M-4 Sherman (VBE) Engenharia

História e Desenvolvimento
Na Europa, na segunda metade da década de 1930, o plano de rearmamento implementado pelo governo nacional-socialista Alemão adotava uma nova abordagem ao concentrar-se no desenvolvimento de conceitos e doutrinas militares. Esses conceitos seriam posteriormente integrados no campo de batalha, combinando novas tecnologias em equipamentos e armamentos destinados ao combate terrestre com o devido apoio aéreo. Tal iniciativa culminou na elaboração do conceito de "Guerra Relâmpago" ou Blitzkrieg. Essa tática tinha como um de seus principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, os quais se destacavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Nesse contexto, os novos carros de combate alemães eram projetados para serem superiores em todos os aspectos em relação a seus concorrentes disponíveis na época. Embora o Tratado de Versalhes, firmado após o término da Primeira Guerra Mundial, impusesse limitações significativas à Alemanha, os programas de reaparelhamento das forças armadas nazistas avançavam rapidamente. Do outro lado do Oceano Atlântico, o serviço de inteligência dos Estados Unidos informava continuamente o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) sobre esses avanços e as iminentes ameaças que poderiam surgir. As análises preliminares desses relatórios indicavam que os novos carros blindados alemães superariam facilmente os modelos utilizados até então. Para enfrentar essa situação desafiadora, em abril de 1939, foi iniciado um abrangente programa de estudos com o objetivo de desenvolver novos carros de combate, cujo propósito principal era substituir os obsoletos modelos M-1 e M-2, que constituíam a espinha dorsal das forças blindadas da nação. O objetivo primordial deste plano era conceber veículos de combate capazes de rivalizar, em potenciais cenários de conflito, com os novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em fase inicial de operação. Em julho de 1939, foi deflagrado um programa de desenvolvimento que ficaria sob a responsabilidade das equipes de projeto de veículos blindados do Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Ordnance Department), sediado em Fort Lee, Virgínia. Imediatamente, os trabalhos conceituais foram iniciados, estabelecendo diversos parâmetros de projeto com base no carro de combate M-2. Dentre os principais aspectos destacava-se a adoção do novo canhão M-22 de calibre 37 mm e um sistema de blindagem dimensionado para resistir a impactos de munições antitanque do mesmo calibre que a arma principal. Apesar dessa iniciativa, persistia a dúvida sobre a real capacidade de proteção que o nível de blindagem proporcionaria ao "M-3 Light Tank", assim como a efetividade de seu poder de fogo frente aos novos carros de combate alemães e japoneses que estavam em desenvolvimento naquele momento.

Os temores expressos por uma significativa parcela dos oficiais de comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) foram confirmados em junho de 1940, com o início da campanha na França. Durante este conflito, os novos carros blindados alemães Panzer III e Panzer IV, operando segundo os princípios da guerra relâmpago (Blitzkrieg), obtiveram vitórias esmagadoras contra os melhores carros de combate franceses e britânicos disponíveis na época. Tornou-se evidente que o canhão M-22 de 37 mm se mostrava completamente ineficaz, tornando necessário equipar os novos carros de combate norte-americanos com um canhão de calibre 75 mm. Entretanto, nem os antigos M-2, nem os novos M-3 poderiam ser adaptados para acomodar essa arma, uma vez que seu peso maior exigiria o desenvolvimento de uma nova torre giratória. Embora essa abordagem estivesse sendo considerada, buscou-se simultaneamente uma solução provisória, que envolveu uma modificação experimental de um M-2, resultando na criação de um obuseiro autopropulsado de 75 mm, com o canhão sendo projetado pelo Watervliet Arsenal. Os testes de campo desse protótipo levaram à conclusão de que o chassi do M-2 existente poderia ser utilizado em combinação com uma superestrutura redesenhada, mantendo ainda a arma de 37 mm instalada em uma torre giratória. O novo carro de combate M-3 apresentava, assim, um design incomum, já que a arma principal, o canhão M-2 de 75 mm, não estava instalado em uma torre giratória, mas sim fixada ao chassi. Essa configuração resultou da falta de experiência da indústria norte-americana na concepção de uma torre que pudesse abrigar uma arma desse calibre. Ressalta-se que a solução de empregar dois canhões foi inspirada em modelos europeus, como o Char B1 francês e o Churchill Mark I britânico. No caso do Char B1, o veículo foi projetado como um canhão autopropulsado, destinado a atacar fortificações, com uma capacidade antitanque adicional proporcionada por um segundo canhão em uma pequena torre. Já o modelo inglês incorporava uma arma montada no casco dianteiro, utilizada principalmente para disparar projéteis de fumaça. O novo M-3 diferia ligeiramente dos padrões europeus, apresentando um canhão principal de dupla finalidade, capaz de disparar um projétil perfurante a uma velocidade suficiente para penetrar efetivamente a armadura, além de lançar um projétil altamente explosivo que era considerável o suficiente para ser eficaz em combate. Contudo, a disposição do canhão de 75 mm comprometeu significativamente o deslocamento lateral da peça, obrigando o veículo a manobrar para otimizar o ângulo de tiro. Por sua vez, o canhão de 37 mm, montado na torre principal, revelou-se de pouca utilidade diante das blindagens mais sofisticadas. Apesar dessas preocupações, o M-3 poderia ser produzido em larga escala e com maior rapidez em comparação aos carros de combate convencionais, atendendo, assim, às demandas emergenciais não apenas dos Estados Unidos, mas também da Grã-Bretanha.
No final de janeiro de 1942, os primeiros tanques M-3 Grant, fornecidos pelos Estados Unidos, chegaram ao Norte da África para reforçar as forças britânicas. As tripulações foram submetidas a um rigoroso programa de treinamento, com o objetivo de prepará-las para confrontos contra as forças do Eixo. O canhão principal M-2 de 75 mm, baseado em um modelo de artilharia de campanha francês, permitiu ao Exército Real Britânico utilizar amplos estoques de munição remanescentes da Primeira Guerra Mundial. Dentre os projéteis disponíveis, destacava-se o perfurante de tiro sólido, capaz de penetrar aproximadamente 50 mm de blindagem a uma distância de 1.000 metros. Embora superior aos canhões de 2 libras equipados nos tanques britânicos da época, o desempenho do M-3 ainda não atendia plenamente aos padrões exigidos para operações de combate. O batismo de fogo do M-3 Grant ocorreu em 27 de maio de 1942, durante a Batalha de Gazala, no Norte da África. Sua introdução representou uma surpresa tática para as forças alemãs, que não estavam preparadas para enfrentar o canhão de 75 mm. O M-3 demonstrou superioridade em relação ao canhão antitanque Pak 38 de 50 mm e ao KwK 39 de 50 mm montado no Panzer III, principal tanque médio alemão. Adicionalmente, o M-3 superou os tanques leves italianos Fiat M13/40 e M14/41, cujo canhão de 47 mm apresentava eficácia limitada a curtas distâncias. Apenas os canhões autopropulsados italianos Semoventi 75/18, utilizando projéteis HEAT, eram capazes de neutralizar o M-3 de forma eficaz. Apesar dessas vantagens iniciais, os M-3 Grant não conseguiram assegurar a vitória na Batalha de Gazala. Foram severamente impactados pelos canhões antiaéreos alemães Flak 18/36/37/41 de 88 mm, que exploraram vulnerabilidades críticas do tanque, incluindo seu perfil elevado, baixa relação peso-potência e armadura rebitada. Esta última apresentava a desvantagem de gerar ricochetes internos dos rebites sob impacto, causando ferimentos às tripulações. Embora concebidos como uma solução temporária para o Exército Real Britânico, enquanto aguardava a entrega dos tanques Crusader Mark III, atrasos na produção deste último tornaram o M-3 Grant o principal veículo blindado das forças aliadas no Oriente Médio. Contudo, suas limitações táticas e técnicas evidenciaram a necessidade urgente de substituição. Para otimizar os recursos industriais disponíveis, decidiu-se desenvolver um novo modelo que preservasse elementos do design do M-3, mas incorporasse melhorias significativas, como uma torre giratória de 360 graus para o canhão de 75 mm.

Em outubro de 1941, o protótipo do Medium Tank M-4, posteriormente conhecido como Sherman, foi concluído na fábrica da Baldwin Locomotive Co., na Filadélfia. Com um peso bruto de 30 toneladas, o M-4 utilizava o eficiente sistema de Suspensão Vertical por Mola Voluta (VVSS) e era equipado com o motor aeronáutico a gasolina Curtiss-Wright Continental R-975E, que entregava 330 hp de potência. Este novo tanque representou um avanço significativo em relação ao M-3, oferecendo maior flexibilidade tática e capacidade de adaptação às demandas do campo de batalha. O projeto do tanque M-4 Sherman foi orientado pela simplicidade estrutural, com o objetivo de facilitar a produção em larga escala para atender à crescente demanda das forças aliadas. A meta inicial previa a entrega de aproximadamente 2.000 veículos por mês. Após extensos testes de campo, foram implementadas correções e melhorias no projeto original, culminando na primeira versão de produção, o M-4A1, cuja fabricação foi iniciada em fevereiro de 1942. Para atender às especificações do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), foi desenvolvido o modelo M-4A2, que substituiu o motor original a gasolina pelo motor diesel General Motors Twin 6-71. Essa alteração visava unificar o tipo de combustível utilizado pelas forças blindadas com o empregado pela frota naval, otimizando a logística. Posteriormente, a pedido do Exército dos Estados Unidos (US Army), foi criada a variante M-4A3, equipada com o motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 hp, proporcionando maior potência. A versão final de produção, o M-4A4, tornou-se disponível em julho de 1942. Embora visualmente semelhante ao M-4A1, o M-4A4 distinguia-se por seu chassi construído com chapas retas soldadas, em vez de uma peça única fundida. As primeiras unidades apresentavam uma blindagem frontal tripartida, unida por parafusos, característica herdada diretamente do tanque M-3 Lee. O M-4 Sherman teve seu batismo de fogo em 23 de outubro de 1942, durante a Segunda Batalha de El Alamein, no Norte da África, conduzida pelo 8º Exército Britânico. Operado por tripulações britânicas experientes, o M-4 demonstrou superioridade significativa em relação ao M-3 Lee/Grant, enfrentando com êxito os tanques alemães Panzer. Contudo, quando empregado pelo Exército dos Estados Unidos na Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, o desempenho foi comprometido pela inexperiência das tripulações da 1ª Divisão Blindada, resultando em pesadas perdas. No teatro de operações europeu, o M-4 Sherman foi introduzido durante a Operação Husky, a invasão da Sicília, em julho de 1943. Operando ao lado dos tanques leves M-3 Stuart, os M-4A1 enfrentaram forte resistência dos canhões antitanque alemães e italianos. Em 11 de julho de 1943, os M-4 prestaram apoio crucial à infantaria aliada em Piano Luco. Durante os combates na Itália, as forças aliadas sofreram a perda de centenas de veículos, mas a 3ª Brigada da 1ª Divisão Blindada alcançou êxito ao entrar em Roma.
O M-4 Sherman desempenhou um papel decisivo na Operação Overlord, o desembarque na Normandia, em junho de 1944. Apesar de sofrerem pesadas perdas contra os avançados tanques alemães Tiger e Panther, os M-4 foram fundamentais no confronto com os Panzer ao longo da campanha europeia. No teatro de operações do Pacífico, o M-4 Sherman tornou-se a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC). Centenas de unidades foram empregadas, incluindo versões especializadas equipadas com lança-chamas, marcando a primeira adaptação em larga escala da plataforma M-4 para funções específicas. A simplicidade de projeto e a robustez mecânica do tanque M-4 Sherman consolidaram-no como o principal carro de combate médio das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, substituindo integralmente os modelos M-3 Stuart e M-3 Lee nas linhas de frente. Com o objetivo de padronizar a logística de suprimentos, incluindo peças de reposição e processos de manutenção, foi decidido o desenvolvimento de uma família de veículos especializados e utilitários baseados na plataforma do M-4 Sherman. O primeiro modelo derivado a entrar em serviço foi o M-32 Recovery Vehicle, projetado para realizar operações de recuperação de veículos pesados no campo de batalha. As primeiras unidades do M-32 foram introduzidas no início de 1943. Subsequentemente, outras variantes foram desenvolvidas, incluindo o obuseiro autopropulsado M-7 Priest e o M-4 equipado com lança-chamas, ampliando a versatilidade da plataforma para atender às diversas demandas operacionais.Após o término da Segunda Guerra Mundial, milhares de tanques M-4 Sherman foram desativados pelas forças aliadas. Muitos desses veículos foram doados a nações europeias, que, em diversos casos, os revenderam como sucata para outros países, como Argentina e Israel. Nos Estados Unidos, os M-4 remanescentes continuaram em serviço ativo até meados de 1957, quando foram gradualmente retirados das unidades operacionais e transferidos para a reserva tática. A partir desse período, os tanques passaram a ser fornecidos a nações alinhadas com a política externa norte-americana por meio do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Em diversos países beneficiados pelo MAP, novas versões especializadas do M-4 Sherman foram desenvolvidas localmente, adaptadas às necessidades regionais. Essas variantes prolongaram a vida útil do tanque, com muitos permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1980, demonstrando a durabilidade e a flexibilidade da plataforma. O M-4 Sherman destacou-se não apenas por sua eficácia no campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, mas também por sua capacidade de adaptação a diferentes funções por meio de variantes especializadas. Sua ampla distribuição pós-guerra e o desenvolvimento de versões regionais consolidaram seu legado como um dos tanques mais influentes do século XX, com impactos significativos nas forças armadas de diversas nações até décadas após o conflito.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a considerar com crescente preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).  Nesse cenário, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável a uma potencial invasão, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava sob os planos de expansão territorial alemã. Adicionalmente, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul consolidaram o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima essencial para a produção de borracha, indispensável à indústria bélica. Geograficamente, o litoral nordeste brasileiro revelou-se estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e portos, sendo o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano para o translado aéreo. Assim, a costa brasileira tornou-se fundamental para o transporte de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves destinados aos teatros de operações na Europa e no Norte da África. Diante desse cenário, foi iniciada uma política de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos, resultando em acordos de cooperação econômica e militar. Um dos marcos dessa colaboração foi a adesão do Brasil ao programa de assistência militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), cujo objetivo principal era modernizar as Forças Armadas Brasileiras. Naquela conjuntura, o Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, com equipamentos, armamentos e doutrinas operacionais em estado de obsolescência. Os termos do acordo proporcionaram ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico. Apesar dos esforços de modernização, os primeiros tanques M-4 Sherman foram fornecidos ao Exército Brasileiro somente em julho de 1945, com a entrega inicial de 17 unidades. Entre o início e meados da década de 1950, o Exército Brasileiro recebeu um lote suplementar de 30 tanques M-4 Sherman, fornecidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), promovido pelos Estados Unidos. Apesar de sua quantidade inferior em comparação com os tanques M-3 Stuart e M-3 Lee, os M-4 Sherman assumiram a posição de vanguarda na força blindada brasileira, desempenhando um papel central nas operações táticas. Contudo, ao final da década, ficou evidente que o M-4 Sherman estava tecnologicamente obsoleto, exigindo sua substituição urgente para atender às necessidades operacionais modernas. A resposta a essa demanda concretizou-se em 14 de agosto de 1960, com a chegada dos primeiros 50 tanques M-41 Walker Bulldog ao porto do Rio de Janeiro, marcando o início de um processo gradual de substituição dos M-4 Sherman. 

Nos anos subsequentes, foram incorporadas 275 unidades da versão modernizada M-41A1 e 55 unidades da versão mais avançada, M-41A3. Com a introdução desses novos veículos, a maior parte da frota de M-4 Sherman foi transferida para a reserva estratégica, reduzindo sua utilização em operações ativas. A partir de meados da década de 1960, o governo brasileiro passou a priorizar a redução da dependência de fornecedores estrangeiros para a aquisição de equipamentos militares. Nesse contexto, foram iniciados estudos conceituais voltados ao projeto e desenvolvimento de veículos blindados de fabricação nacional. Em 1967, foi criado um grupo de trabalho no Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, com a missão de coordenar essas iniciativas. Esse grupo evoluiu posteriormente para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), consolidando-se como um marco no avanço tecnológico militar do país. Os trabalhos iniciais do CPDB concentraram-se na substituição de motores a gasolina por modelos a diesel em diversos veículos, incluindo os M-3 Stuart, M-3 Lee e M-5 White (meia-lagarta). O sucesso dessas modificações incentivou a equipe a progredir na nacionalização de sistemas mais complexos, com o objetivo de estabelecer as bases para a produção seriada de veículos blindados sobre rodas e lagartas. O primeiro estágio desse processo envolveu estudos para a modernização da frota de tanques obsoletos, como os M-3, M-3A1 Stuart e M-4 Sherman, visando adaptá-los às ameaças e exigências táticas da década de 1960. Em meados de 1969, os primeiros passos práticos para a modernização de veículos blindados brasileiros foram iniciados. Nesse contexto, dois tanques M-3A1 Stuart e um M-4 Sherman Composite Hull foram transferidos para o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), localizado em São Paulo. Essas unidades foram destinadas ao início das atividades do programa de remotorização, marcando o começo de um esforço estratégico para atualizar a frota de carros de combate do Exército Brasileiro e prolongar sua vida útil operacional. Apesar conceitualmente, haver a possibilidade de se trocar motor original a gasolina do M-4  Sherman pelo MWM Diesel de quatro tempos, com facilidade, este programa seria suspenso temporariamente, visando assim focar esforços e recursos nos programas de modernização da frota de carros de combate leves M-3 Stuart, modelo do qual o Exército Brasileiro dispunha de uma grande frota. O programa de modernização do M-4 Sherman foi retomado em 1974, motivado pelos notáveis resultados obtidos em combate pelos M-4  modernizados das Forças de Defesa de Israel (IDF) contra forças árabes. Liderado pelo Tenente-Coronel Walter Catharino Finato, no âmbito do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), o veículo EB11-721 foi novamente utilizado como protótipo, sendo remotorizado com o motor MWM Diesel TD232 V12 de quatro tempos.
O motor, em sua configuração original, apresentava uma potência de 406 cavalos-hp (hp). Em resposta à solicitação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), o fabricante implementou modificações que elevaram a potência para 500 hp. Para acomodar esse motor, que possui 1,69 metros de comprimento, além do turbocompressor e do sistema de refrigeração, foram necessárias adaptações internas no veículo. No mês de maio de 1975, o veículo foi submetido a uma série de testes, cujo resultado final confirmou um desempenho satisfatório, atingindo assim o objetivo de nacionalização do motor. Uma limitação notável do carro de combate M-4 Sherman era a largura reduzida de suas lagartas, o que frequentemente resultava em atolamentos em terrenos irregulares. Para mitigar essa problemática, decidiu-se pela substituição das lagartas por modelos de maior largura, associadas ao sistema de suspensão HVSS (Horizontal Volute Spring Suspension), que é mais moderno e eficiente, conforme adotado na linha de produção dos M-4 Sherman nos Estados Unidos. Dentre as opções adotadas, o Exército Brasileiro optou por utilizar um conjunto de suspensão proveniente do veículo blindado de engenharia e socorro VBE Soc M-74, que havia sido recentemente desativado. Nesse mesmo período, iniciaram-se estudos voltados à modernização da frota de carros de combate médios M-41 e M-41A3 Walker Bulldog. Considerando que o último modelo mencionado é mais recente, seus resultados operacionais se mostraram mais promissores, tornando-o uma opção mais atrativa para investimentos em recursos. Em face dessa análise, o comando do Exército Brasileiro determinou que, caso ocorresse uma modernização dos M-4 Sherman, estes deveriam ser convertidos em veículos de serviço, dado que seu conceito como carro de combate já se apresentava obsoleto. Essa proposta foi reavaliada no início da década de 1980, quando surgiu a possibilidade de converter os M-4 Sherman em veículos especializados destinados a funções como caça-minas ou viaturas de engenharia. O principal objetivo dessa iniciativa era atender à demanda do Exército Brasileiro por veículos desse tipo, uma vez que, na época, a força blindada dispunha de um número reduzido de unidades dos modelos M-74 e M-578. Nesse contexto, em maio de 1982, foi formalizada uma parceria entre o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e a empresa Moto Peças S/A, localizada em São Paulo, para o desenvolvimento de uma versão especializada em atividades de engenharia de campo, baseada no chassi do M-4A1 Sherman. Essa versão experimental foi designada como Viatura Blindada Especial de Engenharia M-4 de 30 toneladas (VBE-ENG-M4-30t-Lag). Para garantir a padronização de componentes, optou-se pelo motor a diesel Scania DI-11 Ex1, de seis cilindros e 500 cavalos de potência, já utilizado no programa de modernização dos M-41C Caxias, realizado pela empresa Bernardini. Sob a perspectiva estrutural, a nova viatura passou por significativas alterações de projeto, especialmente em função do deslocamento do motor para o lado direito do veículo, o que permitiu a inclusão de uma porta traseira, facilitando o acesso ao interior. Ademais, a adoção do novo motor, de dimensões superiores, levou à necessidade de abandonar o chassi original do carro de combate M-4 Sherman. Como consequência, foi desenvolvido um design de carroceria completamente novo, construído em aço soldado e com formato semelhante ao do veículo blindado de transporte de pessoal M-113 VBTP, embora em uma escala maior. Notavelmente, a nova viatura poderia ser equipada com as mesmas placas de blindagem soldadas à carroceria da versão original, proporcionando uma continuidade nas características de proteção.
Na parte superior, foi instalado um guincho hidráulico com capacidade de 20 toneladas, além de uma grua hidráulica dotada de lança rebatível, capaz de içar até 10 toneladas. O veículo também foi equipado com uma lâmina frontal, a qual é intercambiável com um dispositivo de caça-minas. Esta configuração permitia o transporte de, além do condutor e do chefe do carro, uma guarnição composta por até cinco homens, todos totalmente equipados para a realização de missões de engenharia de combate. Para autodefesa, a viatura estava equipada com uma metralhadora Browning M2HB, calibre .50, e quatro lançadores de granadas fumígenas, de produção nacional. Conforme mencionado anteriormente, estava previsto o desenvolvimento de um novo sistema antiminas para ser acoplado na parte frontal do veículo, substituindo a lâmina de terraplanagem. Esse sistema consistia em duas pás dotadas de várias garras, destinadas a revolver o solo à frente do veículo, com a intenção de extrair minas do terreno. Contudo, durante os testes realizados, esse sistema mostrou-se ineficaz, uma vez que não era capaz de varrer minas enterradas em terrenos compactados, o que resultou em sua eventual descontinuidade. O projeto inicial e o contrato firmado com a Moto Peças S/A previam a construção de quinze unidades desse veículo; no entanto, obstáculos no andamento do projeto e limitações orçamentárias resultaram na produção de apenas um protótipo, que recebeu a matrícula EB3460224584, além de cinco unidades de produção. Após a entrega dos VBE-ENG-M4-30t-Lag, estes foram submetidos a um rigoroso programa de testes finais em campo, realizado nas instalações do Centro de Avaliações do Exército (CAEx) e do Centro de Tecnologia do Exército. Posteriormente, essas viaturas foram incorporadas a diversas unidades, como a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o 5º Batalhão de Engenharia de Combate Leve, a 11ª Companhia de Engenharia de Combate Leve, o 7º Batalhão de Engenharia de Combate Leve e o 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, onde permaneceram em operação durante vários anos. No final da primeira década dos anos 2000, os quatro veículos blindados de engenharia VBE-ENG-M4-30t-Lag ainda registrados no inventário do Exército Brasileiro, embora não operacionais, estavam armazenados no 5º Batalhão de Engenharia de Combate Leve, na 11ª Companhia de Engenharia de Combate Leve e no 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado. Além destas, existe ainda uma unidade que oficialmente pertence ao acervo do Museu Militar de Conde de Linhares, localizado no Rio de Janeiro, atualmente armazenada no Parque Regional de Manutenção (Pq R Mnt/5), aguardando uma futura restauração para ser exposta no museu. Embora não tenham sido produzidos em larga escala, o projeto do VBE-ENG-M4-30t-Lag representou um importante avanço no processo de conversão e modernização de veículos blindados no Brasil.

Em Escala.
Para a representação do VBE-ENG-M-4 30 toneladas LAG , sob a matricula "EB 3460224898", decidimos utilizar como base o kit da Tamiya na escala 1/35. Aproveitamos, para tal, os componentes fundamentais, como suspensão, esteiras, bogies e casco, sendo que o restante da construção foi realizado em plasticard, no método conhecido como scratch build. Para a conversão, utilizamos desenhos e fotografias da época, o que pode resultar em um modelo em escala que  talvez não reproduza fielmente a estrutura do casco ou os detalhes complementares. Utilizamos também decalques elaborados pela Decal e presentes no conjunto "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) delineado abaixo representa o segundo padrão de pintura camuflada em dois tons, utilizado em todos os veículos blindados de combate do Exército Brasileiro a partir de meados da década de 1980. Contudo, existe uma unidade desse modelo, localizada no 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, em Alegrete (RS), que foi preservada no padrão anterior de pintura, caracterizado por um acabamento em verde oliva total.

Bibliografia :

- Viatura Blindada Especial de Engenharia - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/VBE.pdf
- M-4 Sherman no Brasil – Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Jr
- Blindados No Brasil Volume I, por Expedito Carlos Stephani Bastos

VC-96 Boeing 737-2N3 Advanced


História e Desenvolvimento. 
A Boeing Airplane Company, fundada em 9 de maio de 1917 por William Edward Boeing, marcou o início de uma era de inovação na aviação americana. Sob a liderança de um visionário que já se destacava no setor aeronáutico desde o início da década de 1910, a empresa rapidamente se posicionou como um pilar da indústria, contribuindo tanto para o esforço militar quanto para o avanço da aviação civil.  Em 1916, William E. Boeing fundou a Pacific Aero Products Co. em Seattle, Washington, renomeada Boeing Airplane Company em julho do mesmo ano. Inicialmente, produzia hidroaviões como o B&W, utilizando madeira de aberto local. Com os Estados Unidos entrando na Primeira Guerra Mundial em abril de 1917, a jovem empresa identificou uma oportunidade estratégica ao reconhecer a necessidade da Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) de expandir sua frota de hidroaviões para treinamento de pilotos navais. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, um grande excedente de aviões militares usados, a preços acessíveis, inundou o mercado de aviação comercial, dificultando as vendas de novos modelos e acabaria por levar muitas empresas, incluindo a Boeing, a diversificar suas operações em buscas de faturamento. Neste momento a Boeing Airplane Company passou, então, a fabricar móveis e embarcações de fundo plano, denominadas Sea Sleds.  Nos anos 1920, lançou o Boeing B-1 (barco voador para correio) e o Model 40 para rotas aéreas. Em 1927, criou a Boeing Air Transport, que se fundiu em 1929 para formar a United Aircraft and Transport Corporation, incorporando empresas como Pratt & Whitney e Chance Vought. O Boeing 80, primeiro transporte de passageiros, voou em 1929. Em 1933 seria introduzido o Boeing 247 o primeiro avião comercial moderno, e o Boeing 314 Clipper em 1938 para rotas transoceânicas. A Lei de Correio Aéreo de 1934 forçou a separação em Boeing Airplane Company, United Airlines e United Aircraft Corporation, levando William Boeing a vender suas ações. Desenvolveu o Model 307 Stratoliner, o primeiro com cabine pressurizada. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Boeing desempenhou um papel crucial como uma das principais fornecedoras de aeronaves militares para os Estados Unidos, destacando-se na produção de bombardeiros pesados como os  B-17 Fortaleza Voadora e B-29 Super Fortaleza que foram fundamentais para o esforço de guerra dos Aliados. Após o término do conflito, o mercado de aviação civil de transporte entrou em efervescência devido ao grande excedente de aeronaves militares disponíveis no pós-guerra que seriam vendidas a preço simbólico a diversos empreendedores tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Este processo iria popularizar o transporte de passageiros em todo mundo. O avançar da tecnologia com o emprego levaria a criação do primeiro avião comercial em 1949, quando o protótipo do Havilland DH 106 Comet alçou voo no Hatfield Aerodrome na cidade de Hertfordshire, na Inglaterra. Este novo conceito de propulsão trazia melhor conforto aos passageiros tornando ainda as viagens mais curtas e prazerosas elevando assim a De Havilland a conquistar um amplo sucesso em vendas em um curto espaço de tempo.

A exemplo deste fabricante inglês, logo os renomados fabricantes norte-americanos Douglas Aircraft Company  e Convair Aircraft Company  iniciariam estudos para o desenvolvimento de aeronaves semelhantes ao jato britânico. Esta movimentação não passaria desapercebida aos olhos da diretoria da Boeing Aircraft Corporation, empresa está que neste período  nos Estados Unidos, era considerada de pouca expressão no mercado de aeronaves comerciais de passageiros, tendo imenso foco e sucesso no mercado militar, sendo neste momento responsável pelos famosos bombardeiros  a jato Boeing B-47 e B-52 (em operação até hoje). O despertar para este novo nicho de mercado levaria a empresa de Seattle, a canalizar seus recursos financeiros e esforços de sua equipe de projetos no segmento da aviação comercial, iniciando assim o desenvolvimento de uma nova aeronave que marcaria para sempre a história da aviação mundial. Como a empresa possuía o viés natural construído segmento militar, a ideia natural se baseava em desenvolver uma plataforma de uma aeronave a jato comum para ser empregado nos dois segmentos. Este projeto seria totalmente bancado com recursos da própria companhia, tendo como ponto de partida as linhas originais do Boeing 367 (KC-97), com as definições acertadas o próximo passo seria a produção dos primeiros protótipos que receberiam as designações de Boeing 367-80 ou Dash80. O primeiro voo da aeronave de testes com a matrícula N70700 alçaria voo propulsado por seus quatro motores a jato Pratt & Whitney JT3C (com 10.000 libras de empuxo cada), em 15 de julho de 1954, em Seattle no estado de Washington. As análises dos primeiros resultados do programa de ensaios em voo, se mostrariam muito promissores, concedendo a empresa a motivação para prosseguir com o desenvolvimento derivando para duas vertentes uma para o transporte civil com a designação de B707 e uma militar (como reabastecedor em voo e transporte de cargas) denominada como B717, que posteriormente receberia na Força Aérea dos Estados (USAF) a designação de KC-135E Stratotanker. No final de 1955, a Boeing concluiu a definição da versão civil do Boeing 707, obtendo a homologação da Administração Federal de Aviação (Federal Aviation Administration – FAA). Com a certificação assegurada, a empresa deu início ao planejamento comercial e de marketing para o lançamento internacional do modelo, marcando o início de uma nova era na aviação comercial. Em 13 de outubro de 1955, a Boeing celebrou seu primeiro grande contrato com a Pan American World Airways (Pan Am), envolvendo a aquisição de 20 aeronaves, com entregas previstas para o final do ano fiscal de 1958. Após o sucesso do Boeing 707, a empresa identificou a necessidade de um avião menor e mais versátil para voos regionais, que resultaria no programa B727, que futuramente se tornaria  o jato comercial mais vendido de sua época. Desta maneira a empresa se estabeleceria como a principal fabricante de aeronaves a jato do mundo, com seus modelos B707 e B727  atendendo as rotas de longa e média distância.
A empresa, entretanto, ficaria atrás na corrida por atender um mercado que parecia bastante promissor: a utilização de aeronaves a jato para rotas de curta distância. Assim em  1965, quando a empresa tomou a decisão de avançar com o projeto do Boeing 737, suas principais concorrentes — a Douglas Aircraft Company, com o DC-9, e a British Aircraft Corporation, com o BAC 1-11 — já haviam consolidado posições significativas. O DC-9 acumulava mais de 200 encomendas, enquanto o BAC 1-11, com cerca de 100 pedidos, já havia realizado o voo inaugural de seu protótipo em 1963. Além disso, aviões como o francês Sud Aviation SE-210 Caravelle, em operação desde 1959, e o britânico de Havilland Trident, introduzido em 1964, já atendiam rotas de baixa densidade, consolidando a presença de jatos regionais na Europa. A decisão de desenvolver o Boeing 737 não foi trivial. Internamente, a Boeing enfrentava intensos debates sobre a viabilidade de investir em um novo projeto, especialmente em um mercado já competitivo e que exigiria substanciais recursos financeiros e humanos. Naquela época, a empresa estava profundamente envolvida em outros programas ambiciosos, que incluíam o desenvolvimento do supersônico B2707 (cancelado em 1971 devido a questões econômicas e ambientais), a concorrência pelo contrato militar CX-HLS (que culminou na vitória da Lockheed com o C-5 Galaxy), o revolucionário Boeing B747, destinado a transformar voos de longo alcance, e a versão alongada do Boeing 727, conhecida como 727-200, lançada em 1967. Esses projetos, cada um com seu próprio peso estratégico, dividiam a atenção e os recursos da Boeing, tornando a decisão sobre o B737 um momento crítico. Dois membros do conselho de administração da Boeing emergiram como defensores fervorosos do projeto: Jack Steiner, engenheiro-chefe renomado por seu papel central no desenvolvimento do Boeing 727, e Crawford Greenewalt, ex-CEO da DuPont, cuja visão estratégica trouxe uma perspectiva externa valiosa. Steiner, conhecido como o "pai do B727", acreditava que o B737 poderia capturar o mercado de jatos regionais, servindo como um produto de entrada para atrair novos clientes, que futuramente poderiam adquirir modelos maiores, como o B707 ou o B747. Greenewalt, com sua experiência em liderar uma das maiores empresas químicas do mundo, reforçava essa visão, argumentando que a Boeing não podia se dar ao luxo de ceder espaço às concorrentes em um segmento tão promissor. Ambos viam no B737 uma oportunidade de consolidar a liderança da Boeing no mercado de aviação comercial, uma visão que se provaria acertada, dado o sucesso posterior do modelo. No entanto, a proposta enfrentou resistência significativa, liderada por ninguém menos que William M. Allen, o lendário presidente da Boeing. Desde 1945, Allen havia guiado a empresa por uma era de inovações, autorizando projetos icônicos como o Boeing 377 Stratocruiser, o bombardeiro B-52 Stratofortress, a família B707 - KC-135 e o próprio B727. Conhecido como "Bill Allen", ele era uma figura respeitada, cuja liderança moldou a Boeing como uma potência aeroespacial. Contudo, Allen expressava preocupações legítimas sobre o 737. 

Ele acreditava que a empresa já estava sobrecarregada com sua carteira de projetos e que entrar tardiamente no mercado de jatos regionais representava um risco elevado. A seu ver, o B737 enfrentaria dificuldades para competir com modelos já estabelecidos, como o DC-9 e o BAC 1-11, em um momento em que os recursos da Boeing estavam dispersos. Apesar das divergências, a visão estratégica de Steiner e Greenewalt prevaleceu. Em 1965, o conselho da Boeing aprovou o desenvolvimento do 737, com a Lufthansa como cliente lançadora, comprometendo-se com 21 encomendas. A decisão marcou o início de um dos programas mais bem-sucedidos da história da aviação, com o Boeing 737 tornando-se o jato comercial mais vendido de todos os tempos, superando 16.000 pedidos até 2025. O projeto, inicialmente concebido como um complemento ao 727, evoluiu para se tornar a espinha dorsal de companhias aéreas em todo o mundo, redefinindo a aviação regional e consolidando a Boeing como líder indiscutível no mercado de jatos narrow-body. Era o conceito de “família” de aeronaves. Neste sentido, Steiner advogava utilizar a mesma largura de fuselagem no B737, que teria então a capacidade de transportar passageiros em filas de 3+3 (ao invés da usual 2+3 dos DC-9/Caravelle/BAC 1-11). O problema de definir a localização dos motores no 737 foi resolvido por Joe Sutter, que depois ficou famosos como o engenheiro chefe responsável pelo programa 747. Embora os desenhos iniciais do B737 tivessem adotado a usual configuração de motores traseiros com cauda em T, quando Steiner definiu-se por utilizar a mesma largura de fuselagem do B707 e B727, a questão tomou nova dimensão. É que neste caso, como o avião tivesse a forma de “bola de futebol americano” – muito curto e largo – o bordo de fuga da asa ficaria muito próximo da entrada de ar dos motores, recebendo o fluxo turbulento da asa. Além disso, a fim de evitar o fluxo do arrasto parasita criado pela própria da fuselagem, os motores teriam de ficar bastante afastados da mesma de forma a não comprometer a ingestão do ar – o que exigira pylons maiores e mais pesados, trazendo indesejado aumento do peso do avião. Sutter achava que deveria haver outra solução mais “elegante”. Um dia em seu escritório ele pegou os desenhos do B737 com cauda em T, recortou os motores e começou a estudar a melhor posição para os mesmos. Intuitivamente ele pensou: “porque não colocar os motores novamente na asa, pendurados em pylons” (como no 707)? Essa solução, entretanto, trazia dois problemas: primeiramente os motores ficariam muito próximos da entrada de passageiros – considerando-se o cumprimento da fuselagem inicialmente estudada (menor ainda que a da primeira versão construída B737-100). Por outro lado, o trem de pouso teria de ser dotado de pernas bastante altas, a fim de possibilitar a instalação do conjunto motor/pylons e dar a necessária altura em relação ao chão. Num avião destinado a operar rotas de curta distância, que poderia efetuar de 6 a 8 voos por dia, sua altura elevada acarretaria um maior tempo de solo, com a retirada de escadas mais altas, carregadores de bagagem e caminhões de catering. 
Uma terceira e revolucionária configuração pareceu a melhor para Sutter: Instalar os motores bem abaixo das asas em uma carenagem “colada” ao seu introrso, sem o tradicional uso do pylon. Isso faria com que o B737 ficasse próximo ao chão, facilitando a manutenção dos motores e o carregamento de malas nos porões e deixando um fluxo corrente de ar nos motores. Antes, entretanto, de aprovar essa configuração Jack Steiner estabeleceu um “time vermelho” e um “time azul”, composto cada um por dois engenheiros, sendo o primeiro chefiado por ele mesmo e o segundo por Sutter. O primeiro time ficaria responsável por estudar as vantagens pela opção original de cauda em T e o segundo pela configuração desenvolvida por Sutter.  Ao final ficou claro que a segunda opção era a melhor, propiciando a utilização da parte traseira da fuselagem onde normalmente ficariam instalados os motores para levar mais passageiros. Assim, ao final de 1964 a configuração básica do B737 estava definida – faltava somente uma encomenda firme para lançar o projeto. Umas das primeiras empresas a despertar interesse no modelo foi a alemã Lufthansa, que almejava seu emprego em linhas regionais, e sugeriu ao fabricante que a capacidade ideal de transporte deveria ser da ordem de 100 passageiros. Desta maneira o projeto foi modificado para o atendimento desta demanda. O voo inaugural do protótipo do Boeing 737-100 ocorreu em 9 de abril de 1967 e veio a superar todas as expectativas, liberando assim sua produção em série imediatamente, sendo destinados a Lufthansa onde entrariam em operação já em 10 de abril de 1968. Com base nas necessidades de se ampliar o número de passageiros transportados, levaram ao desenvolvimento da variante 200, que teve sua fuselagem aumentada para o transporte de até 130 passageiros. O primeiro B737-200 efetuou seu voo inaugural em 8 de agosto de 1967, e esta nova versão obteve grande êxito no mercado civil, tendo sido comercializadas 1.114 unidades até o encerramento de sua produção em 1988. As séries 100 e 200 eram identificáveis pelas naceles tubulares de motor (turbofans Pratt and Whitney JT8D)  que eram integradas às asas, com projeções à frente do bordo de ataque e atrás do bordo de fuga, a partir da versão B737-300 , que teve seu primeiro voo em 28 de fevereiro de 1984 o design básico do modelo passou a incorporar as inovações tecnológicas aerodinâmicas, novas versões como 400 e 500 foram lançadas respectivamente em 1988 e 1989. O B737 continua em produção atualmente em sua nova variante agora denominada Next Generation – 600, -700, -800 e 900, e sua produção total já ultrapassou a casa das 9.000 unidades entregues, que se encontram em emprego em 500 companhias áreas ao redor do mundo. o Boeing 737 é o jato de passageiros de maior sucesso no mundo.  O 737 consolidou a Boeing como líder em jatos narrow-body, apesar de altos e baixos, e segue como um pilar da aviação global, com atualizações planejadas para maior eficiência e sustentabilidade.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Na década de 1950, o Brasil passava por transformações significativas, tanto em sua infraestrutura quanto em sua administração pública. Em meados dessa década, a Presidência da República, sob a gestão do presidente Juscelino Kubitschek, determinou ao Ministério da Aeronáutica a realização de um estudo para a incorporação de uma nova aeronave destinada ao transporte do Presidente da República em deslocamentos domésticos e internacionais. À época, o Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado no Aeroporto Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, operava os confiáveis, porém já obsoletos, Douglas VC-47. Essas aeronaves, versões militares adaptadas do clássico DC-3, haviam sido configuradas internamente para o transporte de autoridades, desempenhando com eficiência a missão de “conduzir os que conduzem o Brasil”. Contudo, a transferência da capital federal para Brasília, planejada para 1960, trouxe novos desafios logísticos, exigindo uma aeronave mais rápida, moderna e capaz de conectar o Planalto Central ao Rio de Janeiro, então centro político e administrativo do país. Após uma análise detalhada das opções disponíveis no mercado global, o Ministério da Aeronáutica selecionou o Vickers Viscount, um turboélice britânico que se destacava pela sua confiabilidade e desempenho em rotas regionais. O Viscount, já amplamente utilizado por companhias aéreas comerciais em diversos países, representava o que havia de mais avançado em tecnologia aeronáutica na época. Em 1956, o governo brasileiro formalizou a aquisição de duas unidades, que foram especialmente adaptadas para uso executivo. Equipadas com aviônica de ponta e interiores configurados para o transporte de autoridades, essas aeronaves, designadas VC-91 na Força Aérea Brasileira (FAB), começaram a operar com distinção, atendendo às necessidades do Presidente e de outras altas autoridades do governo. Os VC-91 Vickers Viscount serviram com excelência ao longo da década seguinte, mas a rápida evolução da aviação comercial, impulsionada pela introdução de jatos, revelou a necessidade de modernização. Em 1967, o Ministério da Aeronáutica, reconhecendo a demanda por maior velocidade e autonomia, iniciou o processo de aquisição de uma aeronave a jato para o transporte presidencial. Após avaliações, a escolha recaiu sobre o BAC 1-11 One-Eleven, um jato britânico de curto e médio alcance, amplamente utilizado por companhias aéreas como a British European Airways. Duas unidades da série 400 foram adquiridas e configuradas para missões VIP (Very Important Person), recebendo a designação VC-92 na FAB. Essas aeronaves, entregues no final dos anos 1960, substituíram imediatamente os VC-91 Viscount, oferecendo maior velocidade, alcance e conforto. Os VC-92 One-Eleven tornaram-se o principal meio de transporte do Presidente da República e de funcionários federais de alto escalão, marcando uma nova era para o Grupo de Transporte Especial (GTE).

Durante a década de 1970, sob a administração do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), o comando do Grupo de Transporte Especial emitiu uma diretiva estratégica que reorientou a política de aquisição de aeronaves presidenciais. A nova normativa determinava que as futuras aeronaves adquiridas deveriam pertencer a famílias de aviões já predominantes nas frotas das companhias aéreas comerciais brasileiras, como Varig, VASP e Cruzeiro do Sul. Essa decisão visava reduzir custos operacionais e de manutenção, aproveitando a infraestrutura de suporte já estabelecida no país. Além disso, buscava-se uma aeronave com maior autonomia em relação aos VC-92 One-Eleven, que, embora eficientes, apresentavam limitações em rotas mais longas.  Nesse contexto, os jatos da Boeing Commercial Airplanes consolidavam uma liderança incontestável no mercado brasileiro, com modelos como o Boeing 727 e 737 operando nas principais rotas domésticas e internacionais. Essa predominância influenciou diretamente a decisão do governo brasileiro. Em meados de 1975, após detalhadas avaliações técnicas e estratégicas conduzidas pelo Ministério da Aeronáutica, foi assinado um contrato com a Boeing para a aquisição de duas células do modelo Boeing 737-2N3 Advanced. O código alfanumérico "2N3" indicava que as aeronaves pertenciam à série 200, com a designação "N3" reservada especificamente para o governo brasileiro, refletindo a customização para uso oficial. O projeto interno das VC-96 foi cuidadosamente planejado para garantir funcionalidade, conforto e segurança. A fuselagem foi dividida em três ambientes distintos, cada um com propósitos específicos: Área frontal: Destinada à tripulação e auxiliares, incluindo ajudantes de ordens e demais membros do staff presidencial. Essa seção também abrigava a galley, equipada para preparar refeições durante os voos, garantindo autonomia em longas jornadas. Sala de reuniões e despacho: Localizada na seção central, essa área foi projetada como um espaço funcional para o Presidente realizar reuniões de trabalho, despachar documentos ou conduzir negociações durante os voos, refletindo a necessidade de continuidade administrativa mesmo em trânsito. Suíte presidencial: Contígua à sala de reuniões, a suíte oferecia um ambiente privativo com cama e banheiro exclusivo, assegurando conforto e privacidade ao Presidente em viagens prolongadas. Área traseira: Na parte posterior da fuselagem, foram instaladas 36 poltronas destinadas aos demais membros da comitiva presidencial, como assessores, ministros e outros funcionários de alto escalão. Além da configuração interna, as aeronaves foram equipadas com escadas embutidas independentes, uma característica essencial para operações em aeródromos regionais com infraestrutura limitada, comuns no interior do Brasil. 
A produção das duas células VC-96 foi concluída nas instalações da Boeing em Seattle, Washington. A primeira aeronave, registrada com a matrícula FAB 2115, realizou seu voo inaugural em 5 de março de 1976, sob os olhares atentos de engenheiros e representantes da Força Aérea Brasileira (FAB). A segunda célula, matriculada como FAB 2116, voou pela primeira vez em 19 de agosto do mesmo ano. Ambas passaram por rigorosas inspeções técnicas para garantir conformidade com os padrões exigidos pela Força Aérea Brasileira (FAB). Após a conclusão desse processo, as aeronaves foram oficialmente aceitas e preparadas para o traslado ao Brasil. Em 8 de setembro de 1976, a primeira VC-96 (FAB 2115) pousou na Base Aérea de Brasília, onde foi imediatamente incorporada ao 1º Esquadrão do Grupo de Transporte Especial. A chegada da segunda aeronave, FAB 2116, completou a modernização da frota presidencial, marcando um avanço significativo na capacidade do GTE de cumprir sua missão de “conduzir os que conduzem o Brasil”. Essas aeronaves representaram não apenas um salto tecnológico, com maior velocidade, autonomia e conforto em relação aos jatos BAC 1-11 (VC-92) que substituíram.  Inicialmente, as aeronaves, matriculadas como FAB 2115 e FAB 2116, foram destinadas a missões dentro do território nacional e em países da América Latina, atendendo às necessidades de deslocamento do Presidente da República e sua comitiva em rotas regionais. A autonomia de voo do 737-200 Advanced, de aproximadamente 4.000 km, era adequada para essas operações, conectando Brasília a capitais estaduais e cidades latino-americanas com eficiência e segurança. No entanto, a partir dos anos 1980, com o aumento das demandas diplomáticas e a projeção internacional do Brasil, as aeronaves passaram a desempenhar um papel mais amplo, realizando missões intercontinentais que exigiam escalas técnicas para reabastecimento. Para garantir a confiabilidade nessas viagens de longo alcance, o Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado na Base Aérea de Brasília, adotou a prática de deslocar ambas as aeronaves VC-96 em missões internacionais. Essa estratégia permitia que a segunda aeronave servisse como suporte em caso de falhas mecânicas na aeronave principal, assegurando a continuidade das agendas presidenciais e a segurança das autoridades a bordo. Um exemplo marcante dessa capacidade ocorreu em 2003, durante a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Entre os dias 5 e 15 de dezembro, um dos VC-96 transportou o Presidente em uma extensa viagem ao Oriente Médio e ao Norte da África, com escalas nas Ilhas Canárias (Espanha), Marrocos, Líbia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Síria, Líbano e Tunísia. Essa missão destacou a versatilidade das aeronaves e a habilidade do GTE em coordenar operações complexas em múltiplos continentes.

O ápice das operações de longo alcance foi registrado entre 22 e 29 de maio de 2005, quando os VC-96 realizaram uma viagem ao Japão, totalizando 54 horas de voo. Essa missão, que incluiu escalas técnicas para reabastecimento, demonstrou a robustez das aeronaves e a competência da Força Aérea Brasileira (FAB) em planejar e executar deslocamentos globais de alto nível. A escolha do Boeing 737 para essas operações refletia não apenas a confiança na plataforma, mas também sua compatibilidade com a infraestrutura de manutenção disponível em diversos aeroportos ao redor do mundo, resultado da ampla adoção do modelo por companhias aéreas comerciais. Para atender às crescentes exigências de segurança e eficiência em voos internacionais, as duas células VC-96 passaram por uma significativa modernização em 1997. Esse processo, conduzido pela empresa norte-americana Associated Air Center, em Dallas, Texas, visava atualizar os sistemas de navegação e segurança das aeronaves, garantindo conformidade com os padrões internacionais de aviação da época. Entre as melhorias implementadas, destacam-se: Sistema de Gerenciamento de Voo (FMS, Flight Management System): Um conjunto avançado de computadores de bordo que otimizava a navegação, permitindo maior precisão no planejamento de rotas e economia de combustível. Sistema de Prevenção de Colisão em Voo (TCAS, Traffic Collision Avoidance System): Equipamento essencial para detectar e evitar conflitos com outras aeronaves, elevando os padrões de segurança em espaço aéreo congestionado. Além das atualizações em aviônica, o processo incluiu um retrofit estrutural completo, reforçando a integridade da fuselagem para prolongar a vida útil das aeronaves, e uma renovação total do interior, garantindo maior conforto e funcionalidade para o Presidente e sua comitiva. A suíte presidencial, a sala de reuniões e a área de passageiros foram modernizadas, mantendo o padrão VIP exigido para missões oficiais. Essa modernização reflete o compromisso da Força Aérea Brasileira (FAB) em manter o Grupo de Transporte Especial (GTE)equipado com tecnologia de ponta, assegurando que as aeronaves VC-96 continuassem a desempenhar sua missão de “conduzir os que conduzem o Brasil” com segurança, eficiência e representatividade. A capacidade das aeronaves de operar em qualquer ponto do planeta, aliada à sua configuração customizada e ao suporte logístico do Grupo de Transporte Especial (GTE), consolidou o Boeing 737 VC-96 como um pilar fundamental do transporte presidencial brasileiro, projetando a imagem do Brasil no cenário internacional durante um período de crescente protagonismo diplomático.
Ao longo de trinta e quatro anos, as aeronaves Boeing VC-96, popularmente apelidadas de “Sucatinhas” devido à associação com o Boeing KC-137E presidencial, que por vezes apresentava problemas técnicos, prestaram serviço exemplar ao transporte oficial de sete presidentes da República do Brasil: Ernesto Geisel, João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Essas aeronaves, operadas pela Força Aérea Brasileira (FAB), tornaram-se símbolo de confiabilidade e versatilidade, apesar do apelido pejorativo, que não refletia sua real condição operacional. Durante sua trajetória, os Boeing VC-96 desempenharam um papel significativo em missões diplomáticas, transportando não apenas autoridades brasileiras, mas também visitantes ilustres em ocasiões especiais. Um dos momentos mais marcantes de sua história ocorreu em 1980, quando o Boeing VC-96 foi utilizado para transportar o Papa João Paulo II durante sua histórica visita ao Brasil. Naquela ocasião, o pontífice percorreu onze cidades em diferentes regiões do país, em uma viagem que marcou a memória nacional. Quando chefes de Estado ou comitivas estrangeiras visitavam o Brasil sem dispor de aeronaves próprias, era prática comum o governo brasileiro disponibilizar os VC-96, reforçando o compromisso do país com a hospitalidade e a cooperação internacional. Contrariando o estigma do apelido “Sucatinhas”, os Boeing VC-96 jamais registraram incidentes significativos durante o transporte de autoridades, acumulando juntos mais de cinquenta mil horas de voo ao longo de suas carreiras. O Boeing VC-96 FAB 2115 completou 26.356 horas de voo e 20.120 pousos, enquanto o Boeing VC-96 FAB 2116 alcançou 27.105 horas e 20.586 pousos. A decisão de desativá-los não se deveu ao desgaste das aeronaves, que se mantinham em bom estado de conservação, mas à sua idade avançada, que tornava desaconselhável sua continuidade em missões de transporte de autoridades (VIP – Very Important Person) sob os padrões modernos de segurança e eficiência. A aposentadoria oficial dos Boeing VC-96 ocorreu em abril de 2010, em uma solenidade realizada nos hangares do Grupo de Transporte Especial (GTE), na Base Aérea de Brasília. Na ocasião, as aeronaves foram substituídas pelos modernos Embraer E-190 VC-2, que passaram a assumir as funções de transporte presidencial e oficial. Após a desativação, as duas unidades tiveram destinos distintos. O Boeing VC-96 FAB 2116 realizou seu último voo em 4 de novembro de 2011, sendo transferido para o Museu Aeroespacial (MUSAL), localizado no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, onde foi preservado como parte do acervo histórico da aviação brasileira. Já o Boeing VC-96 FAB 2115 foi inicialmente armazenado na Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos, São Paulo. Em 2016, a aeronave foi adquirida por uma empresa privada, desmontada e transportada para Foz do Iguaçu, no Paraná, onde foi restaurada e remontada para exposição no portão do Parque Nacional do Iguaçu, transformando-se em um marco histórico e turístico da região.

Em Escala.
Para representarmos o Boeing VC-96 "FAB 2116 “fizemos uso do antigo e raríssimo kit da Aurora na escala 1/72 , modelo este que era a única opção injetada no momento da montagem. Atualmente existem kits injetados nesta escala como os produzidos pela Big Plane Kits.  Para se  configurar a versão nacional B737-2N3 Advanced, (Model 200)  é necessário proceder uma série de alterações em scratch (principalmente nas turbinas). Empregamos decais confeccionados pela FCM Decals, produzido para o kit em resina produzido pela Charlenger Modelismo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura empregado em todas as aeronaves do Grupo de Transporte Especial (GTE), adotado no final da década de 1990, que veio a substituir o esquema original em que as aeronaves Boeing VC-96  foram recebidas no ano de  1976.


Bibliografia :
- O Boeing 737 e a História de seu Nascimento – Marcelo Magalhães
- Aeronaves Presidenciais a Jato – A. Camazano Alamino – Revista Asas Edição 94
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto

Bell Model 205 UH-1H Huey

História e Desenvolvimento. 
A Bell Helicopter Company uma divisão especializada na produção de helicópteros, teria suas origens fundamentadas no início da década de 1940, quando as forças armadas norte-americanas passariam a demonstrar interesse nos possíveis potenciais operacionais de aeronaves de asas rotativas. Uma proposta neste âmbito seria apresentada em 03 de setembro de 1941 pela diretoria da Bell Aircraft Company ao comando da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF). Este programa receberia um pujante financiamento governamental, que envolvia inicialmente a produção de dois protótipos da aeronave, agora designada como Bell Model 30. Seu primeiro voo ocorreria no dia 26 de junho de 1943, e logo seria submetido a um extenso programa de ensaios e testes de voo. Os resultados obtidos deste processo serviriam para o desenvolvimento de uma aeronave aprimorada, que receberia a designação de Bell Model 47. Seu projeto logo despertaria o interesse das forças armadas norte-americanas, com este programa um novo orçamento governamental para seu desenvolvimento final. Assim em abril de 1945, seria estabelecida na sede da empresa em Forte Worth no estado do Texas, uma nova unidade de negócios dedicada a produção de helicópteros. O primeiro modelo Bell Model 47 de pré-produção alçaria voo no dia 8 de junho de 1945, com as primeiras versões militares, como o Bell  OH-13, entrando em serviço nas forças armadas norte-americanas em fins do ano seguinte. Durante a década seguinte a companhia registraria um grande sucesso comercial tanto no mercado civil quanto militar, com sua produção atingindo a casa de mais de cinco mil células. Durante a Guerra da Coréia (1950-1953) estas aeronaves seriam empregadas em larga escala no conflito, atuando em missões de ligação, observação e principalmente no transporte de feridos da linha de frente diretamente para os centros médicos de campanha, recebendo esta tarefa a denominação de MEDEVAC (Medical Evacuation – Evacuação Aero médica). Em 1952, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) identificaria a necessidade de um novo helicóptero para atuar em missões de Evacuação Médica, no intuito de suprir as deficiências dos primeiros modelos de asas rotativas empregados anteriormente. Umas das principais exigências desta concorrência, era que este novo helicóptero fosse propelido com rotor bipá acionado por turbina, substituindo assim o conceito de aeronaves de asas rotativas com motor a pistão, como o próprio Bell H-13 ou ainda os helicópteros de médio porte como o Sikorsky UH-34.  

Os parâmetros do seu projeto seriam revisados novamente em novembro de 1953, resultando no lançamento de uma concorrência nacional, que receberia propostas técnicas e comerciais de vinte fabricantes aeronáuticos.  Estudos comparativos seriam realizados, resultando em uma seleção de apenas dois potenciais projetos, sendo liberados recursos governamentais para a produção de seus respectivos protótipos. Desenvolvido com base nestes parâmetros, o primeiro protótipo do Bell XH-40 alçaria voo em 20 de outubro de 1956, sendo equipado com um rotor principal bipá semirrígido, acionado por uma única turbina Lycoming T53-L1, de 700 shp de potência. Assim em abril de 1954 seria iniciado um programa comparativo de testes entre os modelos Bell Model 204 e Kaman H-43, com modelo da Bell Helicopter Company sendo declarado vencedor em 23 de fevereiro de 1955. Com o modelo sendo designado como XH-40 pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e XHU-1 pelo Exército dos Estados Unidos (US Army). Desta maneira seria celebrado um primeiro contrato, envolvendo a produção de três protótipos, que deveriam ser empregados em um programa de desenvolvimento.  Os primeiros resultados obtidos após a realização de um novo programa de testes em voo, se mostrariam muito promissores, levando a contratação para a produção de mais três células da aeronave que apresentariam grandes modificações e melhorias, com estas sendo entregues e empregadas entre os anos de 1957 e 1959. Seu primeiro contrato de produção em série, acabaria sendo celebrado incialmente com o Exército dos Estados Unidos (US Army) em março de 1960, com o modelo recebendo a denominação militar de HU-1A, e o nome de batismo de “Iroquis” em alusão as tribos indígenas do meio oeste dos Estados Unidos. No entanto ao longo dos anos seguintes este helicóptero se tornaria mais popularmente conhecido como “Huey”. Os primeiros helicópteros designados como HU-1A começariam a ser entregues a diversas unidades aviação do exército em janeiro de 1961, iniciando o processo de substituição dos modelos Sikorsky UH-34 e H-19D.  Já as versões especializadas na missão de evacuação aero médica MEDEVAC (Medical Evacuation) designadas como SHU-1A seriam alocadas junto a 101º Divisão Aerotransportada, a 82º Divisão Aerotransportada e ao 57º Destacamento Médico. Seu primeiro emprego em um cenário de conflagração real se daria em meados de 1964, durante as fases iniciais da participação norte-americana na guerra do Vietnã. Desta experiencia seriam identificadas algumas deficiências operacionais do helicóptero, entre esta sua insatisfatória potência nominal, o que limitava em muito seu emprego tático. 
Com vistas a atender a esta deficiência, seria adotado um motor turbo eixo mais robusto, o Lycoming T53-L-5 que chegava a proporcionar 960 shp de potência, nascia assim a versão Bell UH-1B. Esta modificação no grupo propulsor permitiria ainda estender as dimensões da fuselagem aumentando capacidade de transporte da aeronave para até sete soldados totalmente equipados ou quatro macas e um médico. A primeira aeronave de produção seria entregue em março de 1964, e neste interim seria decido também elevar uma grande parte das células produzidas anteriormente a esta nova versão. Apesar da significativa melhoria em desempenho apresentada, no entanto, o ciclo de aprimoramento da aeronave estava apenas começando. No segundo semestre do mesmo ano, o corpo técnico da aviação do Exército dos Estados Unidos (US Army), apresentaria ao fabricante, uma relação envolvendo inúmeras sugestões de opções de melhorias, com muitas destas demandadas da necessidade de se corrigir deficiências aerodinâmicas do modelo Bell UH-1B, apresentadas em sua versão especializada de plataforma de armas. Neste contexto, novamente o grupo propulsor seria alvo de estudos para melhoria de performance, com a aeronave passando a receber o motor um Lycoming  T53-L-11 com 1.100 shp de potência. Seria adotado também um novo desenho de cauda com estabilizador destinado a fornecer a energia necessária para elevar todos os sistemas de armas em uso ou em desenvolvimento. O aumento da potência e um rotor de diâmetro maior exigiram que os engenheiros da Bell Helicopter Company projetassem uma nova lança traseira de cauda, este componente passaria a incorporar uma aleta vertical de corda mais larga no pilão do rotor de cauda e elevadores sincronizados maiores.  Esta nova versão receberia a designação de UH-1C e seu novo sistema de rotor permitiria a aeronave dispor de velocidades de ar de cruzeiro mais altas, reduzindo incidência de estolagem de lâminas em retirada durante atividades de mergulho. Esta modificação ainda resultaria em uma melhor manobrabilidade e um ligeiro aumento de velocidade final.  Além de receber novas encomendas de produção a empresa seria agraciada ainda com contratos de atualização dos primeiros UH-1B para esta nova configuração. Apesar de satisfeitos com os resultados operacionais, os militares norte-americanos ainda almejavam por uma aeronave com maior capacidade de transporte de tropas, levando a apresentação formal desta demanda ao fabricante. Assim em atendimento a este pedido, o corpo técnico da empresa, optaria por estender em 104 cm a fuselagem da versão Bell UH-1C, passando a adotar portas maiores deslizantes com duas janelas, com esta variante passando a dispor de quinze assentos.   

O protótipo do novo modelo agora designado como Bell UH-1D, realizaria seu primeiro voo em 16 de agosto de 1965, e logo seria submetido a um completo programa de ensaios em voo, que resultaria em sua homologação operacional, validando sua produção em série. Desta maneira, em dezembro deste mesmo ano seria celebrado um contrato envolvendo a produção de duzentas células, com as primeiras aeronaves sendo entregues a partir de março de 1966, sendo destinadas as principais unidades de asas rotativas do Exército dos Estados Unidos (US Army). Neste contexto a seguir a aeronave também seria adotada pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps). A partir de meados de 1967, os novos Bell UH-1D começariam a ser empregados maciçamente no conflito do Vietnã, chegando a ser destacadas mais de três mil células do modelo, operando inclusive junto a Força Aérea do Vietnã do Sul (VNAF). Esta experiencia operacional iria consolidar uma nova doutrina operacional em aeronaves de asas rotativas, envolvendo desde missões de evacuação aero médica (MEDEVAC), busca e salvamento (SAR), assalto aéreo, transporte de tropas, apoio aéreo aproximado, comando, controle e até transporte de cargas. No entanto caberia ao modelo ser o difusor em definitivo do emprego de aeronaves de asas rotativas, como plataforma de ataque e apoio aproximado. Neste emprego estas aeronaves passariam a ser equipadas com um par de metralhadoras M-60D com calibre .50 instaladas nas portas laterais, duas metralhadoras M-60 de tiro frontal no casulo M-59, um canhão de 20 mm, lançadores de foguetes na guiados de 70 mm ou 40 mm ou ainda lançadores de misseis guiados por fio M-11 ou M-22. Nesta configuração armada, os Bell UH-1D seriam primordialmente empregados em missões de apoio aproximado, abrindo caminho e protegendo o desembarque das tropas aerotransportadas. Estas aeronaves seriam imortalizadas no imaginário popular neste perfil operacional, principalmente nos filmes e séries com a temática militar produzidos durante as décadas seguintes. Apesar de uma longa lista de qualidades e êxitos operacionais, ainda recaia sobre a aeronave problemas relacionados a potência, que continuavam a limitar o desempenho do Bell UH-1D. Novamente estudos seriam conduzidos pela equipe de engenharia da Bell Helicopter Company, resultando na adoção do novo modelo um novo modelo de motor, o  Lycoming T53-L-13 (LTC1K-4) que passava a oferecer 1.400 shp de potência ao helicóptero. Neste mesmo processo, o tubo de pitot seria transferido do nariz da aeronave para o teto da cabine, no intuito de se evitar danos durante as operações de pouso em terrenos de difícil acesso. 
Estas mudanças gerariam uma nova versão, que passaria a ser designada como Bell UH-1H, que além de apresentar maior potência, passava a dispor maior capacidade de transporte de carga útil. Neste momento a existência de muitas células da versão do Bell UH-1D em carga nas forças armadas norte-americanas, seria criado um programa de modernização elevando assim todas as aeronaves para o modelo UH-1H. Rapidamente o Bell UH-1H ser tornaria a principal aeronave de asas rotativas das forças armadas norte americanas. Seu sucesso operacional conquistaria logo os primeiros contratos de exportação para o Japão e a Austrália, tendo este último pais a ser o segundo operador a empregar a aeronave em combate real, quando aeronaves da Esquadrão 9º da Real Força Aérea da Australia (RAAF) operariam na guerra do Vietnã dando suporte as forças terrestres da 1ª Força-Tarefa Australiana. Até o ano de 1987, seriam produzidas mais de dezesseis mil células dispostas desta família de aeronaves, dispostas em várias versões, incluindo aeronaves montadas sob licença pelas empresas italiana Augusta Spa., alemã Dornier Flugzeugwerke e japonesa Fuji Heavy Co. Apesar da excelente e longa folha de serviços, em meados da década de 1970 seria lançado pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army), o programa “Sistema de Aeronave de Tático Utilitário e Transporte UTTAS” (Utility Tatical Transport Aircraft System), que visava desenvolver um substituto, que culminaria na criação do projeto Sikorsky S-70A Black Hawk. Estes novos helicópteros passariam a ser entregues na primeira metade da década de 1980, gerando assim uma grande quantidade de aeronaves excedentes do modelo Bell UH-1H, que passariam a ser disponibilizadas em programa de ajudas militar a diversos países como Argentina, Brasil, Alemanha, El Salvador, Israel, Líbano, Nova Zelândia, Filipinas, Rodésia, Espanha, Portugal e Yemen. Já no início do ano de 1989, o Exército dos Estados Unidos (US Army), daria início ao processo de retirada destas aeronaves das unidades de primeira linha, transferindo cerca de setecentas células para o emprego em tarefas de treinamento. Com os Bel UH-1H se mantendo em operação neste escopo de missão até o início do ano de 2005, quando foram substituídos pelos Eurocopeter UH-72 Lakota.  Junto a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) o modelo se manteria em operação até meados do ano de 2016 sendo totalmente substituídos pelos novos Sikorsky UH-60L Blackhawk. Atualmente somente o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (USMC), mantém em operação, algumas centenas de células da versão UH-1N. Muitas aeronaves do modelo UH-1H ainda se encontram em operação ao redor do mundo, porém dificilmente deverão estar se manter em uso ainda nos primeiros anos da década de 2030.   

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A utilização de aeronaves de asas rotativas na Força Aérea Brasileira, tem seu início durante o mês de março de 1952, quando seria celebrado o primeiro contrato junto a Bell Helicopter Company, para a aquisição de quatro células do modelo Bell Model 47 D1 H-13D. Estes helicópteros na época, representava a versão mais avançada da aeronave em produção, trazendo ao país o emprego de um modelo no estado da arte naquele momento. Apesar de comporem uma minúscula frota, estas aeronaves seriam empregadas em um variado leque de missões, como ligação, transporte especial (VIP) e busca e salvamento SAR (Searching and Rescue). Neste último pacote de missão podiam operar ainda no ambiente naval, tendo em vista que as células brasileiras vieram equipadas com kits especiais de flutuação, com este perfil de missão resultando na criação na força de um embrião doutrinário para a realização deste tipo de missão em todos os ambientes. Estes esforços seriam muito importantes, pois desde o ano de 1944 nosso país passava a ser signatário da "Convenção sobre Aviação Civil Internacional”, com os termos deste acordo determinando que o Brasil deveria dispor de uma completa infraestrutura especializada em missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue), para cobertura das áreas geográficas continentais e marítimas sob sua responsabilidade. Para atendimento a esta demanda, em 16 de novembro de 1950, o Ministério da Aeronáutica (MAer), procederia a criação oficial do "Serviço de Busca e Salvamento". Como braço aéreo deste serviço, seriam incorporadas aeronaves especializadas neste tipo de missão, como os quadrimotores Boeing SB-17G e os anfíbios bimotores  Consolidated PBY5A Catalina.  Apesar de serem aeronaves com grande raio de ação e capacidade de operação anfíbia, havia ainda uma lacuna a ser preenchida, a de aeronaves de asas rotativas, vetor considerado indispensável para o emprego com sucesso deste tipo de missão. Em 1958 seriam incorporadas quatro células do Sikorsky H-19D, passando assim a substituir os pequenos limitados Bell Model 47 D1 H-13D nas missões de busca e salvamento SAR (Searching and Rescue). Neste mesmo período seria criada primeira unidade brasileira a ser dedicada especial para este escopo de missão, o 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano, estabelecido em 6 de dezembro de 1957. Ao longo dos anos seguintes os Sikorsky H-19D apresentariam destacado papel na consolidação da doutrina operacional das missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue) junto a Força Aérea Brasileira. No entanto seu limitado número de células e seu intensivo emprego, logo cobrariam um alto preço em termos de desgaste, reduzindo em muito a capacidade operacional da unidade. 

Neste contexto se fazia necessário a curto prazo, prover a aquisição de um novo vetor de asas rotativas para o leque de missões especializadas desenvolvidas pelo 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano. Paralelamente o comando do Ministério da Aeronáutica (MAer)  passava a desenvolver estudos referentes a aquisição de modernas aeronaves de asas rotativas, que deveriam ser empregadas em missões de transporte de tropa, ligação e ataque. Assim nada mais natural, do que se buscar um modelo de helicóptero que pudesse em uma unica plataforma atender a todas estas finalidades, criando assim um vetor comum de asas rotativas na Força Aérea Brasileira. Desta maneira em meados do ano de 1965, uma concorrência internacional seria aberta pela Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), visando a aquisição de uma nova aeronave de asas rotativas de médio porte, devendo obrigatoriamente ser equipada com motores turbo eixo. Diversas propostas seriam apresentadas, de destacando a oferecida pela empresa norte-americana Bell Helicopter Company, apresentando o Modelo 205, disposto na variante militar mais moderna, o  UH-1D Huey. Esta proposta englobava ainda soluções de financiamento e um pacote mais atrativo em termos de custo-benefício.  Tratativas seriam então realizadas, culminando em maio de 1964 na assinatura de um contrato para a aquisição de seis células novas de fábrica, especialmente configuradas para missões de busca e salvamento – SAR (Searching and Rescue) e evacuação aero médica (MEDVAC). Estas aeronaves seriam recebidas a partir de 1967, recebendo a designação de SH-1D e as matrículas de FAB 8530 a 8535, sendo destinadas ao 2º/10º Grupo de Aviação – Esquadrão Pelicano. Estes helicópteros seriam recebidos ostentado um padrão de pintura de alta visibilidade com atendendo as marcações internacionais padrão para este tipo de missão. Em 1970, o Ministério da Aeronáutica (MAer) aumentaria a frota deste modelo de aeronave, passando a incorporar mais oito células novas de fábrica do Bell UH-1D que receberiam as matrículas FAB 8536 a 8542, que passariam a operar junto aos recém ativados 4º e 5º Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), inicialmente em tarefas de transporte, ligação e reconhecimento, constituindo assim a doutrina inicial de operações desta aeronave. Apesar destas missões de transporte e apoio, o viés guerreiro dos Bell UH-1D Huey começaria a tomar forma a partir de 1972 quando as equipagens passaram a serem adestradas no emprego da aeronave como plataforma de armas para missões de ataque. Posteriormente estes esquadrões começariam a realizar missões de missões de Combate SAR (C-SAR). 
As qualidades operacionais observadas principalmente em missões de contra insurgência (COIN) durante a guerrilha do Araguaia, motivaram o comando da Força Aérea Brasileira a aumentar novamente sua frota de aeronaves, com esta demanda se materializando na compra de vinte quatro células usadas, agora do modelo Bell UH-1H, oriundas dos estoques Exército Americano (US Army). Estas “novas” aeronaves seriam recebidas a partir do início de 1973, sendo distribuídos ao 1º EMRA- Esquadrão Falcão, 2º EMRA - Esquadrão Poti, 3º EMRA – Os Polivalentes e ao 4º EMRA- Esquadrão Dragão. Posteriormente em 1976 mais duas células também da versão UH-1H seriam incorporadas, visando assim repor perdas operacionais. Apesar de se tratar de aeronaves usadas, encontravam-se em excelente estado de conservação e, algumas células, permaneceriam operacionais na Força Aérea Brasileira até a primeira década dos anos 2000. No início do ano de 1979, visando uma melhoria na performance e padronização em processo de manutenção, a Força Aérea Brasileira optou por modernizar as células remanescentes dos Bell SH-1D e UH-1D, elevando-as para a versão UH-1H. Este processo se daria não só pelo objetivo de ser estender a vida útil destas aeronaves, mas também fato de se eliminar a necessidade de manutenção de dois tipos distintos de motores, melhorando o processo logístico no fluxo de peças de reposição. Em 9 de setembro de 1980 a portaria Ministerial Nº 239/GM3 desativaria todos os Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), criando em seu local o 1º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Falcão, 2º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Poti e o 5º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Pantera, já o 3º EMRA seria desmembrado entre o 1º/13º Grupo de Aviação que passaria a atuar como se fosse uma ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação), e o 3º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Puma, que passaria a operar com helicópteros na Base Aérea dos Afonsos, a até a chegada dos CH-33 Puma, em 1981. Paralelamente o 1º/8º Grupo de Aviação seria transferido para Manaus, levando os Bell UH-1H a operar na floresta amazônica, onde permaneceriam até sua desativação em 1987.  Ainda no mesmo ano de 1980 o Ministério da Aeronáutica (MAer), visando repor novas perdas operacionais efetuaria a aquisição de mais oito células, agora oriundas dos estoques da Força Aérea de Israel (Heyl Há´Avir), com cinco destas produzidas originalmente como UH-1D, porém posteriormente modernizadas, e as restantes de origem italiana, fabricadas sob licença pela Augusta Spa. 

Todas estas aeronaves possuíam os tubos de pitot no nariz, com os modelos italianos apresentando o rotor de cauda do lado esquerdo, sendo necessária a inversão da caixa de transmissão de 90º por motivo de padronização. Como estas aeronaves israelenses foram anteriormente empregas em situação de conflagração real, seriam encontradas nestas células inúmeros buracos de bala, sendo necessário promover detalhada análise e reparo. Após esta revisão completa nas oficinas do Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMAAF), estes helicópteros seriam distribuídos para suas respectivas unidades operacionais. Em meados da década de 1990, o Ministério da Aeronáutica (MAer) começou a considerar a substituição de sua frota de helicópteros Bell UH-1H pelos novos Sikorsky UH-60 Blackhawk, representando está uma demanda urgêncial, pois durante toda sua carreira, estas aeronaves seriam exigidas muito operacionalmente, o que resultaria em um grande número de acidentes e o consequente desgaste das células remanescentes, reduzindo assim drasticamente os índices de disponibilidade da frota de aeronaves de asas rotativas da Força Aérea Brasileira. Porém os custos relativos a esta substituição se mostrariam muito distantes da realidade orçamentaria, levando o Comando da Aeronáutica (COMAER) a considerar alternativas paliativas, resultando na aquisição de vinte aeronaves usadas do modelo Bell UH-1H, dispostas na Alemanha, que pertenciam anteriormente a unidades de cavalaria aérea do Exército Americano (US Army). Após a seleção das células, seria acordado o fornecimento nos vantajosos termos do programa de Vendas Militares a Estrangeiros – FMS (Foreing Military Sales). Estas aeronaves seriam transladas ao Brasil em aeronaves de carga da Força Aérea Americana (USAF), após sua entrada em operação, possibilitariam a introdução e o desenvolvimento da doutrina de emprego do sistema Night Vison Goggles (NVG – Óculos de Visão Noturna) na aviação de asas rotativas da Força Aérea Brasileira. O 5º/8º Grupo de Aviação - Esquadrão Pantera seria escolhido como unidade padrão para a implantação e disseminação operacional desta nova doutrina, recebendo assim inicialmente todas as aeronaves recebidas.















Posteriormente a este processo, estas células seriam distribuídas também ao 2º/10º Grupo de Aviação - Esquadrão Pelicano e ao 7º/8º Grupo de Aviação - Esquadrão Harpia. Além de serem empregados em missões transporte de tropas e busca e salvamento (SAR) os Bell UH-1H seriam empregados em inúmeras missões de apoio a população em catástrofes naturais em missões de saúde como campanhas de vacinação de populações indígenas e ribeirinhas e tarefas de apoio ao levantamento cartográfico de regiões inóspitas do país. Em 2006 a aeronave teria sua designação alterada para H-1H, e durante muitos anos este modelo de aeronave representaria o esteio da aviação de asas rotativas da Força Aérea Brasileira, operando desde a quente e úmida floresta amazônica, até os frios e secos pampas gaúchos. O total de aeronaves empregadas na versão UH-1H (considerando as modernizações) atingiram a cifra de sessenta e duas aeronaves (seis UH-1D não chegariam a ser modernizados), e apesar do alto nível de profissionalismo desenvolvido na manutenção das células e seus motores pelos Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PAMAAF) e Parque de Aeronáutica de São Paulo (PAMASP), o modelo já estava próxima ao seu limiar de obsolescência operacional. Neste contexto as análises do Ministério Defesa, apontariam para a substituição derivando por dois modelos distintos de aeronaves, sendo eleitos os Sikorsky UH-60 Blackhawk e os Eurocopter EC725 Caracal. Um gradual processo de substituição e desativação teria início no ano de 2010, com as últimas células (todas pertencentes ao lote incorporado em 1997) sendo concentradas no 2º/10º GAv Esquadrão Pelicano. Durante este processo, quatro aeronaves seriam doadas a Força Aérea Boliviana (FAB) e duas para a Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. Em 22 de outubro de 2018, após cinquenta e um anos de operação, durante uma cerimônia realizada na Base Aérea de Campo Grande – MS, seria finalmente realizado o corte de motor final, encerrando assim a gloriosa carreira do famoso “Sapão” na Força Aérea Brasileira. 

Em Escala.
Para representarmos o Bell UH-1H "FAB 8691" optamos pelo modelo produzido pela Italeri na escala 1/48 que representa inicialmente a versão “Delta”. Como as diferenças externas quanto ao modelo se resumem na alteração do posicionamento do tubo de pitot, a conversão para a versão UH-1H é simples, bastando acrescer alguns itens em scratch (dispositivos corta fios, antenas, sistema de visão noturna -  NVG). Para finalizar o conjunto da obra empregamos decais confeccionados pelo fabricante FCM Decais presentes no antigo set 48/10.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático de baixa visibilidade empregado pelas aeronaves de asas rotativas do Exército dos Estados Unidos (US Army), esquema este que foi mantido pela Força Aérea Brasileira até a gradativa desativação das células, as aeronaves pertencentes aos lotes originais recebidos ostentavam o padrão americano “Southeast Asia” em dois tons de verde e marrom.


Bibliografia:
- Bell UH-1D/H   Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Bell_UH-1_Iroquois
- 2º/10º GAV Esquadrão Pelicano 50 anos, por Mauro Lins de Barros e Oswaldo Claro Junior
- História da Força Aérea Brasileira por, Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr