Mercedes-Benz Série 1418 (VTNE - VTE)


História e Desenvolvimento. 
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz desenvolveram, de forma concomitante, os primeiros automóveis motorizados funcionais do mundo. O pioneirismo desses inventores resultou em outras conquistas notáveis, como a criação do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e do primeiro caminhão movido a diesel. Em abril de 1900, foi introduzido o motor "Daimler-Mercedes", um grupo propulsor que revolucionou a produção em série de automóveis comerciais devido à sua simplicidade, eficácia e baixo custo de produção e aquisição. Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa desempenhou um papel significativo no esforço de guerra alemão, fabricando uma ampla gama de produtos, incluindo veículos, componentes diversos e motores de aviação. Após o término do conflito, a economia alemã enfrentou severas dificuldades, marcadas por altas taxas de inflação e desemprego, que comprometeram a renda da população. Esse cenário impactou diretamente as vendas, especialmente de bens de luxo como automóveis de passageiros, exercendo forte pressão sobre a indústria automotiva alemã. Apenas marcas consolidadas, respaldadas por empresas financeiramente robustas, conseguiram sobreviver a esse período de instabilidade, enquanto muitas outras foram compelidas a formar cooperativas ou a se submeter a processos de fusão. Nos anos subsequentes, a produção automotiva recuperou-se de forma gradual. Buscando superar os desafios econômicos, as empresas Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) e Benz & Cie decidiram unir forças em um acordo de administração conjunta e cooperação tecnológica. Esse compromisso, firmado entre seus acionistas e estipulado para vigorar até o ano 2000, previa a padronização de design, produção, compras, vendas e publicidade, com os modelos de automóveis sendo comercializados em conjunto, embora preservando as respectivas marcas originais. Pouco tempo depois, essa integração culminou na formação de uma identidade industrial e comercial única, dando origem à Daimler-Benz AG. O logotipo da empresa, a icônica estrela de três pontas, foi concebido por Gottlieb Daimler. Cada ponta simbolizava um elemento — ar, terra e mar —, representando a versatilidade dos motores desenvolvidos pela companhia, que se adaptavam aos três modais de transporte. Em meados da década de 1930, as vendas da Daimler-Benz AG foram significativamente impulsionadas por encomendas governamentais vinculadas ao ambicioso programa de rearmamento da Alemanha Nazista.  O portfólio original da empresa, até então centrado em automóveis e caminhões, foi ampliado para incluir a produção de motores aeronáuticos - navais, embarcações de pequeno porte, aeronaves e diversos componentes mecânicos, consolidando a montadora alemã como um fornecedor estratégico da máquina de guerra nazista. 

Ao término da Segunda Guerra Mundial, suas plantas industriais se encontravam inoperantes devido os incessantes bombardeios aliados, e logo seriam reconstruídas em cooperação com ingleses e norte-americanos, em um esforço para a recuperação econômica do país. Este movimento seria replicado em toda a infraestrutura alemã através do Plano Marshal a partir 1947, demandando neste contexto um grande mercado de veículos utilitários de todos os portes a serem empregados neste programa. Neste cenário a Daimler-Benz vislumbraria uma oportunidade única de mercado, e passaria a concentrar grande parte de seus recursos e esforços no segmento de caminhões de pequeno e médio porte. A empresa optaria por fazer uso de projeto desenvolvidos originalmente durante a década de 1930, que iriam obter grande sucesso comercial não só na Alemanha, mas também em toda a Europa, resultando em uma grande econômico para a montadora. Contudo, foi somente em meados da década de 1950 que a Daimler-Benz lançou um produto especificamente projetado para atender às demandas daquele mercado no momento de reconstrução da Alemanha: o Mercedes-Benz MB L-319. O MB L-319 foi projetado com uma cabine avançada (cab-over-engine, ou COE), um conceito que maximizava o espaço para carga útil sem aumentar o comprimento total do chassi ou a distância entre eixos. Essa configuração permitia maior manobrabilidade em áreas urbanas e eficiência no transporte de mercadorias. O MB L-319 era oferecido em diversas configurações, incluindo caminhões de carga, furgões, chassis para ônibus e veículos especializados, o que o tornava extremamente versátil. O sucesso do MB L-319 no mercado Europeu deu origem à família de caminhões LP (Lastkraftwagen-Pulmann), que incluía modelos derivados com capacidades e configurações variadas, como: LP-315,  LP-321,  LP-326. LP-329 e  LP-331. A família Lastkraftwagen-Pulmann consolidou a reputação da Mercedes-Benz por produzir veículos duráveis e eficientes. Nesse período, a diretoria da Daimler-Benz AG começou a delinear os primeiros planos para um programa de expansão internacional, identificando novos mercados potenciais. Entre esses, o mercado sul-americano foi considerado estratégico, com o Brasil sendo selecionado como o ponto de partida para essa iniciativa. O objetivo era estabelecer uma linha de produção de caminhões e, futuramente, chassis para ônibus, aproveitando o crescimento econômico do país. Dois anos depois, em outubro de 1953, foi fundada a Mercedes-Benz do Brasil S.A., seguida pelo início da construção de uma planta industrial em São Bernardo do Campo. Enquanto a fábrica era erguida, a montadora dedicou-se ao desenvolvimento de um projeto de nacionalização de seus motores diesel. Em dezembro de 1955, na presença de Juscelino Kubitschek, então presidente eleito, foi realizada, nas instalações da Sofunge - Sociedade Técnica de Fundições Gerais S/A, a fundição dos primeiros blocos de motor diesel da América Latina.
Em janeiro de 1956, a Mercedes-Benz do Brasil marcou um capítulo decisivo na história da indústria automotiva nacional com o início da usinagem dos primeiros blocos de motores diesel. Esse marco, ocorrido em um cenário até então dominado pelo modelo norte-americano de veículos movidos a gasolina, consolidou o motor diesel como padrão no país, transformando a logística e o transporte de cargas. A inauguração da moderna planta de São Bernardo do Campo, em 28 de setembro do mesmo ano, simbolizou o espírito de progresso que caracterizava o Brasil sob o governo de Juscelino Kubitschek. A cerimônia de abertura, conduzida sob a liderança técnica de Ludwig Winkler — engenheiro experiente que já havia gerenciado a linha de montagem no Rio de Janeiro e, posteriormente, supervisionaria a produção de chassis da Magirus —, foi um evento de grande relevância. Com a presença do Presidente da República, Juscelino Kubitschek, o momento foi impregnado de otimismo econômico. Em seu discurso, Kubitschek proclamou: “O Brasil acordou!”, palavras que ecoaram a confiança em um futuro industrial promissor. Durante a visita à fábrica, o presidente percorreu as instalações a bordo do primeiro caminhão diesel de médio porte produzido no Brasil: o Mercedes-Benz L-312, carinhosamente apelidado de “Torpedo”. O L-312, com capacidade para 6 toneladas de carga útil, era equipado com um motor diesel nacional de seis cilindros, 4.580 cm³, que entregava 110 cv. Seu sistema incluía uma caixa de cinco marchas, freios hidráulicos com assistência pneumática e uma cabine metálica recuada — um design único, que permaneceu exclusivo na história da Mercedes-Benz no Brasil. O Torpedo rapidamente conquistou o mercado, não apenas no Brasil, mas também na Europa, onde sua robustez, confiabilidade e baixo custo de manutenção fortaleceram a reputação da marca no segmento de caminhões. A evolução tecnológica da Mercedes-Benz no Brasil continuou com o lançamento do Mercedes-Benz L-1111 em 1964. Popularmente conhecido como “Onze Onze”, o modelo alcançou um sucesso comercial extraordinário, com mais de 39 mil unidades vendidas em apenas seis anos — um feito impressionante para o mercado nacional da época. O L-1111 introduziu inovações como a suspensão por feixe semielíptico transversal, complementada por amortecedores telescópicos, que garantiam maior estabilidade e conforto. Este modelo foi o precursor da configuração de cabine semiavançada, que culminaria na aclamada série AGL, representada anos depois pelo L-1113, ou “Onze Treze”. O L-1113, equipado com o moderno motor diesel Mercedes-Benz OM-352LA, de 5,6 litros, seis cilindros em linha e injeção direta, entregava 130 cv. A tecnologia de injeção direta, que introduzia o combustível diretamente na câmara de combustão, proporcionava um consumo de combustível notavelmente eficiente, um diferencial competitivo no mercado civil. Além disso, o acesso facilitado aos componentes mecânicos sob o capô tornava a manutenção mais prática, reforçando a preferência dos consumidores. Assim como seu antecessor, o L-1113 conquistou rapidamente o mercado europeu, consolidando a imagem da Mercedes-Benz como sinônimo de confiança, robustez e economia.

Na primeira metade da década de 1980, a Mercedes-Benz do Brasil consolidava sua posição como líder no mercado nacional de caminhões, impulsionada por inovações introduzidas em modelos icônicos como o L-1113. Contudo, o avanço da concorrência e as crescentes expectativas do mercado sinalizavam a necessidade de modernizar sua linha de veículos para manter a competitividade. Com uma visão estratégica, a empresa iniciou um ambicioso projeto de renovação, cujos frutos seriam apresentados em 1986, marcando um novo capítulo na história da indústria automotiva brasileira. O desenvolvimento do novo portfólio foi concluído com a descontinuação de modelos clássicos, como o MB L-1113, MB LA-1314, MB LA-1317 e o MB AGL Cara-Preta, no final de 1987. A produção da nova linha de caminhões pequenos e médios começou imediatamente, trazendo como destaque o Mercedes-Benz MB LAK-1418, o primeiro modelo com tração total da gama HPN. Este caminhão, projetado para atender às demandas de operações exigentes, era equipado com o motor OM-366 A, de 5,86 litros e 184 cv, acoplado a uma transmissão MB G-3/60-5/7,5 de cinco marchas — ou, opcionalmente, a G-3/55-5/8,5, de seis marchas, com redução total de 8,47:1. A caixa de transferência de duas velocidades ampliava o torque em 64% na marcha reduzida, garantindo desempenho superior em terrenos desafiadores. Com peso em ordem de marcha de 5.260 kg, o MB LAK-1418/51 suportava até 8.240 kg de carga útil, incluindo implementos, alcançando um peso bruto total (PBT) de 13.500 kg. Em julho de 1989, a Mercedes-Benz expandiu sua linha com o lançamento de novos modelos médios e médio-pesados, mantendo chassis, eixos e transmissões da geração anterior, mas introduzindo motores mais potentes e cabines renovadas. Apesar da tendência global em direção a cabines basculantes sobre o motor, como as adotadas por concorrentes como Ford Cargo e Volkswagen, a Mercedes-Benz optou por manter as cabines semiavançadas. Essa decisão, baseada em extensas pesquisas de mercado, refletia a preferência do público brasileiro e de países em desenvolvimento, principais destinos de suas exportações. As novas cabines, agora com capô e para-lamas em peça única basculante para frente, facilitavam a manutenção, reforçando a praticidade que sempre caracterizou a marca. Inicialmente, a produção foi centralizada no Brasil, com distribuição global, exceto para os mercados da Europa e dos Estados Unidos. A renovação trouxe maior potência, torque e capacidade de carga para a maioria dos modelos, que também foram renomeados para refletir as melhorias. Exemplos incluem a transição do MB L-1114 para MB L-1214, do MB L-1118 para MB L-1218, e assim por diante, até o MB L-1518, que passou a MB L-1618, com motores variando entre 136 cv e 184 cv. Em maio de 1990, a Mercedes-Benz completou a modernização com a renovação de sua linha de caminhões pesados, voltada para capacidades de 35 a 45 toneladas de PBT. Modelos como MB 1625, MB 1630, MB 1935, MB 1941 e MB 2325, nas versões L, LK, LB e LS, trouxeram avanços significativos. Junto a esses lançamentos, foi introduzida a série MB 400, equipada com motores de 10 e 12 litros, com potências entre 252 cv e 408 cv, projetada para atender às necessidades de transporte de longo curso e cargas pesadas.
Em agosto de 1991, a Mercedes-Benz do Brasil marcou um momento histórico com a inauguração do Centro de Desenvolvimento Tecnológico na planta de São Bernardo do Campo. Reunindo 400 engenheiros, esse centro tornou-se o maior da empresa fora da Alemanha e o único no Brasil dedicado exclusivamente ao desenvolvimento de veículos comerciais. A iniciativa simbolizou o compromisso da montadora com a inovação e a liderança tecnológica, consolidando sua posição como referência no setor automotivo nacional e internacional. Mais do que um marco de infraestrutura, o centro representou a aposta da Mercedes-Benz no talento brasileiro para impulsionar avanços que atenderiam às necessidades de mercados em todo o mundo. Paralelamente, a empresa intensificava o aprimoramento de sua linha de produtos, introduzindo inovações como os freios antiblocantes (ABS) como item opcional em alguns modelos, um avanço significativo em segurança e desempenho. Contudo, o ano de 1991 também trouxe uma mudança estratégica inesperada. Contrariando sua defesa histórica das cabines semiavançadas, a Mercedes-Benz apresentou, durante a VII Feira Nacional de Transportes (Transpo), uma nova linha de caminhões médios e semi-pesados equipados com cabine sobre o motor. Essa decisão marcou o retorno a um conceito abandonado pela montadora no Brasil havia mais de duas décadas, refletindo a pressão da concorrência e a necessidade de se adaptar às tendências do mercado. A nova linha, comercializada a partir de 1992, introduziu a primeira cabine basculante produzida pela Mercedes-Benz no Brasil, com design harmonizado entre os caminhões leves, médios e pesados da marca. Composta por seis modelos MB 1214, MB 1218, MB 1414, MB 1418, MB 1714 e MB 1718 — e quatro versões adaptadas para aplicações basculantes, a gama trouxe uma inovação na nomenclatura: pela primeira vez, a empresa abandonou os prefixos tradicionais, como “LP”, que identificavam o conceito do veículo. A mecânica permaneceu alinhada com os modelos MB L e MB LK, mas os chassis foram encurtados entre 60 e 97 cm no entre-eixo, enquanto eixos e suspensões dianteiras foram reforçados, facilitando o uso em ambientes urbanos e operações logísticas específicas. Nesse contexto, o MB LAK-1418, com tração integral 4x4, consolidou-se como um marco no portfólio da Mercedes-Benz. Em um mercado onde a montadora dominava o segmento de caminhões com tração total, o modelo encontrou aplicação estratégica nas Forças Armadas Brasileiras e nas Brigadas de Incêndio do Departamento de Aviação Civil (DAC), presentes nos aeroportos do país. Além do sucesso doméstico, o MB LAK-1418 abriu portas no mercado militar sul-americano, com contratos de exportação firmados com o Exército Chileno e o Exército Uruguaio, entre outros. Essas parcerias reforçaram a posição da Mercedes-Benz como fornecedora confiável de veículos robustos e versáteis, capazes de atender às exigências de operações táticas e emergenciais.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras
A história de sucesso entre a Mercedes-Benz do Brasil S/A e o Exército Brasileiro teve início em maio de 1959, com a assinatura do primeiro contrato para o fornecimento de caminhões militarizados, dos modelos MB LP-321 e MB LP-331, ambos com tração 4x2 e 4x4. Esse marco abriu as portas para uma relação de confiança que se expandiu rapidamente, abrangendo também a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira. Nos anos seguintes, mais de mil veículos foram entregues, atendendo às necessidades logísticas das três forças com eficiência e robustez. Embora os modelos MB LP-321 e LP-331 cumprissem satisfatoriamente suas funções, suas limitações operacionais, decorrentes de um projeto já considerado obsoleto, tornaram-se evidentes no contexto militar. Reconhecendo a necessidade de modernização, o comando do Exército Brasileiro voltou sua atenção para a nova linha de caminhões comerciais lançada pela Mercedes-Benz em 1964: os modelos MB L-1111 e MB L-1112. Esses veículos, que conquistaram amplo sucesso no mercado civil, eram amplamente elogiados por sua durabilidade e desempenho, qualidades essenciais para aplicações militares. Com base nessas características, o Exército encomendou o desenvolvimento de um protótipo militar do MB LA-1111, equipado com tração integral 4x4. O protótipo foi submetido a um rigoroso programa de testes de campo, que avaliou sua capacidade de operar em condições adversas. Os resultados promissores confirmaram o potencial do veículo, pavimentando o caminho para contratos de fornecimento em larga escala. Em fevereiro de 1966, os primeiros MB LA-1111 foram entregues ao Exército, marcando o início de uma nova era na frota militar brasileira. Em 1967, o Ministério do Exército ampliou suas aquisições com a compra de pelo menos uma centena de unidades do MB L-1113, destinadas ao transporte geral de cargas e tropas, reforçando a versatilidade da linha. A evolução contínua dos caminhões civis da Mercedes-Benz foi acompanhada por novos contratos com as Forças Armadas Brasileiras. A partir da década de 1970, o Exército adquiriu em grande volume os modelos MB L-1514, MB L-1614 e MB L-1620, empregados em missões críticas, como transporte de tropas, movimentação de cargas, operações de socorro, serviços de guincho e oficinas móveis. Nesse mesmo período, a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil, por meio do Corpo de Fuzileiros Navais, passaram a incorporar os modelos MB L-1111, MB L-1113 e MB L-1114 em suas frotas, consolidando a presença da Mercedes-Benz em todas as Forças Armadas. Ao longo das décadas seguintes, os caminhões da Mercedes-Benz tornaram-se a espinha dorsal da frota de transporte militar brasileira, estabelecendo uma hegemonia fundamentada na confiança, na robustez e na capacidade de atender às demandas operacionais mais exigentes. No início da década de 1990, a frota de caminhões utilitários e militarizados em operação no Exército Brasileiro, bem como nas demais Forças Armadas Brasileiras, era majoritariamente composta por veículos fabricados pela Mercedes-Benz do Brasil S/A. 

Como principal fornecedora nacional de veículos militares, a empresa equipava as forças com modelos emblemáticos, como as versões MB LA, LAK,  LAS e LG das séries 1111, 1113, 1114, 1213, 2213, 1519, 1819 entre outros. Esses caminhões, reconhecidos por sua robustez e altos índices de disponibilidade, desempenhavam papéis cruciais em operações logísticas. Contudo, após anos de uso intensivo, começavam a exibir sinais de desgaste, evidenciando a necessidade urgente de renovação da frota. Percebendo uma oportunidade estratégica de mercado, a Mercedes-Benz do Brasil decidiu investir recursos próprios no desenvolvimento de uma nova linha de caminhões militarizados, derivada do recém-lançado modelo comercial MB LAK-1418F. Essa iniciativa refletiu o compromisso da montadora em atender às demandas das Forças Armadas com soluções modernas e eficientes, mantendo sua posição de liderança no setor. Em fevereiro de 1991, o primeiro protótipo do novo caminhão foi apresentado ao comando do Exército Brasileiro, marcando um marco significativo: o veículo foi o primeiro no Brasil a incorporar o avançado sistema de tração total da gama HPN, desenvolvido pela Mercedes-Benz. O Mercedes-Benz LAK-1418 militarizado compartilhava o conjunto mecânico de sua contraparte comercial, oferecendo um perfil operacional excepcional. Com capacidade de transportar até 8.240 kg de carga útil e um peso bruto total (PBT) de 13.500 kg, o modelo superava em desempenho os caminhões militarizados mais antigos da mesma categoria, ainda em serviço nas Forças Armadas. Suas características técnicas garantiam maior versatilidade e eficiência, atendendo às exigências de missões em condições adversas com confiabilidade superior. Embora visualmente semelhante à linha comercial, o MB LAK-1418 militarizado foi projetado com especificações exclusivas para uso tático. A carroceria militar, desenvolvida e produzida pela empresa carioca SCL Montagens Navais e Engenharia Ltda., foi um dos destaques do projeto. Além de fabricar a carroceria, a SCL foi responsável pela instalação do kit militar na linha de montagem da Mercedes-Benz, incorporando elementos como para-choques reforçados, guinchos mecânicos dianteiro e traseiro, grades de proteção para faróis e lanternas, gancho de reboque e uma carroceria de aço coberta por lona. Esses componentes foram cuidadosamente projetados para assegurar durabilidade e funcionalidade em operações militares, reforçando a vocação do veículo para o serviço nas Forças Armadas. O lançamento do MB LAK-1418 representou um passo decisivo na modernização da frota militar brasileira, consolidando a parceria de longa data entre a Mercedes-Benz e as Forças Armadas. Com sua combinação de inovação tecnológica, robustez e adaptação às necessidades operacionais, o modelo não apenas atendeu às expectativas do Exército Brasileiro, mas também reforçou o legado da montadora como referência em veículos militares no país.
Estes novos caminhões apresentavam tração 4X4, com suspensão elevada e reforçada, pneus especiais e dispunha ainda debloqueio nos dois diferenciais, o que o tornava praticamente impossível esse modelo ficar atolado num brejo. Estas modificações tornavam o caminhão adequado a operação para qualquer terreno, atendendo assim as especificações demandadas pela Força Terrestre. Em meados do ano de 1992 a montadora disponibilizaria as três Forças Armadas Brasileiras, os primeiros protótipos a fim de serem submetidos a um exaustivo programa de ensaios e testes de campo. Este processo resultaria no pleito por parte dos interessados de modificações e melhorias básicas no projeto, que seriam atendidas logo em seguida. Com base nestes ajustes cada versão acabaria por ser homologada por cada organização militar, gerando assim os contratos de produção em larga escala para o Exército Brasileiro e lotes menores para a Força Aérea Brasileira e Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), sendo todos os veículos configurados na versão básica para transporte de tropas e cargas. Um segundo contrato de aquisição seria celebrado logo em seguida para o Exército Brasileiro, sendo agora envolvidos os modelos  LAK 1418 (Engemotors),  L-1418 e  LA-1418 nas configurações como: VTNE Carga Emprego Geral 5 ton 4X2, VTE Basculante Emprego Geral, VTE Carga Emprego Geral Braço Mecânico Multifuncional 5 ton 4X4, VTE Frigorífico 14 Ton 6X2 1995/93 CF Bat. de Eng. e Construção, VTE Frigorífico 14 Ton 6X2 1995/93 CF Bat. de Eng. e Construção, VE Lubrificação de Comboio 4x2, VE Oficina de Manutenção de Auto 5 ton 4X4 2004, VE Oficina de Reparos Gerais 4x2 , VE Posto de Comando de Campanha e Comunicação Ton 4x4, VE Socorro Leve de Rodas 4x2 VOP-3 , VE Socorro Pesado de Rodas 5 ton 4X4, VTE Cisterna Agua 7000L 4X4 , VTE Cisterna Combustível 15.000L 4x2, VTE Cisterna Combustível 8000L 4X4, VTE Manutenção Elétrica 5 ton 4x4, VTE Plataforma Auto-Socorro 4X2, VTE Poli Guindaste Contêiner 5 Ton 4X4, VTNE Carga Emprego Geral 5 Ton 4x4 Carroceria Rodofort, VTNE Carga Emprego Geral c/Grua Ton 4x2 Carroceria Rodofort , VTNE Carga Emprego Geral Comercial 14 Ton 4x2, VTNE Carga Emprego Geral Comercial Carroceria de Madeira 7 Ton 4x2, VTP Choque 4x2, VE Socorro Pesado de Rodas 5 ton 4X4, VTE Basculante Emprego Geral 5 m³ 4x4 e VE Oficina de Comunicações 2 ½ Ton 4X4. Algumas destas viaturas de transporte de pessoal e carga estavam equipadas com um suporte removível para instalação de uma metralhadora MAG de calibre 12,7 mm no lado esquerdo frontal na carroceria.  A concepção do Mercedes-Benz LAK-1418, introduzido no início da década de 1990, reflete uma abordagem cuidadosamente planejada para atender às exigências operacionais do Exército Brasileiro. Um dos elementos mais notáveis do projeto é a adoção da cabine “bicuda” (semiavançada), que se revelou particularmente vantajosa em cenários militares. Diferentemente dos modelos anteriores, que exigiam o rebatimento completo da cabine para acesso ao motor, o design do LAK-1418 simplifica o processo de abertura do capô, reduzindo a complexidade e o tempo necessário para manutenções. Essa característica confere maior agilidade em situações críticas, como reparos emergenciais em zonas de combate, permitindo que o operador retorne rapidamente à cabine para se abrigar, caso necessário. 

O contrato de fornecimento firmado com o Exército Brasileiro contemplava, entre outros, os modelos de veículos VE Oficina de Reparos Gerais 4x4 e VE Oficina de Manutenção de Auto 5 ton 4x2. Esses modelos, caracterizados por um menor grau de militarização, foram projetados para operação em ambientes urbanos e vias pavimentadas, onde as condições de tráfego são mais regulares. As entregas desses veículos foram concluídas em 1994, possibilitando a substituição dos primeiros lotes de caminhões Mercedes-Benz L-1111, L-1113 e L-1114, em serviço desde meados da década de 1970. Os caminhões Mercedes-Benz LAK 1418, na configuração VTNE Carga Emprego Geral 5 ton 4x4, desempenharam um papel crucial durante a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 2003 e 2016. Sob o comando brasileiro, a missão representou o maior desdobramento de tropas nacionais em território estrangeiro desde a Segunda Guerra Mundial, sendo um marco histórico em operações de manutenção da paz. O contingente brasileiro foi estruturado em três unidades principais: um Batalhão de Infantaria (Brabat), um grupamento operativo de fuzileiros navais (Bramar) e uma companhia de engenharia militar (Braengcoy). Ao longo dos treze anos da MINUSTAH, 26 contingentes brasileiros, totalizando mais de 37 mil militares, foram mobilizados no Haiti. Para assegurar o suporte logístico, o Exército Brasileiro e o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil empregaram dezenas de caminhões MB LAK 1418 4x4, que operaram ininterruptamente durante a missão, pintados nas cores padrão da ONU. Em 2002, a frota de caminhões Mercedes-Benz LK-1414, 1418 Atego, 1418K, L-1418/48, L-1418E/51, e LK-1418/42, completou dez anos de serviço no Exército Brasileiro e no Corpo de Fuzileiros Navais, demonstrando excelente desempenho. Contudo, considerando o envelhecimento natural da frota e a necessidade de conter o aumento dos custos de manutenção, o comando do Exército Brasileiro iniciou estudos para um programa de substituição a médio prazo, visando evitar que a maioria dos veículos atingisse 20 anos de uso. O modelo Mercedes-Benz 1720A-2 militarizado foi identificado como o substituto natural não só para os MB Série 1418, bem como para os MB L-1513/48, LK-1513-42, L-1514/48 e L-1518/51. As projeções apontavam pelo menos um lote 3.000 caminhões no mínimo, que seriam financiados com recursos extras provenientes no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado inicialmente em 2007 e tinha por objetivo fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID) No entanto a hegemonia de 50 anos  da Mercedes-Benz do Brasil no fornecimento de veículos militares as forças armadas brasileiras, seria quebrada pela oferta de modelos Volkswagen Worker, produzidos pela MAN Latin America S/A.
A substituição da frota de caminhões militares do Exército Brasileiro teve início em 2009, com a entrega dos primeiros modelos militarizados Volkswagen Worker 15.210 4x4 e Mercedes-Benz Atego 1725 4x4, predominantemente na configuração de Viaturas de Transporte Não Especializado (VTNE). Esse processo resultou na desativação gradual de diversos modelos antigos, com estes sendo recolhidos para venda e alienação por meio de leilões. Apesar do inicio deste processo de substituição, a trajetória dos caminhões Mercedes-Benz LK-1414, 1418 Atego, 1418K, L-1418/48, L-1418E/51, e LK-1418/42 VTNE e VTE não chegou ao fim. Em 2009, o Exército Brasileiro selecionou 131 viaturas  do modelo LA-1418/51 em melhor estado de conservação para integrar o “Projeto de Reoperacionalização de Viaturas”. Estas viaturas seriam das versões  VE Frigorífico 5 Ton 4X4 1993, VE Lubrificação de Comboio 4x2 CL Bat. de Eng. e Construção, VE Oficina de Manutenção de Auto 5 ton 4X4 2004 , VE Oficina de Reparos Gerais 4x2, VE Posto de Comando de Campanha e Comunicação Ton 4x4, VE Socorro Leve de Rodas 4x2 VOP-3, VE Socorro Pesado de Rodas 5 ton 4X4 , VTE Carga Emprego Geral Braço Mecânico Multifuncional 5 ton 4X4 2004/1997, VTE Cisterna Agua 7000L 4X4 1999/2004, VTE Cisterna Combustível 15.000L 4x2, VTE Cisterna Combustível 8000L 4X4, VTE Manutenção Elétrica 5 ton 4x4, VTE Plataforma Auto-Socorro 4X2, VTE Poli Guindaste Contêiner 5 Ton 4X4, VTNE Carga Emprego Geral 5 Ton 4x4 Carroceria Rodofort , VTNE Carga Emprego Geral c/Grua Ton 4x2 Carroceria Rodofort, VTNE Carga Emprego Geral Comercial 14 Ton 4x2, VTNE Carga Emprego Geral Comercial Carroceria de Madeira e VTP Choque 4x2. Iniciado em 2010, esse programa seria conduzida pelo Arsenal de Guerra de São Paulo (AGP) em parceria com a empresa Engemotors S/A , e envolveu a revisão completa dos veículos, com a revitalização do motor a diesel Mercedes-Benz OM-366A, da caixa de câmbio MB G-3/60-5/7,5 e do sistema elétrico. A iniciativa garantiu a extensão da vida útil dessas viaturas por, pelo menos, 15 anos, além de promover significativa economia de recursos financeiros a longo prazo. Os resultados do projeto foram notáveis, com muitas dessas viaturas  em versões especializadas permanecendo em operação até os dias atuais. A Força Aérea Brasileira, por sua vez, opera ainda ao menos dez viaturas configuradas como veículos de combate a incêndio, distribuídas em várias bases aéreas pelo país, demonstrando a versatilidade e a longevidade desses equipamentos. Em 2015, como parte de um programa de cooperação militar entre Brasil e Paraguai, 20 desses caminhões modernizados foram doados ao governo paraguaio. Em 2016, mais três unidades foram transferidas à Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, destinadas ao Batalhão de Choque (BPChoque), onde receberam um padrão de camuflagem adequado às suas funções.

Em Escala.
Para representar o caminhão militar Mercedes-Benz LAK 1418 na configuração VE Oficina de Reparos Gerais 4x4, utilizamos como base o modelo em die-cast produzido pela Axio para a coleção “Caminhões de Outros Tempos” da Editora Altaya, na escala 1/43. Como o modelo original retrata a versão civil MB L-1614, foi necessário realizar uma série de modificações artesanais (scratch building) para adaptá-lo à versão militarizada. O processo de customização envolveu as seguintes etapas: inicialmente, realizamos a redução do chassi e a reconfiguração do baú de carga, adaptando o interior para incluir bancadas de oficina e caixas de ferramentas, conforme as especificações de uma viatura de reparos. Em seguida, incorporamos portas e janelas laterais, uma escada de acesso, toldos retráteis em ambos os lados e um holofote. Por fim fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro 1983 - 2010".
As viaturas classificadas como Viaturas de Transporte Especializado (VTE), que englobam as configurações de cisterna, frigorífico, guincho e oficina, seguem um esquema de cores conforme o sistema Federal Standard (FS). Essa padronização garante visibilidade e adequação às funções logísticas e de apoio desempenhadas por esses veículos. Já as viaturas classificadas como Viaturas de Transporte Não Especializado (VTNE) recebem um padrão de camuflagem táctica em dois tons, projetado para proporcionar discrição e eficácia em operações de campo, especialmente em ambientes que exigem maior integração com o terreno.

Bibliografia : 

- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos – MB 1418 , editora Altaya
- Mercedes-Benz LAK 1418 4×4 - http://www.planobrazil.com
- Mercedes-Benz www.lexicarbrasil.com.br/mercedes-benz/

M-4 e M4-A1 Sherman Late


História e Desenvolvimento.
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de M-3 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm. Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia.  Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. 

Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma. Durante a Operação Overlord, o desembarque aliado na Normandia em junho de 1944, o M-4 Sherman desempenhou um papel crucial. Apesar de enfrentar desafios significativos contra os tanques alemães Tiger e Panther, que possuíam armamento e blindagem superiores, a quantidade e a confiabilidade dos Shermans permitiram que as forças aliadas mantivessem a superioridade numérica e logística. Ao longo da campanha europeia, os M-4 foram essenciais no confronto com os tanques Panzer, contribuindo para a progressão aliada até a derrota da Alemanha em 1945.
No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman foi a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC). Centenas de unidades foram empregadas, incluindo variantes especializadas equipadas com lança-chamas, que representaram a primeira adaptação em larga escala da plataforma para funções específicas. Essas versões foram particularmente eficazes em operações contra fortificações japonesas. O M-4 Sherman destacou-se pela simplicidade de seu projeto e robustez mecânica, características que facilitaram sua produção em massa e manutenção em campo. Substituindo os modelos M-3 Stuart e M-3 Lee, o Sherman tornou-se o carro de combate padrão das forças aliadas. Para otimizar a logística, foi desenvolvida uma família de veículos especializados baseados na plataforma do M-4, incluindo modelos utilitários e de suporte, que padronizaram peças de reposição e processos de manutenção. A produção do M-4 Sherman foi realizada em diversas fábricas nos Estados Unidos, incluindo Baldwin Locomotive Works, Pressed Steel Car Company, American Locomotive Co., Pullman-Standard Car Company e Detroit Tank Arsenal. Entre 1942 e julho de 1945, foram fabricadas 49.234 unidades, excluindo protótipos. A grande maioria foi destinada às forças armadas norte-americanas, com uma parcela significativa fornecida a aliados por meio do programa Lend-Lease. Ao final da Segunda Guerra Mundial, milhares de M-4 Shermans foram abandonados na Europa pois seu processo de retorno aos Estados Unidos se mostraria economicamente inviável. Muitos foram aproveitados por governos locais ou vendidos como sucata. O Exército dos Estados Unidos (US Army) manteve uma quantidade considerável em reserva estratégica, enquanto outros foram estocados para uso futuro. Durante a Guerra da Coreia (1950–1953), os M-4 Shermans baseados no Japão foram rapidamente mobilizados. Atuando ao lado de tanques mais modernos, como o M-26 Pershing e o M-46 Patton, os Shermans continuaram a desempenhar um papel relevante, especialmente em operações iniciais. A partir de 1957, os M-4 Shermans começaram a ser desativados pelo Exército dos Estados Unidos. Por meio do Programa de Assistência Militar (MAP), grande parte da frota foi transferida para nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos EUA. Países como Argentina e Israel adquiriram centenas de unidades, muitas vezes a preços de sucata. Ao todo, 47 países operaram diferentes versões do M-4 Sherman, incluindo modelos modernizados. Os M-4 Shermans foram utilizados em diversos conflitos ao redor do mundo, com destaque para: Guerras Árabe-Israelenses: Israel empregou Shermans modernizados em combates contra forças árabes. Guerra do Vietnã: O Vietnã do Sul utilizou brevemente os Shermans em operações militares e Guerra Indo-Paquistanesa de 1965: Ambos os lados do conflito operaram versões do M-4 Sherman. O M-4 Sherman consolidou-se como um dos tanques mais emblemáticos da Segunda Guerra Mundial, graças à sua versatilidade, confiabilidade e capacidade de adaptação. Sua produção em larga escala e a padronização logística fortaleceram as operações aliadas, enquanto sua longevidade no pós-guerra, com uso em diversos conflitos, demonstra a robustez de seu projeto. Apesar de suas limitações contra tanques alemães mais avançados, o M-4 Sherman permanece como um símbolo da capacidade industrial e militar dos Estados Unidos no século XX.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A capitulação da França em junho de 1940 intensificou temores de que bases operacionais nazistas fossem estabelecidas em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar. Nesse contexto, o Brasil emergiu como um ponto estratégico crucial, tanto pela sua proximidade geográfica com o continente africano quanto por seu papel como fornecedor de matérias-primas essenciais para os Aliados. Este relatório analisa a relevância estratégica do Brasil durante o conflito, destacando sua posição geográfica, contribuições econômicas e os acordos de cooperação com os Estados Unidos. A possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo foi uma preocupação central para os Estados Unidos. O Brasil, devido à sua localização geográfica no Atlântico Sul, era considerado o ponto mais vulnerável para um eventual desembarque de tropas inimigas, especialmente pela proximidade com o continente africano, que figurava nos planos expansionistas alemães. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul reforçavam a importância do Brasil como alvo estratégico. Após a conquista da Malasia, pelos japoneses, o Brasil consolidou-se como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, item crítico para a indústria bélica. O comércio exterior brasileiro, especialmente com os Estados Unidos, tornou-se vital para o fornecimento de recursos que sustentavam o esforço de guerra aliado. Ainda a costa nordeste do Brasil, por sua proximidade com o continente africano, representava o ponto mais estratégico para o translado aéreo e marítimo entre os continentes americano e africano. Essa região era ideal para o estabelecimento de bases aéreas e portos, que facilitavam o envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África. Assim, o litoral brasileiro tornou-se um componente fundamental da logística aliada. O cenário de ameaças globais levou a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos. Essa colaboração resultou em uma série de acordos e investimentos voltados para o fortalecimento das capacidades defensivas brasileiras e o apoio logístico aos Aliados. Um dos pilares dessa cooperação foi a adesão do Brasil ao Lend &Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), um programa de assistência militar que visava modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Na época, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais obsoletos. O acordo proporcionou ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de armamentos modernos, incluindo aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Os recursos obtidos por meio do Lend-Lease foram cruciais para capacitar o Brasil a enfrentar ameaças externas, particularmente as ações de submarinos alemães que atacavam a navegação civil no Atlântico Sul. Esses ataques visavam interromper o transporte de matérias-primas brasileiras para os Estados Unidos, essencial para a indústria de guerra norte-americana.

A modernização das Forças Armadas Brasileiras desempenhou um papel crucial no fortalecimento da defesa costeira e na proteção do comércio marítimo. Nesse contexto, o Exército Brasileiro passou a receber um número significativo de veículos militares, incluindo carros de combate, os quais eram necessários para atualizar a força terrestre, que até então dispunha apenas dos antigos veículos leves  italianos Fiat Ansaldo CV3-35 Modelo II. No âmbito do programa de ajuda militar, e em virtude das demandas emergentes para o abastecimento das forças aliadas nos teatros de operações da Europa e do Pacífico, o Exército Brasileiro não teria acesso imediato aos modernos carros de combate M-4 Sherman. Em lugar disso, inicialmente seriam fornecidos apenas modelos mais antigos, como o M-3 Stuart, classificado como leve, e o M-3 Lee, classificado como médio. Esses veículos, apesar de usados, estavam em excelente estado de conservação, dado seu baixo uso operacional nas unidades de cavalaria blindada dentro de sua área continental. Nesse ínterim, foram criadas as primeiras unidades motomecanizadas, equipadas com blindados de combate e veículos rápidos para reconhecimento, em consonância com a doutrina utilizada pelo Exército dos Estados Unidos. Esses grupamentos contariam com quase 300 carros de combate leves e médios, consolidando o Exército Brasileiro como a maior potência militar da América Latina. Após a rendição alemã em maio de 1945, o governo norte-americano passaria a atender as demandas atrasadas de seus aliados, e assim em 27 de julho do mesmo ano seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro - RL um primeiro lote de carros de combate M-4 Sherman, sendo composto por 16 veiculos dispostos nas versões   M-4 NDV Mid Production e M-4 Composite Hull. Essas unidades receberiam as matrículas EB-11-347, 348, 350, 351, 352, 353, 393, 394, 396, 400, 403, 404, 405, 408, 409 e 412, sendo logo destinadas ao 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), baseado no antigo Derby Club, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Um segundo lote, com mais  17 carros de diversas outras versões, seria recebido em 10 de agosto de 1945, portando as matrículas EB-11-360, 414, 415, 416, 417, 418, 419, 420, 421, 422, 423, 424, 425, 426, 427, 428 e 429. Por fim, um último lote de 20 chegaria no Brasil no dia 23 do mesmo mês e ano, recebendo as matrículas EB-11-341, 342, 344, 345, 346, 349, 354, 355, 356, 395, 397, 398, 399, 401, 402, 406, 407, 411 e 413, totalizando cinquenta e três carros de combate médios M-4 Sherman, distribuídos em diversas versões. Em termos organizacionais, o 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC) concentraria todos os carros de combate M-4 Sherman recebidos, com este sendo composto por uma Companhia de Comando, equipada com 02 CCM M-4 Sherman; três Companhias de Carros de Combate Médio, cada uma equipada com 17  CCM M-4 Sherman; uma Companhia de Carros de Combate Leve, equipada com 17 CCL M-3A1 Stuart; e uma Companhia de Serviços, equipada com 47 utilitários, dos quais 03 eram de transporte M-3 meia lagarta.
A introdução dos carros de combate M-4 Sherman no Exército Brasileiro representou um avanço significativo no patamar tático da força mecanizada blindada. Esses veículos destacavam-se em relação aos modelos leves M-3A1 Stuart e médios M-3 Lee em uso naquela época, evidenciando sua superioridade. Embora ambos os modelos utilizassem o canhão M-3 de 75 mm presente no M-3 Lee, os M-4 Sherman estavam equipados com um inovador sistema de giro-estabilizador (de operação vertical), tornando-se um dos primeiros modelos de carros de combate a incorporar tal dispositivo. Essa inovação técnica foi considerada um marco no Brasil, pois melhorou substancialmente a precisão dos disparos. Além do armamento, o arsenal brasileiro foi enriquecido com novas munições, como os projéteis M-61 Armour Piercing Capped (APC), M-72 Armour Piercing (AP) e M-84 High Explosive (HE), que possibilitavam uma cadência de disparo de vinte tiros por minuto. Em termos de mobilização para o combate, os CCM M-4 Sherman apresentavam um sistema de partida elétrica inovador, que otimiza o tempo de ativação do veículo em comparação a seus antecessores. Os carros de combate estavam equipados com um armamento principal de 75 mm e contavam com duas metralhadoras Browning M-1919 de calibre .30 e uma metralhadora M-2 de calibre .50. É importante destacar que alguns veículos dos primeiros lotes foram equipados com um morteiro de duas polegadas acoplado à torre, destinado ao disparo de projéteis fumígenos, além de uma submetralhadora Thompson M-1928A1 de calibre .45, destinada ao uso do comandante. A torre fundida dos M-4 Sherman apresentava controle elétrico ou hidráulico, dependendo da versão, e o design de perfil alto proporcionava um relativo conforto aos tripulantes, que contavam com quatro assentos: dois para o comandante (um em posição elevada e outro em combate), um para o artilheiro e um para o municiador. Todos os CCM M-4 Sherman recebidos no período eram novos de fábrica e não tinham sido utilizados anteriormente, com todos os acessórios acompanhando as viaturas, devidamente embrulhados em papel encerado. Embora os veículos tivessem sido fornecidos com manuais de operação completos e detalhados, a barreira da língua, devido à sua disponibilização exclusivamente em inglês, dificultou a correta implementação do modelo no país, considerando a falta de proficiência dos oficiais brasileiros nesse idioma.

O Carro de Combate Médio (CCM) M-4 Sherman representou um avanço significativo para o 1º Batalhão de Carros de Combate (BCC) do Exército Brasileiro na década de 1950. Apesar da necessidade de um período prolongado para ajustes operacionais visando a plena prontidão, as características técnicas do M-4 Sherman posicionaram o BCC em equivalência material com as forças blindadas norte-americanas, consolidando-o como referência na guerra blindada da época.  No início da década de 1950, a Escola de Moto-Mecanização (EsMM), sediada em Marechal Deodoro, Rio de Janeiro, RJ, recebeu seis CCM M-4 Sherman recém-adquiridos. Esses veículos, registrados com as matrículas EB11-343, 583, 584, 585, 586 e 587, foram destinados a atividades de instrução, operando em conjunto com Carros de Combate Leve (CCL) M-3 Stuart e CCM M-3 Lee. Os M-4 Sherman permaneceram em serviço na EsMM até 1957, quando, exceto o veículo EB11-723, foram transferidos para o Regimento Escola de Infantaria (REsI). Ainda no início da década de 1950, foram incorporados mais seis M-4 Sherman usados. Em 1954, o Exército Brasileiro recebeu 24 veículos excedentes do Exército dos Estados Unidos (US Army), provenientes do término da Guerra da Coreia. Desses, 22 foram fornecidos por meio do Programa de Assistência Militar (MAP), nos modelos M-4 Composite Hull e M-4A1, acompanhados de 50 motores de reposição, ampliando a capacidade operacional das unidades blindadas. Em 1964, durante a Revolução, um pelotão de M-4 Sherman do REsI foi mobilizado para um potencial confronto com forças de São Paulo, ação que, felizmente, não se concretizou. Conforme relato do Coronel Dilzemar Rocha Sales, comandante da Companhia de Carros de Combate do Regimento Escola de Infantaria (REsI) na década de 1960, os M-4 Sherman demonstraram confiabilidade operacional. Destaca-se o feito de um veículo, sob comando do Capitão Anísio Lopes Negrão, que realizou os primeiros tiros indiretos do Exército Brasileiro contra alvos, funcionando como peça de artilharia. Apesar de sua robustez, os M-4 Sherman apresentaram desafios ao longo do tempo, especialmente em veículos inativos por períodos prolongados. As principais limitações incluíam: Falhas mecânicas: O ressecamento dos diafragmas das bombas de gasolina causava panes frequentes e Restrições de mobilidade: As lagartas, desproporcionalmente estreitas em relação ao peso do veículo, resultavam em atolamentos em terrenos fofos, exigindo o uso de cabos de aço para retirada durante exercícios. Relatos da unidade, em tom jocoso, afirmavam que os M-4 Sherman “atolavam até no asfalto”.
A verdade é que a despeito das deficiências citadas, os M-4 Sherman durante grande parte de sua carreira no 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), apresentariam um alto índice de operacionalidade na ordem de 80% , muito maior que a dos outros batalhões  sediados também no Rio de Janeiro, que faziam uso dos CCL M-3 Stuart e CCM M-3 Lee que ficavam na ordem de 55%.  Com o avanço do tempo, os Carros de Combate Médios (CCM) M-4 Sherman enfrentaram desafios significativos relacionados à disponibilidade de peças de reposição, impactando sua manutenção e operacionalidade no Exército Brasileiro. O envelhecimento da frota de M-4 Sherman brasileira resultou em dificuldades no suprimento de componentes essenciais, com destaque para : Geradores auxiliares ; Caixas reguladora e principalmente os motores radiais Wright Continental R-975 Whirlwind a gasolina. A escassez dessas peças comprometeu a manutenção regular dos veículos, exigindo soluções alternativas para assegurar sua funcionalidade. Apesar dos entraves logísticos, as equipes de manutenção do Exército Brasileiro demonstraram notável capacidade de adaptação, implementando soluções criativas, tais como:Reutilização de componentes provenientes dos motores de aeronaves Stearman A-76, desativadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) e nanibalização de peças de Carros de Combate M-3 Lee, previamente retirados do serviço ativo. Essas medidas permitiram a continuidade operacional dos M-4 Sherman, ainda que de forma improvisada, mitigando os impactos da falta de peças originais. Os desafios logísticos enfrentados na manutenção dos CCM M-4 Sherman, particularmente a escassez de peças de reposição, foram superados com soluções inovadoras e eficazes. A expertise das equipes de manutenção, aliada à utilização de recursos alternativos, garantiu a operacionalidade dos veículos, reforçando a resiliência do Exército Brasileiro frente às limitações impostas pelo tempo. O CCM M-4 Sherman desempenhou um papel crucial na modernização das forças blindadas brasileiras, proporcionando avanços técnicos expressivos, mas enfrentando limitações decorrentes de seu projeto e da manutenção. Sua incorporação e operação ao longo da década de 1950 e início da década de 1960 marcaram um período de consolidação de conhecimentos em guerra blindada, contribuindo para o aprimoramento das capacidades operacionais do Exército Brasileiro. Alguns estudos elaborados pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) de São Paulo, em conjunto com Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), buscavam modernizar e assim estender a vida útil destes carros de combate, seja em processo de remotorização ou transformação em veículo de serviço, porém tais iniciativas não chegaram a avançar além das fases de protótipo

Em Escala.
Para representarmos o M-4 Sherman Early Fused Front com a matricula  "EB-11 413" empregamos o novo kit da Asuka Modeks na escala 1/35. Para melhor detalhamento complementamos o modelo com acessórios em resina da Eletric Products. Para se representar a versão empregada no Exército Brasileiro não é necessário proceder nenhuma modificação. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals &  Books presentes no "Set Forças Armadas Brasileiras 1942/1982"
O padrão de pintura dos M-4 Sherman, conforme especificação Federal Standard (FS), seguia o esquema adotado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) no momento de sua entrega inicial ao Brasil em julho de 1945. A única modificação implementada foi a incorporação das marcações nacionais, mantendo a integridade do esquema original de cores. As marcações dos veículos incluíam o escudo nacional semelhante ao adotado pela Força Aérea Brasileira FAB), inicialmente conforme o padrão utilizado pelos veículos em território brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, esse escudo foi substituído pelo modelo com o Cruzeiro do Sul, empregado pelas forças brasileiras no teatro de operações da Itália durante o mesmo conflito.



Bibliografia :
- M-4 Sherman - Wikipédia  http://pt.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman
- M-4 Sherman no Brasil , por Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Junior 
- Blindados no Brasil Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos

Northrop F-5E Tiger II Agressores


História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1950, o avançar da tecnologia aeronáutica militar atingia uma velocidade sem precedentes na história da aviação moderna, e cada vez mais os vetores atingiam maiores velocidades, autonomia e capacidade de transporte de carga útil. Porém em contrapartida os custos de aquisição e operação, destas novas aeronaves de combate superavam em muito, os caças e bombardeiros produzidos durante a década passada. Esse cenário preocupava não só os comandantes militares norte-americanos, bem como os fabricantes de aeronaves, que temiam terem suas receitas reduzidas em face de possíveis cortes orçamentários. Atento a esta demanda a este cenário e em busca de soluções, no início do ano de 1956 a empresa Northrop Aircraft Corporation, criaria uma equipe de trabalho e desenvolvimento, chefiada pelo vice-presidente de engenharia e aeronaves, Edgar Schmued (responsável pelo desenvolvimento dos modelos P-51 Mustang e F-86 Sabre). O principal objetivo desta iniciativa, era o de criar uma aeronave de combate leve, com alto desempenho, capacidade de manobra aprimorada e alta confiabilidade, mas apresentando um custo de aquisição e operação muito inferior ao caças de combate daquela geração em uso até então.  Ademais reconhecendo que aeronaves de combate complexas e de alto custos operacionais, não poderiam ser substituídos de maneira viável em curto período (como ocorria com as aeronaves com motor a pistão), este novo projeto deveria incluir o conceito de "potencial de crescimento projetado", permitindo uma longevidade de serviço superior a vinte anos. Seguindo ainda este preceito que ficaria definido como "custo do ciclo de vida"   o engenheiro chefe do projeto Welko Gasich, definiria que os motores deveriam estar localizados dentro da fuselagem para obter o máximo desempenho e a longa vida útil. O projeto então seria denominado oficialmente como N-156, sendo customizado para o atendimento de uma concorrência recém deflagrada pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Este processo visava o desenvolvimento de um caça leve para emprego em seus porta aviões de escolta, tendo em vista as aeronaves em uso até então nos porta aviões normais excediam as capacidades lançamento e hangaragem. Aliás o projeto do N-156 deveria ser extremamente flexível podendo também atender a possíveis demandas futuras da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Infelizmente para a Northrop Aircraft Corporation, logo em seguida, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) reavaliaria sua estrutura e meios navais, resultando na desativação dos pequenos porta aviões de escolta. 

O cancelamento da provável demanda por parte da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), representaria um revés no planejamento Northrop Aircraft Corporation, porém sua diretoria se manteria resiliente, derivando seu projeto original em  duas vertentes, uma destinada ao desenvolvimento de um  caça tático leve o "N-156F" e uma aeronave de treinamento avançado o "N-156T" . O conceito deste último modelo agradaria muito o comando da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), sendo assim selecionado como treinador padrão, em substituição aos jatos subsônicos Lockheed T-33. Seu primeiro protótipo do já designado YT-38 Talon alçaria voo no dia 12 de junho de 1959, e após ser avaliando em um amplo programa de ensaios em voo recebeu de produção de mil cento e cinquenta e oito células  com as primeiras aeronaves sendo entregues no ano seguinte e as últimas sendo recebidas até janeiro de 1972. A excelência do projeto seria comprovada pela implementação de diversos programas de retrofit e modernização alo longo anos,  mantendo estas aeronaves em voo na missão de treinamento avançado  até os dias atuais. Devendo ser somente substituídos a partir de meados da segunda década 2020, quando completarão mais  cinquenta anos de serviço. Apesar da negativa em relação a versão monoplace, a empresa decidiria com recursos próprios continuar o desenvolvimento do projeto "N-156F", esta perseverança logo seria recompensada logo a seguir com alterações nas diretivas geopolíticas norte-americanas. Neste mesmo período o Departamento de Estado dos Estados Unidos (DoS) solicitaria estudos referente ao desenvolvimento uma aeronave multifuncional de combate supersônico que apresentasse baixo custo de aquisição e operação, sendo destinada basicamente ao mercado de exportação a fim de compor o portifólio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistence Program) para atendimento de itens de defesa a nações com as quais os Estados Unidos tinham interesse em manter sua esfera de influencia. Este programa se materializaria em 1962, com a criação do "Programa FX", uma concorrência viando a aquisição de mais duzentas aeronaves, com este processo prevendo a liberação de  recursos para a produção de três protótipos para avaliação. Neste contexto diversas propostas seriam apresentadas para a apreciação. 
No ano de 1969, o governo norte-americano, no anseio de manter sua influência militar e política sobre seus aliados, começou a considerar um sucessor para a família F-5A/B Freedom Fighter, desta maneira, oito empresas foram convidadas a participar de uma concorrência denominada como Processo IIFA (Improved International Fighter Aircraft). Após análises detalhadas das propostas apresentadas, seria anunciado como vencedor a aeronave Model F-5A-2, apresentada pela empresa Northrop Aircraft Corporation. Projeto este que nada mais era do que uma evolução do caça tático F-5A/B Freedom Fighter, apresentando inúmeras modificações que visavam principalmente, atender as demandas da concorrência que exigiam uma aeronave com desempenho superior aos caças Mikoyan-Gurevich MiG-21 soviéticos. O primeiro protótipo alçou voo em 23 de agosto de 1972, esta nova aeronave estava equipada com dois motores General Electric J85-21 que apresentavam uma maior chegando a 5.000 libras de empuxo, o novo avião, possuía uma fuselagem alongada e aumentada que lhe permitia acomodar mais combustível que seu antecessor. Suas asas foram equipadas com extensões de borda de ataque ampliadas, proporcionando uma área de asa aumentada e consequente manobrabilidade aprimorada. Como diferencial para sobrevivência em um ambiente hostil o agora recém denominado Northrop F-5E Tiger II dispunha de aviônicos mais sofisticados, incluindo crucialmente um novo radar, inicialmente o Emerson Electric AN / APQ-153 (salientado que os modelos anteriores não dispunham de radar), podendo ainda receber, de acordo com a necessidade de customização a pedido do cliente,  sistemas de navegação inercial , equipamentos TACAN- Tatical Air Navegation (sistema tático aéreo de navegação) e ECM - Electronic Countermeasures (contramedidas eletrônicas).

Em 6 de abril de 1973, o 425º TFS (Tactical Fighter Training) sediado na Base Aérea de Williams, no Arizona, receberia o primeiro Northrop F-5E Tiger II de produção. Neste momento seria iniciado o programa de formação de equipes de voo e solo, e construção da doutrina operacional e de combate da nova aeronave. Posteriormente os Northrop F-5E Tiger II, começaram a ser despachados para o Sudeste Asiático, onde receberiam seu batismo de fogo no conflito do Vietnã, atuando como substitutos dos Northrop F-5A Freedon Fighter nas operações “Skoshi Tiger”. Dotando não só a Força Aérea Americana (USAF), mas também diversos esquadrões da Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Além desta nação, seguindo as diretrizes iniciais de seu desenvolvimento, o Northrop F-5E Tiger II, passou a ser oferecido uma série de países alinhados a política externa do governo norte americano, recebendo contratos de exportação para Coreia do Sul, Irã, Chile, Brasil, México, Suíça, Malásia, Cingapura, Taiwan, Marrocos, Jordânia, Grécia, Tunísia, Arábia Saudita, Etiópia. Honduras, Indonésia, Quênia, Noruega, Sudão e Iêmen. Neste contexto o 425º TFS (Tactical Fighter Training) foi designado como o esquadrão responsável em ministrar o treinamento e transição para o Northrop F-5E Tiger II de todos os pilotos estrangeiros cujos países tivessem adquirido a aeronave. Desta unidade saíriam centenas de pilotos, que empregariam o pequeno caça em combates reais como na Guerra do Ogaden (entre Etiópia e Somália), e na Guerra Irã X Iraque. Durante este processo de formação, observou-se a excelente manobrabilidade da aeronave em combate aéreo, iniciando assim seu emprego em como aeronave especializada para o combate dissimilar (DACT), substituindo os treinadores Northrop T-38 Talon até então em uso, que não eram totalmente adequados a esta missão. Aproximadamente setenta células novas de fábrica, que estavam destinadas a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF) foram absorvidas pela Força Aérea Americana (USAF), que as destinou aos esquadrões de treinamentos “Agressores”  como os esquadrões 57th, 64th e  65th (Fighter Weapons Squadrons) que operavam junto à Base Aérea de Nellis no estado de Nevada.  Vale salientar que a aeronave também seria operada aviação naval da Marinha Americana sendo empregadas também no papel de “agressores” em unidades baseadas na cidade  Key West na Florida.
A produção total atingiria até 1987, um total de 1.399 células dispostas entre as versões monoplace F-5E e biplace F-5F Tiger II, no final desta mesma década o modelo começou a ser substituído na Força Aérea Americana (USAF), pelas primeiras versões do novo caça multifuncional General Dynamics F-16 Fighting Falcon. Apesar de estar defasado tecnologicamente em relação as aeronaves de nova geração, alguns dos maiores operadores do modelo vislumbram a oportunidade de prolongar a vida útil das células do Northrop F-5E e F-5F Tiger, pois além de apresentar uma excelente relação custo-benefício em termos de operação, ele possuía, baixa assinatura aos radares e grande manobrabilidade, o que garantiria sua sobrevivência e êxito no novo ambiente de combate dos caças de quarta geração. A primeira experiência de emprego de um modelo de modernização seria desenvolvida pela Força Aérea da República de Singapura (RSAF), com a adoção de radares FIAR Grifo-F produzidos pela empresa italiana Galileo Avionica (similar em desempenho aos modelos norte-americanos Emerson Electric's AN/APG-69), cockpits atualizados e sistema de armas compatíveis com misseis ar ar de longo alcance Hughes Aircraft AIM-120 AMRAAM e de curti alcance Rafael Python. Estes processos de modernização, revigorariam a capacidade de combate do pequeno caça bombardeiro da Northrop Aircraft Corporation, permitindo estender sua vida útil pelo menos até fins da década de 2020. Vale salientar que em seu pais de origem o modelo continuaria a ser operado na versão “Agressor” pela aviação naval na Marinha Americana (US Navy), sendo a mesma reequipada com células usadas adquiridas da Força Aérea Suíça (Schweizer Luftwaffe) no ano de 2015.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em fins do ano de 1964, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses Gloster F-8 Meteor, que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento das demandas nacionais. No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante a Gloster Aircraft Co., divulgaria um boletim informativo, que restringiria em muito o perfil operacional destas aeronaves inglesas, com esta medida sendo embasada na provável incidência de problemas relacionados desgaste estrutural. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação. Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década. Assim no final do ano de 1965, seriam conduzidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), passando-se a considerar a aquisição de novos caças multifuncionais com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção esta que seria negada pelo Departamento de Estado do governo norte-americano sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. Após esta negativa, o governo brasileiro passou a cogitar a aquisição de pelo menos doze caças Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter que deveriam em primeira instancia substituir parte dos antigos vetores e compor o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Trafego Aéreo (SISDACTA). No entanto restrições orçamentarias e a necessidade emergencial de se modernização a aviação de transporte, levariam ao cancelamento deste estudo, com a lacuna por um interceptador de alta performance sendo preenchida somente em 1972 quando foram recebidos os primeiros Marcel Dassault Mirage IIIEBR (F-103E). A opção pela aquisição de caças da norte-americanos passaria a figurar novamente em meados da década de 1970, quanto tornava-se clara a necessidade em substituir os antigos Lockheed AT-33A lotados junto 1º Grupo de Aviação de Caça (1ºGAvC)  e no 1º/14º Grupo de Aviação (1º/14º GAv).

Assim no início do ano de 1974, o Ministério da Aeronáutica (MAer) lançou uma concorrência internacional, prevendo a aquisição de pelo menos trinta novas aeronaves que pudessem executar a contento missões de defesa aérea e ataque a solo. Diversas propostas seriam apresentadas resultando em um short-list (finalistas) onde figuravam modelos como franco-inglês BAC Spect Jaguar, italiano Aermachi MB-326K, inglês Bae Harrier MK-50 e os norte-americanos McDonnell Douglas A-4F Skyhawk e Northrop F-5E Tiger II.  A escolha  acabaria recaindo sobre este último concorrente, que além de atender a todas a necessidades operacionais, tinha como diferencial ser o único supersônico da relação, apresentava a melhor relação de custo benefício em termos de aquisição e operação. Em meados do mesmo ano, um contrato no valor de US$ 115 milhões de dólares seria celebrado entre a Northrop Corporation e o Ministério da Aeronáutica (MAer), prevendo a aquisição de trinta e seis células monoplaces e seis biplaces. A versão monoplace escolhida seria o Northrop F-5E Tiger II básico, contemplando algumas customizações em termos de avionica, já a versão pretendida biplace, destinada as tarefas de treinamento e conversão operacional, o Northrop F-5F Tiger II, ainda se encontrava nos estágios finais de desenvolvimento, e não se encontrava disponível para o atendimento do cronograma brasileiro. A fabricante projetava sua entrada em serviço, somente em fins do ano de 1976, o que atrasaria significadamente a implantação da aeronave na Força Aérea Brasileira. Como solução a esta demanda, optou-se pela aquisição de seis células da versão mais antiga do modelo,  o Northorp F-5B, que havia sido desenvolvida anteriormente como aeronave de treinamento e conversão para a versão de ataque F-5A Freedom Fighter. Os primeiros caças Northrop F-5E Tiger II brasileiros, seriam recebidos em meados de 1975. No entanto em meados da década de 1980 os Northrop Tiger já se encontram em uso há quase 15 anos, e acumulavam um índice preocupante de perdas em acidentes, reduzindo perigosamente a disponibilidade de aeronaves. Este cenário clamava pela necessidade de um processo de recomplementação imediata da frota de caças F-5E Tiger II para manter operacionalmente os três esquadrões de primeira linha. Paralelamente almejava-se também a aquisição de aeronaves de treinamento do modelo F-5F, visando assim melhorar o processo de conversão dos pilotos que até era realizado pelos F-5B Freedom Fighter. modelo que apesar de compartilhar a mesma origem do F-5E era muito inferior a este em termos de desempenho e manobrabilidade. 
A opção natural por aeronaves novas de fábrica estava fora de cogitação pois sua produção havia sido encerrada em fins de 1987, restando apenas a busca por compras de oportunidade junto ao mercado internacional. O governo norte-americano em atendimento a esta demanda apresentou ao governo brasileiro uma proposta para aquisição muito atrativa para a aquisição de até quarenta células usadas das versões F-5E e F-5F sobre a égide de um programa denominado Peace Amazon II. Desta maneira em 1988 a Força Aérea Brasileira adquiriu vinte e duas células do Northrop F-5E e quatro F-5F usadas que pertenciam a Força Aérea Americana (USAF) celebrando contrato no valor de US$ 13,1 milhões. Ficou definido que estas aeronaves seriam transladadas por pilotos das unidades de caça das Bases aéreas de Canoas (RS) e Santa Cruz (RJ), tendo como destino final o Rio Grande do Sul. Os seis primeiros F-5E Tiger II partiram da Base Aérea de Nellis no estado de Nevada, com os aviões subsequentes decolando de Homestead, na Florida. As viagens foram realizadas sempre na ala de um Boeing KC-137 do 2º/2º Grupo de Transporte, em função das aeronaves não terem o sistema de rádio VHF padrão. Os Northrop F-5E Tiger do segundo lote chegaram em Canoas entre outubro de 1998 e setembro de 1989. Após o recebimento, uma análise mais detalhada seria realizada, mapeando uma série de problemas estruturais, com alguns destes sendo classificados como de ordem grave, principalmente entre as unidades oriundas dos Esquadrões Agressores (devido ao perfil de emprego em voo que exigia muito das aeronaves). Com base neste diagnostico decidiu-se encaminhar todas as células para Parque de Material de Aeronáutica de São Paulo (PAMASP) para que se aplicasse um minucioso processo de recuperação. Nesta oportunidade, seis aeronaves deste lote receberam a cambagem para operar o casulo CT-51F Caiman para o emprego em missões de guerra eletrônica.

Durante este programa de retrofit das células, verificou-se também que os Northrop F-5F, estavam anteriormente dotados dos sensores, antenas e todo aparato para a operação do sofisticado sistema de alerta de radar do tipo RWR (Radar Warning Receiver), com este conjunto rusticamente retirado pelas autoridades americanas na  Base Aérea  Nellis AFB, Nevada, antes da entrega aos pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), ilustrando assim a preocupação do governo norte americano em repassar o emprego de determinadas tecnologias de guerra eletrônica, a outras nações mesmo que consideradas de espectro político e ideológico amigas. As aeronaves recebidas neste lote apresentavam inúmeras diferenças quando comparadas as células novas de fabrica recebidas em 1975, não dispondo principalmente da sonda de reabastecimento em voo,  antena de VHF nem a quilha dorsal que abrigava a antena de ADF. Os assentos ejetores eram do modelo Northrop Improved, em vez do Martin-Baker MK.BR-Q7A originais indicados pelo fabricante. Estas diferenças trariam problemas para a padronização na cadeia de suprimentos de reposição, assim por pertencerem a lotes distintos, a Força Aérea Brasileira resolveu concentrar os F-5E do  primeiro lote de 1975 nos esquadrões  1º/1º GAVCA e  2º/1º GAVCA e as células do segundo no 1º/14º GAV. Estes novos aviões receberam as matriculas de FAB 4956 a 4877.  Das vinte e duas aeronaves adquiridas dezesseis estavam entre os primeiros trinta F-5E Tiger II produzidos, dos quais os FAB 4856, 4857 e 4858 eram respectivamente o primeiro, segundo e quarto F-5E Tiger II que deixaram as linhas de produção da Northrop. As células foram escolhidas diretamente das unidades da USAF, sendo onze originarias do 425th Tactical Fighter Training, sediado em Willians AFB e os demais onze oriundos dos famosos 64th e 65th Agressor Squadron (AS) unidades que eram vinculados ao 57th TTW (Tactical Training Wing).
Em 1997 os dois lotes dos caças F-5E Tiger II começaram a receber a integração para a operação com os modernos mísseis israelenses Rafael Python III em substituição aos já obsoletos AIM-9B Sidewinder,  devolvendo a aeronave uma capacidade adequada para emprego em missões de combate ar ar, posteriormente  este processo abrangeu também o emprego do míssil ar ar de fabricação nacional o Mectron MAA-1 Piranha.  A partir do ano de 2008 a células remanescentes começaram a ser encaminhadas a Embraer para sofrerem um extenso processo de revitalização e modernização que resultaria na nova versão "Mike", permitindo estender a vida útil dos Tigres da Northrop até meados da década de 2020.

Em Escala.
Para representarmos o F-5E´s "FAB "4856 " empregamos o antigo kit da Monogram, na escala 1/48, sendo na época a única opção disponível (hoje sem dúvida o novo modelo do fabricante AFV é a melhor opção), para se configurar a versão brasileira não é necessário proceder nenhuma modificação no modelo original.  Utilizamos decais confeccionados FCM presentes no set 48/03.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de superioridade aérea, adotado após as revisões em âmbito de parque, as células foram recebidas com os vistosos esquemas de pintura camufladas Agressores em esquemas como Ghost, Snake,Lizard, Grape e Partchese tiveram a aplicação das marcações nacionais, sobre as americanas



Bibliografia : 

- O Catorze - Esquadrão Pampa, Carlos Lorch - Revista Força Aérea Nº 5
- Northop F-5 Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Northrop_F-5
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html