Embraer Internacional A-1B AMX


História e Desenvolvimento.
A Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), constituída como uma estatal de capital misto em 19 de agosto de 1969, foi exigida com a missão de realizar a produção em série das primeiras aeronaves de transporte transportadas no Brasil: o Embraer EMB-110, em sua versão civil comercial, e o modelo militar C-95 Bandeirante. A primeira unidade de produção em série, registrada sob a matrícula FAB 2133, foi entregue à Força Aérea Brasileira (FAB) em 9 de fevereiro de 1973. Além de atender a uma significativa demanda militar, as versões civis do EMB-110, destinadas ao transporte regional, alcançaram expressiva notoriedade internacional ao conquistar numerosos contratos de exportação, suprindo as necessidades de dezenas de empresas de transporte aéreo. Esse sucesso comercial, aliado à sólida confiança corporativa da Embraer, levou sua diretoria a considerar a possibilidade de estabelecer negociações com empresas estrangeiras, evoluir para a viabilização de pesquisas conjuntas e para uma eventual transferência de tecnologia. O primeiro acordo prático nesse sentido foi concretizado no início da década de 1970, por meio de um contrato com a empresa italiana Aeronautica Macchi SpA. Esse acordo prévio a fabricação sob licença, no Brasil, de mais de cem unidades do avançado treinador Aermacchi MB-326GB. Embora não envolva transferência de tecnologia, a produção local desse modelo, redesenhado como Embraer AT-26 Xavante, proporcionou à Embraer o domínio de processos e conceitos relacionados à produção de aeronaves em jato de alto desempenho, estabelecendo as bases para avanços subsequentes em sua capacidade produtiva. Com o progresso bem sucedido da implementação do AT-26 Xavante na Força Aérea Brasileira (FAB), a diretoria da Embraer S/A passou a explorar novos nichos de mercado. Entre as propostas, destacou-se o desenvolvimento de uma versão monoplace do treinador, especializada em missões de ataque ao solo. Esse conceito, designado internamente como Programa "AX", foi compartilhado com o projetista-chefe Ermanno Bazzocchi, da Aeronáutica Macchi, que o considera operacionalmente viável. Assim, surgiu o projeto da primeira aeronave "ítalo-brasileira", provisoriamente chamada de Embraer EMB-330. Apesar de sua potencial promessa, a proposta não conseguiu conquistar o apoio do Ministério da Aeronáutica (MAer), que emitiu um parecer crítico sobre as capacidades da aeronave. Diante dessa infecção, a equipe de projetos prosseguiu com estudos para aprimorar o EMB-330, desenvolvendo novas variantes. Contudo, essas iniciativas não avançaram além da fase de concepção da aeronave, resultando na suspensão definitiva do programa.

O espírito de cooperação tecnológica e industrial entre Brasil e Itália foi retomado em 1978, a partir de uma oportunidade surgida durante uma visita de uma comitiva de oficiais e comandantes da Força Aérea Brasileira à Itália. Na ocasião, a diretoria da Aeronáutica Macchi SpA apresentou ao grupo um requisito da Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI) para o desenvolvimento de uma aeronave subsônica de ataque a jato. Esse novo modelo visava substituir o Fiat G.91Y/R e o caça Lockheed F-104G/S Starfighter, usado em missões de ataque ao solo, apoio aéreo aproximado e ataque naval. Ao analisar as especificações propostas, constatou-se que elas eram bastante semelhantes às critérios previamente estabelecidos pelo Ministério da Aeronáutica (MAer) para o projeto "AX". Essa convergência de parâmetros operacionais abriu caminho para o desenvolvimento conjunto de uma nova aeronave de ataque. A proposta foi aprovada pelo Ministério da Defesa Italiano, e, para sua execução, foi formalizada uma parceria entre as empresas Aeritalia Aeronautica e Aeronautica Macchi SpA. Essa colaboração distribuída as condições tecnológicas e industriais permite a criação da aeronave subsônica de ataque italiana, designada como "AMX" (onde "A" representa Aeritalia, "M" refere-se a Macchi e "X" indica seu caráter experimental). As negociações entre os governos brasileiro e italiano foram iniciadas, resultando na inclusão da Embraer S/A no consórcio, com a responsabilidade por um quarto do programa de desenvolvimento e dos investimentos correspondentes. A empresa brasileira coube o projeto e a fabricação dos frascos das asas e da empenagem, bem como a realização dos testes de fadiga desses componentes estruturais. As empresas italianas, por sua vez, ficaram sobrecarregadas dos dois terços restantes, abrangendo a produção da fuselagem, os sistemas de bordo e a condução de testes estáticos e com armamentos. Apesar desses entendimentos iniciais, o processo foi temporariamente suspenso para ajustes contratuais, burocráticos e processuais, que exigiram cerca de seis meses adicionais, adiando o cronograma originalmente previsto. Em maio de 1980, durante a Feira Aeronáutica Internacional de Farnborough, na Inglaterra, o Ministério da Aeronáutica (MAer) reafirmou publicamente seu compromisso com o programa. O contrato oficial foi finalmente assinado entre os dois países em 27 de março de 1981, consolidando a participação da Embraer no desenvolvimento do AMX.
Após ajustes contratuais, a participação da Embraer S/A no programa AMX foi elevada para 30%, enquanto as empresas italianas passaram a responder por 70%. Nesse novo arranjo, coube à empresa brasileira o desenvolvimento e a fabricação das asas, tomadas de ar do motor, estabilizadores horizontais, pilones subalares (suportes para armamentos) e tanques de combustível. Além disso, o Brasil se integra ao projeto de trem de pouso, dos sistemas de navegação e ataque, dos comandos de voo e do controle de armamentos. A Embraer S/A também ficou responsável pela construção de dois protótipos para ensaios em voo e um para testes de fadiga, os quais foram utilizados em um amplo programa de testes prolongados em território nacional. O caça bombardeiro tático Internacional AMX foi projetado como uma aeronave monomotor e monoposto, especializada em missões de ataque, com ênfase em robustez e confiabilidade para operar em condições de alta exposição em ambientes hostis. Equipado com uma gama avançada de sistemas de computação, navegação e ataque, além de contramedidas eletrônicas, o AMX incorpora inovações tecnológicas significativas para a época, como o sistema de comandos de voo "Augmentation System" e a configuração HOTAS (Hands On Throttle And Stick) para navegação e ataque. Sua capacidade de longo alcance operacional, ampliável por reabastecimento em voo, era compatível com as dimensões continentais do Brasil. A primeira maquete do projeto foi concluída em 1982, e a construção de quatro protótipos – dois em cada país participante – teve início quatro anos depois. O primeiro protótipo italiano realizou seu voo inaugural em 15 de maio de 1984, pilotado pelo comandante Mario Quarantelli, chefe de testes da Aeronáutica Aeritalia. Tragicamente, um acidente ocorreu no quinto voo, resultando na morte do piloto, que, embora tenha conseguido ejetar-se, não resistiu aos ferimentos. O programa foi retomado em novembro do mesmo ano com o segundo protótipo italiano. No Brasil, o primeiro protótipo, projetado YA-1 FAB 4200, decolou em 16 de outubro de 1985 nas instalações da Embraer em São José dos Campos, sob o comando do piloto de ensaios Luiz Fernando Cabral. O segundo protótipo brasileiro realizou seu voo inicial em 16 de dezembro de 1986. Posteriormente, foi desenvolvida uma variante biposto, projetada à conversão operacional de pilotos para essa aeronave.

Em 1986, a primeira célula de produção em série do AMX foi entregue à Força Aérea Italiana (Aeronautica Militare Italiana – AMI), passando o modelo a equipar, ao longo dos anos subsequentes, seis grupos de ataque (Gruppo/Stormo). De maneira geral, as versões italiana e brasileira do AMX compartilharam um projeto básico convencional, caracterizado por uma asa alta com enflechamento de 27,5º no bordo de ataque. O sistema de comando de voo era híbrido: leme, spoilers, flaps e estabilizadores eram acionados por um sistema digital assistido por computador Fly-By-Wire (FBW) de dois canais, enquanto os ailerons e profundores operavam por um sistema hidráulico mecânico tradicional. Essa combinação tinha como objetivo principal aumentar a capacidade de sobrevivência da aeronave em combate, permitindo que o piloto retornasse à base com segurança, utilizando as superfícies de comando hidráulico-mecânico, caso o sistema FBW estivesse danificado. A estrutura das células era predominantemente composta por alumínio, com uso de aço em peças específicas e materiais compostos de fibra plástica reforçados em painéis de acesso, na estrutura da cauda, ​​nos ailerons e no duto de ar da turbina. Neste mesmo ano seria definida a produção de uma variante biplace, que passaria a ser designada como AMX-T, este modelo teria como função básica o treinamento e conversão de pilotos, porém, entretanto manteria sua completa capacidade de combate, tendo como limitante somente a redução no seu raio operacional, pois seu tanque de combustível central seria eliminado para ceder espaço ao segundo tripulante. Foram produzidos três protótipos que alçaram voo entre os anos de 1989 e 1990, sendo dois italianos e um brasileiro. O AMX contava ainda com um conjunto avançado de HUD (Head-Up Display) integrado ao sistema HOTAS (Hands On Throttle And Stick), otimizando a interface entre piloto e aeronave. Ao todo, a produção do monoposto alcançou 150 unidades, sendo 110 destinadas à Força Aérea Italiana e 45 à Força Aérea Brasileira (FAB), entregues entre 1989 e 1999. As diferenças fundamentais foram incorporadas às versões de cada país, refletindo suas respectivas demandas operacionais. A variante italiana foi projetada para missões de ataque no perfil “Lo-Lo-Lo” (voo baixo contínuo sobre o campo de batalha), enfrentando as sofisticadas defesas antiaéreas soviéticas, com um raio de ação limitado a 335 km.  Já a versão brasileira foi configurada para operar em um cenário de defesa aérea menos avançado, adotando o perfil “Hi-Lo-Hi” (voo alto até a proximidade do alvo, com voo baixo apenas na fase de ataque). 
Para atender a uma autonomia mínima de 965 km, a variante brasileira exigiria dois tanques de combustível subalares adicionais de 1.100 litros, o que, por sua vez, reduziria sua capacidade de carga bélica útil. No final de ano de 2002, a Embraer S/A anunciou publicamente, que havia celebrado um contrato com a Força Aérea Venezuelana (FAV), para a venda de doze unidades de uma versão melhorada do AMX-T, com estas aeronaves sendo incorporadas com o objetivo de se substituir os antigos treinadores que deveriam substituir os treinadores Rockwell T-2D Buckeye na Aviação Militar daquele pais caribenho. No entanto neste momento uma grave crise diplomática se desenvolvia junto ao governo dos Estados Unidos da América, culminando em uma série de embargos, entres estes figuraria um veto a esta negociação de fornecimento de aeronaves brasileiras, muito em função dos Embraer AMX-T fazerem uso de uma variada gama de componentes norte-americanos. O emprego dos AMX italianos durante a campanha dos Balcãs, clarificaria a necessidade de se  dotar o modelo de uma plena capacidade para operação em qualquer tempo. Este programa implementado pela  Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI) envolveria a modernização do sistema de navegação, instalação de nova tela multifuncional colorida compatível com sistema de visão noturna (NVG – Night Vision Goggles) e sistemas de comunicação com enlace de dados (data link).  A partir de fins da década de 1990, a participação do governo italiano, no projeto norte americano JSF (Joint Strike Fighter), definia o caça multifuncional Lockheed Martin F-35 Lightning II, como futuro substituto do AMX entre os anos de 2015 e 2018. Assim, visando atender a este cronograma, a Força Aérea Italiana (Aeronáutica Militare Italiana - AMI), definiu implementar um segundo programa de atualização, permitindo assim estender a operação da aeronave até o final da década de 2020. Este programa lograria o status de plena efetividade de sua aviação de ataque, evitando ainda aos pilotos italianos, uma exposição a lacunas tecnológicas abissais entre o modelo a ser retirado de serviço e seu novo vetor. Este programa seria conhecido pela sigla ACOL (Aggiornamento delle Capacità Operative e Logistiche – Melhoria da Capacidade Operativa e Logística), com o contrato sendo celebrado no ano de 2004 com a empresa nacional Leonardo S.p.A, no valor de US$ 390 milhões, envolvendo a modernização de cinquenta e duas aeronaves (quarenta e dois monopostos e dez bipostos). O primeiro protótipo alçaria voo em setembro de 2005, com as primeiras aeronaves operacionais sendo disponibilizadas em meados do ano seguinte, com este programa sendo concluído em 2012.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A doutrina operacional da aviação de caça e ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB) foi inicialmente concebida e consolidada durante a campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial. Nesse conflito, pilotos brasileiros, operando os robustos caças bombardeiros Republic P-47D Thunderbolt, realizaram mais de 2.546 surtidas de combate e ataque, estabelecendo as fundações de uma força de ataque moderna e eficaz. Nas décadas seguintes, essa tradição, forjada em combate, foi aprimorada com o uso de aeronaves adaptadas para missões de ataque, como as caças Gloster F-8 Meteor e os Lockheed AT-33. Contudo, a utilização de vetores não específicos para tais operações resultou em limitações que comprometeram os resultados operacionais. Os esforços do Ministério da Aeronáutica (MAer) para superar essas restrições culminaram no programa AMX, que se concretizou na introdução de aeronaves especializadas. Assim, no final da década de 1980, a incorporação de uma aeronave moderna projetada especificamente para missões de ataque ao solo gerou grandes expectativas junto os comandantes da  Força Aérea Brasileira (FAB). Para maximizar essa oportunidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) determinou a criação de uma nova unidade aérea de combate de primeira linha dedicada à operação do AMX. Esse processo resultou, em 22 de abril de 1988, na ativação do 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, sediado na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), no Rio de Janeiro. O nome de código “Adelphi” foi escolhido em homenagem aos veteranos do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvC) - Esquadrao Jambock, que perderam suas vidas em combate na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. O Embraer Internacional AMX recebeu a designação oficial de A-1A na Força Aérea Brasileira (FAB) , e a célula operacional brasileira, registrada sob a matrícula FAB 5500, foi formalmente incorporada em 13 de outubro de 1989, durante uma cerimonia realizada no Rio de Janeiro. Na semana seguinte, teve início o programa de certificação operacional básica da nova aeronave, com este processo sendo concluído em julho de 1990, quando as operações aéreas foram finalmente iniciadas. A etapa subsequente envolveu um amplo programa de desenvolvimento de doutrina operacional e treinamento de pessoal envolvido, que se estendeu até agosto de 1990. Nesse momento, a unidade alcançou o status de plena operacionalidade, contando com pelo menos cinco aeronaves em atividade no 1º/16º GAv – Esquadrão Adelphi. A primeira célula da versão de treinamento e conversão designada como A-1B AMX, seria recebida no dia 7 de maio de 1992 passando  a executar a tarefa de conversão operacional de pilotos da unidade.

O 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, recém-criado como esquadrão aerotático, tinha como missões prioritárias o ataque a alvos de superfície, a interdição do campo de batalha e o apoio aéreo aproximado, atuando em suporte às unidades de combate do Exército Brasileiro. Em caráter secundário, uma unidade também foi preparada para realizar bombardeios estratégicos. Com isso, a Força Aérea Brasileira (FAB) recuperou sua capacidade de ataque ao solo, perdida em meados da década de 1970 com a desativação dos últimos bimotores a projetar Douglas A-26B e A-26C Invader. Até então, essas tarefas eram desempenhadas de forma limitada por treinadores a jatos avançados adaptados para missões de ataque, como os norte-americanos Lockheed AT-33A, TF-33A e T-33A, seguidos posteriormente pelos Embraer AT-26 Xavante. O Embraer A-1A AMX destacou-se como a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) equipada com uma suíte completa de sistemas de autodefesa, tanto passivos quanto ativos, considerados de ponta para a época. Entre os recursos, incluía-se um sistema de alerta RWR (Radar Warning Receiver), que notificava os pilotos quando uma aeronave era rastreada por um radar hostil. Esse sistema operava em conjunto com lançadores de contramedidas chaff e flare, eficazes contra mísseis guiados por infravermelho ou radar, complementados por um pacote de contramedidas eletrônicas ativas (ECM – Active Electronic Counter Measures). Outra inovação do A-1A foi a presença de computadores de missão especializados para o lançamento de armamentos de ataque ao solo, utilizando os modos CCIP (Continuously Computed Impact Point – Ponto de Impacto Continuamente Computado) e CCRP (Continuously Computed Release Point – Ponto de Lançamento Continuamente Computado), otimizados para bombas não guiadas. Esse sistema conferia ao A-1A uma precisão significativamente superior em comparação aos caças-bombardeiros Northrop F-5E Tiger II e Embraer AT-26 Xavante. Adicionalmente, o Embraer A-1A apresentava uma baixa assinatura infravermelha e uma seção reduzida transversal ao radar, características que, aliadas aos sistemas eletrônicos de defesa passiva e ativa, asseguravam uma elevada capacidade de sobrevivência em ambientes hostis. Esses diferenciais consolidaram o modelo como um marco na modernização da capacidade de ataque ao solo da Força Aérea Brasileira (FAB). Este variado pacote eletrônico à primeira vista seria um desafio de adaptação para os jovens pilotos recém formados nos jatos analógicos de treinamento Embraer AT-26 Xavante pertencentes ao 1º/4º Grupo de Aviação - Esquadrão Pacau, e a adoção dos novos A-1B AMX viria a facilitar imensamente a adaptação e aclimatação, ajudando assim os novos pilotos superar o imenso abismo (gap) tecnológico entre estas aeronaves, com todos estes sistemas sendo então desmistificados pelo modelo biplace.
Além desta importante missão o Embraer A-1B AMX podia ainda ser empregado normalmente em missões de ataque e reconhecimento estratégico, pois estas células possuíam as mesmas capacidades operacionais da versão monoplace.  A segunda unidade da Força Aérea Brasileira (FAB)  a incorporar o Embraer A-1A AMX foi o 3º/10º Grupo de Aviação (3º/10º GAv) – Esquadrão Centauro. Em 15 de janeiro de 1998, essa unidade recebeu suas duas primeiras células da versão monoposto. Assim como ocorreu com o 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv), foi implementado um programa intensivo de introdução da aeronave, treinamento de tripulações e formação de equipes, culminando na declaração de operacionalidade da unidade no primeiro bimestre de 2000. Coube aos A-1A e A-1B AMX do Esquadrão Centauro a realização da missão de maior duração já registrada por aeronaves de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB) . Em maio de 2003, duas aeronaves decolaram da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e, com apenas três reabastecimentos em voo realizados pelo Boeing KC-137, sobrevoaram a região oeste do país, a fronteira norte, e pousaram na Base Aérea de Natal, percorrendo mais de 6.500 km. Essa operação apresentou a capacidade de ataque estratégico da Força Aérea Brasileira (FAB) , evidenciando sua possibilidade de atingir alvos em toda a América Latina. A terceira unidade recebeu o A-1A AMX foi o 1º/10º Grupo de Aviação (1º/10º GAv) – Esquadrão Poker, sediado em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A primeira aeronave foi entregue em março de 1999, e a dotação da unidade foi concluída no início de 2004, quando foi declarada operacional. Diferentemente das duas unidades anteriores, a missão prioritária do Esquadrão Poker era o reconhecimento tático do campo de batalha. Inicialmente, suas aeronaves foram equipadas com pods fotográficos nacionais Gespi e Vicon, dotados de capacidades de reconhecimento impasse e infravermelho. Posteriormente, foram adquiridos pods israelenses Recce Lite, mais avançados, projetados para reconhecimento exclusivo com múltiplos sensores. Além disso, o Esquadrão Poker também tinha como missão a supressão de defesas aéreas inimigas (Suppression of Enemy Air Defense – SEAD), com planos para o futuro emprego do míssil nacional antirradiação MAR-1, então em desenvolvimento. Contudo, esse projeto não avançou além da fase de protótipo, privando a Força Aérea Brasileira (FAB)  de um importante recurso dissuasório. De maneira peculiar, quando empregadas em missões de reconhecimento, as aeronaves do 1º/10º GAv – Esquadrão Poker utilizavam a designação e chamada de rádio RA-1.

O Embraer A-1A AMX tornou-se a primeira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a participar do exercício multinacional Red Flag, um dos maiores treinamentos anuais prolongados pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). A participação foi atribuída ao 1º/16º Grupo de Aviação (1º/16º GAv) – Esquadrão Adelphi, que deslocou seis aeronaves, vinte e dois pilotos e sessenta e oito militares para o evento, programado para ocorrer entre 24 de setembro e 4 de outubro de 1998. Para atender às descrições operacionais desse exercício, a Força Aérea Brasileira (FAB) precisou adaptar o nível técnico de seus pilotos ao uso de novas ferramentas e fluxos de planejamento de missões. Até então, as técnicas e procedimentos da Força Aérea Brasileira (FAB) nesse âmbito foram moldados pela experiência adquirida durante a Segunda Guerra Mundial, contrastando com a doutrina norte-americana do "ataque por pacotes". Esse conceito, desenvolvido durante a Guerra do Vietnã na década de 1960, foi consolidado como padrão operacional nas décadas seguintes, sendo aplicado em diversas operações reais com forças aéreas de outros países, devido à diversidade de aeronaves pelas forças armadas dos Estados Unidos. O exercício multinacional Red Flag caracteriza-se por sua alta complexidade, exigindo interação fluida e transparente entre pilotos e aeronaves de diferentes esquadrões e forças aéreas. Nesse cenário, os Embraer A-1A AMX enfrentaram uma oposição robusta simulada, composta por caças norte-americanas de última geração, como o McDonnell Douglas F-15 Eagle, o General Dynamics F-16 Fighting Falcon e o Boeing F/A-18E Hornet, além de caças bombardeiros modernizados, como os Northrop F-5E Tiger III da Força Aérea Chilena. A defesa adversária foi complementada por sistemas eletrônicos que simulavam baterias antiaéreas de mísseis russos, incluindo os modelos SA-6, SA-3 e e franceses SAM Roland. Mesmo nesse ambiente altamente hostil, as aeronaves brasileiras realizaram com sucesso operações de infiltração em território inimigo, alcançando padrões operacionais elevados. Essa participação, combinada às capacidades do A-1A AMX, elevou a Força Aérea Brasileira (FAB) a um novo patamar em termos de doutrina de ataque tático, consolidando sua capacidade de operar em cenários complexos e integrados com forças aéreas internacionais. Em outra ocasião pilotos do caças General Dynamics F-16 da Guarda Nacional Americana da Força Aérea Americana (USAF) que participaram do exercício multinacional, Operação Tiger I, teceriam grande elogios sobre o desempenho da aeronave ítalo-brasileira, solicitando permissão para voar nas aeronaves A-1B AMX.
Apesar de representar um avanço significativo na capacidade de ataque da Força Aérea Brasileira (FAB), os diferenciais tecnológicos do Embraer A-1A AMX foram gradualmente neutralizados pelo avanço dos anos. A partir da segunda metade da década de 1990, novos sistemas de defesa e aeronaves de combate mais avançadas superaram rapidamente seus sistemas, impedindo a vantagem estratégica da aeronave no contexto sul-americano. Consciente dessa realidade, o Comando da Aeronáutica (COMAER) iniciou, na última década daquela época, estudos para avaliar alternativas de modernização da frota de A-1A  e A-1B AMX.  A Força Aérea Brasileira (FAB) planejaria uma modernização mais abrangente, com o objetivo de manter as aeronaves em operação até, pelo menos, meados da década de 2030. Além disso, o programa brasileiro visava adotar a mesma suíte aviônica já selecionada para os projetos Embraer  A-29 ALX (Aeronave de Ataque Leve) e Northrop F-5EM Tiger II, promovendo uma padronização de hardware e software, incluindo sistemas de enlace de dados. Essa uniformização também traria uma redução significativa nos custos de aquisição e gestão da cadeia de suprimentos de peças de reposição. Essa iniciativa foi formalizada em 2003, com a contratação da Embraer S/A como principal responsável pela execução e gerenciamento do programa. Porém as negociações burocráticas atrasaram o processo, exigindo uma renegociação com as empresas no final de 2006. Em 30 de maio de 2007, a primeira aeronave Embraer A-1A AMX, pertencente ao segundo lote de produção, foi entregue com  o objetivo de servir como base para o programa de modernização. Em fevereiro de 2009, foi assinado um contrato no valor de US$ 157,6 milhões para a modernização de 43 aeronaves. O programa incluiu uma extensa revitalização estrutural de todas as células promovendo a troca de componentes críticos, incorporando melhorias que visavam prolongar sua vida útil por mais 20 anos.  Contudo, em 2014, a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) anunciou a redução do número de aeronaves a serem modernizadas, decisão justificada pela priorização de a partir de 2015 para os projetos estratégicos, como o do Embraer KC-390 Millennium e das caças  Saab JAS-39 Gripen NG F-39E. A seguir um novo corte orçamentário no Ministério da Defesa, levaria a suspensão do programa de modernização  por 12 meses, com o programa então  sendo limitado a apenas 14 células, sendo três do modelo A-1B

Em Escala.
Para representarmos o AMX A-1B “FAB 5653” empregamos o excelente kit em resina da escala 1/48 da Duarte Models, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento e injeção para kits em resina. Utilizamos tanques subalares originais e bombas burras MK-83 do set Aircraft Weapons A da Hasegawa. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals presentes no Set 48/08.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado pelos Embraer A-1A e A-1B AMX, que passou a ser aplicado a partir do ano de 2003, apresentando ao longo dos anos pequenas variações em termos de detalhes ao que tange na identificação das unidades. As três células modernizadas mantiveram este mesmo padrão.


Bibliografia :

Revista ASAS nº20  AMX na FAB – Claudio Luchesi e Carlos Felipe Operti
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html

Mercedes-Benz Série LP (VTE - VTNE)


História e Desenvolvimento.
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz desenvolveram, de forma concomitante, os primeiros automóveis motorizados funcionais do mundo. O pioneirismo desses inventores resultou em outras conquistas notáveis, como a criação do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e do primeiro caminhão movido a diesel. Em abril de 1900, foi introduzido o motor "Daimler-Mercedes", um grupo propulsor que revolucionou a produção em série de automóveis comerciais devido à sua simplicidade, eficácia e baixo custo de produção e aquisição. Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa desempenhou um papel significativo no esforço de guerra alemão, fabricando uma ampla gama de produtos, incluindo veículos, componentes diversos e motores de aviação. Após o término do conflito, a economia alemã enfrentou severas dificuldades, marcadas por altas taxas de inflação e desemprego, que comprometeram a renda da população. Esse cenário impactou diretamente as vendas, especialmente de bens de luxo como automóveis de passageiros, exercendo forte pressão sobre a indústria automotiva alemã. Apenas marcas consolidadas, respaldadas por empresas financeiramente robustas, conseguiram sobreviver a esse período de instabilidade, enquanto muitas outras foram compelidas a formar cooperativas ou a se submeter a processos de fusão. Nos anos subsequentes, a produção automotiva recuperou-se de forma gradual. Buscando superar os desafios econômicos, as empresas Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) e Benz & Cie decidiram unir forças em um acordo de administração conjunta e cooperação tecnológica. Esse compromisso, firmado entre seus acionistas e estipulado para vigorar até o ano 2000, previa a padronização de design, produção, compras, vendas e publicidade, com os modelos de automóveis sendo comercializados em conjunto, embora preservando as respectivas marcas originais. Pouco tempo depois, essa integração culminou na formação de uma identidade industrial e comercial única, dando origem à Daimler-Benz AG. O logotipo da empresa, a icônica estrela de três pontas, foi concebido por Gottlieb Daimler. Cada ponta simbolizava um elemento — ar, terra e mar —, representando a versatilidade dos motores desenvolvidos pela companhia, que se adaptavam aos três modais de transporte. Em meados da década de 1930, as vendas da Daimler-Benz AG foram significativamente impulsionadas por encomendas governamentais vinculadas ao ambicioso programa de rearmamento da Alemanha Nazista.  

O portfólio original da empresa, até então centrado em automóveis e caminhões, foi ampliado para incluir a produção de motores aeronáuticos - navais, embarcações de pequeno porte, aeronaves e diversos componentes mecânicos, consolidando a montadora alemã como um fornecedor estratégico da máquina de guerra nazista. Ao término da Segunda Guerra Mundial, suas plantas industriais se encontravam inoperantes devido os incessantes bombardeios aliados, e logo seriam reconstruídas em cooperação com ingleses e norte-americanos, em um esforço para a recuperação econômica do país. Este movimento seria replicado em toda a infraestrutura alemã através do Plano Marshal a partir 1947, demandando neste contexto um grande mercado de veículos utilitários de todos os portes a serem empregados neste programa. Neste cenário a Daimler-Benz vislumbraria uma oportunidade única de mercado, e passaria a concentrar grande parte de seus recursos e esforços no segmento de caminhões de  pequeno e médio porte. A empresa optaria por fazer uso de projeto desenvolvidos originalmente durante a década de 1930, que iriam obter grande sucesso comercial não só na Alemanha, mas também em toda a Europa, resultando em uma grande econômico para a montadora. Contudo, foi somente em meados da década de 1950 que a Daimler-Benz lançou um produto especificamente projetado para atender às demandas daquele mercado no momento de reconstruçao da Alemanha: o Mercedes-Benz MB L-319. O MB L-319 foi projetado com uma cabine avançada (cab-over-engine, ou COE), um conceito que maximizava o espaço para carga útil sem aumentar o comprimento total do chassi ou a distância entre eixos. Essa configuração permitia maior manobrabilidade em áreas urbanas e eficiência no transporte de mercadorias. O MB L-319 era oferecido em diversas configurações, incluindo caminhões de carga, furgões, chassis para ônibus e veículos especializados, o que o tornava extremamente versátil. O sucesso do MB L-319 no mercado Europeu deu origem à família de caminhões LP (Lastkraftwagen-Pulmann), que incluía modelos derivados com capacidades e configurações variadas, como: LP-315,  LP-321,  LP-326. LP-329 e  LP-331 Esses modelos mantinham o conceito de cabine avançada e foram amplamente utilizados na Europa, especialmente na Alemanha, para transporte de mercadorias, serviços municipais e até como base para veículos de bombeiros e ambulâncias. A família Lastkraftwagen-Pulmann consolidou a reputação da Mercedes-Benz por produzir veículos duráveis e eficientes.
Nesse período, a diretoria da Daimler-Benz AG começou a delinear os primeiros planos para um programa de expansão internacional, identificando novos mercados potenciais. Entre esses, o mercado sul-americano foi considerado estratégico, com o Brasil sendo selecionado como o ponto de partida para essa iniciativa. O objetivo era estabelecer uma linha de produção de caminhões e, futuramente, chassis para ônibus, aproveitando o crescimento econômico do país. As vendas no Brasil eram lideradas por Alfred Jurzykowski, um empresário polonês e distribuidor da marca, que alcançava expressivo sucesso na comercialização de veículos importados no formato CKD (Completely Knock-Down). Em 1951, Jurzykowski desempenhou um papel crucial ao intermediar contatos entre a Daimler-Benz e o governo do presidente Getúlio Vargas, culminando na celebração de um acordo para a fabricação local de caminhões e ônibus com motorização diesel. Dois anos depois, em outubro de 1953, foi fundada a Mercedes-Benz do Brasil S.A., seguida pelo início da construção de uma planta industrial em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Enquanto a fábrica era erguida, a montadora dedicou-se ao desenvolvimento de um projeto de nacionalização de seus motores diesel. Em dezembro de 1955, na presença de Juscelino Kubitschek, então presidente eleito, foi realizada, nas instalações da Sofunge - Sociedade Técnica de Fundições Gerais S/A, a fundição dos primeiros blocos de motor diesel da América Latina. Em janeiro de 1956, deu-se início à usinagem desses blocos, um marco que influenciou a adoção do motor diesel como padrão no Brasil, em um contexto até então dominado pelo modelo norte-americano de uso predominante da gasolina como combustível automotivo. A planta de São Bernardo do Campo foi inaugurada em 28 de setembro de 1956, sob a direção técnica de Ludwig Winkler, que anteriormente gerenciava a linha de montagem no Rio de Janeiro e, anos depois, supervisionaria a produção de chassis da concorrente Magirus. A cerimônia de inauguração, com a presença do Presidente da República, refletiu o momento de otimismo econômico do país. Juscelino Kubitschek, em seu discurso, declarou: “O Brasil acordou!”. Durante o evento, ele percorreu a fábrica a bordo do primeiro caminhão diesel de médio porte fabricado no Brasil: o Mercedes-Benz L-312, com capacidade para 6 toneladas de carga útil. Equipado com um motor nacional MB de seis cilindros, 4.580 cm³ e 110 cv, caixa de cinco marchas e freios hidráulicos com assistência pneumática, o L-312 possuía uma cabine metálica recuada, sendo o único modelo desse tipo produzido pela empresa no Brasil até os dias atuais.

O caminhão Mercedes-Benz L-312 foi introduzido no mercado brasileiro em três variantes, seguindo a nomenclatura adotada na Alemanha, que permaneceu em vigor por quatro décadas, todas com uma distância entre eixos de 3,20 metros: o modelo básico L (Lastwagen, ou caminhão, em alemão), o basculante LK (Kipper) e o cavalo-mecânico LS (Sattelschlepper, ou reboque), sendo os dois últimos configurados com balanço traseiro reduzido. Adicionalmente, estavam disponíveis duas opções de encarroçamento: uma versão completa e outra sem cabine, composta apenas por capô e para-lamas, que serviu como base principal para a fabricação de lotações. Em 1960, a Mercedes-Benz do Brasil participou da primeira edição do Salão do Automóvel, consolidando sua presença no mercado nacional. No ano seguinte, a empresa iniciou suas exportações para o mercado latino-americano, com a comercialização de 550 unidades do ônibus modelo O-321 para a Argentina. A exemplo da matriz alemã, a subsidiária brasileira passou a produzir, a partir de 1957, os caminhões da família LP, incluindo os modelos LP-315, LP-321, LP-326, LP-329 e LP-331. Esses veículos foram adaptados para diversas aplicações, como transporte de carga, combustível, cisternas e configurações com caçambas basculantes. A simplicidade mecânica do modelo LP-321, equipado com o motor OM 321 de seis cilindros em linha, que desenvolvia 120 cv a 3.000 rpm, constituiu um diferencial competitivo significativo. Esse motor contava com um sistema de combustão de antecâmara em fluxo contínuo, que otimizava o aproveitamento do combustível, aliado a um regime térmico reduzido e à refrigeração do óleo do cárter, tecnologias que garantiam maior durabilidade. O trem de força incluía uma transmissão manual de cinco velocidades, todas sincronizadas, resultando em baixo consumo de combustível. Essa eficiência, combinada com a maior capacidade de carga útil do modelo, permitia às empresas operar com frotas menores para transportar o mesmo volume de mercadorias, conferindo uma vantagem expressiva sobre os concorrentes. O desempenho superior do LP-321 resultou em um sucesso comercial notável, com a venda recorde de 34.142 unidades entre 1958 e 1970. Outro aspecto distintivo do projeto era a distância entre eixos de 4,6 metros, que proporcionava uma distribuição uniforme do peso ao longo da carroceria. A Mercedes-Benz do Brasil oferecia uma caçamba padrão de 6,5 metros de comprimento, mas permitia customizações conforme as necessidades dos clientes, o que facilitava adaptações específicas e impulsionava ainda mais as vendas da linha LP (Lastkraftwagen-Pulmann) no país.
O chassi do Mercedes-Benz LP-321, do tipo escada, foi projetado para oferecer alta flexibilidade, essencial para suportar curvas acentuadas e garantir a integridade de cargas pesadas. Construído com barras de aço reforçado, proporcionava rigidez estrutural superior, aumentando a confiabilidade e a robustez do conjunto, mesmo em altas velocidades. Com uma distância entre eixos de 4,6 metros, o chassi assegurava uma distribuição uniforme do peso ao longo da carroceria, otimizando a estabilidade. A Mercedes-Benz do Brasil oferecia uma caçamba padrão com 6,5 metros de comprimento, mas permitia customizações conforme as necessidades dos clientes, uma característica que impulsionou significativamente as vendas da linha LP no mercado brasileiro. Embora originalmente concebido com tração 4x2, a variante MB LPK-331, equipada com caçamba basculante, foi projetada com tração nas quatro rodas e pneus especiais para operações em terrenos fora de estrada, ampliando sua versatilidade. Diversas versões foram produzidas até 1965, com destaque para o modelo LP-334, que se tornou o mais bem-sucedido comercialmente, alcançando a produção de 4.703 unidades. Sua elevada confiabilidade e adaptabilidade levaram à sua adoção em larga escala por governos municipais em todo o país, especialmente para aplicações em serviços públicos. Em 1963, o modelo passou por uma última atualização, incorporando uma nova cabine com formas mais angulares, alinhada às tendências globais de design da Mercedes-Benz. Essa cabine, de dimensões reduzidas, aumentava o espaço disponível para transporte de carga na parte posterior do veículo, otimizando ainda mais sua funcionalidade. O Mercedes-Benz LP-321, lançado no Brasil em 1957 pela Mercedes-Benz do Brasil S.A., deixou um legado significativo para a indústria brasileira, influenciando não apenas o setor automotivo, mas também a economia, a infraestrutura de transporte e o desenvolvimento industrial do país.  O LP-321 foi um dos primeiros caminhões diesel de médio porte fabricados no Brasil, marcando a transição do uso predominante de motores a gasolina, típicos do modelo norte-americano, para motores diesel, mais econômicos e duráveis. Produzido em um contexto de industrialização acelerada durante o governo de Juscelino Kubitschek, o LP-321 se destacou por sua robustez, versatilidade e eficiência, consolidando a Mercedes-Benz como líder no mercado de veículos comerciais e estabelecendo padrões que moldaram a indústria nacional.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro experimentou um avanço significativo em sua capacidade de mobilização, impulsionado pelo recebimento de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos sob a Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). No entanto, na década de 1950, a frota enfrentou desafios operacionais devido ao desgaste e à dificuldade de obtenção de peças de reposição. Este relatório analisa o impacto dessas questões, as soluções propostas pelo comando do Exército Brasileiro e os desafios associados à sua implementação. Com a adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado em 1942, as Forças Armadas Brasileiras receberam, até o final de 1945, mais de 5.000 caminhões militares das séries GMC CCKW, Corbitt, Diamond e Studebaker US6G, fornecidos por meio do programa Lend-Lease Act. Esses veículos foram fundamentais para a mobilização de tropas e cargas durante o conflito. Contudo, no final da década de 1950, a operacionalidade da frota foi gravemente comprometida por dois fatores principais: Desgaste Natural: Resultante do uso intensivo durante e após a guerra; Dificuldade na Obtenção de Peças: A descontinuação da produção desses modelos nos Estados Unidos, há mais de uma década, dificultava a importação de componentes essenciais. Esse cenário gerou preocupação no comando do Exército Brasileiro, pois comprometia a capacidade operacional da Força Terrestre, exigindo soluções urgentes para restaurar sua prontidão logística. A solução ideal para manter a capacidade operacional envolvia a substituição da frota por um número equivalente de caminhões modernos com tração 4x4 e 6x6, sendo os modelos REO M-34 e M-35 os mais indicados devido à sua robustez e tecnologia avançada. No entanto, o elevado custo de aquisição de uma frota desse porte excedia as limitações orçamentárias do Exército Brasileiro na época, tornando essa opção inviável. Diante das restrições financeiras, o comando do Exército elaborou três soluções complementares para enfrentar o problema: Aquisição Limitada de Caminhões Modernos: Compra de um pequeno número de caminhões REO M-34 e M-35 para atender às necessidades mais críticas, priorizando missões estratégicas. Repotencialização da Frota Existente: Estudos para a modernização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de atualizações técnicas. Adoção de Caminhões Comerciais Militarizados: Incorporação de caminhões produzidos nacionalmente, adaptados para missões secundárias, como transporte de cargas leves e outras funções de apoio. A combinação dessas estratégias tinha o potencial de restaurar a operacionalidade da Força Terrestre de maneira sustentável e economicamente viável. Os estudos para a repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G foram minuciosamente analisados, mas não receberam recomendação para implementação. As principais razões incluíam: Alto Custo: O investimento necessário para modernizar a frota era elevado, especialmente considerando a necessidade de importar componentes ou desenvolver substitutos localmente. Falta de Capacidade Técnica: Naquela época, o Brasil carecia de um corpo técnico com a expertise necessária para executar um programa de repotencialização em escala, envolvendo reengenharia e adaptação de sistemas complexos. Esses fatores inviabilizaram a modernização da frota existente, direcionando o foco para as demais soluções propostas.

O cancelamento da repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G evidenciou a necessidade de soluções alternativas para restaurar a operacionalidade da frota do Exército Brasileiro. A adoção de caminhões comerciais militarizados foi identificada como uma abordagem viável, permitindo: Substituição em Missões Básicas: Utilização de veículos comerciais em tarefas de transporte básico, liberando os caminhões militares com tração 6x6 para operações táticas e estratégicas em ambientes fora de estrada. Otimização da Frota Existente: Concentração dos veículos militares remanescentes em melhor estado para missões críticas. Essa estratégia, já implementada desde a década de 1930 com caminhões comerciais de pequeno porte, beneficiava-se do baixo custo de aquisição e operação dos veículos produzidos localmente, alinhando-se às prioridades orçamentárias da Força Terrestre. Para atender à demanda por caminhões médios, o Ministério do Exército optou por veículos fabricados pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estratégica no fortalecimento da indústria automotiva brasileira. Dois modelos foram selecionados: FNM D-9500: Caminhão médio com características adequadas para adaptação militar. FNM D-11000: Modelo destacado por sua robustez estrutural, capaz de atender, em teoria, aos parâmetros exigidos para o processo de militarização. A escolha dos caminhões FNM refletiu o compromisso do governo em fomentar a indústria nacional, aproveitando a capacidade produtiva local para suprir as necessidades do Exército. Apesar do avanço na substituição dos caminhões médios, a frota de caminhões leves permanecia obsoleta, composta majoritariamente por modelos como: Opel Blitz II Comercial; Chevrolet 157 Gigante 1937; General Motors G7106, G7107 e G-617M, recebidos entre 1935 e 1942. Esses veículos desempenhavam um papel central na estrutura de transporte do Exército Brasileiro, mas seu desgaste e a dificuldade de manutenção exigiam um programa urgente de renovação. A substituição dessa frota representava uma oportunidade significativa para as montadoras nacionais, incentivadas pelo Governo Federal por meio do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), instituído em 1956. O GEIA foi criado para promover o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira, oferecendo incentivos fiscais e financeiros às montadoras que investissem na produção local. Esse programa alinhava-se aos objetivos do Exército Brasileiro, pois: Estimulava a fabricação de veículos robustos e acessíveis, adequados à militarização; Reduzia a dependência de importações, mitigando os problemas de fornecimento de peças observados com a frota legada da Segunda Guerra Mundial; Fortalecia a economia nacional, gerando empregos e capacidade industrial. A aquisição de caminhões FNM e a perspectiva de renovação da frota de caminhões leves foram, portanto, estratégias alinhadas aos objetivos do GEIA, promovendo a integração entre as necessidades militares e o desenvolvimento industrial.
Neste contexto a General Motors do Brasil S/A sairia na frente logrando êxito na celebração de contratos envolvendo versões militarizadas do Chevrolet Brasil 6400 e 6500 ( e posteriormente C-60), e em seguida seria a vez da Ford Brasil êxito conquistar seus primeiros contratos militares não só com o Exército Brasileiro mas também com a Força Aérea Brasileira para seus modelos Ford F-600. Consciente da oportunidade apresentada pelo mercado militar brasileiro, a diretoria da montadora brasileira intensificou as negociações para a comercialização de seus caminhões, destacando como principal diferencial a excelência tecnológica de seus motores diesel. Essa tecnologia proporcionava significativa economia no consumo de combustível e nos custos de manutenção, posicionando os caminhões Mercedes-Benz como superiores em relação aos concorrentes da época (Ford F-600 e Chevrolet C-60) que estavam operando principalmente no Exército Brasileiro. Os esforços de negociação, fundamentados nas qualidades técnicas dos produtos, culminaram em êxito com a assinatura, em maio de 1959, do primeiro contrato de aquisição com o Ministério do Exército. Esse acordo consagrou a Mercedes-Benz do Brasil S.A. como fornecedora oficial de caminhões para a Força Terrestre. O contrato inicial estipulava a aquisição inicial de 280 viaturas dos modelos MB LP-321 e MB LP-331, ambos com tração 4x2. Logo seria incorporado também  o LAPK-321, a primeira viatura de grande porte no Exército Brasileiro a possuir tração 4X4. Este ultimo se destacaria por apresentar uma carroceria com maior capacidade de carga (10 ton). O objetivo era otimizar a logística militar, reduzindo a dependência de caminhões puramente militares com tração 6x6, como os REO M-34 recebidos em 1958, liberando estes para se focarem no transporte fora de estrada. Por se tratarem de caminhões comerciais levemente adaptados, o cronograma de entrega foi extremamente célere, com as primeiras unidades sendo entregues às unidades operativas do Exército Brasileiro a partir de maio de 1960. As versões militarizadas dos caminhões LP-321 e LP-331 apresentavam diferenças visuais sutis em relação aos modelos comerciais. As modificações mais evidentes incluíam para-choques reforçados, guinchos mecânicos dianteiro e traseiro com capacidade para tração de cargas leves, grades de proteção para faróis e lanternas, gancho de reboque e uma carroceria de aço equipada com cobertura de lona no padrão militar, semelhante aos modelos GMC CCKW 352, 353 e Studebaker US6G. 

A Mercedes Benz do Brasil S/A, ainda conquistaria vários outros contratos governamentais, envolvendo além de modelos transporte, cisterna de água, bombeiro e basculante, uma versão policial de transporte de tropas de choque destinada a tarefas de contenção de distúrbios urbanos. O primeiro cliente deste modelo policial seria o Governo do Estado de São Paulo, que no ano de 1962 assinou com a montadora um contrato para a aquisição de dez caminhões para o transporte de seus batalhões de choque, logo em seguida seriam adquiridos mais veículos na versão de transporte de combustível. Em sequência mais caminhões deste modelo de choque seriam fornecidos a outros estados brasileiros para emprego junto as policiais militares ou corpo de bombeiros. Junto ao Exército Brasileiro, ao serem utilizados em tarefas secundárias, como transporte de cargas e tropas, esses veículos demonstraram excelente desempenho, atribuído à confiabilidade do conjunto mecânico e à robustez estrutural. Curiosamente apesar de grande parte da frota não contar com tração nas quatro rodas, os caminhões MB LP-321 quando operados esporadicamente em ambiente fora de estrada, apresentavam um  desempenho aceitável, porém este modo resultava em  um índice de desgaste mecânico preocupante.  Os resultados positivos dessa primeira experiência abriram caminho para a formalização de um novo contrato em 1961. Essa encomenda abrangia mais caminhões com carrocerias normais e também versões  especializadas, destinadas a funções específicas, sendo :  VTE Choque 48 psg 4x2 EB-20 - EB-11, VTE Furgão Transporte de Animais 4X2 1964 EB-51 - EB-73,  VTNE Carga Emprego Geral carroceria de madeira 7 Ton 6x2 1961 EB-51 -  EB-72 ou CC Bat. de Eng. e Construção,  VTNE Furgão Carga Emprego Geral 15 Ton 6x2 1960 EB-51 -  EB-72 LAPK-321,  VTNE Carga Emprego Geral 15 ton 4x2 1960 EB-51 -  EB-72 e VTE Cozinha Móvel 3 ½ Ton 4x2.  Logo em seguida novos contratos seriam firmados não só pelo Exército Brasileiro, mas também pela Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil, envolvendo os primeiros caminhões com tração 6X2, incluindo uma versão de veículo misto para transporte e de cargas pesadas. Neste pacote seriam recebidos os primeiros caminhões pesados na versão “Munk” VTNE Carga Emprego Geral Comercial Munck 15 ton 4x2 1960 EB-51 -  EB72, com esta viatura sendo equipada com um guindaste articulado com capacidade para erguer até quinze toneladas, e representaria o primeiro caminhão de produção nacional deste tipo a ser adquirido pelas Forças Armadas Brasileiras. 
Os últimos veículos pertencentes a estes contratos de produção seriam entregues aos seus operadores militares em fins do ano de 1964. Todas as versões militarizadas destes caminhões Mercedes Benz MB LP-321 e LP-331 seriam entregues na configuração de chassis com 5,5 metros de comprimento, 1,80 metro de largura e 2,60 metros de altura, salvo exceções de modelos para específicos emprego. Apesar da família de caminhões médios ser oferecida ao mercado civil com diversas opções de motorização, em função de padronização todos os caminhões adquiridos pelas Forças Armadas Brasileiras estavam equipados com o motor nacional a diesel Mercedes Benz OM-321 com seis cilindros em linha capaz de desenvolver 110 cv a 2.800 rpm. A única exceção foram os poucos veículos pesados do modelo MB LP-331 S, com potência elevada para 180 cv, tornando-o o mais potente caminhão brasileiro em uso no Exército Brasileiro naquele período.  Até o final de década de 1970 os Mercedes Benz LP-321 e LP-331 prestaram excelentes serviços as Forças Armadas Brasileiras, a partir do  início da década de seguinte, esta grande frota começaria a ser gradualmente substituída por outros caminhões militares nacionais mais modernos, entre ele os novos MB L-1111 e L-1113. Caminhões estes que passariam a ser dotados exclusivamente de tração nas quatro rodas, passando também a operar no ambiente fora da estrada em terrenos irregulares, com melhor desempenho e sem o mesmo desgaste apresentado por seus antecessores.  Os caminhões Mercedes-Benz LP-321 e LP-331 desempenharam um papel crucial na logística do Exército Brasileiro durante a década de 1960, oferecendo uma solução prática e confiável para o transporte militar em um momento de renovação da frota. Apesar de suas limitações, como a ausência de tração integral e um projeto civil já obsoleto, esses veículos atenderam às demandas operativas com eficiência, apoiando missões de treinamento, logística e assistência à sociedade. Sua incorporação marcou o início de uma longa parceria com a Mercedes-Benz do Brasil, pavimentando o caminho para a adoção de modelos mais avançados que fortaleceram a capacidade logística do EB. O legado dos LP-321 e LP-331 permanece como um símbolo da resiliência e da capacidade de adaptação do Exército Brasileiro em sua missão de servir ao país.

Em Escala.
Para representarmos o Mercedes Benz LP-331 VTNE Carga Emprego Geral Comercial Munck 15 toneladas  4x2 “EB51-128”, fizemos uso do modelo em die cast produzido pela Axio  para a Editora Altaya, na escala 1/43. Para compormos o veículo empregado pelo Exército Brasileiro, desmontamos todo o veículo retirando o baú de carga, substituindo por uma carroceria confeccionada em scratch, como o sistema de guincho tipo Munk. Já na parte frontal do veículo aumentamos a distância entre o para choque e a cabine para a inclusão das grades proteção de lentes para os faróis e gancho mecânico de reboque. Fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942/1982".
OO esquema de cores (FS) descrito neste relatório representa o padrão tático militar adotado pelo Exército Brasileiro para todos os seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até o final de 1982. A partir de 1983, os veículos militares remanescentes do Exército Brasileiro passaram a adotar um novo esquema de camuflagem técnica de dois tons. Os veículos utilizados pela Marinha do Brasil não seguiam o padrão tático do Exército Brasileiro, adotando esquemas de pintura distintos, adaptados às suas missões específicas e aos ambientes operacionais em que atuavam. Essas variações garantiam a adequação dos veículos às necessidades de cada ramo, como maior visibilidade em operações aéreas ou resistência a condições marítimas. Para a aplicação dos esquemas de pintura, foram empregadas tintas e vernizes de alta qualidade produzidos pela Tom Colors. 


 Bibliografia : 
- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos  – MB LP-321/331 , Editora Altaya
- História da Mercedes Benz do Brasil -https://www.forummercedes.com.br/
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976

Boeing SB-17G e RB-17G

História e Desenvolvimento. 
A Boeing Airplane Company, fundada em 9 de maio de 1917 por William Edward Boeing, marcou o início de uma era de inovação na aviação americana. Sob a liderança de um visionário que já se destacava no setor aeronáutico desde o início da década de 1910, a empresa rapidamente se posicionou como um pilar da indústria, contribuindo tanto para o esforço militar quanto para o avanço da aviação civil.  Com os Estados Unidos entrando na Primeira Guerra Mundial em abril de 1917, a jovem empresa identificou uma oportunidade estratégica ao reconhecer a necessidade da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) de expandir sua frota de hidroaviões para treinamento de pilotos navais. Nesse contexto, a Boeing apresentou dois projetos de hidroaviões que, após análises preliminares, foram considerados promissores pelas autoridades militares. Neste momento a companhia receberia seu primeiro grande contrato militar, envolvendo a produção de cinquenta unidades, que após incorporadas ao serviço ativo seriam muito bem avaliadas por seus usuários. A empresa continuou, assim, a expandir sua presença também no mercado civil mais notadamente no segmento de aeronaves de treinamento e turismo. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, um grande excedente de aviões militares usados, a preços acessíveis, inundou o mercado de aviação comercial, dificultando as vendas de novos modelos e acabaria por levar muitas empresas, incluindo a Boeing, a diversificar suas operações em buscas de faturamento. Neste momento a Boeing Airplane Company passou, então, a fabricar móveis e embarcações de fundo plano, denominadas Sea Sleds. No mercado militar, tanto o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), quando a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também enfrentou uma estagnação, adquirindo poucas aeronaves novas nos anos seguintes. Porém, no final da década de 1920, grandes avanços tecnológicos na aviação tornaram obsoletas muitas das aeronaves militares em serviço, incluindo os caças-bombardeiros embarcados Boeing F-2B (Model 69) e Boeing F-3B (Model 69B), que haviam sido introduzidos no início da década. Embora esses modelos representassem avanços em relação aos seus predecessores, suas características de desempenho, como velocidade e alcance, estavam aquém das expectativas da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), o que resultou em uma redução dos contratos com a força aeronaval, com menos de cinquenta unidades produzidas. Diante desse cenário, a Boeing Aircraft Corporation decidiu direcionar seus esforços para o desenvolvimento de um novo modelo de caça, que não apenas substituísse os caças navais obsoletos, mas também utilizasse a mesma plataforma para oferecer uma proposta comum ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), com o objetivo de substituir também caças bombardeiros Boeing PW-9 (Model 15), em operação desde 1923, que também estavam ultrapassados diante das ameaças estrangeiras que se desenhavam a partir daquele momento no cenário global. No final da década de 1920, os Estados Unidos enfrentavam os primeiros sinais da crise econômica que culminaria na Grande Depressão de 1929. Esse período desafiador trouxe severas restrições orçamentárias, com o governo federal adotando medidas rigorosas para conter os gastos públicos. 

O setor militar foi diretamente afetado, enfrentando cortes que limitaram o desenvolvimento de novos projetos aeronáuticos, impactando fornecedores estratégicos, como a Boeing. A redução drástica de contratos militares, combinada com a obsolescência de aeronaves como os Boeing F-2B, F-3B e PW-9, colocou a indústria aeronáutica sob enorme pressão para inovar em um contexto de recursos escassos. Ainda assim, a Boeing enxergou uma oportunidade no horizonte da aviação militar, que começava a demandar modernização. Na primeira metade da década de 1930, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) lançou um ambicioso plano de renovação de sua frota, com o objetivo de substituir equipamentos ultrapassados, como o bombardeiro de médio porte Martin B-10. Em 1934, foi aberta uma concorrência para o desenvolvimento de um novo bombardeiro bimotor de configuração monoplano, capaz de transportar pelo menos uma tonelada de bombas, atingir 354 km/h a 3.000 metros de altitude, alcançar um alcance superior a 3.218 km e manter uma autonomia de voo de mais de dez horas. Essas especificações desafiadoras refletiam a visão do USAAC de fortalecer suas capacidades estratégicas. Diversos fabricantes apresentaram propostas, e três projetos destacaram-se como finalistas: o Martin Model 146, uma evolução do B-10; o Boeing Model 299, que daria origem ao lendário B-17 Fortaleza Voadora; e o Douglas DB-1, conhecido como Douglas Bomber 1. Na avaliação inicial, o Martin Model 146 foi eliminado por se basear em uma plataforma considerada obsoleta. A competição final ficou entre os projetos da Boeing e da Douglas. Embora o Boeing Model 299 se destacasse por sua inovação e desempenho superior, seu custo elevado por unidade não atendia às expectativas conservadoras do comando militar. A situação se complicou ainda mais quando o protótipo do Model 299 sofreu um trágico acidente durante um voo de avaliação, o que praticamente selou seu destino na concorrência. Assim, o Douglas DB-1 foi escolhido como vencedor, obtendo um contrato para produção em série, com as primeiras unidades entrando em serviço no USAAC a partir de meados de 1937. Contudo, o potencial do Boeing Model 299 não foi ignorado. Reconhecendo suas características revolucionárias, o USAAC decidiu investir no projeto, firmando, no final de 1936, um contrato para a produção de treze aeronaves pré-série, destinadas a um extenso programa de testes em voo. Essas aeronaves, redesignadas YB-17, incorporavam avanços significativos em relação ao protótipo original, incluindo motores Wright R-1820-39 Cyclone mais potentes. No contexto da década de 1930, marcada por desafios econômicos e pela crescente tensão geopolítica, o Boeing B-17 começou a se consolidar como um marco na história da aviação militar. Entre 1º de março e 4 de agosto de 1937, o 2º Grupo de Bombardeio, sediado em Langley Field, Virgínia, recebeu doze aeronaves YB-17 para intensos testes operacionais e de voo. Uma décima terceira unidade, destinada a ensaios de resistência estrutural em solo, foi equipada com turbo compressores General Electric, recebendo a designação Y1B-17A. Esses testes representaram um passo crucial para validar o potencial do projeto, culminando na entrega oficial das aeronaves em 31 de janeiro de 1939, redesignadas como B-17 e B-17A. 
Esse momento marcou o início da trajetória de um dos bombardeiros mais icônicos da história. Com o sucesso inicial, a Boeing avançou para a produção da versão B-17B, que trouxe melhorias significativas nos sistemas mecânicos e hidráulicos. Em 3 de agosto de 1939, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) celebrou um contrato para a aquisição de 39 aeronaves, destinadas a equipar dois esquadrões de bombardeio na costa oeste do país. Apesar do desempenho promissor, a rápida evolução das ameaças militares exigiu novos aprimoramentos, especialmente no sistema de autodefesa. Assim, surgiu o B-17C, com a adição de três metralhadoras calibre .50, totalizando 38 unidades encomendadas. Logo após, um novo contrato para 40 aeronaves da versão B-17D foi assinado, consolidando a busca contínua por maior robustez e eficiência. O cenário global, porém, mudou drasticamente com o avanço da Segunda Guerra Mundial na Europa. O rápido sucesso das forças nazistas, particularmente da Força Aérea Alemã (Luftwaffe), expôs as reais capacidades ofensivas dos caças e interceptores alemães, desafiando as estratégias aliadas. Essa nova realidade reforçou a necessidade de aeronaves mais preparadas para ambientes hostis. Em resposta, o governo norte-americano, utilizando leis especiais para tempos de crise, firmou um contrato com a Boeing para a produção de 500 aeronaves da versão B-17E, marcando a primeira produção em larga escala da família B-17. Diferentemente das versões anteriores, que priorizavam sistemas defensivos, o B-17E foi projetado com foco na guerra ofensiva, aumentando suas chances de sobrevivência contra caças inimigos. O B-17E destacou-se visualmente por inovações como uma nova barbatana dorsal, um estabilizador redesenhado e uma fuselagem esticada em 3 metros. Um dos avanços mais notáveis foi a adoção da torreta ventral "Sperry Ball", equipada com duas metralhadoras Browning calibre .50, que reforçava a capacidade de defesa da aeronave. Além disso, o modelo incorporava motores Wright R-1820 Cyclone 9, mais potentes, com 1.200 hp cada, equipados com turbo compressores para melhorar o desempenho em grandes altitudes. Embora associado principalmente às campanhas na Europa, o batismo de fogo do B-17 ocorreu no Teatro do Pacífico, logo após o ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941. Naquela época, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) mantinha um número limitado de B-17s nas Filipinas, operados pelo 19º Grupo de Bombardeio, baseado em Clark Field. No dia seguinte ao ataque, em 8 de dezembro de 1941 (devido à diferença de fuso horário), os B-17 estacionados nas Filipinas enfrentaram seu primeiro teste real. Após um ataque surpresa japonês a Clark Field, que destruiu várias aeronaves em solo, os B-17 sobreviventes foram enviados em missões de reconhecimento e bombardeio contra alvos navais japoneses. Contudo o verdadeiro batismo de fogo em larga escala do B-17 ocorreu no Teatro Europeu, onde a Oitava Força Aérea dos Estados Unidos, baseada no Reino Unido, começou a empregar a aeronave em missões de bombardeio estratégico contra alvos na Europa ocupada pelos nazistas. A primeira missão significativa da Oitava Força Aérea com o B-17E ocorreu em 17 de agosto de 1942, quando 12 aeronaves do 97º Grupo de Bombardeio atacaram os pátios ferroviários de Rouen-Sotteville, na França. 
Essa missão, realizada à luz do dia, marcou o início da campanha de bombardeio estratégico diurno dos Aliados, uma estratégia ousada que contrastava com as missões noturnas da Força Aérea Britânica (RAF). À medida que a Segunda Guerra Mundial avançava, as experiências adquiridas com o Boeing B-17 nos diversos teatros de operações revelaram tanto suas forças quanto a necessidade de aprimoramentos para enfrentar as táticas cada vez mais sofisticadas dos inimigos. Essas lições moldaram a evolução do bombardeiro, consolidando-o como um dos pilares do esforço de guerra aliado. Entre as inovações mais significativas estava a introdução da "torre do queixo" na versão B-17F, equipada com duas metralhadoras Browning calibre .50. Essa modificação, implementada em resposta aos frequentes ataques frontais realizados por pilotos de caça alemães, aumentou significativamente a capacidade de autodefesa da aeronave, especialmente contra investidas da Luftwaffe. A produção do B-17F atingiu a impressionante marca de 3.045 unidades, refletindo a confiança depositada nesse modelo. O ápice da família B-17, no entanto, veio com o modelo B-17G, introduzido no final de 1943. Equipado com treze metralhadoras Browning calibre .50, o B-17G tornou-se a personificação do apelido "Fortaleza Voadora", combinando robustez defensiva com capacidade ofensiva. Até o início de 1945, mais de 8.000 unidades desse modelo foram entregues, destacando a escala massiva de sua produção. Embora o Boeing B-29, com desempenho superior, tenha começado a assumir papéis de destaque em 1944, o B-17G permaneceu indispensável no Teatro Europeu. Sua capacidade de realizar missões de bombardeio estratégico diurno foi crucial para desmantelar a infraestrutura industrial alemã, enfraquecendo a capacidade de produção do Terceiro Reich e contribuindo decisivamente para a vitória dos Aliados. No final do conflito, o B-17 também foi protagonista de uma iniciativa inovadora, embora de resultados limitados: a Operação Afrodite. Pelo menos 25 aeronaves  mais antigas das versões B-17E e B-17F foram convertidas em "BQ-7 Mísseis Afrodite", equipadas com controles de rádio, câmeras de televisão e carregadas com 9.100 kg de explosivos de alto impacto. Essas aeronaves, transformadas em drones primitivos, eram guiadas remotamente por aviões de comando até alvos estratégicos, como instalações de armas V-1 alemãs. Aprovada oficialmente em 26 de junho de 1944, a operação foi conduzida pelo 388º Grupo de Bombardeio da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). As primeiras missões, realizadas em 4 de agosto de 1944, tiveram como alvos os complexos de Mimoyecques, o bunker Siracourt V-1, Watten e Wizernes. Contudo, os resultados foram modestos, com danos limitados às instalações inimigas. Um acidente fatal durante uma dessas operações, aliado aos desafios técnicos de controlar os drones com precisão, levou ao cancelamento do programa no início de 1945. Apesar do insucesso, a Operação Afrodite representou um marco inicial no uso de tecnologias de controle remoto em operações militares, prenunciando desenvolvimentos futuros na aviação.
Com o término do conflito o modelo foi retirado da missão de bombardeio estratégico, neste período a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) dispunha ainda de milhares de células em bom estado, a grande maioria teve como destino a desmontagem e sucateamento. Porém uma grande parte das aeronaves passaria a desempenhar novas funções especializadas, entre estas transporte, busca e salvamento, aerofotogrametria, inteligência e alvo aéreo. Nesta nova fase operacional se destacaria o desenvolvimento do B-17H, uma versão dedicada a missões de busca e salvamento, especialmente para apoiar operações de bombardeiros de longo alcance, como os  Boeing B-29 Superfortress. A conversão de B-17Gs para a função de resgate foi planejada para aproximadamente 130 aeronaves, embora haja divergências entre fontes sobre o número exato de conversões realizadas. Algumas indicam que apenas 12 aeronaves foram redesignadas como B-17H, enquanto outras sugerem que todas as 130 unidades previstas foram convertidas, com algumas mantendo a designação original de B-17G. As principais modificações do B-17H incluíam a adoção  de um barco de resgate A-1, fabricado pela Higgins Industries, radar de busca e  tanques de combustível adicionais para maior alcance e, em certos casos, equipamentos de comunicação e localização, como transmissores de emergência.  Em 1948, com a revisão do sistema de designação da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), os B-17Hs foram redesignados como SB-17G, com o prefixo "S" indicando sua função primária de busca e salvamento. Algumas unidades também foram redesignadas como TB-17H, indicando uso em treinamento. os SB-17Gs foram integrados ao Serviço de Resgate Aéreo da USAF, parte do Comando de Transporte Aéreo Militar (MATS). Durante a Guerra da Coreia (1950 - 1953), essas aeronaves operaram em águas coreanas, muitas vezes com armamento defensivo restaurado para proteção em áreas de combate. Além de missões de resgate, os SB-17Gs foram utilizados em funções como controle de alcance em testes de mísseis e, em alguns casos, como aeronaves de coleta de dados atmosféricos durante testes nucleares, como a Operação Crossroads. a Marinha dos Estados Unidos (US Navy ) adquiriu 48 B-17s ex-USAAF para missões de patrulha e resgate, designando-os como PB-1 (e posteriormente PB-1W para alerta aéreo antecipado). A Guarda Costeira dos Estados Unidos operou 16 unidades, designadas como PB-1G, a partir de 1946, em bases como Elizabeth City, Carolina do Norte, e San Francisco. Essas aeronaves realizaram missões de resgate aéreo-marítimo, patrulha de icebergs e mapeamento fotográfico até 1959. Os SB-17Gs permaneceram em serviço com a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) até meados da década de 1950, quando foram substituídos por aeronaves mais modernas, como o SB-29, que utilizava barcos de resgate A-3. Neste momento boa parte desta frota seria cedida a nações amigas como  Argentina, Áustria, Alemanha, Bolívia, Brasil, Canada, Colômbia, Dinamarca, Republicana Dominicana, Dinamarca, França, Irã, Arábia Saudita, Israel, México, Nicarágua, Peru, Portugal, África do Sul, Suécia e Reino Unido.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em 7 de dezembro de 1944, a cidade de Chicago, nos Estados Unidos, sediou a Conferência Internacional de Aviação Civil, um marco histórico que resultou na assinatura da Convenção sobre Aviação Civil Internacional. Este tratado, ratificado por 54 nações, incluindo o Brasil, estabeleceu as bases do Direito Aeronáutico Internacional, que permanecem em vigor até os dias atuais. A convenção instituiu a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), definiu normas para o uso do espaço aéreo, registro de aeronaves, segurança de voo e os direitos e deveres dos Estados signatários em relação ao transporte aéreo internacional. Este documento apresenta uma análise formal e estruturada da convenção, com ênfase no artigo 25, que trata das missões de busca e salvamento (SAR), e no papel do Brasil em sua implementação. A Convenção sobre Aviação Civil Internacional foi elaborada em um momento crítico da história, durante os estágios finais da Segunda Guerra Mundial. A necessidade de regulamentar o transporte aéreo internacional, que se expandia rapidamente, tornou-se evidente devido ao aumento das operações aéreas civis e militares. A conferência de Chicago, realizada entre 1º de novembro e 7 de dezembro de 1944, reuniu representantes de 54 países com o objetivo de criar um quadro normativo global para a aviação civil. O tratado foi assinado em 7 de dezembro de 1944 e entrou em vigor em 4 de abril de 1947, após a ratificação pelos Estados signatários. A convenção abordou aspectos fundamentais, como: Regulamentação do Espaço Aéreo: Estabelecimento de normas para a soberania e utilização do espaço aéreo nacional. Registro de Aeronaves: Padronização de processos para identificação e certificação de aeronaves. Segurança de Voo: Definição de padrões técnicos e operacionais para garantir a segurança das operações aéreas. Acordos Bilaterais: Introdução do conceito de Acordos Bilaterais de Transporte Aéreo, que regulam o tráfego aéreo entre dois países. Criação da OACI: Estabelecimento da Organização da Aviação Civil Internacional, com sede em Montreal, Canadá, para coordenar e supervisionar a implementação das normas acordadas. O artigo 25 da convenção estabeleceu as diretrizes para o planejamento e execução de missões de busca e salvamento (SAR) dentro das áreas geográficas de responsabilidade de cada Estado signatário. Esse artigo determinava que cada país deveria : Prover Assistência: Garantir proteção e assistência a aeronaves em emergências, incluindo aquelas em voos sobre territórios continental, costeiro e marítimo. Coordenar Operações SAR: Organizar e executar operações de busca e salvamento para localizar e resgatar tripulações e passageiros em caso de acidentes ou incidentes aéreos. Cobertura Transoceânica: Assegurar suporte a aeronaves que cruzassem áreas oceânicas, como o Oceano Atlântico, sob a jurisdição do país. No caso do Brasil, o artigo 25 implicava a responsabilidade de prover assistência a aeronaves em emergência em seu extenso território continental, litoral atlântico e áreas marítimas adjacentes, além de apoiar voos transoceânicos que cruzassem o Atlântico Sul.

Em 1944, a Força Aérea Brasileira (FAB), criada em 20 de janeiro de 1941, contava apenas três anos como força independente. Durante a Segunda Guerra Mundial, a FAB concentrou seus esforços em missões de patrulhamento costeiro e guerra antissubmarino, particularmente no litoral brasileiro, para proteger a navegação aliada contra submarinos do Eixo. Essas operações limitaram a capacidade inicial da FAB de atender às exigências da convenção, especialmente no que diz respeito às missões SAR. A partir do final de 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, o Brasil iniciou os esforços para cumprir as obrigações estabelecidas pela Convenção sobre Aviação Civil Internacional. A primeira iniciativa prática foi a adaptação de aeronaves de patrulha Consolidated PBY-5A Catalina para missões de busca e salvamento. Embora essas aeronaves fossem originalmente projetadas para patrulhamento marítimo e guerra antissubmarino, elas foram precariamente adaptadas para realizar operações SAR. Em operação estas aeronaves seriam responsáveis por executar buscas com auxílio de radar e orientação visual,  lançar botes salva-vidas e suprimentos para tripulações naufragadas. Neste contexto as aeronaves Consolidated PBY-5/A Catalina, começaram a ser gradualmente retirados das missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW), liberando assim a frota para o atendimento de missões de transporte, ligação e busca e salvamento. Em janeiro de 1946 a Força Aérea Brasileira passaria a dispor de sua primeira aeronave dedicada a este tipo de missão, quando o Consolidated PBY-5A Catalina "FAB 6516" pertencente ao 1º Grupo de Patrulha (1º GpP) sediado na Base Aérea de Belém, no estado do Pará, passou a ser destinado exclusivamente para o emprego em missões de Busca e Salvamento - SAR, com mais células sendo destacadas para esta missão posteriormente. A incapacidade dos PBY-5A Catalina de realizar missões SAR de longo alcance, particularmente sobre o Atlântico Sul e o interior do Brasil, levou o Ministério da Aeronáutica (MAer) a buscar uma solução mais adequada. Em 1950, o MAer solicitou ao Departamento de Estado dos Estados Unidos a cessão de aeronaves com maior autonomia e capacidade para atender às responsabilidades do artigo 25 da convenção. Nesse período, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) dispunha de um excedente de aeronaves Boeing B-17G Flying Fortress, convertidas para a variante B-17H (posteriormente redesignada SB-17G), projetadas especificamente para missões de busca e salvamento. Em fins de 1950, o governo norte-americano aceitou o pedido brasileiro, iniciando negociações para a transferência das aeronaves. Uma equipe de oficiais da FAB foi enviada aos Estados Unidos para selecionar as unidades a serem incorporadas. O acordo inicial previa a cessão de seis aeronaves, com cinco configuradas para missões de busca e salvamento, equipadas com barcos de resgate A-1 e sistemas de comunicação e localização e uma destinada a tarefas de mapeamento aéreo, aproveitando a robustez e o alcance do B-17.

A aquisição das aeronaves Boeing B-17H/SB-17G e RB-17G pela Força Aérea Brasileira (FAB) marcou um avanço significativo na consolidação do Serviço de Busca e Salvamento (SAR), criado em 1950 para atender às exigências da Convenção sobre Aviação Civil Internacional. Por meio da Portaria Ministerial nº 324, de 16 de novembro de 1950, o Ministério da Aeronáutica (MAer) instituiu formalmente o Serviço de Busca e Salvamento (SAR) da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse serviço foi estruturado para coordenar operações de resgate de aeronaves em emergência no território brasileiro e em áreas do Atlântico Sul, conforme estipulado no artigo 25 da convenção. A incorporação das aeronaves B-17H/SB-17G foi essencial para viabilizar a execução dessas missões, proporcionando maior alcance e capacidade operacional. Em 24 de janeiro de 1951, foi criado o Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ) na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. O CTQ tinha como objetivo capacitar tripulações da Força Aérea Brasileira (FAB) para a operação dos Boeing B-17G, com o apoio de instrutores norte-americanos. O treinamento incluía: Instrução Teórica: Fundamentos de navegação, operação de sistemas SAR e manutenção das aeronaves. Treinamento Prático: Simulações de missões SAR, incluindo o lançamento de botes salva-vidas, e familiarização com os equipamentos especializados das aeronaves. Em junho de 1951, o CTQ foi transferido para a Base Aérea de Recife, Pernambuco, onde passou a executar missões operacionais de busca e salvamento, transporte e aerofotogrametria. A escolha de Recife como base principal refletia sua posição estratégica para operações no Atlântico Sul. Em 15 de outubro de 1953, o Centro de Treinamento de Quadrimotores (CTQ) foi extinto, e suas funções foram absorvidas pelo 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação (1º/6º GAv), também sediado na Base Aérea de Recife. Essa unidade assumiu integralmente as missões de busca e salvamento, transporte e aerofotogrametria, consolidando a operação das aeronaves B-17 na Força Aérea Brasileira (FAB). As aeronaves da versão Boeing SB-17G estavam equipadas com um radar de busca aérea (ASR) instalado na posição frontal (chin turret), exceto a aeronave registrada como FAB 5409. Dispunha ainda de  um barco salva vidas "Higgins" para ser lançado em missões sobre o oceano. Este barco de 27 pés (8 metros) e 3.300 libras (1.500 kg) era construído em mogno laminado, com 20 compartimentos à prova d'água, garantindo flutuabilidade mesmo em condições adversas. Pintado de amarelo para alta visibilidade, o barco era projetado para ser lançado por paraquedas, caindo próximo a tripulações naufragadas, e continha suprimentos para até 12 sobreviventes por cerca de 20 dias.

Infelizmente em 23 de julho de 1952 ocorreria um acidente fatal com o Boeing SB-17G que ainda portava a matrícula norte-americana "44-85579", quando este, durante uma sessão de treinamento de lançamento do bote salva vidas, veio a colidir no ar com um North American T-6D, que o acompanhava para filmar a operação. Em 1º de setembro de 1953, um Boeing SB-17G realizou a primeira travessia oceânica por uma aeronave militar brasileira, percorrendo o trecho Recife–Dakar–Recife. Essa missão demonstrou a capacidade das aeronaves SB-17G de operar em longas distâncias sobre o Atlântico, cumprindo as exigências da Convenção sobre Aviação Civil Internacional para cobertura de áreas marítimas. Já o Boeing RB-17G configurado para tarefas de  aerofotogrametria apresentava um  compartimento específico na seção frontal, originalmente ocupado pela torreta de metralhadora, adaptado para a instalação de três câmeras de mapeamento aéreo, sendo destinado a produção de cartas aeronáuticas e mapeamento de áreas estratégicas do território brasileiro. O acordo inicial firmado com o governo norte-americano em 1950 previa a cessão de seis aeronaves: cinco SB-17G para missões SAR e uma RB-17G para aerofotogrametria. Em 1954, seriam recebidos mais seis SB-17G e uma RB-17G adicionais, totalizando 12 aeronaves. Em 1955, essas aeronaves foram oficialmente registradas com as matrículas FAB 5400 a FAB 5411, integrando-se plenamente à frota da Força Aérea Brasileira (FAB).  A ativação do 6º Grupo de Aviação (6º GAv) – Esquadrão Carcará, em 20 de novembro de 1957, marcou um momento significativo na história da Força Aérea Brasileira (FAB), com a consolidação de suas capacidades em missões de busca e salvamento (SAR) e aerofotogrametria. A unidade seria estruturada  em dois esquadrões com missões distintas: 1º Esquadrão (1º/6º GAv): Responsável por missões de busca e salvamento (SAR), utilizando aeronaves Boeing SB-17G equipadas com barcos de resgate Higgins A-1 e radares de busca aérea (ASR). 2º Esquadrão (2º/6º GAv): Encarregado de missões de aerofotogrametria, operando aeronaves Boeing RB-17G adaptadas com câmeras de mapeamento aéreo. Essa disposição se manteve até meados de 1967, quando os dois esquadrões foram fundidos em apenas um. Em 1957, o Batalhão Suez do Exército Brasileiro foi destacado para a Faixa de Gaza como parte da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF), criada para promover a pacificação da região após a Crise de Suez de 1956. Para garantir o suporte logístico às tropas brasileiras, a Força Aérea Brasileira (FAB)instituiu uma linha mensal do Correio Aéreo Nacional (CAN) entre Recife, Brasil, e Suez, Egito. A escolha do Boeing B-17G para essa missão foi motivada por sua capacidade de voar longas distâncias, com autonomia suficiente para travessias transoceânicas. A finalidade da linha era a de garantir o apoio logístico, necessário ao Batalhão do Exército Brasileiro destacado naquele local a serviço das Nações Unidas (United Nations Emergency Force) para a pretensa pacificação da região da Faixa de Gaza. 
A primeira missão denominada como "1º CAN SUEZ", teve início em 20 de março, deixando o Brasil, rumo ao oriente, transportando pequenos volumes de carga e malotes de correio para a tropas brasileiras estacionadas naquela região do deserto. Foi empregado nesta ocasião o Boeing B-17G de matrícula FAB 5405, que cumpriu a seguinte rota: Rio - Recife - Dacar - Lisboa - Roma e por fim  a cidade de Abusir, no Egito.  A partir a da segunda missão, as aeronaves passariam a pousar em El Arish em vez de Abusir.  Ao todo foram completadas vinte e quatro viagens em apoio as tropas brasileiras, transportando 50.856 quilos de carga e malas postais, atingindo um total de 2.071 horas de voo, sem nenhuma ocorrência de acidente ou incidente com as aeronaves. A última missão do CAN Suez realizada pelo 6º GAv com o Boeing B-17G ocorreu em 14 de maio de 1960. A partir dessa data, as operações foram transferidas para o 2º Grupo de Transporte (2º GT), que empregava os quadrimotores Douglas C-54 Skymaster. A substituição refletiu a introdução de aeronaves mais modernas e com maior capacidade de carga, marcando o início da desativação gradual dos B-17G na Força Aérea Brasileira (FAB). Apesar de ótimos serviços prestados, os Boeing SB-17G, RB-17G e B-17G brasileiros, já contavam com mais de vinte e um anos de uso e sofriam com falta de peças de reposição, pois o modelo havia tido produção descontinuada há mais de vinte anos, gerando graves de problemas de disponibilidade para voo. Somava-se ao fato de perdas operacionais de três aeronaves em 1952 (FAB 5404), 1962 (FAB 5405) e 1964 (FAB 5409). Entre 1965 e 1968, as aeronaves Boeing B-17G remanescentes foram gradualmente enviadas ao Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP), uma unidade especializada da FAB responsável pela manutenção e inspeção de aeronaves. Nesse período, as células foram submetidas a um rigoroso processo de avaliação, onde o objetivo primordial era o promover a verificação dos níveis de desgaste estrutural e mecânico, com esta análise determinando ou não, a desativação ou sucateamento da célula.  Este processo culminaria na drástica redução das aeronaves disponíveis, levando assim o 2º/6º Grupo de Aviação (2º/6º GAv) a ser absorvido pelo 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação - Esquadrão Carcará (1º/6ºGAv). Estas células seriam operadas até o ano de 1969, quando passaram a ser substituídas nas missões de busca e salvamento (SAR), pelos novos Lockheed SC-130E Hercules, encerrando assim dezessete anos de bons serviços prestados a Força Aérea Brasileira.

Em Escala.
Para representarmos o Boeing SB-17G "FAB 5402" optamos pelo kit da Revell na escala 1/48 do modelo B-17G Flying Fortress. Para se representar a versão operada pela Força Aérea Brasileira (FAB), é necessário remover todo o sistema de  armamento defensivo (metralhadoras e torretas), a seguir procedemos a remodelagem do nariz da aeronave. Nesta etapa retiramos  o anteparo aerodinâmico da torreta inferior e procedendo a  inclusão do domo do radar de busca marítimo, (confeccionado a partir de um  conta gotas de remédio infantil). Vale salientar que nesta apresentação a aeronave esta desprovida do bote salva vidas do tipo "Higgins". Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decais, presentes no set 48/11.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão para aeronaves SAR aplicado nas aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) na da década de 1950, as células brasileiras SB-17G foram recebidas neste esquema recebendo posteriormente as marcações nacionais e as mátriculas da Força Aérea Brasileira. As aeronaves Boeing RB-17G não dispunham das faixas de alta visibilidade em amarelo e durante sua carreira receberam algumas modificações em seu esquema original, incluindo o painel antiglare a frente do para-brisa em verde fosco, tendo também os cowlings dos motores pintados de vermelho.


Bibliografia :
- Boeing B-17 Flying Fortress na FAB - Revista ASAS nº 42  - Aparecido Camazano Alamino
- Aviação Militar Brasileira 1916 -/ 1984 - Francisco C. Pereira Netto
- Boeing B-17 Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Boeing_B-17_Flying_Fortress
- História da Força Aérea Brasileira , Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html