Dodge Série D (VTNE - VTE)


História e Desenvolvimento. 
Em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge iniciaram um projeto ambicioso para desenvolver um automóvel inovador, distinto dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Nos primeiros anos, a produção era predominantemente artesanal, com dezenas de veículos fabricados manualmente. Em 1914, a empresa foi formalmente constituída como Dodge Motors Company, adotando processos de produção em série que ampliaram significativamente sua capacidade operacional. Com o início da produção em larga escala, a Dodge Motors Company alcançou rápida notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio. A qualidade e a confiabilidade de seus veículos asseguraram uma participação expressiva no setor, gerando recursos financeiros que viabilizaram investimentos em novos segmentos e consolidaram a marca como referência no mercado automotivo. O falecimento dos irmãos Dodge em 1920 representou um divisor de águas na história da empresa, levando a mudanças significativas em sua orientação estratégica e estrutura organizacional. Apesar desse impacto, a Dodge continuou a operar com foco em inovação e crescimento, preparando o terreno para sua expansão em novos mercados. Em 1928, a Dodge Motors Company foi adquirida pela Chrysler Corporation, passando a integrar um conglomerado que incluía marcas como De Soto, Plymouth e Fargo. Sob a liderança do empreendedor Walter P. Chrysler, a marca Dodge manteve sua identidade distinta e continuou a expandir sua presença no mercado, beneficiando-se da estrutura e dos recursos do grupo. No final da década de 1920, a Dodge direcionou esforços para o desenvolvimento de veículos utilitários leves voltados para o mercado civil. Esses modelos foram projetados com base nas plataformas de veículos comerciais de passageiros, uma estratégia que minimizou os custos de projeto e produção ao aproveitar o ferramental existente. Destinados ao transporte de cargas e atividades pesadas, incluindo operações fora de estrada, os utilitários alcançaram êxito comercial, reforçando a reputação da Dodge como símbolo de robustez e versatilidade. O crescimento contínuo das vendas foi interrompido pela crise econômica de 1929, que impôs desafios financeiros significativos à Dodge. A aquisição pela Chrysler Corporation, consolidada no ano seguinte, proporcionou a reestruturação necessária para a continuidade das operações, integrando a Dodge ao portfólio de marcas do conglomerado. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global, marcado pela ascensão do partido nazista na Europa e o início de uma corrida armamentista, criou oportunidades no mercado militar. A diretoria da Dodge Motors Company identificou o potencial de atender às demandas das forças armadas e, em 1934, iniciou o desenvolvimento de protótipos de caminhões militares de médio e grande porte. Esses projetos foram fundamentados na experiência prévia da empresa, que forneceu veículos leves ao governo dos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. O primeiro resultado desses esforços foi o caminhão experimental K-39-X-4, um modelo com tração nas quatro rodas e capacidade de 1,5 toneladas, apresentado ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army). Esse veículo marcou o início de uma linha de sucesso no segmento de caminhões militares, evidenciando a capacidade da Dodge de atender às exigências do setor de defesa. 

O êxito dos caminhões militares motivou a Dodge a diversificar sua linha de modelos para atender às crescentes demandas do mercado. Em 1938, a empresa inaugurou a planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan, dedicada à produção de caminhões leves e médios. Essa instalação fortaleceu a capacidade produtiva da Dodge, consolidando sua posição como um fornecedor estratégico de veículos militares e civis. Em 1939, a Dodge Motors Company apresentou uma linha redesenhada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e designada como "Job-Rated". Essa linha foi desenvolvida para atender a uma ampla gama de tarefas e trabalhos, combinando funcionalidade e estética contemporânea. O lançamento marcou um avanço significativo na oferta de veículos utilitários, reforçando a reputação da Dodge no mercado civil e preparando a empresa para demandas futuras no setor militar. Na mesma época, o agravamento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico evidenciou a necessidade de modernização e reequipamento das forças armadas dos Estados Unidos. O Exército dos Estados Unidos (US Army) estabeleceu um padrão para veículos de transporte, dividindo-os em cinco classes com base na capacidade de carga útil: ½ tonelada, 1½ tonelada, 2½ toneladas, 4 toneladas e 7½ toneladas. Esse padrão visava atender às exigências operacionais em um cenário de possíveis conflitos globais. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) testou e aprovou três caminhões comerciais padrão com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1½ toneladas 4x4, o GMC de 2½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Esses veículos foram selecionados para atender às necessidades logísticas e operacionais do Exército, estabelecendo as bases para a produção em larga escala. No verão de 1940, a Dodge-Fargo Division da Chrysler Corporation recebeu um contrato para fornecer 14.000 unidades de caminhões de ½ tonelada com tração integral 4x4, designados pela empresa como série VC. A produção em série teve início em novembro de 1940, e, com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a designação foi alterada para série WC (Weapons Carriers). Esses veículos substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, pertencentes à série original G505, no Exército norte-americano. Os caminhões Dodge WC de ½ tonelada, produzidos em 1940, incluíam os modelos VF-401 a VF-407, equipados com o motor tipo T-203 da Dodge G-621. Esses veículos eram variações dos protótipos pré-guerra RF-40 (-X) e TF-40 (-X) (ou T-200/T-201), montados em um chassi com distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Durante 1940, a Dodge fabricou mais de 6.000 unidades sob dois contratos com o governo norte-americano, demonstrando sua capacidade de atender às demandas militares em larga escala. Entre o final de 1940 e o início de 1942, foram produzidas aproximadamente 82.000 unidades de caminhões de ½ tonelada com tração 4x4, sob diversos contratos com o Departamento de Guerra dos Estados Unidos. A produção foi realizada tanto pela Dodge Motors Company quanto pela Fargo Motor Car Company. A família Dodge WC alcançou um total de 38 variantes. Um aspecto fundamental da série WC era a intercambialidade de 80% das peças de reposição entre as diferentes versões e modelos produzidos pela Dodge. Essa padronização facilitou significativamente a logística de suprimentos e os processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, garantindo maior eficiência operacional.
O fim da Segunda Guerra Mundial resultou na desmobilização imediata das indústrias de defesa norte-americanas, com o cancelamento de contratos de produção militar. Para a Dodge Motors Company, esse cenário exigiu a reorientação estratégica para novos nichos no mercado civil e comercial, além de um ambicioso plano de internacionalização voltado para mercados emergentes, com destaque para a América Latina. A Dodge já estava presente no Brasil desde a década de 1930, por meio da empresa carioca Chrysbraz Comercial Ltda., controlada pelos acionistas da Mesbla S/A. Essa operação comercializava modelos Chrysler, Dodge, Plymouth e Fargo, importados no formato CKD (Completely Knocked Down) e montados localmente. No final da década de 1940, a Dodge retomou esse modelo de parceria, firmando contratos em 1947 com três empresas regionais: Companhia Distribuidora Geral, em São Bernardo do Campo, São Paulo; Cipan Comercial, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; Cirei Exportações e Importações S.A., em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A Brasmotor, a mais estruturada dessas empresas, comercializou, em um período de oito anos, mais de 3.500 automóveis e aproximadamente 12.000 veículos comerciais, consolidando a presença da marca no mercado brasileiro. Em 1956, o Governo Federal brasileiro criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), um programa que oferecia incentivos significativos para o estabelecimento de uma indústria automotiva nacional. Apesar do atrativo pacote de benefícios, a diretoria da Chrysler Corporation, controladora da Dodge, não demonstrou interesse imediato. Propostas para a instalação de uma fábrica conjunta, apresentadas pela Brasmotor em 1956, e negociações com a Willys em 1957 para a produção local de 6.000 unidades anuais do Plymouth Savoy, com 65% de nacionalização, foram rejeitadas. O projeto Chrysler-Willys do Brasil S.A., embora autorizado pelo GEIA em dezembro de 1957, não foi concretizado. A chegada da Chrysler Corporation ao Brasil ocorreu indiretamente por meio da Simca do Brasil, uma subsidiária da Société Industrielle Mécanique et Carrosserie Automobile (Simca Francesa). Em 1958, a Simca estabeleceu uma planta fabril em São Bernardo do Campo, São Paulo, alinhada aos incentivos do GEIA. Em 1963, a Chrysler adquiriu a matriz francesa da Simca, e, em 1966, assumiu o controle da Simca do Brasil. A partir de agosto de 1967, a empresa passou a operar como Chrysler do Brasil S.A. Sob a gestão da Chrysler do Brasil, o portfólio inicial incluía os modelos Simca Chambord, Simca Alvorada e Simca Jangada. Esses veículos passaram por uma revisão técnica abrangente, com melhorias no controle de qualidade e a introdução de uma garantia inédita de 36.000 km ou dois anos de uso. Essa reestruturação resultou em um aumento expressivo nas vendas, com o primeiro trimestre de 1968 registrando um crescimento de 220% em relação ao mesmo período do ano anterior. O sucesso comercial criou condições para o planejamento de novos lançamentos. Em junho de 1968, a Chrysler confirmou o Dodge Dart como o próximo modelo a ser introduzido no mercado brasileiro, visando competir no segmento de automóveis de origem Chrysler. Para o segmento de veículos compactos, a empresa considerou o Simca 1000 e o Hillman Imp, ambos com motor traseiro. Contudo, a fábrica de São Bernardo do Campo não dispunha de espaço suficiente para a produção desses modelos. A Chrysler do Brasil optou por priorizar o segmento de carga e utilitários, considerando o forte mercado nacional para esses veículos. A produção foi iniciada em 1967 em uma planta industrial recém-adquirida em Santo André, São Paulo, anteriormente operada pela International Harvester Corporation, que encerrou suas atividades no Brasil em 1964. 

Os primeiros modelos lançados sob a marca Dodge foram voltados para aplicações comerciais e industriais, alinhando-se às demandas do mercado brasileiro. A entrada da Chrysler do Brasil S.A. no mercado brasileiro marcou um momento significativo para a indústria automotiva nacional, com a introdução de uma linha de veículos de carga projetados para atender às demandas do mercado. Este relatório detalha a estreia da empresa no Salão Internacional do Automóvel de 1968, a apresentação dos modelos Dodge D-100, D-400 e D-700, suas especificações técnicas e o impacto de sua chegada no cenário competitivo brasileiro. Em novembro de 1968, a Chrysler do Brasil S.A. fez sua estreia oficial no mercado brasileiro durante o Salão Internacional do Automóvel, realizado em São Paulo. A empresa apresentou três modelos de veículos de carga, abrangendo diferentes categorias de capacidade: Dodge D-100: Picape com capacidade de 700 kg; Dodge D-400: Caminhão leve com capacidade de 3,5 toneladas; Dodge D-700: Caminhão médio com capacidade de 8 toneladas. A exposição destacou o compromisso da Chrysler com o mercado brasileiro, posicionando a marca Dodge como uma concorrente robusta no segmento de veículos comerciais. O primeiro modelo a chegar às concessionárias, em maio de 1969, foi o Dodge D-700. Com um design de inspiração norte-americana, caracterizado por uma cabine recuada, o veículo era equipado com o motor a gasolina Dodge V8 318, reconhecido como o maior e mais potente motor a gasolina produzido no Brasil até então. Suas principais especificações incluíam: Motor: V8 318, 5.212 cm³, bloco e cabeçote de ferro, comando de válvulas no bloco acionado por corrente metálica, carburador de corpo duplo, diâmetro de 99,3 mm e curso de 84,1 mm; Potência e Torque: 198 cv a 4.200 rpm e 42 kgfm a 2.400 rpm; Transmissão: Caixa manual de quatro marchas (opcionalmente cinco, com a primeira não sincronizada), reduzida com acoplamento elétrico; Suspensão: Dependente, tipo eixo rígido com feixe de molas nos dois eixos; Freios: Hidráulicos com assistência a vácuo, a tambor nas quatro rodas; Direção: Tipo rosca sem fim, não assistida; Tanque de Combustível: Capacidade de 104 litros; Chassi: Disponível em três comprimentos de entre-eixos, variando de 3,68 m a 5,00 m. O Dodge D-700 foi projetado para atender às demandas de transporte de cargas pesadas, destacando-se pela robustez e confiabilidade. Em agosto de 1969, a Chrysler lançou o Dodge D-400, posicionado como um concorrente direto do Ford F-350, que dominava o segmento de caminhões leves por uma década. Lançado como parte da linha 1970, o D-400 compartilhava o motor V8 318 de 5,2 litros, ajustado para entregar 203 cv, tornando-o o caminhão a gasolina mais potente do mercado brasileiro. Suas especificações incluíam: Motor: V8 318, 5.212 cm³, com 203 cv; Transmissão: Caixa manual de quatro marchas, com a primeira não sincronizada; Tanque de Combustível: Capacidade de 68 litros; Suspensão, Freios e Direção: Similares ao D-700, com suspensão de eixo rígido, feixe de molas, freios a tambor e direção tipo rosca sem fim. O D-400 foi bem recebido, consolidando a presença da Dodge no segmento de caminhões leves. Em novembro de 1969, a picape Dodge D-100 foi introduzida no mercado. Equipada com o mesmo motor V8 318 de 5,2 litros, ajustado para 198 cv, a D-100 apresentava: Transmissão: Caixa manual de três marchas sincronizadas; Suspensão: Convencional, com eixos rígidos e molas semi-elípticas; Capacidade de Carga: 700 kg. A picape foi projetada para atender às necessidades de transporte leve, combinando desempenho e praticidade. 
Em janeiro de 1970, a linha 1970 trouxe uma novidade significativa para o Dodge D-700: a introdução do motor Perkins a diesel de seis cilindros e 5,8 litros, oferecendo maior eficiência para operações de carga pesada. Em outubro do mesmo ano, a Chrysler lançou o Dodge D-900, que apresentava melhorias como: Rodas: Raiadas, com para-choques mais largos; Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas; Direção: Hidráulica, disponível como opcional; Freios: Acionados a ar; Motores: Opções V8 318 de 5,2 litros a gasolina e Perkins de 5,8 litros a diesel. O D-900 foi projetado para atender a demandas mais exigentes, reforçando a competitividade da linha Dodge. A introdução dos modelos D-100, D-400, D-700 e, posteriormente, D-900 posicionou a Chrysler do Brasil como uma forte concorrente no mercado de veículos de carga. A combinação de motores potentes, designs robustos e opções de configuração versáteis permitiu à Dodge atender a uma ampla gama de necessidades comerciais, desafiando marcas estabelecidas como a Ford. A rápida aceitação dos modelos no mercado brasileiro evidenciou a eficácia da estratégia da Chrysler em priorizar o segmento de carga e utilitários. A década de 1970 foi marcada por mudanças significativas na indústria automotiva brasileira, impulsionadas por fatores como a crise do petróleo e transformações no mercado corporativo. Em resposta à crise do petróleo, que incentivou o desenvolvimento de motores mais eficientes, a Chrysler do Brasil introduziu, na linha 1976, o Dodge D-400 equipado com um motor a diesel Perkins 4236 de 3,9 litros. As especificações técnicas do motor incluíam: Cilindrada: 3.860 cm³, com diâmetro de 98,4 mm e curso de 127 mm; Taxa de Compressão: 16:1; Sistema de Injeção: Bomba injetora de atuação direta; Potência e Torque: 90 cv a 3.000 rpm e 30 kgfm a 1.500 rpm (valores brutos). Esse motor, posteriormente utilizado no Volkswagen 6-80 e no Chevrolet D-10, destacou-se pela eficiência e confiabilidade, atendendo às demandas do mercado por veículos de carga mais econômicos. No mesmo período, o Dodge D-900 foi substituído pelo Dodge D-950, que manteve as opções de motores disponíveis, incluindo o V8 318 de 5,2 litros a gasolina e o Perkins de 5,8 litros a diesel. O D-950 trouxe melhorias incrementais, mantendo a robustez característica da linha Dodge. Em julho de 1979, a Volkswagenwerk, proprietária da Volkswagen do Brasil, anunciou a aquisição de 67% das ações da Chrysler do Brasil, incluindo suas fábricas e os direitos de produção de seus veículos no país. A transação, formalizada em janeiro de 1979, surpreendeu o setor automotivo brasileiro. Em novembro do mesmo ano, a Volkswagenwerk adquiriu os 33% restantes, assumindo o controle total da empresa. O principal objetivo da Volkswagen era utilizar a infraestrutura industrial da Chrysler do Brasil para ingressar no mercado de veículos de carga, um segmento no qual a empresa ainda não tinha presença global significativa. Apesar das declarações iniciais da Volkswagen sobre a continuidade da linha Dodge, a estratégia de longo prazo priorizava a substituição desses modelos por novos caminhões desenvolvidos sob a marca Volkswagen. Em fevereiro de 1981, a razão social da Chrysler do Brasil foi alterada para Volkswagen Caminhões, marcando o fim da identidade Chrysler no mercado brasileiro. Nos anos seguintes, a linha Dodge Série D, que incluía modelos como o D-400, D-700 e D-950, foi gradualmente descontinuada. A infraestrutura industrial adquirida foi redirecionada para a produção da primeira geração de caminhões Volkswagen, alinhada com a estratégia global da empresa de expandir sua presença no segmento de veículos comerciais. 
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante o inicio da Segunda Guerra Mundial, preocupado com a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, o governo norte-americano sob a gestão do presidente Franklin D Roosevelt  incentivou a participação do Brasil no esforço de guerra aliado. Como contrapartida, o Brasil obteve acesso a vantagens estratégicas como : Acordos bilaterais de comércio: Fortalecimento das relações econômicas com os Estados Unidos. Acesso ao programa  Leand & Lease Bill Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos): Uma linha de crédito de US$ 100 milhões para aquisição de equipamentos militares modernos, incluindo armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Entre 1942 e 1945, o Exército Brasileiro recebeu mais de 5.000 caminhões militares de diversos modelos, como GMC CCKW, Diamond T, US White Corbitt Cargo, Ward La France, Chevrolet Série G, e Studebaker US6G. Esses veículos proporcionaram uma capacidade significativa de mobilização de tropas e cargas, modernizando as operações logísticas da  Força Terrestre. Na década de 1950, a frota de caminhões adquirida durante a guerra enfrentou sérios problemas operacionais, decorrentes de: Desgaste natural: O uso intensivo durante e após o conflito comprometeu a condição das viaturas. Dificuldade de manutenção: A produção dos modelos recebidos foi descontinuada nos Estados Unidos, dificultando a importação de peças de reposição essenciais. Essa situação gerou preocupações críticas no comando do Exército Brasileiro, pois a redução da capacidade de transporte ameaçava diretamente a prontidão operacional. A necessidade de soluções emergenciais tornou-se prioritária para manter a funcionalidade das forças terrestres. A aquisição de uma nova frota de caminhões militares, como os modelos REO M-34 e M-35 com tração 4x4 e 6x6, foi considerada a solução ideal para substituir os veículos obsoletos. No entanto, o alto custo de tal investimento estava fora do alcance orçamentário do Exército Brasileiro na época. Estudos mais realistas resultaram em três estratégias complementares: Aquisição limitada de caminhões modernos: Aquisição:  de um pequeno número de caminhões militares modernos como os norte-americanos REO M-34, visando atender às necessidades mais urgentes com equipamentos atualizados -Repotencialização de frotas existentes: Estudos para modernizar e remotorizar os caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, prolongando sua vida útil por meio de reformas e atualizações -Adoção de caminhões comerciais militarizados: Utilização de veículos comerciais adaptados para cumprir missões secundárias, oferecendo uma solução econômica e imediata. Mesmo com esta pauta na mesa,  o Exército Brasileiro enfrentou desafios significativos para manter sua capacidade operacional devido à obsolescência de sua frota de caminhões militares. Assim para  recuperar a capacidade logística do Exército Brasileiro, três alternativas foram consideradas: aquisição de novos caminhões militares, repotencialização de veículos existentes, e adoção de caminhões comerciais militarizados. 

Contudo, os estudos para modernizar os caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foram descartados devido a: Alto custo de implementação: Os investimentos necessários excediam as capacidades orçamentárias. Falta de expertise técnica: O Brasil não dispunha de experiência prévia em programas de modernização de tal escala. O cancelamento dessa iniciativa intensificou a necessidade de ampliar a aquisição de caminhões comerciais militarizados, que poderiam complementar a frota militar, composta majoritariamente por veículos 6x6 projetados para operações fora de estrada. A adoção de caminhões comerciais militarizados visava liberar a frota 6x6 para missões fora de estrada, destinando os novos veículos a funções secundárias, como transporte em ambientes urbanos e rodoviários. Esse conceito já havia sido implementado pelo Exército Brasileiro desde a década de 1930, com o uso de modelos como Chevrolet 112 Tigre, Chevrolet 137 Comercial, Chevrolet Gigante 937, e Opel Blitz II, todos adaptados para operações militares. A introdução em larga escala de caminhões comercialmente militarizados permitiu uma redistribuição eficiente dos recursos logísticos, otimizando a utilização da frota existente e garantindo a continuidade das operações. Para apoiar a indústria automotiva nacional, o Ministério do Exército optou por veículos produzidos pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), que fabricava dois modelos de caminhões médios: o FNM D-9500 e o FNM D-11000. Após avaliação, o FNM D-11000 foi selecionado devido às suas características estruturais, que atendiam aos requisitos para militarização. As principais especificações do modelo incluíam: Robustez estrutural: Projetado para transportar cargas pesadas em estradas precariamente pavimentadas e terrenos irregulares -  Chassi reforçado: Equipado com sete travessas de reforço forjadas em aço de alta resistência, garantindo durabilidade e capacidade de suportar condições adversas -  Adequação ao uso militar: A construção robusta do D-11000 oferecia as condições necessárias para adaptações destinadas a operações militares. A estratégia de redistribuir a reduzida frota de caminhões militares 6x6 para missões fora de estrada e utilizar veículos comerciais em funções secundárias demonstrou pragmatismo e eficiência.   A partir de 1964, o Exército Brasileiro passou a adquirir a nova linha de caminhões Chevrolet C-60 e Ford F-600 , disponíveis nas configurações de tração 4x2 e 6x6.  Reconhecendo a importância de aumentar a capacidade operacional dos caminhões, especialmente em ambientes fora de estrada, o comando do Exército Brasileiro buscou implementar um novo esforço estratégico. Novamente em função do baixo orçamento existente, a solução deveria ser doméstica, passando pela aquisição de novos caminhões militarizados de fabricação nacional, porém estes novos veículos deveriam realmente incorporar capacidades militares aos modelos civis existentes no mercado, permitindo assim operar nos ambientes fora de estrada característicos dos veículos de emprego militar. 
Na década de 1960, a Engesa – Engenheiros Especializados S.A. emergiu como uma empresa de destaque no cenário industrial brasileiro, consolidando-se posteriormente como um dos principais fabricantes de equipamentos militares terrestres do país.  A Engesa destacou-se pela qualidade de seu quadro técnico, composto por profissionais altamente qualificados, muitos dos quais formados pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Essa equipe foi fundamental para o desenvolvimento de tecnologias avançadas, posicionando a empresa como um polo de inovação no setor industrial brasileiro. Em 1966, a Engesa alcançou um marco significativo com o projeto e a fabricação do sistema de tração 4x4, conhecido comercialmente como “Tração Total”. Esse kit, projetado para equipar veículos de série nacionais, era composto por: Caixa de transferência com duas tomadas de força; Eixo dianteiro direcional; Guincho (opcional). Posteriormente, o sistema foi expandido para configurações 6x4 e 6x6, aproveitando os eixos e feixes de molas traseiros originais dos veículos. Destinado inicialmente a picapes e caminhões produzidos por fabricantes como Chevrolet, Ford e, mais tarde, Dodge, o sistema “Tração Total” conferiu aos veículos comerciais um desempenho off-road excepcional, até então inédito no Brasil. O sistema “Tração Total Engesa” revolucionou a capacidade operacional dos veículos equipados, ampliando significativamente sua versatilidade. Por exemplo, uma picape Ford F-100 equipada com o sistema apresentava capacidade de carga duplicada e era capaz de superar rampas com inclinação de até 85%. Essa inovação destacou a Engesa como líder em soluções de mobilidade para ambientes desafiadores. A linha de produtos “Tração Total” foi patenteada no Brasil e no exterior, consolidando a propriedade intelectual da Engesa e atraindo a atenção de mercados internacionais. No âmbito nacional, o sistema despertou o interesse das Forças Armadas Brasileiras, que reconheceram seu potencial estratégico. Em 1967, o projeto “Tração Total” foi oficialmente classificado como “De Interesse para a Segurança Nacional”, um marco que reforçou a relevância da Engesa no setor de defesa.O sistema de “Tração Total” da Engesa, patenteado na década de 1960, criou uma oportunidade estratégica para montadoras nacionais expandirem sua presença no mercado militar brasileiro. A necessidade de modernização da frota das Forças Armadas, composta por veículos obsoletos como os GMC Série CCKW e Studebaker US6G, incentivou a colaboração entre fabricantes automotivos, a Engesa e o Ministério do Exército para o desenvolvimento de caminhões militarizados com capacidades avançadas de tração.  A partir de 1963, veículos produzidos pela General Motors do Brasil, como as camionetes Chevrolet C-1416 e os caminhões Chevrolet C-60, foram submetidos a testes de campo com a integração da tração dianteira e do sistema 4x4 da Engesa. Esses ensaios foram cruciais para estabelecer os parâmetros técnicos finais de uma nova linha de caminhões comerciais militarizados, disponíveis nas configurações de tração 4x4 e 6x6. As principais plataformas selecionadas para conversão incluíam: Chevrolet D-60; Mercedes-Benz LA-1111 e Ford F600. Em meados de 1965, foram assinados os primeiros contratos de produção entre as montadoras, a Engesa e o Ministério do Exército. As entregas dos caminhões militarizados tiveram início no começo de 1966, marcando um avanço significativo na modernização da frota militar brasileira. Esses contratos fortaleceram a indústria automotiva nacional, alinhando-se aos objetivos do Governo Federal de consolidar o parque industrial do país.

Os caminhões entregues apresentavam diferenças visuais e funcionais em relação às versões comerciais, incluindo: Carrocerias de padrão militar; Para-choques reforçados; Ganchos traseiros para tração de reboques de carga geral ou peças de artilharia de campanha de pequeno e médio porte. Além das versões equipadas com o sistema “Tração Total”, as Forças Armadas Brasileiras (Exército, Marinha e Força Aérea) também adquiriram caminhões militarizados em configurações mais simples, adaptados para diversas funções operacionais. A partir de 1970, a diretoria comercial da Chrysler do Brasil identificou o potencial do mercado militar e iniciou negociações com a Engesa para homologar seus modelos Dodge D-400 e D-700 para integração com o sistema “Tração Total”. Essa iniciativa visava posicionar a Chrysler como fornecedora no processo contínuo de renovação da frota militar, substituindo veículos antigos ainda em uso pelo Exército Brasileiro. A homologação dos modelos Dodge representava uma oportunidade estratégica para a empresa conquistar uma fatia significativa desse mercado em expansão. No entanto os primeiros contratos governamentais conquistados pela Chrysler do Brasil envolveram uma versão do caminhão Dodge D-700 configurada como veículo de combate a incêndios. Este modelo de médio porte foi projetado para atender às necessidades de unidades do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar em pequenas cidades do interior, bem como de grandes empresas estatais. Suas principais características incluíam: Carroceria Especializada: Produzida pela empresa carioca Argos Carros de Bombeiro e Veículos Especializados Ltda., sediada em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, com design inspirado em modelos norte-americanos de combate a incêndios; Índice de Nacionalização: Atingiu 95%, com a maioria dos componentes fabricados localmente, exceto as bombas, que eram importadas. Apesar do sucesso em obter contratos com governos estaduais, o volume de vendas permaneceu limitado, refletindo a natureza incipiente do mercado para esse tipo de veículo especializado. Paralelamente, a Chrysler do Brasil, em parceria com a Engesa, desenvolveu três protótipos de veículos militarizados para submissão ao programa de avaliação padrão do Exército Brasileiro. Esses protótipos visavam atender à demanda por caminhões modernos com capacidades off-road, integrando o sistema de “Tração Total” da Engesa. Os modelos testados incluíam: Dodge D-700 Militarizado (6x6): Testado a partir do início de 1971, este protótipo apresentava: Carroceria militar com grades de proteção para faróis e para-choques reforçados; Motor a gasolina V8 de 196 cv; Câmbio Clark e caixa de transmissão ZF do Brasil; Sistema de “Tração Total” 6x6; Conjunto de suspensão “Boomerang” da Engesa, uma inovação revolucionária para operações em terrenos irregulares. Dodge D-400 (4x4): Configurado com tração 4x4, projetado para maior mobilidade em operações táticas. Dodge D-700 (4x4, Cabine Aberta): Equipado com cabine aberta, cobertura de lona e para-brisa basculante, possibilitando transporte aéreo em aeronaves da Força Aérea Brasileira, como o Lockheed C-130 Hercules e o De Havilland C-115 Buffalo.
Os protótipos foram submetidos a extensos testes pelo Exército Brasileiro e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil em 1971. Apesar do desempenho promissor, especialmente do Dodge D-700 6x6 com suspensão “Boomerang”, não houve encomendas desses modelos. A preferência das Forças Armadas Brasileiras por caminhões com motores a diesel, mais econômicos e adequados às operações prolongadas, favoreceu modelos concorrentes, como o Chevrolet D-60 e o Ford F-600D, que foram adquiridos em grande quantidade durante o período. Estes dois modelos com tração integral receberiam pequenos contratos de produção, com as entregas se iniciando a partir de meados do ano de 1972, mas grande parte da frota de caminhões da Chrysler do Brasil a serviço do Exército Brasileiro, seria composta por veículos puramente comerciais sem nenhuma militarização. Estes seriam divididos entre os modelos Dodge D-700, D-750, D-900 e D-950, entregues com diversas configurações de carroceria, como carga seca, baú, oficina, cisterna de água, tanque de combustível, oficina, posto de comando, frigorifico, socorro, basculante e bombeiro.  Os caminhões basculantes Dodge D-950 destacaram-se por sua capacidade superior em comparação com modelos similares, tornando-se peças fundamentais nas operações dos Batalhões de Engenharia de Construção (BEC) do Exército Brasileiro. Essas unidades tinham como missão atuar em obras de cooperação com organismos públicos federais, estaduais e municipais, envolvendo a construção de: Ferrovias; Rodovias; Viadutos; Pontes; Açudes; Portos; Barragens; Poços artesianos. Os Dodge D-950 equiparam diversos batalhões, incluindo: 1º BEC, Caicó, Rio Grande do Norte; 2º BEC, Teresina, Piauí; 3º BEC, Picos, Piauí; 4º BEC, Barreiras, Bahia; 5º BEC, Porto Velho, Rondônia; 6º BEC, Boa Vista, Roraima e 7º BEC, Rio Branco, Acre. A robustez e a versatilidade do Dodge D-950 garantiram sua utilização prolongada nessas unidades, contribuindo significativamente para projetos de infraestrutura em regiões estratégicas do país. Os caminhões Dodge fornecidos pela Chrysler do Brasil permaneceram em operação no Exército Brasileiro até o final da década de 1980. A partir desse período, foram gradualmente substituídos por modelos equivalentes produzidos por outras montadoras, incluindo: Ford F-600 e F-12000; Mercedes-Benz L-1111, L-1113 e L-1114. Os últimos veículos a serem retirados de serviço, no início da década de 1990, foram os caminhões configurados como bombeiros. Muitas dessas unidades foram repassadas a corpos de bombeiros de pequenas cidades do interior do Brasil, estendendo sua vida útil em aplicações civis. O fornecimento dos caminhões Dodge pelo Exército Brasileiro reforçou a posição da Chrysler do Brasil no mercado de veículos comerciais e especializados. A utilização dos D-950 pelos Batalhões de Engenharia de Construção destacou a capacidade da empresa de atender às demandas de operações complexas, contribuindo para o desenvolvimento de infraestrutura nacional. A substituição por modelos de outras fabricantes refletiu a evolução do mercado e a necessidade de renovação tecnológica, mas não diminuiu o legado dos veículos Dodge no contexto militar brasileiro.

Em Escala.
Para a representação do Dodge D-950, foi utilizado um modelo em die-cast na escala 1/43, pertencente à coleção “Caminhões de Outros Tempos” da Editora Altaya, produzido pela Axio. Este modelo foi selecionado por sua fidelidade ao design original do veículo, servindo como base ideal para a customização necessária à versão militar. O modelo base foi submetido a um processo de customização para refletir as características da viatura basculante EB51-1430 do Exército Brasileiro. As modificações incluíram ajustes visuais e funcionais para alinhar a miniatura às especificações militares. O detalhamento da réplica foi aprimorado com a aplicação de decais produzidos pela Eletric Products, pertencentes ao conjunto “Exército Brasileiro 1942-1982”. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo corresponde ao padrão tático militar estabelecido pelo Exército Brasileiro a partir da Segunda Guerra Mundial. Esse padrão foi projetado para garantir camuflagem eficaz em diversos ambientes operacionais, mantendo a uniformidade visual e funcional dos veículos militares. Todos os caminhões Dodge fornecidos pela Chrysler do Brasil para uso militar, incluindo os modelos D-400, D-700, D-750, D-900 e D-950, adotaram esse esquema de pintura durante todo o período de operação, com exceção dos veículos configurados como bombeiros.  Para a aplicação do esquema de pintura tático, foram empregadas tintas e vernizes de alta qualidade produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia : 

- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Batalhões de Engenharia de Construção – Exército Brasileiro
- Chrysler do Brasil - http://www.lexicarbrasil.com.br/chrysler
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976

Vickers-Armstrong M-1917 152,4MM

História e Desenvolvimento
Fundada em 1828 na cidade inglesa de Sheffield, a Naylor Vickers & Company surgiu da parceria entre Edward Vickers e seu sogro, George Naylor. Inicialmente, a empresa operava em um modesto parque industrial dedicado à fundição de aço, destacando-se rapidamente pela qualidade de seus produtos. Com o passar dos anos, a companhia ganhou renome pela fabricação de sinos de igreja de grande porte, cuja sonoridade ecoava por vilarejos e cidades inglesas. Esse sucesso inicial pavimentou o caminho para uma expansão significativa, que transformaria a Vickers em uma potência industrial. Em 1867, a empresa abriu seu capital e foi renomeada Vickers, Sons & Company. Esse marco financeiro permitiu a aquisição de novos negócios e a diversificação de suas atividades. A partir de 1868, a Vickers passou a fabricar eixos marítimos, seguidos por hélices marítimas em 1872. Uma década depois, em 1882, a companhia instalou sua primeira prensa de forjamento, consolidando sua capacidade de produzir componentes pesados para a indústria de manufatura. Foi nesse período que a Vickers começou a se aproximar do setor militar, iniciando, em 1888, a produção de placas de blindagem para uso naval. Dois anos depois, em 1890, a empresa desenvolveu sua primeira peça de artilharia, marcando sua entrada definitiva no mercado bélico. O ano de 1897 representou um ponto de virada para a Vickers. A aquisição da Barrow-in-Furness The Barrow Shipbuilding Company, juntamente com sua subsidiária, a Maxim Nordenfelt Guns and Ammunitions Company, ampliou significativamente o portfólio da empresa. Renomeada Vickers, Sons & Maxim, a companhia passou a oferecer uma vasta gama de produtos, que incluía desde navios e acessórios marítimos até armamentos e placas de blindagem. A expertise em artilharia se consolidou com o desenvolvimento de canhões de calibre superior a 100 mm a partir de 1890, voltados especialmente para aplicações navais. Esses canhões utilizavam cargas propulsoras em sacos de seda, uma solução prática que se tornaria característica da Vickers. Na virada do século, o Almirantado Britânico enfrentava pressões para reduzir os custos operacionais de sua frota. Após experimentos com canhões de tiro rápido, que exigiam invólucros metálicos de latão pesados e dispendiosos, a Marinha Real optou por retornar aos sistemas de artilharia convencional. Nesse contexto, a Vickers, Sons & Maxim apresentou uma proposta inovadora: um canhão de 152,4 mm equipado com um mecanismo de culatra de ação simples. Esse modelo, batizado como Modelo VII, oferecia maior agilidade no carregamento e disparo, além de reduzir peso e espaço ao utilizar cargas propulsoras de cordite em sacos de seda. A Vickers, consolidou sua reputação não apenas na construção naval, mas também no desenvolvimento de armamentos inovadores. Um marco significativo foi o aperfeiçoamento do canhão naval de 152,4 mm, com o lançamento do modelo Vickers VIII. 

Este modelo introduziu um mecanismo de culatra com abertura lateral à esquerda, uma inovação que permitia sua instalação em torres duplas, otimizando o espaço e a operação em navios de guerra. Adotado pela Marinha Real Britânica nos couraçados da classe Formidable, lançados em 1898 e comissionados em 1901, o Vickers VIII tornou-se um componente essencial para a frota britânica. Sua versatilidade garantiu sua presença em diversas embarcações, desde cruzadores de alta velocidade até canhoneiras fluviais, que desempenhavam papéis táticos em rios coloniais do Império. Notavelmente, esses canhões permaneceram em serviço até o término da Segunda Guerra Mundial, atestando à durabilidade e eficácia do projeto da Vickers. Na década de 1910, a empresa voltou sua atenção para a possibilidade de adaptar o canhão Modelo VII, predecessor do Vickers VIII, para uso como arma de campanha terrestre. Embora a ideia tenha inicialmente permanecido no campo dos estudos teóricos, o eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 reacendeu o interesse por essa aplicação. Em resposta às demandas do Exército Britânico, as primeiras unidades do canhão de campanha de 155 mm foram enviadas para os campos de batalha na França em 1916. Essas peças foram inicialmente montadas em transportadores retangulares, originalmente projetados para os Modelos I e IV da Vickers. Apesar de sua eficácia em combate, esses transportadores apresentavam uma limitação significativa: o baixo ângulo de elevação restringia o alcance dos disparos, comprometendo seu desempenho em algumas operações. Reconhecendo essa deficiência, a Vickers agiu rapidamente e, ainda em 1916, desenvolveu um novo transportador que permitia uma elevação máxima de 22 graus. Essa melhoria ampliou o alcance e a flexibilidade do canhão, que se tornou um ativo crucial na Batalha do Somme, um dos confrontos mais intensos da guerra. O canhão de 155 mm Modelo VII destacou-se em missões de fogo anti-bateria, neutralizando posições de artilharia inimigas, além de desempenhar um papel vital na destruição de barreiras de arames farpados e em ataques de longo alcance contra alvos estratégicos em profundidade. Sua capacidade de combinar precisão e potência consolidou sua reputação como uma arma confiável no campo de batalha. Apesar de seu sucesso, o Modelo VII foi gradualmente superado pelo Vickers MK XIX, um canhão de mesmo calibre que incorporava avanços tecnológicos mais recentes. Ainda assim, o Modelo VII continuou em uso até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, devido à sua versatilidade e robustez. A capacidade da Vickers de adaptar seus projetos às exigências do conflito reflete o compromisso da empresa com a inovação e a excelência. Paralelamente, a divisão de armamentos da Vickers continuou a expandir seu portfólio. Um dos desenvolvimentos mais notáveis foi a metralhadora Vickers de 1912, uma arma de infantaria que se tornou um ícone militar. Sua confiabilidade e cadência de tiro fizeram dela uma ferramenta indispensável nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e além. 
Com o término da Primeira Guerra Mundial em 1918, a Marinha Real Britânica (Royal Navy) enfrentou a necessidade de reavaliar sua frota naval, que incluía inúmeros navios considerados obsoletos. Muitos desses vasos de guerra mais antigos, superados pelas rápidas inovações tecnológicas do período, foram desmobilizados e retirados do serviço ativo. Antes de serem destinados ao sucateamento, esses navios passaram por um processo meticuloso de desarmamento. Seus equipamentos, incluindo um número significativo de canhões Vickers-Armstrong de 152,4 mm, dos modelos MK VII e MK VIII, foram cuidadosamente removidos e armazenados para possível reutilização. Esses canhões, que haviam desempenhado papéis cruciais em conflitos navais, encontrariam uma nova vocação em tempos de paz. A versatilidade dos canhões Vickers MK VII e MK VIII permitiu sua reintegração como peças de artilharia costeira, destinadas a fortificar pontos estratégicos ao longo do vasto litoral do Império Britânico. De portos coloniais na África e Ásia a bases estratégicas no Mediterrâneo, essas armas reforçaram a defesa costeira britânica, garantindo a proteção contra ameaças marítimas. Além disso, um número considerável dessas peças foi fornecido a nações aliadas, como Portugal e Espanha, para serem empregadas em funções similares. Notavelmente, os canhões Vickers MK VII em serviço português permaneceram ativos até 1998, quando a divisão de artilharia costeira de Portugal foi finalmente desativada, encerrando quase um século de uso dessas armas robustas. Paralelamente, a Vickers-Armstrong continuou a inovar na área de armamentos, culminando no desenvolvimento do canhão Modelo XIX – BL 6”, cuja concepção teve início em 1915. Esse modelo foi projetado com o objetivo de superar as limitações de seus predecessores, os MK VII e MK VIII, oferecendo maior alcance e um design mais leve, otimizado para o uso como artilharia de campanha. Diferentemente dos modelos anteriores, que haviam sido adaptados para uso terrestre, o Modelo XIX foi concebido desde o início como uma arma de campo, incorporando avanços tecnológicos significativos. O Vickers-Armstrong Modelo XIX foi montado em um transportador moderno equipado com um sistema de recuo hidro-pneumático, que absorvia o impacto do disparo e aumentava a estabilidade da arma. Inicialmente, o transportador era equipado com rodas raiadas de metal, mas, posteriormente, adotou pneus semelhantes aos utilizados pelo obuseiro MK VI de 203 mm, conferindo maior mobilidade em terrenos variados. A plataforma de transporte foi projetada com uma abertura traseira que permitia elevações de alto ângulo, essenciais para disparos de longo alcance. Contudo, devido ao peso significativo do conjunto, o tracionamento por animais era inviável, exigindo o uso de tratores de artilharia pesados, uma prática comum nas forças armadas britânicas da época.

O Modelo XIX mantinha o sistema de carregamento por culatra interrompida, utilizando projéteis de diversos tipos acompanhados por cargas ensacadas de cordite, uma característica herdada de seus predecessores navais. Seu mecanismo de culatra, operado por uma alavanca posicionada à direita, era um exemplo de eficiência mecânica. Ao puxar a alavanca para trás, o parafuso da culatra era desbloqueado e movido para a posição de carregamento. Após a inserção do projétil e da carga, um movimento inverso da alavanca reinseria e travava o parafuso, preparando a arma para o disparo. Essa simplicidade operacional tornava o Modelo XIX altamente eficaz em cenários de combate dinâmicos. Durante a Primeira Guerra Mundial seriam produzidos trezentos e dez canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX, que teriam emprego em todos os fronts deste conflito, substituindo gradativamente nesta função até o final da guerra o Modelo VII. Neste mesmo período estes canhoes seriam empregados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), pois quando do envolvimento deste país no conflito, sua arma de artilharia carecia armas pesadas de longo alcance. Visando suprir esta demanda emergencial seria celebrado um acordo para a produção de cem peça customizadas as necessidades norte-americanas, recebendo a designação de Vickers M-1917 de calibre 152,4 mm. Infelizmente a alta demanda do fabricante inglês no atendimento as necessidades do Exército Real (Royal Army) atrasariam consideravelmente o cronograma original de produção, com estes canhões sendo entregues somente no início do mês de março de 1920, bem após o término do conflito.  Desta maneira os cem Vickers M-1917 após serem entregues seriam destinados a duas companhias de artilharia baseadas na costa oeste dos Estados Unidos. A partir do ano de 1933, a escassez de munição britânica de 152,4 mm nos paióis do Exército dos Estados Unidos (US Army), levaria a decisão de ser armazenar como reserva estratégica noventa e nove canhoes remanescentes, juntamente com cinquenta e um tubos. Anteriormente, porém, em 1927 após sofrer impactos financeiros de grande monta devido a problemas de gestão, a companhia para sobreviver seria forçada a se fundir com a empresa de engenharia Sir W G Armstrong Whitworth & Company , um de seus principais concorrentes neste segmento. Nasceria assim a Vickers Armstrongs Ltd.  A sinergia entre os departamentos de engenharia causada por esta união, resultaria em um excelente portfólio, levando esta nova companhia a conquistar entre as décadas de 1930 e 1940, a posição de terceiro maior empregador do segmento industrial na Grã -Bretanha. Neste contexto passaria a ser considerado também um dos maiores fornecedores de equipamentos militares no continente europeu, atuando deste a produção de armas leves, peças de artilharia de campanha, navios, submarinos, carros de combate e aeronaves.  
O início da Segunda Guerra Mundial, trouxe os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX de volta ao cenário de conflitos globais. Essas peças, que haviam se destacado na Primeira Guerra Mundial, foram reativadas para atender às urgentes demandas do Exército Real Britânico (Royal Army). Três baterias de artilharia de campanha equipadas com o Modelo XIX foram mobilizadas como parte da Força Expedicionária Britânica (BEF), enviada à França em 1940 para conter o avanço das forças alemãs. Apesar de sua robustez, esses canhões enfrentaram os desafios de uma guerra moderna, marcada por táticas de blitzkrieg e armamentos mais avançados. Além do uso em campanha, cerca de 110 canhões Modelo XIX foram empregados na defesa costeira do Reino Unido, permanecendo em estado de alerta contra a temida ameaça de uma invasão alemã durante os primeiros anos do conflito. Essas peças fortificaram pontos estratégicos ao longo da costa britânica, simbolizando a resiliência do país em um momento de grande incerteza. No entanto, a partir do final de 1941, esses canhões começaram a ser substituídos pelos mais modernos canhões norte-americanos M1 de 155 mm, que ofereciam maior alcance e eficiência. Nos Estados Unidos, canhões Vickers M1917 de 152,4 mm, armazenados desde a Primeira Guerra Mundial, também foram reavaliados. Contudo, assim como no Reino Unido, foram rapidamente substituídos pelos obuseiros M1 de 155 mm, refletindo a transição global para armamentos mais avançados. Apesar disso, um pequeno número de canhões Vickers foi cedido à Marinha Real Britânica (Royal Navy) para equipar navios mercantes e de transporte de tropas. Essas armas desempenharam um papel crucial na proteção contra os navios corsários da Marinha Alemã (Kriegsmarine), que representavam uma constante ameaça às linhas de suprimento aliadas no Atlântico. Os canhões Vickers demonstraram sua eficácia em combates navais marcantes. Um exemplo notável foi o HMS Rawalpindi, um navio mercante armado que, em 23 de novembro de 1939, enfrentou os formidáveis cruzadores alemães Scharnhorst e Gneisenau. Apesar da desvantagem, o Rawalpindi lutou bravamente antes de ser afundado, exemplificando o espírito de resistência britânico. Outro episódio heroico envolveu o HMS Jervis Bay, que, em novembro de 1940, sacrificou-se em um confronto desigual contra o cruzador pesado alemão Admiral Scheer, equipado com canhões de 280 mm. A ação do Jervis Bay permitiu que o comboio sob sua proteção escapasse, salvando inúmeras vidas e suprimentos vitais para o esforço de guerra. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX foram gradualmente desativados em suas aplicações de campanha e naval. No entanto, as peças destinadas à artilharia costeira continuaram em serviço, desempenhando um papel defensivo em territórios do Império Britânico. Essas armas permaneceram operacionais até o final da década de 1950, quando o processo de descolonização e o desmantelamento do império colonial britânico marcaram o fim de sua utilização. A desativação dessas peças coincidiu com o declínio do Império Britânico, encerrando uma era em que as armas da Vickers simbolizavam tanto a projeção de poder quanto a defesa de um vasto domínio global.

Emprego no Exército Brasileiro
A artilharia brasileira, profundamente enraizada nas lutas do período colonial e consolidada após a Independência de 1822, representa um pilar essencial da história militar do país, marcada por bravura, inovação e um constante esforço de adaptação às demandas de seu tempo. Durante a era colonial, brasileiros demonstraram coragem nas Batalhas de Guararapes (1648-1649), em Pernambuco, enfrentando as forças holandesas com táticas rudimentares, mas impregnadas de determinação. Esses confrontos iniciais forjaram um espírito de resistência que se tornaria emblemático da identidade militar brasileira. Com a proclamação da Independência, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma força organizada no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos especialização, a artilharia demandava formação técnica avançada, oferecida pela Academia Militar do Império. Jovens oficiais, dedicados ao estudo de cálculos balísticos e estratégias táticas, estabeleceram uma tradição de excelência que elevou o prestígio da arma. Esse rigor técnico encontrou seu ápice durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), particularmente na Batalha de Tuiuti (1866), o maior confronto campal da América do Sul. Sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, um francês naturalizado brasileiro, a artilharia brasileira, apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, resistiu aos ataques paraguaios com notável eficácia. Protegida por um fosso tático inovador, a força liderada por Mallet imortalizou sua determinação com a célebre frase: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. A liderança de Mallet, que lhe rendeu o título de Barão de Itapevi em 1878 e a patente de marechal em 1885, transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional. Após o término do conflito, a Marinha do Brasil iniciou um ambicioso programa de modernização de sua artilharia, voltando-se especialmente para a defesa costeira. Nesse contexto, foram adquiridos os primeiros canhões da renomada empresa inglesa Armstrong Whitworth Ltd., destinados a equipar os fortes espalhados pelo litoral brasileiro. Em um esforço de colaboração interforças, pelo menos dez dessas peças, incluindo modelos de calibre 280 mm, foram cedidas ao Exército Brasileiro. Até o final do século XIX, a artilharia costeira do país passou a contar majoritariamente com modernos canhões da Armstrong Whitworth e da alemã Friedrich Krupp AG, substituindo equipamentos obsoletos de origem francesa. Essas armas, projetadas para proteger os portos brasileiros contra ameaças marítimas, permaneceram em serviço até o final da década de 1920, desempenhando um papel crucial na segurança nacional.

A partir da década de 1930, o aumento das tensões na Europa, impulsionado pelo crescente expansionismo alemão, gerou um estado de alerta global, incluindo no Brasil. Os comandantes militares brasileiros, cientes da posição estratégica do país como potencial fornecedor de matérias-primas essenciais em um conflito de grande escala, reconheceram a urgência de modernizar suas defesas. O extenso litoral brasileiro, com seus portos vitais, exigia proteção adequada contra possíveis ameaças navais. Na época, a artilharia costeira ainda dependia de canhões ingleses, franceses e alemães nos calibres de 150 mm, 280 mm e 305 mm, muitos dos quais já eram considerados obsoletos frente aos avanços tecnológicos da artilharia moderna. Para enfrentar esse desafio, o governo brasileiro lançou um amplo programa de renovação, visando substituir essas peças por equipamentos mais avançados e reforçar a capacidade defensiva dos principais pontos estratégicos ao longo da costa. Neste momento o pais seria envolvido em um processo de aproximação com o governo norte-americano do  Presidente Franklin Delano Roosevelt, que apresentava com principal objetivo estender sua influência conquistando assim a confiança do governo brasileiro. Esta movimentação inicialmente visava facilitar o processo de cessão de áreas no Nordeste do país, visando a construção e estabelecimento de bases áreas e navais para proteção e operação de portos, nestas regiões .  Isto se dava, pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego em um hipotético futuro teatro de operações no continente europeu. O avançar destas negociações logo iram resultar em positivas expectativas que iriam culminar no apoio do governo norte-americano ao estabelecimento da indústria siderúrgica nacional, e também nas primeiras intenções em se prover uma ampla modernização das forças armadas brasileiras.  Entre as soluções práticas se daria um primeiro movimento no processo de reformulação da artilharia de costa do Exército Brasileiro, mediante a decisão de cessão de noventa e nove canhões Vickers-Armstrong M-1971 (Mark XIX), a partir do segundo semestre de 1939. Estes armas pertencentes ao Exército dos Estados Unidos (US Army), apesar de terem sido produzidas no ano de 1920, se encontravam em perfeito estado de conservação, pois tiveram pouco emprego prático, sendo armazenados como reserva estratégica deste o ano de de 1933 devido à escassez de munição inglesa de calibre 152,4 mm. Não existem registros oficias sobre o possível recebimento no Brasil dos cinquenta um  tubos de reposição do canhão que faziam parte do pacote original que fora armazenado  juntamente com estas peças de artilharia. O recebimento dos canhões Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX) seria iniciado em outubro de 1940, com os trabalhos de treinamento logo sendo implementados. Este acordo previa ainda apoio técnico norte-americano visando a produção local da munição de 152,4 mm, que em muito se assemelhava aos seus projeteis de calibre de 155 mm.  
Com o agravamento do conflito na Europa a partir de 1939, o Exército Brasileiro intensificou seus esforços para fortalecer a defesa de seus principais portos comerciais, vitais para o comércio e a segurança nacional. Nesse contexto, o comando militar direcionou os recém-adquiridos canhões Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX) para equipar os fortes localizados próximos aos portos estratégicos do país. Essas baterias de artilharia costeira foram mantidas em estado de alerta constante, garantindo a proteção do tráfego marítimo e a segurança das entradas portuárias, essenciais para o abastecimento e a economia brasileira durante o período de incertezas globais. Os canhões Vickers-Armstrong M-1917 representaram um avanço significativo em relação aos equipamentos até então em uso, como os alemães Krupp 150 mm L/50, adquiridos entre 1901 e 1902, e os franceses Schneider-Canet 150 mm, recebidos na década de 1920. Com um alcance operacional de 18.400 metros e uma cadência de três disparos por minuto, os Vickers superavam amplamente seus predecessores, que alcançavam no máximo 9.000 metros. Essa capacidade permitiu ao Brasil reforçar sua defesa costeira com maior eficiência, respondendo às exigências de um cenário de guerra moderna. A partir de 1942, a necessidade de proteger as regiões portuárias levou à criação de novas unidades operacionais especializadas, como o 6º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (6º GACosM) e o 8º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (8º GACosM). Essas unidades complementaram os já existentes Grupos de Artilharia de Costa, que operavam nos fortes do litoral sul de São Paulo, ampliando a capacidade defensiva do país. Diferentemente dos canhões de grande calibre fixos, os Vickers-Armstrong M-1917 destacavam-se pela mobilidade, podendo ser deslocados para diferentes pontos da costa, o que conferiu maior flexibilidade estratégica às operações de defesa. Apesar de suas vantagens, os canhões enfrentavam limitações em termos de mobilidade devido aos transportadores equipados com rodas de aço, que dificultavam o deslocamento em estradas de terra ou pavimentadas com paralelepípedos, comuns na época. Para superar esse desafio, uma comissão técnica do Exército dos Estados Unidos, em 1941, firmou parceria com a empresa carioca Sociedade Industrial Santa Mathilde Ltda. Essa colaboração resultou em um programa de modernização que substituiu as rodas de aço por pneus de borracha, permitindo maior velocidade e eficiência no tracionamento. Além disso, os transportadores foram adaptados com uma plataforma circular de apoio, dotada de um eixo central que possibilitava a rotação de 360 graus da peça. Essa inovação equiparou os canhões móveis à funcionalidade dos modelos fixos, permitindo posicionamento rápido e disparos em todas as direções. Com essas melhorias implementadas, os canhões Vickers-Armstrong M-1917 passaram a ser tracionados com eficácia pelos tratores Minneapolis Moonline GTX-147 6x6, fornecidos em 1941. Dois desses canhões foram transferidos para a Escola de Artilharia de Costa (EAC), sediada no Rio de Janeiro, onde foram utilizados até o final de 1944 no Curso de Emergência de Oficiais de Artilharia de 1ª Linha. Esse programa visava formar oficiais capacitados para operar as unidades de defesa costeira, reforçando a preparação do Exército Brasileiro em um momento crítico da Segunda Guerra Mundial.

Durante toda a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, os Grupos Móveis de Artilharia de Costa (GACosM) mantiveram-se em constante estado de alerta, desempenhando missões de prontidão e proteção estratégica. Sediadas principalmente no estado de São Paulo, essas unidades também realizaram treinamentos intensivos e operações táticas ao longo dos litorais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, garantindo a segurança dos principais portos do país em um período de incertezas globais. No sul do Brasil, o 7º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (7º GACosM), baseado no Rio Grande do Sul, destacou-se por seus frequentes deslocamentos para outros estados da região, demonstrando a capacidade de mobilidade e adaptação das forças brasileiras. Nessas operações de longa distância, os canhões Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX) foram tracionados por robustos caminhões Diamond T968 & T969 6x6 e Corbitt-US White Cargo, que superavam em velocidade os tratores Minneapolis Moonline GTX-147 6x6 utilizados anteriormente. Esses veículos permitiram maior agilidade no reposicionamento das peças, essencial para a defesa costeira em um contexto de ameaças marítimas. Um grupo de canhões Vickers-Armstrong, ainda com transportadores não modernizados, foi mobilizado para proteger o arquipélago de Fernando de Noronha, operando sob o comando do 1º Grupo Independente de Artilharia (1º GIA). Essa unidade, equipada também com canhões antiaéreos Krupp Flak 88 mm C/56 Modelo 18, utilizava veículos meia-lagarta alemães Sd.Kfz. 7 para tracionar as peças, adaptando-se às condições do terreno insular. Posteriormente, o 1º GIA foi transferido para Niterói, no Rio de Janeiro, mas quatro canhões Vickers-Armstrong permaneceram em Fernando de Noronha, assegurando a defesa do arquipélago até o fim do conflito. O término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, não alterou imediatamente a rotina operacional dos canhões Vickers-Armstrong. Essas peças continuaram em serviço ativo nas bases costeiras, participando de missões de treinamento e desdobramentos de grande escala. Um exemplo notável foi o aquartelamento do 8º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (8º GACosM) em 1946, realizado nas praias do Leblon e na histórica Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Essas operações reforçaram a prontidão das unidades e a importância estratégica da defesa costeira no pós-guerra, em um momento de reconfiguração geopolítica global. A partir de agosto de 1949, os tratores Minneapolis Moonline GTX-147 6x6 começaram a ser substituídos pelos modernos M-4 High Speed Tractors, que trouxeram significativa melhoria na eficiência do transporte dos canhões Vickers-Armstrong M-1917. Esses novos tratores, mais rápidos e robustos, facilitaram o deslocamento das pesadas peças de artilharia, permitindo maior flexibilidade em operações táticas e logísticas. A modernização do equipamento de tração refletiu o compromisso contínuo do Exército Brasileiro em aprimorar suas capacidades defensivas, mesmo após o fim do conflito.
Por décadas após a Segunda Guerra Mundial, os canhões Vickers-Armstrong M-1937 (Mark XIX) permaneceram como pilares da defesa costeira brasileira, desempenhando suas funções com notável eficiência e prontidão. Essas peças, que haviam provado sua confiabilidade durante o conflito global, mantiveram altos índices de operacionalidade, mesmo diante da chegada de sistemas mais modernos, como os obuses norte-americanos M1 de 155 mm. O Exército Brasileiro, ciente do valor histórico e funcional dos canhões Vickers, optou por preservá-los como a principal arma de artilharia costeira, investindo em manutenção meticulosa e atualizações tecnológicas, incluindo melhorias nos sistemas de orientação de tiro. A dedicação à preservação dessas peças refletia não apenas sua robustez técnica, mas também o respeito pela tradição militar brasileira, que via nos canhões Vickers um símbolo de resiliência e capacidade defensiva. Durante as décadas de 1950 a 1980, os canhões continuaram a guarnecer fortes e bases ao longo do extenso litoral do país, protegendo portos estratégicos em um contexto de Guerra Fria, marcado por tensões globais e pela necessidade de assegurar a soberania nacional. No entanto, o avanço acelerado da tecnologia militar, especialmente a partir dos anos 1970, começou a transformar o cenário da artilharia. O desenvolvimento de foguetes e mísseis voltados para saturação de área, capazes de oferecer maior alcance, mobilidade e poder de fogo, tornou os canhões tradicionais, como os Vickers-Armstrong, gradualmente obsoletos para as demandas modernas de defesa costeira. Essas inovações, aliadas a mudanças nas doutrinas militares, sinalizaram o fim de uma era para as peças de artilharia convencionais. No início da década de 1990, os canhões Vickers-Armstrong M-1937 ainda estavam em serviço ativo, operados pelo 6º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (6º GACosM), pelo 8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (8º GACosM) e pelo 10º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (10º GACosM). Reconhecendo a necessidade de modernização, o Exército Brasileiro decidiu integrar o Sistema de Foguetes de Artilharia para Saturação de Área – Astros II, desenvolvido pela empresa brasileira Avibras Indústria Aeroespacial S/A. Esse sistema, que representava o auge da tecnologia militar nacional, oferecia capacidades superiores em termos de alcance, precisão e mobilidade, alinhando-se às exigências contemporâneas de defesa. O processo de transição foi implementado de forma gradual. A partir de 1992, cada um desses grupos recebeu uma bateria inicial do sistema Astros II, permitindo a coexistência temporária com os canhões Vickers enquanto as unidades se adaptavam à nova tecnologia. Até o final de 1994, o último canhão Vickers-Armstrong M-1937 foi oficialmente retirado do serviço ativo, encerrando quase um século de utilização no Exército Brasileiro. A desativação dessas peças marcou o fim de uma era, mas não o esquecimento de seu legado. Muitos canhões foram preservados, seja em unidades militares como testemunhos de sua história operacional, seja em museus militares, onde continuam a inspirar novas gerações com sua imponência e significado histórico.

Em Escala.
Para recriar com precisão o icônico obuseiro Vickers-Armstrong M-1917 (Mark XIX), foi utilizado um inovador kit em resina produzido por meio de impressão 3D, confeccionado artesanalmente com um excepcional nível de detalhamento. Esse modelo, desenvolvido especificamente para representar os canhões desta família que integraram o arsenal do Exército Brasileiro, destaca-se pela fidelidade histórica e pela qualidade de sua execução. Projetado com atenção aos pormenores técnicos e estéticos, o kit dispensa qualquer necessidade de alterações durante a montagem
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos os canhões Vickers-Armstrong M-1971 (Mark XIX) desde o seu recebimento no ano de 1940. Este padrão se manteria inalterado até sua desativação no ano de 1994. Na recriação histórica desses canhões, foram utilizadas tintas e vernizes de alta qualidade produzidos pela Tom Colors, uma marca reconhecida por sua precisão na reprodução de cores militares.

 Bibliografia:  
-  Vickers-Armstrong  Limited - https://en.wikipedia.org/wiki/Vickers-Armstrongs
- Canhão Vickers Armstrong 152,4 mm  VII/VIII - https://pt.wikipedia.org/wiki/Canh%C3%A3o_152,4_mm_modelo_VII/VIII
- A Evolução da Artilharia – Victor H. Mori & Adler Homero Fonseca de Castro
- Veteranos da Artilharia de Costa – Facebook.
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf

Opel Blitz II Comercial (TNE Carga)


História e Desenvolvimento
Fundada em 21 de janeiro de 1862, por Adam Opel, na cidade de Rüsselsheim, no estado de Hesse, Alemanha, a Opel Automobile GmbH, conhecida simplesmente como Opel, nasceu com a missão de fabricar máquinas de costura para uso doméstico e industrial. O que começou como uma modesta iniciativa em um pequeno município alemão logo se transformaria em uma história de inovação, superação e excelência, que levaria a Opel a se tornar uma das maiores montadoras da Europa. Nos primeiros anos, a Opel concentrou-se na produção de máquinas de costura, alcançando um marco impressionante entre 1863 e 1911, com a fabricação e venda de um milhão de unidades. Durante esse período, a empresa também diversificou sua produção, incorporando bicicletas ao seu portfólio. Contudo, por volta de 1900, tornou-se evidente que o futuro da Opel não residiria no mercado de máquinas de costura, onde a produção alemã superava as possibilidades de vendas globais. Esse momento de reflexão marcou o início de uma ousada transição para o setor automotivo, uma decisão que redefiniria o legado da empresa. Em 1898, a Opel deu seus primeiros passos no mundo dos automóveis, iniciando o projeto e desenvolvimento de seus primeiros modelos de carros de passeio. Em 1899, a empresa lançou seu primeiro veículo, produzido na fábrica de Rüsselsheim. Apesar da ambição, o modelo inicial enfrentou desafios comerciais, com menos de cem unidades vendidas, refletindo a cautela do mercado em relação a uma marca ainda nova no setor automotivo. No entanto, a determinação da Opel em inovar abriu novas portas. Em 1901, a empresa firmou um acordo de licenciamento com a montadora francesa Automobiles Darracq France, iniciando a produção local de veículos sob a marca Opel-Darracq. Esses carros combinavam carrocerias alemãs com chassis franceses, equipados com motores rudimentares de dois cilindros. A parceria proporcionou uma valiosa troca de experiências, capacitando a Opel a desenvolver seu primeiro modelo original, apresentado ao público na edição de 1902 do Salão do Automóvel de Hamburgo. A produção em série desse modelo começou em 1906, marcando o início de uma nova era para a empresa. O sucesso comercial levou à dissolução da parceria com a Darracq em 1907, encerrando a marca Opel-Darracq e consolidando a independência da Opel no mercado automotivo. Em 1909, a Opel lançou o modelo 4/8 PS, carinhosamente conhecido como Doktorwagen (“Carro do Médico”). Esse veículo conquistou a admiração de profissionais, especialmente médicos, que precisavam percorrer longas distâncias em áreas rurais onde estradas pavimentadas eram raras. Com sua robustez e confiabilidade, o Doktorwagen tornou-se um símbolo de acessibilidade, sendo vendido por apenas 3.950 marcos alemães – cerca da metade do preço dos modelos de luxo da época. Essa inovação democratizou o acesso ao automóvel, aproximando a tecnologia da Opel das necessidades do cotidiano. 

Um revés significativo ocorreu em 1911, quando um incêndio devastou a fábrica de Rüsselsheim. Longe de se deixar abater, a Opel transformou a adversidade em oportunidade, reconstruindo uma nova instalação com máquinas e ferramentas modernas. Esse investimento em infraestrutura marcou um ponto de inflexão, impulsionando a empresa a novos patamares. Em 1913, a Opel Automobile GmbH consolidou-se como a maior montadora da Alemanha e uma das líderes na Europa, um testemunho de sua visão, resiliência e compromisso com a excelência. Com a entrada da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, a Opel, como outras indústrias do país, teve sua produção reorientada para suprir as necessidades das forças armadas. A fábrica em Rüsselsheim, modernizada após um incêndio devastador em 1911, estava equipada com maquinaria avançada, o que a posicionava como um ativo estratégico para o esforço de guerra. A empresa focou na fabricação de caminhões, essenciais para o transporte de tropas, suprimentos e equipamentos em um conflito marcado por frentes de batalha extensas e condições adversas. Um dos principais produtos da Opel durante o período foi um caminhão de três toneladas, projetado para atender às exigências logísticas do exército alemão. Pela primeira vez, a empresa adotou a padronização de peças, permitindo que componentes de um veículo fossem utilizados para reparar outro, uma inovação que aumentou a eficiência na manutenção em campo. Essa abordagem refletia não apenas a capacidade técnica da Opel, mas também sua adaptação às realidades da guerra, onde a rapidez na reparação de veículos era crucial para manter as operações militares. A mobilização para a guerra trouxe desafios significativos para a Opel. Cerca de 2.500 trabalhadores da empresa – uma parte substancial de sua força de trabalho – foram convocados para o serviço militar, deixando a fábrica com uma equipe reduzida. Para manter a produção, a Opel recorreu à mão de obra de mulheres e prisioneiros de guerra, uma prática comum na indústria alemã durante o conflito. Esses trabalhadores, muitos dos quais nunca haviam operado maquinaria industrial, foram essenciais para sustentar a linha de produção, enfrentando longas jornadas em um ambiente de incerteza e pressão. Sua dedicação, em meio às dificuldades impostas pela guerra, foi um testemunho do esforço coletivo para apoiar a nação em um momento crítico. A produção de caminhões pela Opel não apenas supriu as necessidades logísticas do exército, mas também simbolizou a resiliência de uma empresa que, em poucos anos, havia passado de máquinas de costura e bicicletas para um papel central na indústria automotiva. Os veículos fabricados em Rüsselsheim atravessaram campos de batalha, transportando suprimentos vitais e conectando linhas de frente, onde a mobilidade era muitas vezes a diferença entre o sucesso e o fracasso.
O término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, marcou o início de um período desafiador para a Opel Automobile GmbH, então a maior montadora da Alemanha. Com a derrota do país e as imposições do Tratado de Versalhes, a indústria alemã enfrentou severas restrições, incluindo limitações na produção de bens estratégicos e uma economia abalada pela hiperinflação e pela crise social. Nesse contexto, a Opel, sediada em Rüsselsheim, demonstrou notável resiliência, reconstruindo suas operações e consolidando sua posição como uma força inovadora no setor automotivo europeu. Essa jornada de recuperação foi impulsionada pela determinação de seus trabalhadores e pela visão de seus líderes, que transformaram adversidades em oportunidades para um novo capítulo na história da empresa. Na década de 1920, a Opel lançou modelos que reforçaram sua reputação de inovação e acessibilidade. Um dos marcos foi o Opel 4/12 PS, conhecido como Laubfrosch (“rã verde”), introduzido em 1924. Inspirado em conceitos de produção em massa, esse carro compacto e econômico tornou-se um sucesso comercial, atraindo uma nova geração de consumidores que buscavam mobilidade acessível. O Laubfrosch foi um reflexo do compromisso da Opel em democratizar o automóvel, oferecendo um veículo confiável a um preço competitivo, em um momento em que a Alemanha lutava para se recuperar economicamente.  A empresa também investiu na modernização de suas instalações em Rüsselsheim, incorporando técnicas de produção inspiradas nos avanços da indústria americana, como a linha de montagem. Essa abordagem permitiu à Opel aumentar a eficiência e reduzir custos, consolidando sua posição como líder no mercado automotivo alemão. Em 1928, a Opel alcançou um feito notável, tornando-se a maior produtora de automóveis da Europa, com uma participação de mercado significativa e uma reputação de qualidade e inovação. Um marco crucial na trajetória pós-guerra da Opel foi sua aquisição pela General Motors (GM) em 1929. A parceria com a gigante americana trouxe recursos financeiros, acesso a novas tecnologias e uma visão estratégica que permitiram à Opel expandir suas operações e enfrentar a concorrência global. Sob a égide da GM, a Opel continuou a desenvolver veículos que combinavam engenharia alemã com inovações de produção em massa, mantendo sua identidade enquanto se adaptava às demandas de um mercado em rápida evolução. Essa colaboração também proporcionou estabilidade em um período de turbulência econômica, especialmente com a chegada da Grande Depressão. A Opel, apoiada pela GM, conseguiu manter suas operações e continuar inovando, lançando modelos como o Opel 1.2 Liter em 1931, que reforçava sua oferta de veículos econômicos e confiáveis para o público. Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu em 1939, a Opel Automobile GmbH, sediada em Rüsselsheim, Alemanha, era a maior montadora do país e uma das líderes da Europa, já sob o controle da General Motors (GM) desde 1929. Como uma das principais indústrias automotivas da Alemanha, a Opel foi rapidamente mobilizada para apoiar o esforço de guerra do regime nazista, redirecionando sua expertise em engenharia e produção para atender às demandas militares.  Com o início do conflito, a produção civil de automóveis foi suspensa, e as fábricas da Opel em Rüsselsheim e Brandeburgo foram reorientadas para a fabricação de veículos e equipamentos militares. A empresa concentrou-se na produção do Opel Blitz, um caminhão robusto que se tornou um pilar da logística militar alemã. 

Disponível em várias configurações, como transporte de tropas, ambulâncias e veículos de carga, o Opel Blitz era valorizado por sua confiabilidade e capacidade de operar em terrenos difíceis, desempenhando um papel crucial no transporte de suprimentos e pessoal nas frentes de batalha. Além do Blitz, a Opel produziu componentes para outros equipamentos militares, incluindo peças para aviões e tanques. A fábrica de Rüsselsheim, modernizada após o incêndio de 1911, e a planta de Brandeburgo, inaugurada em 1935, operavam em alta capacidade para atender às exigências do exército alemão. A empresa também fabricou o Opel Maultier, uma variante adaptada para terrenos extremos, com esteiras traseiras que melhoravam a tração em condições como neve e lama, especialmente na Frente Oriental. O término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, trouxe à Opel Automobile GmbH um cenário de desafios sem precedentes. A divisão da Alemanha colocou a fábrica de Brandeburgo, um dos principais centros de produção da empresa, na zona controlada pela União Soviética, além da Cortina de Ferro. As linhas de montagem remanescentes, ou o que sobrou delas, foram transferidas para o território soviético, onde passaram a produzir o Moskwitch, um veículo inspirado no popular Opel Kadett e em outros modelos pré-guerra. Em Rüsselsheim, coração industrial da Opel, 47% das instalações haviam sido devastadas pelos bombardeios aliados nos meses finais do conflito. Com determinação inabalável, a Opel, agora sob a gestão renovada da General Motors Corporation (GM), concentrou seus esforços na reconstrução da fábrica de Rüsselsheim. Esse processo foi marcado por dificuldades econômicas e logísticas, mas impulsionado pelo espírito resiliente de seus funcionários, muitos dos quais retornaram do conflito com o desejo de contribuir para a recuperação da Alemanha. Em 15 de julho de 1946, um marco histórico foi alcançado: o primeiro caminhão Opel Blitz do pós-guerra saiu da linha de produção, em uma cerimônia que contou com a presença do General Geoffrey Keyes, do Exército dos Estados Unidos (US Army), além de líderes locais e jornalistas. Esse momento simbolizou não apenas a retomada da produção, mas também a renovação da Opel como um pilar da indústria alemã. Nos primeiros anos do pós-guerra, a fábrica de Rüsselsheim diversificou sua produção, fabricando refrigeradores Frigidaire para atender às necessidades imediatas de um mercado em reconstrução. No entanto, o Opel Blitz permaneceu como o coração da identidade automotiva da empresa. Equipado com o confiável motor de seis cilindros a gasolina, originalmente utilizado na limusine militar Kapitän, o caminhão era sinônimo de durabilidade e funcionalidade, características essenciais em uma nação que demandava veículos robustos para reconstruir sua infraestrutura. No final da década de 1940, o departamento de projetos da Opel, sob a liderança da GM, começou a planejar um sucessor para o Opel Blitz, com o objetivo de atender à crescente demanda por caminhões e ônibus em uma Alemanha em recuperação. Lançado no final de 1951, o novo Blitz trouxe inovações modestas, mas significativas. O motor de seis cilindros em linha com válvulas laterais, embora considerado tecnologicamente ultrapassado, manteve-se como uma escolha confiável devido à sua robustez e funcionamento silencioso. Acoplado a uma caixa de câmbio de quatro velocidades, com a primeira marcha não sincronizada, e a uma tração traseira suspensa por molas multifolhas de desmultiplicação simples, o veículo foi projetado para atender às necessidades práticas do período. A inovação mais notável, embora discreta, foi a introdução de uma cabine monobloco em aço. Essa evolução substituiu as antigas carrocerias de chapa montadas sobre estruturas de madeira, que eram pesadas, frágeis e pouco rígidas. A nova cabine, mais leve e resistente, representou um avanço significativo em segurança e eficiência, refletindo o compromisso da Opel em adaptar-se às exigências de um mercado em transformação. Para os motoristas que conduziam o Blitz pelas estradas danificadas do pós-guerra, essa melhoria significava maior confiabilidade e conforto em suas jornadas diárias.
Na década de 1950, a Opel Automobile GmbH, sob a égide da General Motors, consolidou sua recuperação após os desafios do pós-Segunda Guerra Mundial, lançando o Opel Blitz II, um caminhão que combinava funcionalidade com um design moderno inspirado nos utilitários norte-americanos da Chevrolet. Com linhas que remetiam ao estilo aceito nos Estados Unidos, o Blitz II apresentava laterais pronunciadas, um capô arredondado com uma grade cromada de destaque, portas altas e um para-brisa chanfrado. Esses elementos conferiam ao veículo uma estética sofisticada, comparável aos modelos produzidos em cidades como Detroit e Chicago, tornando-o não apenas um utilitário, mas também um símbolo de inovação em uma Alemanha em reconstrução.  Como caminhão de tonelagem média, o Opel Blitz II ocupava um nicho semelhante ao do Citroën 23Ru no mercado francês, destacando-se por sua economia, confiabilidade e robustez. Ele se tornou o parceiro ideal de pedreiros, pequenos empresários da construção civil, criadores de gado, distribuidores de bebidas e fornecedores de combustível, que dependiam de sua versatilidade para enfrentar as demandas do dia a dia. Disponível em diversas configurações de carroceria, o Blitz II era onipresente, adaptando-se a diferentes necessidades com a mesma determinação que impulsionava a recuperação econômica do país. Em 1960, a terceira geração do Opel Blitz foi apresentada no Salão do Automóvel de Frankfurt, marcando um novo capítulo na evolução do veículo. A cabine semiavançada, inspirada nos furgões de entrega de leite norte-americanos, trouxe um design ainda mais moderno, com um capô curto inclinado, um amplo para-brisa panorâmico e um raio de giro reduzido que garantia excepcional manobrabilidade em ambientes urbanos. Essa configuração foi pensada para facilitar o trabalho de motoristas em cidades movimentadas, onde a agilidade era essencial. A Opel ofereceu uma gama de opções personalizáveis, quase “à la carte”, permitindo que os clientes escolhessem entre diferentes configurações de portas – batente ou corrediça para o motorista, lateral de batente único ou engastada, e traseira em uma ou duas partes, incluindo portas do tipo armário. A alavanca de câmbio, agora posicionada sob o volante, trouxe maior conforto ao motorista, simplificando o trabalho de distribuição e transporte urbano. O motor a gasolina General Motors de seis cilindros, com 2.695 cm³ e 70 cv a 3.600 rpm – o mesmo utilizado nos sedãs de luxo da marca –, oferecia um equilíbrio entre leveza e torque, embora seu consumo elevado fosse uma limitação em comparação com os motores a diesel, um mercado dominado pela Mercedes-Benz. Em maio de 1965, a Opel lançou a quarta geração do Blitz, respondendo às demandas do mercado com a introdução de uma opção de motor a diesel. Os clientes podiam escolher entre o motor a gasolina de seis cilindros, agora com 80 cv, ou o motor diesel XPD-90 de 2.100 cm³ e 60 cv, produzido pela Indenor (Grupo Peugeot). Embora menos potente, o motor diesel destacava-se por sua alta confiabilidade e baixo consumo, oferecendo economia significativa para os usuários diários. Essa inovação posicionou o Blitz como uma opção mais competitiva em mercados de exportação, onde a ausência de motores a diesel havia sido uma desvantagem. A partir de 1970, a última versão do Opel Blitz incorporou uma caixa de câmbio sincronizada de cinco marchas, permitindo melhor aproveitamento da potência do motor diesel. Produzido até 1975, o Blitz continuou a ser um símbolo de confiabilidade, atendendo às necessidades de trabalhadores que viam no veículo um parceiro indispensável para suas atividades. Em 1975, seu sucessor, desenvolvido pela Bedford, uma subsidiária britânica da General Motors, assumiu o nome Blitz e continuou a ser produzido na fábrica alemã, mantendo o legado de versatilidade e inovação.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, marcou um ponto de inflexão na história militar global, consolidando o uso de veículos automotores como uma visão de futuro para os exércitos do mundo. No Brasil, essa transformação não passou despercebida. A jovem oficialidade do Exército Brasileiro, imbuída de um espírito de modernização, viu nos veículos motorizados uma oportunidade de fortalecer as capacidades operacionais, um fascínio compartilhado pelas Forças Públicas, hoje conhecidas como polícias militares. Esse movimento representou não apenas um avanço técnico, mas também um símbolo de progresso, conectando a determinação dos militares à promessa de um país em busca de inovação. No início da década de 1920, o Exército Brasileiro incorporou seus primeiros veículos automotores, com destaque para os caminhões Ford Modelo T. A escolha não foi casual: a Ford Motor Company, primeira montadora a se estabelecer no Brasil em 1919, trouxe consigo a produção em larga escala, tornando seus veículos acessíveis e amplamente disponíveis. Montados no país pelo sistema CKD (completely knocked down), no qual componentes eram importados e montados localmente, esses veículos eram, em essência, modelos civis adaptados para uso militar. Apesar de sua simplicidade, os Ford T representaram um marco, oferecendo mobilidade e versatilidade em um contexto onde cavalos e carroças ainda predominavam. A Ford não estava sozinha no mercado brasileiro. Ao seu lado, competiam montadoras norte-americanas e europeias, com destaque para a General Motors, conhecida no Brasil como Chevrolet. A Chevrolet rapidamente conquistou a liderança no segmento de caminhões e utilitários, graças à sua robustez e à capacidade de atender às demandas de um país em desenvolvimento. Esses veículos, inicialmente projetados para o mercado civil, foram adaptados para funções militares, pavimentando o caminho para uma nova era na logística do Exército Brasileiro. Em 1923, o Exército Brasileiro deu um passo significativo rumo à modernização com a criação do Serviço Central de Transportes (SCT), sediado no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Equipado com diversos modelos de caminhões e veículos adaptados para uso militar, o SCT foi uma iniciativa pioneira para a época. Os veículos eram adquiridos diretamente dos fabricantes, geralmente compostos apenas pelo chassi, motor e parte dianteira, sendo posteriormente customizados para atender às necessidades específicas do Exército. A unidade contava com um parque próprio para montagem e manutenção, uma estrutura impressionante que refletia o compromisso com a autonomia e a eficiência operacional. Esse processo de adaptação exigia não apenas habilidade técnica, mas também a dedicação de militares e trabalhadores que transformavam chassis básicos em veículos prontos para missões variadas. O SCT tornou-se um símbolo da capacidade do Exército Brasileiro de inovar, preparando o terreno para o uso crescente de veículos motorizados em operações militares.

A primeira grande demonstração do potencial dos veículos automotores no Exército Brasileiro ocorreu durante a Revolução de 1924, particularmente na frente do Paraná. Sob o comando do General Cândido Mariano da Silva Rondon, um líder visionário, diversos veículos – tanto civis quanto militares – foram empregados em funções estratégicas. De ambulâncias que transportavam feridos, garantindo cuidados médicos em meio ao conflito, a pequenos caminhões que moviam tropas rapidamente, esses veículos provaram sua importância em um cenário de combate. A mobilidade proporcionada pelos automotores não apenas aumentou a eficiência operacional, mas também trouxe um novo nível de agilidade às forças brasileiras, marcando um divisor de águas na história militar do país. Para os soldados que operavam esses veículos e para os feridos que dependiam de sua chegada, os caminhões representavam mais do que máquinas – eram instrumentos de esperança e sobrevivência. O General Rondon, com sua visão estratégica, reconheceu o valor dessa tecnologia, utilizando-a para fortalecer a capacidade de resposta de suas tropas e consolidar o papel dos veículos no futuro do Exército Brasileiro. Na década de 1930, o Exército Brasileiro consolidou sua trajetória de modernização, incorporando uma ampla gama de veículos militares e militarizados, tanto sobre rodas quanto sobre lagartas, provenientes de marcas renomadas como Ford, Chevrolet, Dodge, International, Thornycroft, Commer, Somua, Henschel e Krupp. Essa diversidade refletia a busca por soluções que atendessem às crescentes demandas logísticas e operacionais de uma força armada em transformação. Contudo, em meio à multiplicidade de fornecedores, emergiu uma preferência clara por caminhões leves e médios produzidos ou montados localmente, utilizando o sistema completely knocked down (CKD), no qual componentes importados eram montados no Brasil. Essa abordagem não apenas fortalecia a indústria nacional, mas também garantia maior acessibilidade e manutenção dos veículos, fundamentais para as operações militares. Em 27 de setembro de 1937, o Exército Brasileiro formalizou sua estratégia de aquisição de veículos por meio do “Aviso 658”, uma normativa que estipulava a compra exclusiva de modelos fabricados por quatro montadoras: Ford Motor Company, General Motors Corporation (Chevrolet), Dodge Motor Company e Commer Motors. Essa decisão visava padronizar a frota, reduzindo custos de manutenção e simplificando a logística de suprimentos. A medida refletia o compromisso com a eficiência operacional, mas também a visão de uma instituição que reconhecia a importância de alinhar-se às capacidades industriais disponíveis no país. Nesse contexto, a General Motors Corporation, popularmente conhecida no Brasil como Chevrolet, começou a ganhar destaque nas fileiras do Exército Brasileiro, rivalizando em igualdade com a Ford do Brasil S/A. A preferência por essas marcas era impulsionada não apenas pela qualidade de seus veículos, mas também pela infraestrutura de montagem e suporte que ambas ofereciam no Brasil, garantindo prontidão e confiabilidade em um cenário de recursos limitados.
Entre os primeiros veículos da nova geração adquiridos pelo Exército estavam os caminhões leves Chevrolet Modelos 112 e 137, apelidados de Tigre e Comercial. Esses modelos, robustos para a época, conquistaram espaço devido à sua versatilidade e à capacidade de operar em diferentes condições. Outro veículo amplamente adotado foi a picape Chevrolet 1941, disponível em versões com cabine aberta, ideal para o transporte de pessoal, ou cabine fechada, voltada para cargas. Apesar de sua popularidade, esses modelos apresentavam limitações em termos de capacidade de carga, não atendendo plenamente às necessidades operacionais do Exército Brasileiro, que exigia veículos mais robustos para suportar as demandas de transporte militar. A solução para esse desafio veio com a introdução do Chevrolet 157 Gigante 937, um caminhão com capacidade de transporte de 1,5 tonelada. Esse modelo representou um avanço significativo em relação aos seus predecessores, oferecendo maior robustez e eficiência. Para os militares que dependiam desses veículos em missões de transporte de tropas, suprimentos ou equipamentos, o Gigante era mais do que um caminhão – era um aliado confiável, capaz de enfrentar as estradas precárias e os desafios logísticos de um país em desenvolvimento. A adesão do Brasil ao programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) em 1941 marcou um momento decisivo para as Forças Armadas Brasileiras, particularmente para o Exército Brasileiro. Por meio desse acordo, o país recebeu milhares de caminhões militares com tração 6x6 e 4x4, incluindo centenas de modelos fabricados pela General Motors Corporation, como os GMC G7106, G7107, G-617M, G-506, G-085 M-6 e G-620, além de veículos produzidos pela Ford e Dodge. Esses caminhões representaram um salto significativo na capacidade de mobilização das forças brasileiras, permitindo que os antigos Chevrolet 157 Gigante 937, já obsoletos para as demandas táticas, fossem realocados para funções administrativas e de apoio secundário. Para os militares que operavam esses novos veículos, eles eram mais do que máquinas – eram instrumentos de prontidão e soberania, fortalecendo a presença do Exército em um período de tensões globais. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, o Exército Brasileiro enfrentou a necessidade de redefinir suas prioridades. A experiência adquirida durante o conflito, incluindo a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, destacou a importância da mobilidade e da logística eficiente. Nesse contexto, foi iniciado um movimento de profunda reorganização da frota de caminhões de transporte, com um novo foco em missões de transporte leve voltadas para a integração territorial do Brasil. Essas missões, essenciais para conectar regiões remotas e consolidar a presença militar no vasto território nacional, demandavam veículos com tração 4x4, que ofereciam o melhor equilíbrio entre custo, benefício e versatilidade.

No entanto, no início da década de 1950, grande parte da frota de caminhões militares  de pequeno porte recebida durante a guerra estava comprometida ou fora de serviço. A dificuldade de acesso a peças de reposição, agravada pelas limitações logísticas do pós-guerra, reduziu significativamente a operacionalidade desses veículos. A aquisição de novos caminhões militares importados, embora desejável, foi descartada devido a restrições orçamentárias. Diante desse desafio, o Exército Brasileiro optou por uma solução pragmática: a compra de caminhões comerciais, que combinavam menor custo de operação e manutenção com a robustez necessária para atender às demandas militares. Nesse cenário, a General Motors do Brasil S/A emergiu como uma parceira estratégica. Na década de 1950, a empresa experimentava um crescimento acelerado no mercado civil de caminhões e utilitários, consolidando sua liderança graças à qualidade de seus produtos e à escala de produção. Essa posição permitia à General Motors oferecer preços competitivos e condições vantajosas, especialmente em sua linha de caminhões leves e médios, que se mostravam ideais para as necessidades do Exército Brasileiro. A confiabilidade dos veículos Chevrolet, já testada no mercado civil, inspirava confiança nos militares, que viam nesses caminhões uma solução prática para superar os desafios logísticos do período. Nesse contexto, o governo brasileiro abriu uma concorrência para a aquisição de um grande lote de caminhões comerciais com tração 4x2, visando substituir a frota combalida e atender às demandas de transporte leve em missões de integração territorial e apoio logístico. A concorrência atraiu propostas de três grandes montadoras estabelecidas no Brasil: Ford Motor Company Brasil Ltda, Dodge Motors do Brasil S/A e General Motors do Brasil S/A. A General Motors destacou-se ao oferecer o Opel Blitz II, um caminhão de porte médio que já era amplamente reconhecido no mercado civil como uma ferramenta profissional indispensável. Compacto, mas com boa capacidade de carga, o Blitz II era o favorito de profissionais autônomos e pequenas empresas do setor de construção, transporte e distribuição, que valorizavam sua robustez sem os elevados custos operacionais associados a veículos maiores. Sua versatilidade e confiabilidade também o tornavam uma escolha consolidada em governos estaduais, onde era empregado pelos Corpos de Bombeiros como veículo de intervenção rápida. A proposta da General Motors trouxe uma vantagem competitiva decisiva: o Opel Blitz II era oferecido a um preço extremamente acessível, combinado com níveis comprovados de durabilidade e eficiência. Essa combinação de custo-benefício, aliada à reputação do veículo no mercado civil, posicionou o Blitz II como a solução ideal para as necessidades do Exército Brasileiro. Para os militares responsáveis pela escolha, o caminhão representava mais do que um veículo – era uma promessa de renovação, capaz de atender às exigências logísticas com praticidade e economia.
Após uma avaliação rigorosa, o Opel Blitz II foi declarado vencedor da concorrência, marcando um marco significativo na modernização do Exército Brasileiro. Em meados de 1951, o Ministério do Exército formalizou um contrato com a General Motors do Brasil para a aquisição inicial de pelo menos 300 caminhões. Por se tratar da versão comercial básica, sem adaptações específicas para uso militar, as entregas foram iniciadas imediatamente, com os primeiros veículos chegando às unidades operativas ainda no mesmo ano. Essa rapidez na implementação refletiu a eficiência da General Motors e a urgência do Exército em revitalizar sua frota. Neste período, a incorporação de uma nova frota de caminhões Opel Blitz II ao Exército Brasileiro marcou um passo significativo na modernização de suas unidades, especialmente os Regimentos de Cavalaria, que, a partir de 1969, seriam redesignados como Regimentos de Cavalaria Mecanizados, refletindo a extinção definitiva da tração hipomóvel no Brasil. Em serviço receberiam as designações de  "TNE Auto Caminhão Carga 4x2" e TNE Caminhão Carga 1/ ¾ Ton 4x2.  Concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, esse processo de mecanização representou não apenas uma evolução tecnológica, mas também um símbolo de progresso, conectando a determinação dos militares à missão de fortalecer a mobilidade e a eficiência operacional em um país de vastas dimensões.  Apesar de sua robustez e versatilidade, a capacidade de transporte do Blitz II era limitada devido ao seu porte médio, permitindo o carregamento de apenas seis soldados de infantaria totalmente equipados ou equipes de apoio com armamentos pesados, como morteiros de 81 mm, metralhadoras Browning M-2 calibre .50 de fabricação norte-americana ou as antigas metralhadoras dinamarquesas Madsen 7 mm montadas em tripé. Mesmo com essa restrição, o Blitz II provou ser um aliado confiável, demonstrando notável desempenho em terrenos variados e consolidando sua reputação como um veículo resistente e adaptável. A versatilidade do Opel Blitz II brilhou especialmente durante treinamentos operacionais de grande relevância, como a manobra “A Grande Marcha de 1960”. Nesse evento, os caminhões prestaram suporte logístico essencial ao Décimo Esquadrão Independente de Cavalaria de Guarapuava, que percorreu cerca de 400 km a cavalo até Londrina, no norte do Paraná, para participar do desfile de Sete de Setembro. Embora o Opel Blitz II tenha desempenhado seu papel com distinção, sua capacidade limitada de transporte tornou-se um obstáculo à medida que as demandas operacionais do Exército Brasileiro evoluíam. A partir da primeira metade da década de 1960, os caminhões começaram a ser complementados e gradualmente substituídos por novos modelos produzidos localmente pela General Motors do Brasil, como o Chevrolet Brasil 6500, e, posteriormente, pela família Chevrolet C-60 e D-60. Esses veículos, projetados para atender às necessidades de transporte militar com maior capacidade e eficiência, marcaram o próximo capítulo na mecanização das forças armadas.

Em Escala 
Para representarmos o Opel Blitz II Comercial  TNE Carga "EB21-3412 empregado pelo Exército Brasileiro usamos o modelo em die cast produzido pela Axio para a Editora Altaya na escala 1/43. Assim como a versão militarizada apresenta mínimas diferenças em relação a versão civil, procedemos uma leve conversão em scratch e incluímos como detalhamento itens em resina para representar a carga , para se obter a configuração empregada pelo Exército Brasileiro. A identificação visual do “EB21-3412” foi recriada com a aplicação de decais de alta qualidade, produzidos pela Eletric Products e pertencentes ao conjunto “Exército Brasileiro 1942-1982”
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até  o final do ano de 1982, pequenas alterações seriam relacionadas apenas as marcações de identificação. Os Opel Blitz II Comercial  TNE Carga, manteriam este padrão até sua retirada do serviço ativo.  Na recriação desse padrão para fins de modelismo ou restauração, foram utilizadas tintas de alta qualidade produzidas pela Tom Colors, conhecidas por sua precisão e fidelidade às especificações originais. 




Bibliografia :

- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos - Opel Blitz II - Editora Ataya
- Opel Blitz II Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Opel_Blitz
- A Grande Marcha de 1960 -  Jose M. Gracia Araujo - https://dirceupato.blogspot.com/
- Veículos Militares  do Brasil – EB e CFN https://www.facebook.com/groups/blindadosbrasil