Historia e Desenvolvimento.
No início do ano de 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge decidiram construir um automóvel diferente dos modelos existentes no mercado norte-americano naquele momento. Passando inicialmente a produzir quase que artesanalmente dezenas de veículos, este processo evoluiria para um status de produção em série a partir do ano de 1914. Agora a montadora denominada como Dodge Brothers Motors Company, logo ganharia notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, passando a conquistar um importante fatia daquele mercado. Este sucesso permitiria a empresa a amealhar recursos para iniciar em meados da década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários para emprego no mercado comercial civil. Infelizmente, pouco tempo depois os irmãos fundadores faleceriam, com a empresa em 1928 passando a integrar o conglomerado de empresas da Chrysler Corporation. Os primeiros modelos utilitários criados e lançados no mercado norte-americano, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros desta mesma marca, resultando assim em menores investimentos para projeto e produção. Fazendo assim, uso do mesmo ferramental e processos de manufatura, gerando assim impactos positivos em seu custo final, proporcionando uma grande competividade comercial. A exemplo dos veículos de passeio desta montadora, esta nova série de veículos alcançaria rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez para emprego no transporte de cargas e outras atividades pesadas em ambientes fora de estrada. As vendas em constante ascensão proveriam mais recursos ainda a montadora que passaria a almejar projetos mais ousados a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, um preocupante cenário geopolítico começava a se avizinhar na Europa, principalmente na Alemanha com a chegada ao poder do partido Nazista capitaneado pelo chanceler Adolf Hitler. Este movimento passaria a preocupar uma série de nações entre elas o próprio Estados Unidos que apesar de sua politica aparente de neutralidade, estava sempre a antecipar possíveis ameaças futuras . Atentos a uma possível corrida armamentista em escala mundial como resposta a este cenário, a diretoria da Dodge Motors Company, resolveria direcionar seus esforços e investimentos no promissor nicho de mercado militar. Assim em 1934, fazendo uso de recursos próprios a empresa iniciaria o desenvolvimento dos primeiros projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de porte médio e grande, tendo como base projetos anteriores de modelos produzidos para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1937, a empresa realizaria ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) uma apresentação oficial de seu primeiro modelo experimental, um caminhão de 1 ½ toneladas com tração integral nas quatro rodas, designado como K-39-X-4. Este veículo seria submetido a teste de campo, com seus resultados gerando ótimas impressões junto aos militares, com este processo culminando na assinatura de um contrato de quase oitocentos caminhões. Nos meses seguintes, as primeiras entregas passariam a ser realizadas, e na sequencia seriam firmados novos contratos mais representativos, envolvendo os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada. Versões destinadas ao mercado civil seriam lançadas e comercializadas no mercado doméstico, obtendo grande sucesso comercial. Este êxito motivaria a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, com novos modelos, passando a ocupar as linhas de produção de sua recém-inaugurada planta industrial em Warren Truck Assembly em Michigan, planta esta edificada especialmente para a montagem de caminhões leves e médios. No ano seguinte a montadora apresentaria uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, que apresentavam uma aparência moderna com a designação de "Job-Rated" visava atender a todos os trabalhos e tarefas. Neste mesmo período ficava cada vez mais evidente que as forças armadas norte-americanas deveriam ser emergencialmente modernizadas e reequipadas, visando fazer frente as possíveis ameaças geopolíticas que se pronunciavam cada vez mais na Europa e no Pacífico. No que tange a veículos de transporte seria definido principalmente pelo exército, um padrão a ser adotado se dividindo em cinco classes e caminhões, baseados em carga útil sendo ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ tonelada, 4- e 7 ½ tonelada. Em junho de 1940 o Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) já havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de ½ tonelada 6x6 e o Mack ½ tonelada 6X6. Definiu-se que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões, assim no verão de 1940 a Dodge - Fargo Division da Chrysler recebeu um contrato para a entrega de quatorze mil unidades do modelo de meia tonelada com tração integral 4X4, que foi denominado pelo fabricante como série VC. Sua produção em série em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC (Weapons Carriers), com letra “W“ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que código C, posteriormente foi mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de ½ tonelada.
Durante o ano de 1940, a Dodge Motors Company produziria mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4X4 do modelo Dodge WC de ½ tonelada, constantes em dois contratos celebrados com o governo norte-americano, sendo os modelos VF-401 para o VF-407 (ou motor- tecnologia tipo T-203 da Dodge G-621). Estes em suma eram variações de seus modelos predecessores experimentais pré-guerra, o RF-40 (-X) e o TF-40 (- X) (ou T-200 / T-201), ainda montado em um chassi da mesma distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Estes novos veículos Dodge WC ½ tonelada substituíram no Exército dos Estados Unidos (US Army) os antigos caminhões Dodge VC-1 e VC-6 ½ tonelada, que também faziam parte da série original G505. Um total de oitenta e dois mil dos veículos de ½ tonelada com tração 4X4 seriam produzidos entre o final do ano de 1940 e o início de 1942, sob diversos contratos firmados com Departamento de Guerra (Departament of War) com sua produção sendo realizada não só pela Dodge Motors Company mas também pela Fargo Motor Car Company.Os modelos Dodges WC 1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos novos modelos da linha de 3/4 toneladas lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. A família de veículos Dodge WC, atingiria a impressionante cifra de trinta e oito variantes, entre elas, transporte de tropas, carga, ambulância, carro comando, estação móvel de comunicações, canhoneiro com arma de 57 mm , oficina leve, reconhecimento, entre outros. Um ponto importante a citar era representando pelo índice de 80% de intercambialidade entre as peças de reposição de todas as versões e demais modelos produzidos por esta montadora, facilitando em muito a logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. A versatilidade desta família, motivaria o desenvolvimento de inúmeras versões especiais complementares com a cabine aberta com cobertura de lona.
A variante Dodge WC-54 Ambulância seria a primeira a possuir uma cabine frontal confeccionada em chapa fechada, dispondo ainda de um maior espaçamento entre os eixos com seu sistema de suspensão redesenhada, para assim suavizar seu deslocamento em campo, em virtude proporcionar um melhor conforto no transporte de feridos. Aproveitando esta nova característica decidiu-se criar uma versão de transporte para comandantes em campo, tendo em vista que os carros oficiais existentes até então e não eram aptos a operar nas estradas já bastantes castigas pela guerra. Basicamente este novo veículo era, mecanicamente virtualmente idêntico ao WC-54, sendo equipado com uma carroceria de um modelo civil de um utilitário Dodge modelo 1939, modificada para especificações militares. Este modelo estava equipado com um motor convencional de cabeçote plano de válvulas laterais (do tipo flathead que seria produzido pela Chrysler Motors Company, até meados da década de 1960), possuía seis cilindros, 3.800 cm³ e 105 CV com baixa taxa de compressão, que lhe concedia um torque significativo ideal para operações fora de estrada, porém como ponto negativo apresentava um alto consumo. Sua carroceria possuía quatro grandes janelas laterais pivotantes, assentos dobráveis para possibilitar acesso ao banco traseiro, para otimizar o espaço interno o estepe foi fixado externamente ao lado da porta do motorista, embora a porta estivesse totalmente operacional, ela não podia ser aberta. Na extremidade traseira havia duas portas facilitando o acesso de carga ou ainda manutenção do sistema de rádio. A produção teve início em fins de 1941, com as primeiras unidades sendo entregues as unidades em território nacional, onde passaram a atuar nas tarefa de transporte de oficiais, já nos fronts de combate os Dodge WC-53 passaram a ser empregados também em missões de reconhecimento e também como base de rádio para uso de comandantes no campo de batalha, foram empregados em todos as frentes de batalha, foi também muito usado pela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) em bases áreas para o transporte de oficiais e pilotos. Quase a totalidade destas versões seria produzida com o sistema de tração 4X4, porém em fins de 1942 o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) viria a alterar a configuração de um pelotão armado, passando de oito para doze homens, buscando assim aumentar a capacidade de combate e sobrevivência no campo de combate. No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte americanas, tendo em vista os doze soldados não podiam ser transportados nos Dodge WC-51 e WC-52 Beep, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema o Major General Courtney Hodges, sugeriu a montadora o desenvolvimento de uma versão alongada visando assim comportar os doze soldados necessários. Assim no início de 1943 a equipe de projetos do fabricante iniciou os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo, visando a padronização de componentes, partindo para isto da plataforma do WC-51.
Para solucionar este problema o Major General Courtney Hodges, sugeriu a montadora, o desenvolvimento de uma versão alongada visando assim comportar os doze soldados necessários. Assim no início de 1943 a equipe de projetos do fabricante iniciou os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo, visando a padronização de componentes, partindo para isto da plataforma do WC-51. Voltando as versões com tração 4X4, até o término da Segunda Guerra Mundial, seriam produzidas aproximadamente quinhentas e trinta mil unidades de todos os modelos representando um recorde em termos de veículos desta categoria. Enfim este grande sucesso operacional seria proporcionado pela enorme resistência em campo, facilidade de manutenção e custo-benefício de construção. Ainda durante este conflito esta família de veículos constaria como destaque do programa de ajuda militar Leand & Lease Act. Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com milhares destes sendo cedidos a Inglaterra, Canadá, Brasil, Australia, Forças Francesas Livres e por fim Uniao Soviética. Registros oficiais informam o fornecimento ao Exército Vermelho de quase vinte e cinco mil veículos dispostos nos modelos WC-51 e WC-52. Após o final do conflito seriam empregados novamente em cenários de conflagração real durante a Guerra da Coréia (1950 – 1953). Devido a enorme quantidade de veículos disponíveis, milhares de carros WC-51 e WC-52 permaneceriam em serviço nas forças armadas norte americanas até meados da década de 1950, quando começaram a ser substituídos inicialmente no Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos novos Dodge M-37 em diversas versões. Este processo geraria um grande excedente de veículos em considerável bom estado de conservação, que passariam a ser fornecidos a países como França, Espanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Cuba, Portugal, África do Sul, Israel e Suíça, através de programa de ajuda militar patrocinados pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Em algumas destas nações os veteranos Dodge WC-51 e Dodge WC-52 foram revitalizados localmente, envolvendo principalmente a troca de seu grupo motriz, levando o valente veterano a estender a sua carreira em algumas forças armadas de países em desenvolvimento até pelo menos o início da década de 1980.
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.
A partir de fins do ano de 1941 começaram a ser recebidos no país primeiros os lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras constantes neste programa de ajuda militar, porém os veículos utilitários Dodge WC-51 e WC-52 começariam a ser entregues somente no final do ano de 1942. Quase a totalidade destes lotes iniciais era representando por veículos novos recém-saídos das linhas de produção da Dodge Motors Company e Fargo Motor Car Company. A introdução em serviço no Exército Brasileiro destes novos utilitários com tração integral 4X4 contribuiriam fundamentalmente para elevar a doutrina operacional da força terrestre a outro patamar, não só por prover a imediata substituição de uma gama de veículos leves civis que eram inadequadamente militarizados, e que estavam em uso até então pelas unidades do Exército Brasileiro. Os modernos Dodge WC-51 e WC-52 substituiriam também uma pequena frota de modelos desta mesma categoria, como os antigos modelos Vidal & Sohn Tempo-Werk Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos durante o ano de 1938, porém em número insuficiente para se dotar sequer uma unidade mecanizada. Neste primeiro estágio seriam recebidos algo na ordem de trezentos utilitários norte-americanos desta família o que permitiria enfim o Exército Brasileiro a iniciar um longo processo de transição, partindo de um modal de força terrestre hipomóvel para uma moderna força mecanizada. Neste contexto algumas destas viaturas seriam ainda distribuídas a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil a sim de serem empregadas em tarefas administrativas. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com esta intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações). A tropa além de seu próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música.
O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados e dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. As tropas brasileiras desembarcariam na Itália em agosto de 1944, e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos sob o comando do general Mark Clark. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação norte-americano baseado na cidade italiana de Tarquinia. No que tange a parte de viaturas, seriam disponibilizadas cento e quarenta oito unidades do Dodge WC-51 e trinta Dodge WC-52, constam nos registros que pelo menos três WC-51 seriam entregues a Força Aérea Brasileira que os empregaria em tarefas de transporte de pilotos e cargas em atendimento as missões das unidades do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO). O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocorreria no dia 15 de setembro de 1944, quando os pracinhas brasileiros entraram em açao contra o Exército Alemão (Wermatch), empregando em seu deslocamento os Dodge WC-51 e WC-52. Ao longo de toda a campanha na Itália estes veículos a família Dodge seriam empregados em uma variada ama de tarefas como transporte de pessoal, transporte de carga, reconhecimento armado do campo de batalha (equipados com uma metralhadora Browing M1 calibre.50), carro comando, socorro médico, reboque de artilharia leve antitanque e remoção de cadáveres. Além de seu papel logístico e tático os Dodges WC-51 e WC-52 teriam grande participação nas operações de socorro médico com vários destes veículos sendo empregados pelos batalhões de Saúde do Destacamento de Saúde, operando em complemento aos jipes Willys MB especializados nesta tarefa, sendo empregados na sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização. Neste momento a mobilidade seria fundamental envolvendo no campo de batalhas os padioleiros e por consequente veículos de remoção imediata para o transporte até os postos de saúde (PS) onde seria realizada a triagem, estabilização inicial do ferido grave, tratamento de condições pouco graves que possibilitassem o retorno do ferido ao combate e medidas de saúde preventiva. Também teriam grande emprego nas tarefas de remoção de cadáveres operando junto ao Pelotão de Sepultamento (PS), unidade está especialmente designada para recolher, identificar e sepultar os mortos de suas forças armadas, bem como encaminhar aos familiares seus objetos e pertences, com vários de seus Dodge WC-51 equipados com reboques especializados chegando a rodar mais de quarenta e cinco mil quilômetros operando nestas nobres missões.
Durante grande parte da campanha os veículos Dodges WC-51 e WC-52 pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB) operariam sob as mais difíceis condições de terreno e climáticas, comprovando assim suas qualidades de adaptação junto ao campo de batalha europeu, onde qualquer manutenção ou reparo deveria ser efetuada imediatamente sem o menor suporte técnico adequado de instalações ou de ferramental. Após o término do conflito em maio de 1945, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Estes se juntariam aos demais veículos da mesma classe que já se encontravam no país em serviço desde 1942 não só no Exército Brasileiro, mas também na Marinha do Brasil e na Força Aérea Brasileira, sendo distribuídos a diversas unidades operativas. Registros oficiais atestam que até meados do ano de 1945 um total de novecentos e cinquenta e quatro utilitários Dodge WC-51 e WC-52 seriam entregues as Forças Armadas Brasileiras. Grande parte desta frota se manteria em operação no período pós-guerra, sendo carinhosamente apelidados no Exército Brasileiro como “jipão” ou ainda “pata choca”, sendo preferidos por seus usuários em detrimento a família de jipes Willys MB ou Ford GPW, muito função de seu perfil operacional superior. Seu leque de tarefas junto as unidades infantaria mecanizada, grupos de artilharia de campanha e batalhões de carros de combate, iam desde transporte de pessoal, carro comando, comunicações e tração de obuseiros leves. Estes utilitários da Dodge teriam grande papel no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira nas duas décadas seguintes. Porém em fins da década de 1950 o status operacional da frota começaria a despertar a preocupação por parte do comando do Exército Brasileiro, tendo em vista a baixa taxa de disponibilidade destes veículos. Este cenario era causado principalmente por problemas no processo de aquisição de peças de reposiçao, mais notadamente referente ao motor a gasolina Dodge T-214 de seis cilindros com válvulas laterais e refrigerado a água, conjunto deste que teve sua produção descontinuada no final do ano de 1947 nos Estados Unidos.
Fazia-se necessário então, buscar uma solução emergencial, com sendo desenvolvida através de negociações junto ao Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, visando dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), visando a aquisição de um considerável lote de utilitários mais modernos da família Dodge M-37 e M-43. Estes entendimentos resultariam na aquisição e mais de trezentos utilitários usados destes modelos, que passariam a ser recebidos no Brasil a partir do ano de 1966. Paralelamente seriam conduzidos estudos pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, visando a troca dos motores originais a gasolina Dodge T-214, por modelos a diesel de fabricação nacional, a exemplo dos programas em curso como os planos de remotorização dos caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e veículos meia lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track. Infelizmente este programa não passaria de sua fase inicial de protótipo, sendo adotado como solução paliativa a retifica dos motores originais a gasolina de uma grande parte da frota original dos modelos Dodge WC-51 e WC-52. Nesta mesma década, começariam a entrar em serviço no Exército Brasileiro, os primeiros utilitários de fabricação nacional militarizados da família Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85 e Toyota Bandeirantes, com estes mesmos veículos sendo posteriormente adquiridos pela Marinha do Brasil e pela Força Aérea Brasileira. A incorporação em larga escala destes utilitários nacionais atenderia em grande parte as necessidades de emprego operacional plena desta categoria de veículos na força terrestre. Gradualmente iniciar-se-ia um processo de desativação de grande parte dos veículos dos modelos Dodge WC-51 e WC-52, com poucos destes se mantendo em serviço operacional no início da década de 1970. Registros oficiais atestam que as últimas destas viaturas seriam desativadas em meados do ano de 1976. Já os Dodge WC-52 da Força Aérea Brasileira seriam desativados no ano de 1967, infelizmente não há registro sobre os últimos anos de serviço dos veículos desta família pertencentes a Marinha do Brasil. Atualmente algumas unidades dos Dodge WC-51 e WC-52 são mantidos em estado operacional como viaturas cerimoniais em diversas organizações militares.
Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-51 "FEB 310", pertencente ao Exército Brasileiro e empregado durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial, empregamos o excelente kit produzido pela AFV Club, na escala 1/35, modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-52 (dispondo do guincho mecânico frontal). Incluímos em resina artefatos que simulam a carga em formato de caixas ou lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático militar do Exército dos Estados Unidos (US Army), presente em todos os veículos recebidos pelo Exército Brasileiro na Itália em 1944, com estes recebendo apenas as marcações nacionais brasileiras. Em seu retorno ao Brasil os Dodge WC-51 e WC-52 manteriam este padrão, sendo aplicados apenas pequenos detalhes de marcações de tipo e número de série do veículo, mantendo este esquema até sua desativação.
Bibliografia :
- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Dodge WC-51 - http://cvmarj.info/Dodge_WC-51.html
- Dodge 3/4 Ton WC-51 Uma Experiência real na FEB, por Expedito Stephani Bastos
- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Dodge WC-51 - http://cvmarj.info/Dodge_WC-51.html
- Dodge 3/4 Ton WC-51 Uma Experiência real na FEB, por Expedito Stephani Bastos