulha seria priorizada com o intuito de fornecer a necessária cobertura aérea para o deslocamento dos comboios militares e civis em deslocamento pelas costas do país. Atendendo a esta prioridade inicial, a efetivação de missões de patrulha e guerra antissubmarino, fornecendo assim proteção para os comboios de navios cargueiros em deslocamento pelo mar territorial brasileiro. Neste estágio o treinamento e edificação das doutrinas operacionais foram aplicadas e supervisionadas por equipes militares norte-americanas. Além das doutrinas de patrulha e guerra antissubmarino seriam transmitidas aos pilotos brasileiros técnicas de bombardeio de queda livre de média altitude e bombardeio de mergulho. Em termos de aeronaves para esta missão seriam recebidas uma quantidade considerável de aeronaves Douglas A-20C Havoc e North American B-25 e B-55J Mitchel destinados a missões de bombardeio de saturação, já para o emprego em missões de bombardeio picado ou mergulho, os acordos previam o recebimento de aeronaves especializadas para este tipo de missão. Os contratos previam o recebimento emergencial de lote de vinte e oito células da versão Vultee A-31 Vengeance, que já estavam em fase final de produção e originalmente se destinavam a Força Aérea Real (Royal Air Force) e foram desviadas para ao atendimento das demandas brasileiras. Este processo possibilitaria que as células pudessem ser recebidas entre agosto e dezembro de 1942. 
Um segundo contrato previa ainda a cessão de mais cinquenta aeronaves, agora na versão mais recente denominada como Vultee A-35 Vengeance, com sua entrega sendo prevista no transcurso do ano de 1943. Porém este prazo não seria cumprido, principalmente devidos a atrasos de padronização de projeto e dos processos nas linhas de montagem do fabricante em sua planta fabril na cidade de Nashville no Tennesse.. Estabelecendo o cronograma americano as aeronaves seriam transladas por pilotos do 4º Ferry Group  (Grupo de Translado) ao Brasil, neste processo uma células seria perdida em uma operação de pouso forçado na cidade de San José na Guatemala. As vinte e sete células remanescentes após o recebimento, foram enviadas para a Base Aérea de Santa Cruz, a fim de serem incorporadas ao 2º Grupo do 1º Regimento de Aviação (RAV). A implementação do modelo foi facilitada neste esquadrão, pois a aeronave apresentava dóceis comandos e excelentes qualidades de voo, com a equipagens se qualificando rapidamente para a operação, podendo em um curto espaço de tempo estarem prontas a realizar missões de patrulha e acompanhamento de comboios ao largo dos litorais fluminense e paulista. Para o comprimento destas missões, além do armamento orgânico de autodefesa, os Vultee A-31 Vengeance eram configurados com uma carga de profundidade Mod. 1 de 325 libras, acomodada no compartimento de bombas, e duas bombas de emprego geral dos modelos AN-M43 de 500 libras ou AN-M30 de 100 libras em cabides subalares. Apesar de atenderem a contento as missões de patrulha, as aeronaves também sofreram as mesmas dificuldades com problemas do grupo motopropulsor, tanto em vista de falhas ou consumo excessivo de alto óleo, com estas deficiências sendo originadas no  ajuste dos anéis dos pistões dos motores. Como consequência, em voos mais longos existia o risco de o motor engripar por falta de óleo, outro problema se referia as bombas elétricas de combustível que periodicamente, apresentavam pane. Este cenário era agravado por dificuldade na obtenção de peças de reposiçao. A somatória destes fatores implicaria na disponibilidade da frota, e logo somente onze aeronaves se encontravam em condições de voo na Força Aérea Brasileira.

Em 17 de agosto de 1944 foi criado o 1º Grupo de Bombardeio (1ºGBP), com sede na Base Aérea de Santa Cruz, como consequência, os Vultee A-31 Vengeance do 2º Grupo (2ºGP),  bem como os  Vultee V-11-GB2 do 1º Grupo (1ºGP),   foram absorvidos por aquela unidade.  O mesmo decreto criaria também o 2º Grupo de Bombardeio (2ºGBP), com sede na Base Aérea de São Paulo. O planejamento original previa que o segundo grupo recebesse os novos Vultee A-35, os contratos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) previam a entrega de quarenta aeronaves durante o transcorrer do ano de 1943, porem estes planos foram frustrados por dificuldades técnicas  diversas, que afligiriam ao modelo, incluindo um novo problema de contaminação por ferrugem que atingiriam lotes inteiros de produção. Soluções seriam aplicadas, com o modelo sendo liberado para entrega, assim em meados do ano de 1944 o 4º Ferry Group (Grupo de Transporte) da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) seria convocado para iniciar o translado dos Vultee A-35B-VN destinados a Força Aérea Brasileira. Porém durante esta operação sete aeronaves foram vítimas de acidentes motivados por problemas técnicos, em 01 de dezembro de 1944 uma outra aeronave seria perdida em um acidente durante uma operação de pouso na Base Aérea de Santa Cruz no Rio de Janeiro. Consta que uma notificação técnica emitida pela fabricante em conjunto com o comando militar norte-americano, determinaria que todos os Vultee A-35B Vengeance em translado para o Brasil simplesmente parassem de voar, permanecendo onde quer que se encontrassem, e muitas células chegaram a apodrecer no Campo de Caravelas no estado da Bahia.
Quanto aos Vultee A-31 e A-35 remanescentes em operação na Força Aérea Brasileira, ficava claro que localmente seria impossível sanar as dificuldades técnicas apresentadas pelo fabricante face as restrições impostas pela Força Aérea do Exército Americano (USAAF), sendo praticamente impossível manter aberta uma linha de suprimentos entre aquele pais e o Brasil, garantindo assim a efetiva disponibilidade destas aeronaves. Assim o 2º Grupo de Bombardeio (2º GBP) jamais seria ativado, decidindo-se concentrar todos os Vultee A-31 e A-35 junto ao  1º Grupo de Bombardeio (1º GBP), porém este processo não seria concretizado, e no transcorrer de 1947, todas as células destas aeronaves  da versão A-31 seriam recolhidas ao Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PqAerSP), onde seriam desmontados e alienados para venda como sucata. Por sua vez os últimos  Vultee  A-35B seriam reclassificados como avião de instrução no solo e destinados ao acervo da Escola Técnica de Aviação (ETAv). Estes seriam complementados com um solitário Vultee RA-35B-VN, que fora recebido no terceiro trimestre de 1944, sendo então entregue a esta instituição para fins de instrução.

Em Escala.
Para representarmos o  Vultee A-31 Vengeance "FAB 6002" empregamos o novo kit da AZ Model na escala 1/48 do A-31, modelo este que apesar de raro, que peca em níveis de qualidade de acabamento e injeção, sendo necessário muito esmero na preparação e montagem. Para compormos o padrão de pintura empregado em 1944 recorremos decais pertencentes a diversos sets do fabricante FCM Decais.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pela Força Aérea Real (Royal Air Force), pois se tratavam de células destinadas a esta arma aérea,  que foram desviadas ainda na linha de produção para a Força Aérea Brasileira. Relatos  e fotos de época apontam que este esquema foi mantido até sua desativação.



Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr.
- História da Força Aérea Brasileira por :  Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Vultee Vegenence - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Vultee_A-31_Vengeance

Embraer A-29B Super Tucano

História e Desenvolvimento.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), constituída como sociedade de economia mista em 19 de agosto de 1969, foi estabelecida com o objetivo estratégico de desenvolver e produzir em série a primeira aeronave de transporte projetada integralmente no Brasil, o Embraer EMB-110, conhecido na versão civil como "Bandeirante" e na variante militar como C-95. A criação da Embraer ocorreu em um contexto de fortalecimento da indústria aeroespacial brasileira, impulsionado pelo governo federal, que buscava consolidar a soberania tecnológica e atender às necessidades de transporte aéreo em um país de dimensões continentais. A primeira unidade de produção seriada, registrada com a matrícula FAB 2133, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 9 de fevereiro de 1973, marcando o início de uma trajetória de sucesso no mercado de aviação regional. O EMB-110 Bandeirante destacou-se por sua versatilidade, robustez e capacidade de operação em pistas curtas, atendendo às demandas de transporte regional no Brasil e ganhando reconhecimento internacional. O êxito comercial do Bandeirante posicionou a Embraer como um ator relevante no cenário aeroespacial global, levando sua diretoria a buscar parcerias estratégicas com empresas estrangeiras para viabilizar a transferência de tecnologia e o desenvolvimento de novos projetos. Esse movimento culminou, em meados da década de 1970, na fabricação sob licença do treinador avançado EMB-326GB (AT-26 Xavante), em colaboração com a empresa italiana Aermacchi. Na década seguinte, a Embraer concentrou esforços no desenvolvimento do EMB-312 Tucano, um treinador básico revolucionário lançado em 1980. Projetado com um motor turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A-25C, o Tucano combinava características operacionais de aeronaves a jato, como manobrabilidade e resposta rápida, com a eficiência e o baixo custo de operação de um turboélice. Seu design inovador incluía uma cabine com visibilidade otimizada, controles ergonômicos e sistemas avançados para a época, estabelecendo novos padrões mundiais para aeronaves de treinamento básico. O sucesso do EMB-312 foi notável: adotado por 17 forças aéreas ao redor do mundo, com um total de 668 unidades entregues. Em 1984, a pedido da Força Aérea Real (Royal Air Force) do Reino Unido, a empresa desenvolveu uma versão customizada do Tucano, o EMB-312G1 Shorts Tucano, equipado com o motor Garrett TPE331-12B, que oferecia 300 hp adicionais em relação ao motor padrão. Produzido sob licença pela Short Brothers plc, na Irlanda do Norte, esse modelo superou as expectativas operacionais, demonstrando a capacidade da Embraer de adaptar seus produtos às exigências de clientes internacionais. Em 1990, a empresa desenvolveu a versão EMB-312H (Helicopter Killer), projetada para operações de treinamento avançado e ataque leve. Esse desenvolvimento coincidiu com a abertura do programa Sistema de Treinamento Primário de Aeronaves (JPATS), uma concorrência conjunta promovida pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para selecionar uma nova aeronave de treinamento primário. 

Com base na versão EMB-312H (Helicopter Killer) do treinador EMB-312 Tucano, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer) desenvolveu, no início da década de 1990, um protótipo otimizado para atender aos rigorosos requisitos do programa Sistema de Treinamento Primário de Aeronaves (JPATS), promovido conjuntamente pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). O protótipo incorporava avanços significativos, incluindo uma fuselagem frontal alongada para acomodar o motor Pratt & Whitney Canada PT6A-67R, com potência de 1.600 shp, um freio aerodinâmico ventral, um sistema autônomo de geração de oxigênio (OBOGS), cabine pressurizada e provisão para uso de trajes anti-G, garantindo maior segurança e desempenho em condições de treinamento avançado. Apesar do projeto inovador, em 1995, a Embraer foi superada na concorrência pelo Beechcraft T-6 Texan II, uma variante do treinador suíço Pilatus PC-9, produzido sob licença nos Estados Unidos pela Raytheon (atual RTX Corporation). A derrota no programa JPATS coincidiu com um período de transformações estruturais na Embraer. Em 1994, a empresa passou por um processo de privatização, concluído em dezembro daquele ano. Esse processo marcou uma reorientação estratégica, com a revisão de seu portfólio de produtos para focar em mercados de maior potencial comercial. Durante a década de 1990, a Embraer observou a descontinuação da produção do EMB-110 Bandeirante, cuja linha foi encerrada no início da década, e uma redução na fabricação do EMB-120 Brasília, devido à concorrência no mercado de aeronaves regionais. Em resposta, a empresa direcionou seus esforços para o desenvolvimento da família de jatos regionais ERJ-145, lançada em 1996, que se tornou um marco no segmento de aviação comercial, atendendo à crescente demanda por jatos regionais. Paralelamente, em 1993, uma nova oportunidade surgiu no mercado de defesa com a iniciativa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para centralizar a formação de pilotos militares no Canadá, por meio do programa Núcleo de Treinamento de Voo da OTAN no Canadá (NFTC – NATO Flight Training in Canada). Esse programa lançou uma concorrência internacional para a seleção de uma aeronave de treinamento turboélice. A Embraer apresentou uma proposta baseada no EMB-312H Tucano, adaptada para atender aos padrões exigidos pela OTAN. Contudo, assim como no programa JPATS, a aeronave brasileira foi superada pelo Beechcraft T-6 Texan II, consolidando a preferência internacional pelo modelo derivado do Pilatus PC-9. No contexto brasileiro, durante o mesmo período, o Ministério da Aeronáutica (MAer) avançava na implementação do Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia (SIPAM-SIVAM), um projeto ambicioso concebido para monitorar, fiscalizar e proteger o tráfego aéreo na região amazônica. Iniciado na década de 1990, o SIVAM foi formalmente instituído em 1993, com o objetivo de combater atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e a exploração ilegal de recursos naturais, além de fortalecer a soberania nacional em uma região estratégica.
O sistema integrava radares fixos, móveis e aerotransportados, apoiados por uma frota de aeronaves destinadas a realizar interceptações de alvos hostis ou ilegais. Inicialmente, essa função seria desempenhada por três esquadrões da Força Aérea Brasileira (FAB) equipados com aeronaves Embraer AT-27 Tucano. Assim para o atendimento desta demanda seriam estabelecidos parâmetros para o desenvolvimento de um vetor adequado a este perfil operacional, envolvendo grande autonomia e desempenho capaz de uma velocidade de cruzeiro equiparável à alguns jatos de ataque enquanto também fosse capaz de voar em baixas velocidades para escolta de pequenas aeronaves utilizadas para atividades ilegais. Deveria dispor ainda de uma moderna avionica digital e sistemas de comunicação compatíveis com a data link presentes nas aeronaves de sensoriamento remoto e alerta aéreo antecipado Embraer R-99A e R-99B. Em termos de sistema de armas deveria ser apta a operar uma série combinações de soluções ar solo com carga útil de até 1.500 kg, fazendo uso ainda de armamento orgânico composto por duas metralhadoras calibre .50 instaladas internamente nas asas.   Desse requerimento nasceria o projeto do Embraer 314 Super Tucano, aeronave baseada orginalmente nos estudos realizados no modelo Embraer EMB-312H para o atendimento do programa JPATS (Joint Primary Aircraft Training System. Com validação conceitual de um vetor de ataque otimizado para operação capaz de operar tanto de dia como a noite, em qualquer condição meteorológica (em ambientes de alta umidade), a partir de pistas curtas ou não preparadas e desprovidas de infraestrutura, seria assinado no dia 18 de agosto de 1995, um contrato no valor de US$ 50 milhões para a gestão do Programa ALX (Aeronave de Ataque Leve). Este acordo previa o desenvolvimento de duas versões, sendo uma monoplace dedicado a missões de ataque, reconhecimento armado, apoio aéreo aproximado e interceptação de baixo desempenho e outra biplace para tarefas de treinamento, controle aéreo avançado e ligação e observação. O primeiro protótipo do Embraer EMB-314 Super Tucano na configuração biplace com a designação de YAT-29 portando a matrícula FAB 5900, alçaria voo em 28 de junho de 1999, a partir das instalações da empresa na cidade de São José dos Campos no interior do estado de São Paulo.  A aeronave estava equipada com um motor turboélice Pratt & Whitney PT6A-68/3 de 1.600 SHP de potência, que operando em conjunto com uma hélice pentapá Hartzell, lhe proporcionaria uma  velocidade máxima de 590 km/h e um alcance de 2.855 km (com tanques externos), com uma autonomia máxima de 8,4 horas de voo. Neste aspecto o avião seria idealizado para atender a rígidos requisitos operacionais e logísticos exigidos pela Força Aérea Brasileira, devendo apresentar probabilidades de executar a missão em 98,5 % (mínimo); com falhas por cada 1.000 horas de voo: 150 (máximo); remoções do motor: uma a cada 4.000 horas de voo (máximo) e paradas do motor: uma a cada 40.000 horas de voo (máximo). Estes parâmetros deviam atender como norteadores do conceito logístico, possibilitando a operação na Amazônia brasileira com o mínimo de infraestrutura local. 

Para isso o projeto contemplava sistemas de abastecimento de combustível por pressão, gerador de oxigênio de bordo (OBOGS), capota do motor com painéis de acesso facilitado, indicador de situação horizontal (HSI), extensão do overhaul (revisão geral e reparos) do motor, extensão da vida útil da aeronave; conceito built in test (autoteste) para os equipamentos aviônicos; registro automático dos dados de voo e ar-condicionado para os tripulantes com ciclo automático. Ainda seriam assumidos para aeronave os seguintes parâmetros de carga de trabalho da manutenção: Taxa homem hora / hora de voo: 1,5 h (máximo); Tempo de pré-voo: 10 minutos (máximo); Tempo necessário para o pós-voo (final da jornada diária): inferior a 30 minutos. Em termos de avionica e eletrônica  digital embarcada a aeronaves apresentava um painel de comando composto por duas telas multifuncionais coloridas - CMFD (Colored Multi-Function Display), painel de entrada de dados à frente UFCP (Up-Front Control Panel), sistema HUD (head-up display), iluminação da cabina compatível com o emprego de equipamento de visão noturna NVG (Night Vision Goggles) e conjunto de navegação inercial integrado INS (Inertial Navigation System) - GPS (Global Positioning System). O emprego de um sistema de controle e comando do tipo HOTAS (Hands On Throttle and Sticks), que permitia ao piloto conduzir todas as fases de voo sem retirar as mãos dos comandos da aeronave, sensores para detecção passiva de alvos terrestres. Dispunha de equipamentos de comunicações de rádio com criptografia de enlace de dados, que possibilitava ainda o envio e o recebimento de dados entre aeronaves (compatível os novos Embraer R-99A e R-99B e jatos de ataque Northrop F-5EM Tiger II modernizados) e equipamentos em terra de última geração, operando em modo seguro. Poderia ainda receber um completo conjunto de sensores infravermelho de visão à frente - FLIR (Forward-Looking Infrared) além de oferecer compatibilidade com capacetes israelenses  do tipo HMD (Helmet Mounted Display) e pods de inteligência eletrônica e designadores de alvos por laser, infravermelho IR ou por  GPS. A cabine além de contar com para-brisa reforçado, assentos ejetáveis do tipo "zero-zero", apresentava ainda uma blindagem protetora da cabine composta  em kevlar (resistente a armas de calibre até 12,7 mm), com este nível de proteção podendo ser melhorado com a instalação de placas externas nesta localidade.  O Embraer A-29 Super Tucano  adotaria o inédito emprego em aeronaves modernas de armamento orgânico instalado  internamente nas asas, sendo composto por duas FN Herstal MP-3 calibre 12,7 mm. Poderia ainda transportar até 1.550 kg de carga útil dispostos em cinco estações (quatro subalares e uma ventral), divididos em uma variada gama de armamentos, incluindo mísseis ar-ar guiados a infravermelho (como o nacional Mectron MAA-1 Piranha), lançadores de foguetes não-guiados e bombas explosivas ou incendiárias (burras ou inteligentes), além de tanques externos de combustível. O primeiro voo do ALX Super Tucano ocorreria em 2 de junho de 1999 a partir dar instalações da empresa na cidade de Sao José dos Campos no interior do estado de São Paulo, com o protótipo monoposto YA-29 - matrícula FAB 5700. O segundo protótipo agora  o bisposto, o YAT-29 - matrícula FAB 5900 realizaria seu primeiro voo em  22 de outubro de 1999. 
Após entrar em serviço ativo na Força Aérea Brasileira no ano de 2004, e apresentar excelentes resultados operacionais, uma campanha de marketing seria formatada pelo fabricante, com a aeronave passando a frequentar os mais importantes salões aeronáuticos internacionais. Desta maneira o Embraer EMB-314 A-29 Super Tucano, passaria a despertar a atenção de outros países que buscavam não só um treinador avançado, mas também uma aeronave especializada em missões de contra insurgência (COIN). Seu primeiro contrato de exportação seria celebrado com a Colômbia em 2006, no valor de US$ 234 milhões envolvendo a aquisição de vinte e cinco aeronaves e completo programa de treinamento e assistência técnica. A seguir seriam negociadas doze células para a Força Aérea do Chile (FACH), com mais aeronaves sendo negociadas com os governos do Equador, Angola, Burkina Faso, Mauritânia Indonésia, República Dominicana, Honduras, Líbano, Filipinas,  Gana, Mali, Senegal, Estados Unidos Nigéria, Turquemenistão, Paraguai e Uruguai. O batismo de fogo da aeronave se daria em 18 de janeiro de 2007, quando um esquadrão Força Aérea Colombiana (FAC) lançaria a primeira missão de combate de seu tipo, atacando as posições das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Escondidos na selva amazônica um contingente destes insurgentes seriam atacados com bombas norte-americanas MK-82, empregando o sistema de pontaria CCIP (Continuamente Computed Impact Point). A esta missão se seguiram outras mais com o mesmo nível de êxito operacional, que assim construiriam internacionalmente a excelente reputação da aeronave. Em 2011, o Super Tucano seria declarado o vencedor de uma concorrência deflagrada pela  Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) para o programa da Light Air Support, destinado a selecionar uma  nova aeronave leve de contra insurgência, ataque ao solo e reconhecimento. Porém no ano seguinte este contrato seria cancelado mediante demanda jurídica impetrada pela  Hawker Beechcraft  em favor de seu modelo AT-6B Texan II. O contrato com o consórcio firmado pela Embraer S/A e Sierra Nevada seria retomando em fevereiro de 2013 , resultando em uma encomenda inicial de 20 aeronaves que seriam cedidas a Força Aérea Afegã.  As primeiras quatro aeronaves chegaram no Aeroporto Internacional de Cabul em 15 de janeiro de 2016, e a partir do ano seguinte seriam empenhadas na luta contra as forças do Talibã, executando  mais de duas mil surtidas aéreas, a uma média de quarenta por semana.  Em 2022 a frota mundial de aeronaves A-29 Super Tucano alcançou a marca de 500 mil horas de voo dentre as quais  60 mil horas em combate, totalizando mais de 260 unidades entregues. Representando de  fato, é a única plataforma turboélice de ataque leve, reconhecimento e treinamento avançado atualmente em produção com atuação comprovada em combate em conflitos ao redor do mundo.”

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em 18 de agosto de 1995, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer) celebrou um contrato com o governo brasileiro para o desenvolvimento do Embraer EMB-314, conhecido como A-29 Super Tucano, destinado a atender às necessidades operacionais do Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia (SIPAM-SIVAM). Este contrato previa a aquisição inicial de 76 aeronaves, com a opção de mais 23 unidades, divididas em duas versões: o A-29A, configuração monoposto otimizada para missões de ataque leve, reconhecimento armado, apoio aéreo aproximado e interceptação de aeronaves de baixo desempenho; e o A-29B, versão biposto, que, além das capacidades do monoposto, seria utilizado para treinamento, controle aéreo avançado, ligação e observação. O programa SIPAM-SIVAM, concebido na década de 1990 e formalmente instituído em 1993, visava fortalecer a vigilância e a proteção da região amazônica, combatendo atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e a exploração ilegal de recursos naturais. O A-29 Super Tucano foi projetado para atuar como o "braço armado" desse sistema, suprindo a lacuna identificada nas operações iniciais do SIPAM-SIVAM, nas quais os Embraer AT-27 Tucano, armados com casulos de metralhadoras, demonstraram limitações para cumprir plenamente os requisitos de interceptação e ataque leve na região. Além disso, o A-29 Super Tucano foi desenvolvido com a missão secundária de substituir os jatos Embraer AT-26 Xavante, utilizados desde a década de 1970 no Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC) pela Força Aérea Brasileira (FAB). Com sua vida útil próxima do fim, os Xavantes, de tecnologia analógica, já não atendiam às exigências de treinamento moderno. O Super Tucano, equipado com aviônica digital de última geração, representou um salto tecnológico significativo, integrando sistemas avançados, como telas multifuncionais, navegação por GPS e capacidade para operações noturnas, tornando-o ideal tanto para treinamento quanto para missões operacionais. O desenvolvimento do A-29 Super Tucano seguiu um cronograma rigoroso. O primeiro protótipo, designado YAT-29, com matrícula FAB 5900, concluiu seus ensaios em voo no início de 2004, recebendo a homologação final do Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) e a liberação para produção em série. A introdução do Super Tucano na FAB foi liderada pelo 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Joker, sediado em Natal, Rio Grande do Norte, designado como a unidade precursora para a incorporação das versões A-29A e A-29B. Em março de 2004, um grupo seleto de pilotos e mecânicos foi enviado à fábrica da Embraer em São José dos Campos, São Paulo, para participar de um programa intensivo de treinamento de instrutores e multiplicadores, concluído em junho do mesmo ano. A primeira aeronave incorporada ao serviço ativo foi o protótipo A-29B, matrícula FAB 5900, seguida por quatro unidades do modelo A-29A nas semanas subsequentes.

A transição para o A-29 Super Tucano no Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC) marcou uma revolução no treinamento de pilotos da FAB. A substituição gradual dos obsoletos AT-26 Xavante por uma aeronave com aviônica digital representou um avanço significativo, permitindo a formação de pilotos em um ambiente mais próximo das tecnologias empregadas em caças modernos. Além disso, o Esquadrão Joker assumiu a responsabilidade de desenvolver a doutrina operacional do Super Tucano para missões de ataque e interceptação, consolidando sua versatilidade e eficácia. A chegada da nova aeronave permitiu uma mudança significativa no processo de instrução dos novos pilotos de caça, uma vez que a análise de dados, antes e após o voo, passou a ser uma  grande aliada dos alunos e instrutores. “A facilidade de planejar as missões de navegação e ataque permitiriam atingir níveis cada vez mais altos de precisão na execução". Após o voo, as estações de debriefing detalhavam e registravam os erros e acertos em cada manobra, auxiliando assim os pilotos no seu desenvolvimento.  Neste momento estes militares passariam a ter contato intimo com todo o pacote de eletrônica digital embarcada, que era composto principalmente por um sistema de transmissão e recepção de dados via data link fornecido pelo rádio Rohde & Schwartz M3AR (Série 6000) dotado de proteção eletrônica das comunicações, como salto, criptografia e compressão de frequências. Através desse sistema de data link o A-29 Super Tucano podia receber dados do radar do Embraer R-99A permitindo uma maior consciência situacional além enviar em tempo real imagens que forem captadas pelo seu sistema FLIR (Forward Looking Infrared) modelo AN/AAQ-22 Safire, permitindo assim um maior patamar de sincronia para operações conjuntas com outras unidades aéreas ou em solo. Além disso estes treinadores avançados ainda estavam equipados com sistemas de  alerta de radar RWR (Radar warning receiver) e alerta de aproximação de míssil MAWS (missile approach warning system), equipamentos estes presentes nas aeronaves de primeira linha como os Northrop F-5EM  Tiger II e Embraer Internacional A-1M AMX.  Desta maneira os aviadores militares já seriam  formados neste novo ambiente digital, facilitando e reduzindo em  muito o tempo e custos no processo de adaptação, permitindo que após a conclusão desta formação já pudessem ser destacados a operar nas unidades de primeira linha da aviação de combate da Força Aérea Brasileira. Outra importante ferramenta presente nos A-29 Super Tucano era representada pela possibilidade de  integração com óculos de visão noturna NVG ANVIS-9 da ITT garantindo uma total capacidade de operações noturnas ou com baixa visibilidade com segurança, algo completamente impossível de se sonhar com os antigos AT-26 Xavante. Todos esses sistemas eram controlados de uma cabine especialmente feita para facilitar a vida do piloto, podendo ser considerada, também a mais moderna cabine de uma aeronave turboélice em serviço atualmente. 
Neste momento seriam desenvolvidos também a doutrinas e o  processo de implantação do vetor como o braço armado do programa SIPAM - SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), com estas aeronaves passando a dotar o 1º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Escorpião”, 2º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Grifo” e 3º/3º Grupo de Aviação – Esquadrão “Flecha”, substituindo assim os Embraer AT-27 Tucano. O primeiro lote contratado junto a Embraer S/A, compreendia 76 aeronaves, sendo 51 A-29B bipostos e 25 A-29A monopostos que foram  distribuídos ao 2º/5º Grupo de Aviação - Esquadrão Joker, 1º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Escorpião, 2º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Grifo e 3º/3º Grupo de Aviação - Esquadrão Flecha. A versão monoposto receberia um tanque de combustível suplementar no lugar reservado ao segundo tripulante, aumentando assim seu raio de açao. Sua excelente performance no emprego operacional levaria o comando da Força Aérea Brasileira no ano de 2005 a exercer a opção contratual para a aquisição de mais 25 células, dispostas em 15 A-29B e 8 A-29A, com a última aeronave sendo recebida em maio do ano de 2009. Em uso na Força Aérea Brasileira seriam empregados uma variada gama de armas, se destando com emprego ar solo, bombas MK-81 de 119 kg, bombas MK-82 de 227 kg, ou ainda casulos de foguetes de 70 mm Avibras SBAT-70 com dezenove foguetes. O emprego deste armamento seria suportado com o  apoio e informações de navegação de monitoramento do alvo, incluindo aqui o ponto de impacto continuamente monitorado (CCIP) e o ponto de lançamento continuamente computado (CCRP), o que aumentaria, substancialmente a precisão do lançamento das armas. Estas aeronaves ainda poderiam fazer uso de  pods designadores de alvos para o emprego de bombas guiadas a laser GBU-12 Paveway II. Para o emprego em missões ar-ar principalmente nas regiões cobertas pelo sistema  SIPAM - SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), as aeronaves fariam uso de suas duas a duas metralhadoras FN Herstal M-3P calibre .50 (12,7 mm) com uma capacidade de 200 cartuchos e uma cadência de tiro na ordem de 1.100 tiros por minuto, ideais para o emprego contra aeronaves de baixa potencia empregada frequentemente em voos ilícitos. Apesar do A-29 Super Tucano ser integrado para o uso de    de misseis ar-ar Piranha guiado por  infravermelho IR, de fabricação nacional, esta opção não seria adotada para uso regular. Para autodefesa além dos sistemas de alerta RWR e MAWS já citados anteriormente a aeronave dispunha de lançadores de iscas tipo chaff e flares para despistar mísseis guiados a radar e a calor (IR). Nesses dezenove anos de operação junto a Força Aérea Brasileira, o Embraer A-29 Super Tucano se fez presente em diversas operações de defesa do espaço aéreo, como nos grandes eventos ocorridos no Brasil, entre eles a Jornada Mundial da Juventude, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos Rio 2016.  

O Embraer A-29 Super Tucano, consolidou-se como um vetor essencial nas operações de defesa aérea e policiamento do espaço aéreo brasileiro, especialmente nas regiões de fronteira, como a Amazônia e o Pantanal. Essas áreas, marcadas por vastas extensões territoriais, são frequentemente utilizadas por traficantes de drogas e contrabandistas, que operam aeronaves ilícitas para atividades criminosas. Nesse contexto, os esquadrões do 3º Grupo de Aviação, sediados estrategicamente, desempenham um papel crucial na aplicação da "Lei do Tiro de Destruição", instituída pela Lei nº 9.614, de 17 de outubro de 2004, que regulamenta os procedimentos para interceptação e, em última instância, abate de aeronaves classificadas como hostis no espaço aéreo brasileiro. As operações de interceptação realizadas pelos A-29 Super Tucano são frequentemente coordenadas em conjunto com a Polícia Federal e apoiadas por sistemas de vigilância do Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia (SIPAM-SIVAM), instituído em 1993 para monitorar e proteger a região amazônica. Essas missões envolvem o uso de radares terrestres e de aeronaves Embraer R-99A (AEW&C – Alerta Aéreo Antecipado e Controle), que fornecem informações em tempo real para vetoração dos Super Tucanos. Quando uma aeronave suspeita é detectada, os pilotos do A-29 seguem um protocolo rigoroso: inicialmente, ordenam a mudança de rota e o pouso obrigatório em um aeródromo designado. Caso a aeronave não cumpra as ordens, são efetuados disparos de aviso com munição traçante. Se a recusa persistir e a aeronave for classificada como hostil, aplicam-se os procedimentos de tiro de detenção, forçando-a a realizar um pouso de emergência. Após o pouso, a Polícia Federal assume as Medidas de Controle de Solo (MCS), conduzindo buscas, apreensões e prisões. A primeira ação real no âmbito dessas operações ocorreu em 3 de junho de 2009, na região de Alta Floresta D’Oeste, Rondônia. Duas aeronaves A-29A Super Tucano, vetoradas por um Embraer E-99, interceptaram um Cessna U206G pilotado por narcotraficantes. Após esgotados os procedimentos legais, incluindo comunicações para mudança de rota e pouso, os pilotos do A-29 dispararam uma rajada de munição traçante com suas metralhadoras de 12,7 mm, paralela à trajetória do Cessna, como tiro de aviso. A ação forçou a aeronave a direcionar-se ao aeroporto de Cacoal, Rondônia, mas o piloto optou por realizar um pouso antecipado em Izidrolândia, distrito de Alta Floresta D’Oeste. A Polícia Federal, ao inspecionar a aeronave, encontrou 176 kg de pasta base de cocaína pura, com potencial para produzir quase uma tonelada de cocaína refinada. Os dois ocupantes foram presos em Pimenta Bueno, Rondônia, após tentativa de fuga. Essa operação marcou o primeiro uso da Lei do Abate no combate a aeronaves ilícitas, demonstrando a eficácia do A-29 Super Tucano em missões de defesa aérea. Desde então, o A-29 Super Tucano tem desempenhado um papel central em diversas operações de interceptação, resultando em abates reais de aeronaves ilícitas, prisões de criminosos e apreensões significativas de drogas, armas e contrabando. 
Após mais de duas décadas de serviço, durante as quais demonstrou elevado desempenho em operações como as do Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia (SIPAM-SIVAM) e no Curso de Formação de Pilotos de Caça (CFPC), a frota remanescente composta por  68 aeronaves A-29A (monoposto) e A-29B (biposto) começou a demandar atualizações para manter sua relevância operacional e tecnológica. Nesse contexto, em 7 de maio de 2024, a FAB formalizou um acordo com a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer) para a implementação de um programa de modernização de meia-vida (MLU, do inglês Mid-Life Upgrade) de toda a frota de A-29 Super Tucano, visando incorporar tecnologias de ponta e prolongar a vida útil das aeronaves. Os estudos iniciais para essa modernização foram anunciados durante a 54ª edição do Paris Air Show, realizado em junho de 2023, em Le Bourget, França. A Embraer, em colaboração com a FAB, delineou um programa abrangente com o objetivo de integrar um sistema de aviônica de quinta geração, caracterizado por maior escalabilidade e modularidade. O pacote de modernização contempla a atualização dos sistemas de navegação e comunicação, a expansão do leque de armamentos disponíveis, a modernização dos sensores de vigilância e a melhoria dos sistemas de autoproteção. Além disso, o programa foi estruturado em dois pacotes distintos: um mais robusto, voltado para os esquadrões operacionais dedicados a missões de ataque leve, vigilância aérea, interdição e contrainsurgência, e outro simplificado, destinado às aeronaves utilizadas no treinamento de pilotos de caça, como as do 2º/5º Grupo de Aviação – Esquadrão Joker, em Natal, Rio Grande do Norte. Entre as principais inovações propostas, destaca-se a renovação completa do cockpit, com a instalação do Wide Area Display (WAD), um Head-up Display (HUD) e um Helmet Mounted Display (HMD), este último desenvolvido localmente pela AEL Sistemas, empresa brasileira que também fornece tecnologias para o programa F-39 Gripen da FAB. Esses sistemas visam melhorar a interface homem-máquina, proporcionando maior consciência situacional aos pilotos. Os sistemas de comunicação serão atualizados com a possibilidade de integração de um link de dados de alta velocidade, essencial para operações em ambientes de rede centrada. A capacidade de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) será aprimorada com sensores modernizados, enquanto os sistemas de autodefesa serão reforçados com a instalação de dispensadores de chaff e flare, aumentando a proteção contra ameaças. No que tange à capacidade de armamentos, o programa prevê a expansão do arsenal de armas guiadas disponíveis para o A-29, incluindo munições de precisão ar-terra e, potencialmente, mísseis ar-ar, ampliando a versatilidade da aeronave em cenários de combate. Para as unidades destinadas ao treinamento, o Super Tucano modernizado poderá incorporar um pacote de treinamento sintético semelhante ao utilizado pelos A-29 operados pelas forças aéreas do Chile e do Equador. Esse sistema permite a simulação de radar, guerra eletrônica, mísseis ar-ar e ar-terra, entre outras capacidades, possibilitando o treinamento de táticas de combate modernas e complexas a um custo operacional significativamente reduzido.

Em Escala.
Para representarmos o A-29B " FAB 5920" fizemos uso do kit em resina da GIIC na escala 1/48, modelo este de fácil montagem que ainda permite ao modelista a possibilidade de expor detalhes como o motor Pratt & Whitney Canada PTC-6A de 1600 hp ou o cofre de armas das metralhadoras FN Herstal M-3P calibre .50, introduzimos no modelo o sensor de FLIR alocado confeccionado em scratch próximo ao trem de pouso dianteiro, sendo a peça confeccionada em scratch. Empregamos decais fabricados pela FCM Decais presentes no set 48/07.

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado por todas as aeronaves de combate da Força Aérea Brasileira a partir de fins da década de 1990, apresentando as marcações em baixa visibilidade.


Bibliografia :

- Embraer EMB-314 Super Tucano - Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Embraer_EMB-314_Super_Tucano
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Invader na FAB , Claudio Lucchesi e José R. Mendonça  - Revista Asas  nº 10
- O Braço Armado do Sivam - Por Silvio Potengy - Revista Força Aérea Nº 27
- Fechando a Porteira - Visitando o 3º/3º Gav - Por Roberto Klanin - Revista Força Aérea Nº 50

A-26B Douglas Invader

História e Desenvolvimento.
A Douglas Aircraft Company foi fundada em 22 de julho de 1921 por Donald Wills Douglas, em Santa Monica, Califórnia, após a dissolução da Davis-Douglas Company. Desde sua criação, a empresa buscou estabelecer-se como uma referência na aviação, combinando inovação técnica com visão estratégica. Um dos primeiros marcos de sua trajetória ocorreu em 1923, com a participação no programa World Flight, uma iniciativa ambiciosa do Serviço Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USASS) para realizar a primeira circum-navegação aérea do planeta. Para atender a essa demanda, a Douglas desenvolveu o Douglas World Cruiser (DWC), uma versão modificada do bombardeiro biplano Douglas DT, projetada pelo jovem engenheiro Jack Northrop, que marcava sua estreia como um dos principais talentos da empresa. Quatro aeronaves DWC foram encomendadas, com a última entregue em 11 de março de 1924. Apesar de desafios logísticos e acidentes durante a jornada, que começou em 6 de abril de 1924 e terminou em 28 de setembro do mesmo ano, o World Flight foi um sucesso, com duas das quatro aeronaves completando a volta ao mundo. Esse feito histórico, que cobriu aproximadamente 43.500 quilômetros em 175 dias, consolidou a reputação da Douglas, que adotou o lema First Around the World (Primeira Volta ao Mundo), reforçando sua posição como líder na aviação norte-americana. Nos anos seguintes, a Douglas Aircraft Company concentrou-se na produção de aeronaves militares, especializando-se em bombardeiros-torpedeiros para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Modelos como o T2D e o XT3D, desenvolvidos na década de 1920, atenderam às necessidades da US Navy para operações marítimas, destacando-se por sua robustez e confiabilidade. No final da década, a empresa expandiu seu portfólio para incluir aviões anfíbios, como o Douglas Dolphin, e mudou suas instalações para Clover Field, em Santa Monica, Califórnia, um local estratégico para testes e produção. Na década de 1930, a Douglas diversificou sua produção, desenvolvendo uma ampla gama de aeronaves, incluindo bombardeiros leves e médios, caças, transportes, aeronaves de reconhecimento e modelos experimentais. Em 1934, a empresa lançou o Douglas DC-2, um avião comercial bimotor que marcou sua entrada no mercado de transporte civil, ganhando reconhecimento por sua eficiência e segurança. Contudo, o maior sucesso veio em 1936 com o Douglas DC-3, uma aeronave de transporte que revolucionou a aviação comercial e militar. Sua versão militar, o C-47 Skytrain (conhecido como Dakota pelas forças britânicas), tornou-se um ícone da Segunda Guerra Mundial, utilizado em operações como o desembarque da Normandia em 1944 e o transporte de suprimentos na campanha do Pacífico. Com mais de 16.000 unidades produzidas, o DC-3/C-47 é amplamente considerado o avião de transporte mais significativo da história, devido à sua versatilidade, durabilidade e impacto global. O sucesso do DC-3 proporcionou à Douglas os recursos financeiros e a confiança para explorar novos nichos na aviação militar. No final da década de 1930, a empresa voltou sua atenção para o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade, capaz de transportar uma carga significativa de bombas e ágil o suficiente para evitar interceptações inimigas. Esse projeto, liderado pelos engenheiros Donald Douglas, Jack Northrop e Ed Heinemann, foi iniciado em 1936 e resultou no conceito do Model 7A, apresentado no primeiro trimestre de 1937. 

Em 1938, o Model 7A deu lugar ao Model 7B, um projeto mais ambicioso que incorporava os requisitos do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) para uma concorrência lançada visando o desenvolvimento de uma aeronave de bombardeio médio de alta velocidade. O protótipo do Douglas Model 7B realizou seu primeiro voo em 26 de outubro de 1938, nas instalações da Douglas Aircraft Company, em Santa Monica, Califórnia. Apesar de suas especificações promissoras, o Model 7B não foi selecionado, sendo preterido em função do North American B-25 Mitchell, que entraria em serviço em 1941. No entanto, o destino do Model 7B mudou com o agravamento das tensões globais após a Crise de Munique, em setembro de 1938, neste contexto países como a França, iniciaram programas acelerados de reaparelhamento de suas forças aéreas, buscando adquirir aeronaves modernas nos Estados Unidos. Em junho de 1939, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) procederia a aquisição de 63 aeronaves Douglas DB-7 que receberiam a designação militar de A-20. Este modelo estava equipado com dois motores Wright R-2600-7 e eram similares aos DB-7B britânicos, destas 60 aeronaves seriam convertidas em caças noturnos, Douglas P-70, equipadas com o novo radar AI Mk. IV britânico e com quatro canhões de 20 mm sob o ventre. A encomenda inicial francesa de 100 aeronaves, posteriormente ampliada para 270, marcou o início da transformação do Model 7B no Douglas DB-7, uma aeronave que se tornaria um dos principais bombardeiros leves da Segunda Guerra Mundial. A queda da França em junho de 1940, limitou a entrega dos Douglas DB-7, com as células restantes sendo adquiridas pela Força Aérea Real Britânica (RAF). Os DB-7 foram redesignados como Boston I e Boston II, tornando-se peças-chave em operações no Norte da África, Europa e Mediterrâneo. Seguiu-se então o Douglas A-20A, dotado de motores Wright R-2600-3, similar ao Boston III britânico; o A-20B, incorporando os motores Wright R-2600-11 e equipado com metralhadores Browning 12,7mm no nariz e para o metralhador, aproximadamente 665 dos quais foram enviados à União Soviética através do Acordo “Lend-Lease”; o A-20C utilizava motores Wright R-2600-23 e tinha tanques autoselantes e melhor blindagem – encomendado pelos britânicos, a grande maioria acabou sendo utilizado pelos soviéticos e alguns foram transferidos para o  Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) após o ataque a Pearl Harbor. Apesar dos bons resultados operacionais a partir do início do ano de 1942 vislumbraria-se a necessidade em se desenvolver a curto prazo, um substituto mais moderno e capaz para o A-20 . Este projeto seria conduzido pela genial e habilidosa equipe de projetos da empresa liderada pelos engenheiros Edward H. Heinemann, Robert Donovan e  Ted. Robert. Smith.  Seu primeiro protótipo designado como XA-26, alçaria voo em 10 de julho de 1942 a partir da base aérea de Mines Field, na cidade El Segundo na California, sendo logo conduzido a um extenso programa de ensaios em voo. Apesar de apresentar um bom perfil operacional, a aeronave seria severamente avaliada pelo corpo técnico da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), que elencou uma série de alteração e especificações, com sua totalidade baseada na configuração de armamento ofensivo e defensivo. Estas demandas viriam a estender significativamente o cronograma de desenvolvimento da aeronave, levando a aprovação de uma configuração final somente no início de 1944. Seu batismo de fogo ocorreria no teatro de operações na Europa, em julho do de 1944, quando aeronaves A-26 Invaders pertencentes ao 553° Esquadrão de Bombardeiros (Bomb Squadron) baseado na Inglaterra, atacaram alvos alemães na França ocupada.
Apesar dos elogios iniciais de suas tripulações quanto ao desempenho, alguns problemas de projeto, como fragilidade das pernas do trem de pouso e problemas no sistema de refrigeração dos motores, passariam constantemente a afligir a frota, reduzindo em muitas suas surtidas operacionais de combate. Já no teatro de operações do Pacífico, inicialmente o modelo encontraria forte resistência a sua implantação, muito em virtude de as tripulações estarem muito bem entrosadas com a operação dos veteranos Douglas A-20 Havoc.  O processo de convencimento seria árduo, porém enfim, o Douglas A-26 Invader  já dispostos nas versões mais aprimoradas, acabaria por ser aceito integralmente por todas a unidades aéreas pertencentes a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), naquele teatro de operações, tendo participado das mais importantes batalhas do conflito.  Originalmente conforme proposta conceitual, o Douglas A-26 Invader seria desenvolvido em duas configurações distintas, com a primeira sendo designada como A-26B destinada a ataque a solo, que seria dotado  com um nariz sólido, prevendo a instalação de diversas combinações de armamentos fazendo uso de metralhadoras M-2 Browning calibre .50 e canhões de 20 mm, com suas configurações mais distintas recebendo os codinomes de "six-gun nose" ou "eight-gun nose (seis ou oito armas no nariz). A segunda versão designada como A-26C, teria aplicação específica para missões de bombardeio de queda livre em média altitude, e para isto dispunha do nariz transparente em plexiglass, equipado com as sofisticadas miras Norden. Inicialmente para autodefesa, seriam instaladas duas metralhadoras M-2 Browning calibre .50 fixadas no nariz na fuselagem, a exemplo dos Douglas A-20 Havoc, posteriormente a partir de 1570° célula produzida esta configuração original de armas, passariam a ser substituídas por seis metralhadoras do mesmo modelo, que seriam alojadas internamente nas asas. Sua excelente capacidade de transporte de carga útil como bombas e foguetes não guiados de até 1.814 kg , aliada ao seu eficiente sistema de autodefesa, manobrabilidade e comando dóceis, reuniria nos Douglas A-26 Invader, qualidades especiais que estavam separados em diversos modelos de aeronaves de ataque e caça. Além do piloto, a tripulação era composta por um navegador que também executava as tarefas de carregador de munição das armas frontais, um terceiro assento estava localizado no compartimento traseiro e tinha por função a operação de controlar remotamente as torretas elétricas de metralhadoras dorsal e ventral.  Um feito extraordinário do Douglas A-26 Invader ocorreu nos céus da Europa em 1945, durante os estertores da Segunda Guerra Mundial. Pilotado pelo Major Myron L. Durkee, do 386º Esquadrão de Bombardeiros da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), um Douglas A-26 envolveu-se em um confronto singular contra um grupo de jatos Messerschmitt Me-262 Schwalbe, da Luftwaffe. Durante o retorno de uma missão, a aeronave enfrentou esses caças a jato alemães, que representavam o ápice da tecnologia aeronáutica da época, com velocidades e manobrabilidade superiores às de aeronaves a pistão. Apesar dessa disparidade tecnológica, o A-26 demonstrou notável eficácia ao alvejar gravemente um dos Me-262, se configurando como um possível crédito por abate. Em 1944, a Douglas Aircraft Company recebeu substanciais contratos para a produção do A-26 Invader, refletindo a confiança da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF), em sua capacidade de cumprir missões de ataque e reconhecimento. Contudo, com a iminência do fim da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano reavaliou suas necessidades estratégicas. Em meados de 1945, antecipando a vitória aliada, os contratos foram revisados, resultando na entrega de aproximadamente 2.400 células até agosto daquele ano. 

Diferentemente da maioria das aeronaves a pistão, que foram rapidamente desativadas ou destinadas a reservas após a guerra, o Douglas A-26 Invader destacou-se por sua longevidade. Suas versões de ataque (A-26B e A-26C) e de reconhecimento (RB-26C) continuaram em serviço ativo, operadas por unidades da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) estacionadas na Europa ocupada e no Japão, onde desempenharam papéis vitais em missões de patrulha, vigilância e apoio logístico durante o período de reconstrução pós-guerra. A eclosão da Guerra da Coreia, em junho de 1950, marcou um novo capítulo na história do A-26 Invader. As unidades do 3º Grupo de Bombardeiros, baseadas no sul do Japão, foram das primeiras a entrar em ação, conduzindo missões sobre a Coreia do Sul nos dias 27 e 28 de junho de 1950. Essas operações precederam a primeira missão de bombardeio norte-americana na Coreia do Norte, realizada em 29 de junho, quando um campo de aviação próximo a Pyongyang foi alvo de um ataque.  Durante este conflito, o Douglas A-26 demonstrou sua eficácia devastadora, sendo responsável pela destruição de aproximadamente 38.000 veículos, 406 locomotivas, 3.000 composições ferroviárias e sete aeronaves inimigas em solo. Suas missões noturnas de interdição, que visavam interromper linhas de suprimento norte-coreanas, tornaram-se particularmente temidas, destacando a capacidade do A-26  Invader de operar em condições desafiadoras. Além das versões de ataque, variantes especializadas, como os WB-26 e RB-26, pertencentes à 67ª Ala de Reconhecimento Tático, desempenharam papéis cruciais em missões de observação e reconhecimento climático. Essas operações forneceram informações vitais para o planejamento de ataques aéreos, garantindo maior precisão e eficácia nas campanhas militares. A Guerra da Coreia representou um marco na transição da aviação militar, com a introdução gradual de jatos como o F-86 Sabre e o MiG-15, que desafiavam a supremacia das aeronaves a pistão. Apesar disso, o A-26, com seus motores radiais Pratt & Whitney R-2800 Double Wasp, manteve sua relevância devido à sua capacidade de operar em baixa altitude e em missões noturnas, onde jatos ainda enfrentavam limitações. Com o término deste conflito, uma significativa parcela da frota foi classificada como "excedente de guerra", passando a serem transferidas para as unidades de Guarda Aérea Nacional (National Guard), onde seriam empregadas em tarefas de treinando, sendo posteriormente armazenadas.  Neste mesmo período, o intensificar das tensões da Guerra Fria, os Estados Unidos implementaram programas de assistência militar, como o Mutual Defense Assistance Act  e o Mutual Security Program, para fortalecer nações aliadas contra a expansão soviética. Desta maneira dispondo ainda de uma relativa quantidade de células em bom estado de conservação, seria decidido que o Douglas A-26 Invader passaria a ser ativo a ser destinado a estes programas. As primeiras aeronaves seriam cedidas a França, onde seriam inclusive empregadas na Guerra da Indochina (1946-1954) contra o Viet Minh. Na sequencia seriam disponibilizadas mais células para Colômbia, Chile, Brasil, República Dominicana, Guatemala, Indonésia, Laos, Nicarágua, Peru, Portugal, Arábia Saudita e Turquia. Nestas nações os Douglas A-26 Invaders seriam operados em missões  de segurança interna e contra insurgência, com destaque para as aeronaves portuguesas extremamente utilizadas nas guerras coloniais na África.
Na década de 1960, o A-26 Invader foi selecionado pela CIA para missões especiais devido à sua robustez, capacidade de operar em ambientes austeros e flexibilidade para adaptações. Em 1961, no contexto da Guerra Fria e da crescente tensão com Cuba após a Revolução de 1959, vinte células do A-26 foram secretamente transferidas para uma base na Guatemala. Lá, exilados cubanos, apoiados pelos Estados Unidos, foram treinados para a tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 15 de abril de 1961. Apesar do fracasso da operação, que não conseguiu derrubar o regime de Fidel Castro, o uso do A-26 demonstrou sua adequação para operações de ataque a solo em cenários de guerra não convencional, refletindo a confiança da CIA em sua capacidade de apoiar missões clandestinas. Posteriormente, a CIA empregou uma pequena frota de A-26 modernizados na Crise do Congo (1960-1965), um conflito marcado por instabilidade política e a rebelião Simba. Tripulados por pilotos mercenários, muitos dos quais eram veteranos das operações em Cuba, esses A-26 realizaram ataques a solo contra forças rebeldes, ajudando a estabilizar regiões controladas por facções pró-ocidentais. As missões no Congo, conduzidas em condições desafiadoras de terreno e logística, destacaram a resiliência da aeronave e a bravura de suas tripulações, que operavam sob pressão em um ambiente de guerra irregular. O capítulo final das operações da CIA com o A-26 ocorreu na Tailândia, onde células operadas por militares norte-americanos apoiaram o governo do Laos na luta contra a guerrilha comunista Pathet Lao, durante os anos 1960.  Durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), o A-26 foi revitalizado com a introdução da variante A-26K Counter-Invader, uma versão significativamente modernizada projetada para atender às demandas de missões noturnas de interdição e supressão. Estas aeronaves estavam equipadas com motores Pratt & Whitney R-2800 Double Wasp mais potentes e hélices atualizadas, que aumentavam a performance e a confiabilidade,  tanques suplementares nas pontas das asas, que estendiam o alcance e a autonomia para operações prolongadas. E por fim inclusão de sistemas avançados, como o FLIR (Forward-Looking Infrared) para visão noturna, permitindo maior precisão em missões noturnas. O A-26K foi amplamente empregado na campanha contra a Trilha Ho Chi Minh, uma rede de rotas de suprimento usada pelas forças norte vietnamitas. Operando em missões noturnas, o Counter-Invader atacava comboios, depósitos e posições inimigas, dificultando a logística do Vietnã do Norte. O 609º Esquadrão de Operações Especiais, baseado na Tailândia, foi responsável por mais de 7.000 missões de combate, totalizando 19.762,7 horas de voo ao longo de dois anos.  O A-26K Counter-Invader marcou a última fase operacional do A-26, sendo retirado do serviço ativo pela USAF no final de 1969. Essa desativação representou um marco histórico, pois o A-26 foi a última aeronave de ataque oriunda da Segunda Guerra Mundial a permanecer em operação na Força Aérea dos Estados Unidos. Sua longevidade reflete não apenas a qualidade do projeto original da Douglas Aircraft Company, mas também a capacidade de adaptação da aeronave às demandas de conflitos modernos, desde operações clandestinas até guerras de alta intensidade.

Emprego na Força Aérea Brasileira
No final da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB) emergiu como uma potência aérea regional, consolidando-se como a maior força aérea do hemisfério sul e a segunda mais significativa das Américas. Com um inventário de mais de 1.500 aeronaves modernas, adquiridas majoritariamente a partir de 1942 por meio do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), a Força Aérea Brasileira (FAB) contava com um arsenal diversificado, incluindo caças-bombardeiros de primeira linha como o Republic P-47D Thunderbolt e o Curtiss P-40 Warhawk, além de aeronaves de ataque como o Douglas A-20 Havoc e o North American B-25 Mitchell.Esta combinação de aeronaves de combate combinada com modelos de transporte e patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), tornavam está a segunda maior força aérea das Américas, e a maior arma aérea do hemisfério sul do planeta. Este periodo seria marcado por intensas transformações geopolíticas, com os Estados Unidos buscando expandir sua influência no hemisfério ocidental por meio da política de "Boa Vizinhança". Instituída ainda na década de 1930, sob a presidência de Franklin D. Roosevelt, essa política ganhou novo ímpeto na Guerra Fria, com o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) promovendo programas de assistência militar e econômica para nações emergentes, especialmente na América Latina. Esses esforços visavam conter a influência soviética e fortalecer laços estratégicos com países aliados, garantindo estabilidade regional e cooperação militar. Neste momento seria apresentada ao governo brasileiro, uma oferta vantajosa, em excelentes condições para de cessão de aeronaves de diversas modelos, entre estes se encontravam várias células das versões do Douglas A-26 Invader. Contudo, o Ministério da Aeronáutica (MAer) inicialmente rejeitou a proposta, argumentando que a frota existente de North American B-25B e B-25J Mitchell atendia satisfatoriamente às demandas operacionais de ataque. Essa decisão refletia a confiança na capacidade da frota de B-25, que havia sido amplamente utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em missões de treinamento e patrulha desde o período da guerra. A rejeição inicial do A-26 foi desafiada por mudanças rápidas no cenário operacional da Força Aérea Brasileira (FAB). Em 1956, o programa de suporte norte-americano para os B-25 Mitchell foi encerrado, uma decisão impulsionada pela descontinuação da produção dessas aeronaves desde meados da década de 1940 e pela consequente extinção dos estoques estratégicos de peças de reposição. O desgaste natural das células, agravado por anos de uso intensivo, resultou em índices preocupantes de disponibilidade da frota, comprometendo a prontidão operacional. Esse cenário exigiu uma resposta urgente para garantir a continuidade das capacidades de bombardeio e ataque da força aérea. Diante dessa crise logística, o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou estudos para a aquisição de um novo vetor de ataque. A ambição era incorporar uma aeronave moderna, movida a jato, que pudesse posicionar o Brasil na vanguarda tecnológica da aviação militar.

Nesse contexto, o bombardeiro britânico English Electric Canberra, nas variantes B.8 e T.4, despontava como a escolha ideal, especialmente por já estar em operação na Força Aérea Argentina, o que demonstrava sua adequação às condições regionais. Contudo, as restrições orçamentárias do Brasil na década de 1950 inviabilizaram a aquisição de uma aeronave tão avançada e custosa, forçando o comando da Força Aérea Brasileira (FAB) a reconsiderar opções mais acessíveis. Desta maneira o governo brasileiro faria uma nova consulta ao Departamento de Estado do Governo Norte Americano (Department of Defense - DoD) , visando verificar opções para o atendimento desta demanda. Assim dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP), seria apresentada uma proposta de fornecimento em condições extremamente vantajosas de um lote envolvendo vinte e oito células de aeronaves dispostas nos modelos Douglas B-26B e B-26C Invader, com poucas horas de voo que se encontravam armazenadas. Além disso este programa envolveria a disponibilidade de suporte logístico por meio dos programas de assistência militar que  garantia a manutenção e operação das células transferidas Em janeiro de 1957, uma comitiva de oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) deslocou-se à Base Aérea de Davis-Monthan, localizada em Tucson, Arizona, unidade destinada ao  armazenamento e preservação de aeronaves excedentes, incluindo células do A-26 Invader. A missão dos oficiais brasileiros era minuciosamente avaliar e selecionar as aeronaves em melhores condições de conservação, uma tarefa que exigia expertise técnica e um compromisso com a modernização da FAB. Cada célula foi inspecionada para garantir que pudesse ser restaurada e adaptada às necessidades operacionais brasileiras, refletindo o cuidado e a dedicação dos militares envolvidos. As aeronaves selecionadas foram transladadas por pilotos norte-americanos para as instalações da Fairchild ASD Corporation, localizadas em St. Augustine, Flórida, e Hagerstown, Maryland. Nessas instalações, as células passaram por uma revisão estrutural completa, um processo que incluía inspeções detalhadas, reparos e atualizações para assegurar sua prontidão operacional.  As primeiras células do Douglas B-26 Invader chegaram ao Brasil em setembro de 1957, marcando o início de um processo de incorporação que se estendeu até fevereiro de 1958. Ao todo, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu 24 aeronaves, divididas em seis voos de translado, todos conduzidos com precisão por pilotos norte-americanos. Dessas, 14 pertenciam à variante B-26B, equipada com um formidável arsenal orgânico composto por seis metralhadoras Browning M-2 calibre .50 (12,7 mm) montadas no nariz e duas metralhadoras do mesmo modelo instaladas em uma torreta elétrica dorsal. Notavelmente, as células brasileiras não incluíam a torreta ventral, uma característica comum em outras versões do A-26, refletindo adaptações específicas para as missões previstas pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Ao chegarem ao Brasil, os Douglas B-26B/C Invaders ostentavam um acabamento em metal natural, com as naceles dos motores   pintadas de preto fosco, bem como um painel anti-brilho à frente da cabine de pilotagem, com seu leme pintado com as cores verde e amarela.  Essas aeronaves, predominantemente da variante B-26B, equipada com seis metralhadoras Browning M-2 calibre .50 no nariz e duas em uma torreta elétrica dorsal, foram distribuídas aos 1º e 2º Esquadrões do 5º Grupo de Aviação (GAv), sediados na Base Aérea de Natal. O 1º/5º GAv, conhecido como Esquadrão Rumba, assumiu a responsabilidade principal pelas missões de ataque e bombardeio, enquanto o 2º/5º GAv, apelidado Esquadrão Joker, focava na transição de pilotos para aeronaves multimotoras e no treinamento operacional. As missões do B-26B e B-26C Invaders incluíam patrulhas em regiões de fronteira, exercícios de ataque a solo e treinamento de novas gerações de aviadores, refletindo o compromisso da Força Aérea Brasileira (FAB) em manter sua prontidão operacional em um período de tensões globais marcadas pela Guerra Fria.  Apesar de seu potencial a operação dos B-26B e B-26C revelou-se desafiadora. Desde o início foram apontadas  dificuldades com a manutenção preventiva e a obtenção de peças de reposição, problemas agravados pela interrupção do suporte logístico norte-americano para os B-25 Mitchell, que precederam o B-26. As aeronaves cedidas a Força Aérea Brasileira, em sua maioria foram produzidas entre os anos de 1944 e 1945, e no início da segunda metade da década de 1960, estas aeronaves já mostravam sinais de desgaste operacional. Em maio de 1963 devido a este cenário, o modelo deixaria de ser utilizado em tarefas de treinamento, sendo substituídos nesta missão por aeronaves Beechcraft H-18S (TC-45T), incorporadas ao 2º/5º Grupo de Aviação - Esquadrão Joker. As aeronaves remanescentes seriam concentradas no 1º/5º Grupo de Aviação (GAv)  - Esquadrão Rumba, e passariam a desempenhar exclusivamente missões de ataque e bombardeio, sendo subordinado ao Comando Aerotático Terrestre. Neste período a maioria das células em uso ao redor do mundo começavam a exibir  e sinais significativos de desgaste operacional. O perfil agressivo das missões, que incluíam voos em baixa altitude e manobras intensas, levou ao estresse estrutural, com rachaduras nas longarinas das asas sendo identificadas. Essas falhas estruturais representavam um risco à segurança das tripulações e à continuidade das operações, exigindo uma resposta urgente. No âmbito do Military Assistance Program (MAP), foi proposto o projeto “Wing Spar”, que visava substituir as longarinas das asas dos B-26 operados por forças aéreas latino-americanas, incluindo as do Brasil. Desenvolvido para restaurar a integridade estrutural das aeronaves, o programa era uma iniciativa crucial para prolongar a vida útil do B-26. 

Curiosamente, a Força Aérea Brasileira (FAB) optou por não aderir ao projeto, uma decisão que pode ter sido influenciada por limitações orçamentárias, priorização de recursos ou avaliações internas que apontavam para soluções alternativas. Seguindo em uso, o agressivo perfil operacional no qual estas aeronaves eram empregadas logo levariam ao estresse estrutural, com várias células apresentando rachaduras nas longarinas das asas, com esta anomalia sendo identificada pela primeira vez em um B-26 durante o ano 1966. De forma a corrigir este problema e recuperar a capacidade operacional destas aeronaves, seriam conduzidas conversações com a empresa  Hamilton Aircraft Company,  uma empresa norte-americana especializada em manutenção e modernização de aeronaves. ssas conversações, conduzidas com o objetivo de revitalizar a frota de B-26, culminaram na celebração de um contrato abrangente em meados da década de 1960. O programa contratado incluía  Reparos Estruturais: Revisão e reforço das longarinas das asas, bem como reparos em outros componentes críticos, para corrigir danos causados pelo estresse estrutural. Modernização de Sistemas: Atualização dos aviônicos e sistemas de comunicação, melhorando a eficiência e a segurança das operações. Modificações no Canopi: Atualização da cabine para proporcionar maior conforto e visibilidade às tripulações. Reconfiguração do Armamento: Remoção da torreta elétrica dorsal, simplificando a configuração da aeronave e reduzindo seu peso, enquanto as seis metralhadoras Browning M-2 calibre .50 no nariz eram mantidas como armamento principal. Para participar do programa, seriam selecionadas cuidadosamente 16 células em melhores condições de conservação, sendo 12 da variante B-26B e 4 da variante B-26C.  Estas aeronaves seriam transladadas em voo por tripulações brasileiras para as instalações da empresa na cidade de Tucson no estado do Arizona em junho de 1967. Após serem entregues, seriam detalhadamente inspecionadas por técnicos da Hamilton Aircraft Company,  que acabariam por reprovar uma das células, por apresentar excessiva corrosão estrutural, sendo imediatamente substituída por uma aeronave obtida localmente. Outros três aviões foram adquiridos a fim de substituírem aeronaves que haviam sido perdidas durante operação no Brasil.   As aeronaves revitalizadas emergiram com uma nova estética, refletindo tanto sua renovação técnica quanto o orgulho nacional. A metade superior da fuselagem, incluindo as naceles dos motores, foi pintada em um verde médio brilhante, enquanto a metade inferior recebeu uma tonalidade de cinza médio. Na deriva, um retângulo nas cores verde e amarela, inspirado na bandeira brasileira. As primeiras quatro células do B-26B retornaram ao Brasil em 7 de setembro de 1968, uma data simbólica que coincidiu com as celebrações do Dia da Independência. Essas aeronaves foram reincorporadas ao 1º/5º Grupo de Aviação (GAv) – Esquadrão Rumba, baseado na Base Aérea de Natal, onde retomaram missões de ataque e bombardeio. A partir de 1970, as aeronaves revitalizadas foram progressivamente redesignadas na Força Aérea Brasileira (FAB)  como A-26B e A-26C, alinhando-se à nomenclatura original do fabricante, um sinal do esforço para padronizar e modernizar a frota. 
Um capítulo peculiar na história do B-26 na Força Aérea Brasileira (FAB) ocorreu em 1970, quando uma célula adicional foi incorporada à frota de forma inesperada. Essa aeronave, configurada para uso civil como transporte de carga, foi apreendida pela Polícia Federal devido a seu envolvimento em atividades de contrabando e tráfico de drogas. Após avaliação, foi decidido integrá-la ao seu inventário, designando-a como Douglas CB-26B e atribuindo-lhe a matrícula FAB 5176. Em 1971, nove Douglas A-26 Invader  seriam transferidos para o 1º/10º Grupo de Aviação (GAv) – Esquadrão Poker, então sediado na Base Aérea de São Paulo (BASP), substituindo os veteranos Douglas A-20K Havok, tornando-se assim a terceira unidade brasileira a fazer uso desta aeronave, a empregando em missões de ataque, reconhecimento fotográfico, esclarecimento marítimo e COIN (contra-inssurreição) seriam realizadas por aquela unidade. Essas tarefas eram particularmente relevantes no contexto da década de 1970, quando o Brasil enfrentava tensões internas, como movimentos guerrilheiros, e buscava proteger suas extensas fronteiras e litoral. A versatilidade do A-26 permitiu que o Esquadrão Poker desempenhasse um papel estratégico, combinando operações ofensivas com missões de vigilância.  Apesar da carreira do modelo estar se aproximando do fim, aparentemente os Douglas A-26 Invader da Força Aérea Brasileira, participariam de algumas ações de combate real entre os anos de 1972 a 1973, quando foram empregados em missões secretas de COIN (contra-inssurreição) e reconhecimento fotográfico. Passando a ser operadas no leque de ações militares contra os movimentos de luta armada protagonizados pelas lideranças do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na região do Araguaia no Centro Oeste do País.  Incursões frequentes estas que seriam cercadas de grande sigilo naquele conturbado período. Apesar da correção estrutural realizada em 1967 nos Estados Unidos, já no ano de 1972 seriam novamente detectadas rachaduras nas longarinas das asas em algumas destas aeronaves, com estas sendo recolhidas para averiguação. Assim em meados de 1974, apenas doze exemplares encontravam-se em condições de voo, e neste contexto estas aeronaves seriam preparadas para gradualmente deixar o serviço ativo. Este processo seria concluído em 3 de setembro de 1975, durante uma singela solenidade militar na Base Aérea de Cumbica, com o pouso do Douglas A-26C FAB 5159 representando o fim da era de bombardeiro na Força Aérea Brasileira (FAB). Ao todo seriam operados no pais trinta e duas aeronaves, operando por vinte e oito anos, encerrando sua carreira cumprindo missoes de aerofogrametria. Algumas células seriam preservadas, com destaque para o “FAB 5159” (U.S. BuNo 41-39288), originalmente um  Douglas B-26C , que atualmente compõe o acervo do  Museu Aeroespacial (Musal) no Rio de Janeiro.

Em Escala.
Para representar o Douglas A-26B Invader FAB 5159, foi utilizado o kit da Revell na escala 1/48, que reutiliza os moldes clássicos da Monogram. Embora o kit seja detalhado e fiel ao design original do A-26, ele apresenta um desafio técnico comum aos moldes mais antigos: as linhas de painel em alto relevo, que contrastam com os padrões modernos de modelismo que favorecem linhas em baixo relevo para maior realismo.  Para recriar a configuração modernizada é necessário remover as torretas de metralhadora dorsal e ventral. Fizemos uso de decais produzidos pela FCM Decals presentes no antigo Set 48/03.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o  segundo padrão de pintura tático adotado pelas aeronaves Douglas A-26B e A-26C, sendo implementado após o programa de revitalização. Este apresentava a metade superior da fuselagem e naceles dos motores: Pintadas em um verde médio brilhante, correspondente ao FS 24090 (Medium Green). Essa tonalidade proporcionava camuflagem em voos sobre áreas florestais, comuns nas regiões de fronteira brasileiras, e conferia um acabamento vibrante que destacava a renovação das aeronaves. Metade Inferior da Fuselagem: Revestida em cinza médio, correspondente ao FS 36322 , ideal para minimizar a visibilidade em voos de baixa altitude e em missões noturnas, aumentando a proteção contra detecção por forças inimigas.

Bibliografia :
- Douglas A-26 Invader , Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Douglas_A-26_Invader
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Invader na FAB , Claudio Lucchesi e José R. Mendonça  - Revista Asas  nº 10
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html